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FLASH
Animação Pastoral Juvenil Salesiana
Número 5. Dicembre 2023
Primeiro anúncio
e a pastoral juvenil salesiana
Pe. Miguel Ángel García Morcuende
Conselheiro Geral Pastoral Juvenil
SETOR PASTORAL JUVENIL
Salesiani di don Bosco SEDE CENTRALE SALESIANA

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Primeiro anúncio
e a pastoral juvenil salesiana
Pe. Miguel Ángel García Morcuende
Conselheiro Geral Pastoral Juvenil
1 Algumas tentativas parecem
acabar em nada
Desde alguns anos estamos assistindo a um
processo acelerado de profunda mudança
social. Muitos aspectos estruturais de algu-
mas sociedades estão sofrendo verdadei-
ra revolução. Os modelos de socialização, as
funções, a hierarquia dos valores dominan-
tes, as fórmulas de interação, as expectativas
dos jovens, as estruturas familiares, etc., tudo
está sofrendo um processo de evolução. No
epicentro dessas mudanças, às vezes sofren-
do-as, mais frequentemente representando-
-as, estão os jovens.
Em tudo o que se refere à vida de fé expe-
rimentamos muitos sentimentos contrastan-
tes. Algumas das nossas tentativas educa-
tivo-pastorais parecem ser infrutuosas, e
os jovens nem sempre respondem às ini-
ciativas pastorais. Verdade é que a expe-
riência cristã de base – os caminhos do amor
e da salvação traçados por Deus – continua
a mesma, mas a paisagem em que ela se
exprime mudou radicalmente.
Nosso olhar adulto não é um olhar indife-
rente, mas um olhar em que às vezes preva-
lece a incerteza: “Que mais podemos fazer?”.
A constatação da dificuldade de “não atingir a
todos” pode facilmente levar-nos a uma visão
dos adolescentes/jovens como pessoas pro-
blemáticas. Em algumas ocasiões essa visão
pode ser até irritante, por nos encontrarmos
diante de grupos target que não respondem
às nossas propostas.
O segredo está em repensar a nossa Pasto-
ral Juvenil Salesiana para recuperar o signi-
ficado original, o ponto de partida e a meta
dos novos caminhos de fé. Para essa finali-
dade, as palavras que começam com prefi-
xos como “re”, “com”, “em” ou “inter” são um
sinal de vitalidade, movimento e adaptação.
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Palavras como reconversão, reorganização,
redimensionamento ou revitalização apare-
cem com frequência nas reflexões pastorais
dos Institutos Religiosos e das Sociedades de
Vida Apostólica, como também de Movimen-
tos e Associações Laicais.
2 As perguntas
que trazemos dentro de nós
[a] Com base nessa leitura perguntamos:
como podemos planejar e realizar processos
e iniciativas educativo-pastorais para propor
a mensagem do Evangelho aos jovens que
não conhecem Jesus Cristo, aos que, ten-
do-o conhecido, se afastaram d’Ele, e aos
que pensam conhecê-lo suficientemente
mas vivem uma fé habitudinária?
Essas são as perguntas que nos fazemos
quando pensamos nos jovens da nossa casa
salesiana: Como despertar o interesse por
Jesus Cristo nos que frequentam nossos espa-
ços educativos formais e informais? Como
acompanhar tantas centenas deles para que
possam dar um passo rumo ao primeiro com-
promisso com Ele? Como podemos encorajar
um «primeiro ato de fé», uma “primeira con-
versão”, sobre a qual o ser cristão possa cres-
cer? Estamos falando do primeiro anúncio.
Mas em que sentido esse anúncio é o pri-
meiro?1 Em sentido qualitativo “é o anúncio
principal, aquele que sempre se deve vol-
tar a ouvir de maneiras diferentes e aque-
le que sempre se deve voltar a anunciar
1 A expressão “primeiro anúncio” é um tanto recente.
Foi utilizada pela primeira vez somente em 1979 com a
Catechesi tradendae (nn. 18-20). A partir dos anos ‘60 e
durante todos os anos ‘70 e ‘80 a expressão mais usada
foi “evangelização”, em substituição à precedente pre-
gação missionária ou pré-evangelização. É dita também
pré-catequese, pré-catecumenato, catequese querigmá-
tica, querigma ou anúncio querigmático, ou também pri-
meira evangelização.
duma forma ou doutra durante a cateque-
se” (Evangelii Gaudium 164).
É importante recordar que as nossas casas
estão cheias de jovens não convertidos
(incluindo os “batizados e não evangelizados”),
mas abençoados pela bondade da presença
de Deus que deseja a salvação de todos. Para
os Salesianos, o jovem é sempre um sinal de
esperança, não principalmente porque biolo-
gicamente tem toda a vida pela frente, mas
porque cada um deles deveria ter a oportuni-
dade de explorar a fé onde quer que se encon-
tre. Estamos convencidos de que o encontro vital
com o Senhor não seja somente o “início”, mas
também o “centro” e o “coração” da nossa PJS.
[b] Talvez deveríamos repensar a presen-
ça do primeiro anúncio como elemento
essencial da evangelização. Isso nos obri-
garia a rever sua relação recíproca com os
outros elementos que compõem o proces-
so complexivo de evangelização dos jovens,
be como nos ajudaria a tomar consciência da
especificidade de cada um deles e da intera-
ção entre todos.
Evangelii Nuntiandi (1975), um dos primeiros
documentos do Magistério a falar da neces-
sidade de promover o primeiro anúncio, no
n. 24 apresenta uma série de elementos de
evangelização que sempre são complexos.
Uma recente releitura fala de:
–– Empenho a serviço da humanidade para
transformar mentalidades, ambientes, cul-
turas e estruturas.
–– O testemunho dos fatos (tão necessário para
a credibilidade das palavras) e o testemunho
das palavras explícitas, isto é, do primeiro
anúncio e de todo tipo de mensagens que
acompanham a tradição oral.
–– O itinerário de iniciação cristã das crianças,
dos jovens e dos adultos envolve: a oração
pessoal a partir da Palavra de Deus; a adap-
tação dos catecumenatos e/ou dos itinerá-
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rios educativos ou da catequese; a experiên-
cia da comunidade por meio da celebração
e da oração em suas diversas formas; a for-
mação e os ministérios e/ou serviços; as exi-
gências concretas do seguimento de Jesus
Cristo (mudança de vida em termos de ati-
tudes, sentimentos e hábitos).
–– A personalização da experiência por meio da
abertura do coração do jovem a Jesus Cristo,
ou seja, a fé inicial e a conversão. Uma aber-
tura que não pode ser forçada ou pressu-
posta, porque se trata de uma decisão exis-
tencial que às vezes começa com a simples
curiosidade, o interesse, e leva à primeira
adesão de fé.
–– A recepção dos sacramentos da iniciação
(Batismo, Crisma e Eucaristia) e todas as
variadas iniciativas pastorais previstas à luz
da espiritualidade dos processos (Projeto
Educativo- Pastoral).
[c] Este elenco esclarece desde o início que
há elementos específicos que nos falam da ini-
ciação cristã da fé (o testemunho e o primei-
ro anúncio) e elementos específicos que ali-
mentam e formam a fé de modo duradou-
ro (a catequese e os itinerários de educação
à fé, a celebração, etc.). Estes dois elementos,
embora estreitamente correlatos, não são a
mesma coisa.
Em outras palavras, a PJS deve prestar aten-
ção à complementaridade e à íntima relação
entre todas essas ações pastorais. Este con-
junto articulado de elementos (isto é, a pasto-
ral orgânica) não pode ser desfeito se se quiser
que a evangelização produza muitos frutos. De
fato, na PJS nenhum âmbito é completamen-
te autônomo, nenhum pode ser compreendi-
do de forma isolada, mas cada qual tem o seu
tempo. Há uma diferença entre plantar e nutrir
a fé: dois momentos distintos que requerem
espaços e métodos diversos.
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É possível suscitar a primeira fé em Jesus
Cristo num jovem por meio de uma cateque-
se sobre a teologia das virtudes ou por meio
da solene Vigília Pascal, sem uma iniciação ao
Mistério Pascal do Senhor? Difícil. O que não é
relevante como proposta pastoral para a ini-
ciação pode não ser útil (como de fato acon-
tece), pode até ser contraproducente naque-
le momento.
O que aconteceria, então, se pensásse-
mos numa ação educativo-pastoral especí-
fica e determinada, voltada precisamente
a criar reais possibilidade de encontro com
Cristo e a promover uma conversão ope-
rosa? Esta mediação prática é o que enten-
demos quando falamos de primeiro anúncio.
[d] A prática salesiana se baseia sobre um
princípio muito importante da evangeliza-
ção: o princípio da integralidade. Dado que
a natureza processual ou gradual da maturi-
dade humana e cristã é governada pelo prin-
cípio do crescimento-maturidade de todas as
dimensões da pessoa, a atuação de cada um
dos elementos da evangelização deve adotar
a mesma dinâmica. É um erro reduzir a pasto-
ral juvenil a um só desses elementos e promo-
ver somente um aspecto. Por exemplo, numa
paróquia há a convicção de que a catequese
oferecida seja “evangelizadora”, mas na reali-
dade se trata de uma catequese de memoriza-
ção, sem o aspecto celebrativo e sem nenhum
compromisso distinto da vida dos locais paro-
quiais; ou quando o caminho da iniciação à fé
é reduzido a um caminho sacramental (recep-
ção do Batismo, da Crisma e da Eucaristia).
Por outro lado, o primeiro anúncio, embo-
ra necessário, não pode substituir a propos-
ta da PJS em seu conjunto. Há outras áreas
de interesse que se referem a outras dimensões
da ação pedagógico-pastoral salesiana (aspec-
tos que têm a ver com a formação de pessoas
sadias, equilibradas e atentas; a formação para
atitudes e estruturas estáveis que permitam
agir como pessoas livres e críticas; a experiên-
cia comunitária-associativa como «iniciação»
concreta ao compromisso comunitário, civil e
eclesial; o acompanhamento de cada jovem
na busca concreta da própria vocação, etc.). A
PJS contribui para a formação gradual da iden-
tidade e da personalidade de um jovem, da
sua primeira experiência de Deus até a inser-
ção numa comunidade cristã adulta.
3 Preconceitos,
muito queridos, mas que agora
se revelam ineficazes
Não seria errado recordar certa resistência ao
primeiro anúncio, a etapa que a Igreja propõe
para despertar a fé e a primeira conversão:
[a] Por um lado, alguns argumentam que
propor a adesão à pessoa de Jesus Cristo “é
o que fizemos durante toda a vida!”; “a maior
parte de nós fez catequese e falou de Jesus
Cristo como uma coisa óbvia». Concretamen-
te, porém, se tratava mais de “ensinar as ver-
dades da fé”, sem abrir um espaço de frater-
nidade, acolhida recíproca e hospitalidade do
jovem. Além disso, o primeiro anúncio não
pode ser reduzido a uma catequese sistemáti-
ca. Se refletirmos bem, às vezes podemos cair
na inércia pastoral, na repetição das costumei-
ras estratégias (porque as coisas velhas fun-
cionavam...). Na realidade, quando a comple-
xidade pastoral não é digerível por qualquer
motivo, a reação mais normal é a de reduzir,
simplificar.
[b] Da mesma forma se diz que só e exclu-
sivamente processos pastorais longos e refle-
xivos podem articular e desenvolver uma fé
mais madura, crítica e comprometida.
[c] Por fim, outros afirmam que o trabalho
pastoral sobretudo deveria procurar garan-
tir que “ninguém seja incomodado”. Vivemos
num ambiente policromo e as nossas casas são
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abertas e inclusivas. “Devemos estar atentos a
não impor a nossa fé. Suavizemos a proposta
pastoral, proponhamos o mínimo indispensá-
vel”. Em todo caso, “deixemos que o façam os
que possuem o carisma do primeiro anúncio”.
Mas este primeiro chamado vocacional cris-
tão (isto é, o primeiro anúncio) pode ser since-
ramente descartado?
4 Uma pedagogia para
reconstruir o liame afetivo
com Jesus
Se quisermos realizar uma evangelização
eficaz, experiencial e enraizada na pessoa do
jovem, devemos compreender que o pri-
meiro anúncio não é somente uma etapa
de um percurso de acompanhamento, mas
o “valor fundamental” (Jesus Cristo) que
deve estar presente em todos os proces-
sos de evangelização: na PJS, como espi-
nha dorsal, e nos nossos projetos, como
motivação principal.
Se o imperativo de ser evangelizadores é
para todos, o primeiro anúncio enquanto tal
não é um carisma de uns poucos. Considerá-
-lo uma atividade opcional é, portanto, uma
atitude contrária à natureza da ação missio-
nária e evangelizadora. O primeiro anúncio é
o elemento central e, por definição, pode e
deve ser feito por cada batizado: é uma obri-
gação para todos nós.
Mas é também uma opção proativa, respei-
tosa e interrogativa que deve permear tam-
bém a nossa PJS. Quais são, portanto, as con-
dições gerais que podem servir para este
objetivo, ou seja, para a conversão e um
ato de fé ou de adesão a Jesus? Em linha de
princípio, são duas:
4.1. Se quisermos reconectar-nos de forma
atraente e credível com os jovens de hoje, pre-
cisamos de uma ampla gama de propostas
diversificadas para entrar em contato com
aqueles que participam só de vez em quando
da vida da Igreja (em muitos casos, contentan-
do-se com a mera frequência) e com os não
crentes que não frequentam habitualmente
os ambientes eclesiais. Isso abre um imenso
campo de possibilidades para a ação educa-
tivo-pastoral.
O primeiro anúncio, enquanto ação pasto-
ral, possui uma pedagogia específica e neces-
sita de um arco de tempo em que cada fase
envolve as demais; separadas, perdem vigor;
só juntas, é que se apoiam reciprocamente e
sustentam a missão evangelizadora.
I.- O conceito de evangelização, que está
estreitamente ligado com a humanização, foi
fortemente enfatizado pela Evangelii Nuntian-
di. Nessa linha, o PRIMEIRO TEMPO e o PON-
TO DE PARTIDA consistem em criar possibi-
lidades concretas de contato com as expe-
riências autenticamente humanas que são
as mais íntimas da pessoa. A proposta cris-
tã deve ser relacionada com as questões cen-
trais da vida dos jovens; como ponto de con-
tato perceptível por eles, isso os abre a outras
possibilidades. A primeira área de anúncio é
a das relações interpessoais, humanas. Sem
elas, o tempo seguinte não teria continuidade.
Neste sentido, o primeiro diálogo do pri-
meiro anúncio consiste em conectar-se com
as perguntas, os desejos, os limites e as possi-
bilidades do jovem. Trata-se de partir da pró-
pria busca – ou de solicitações antropológicas
particularmente abertas ou prontas para algo
mais. Este ponto de contato é denominado de
vários modos: em francês, «pierres d’attente»
(pedras de espera), referindo-se às pedras de
um edifício que são deixadas na parte exte-
rior junto às paredes laterais, de modo a poder
uni-las mais tarde a outro edifício; em inglês,
stepping stones” (pedras de passagem), refe-
rindo-se às pedras grandes que se colocam
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num riacho de modo a poder atravessá-lo sem
se molhar; os teólogos dos primeiros séculos
(período patrístico), falavam de «semina ver-
bi», que se encontra em todas as culturas e
entre todos os povos.
Essa área da experiência humana, se bem
cuidada, desenvolve a capacidade de levantar
questões a respeito do universo interior; esti-
mula a automotivação e a pergunta pelo sen-
tido da vida; abre para a um «além» de si mes-
mos; permite tomar distância das coisas para
vê-las em profundidade; ajuda a viver segun-
do a lógica da doação e da caridade; permite
perceber os valores presentes na cultura em
geral. Essa abertura transcendente se tornará
sempre mais eficaz na medida em que come-
çar a ver Deus no horizonte.
Este ponto de partida pode ser realizado
graças a diversas propostas concretas da
nossa PJS: o acompanhamento do ambien-
te; a vigorosa dinâmica solidária da pasto-
ral que conduz os nossos jovens para fora
da zona de conforto; o trabalho a respeito
dos valores carismáticos/salesianos, como
a familiaridade, a confiança, o realismo ou
o otimismo; a oferta contínua de formação,
de propostas, de iniciativas e de experiências
profundas, verdadeiras e duradouras (por
exemplo, o bom-dia/boa-tarde/boa-noite
salesiano). Tem mais a ver com ações comu-
nicativas a curto prazo, como o diálogo, os
encontros casuais, o pátio salesiano, o tes-
temunho que emerge numa conversa, etc.
Estamos falando de um Evangelho em cons-
trução, que deve abraçar a carne da história e
a dos nossos jovens. E por isso procura redes-
cobrir o quotidiano (o valor do pequeno e a
cultura do “detalhe”), a presença em meio aos
jovens, a proximidade e a atenção pessoal
(«conversa mais do que lição»). É um acom-
panhamento afetivo e eficaz. Por esse moti-
vo, devemos ter uma profunda compreensão
dos mistérios da vida dos jovens!
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II. Depois do enraizamento na pessoa há
um SEGUNDO TEMPO: o testemunho da pró-
pria experiência cristã. Trata-se de fazer
ouvir e ver ao jovem, se o deseja, se susci-
tar seu interesse, o testemunho direto. Falar
da própria experiência: «Quero compartilhar
contigo o que me foi dado, o que dá sentido
à minha vida e me torna feliz”. Não se trata
de “narrar a minha vida”, mas do que a pre-
sença de Jesus me ensina, o que Ele trouxe
para a minha vida.
É a lógica de quem apresenta um amigo a
um amigo. Não viemos trazer alguma coisa
de estranho que pareça anômalo, mas que
faz parte da história das pessoas que o nar-
ram. Estamos falando do que está no cora-
ção da pessoa, do que é mais pessoal, íntimo
e autêntico, e ao mesmo tempo, mais precio-
so. Em síntese, corresponde ao caráter audi-
tivo da origem da transmissão da fé, que foi
a prática pioneira da Igreja: trata-se de algu-
ma coisa que é anunciada, que é proclama-
da. Segundo a clássica frase de São Paulo, a
fé deriva da «escuta do anúncio» (Rm 10,17).
Não se evangeliza dando um testemunho de
amor sem palavras, sem uma proposta e um
convite concretos.
Esta segunda fase começa com ações
abertas de PJS cristã, nem sempre liga-
das a processos longos. Começam e termi-
nam em momento definidos, mas a chave
é o convite baseado no testemunho: cele-
brações pascais com os jovens; encontros,
campanhas e mesas redondas de reflexão,
partilha e oração; a experiência de Taizé;
ações de solidariedade, particularmente nos
setores mais pobres e necessitados; gru-
pos de formação e tutoria nas escolas. Em
outras palavras, consiste em pôr em prá-
tica o princípio mistagógico. Vive-se uma
experiência e esta se torna a base para a
reflexão, a aprendizagem ou até mesmo
para um novo rumo na vida.
Devemos compartilhar a nossa experiên-
cia de vida, simplificar a linguagem, falar aos
jovens da nossa fé e do que ela significa para
nós. Somos convidados, não somente a “falar”
de Cristo e a falar dele bem, mas a torná-lo pre-
sente em nossa vida. Creio que temos perdi-
do o hábito e esquecido de falar com natura-
lidade do que é essencial para a nossa vida.
Introjectamos medos que nos paralisam. Se
não sabemos falar de fé entre nós, como cren-
tes, qualquer discurso nosso aos não crentes
soará como artificial. Neste sentido, a pergun-
ta que assinala nossa capacidade ou incapaci-
dade de evangelizar é esta: Falei recentemente
com um jovem sobre minha relação com Cris-
to ou com Deus?
Em outras palavras, o anúncio está inseri-
do no testemunho e na palavra. Sem dúvi-
da, preferimos sentir-nos à vontade com dis-
cursos e propostas muito doutrinais morais ou
espirituais, desenvolvendo um “ensinamento
linear” de tipo catequético. Na realidade, na
prática concreta do primeiro anúncio, a teste-
munha verdadeiramente confiável pode contar
somente com suas convicções vitais (não somen-
te com as certezas intelectuais), com o testemu-
nho de uma vida vivida com sentido e, evidente-
mente, com a força da Palavra. Hoje, portanto,
o anúncio deve ser também uma provocação
para o apóstolo: “Quem quiser pregar, deve
primeiro estar disposto a deixar-se tocar pela
Palavra e fazê-la carne na sua vida concreta”
(Evangelii Gaudium 150).
“O primeiro objetivo não consiste tanto
em fazer com que os outros creiam “como
nós”, mas fazer em fazer com que creiam
que nós cremos realmente em alguma coisa,
em Alguém que torna possível nossa alegria
de viver, e o prazer de entrar em contato com
os que buscam essa alegria e esse prazer”
(Pareydt, Luc, Testemunhas para o nosso tem-
po. Cristãos simpáticos). Para o evangeliza-
dor, o encontro com Jesus não é somente
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o concretizar-se da primeira decisão, mas
também o motivo da fidelidade.
III. O TERCEIRO PASSO consiste em apre-
sentar o Cristo vivo e presente. Não se trata
de transmitir uma recordação ou uma notícia
a respeito de alguém que, como nos foi dito,
existiu in illo tempore e apareceu a certas pes-
soas, mas de transmitir Jesus, Senhor e Salva-
dor. Sua presença não pode acabar sendo só
um holograma tridimensional, mas uma pre-
sença real, que interroga e põe em ação: “E
vós, o que dizeis dele?” (Jo 9,17). “Mas vós,
quem dizeis que eu sou?” (Mc 8,29).
Nesta terceira fase, trata-se de ajudar o
jovem a ver que a humanidade de Cristo é
semelhante à sua própria humanidade, mas
com a diferença de que a de Cristo é portado-
ra de uma vida nova, a vida divina, e a convi-
dá-lo a entrar em comunhão com ela, a fim de
que o alcance, o sacie e o torne participante
da vida de Deus. Graças a ela, realiza-se o seu
desejo mais radical de absoluto, numa pala-
vra, da felicidade mais autêntica.
Nas narrações do Evangelho faz-se referên-
cia aos personagens que se aproximam de
Jesus e recebem d’Ele a cura física e o perdão
dos seus pecados: o cego de Jericó, o chefe da
sinagoga de Cafarnaum, o centurião romano,
a hemoroíssa, os leprosos... Eles não tinham
clara consciência da identidade de Jesus, mui-
to menos do Deus Trinitário, no entanto, sen-
tiam a necessidade de serem interpelados por
alguém, Jesus, e se abriram a Ele.
Também hoje alguns dos nossos jovens que
não possuem uma clara identidade de Jesus se
abrem a Ele e O ouvem com atenção, empe-
nho e interesse sincero. Não é necessário,
portanto, dispor de uma proposta teológica
bem articulada para um primeiro compromis-
so com Jesus.
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Na prática da PJS, este anúncio acontece
particularmente onde há uma Comunida-
de Educativo- Pastoral que oferece espa-
ços reais para o acompanhamento pessoal,
para aproximar-se e viver a fé (retiros para
jovens, encontros vocacionais, CampoBos-
co, Jornada Mundial da Juventude, escolas
de oração, voluntariado missionário). Enfim,
uma CEP que se deixe interpelar pelo Evan-
gelho e que acolha os jovens iniciados para
reforçá-los e sustentá-los na fé, uma comuni-
dade onde possam celebrar, anunciar, viver
e compartilhar a fé.
4.2. Mesmo se o primeiro anúncio não é
uma apresentação completa e detalhada do
conteúdo da fé cristã, mas, como aparece nos
escritos do Novo Testamento, tem um caráter
narrativo para fazer apelo à profundidade do
jovem, todavia, é preciso prestar atenção à lin-
guagem que usamos em sentido antropoló-
gico e cultural. A linguagem narrativa, poéti-
ca e até metafórica cria um encontro com os
movimentos interiores do desejo humano, cria
espaço para a imaginação. Por isso, embora a
evangelização não seja uma questão de estra-
tégias de comunicação, mas de espiritualida-
de, a linguagem é sempre importante.
Por esse motivo, devemos ir além das meto-
dologias argumentativas e discursivas. Essa
passagem da experiência, da narração, de per-
guntas, notícias... captura a imaginação dos
jovens ouvintes. E essa proposta não é nova,
porque a própria linguagem da fé foi sempre
simbólica: a luz, a veste branca, o círio pascal,
as cores litúrgicas, etc.
O grau de envolvimento pessoal oferecido
por uma abordagem narrativa é maior porque
não procura convencer, mas envolver o ouvin-
te; oferece também um acesso mais fácil a con-
ceitos abstratos e complexos; contém emo-
ções e, por consequência, favorece a memo-
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rização da história em nível cognitivo; cria um
mundo novo na mente do ouvinte, uma his-
tória que pode gerar outras histórias. Em sín-
tese, trata-se de passar da pastoral das ideias
para a pastoral da narração.
5 Educar a resposta da fé:
progressos e momentos
de parada
Na realidade, seguir a Cristo é sempre uma
decisão pessoal, nunca “automática” ou “her-
dada”, como talvez estejamos habituados a
pensar. Hoje, uma fé viva de base não pode
ser considerada um dado de fato, nem se
pode pressupor uma firme convicção cristã
por parte de quem a recebe. Os hábitos men-
tais, o uso linguístico, as práticas devocionais,
muitos conceitos e expressões de fé mudaram.
Com frequência encontramos jovens que não
compreendem a importância da fé em seu cami-
nho pessoal para a idade adulta. Este é um desa-
fio, mas também uma oportunidade para nos
distanciar do cristianismo “obrigatório”. Abre-
-se a possibilidade de um anúncio sob o sig-
no da graça, da surpresa, da livre descoberta
do tesouro da fé e da esperança.
Eis a razão pela qual falamos do primeiro
anúncio como de um novo nome para o keryg-
ma proclamado por Pedro e Paulo, como cons-
ta dos textos do Novo Testamento. Todavia,
não se trata somente de uma explícita procla-
mação oral desse kerygma, de poucas palavras
ou de fórmulas precisas, mas de um ministé-
rio dinâmico, em crescimento, sob a ação e
guia do Espírito; um acompanhamento rumo
à liberdade e à responsabilidade da pessoa.
Isso explica o motivo pelo qual cada momen-
to e cada passo progride em espiral, com
improvisos e até viradas, nunca em linha
reta. A vida cristã possui uma componente
de aventura que deve ser liberada no cora-
ção do crente.
É uma aventura baseada no fato concreto
da chamada de Cristo, que se dá conforme
as intuições, as esperanças e os talentos de
cada jovem, e que requer muitas mediações e
muita paciência, porque deve viver constante-
mente num deserto que tem o sabor de uma
terra prometida. As experiências são sempre
mais profundas: compreendem progressos
e momentos de parada, num espírito cons-
tante de conversão: “O cristão não nasce, ele
se faz”. Esta fórmula de Tertuliano encontra
sua plena atualidade, hoje.
O anúncio não deve estar sujeito à pres-
são de apresentar “resultados” (cifras, núme-
ro de pessoas), nem deve ser caracterizado
pela necessidade de um sim ou de um não
imediato. Pelo contrário, deve caracterizar-
-se pela sensibilidade quanto aos tempos de
cada pessoa, aos possíveis percursos, que não
coincidem com os próprios, e até mesmo com
os erros. O tempo que pode requerer não é
determinável, não pode ser limitado ou rigo-
rosamente estandardizado, porque se trata
de pessoa, cada qual com uma história e um
ser particular.
6 A porta da experiência cristã
e da resposta vocacional
[a] Os três momentos mencionados acima
são interconexos. Quando se dá um progresso
na acolhida positiva do primeiro anúncio por
parte do jovem estamos às portas da expe-
riência cristã. Sucessivamente se abre uma
ação mais catequética-iniciática, que permi-
te ao jovem optar pelo Evangelho e comple-
tar ou reestruturar sua iniciação. Portanto,
não é possível “crescer”, sem antes ter “nas-
cido”; muito menos será possível tornar-se
adulto e amadurecer sem as fases anteriores.
A primeira fé não é toda a fé, isto é verdade.
Por isso, o primeiro anúncio é um «estágio ini-
cial e ainda incompleto» (Evangelii Nuntiandi
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FLASH • Dicembre 2023 SETOR PASTORAL JUVENIL Salesiani di Don Bosco Sede Centrale Salesiana
160), mas é claramente um convite pessoal a
realizar um ato de aproximação, de confian-
ça e de adesão existencial a Jesus Cristo. O
primeiro anúncio é um ato de confiança na
pessoa de Jesus Cristo, um passo essencial
na busca da própria vocação.
Do ponto de vista inicial, a acolhida de
Jesus no coração do jovem é o embrião de
uma mudança de vida que levará à fé con-
creta: o caminho de educação à fé se baseia
nessa experiência de acolhida viva do primei-
ro anúncio, os sacramentos a pressupõem e a
alimentam, o testemunho e o compromisso
pelo Reino são a consequência e a manifesta-
ção externa. O projeto de vida é sua vocação.
Se quisermos evitar uma catequese efême-
ra que não cria raízes nos que a recebem (os
catecúmenos), devemos estar atentos para
que a iniciação disponha de um lugar onde
possa se enraizar. Um “anúncio” que prece-
de a “iniciação cristã”, de modo que a esta
não falte um terreno em que possa criar
raízes e no qual possa crescer e frutificar.
A iniciação cristã é o campo de ação e a conse-
quência do primeiro anúncio; em outras pala-
vras, sobre o “vem e vê” (primeiro anúncio) se
apoia todo o edifício da vida cristã: “vê e per-
manece” (a comunidade cristã).
[b] A compreensão e a prática deste primei-
ro anúncio é, portanto, em certo sentido, uma
renovação da PJS. A nossa PJS, em sua raiz, é
uma prática de confiança numa pessoa: Jesus
Cristo, acolhido como Salvador da humani-
dade e da minha vida. Tudo o mais – absolu-
tamente necessário e constitutivo da evange-
lização – será uma consequência a ser vivida,
sempre do ponto de vista da pessoa do jovem,
em sua relação de amizade com Jesus Cristo.
A salvação oferecida por Deus Pai através
de Seu Filho Jesus Cristo consiste na restau-
ração do nosso liame afetivo e existencial
com Ele. Jesus Cristo nos oferece seu amor
pessoal. Cada modelo de primeiro anúncio
é uma proposta de amor, uma oferta da pri-
meira restauração do liame afetivo de Deus
com cada ser humano. A aceitação desse lia-
me pode ser somente uma resposta livre e
pessoal de cada pessoa.
Nem o nosso testemunho com os fatos, que
é necessário, mas não é suficiente, pode acen-
der a fé cristã, porque ela precisa da palavra
que se refere a Jesus Cristo; nem o poder dos
sacramentos, sozinho, pode acender a fé, se
cada qual que participa da liturgia não abre
livre, consciente e permanentemente seu cora-
ção, sua intimidade, a Jesus Cristo.
•••
Conclusão: Interromper o tempo
para trazer à luz o novo
Para concluir e parafraseando as palavras do
primeiro homem a pôr os pés na lua, podería-
mos dizer: o primeiro anúncio é um pequeno
passo para a testemunha que o sugere a um
amigo no seu ambiente diário, mas é também
um passo enorme, com consequências incal-
culáveis para uma PJS que se põe, com todas
as suas energias, a serviço de todos os jovens.
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