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FLASH
Animação Pastoral Juvenil Salesiana
Número 8. Janeiro 2025
Reflexões para as instituições
educacionais em relação às leis
sobre a identidade de gênero
e sobre a expressão de gênero
Pe. Miguel Ángel García Morcuende
Conselheiro Geral Pastoral Juvenil
SETOR PASTORAL JUVENIL
Salesiani di don Bosco SEDE CENTRALE SALESIANA

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Reflexões para as instituições
educacionais em relação às leis
sobre a identidade de gênero
e sobre a expressão de gênero
Pe. Miguel Ángel García Morcuende
Conselheiro Geral Pastoral Juvenil
As leis sobre a identidade de gênero aprovadas
em alguns Países influenciam muitas áreas da
vida social e, portanto, têm muitas implicações
importantes para a educação. Pretendemos
oferecer com estas páginas algumas reflexões
e diretrizes que podem ser úteis.
1 O alfabeto da diversidade
[a] Nos centros educativos católicos (a Escola,
o Centro de Formação Profissional e a presen-
ça salesiana no Ensino Superior) há um interes-
se crescente pela abordagem, pelo acompa-
nhamento e pela orientação da educação afe-
tivo-sexual dos alunos, particularmente com
relação à diversidade sexual. Os centros edu-
cativos, como espaços privilegiados de socia-
lização, têm um papel fundamental a desem-
penhar na educação afetiva e sexual em todos
as etapas de desenvolvimento, num contex-
to em que, por um lado, a diversidade é cada
vez mais visível e as minorias sexuais são cada
vez mais valorizadas, mas em que a diversi-
dade continua a ser uma causa de estigma-
tização e violência em nossas salas de aula e
comunidades educativas.
A impressão compartilhada por grande par-
te do mundo da educação é que a “diversida-
de” é um conceito amplo que compreende:
diversidade de gênero, idade, estilos/diferen-
ças/dificuldades de aprendizagem, minorias
étnicas e culturais, grupos de risco, limitações
físicas/psíquicas/sensoriais etc. Em muitos
casos, enquadra-se na categoria das necessi-
dades educativas especiais. Todavia, seguiu-
-se certa “ecologia da linguagem”: passou-se
de “distúrbio” e de “déficits” para “atenção à
diversidade”. Todas as categorias possíveis res-
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às leis sobre a identidade de gênero e sobre a expressão de gênero
pondem ao princípio: cada pessoa precisa ser
cuidada de acordo com suas características.
No caso da diversidade sexual, trata-se de
uma realidade emergente e nova e, por isso,
acredita-se que seja melhor “deixar o assun-
to de lado” ou abordá-lo somente quando se
torna urgente ou indispensável. Ao contrá-
rio, a diversidade sexual sempre existiu, mas
a mensagem de alguns decênios atrás era cla-
ra, mesmo que não formalmente declarada:
da diversidade, não se fala.
Sem dúvida, essa é uma questão delicada e
complexa, em que devem estar presentes a
acolhida e o respeito às pessoas. Na exorta-
ção “Amoris laetitia”, o Papa Francisco ressal-
ta que “cada pessoa, independentemente da
própria orientação sexual, deve ser respeita-
da na sua dignidade e acolhida com respeito,
procurando evitar ‘qualquer sinal de discrimi-
nação injusta’ e particularmente toda a forma
de agressão e violência” (nº 250). Nesse sen-
tido, a resposta educativa e pastoral dos nos-
sos centros salesianos tem sido guiada pelo
princípio do respeito e da acolhida enunciado
pelo Santo Padre, tratando cada jovem com a
necessária atenção personalizada.
[b] Muitas leis atuais da educação eviden-
ciam o reconhecimento da diversidade afeti-
vo-sexual e incluem a promoção da igualda-
de efetiva entre mulheres e homens, a educa-
ção afetivo-sexual e a prevenção da violência
de gênero entre os vários objetivos da educa-
ção. E temos a obrigação legal de fazê-lo. As
ações para promover a cultura do respeito e
combater a discriminação, qualquer que seja
a sua causa, é um objetivo louvável, deseja-
do por todos, e sugere a existência de injusti-
ça. Os alunos pertencentes a minorias sexuais
frequentemente sofrem vitimização na esco-
la, incluindo linguagem discriminatória, insul-
tos, bullying e até mesmo abuso por parte do
pessoal da escola. Além disso, não podemos
esquecer que a maioria dos crimes de ódio
em muitos países é motivada pela orientação
sexual ou identidade de gênero, mais do que
características pessoais, como minoria étnica
ou incapacidade.
De fato, a “inclusão” é percebida às vezes
exclusivamente como um processo que se
refere à falta de alguma habilidade e, de modo
mais geral, às necessidades educativas espe-
ciais, com certo foco na desvantagem inter-
cultural-sociocultural e linguística.
Por outro lado, o gênero é frequentemente
associado às palavras “crise” e “ideologia”. Nem
todas as abordagens de gênero são ideológi-
cas. A chamada abordagem de gênero é uma
coisa e a ideologia de gênero é outra, como
veremos mais adiante. Entretanto, algumas
legislações enfrentam os postulados da chama-
da ideologia de gênero através de instrumen-
tos normativos. Segundo essa perspectiva, a
suposta diferença entre homens e mulheres
e o sistema tradicional de gênero são um pro-
duto exclusivamente da cultura, são o resul-
tado de uma “construção social”.1 Propõe-
-se por isso também a ampliação do número
de gêneros e a criação de várias identidades
sexuais possíveis, que podem ser escolhidas
à vontade e alteradas em várias fases da vida.
Assim, o sexo biológico torna-se irrelevante,
líquido, provisório, fluido e, portanto, sujei-
to a mudanças várias vezes ao longo da vida
por autodeterminação.
Consequentemente, as leis estabelecem
certas medidas que, além de combater a dis-
criminação ou os assédios, procuram tornar
essa ideologia obrigatória para todos os cen-
tros educativos, o que é particularmente gra-
ve quando se trata de menores. Às vezes, são
1 Seguindo a análise de Michel Foucault em sua Storia della
sessualità (2005), que define a sexualidade em termos de
“construção social”, e de acordo com a chamada teoria
Queer, formulada por Judith Butler, Eve Kosofsky Sedgwick
e outras estudiosas feministas de gênero, “o sexo biológico
deve ser substituído pelo gênero, que é cultural”.
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legislados aspectos que dizem respeito ao cur-
rículo escolar; outras vezes, ao conteúdo do
material didático – de informação, divulgação
e formação – utilizado na educação dos alunos,
independentemente da forma e do meio em
que é apresentado; outras ainda, à vida coti-
diana, como a consideração de todas as soli-
citações dos alunos como critério obrigatório
para o centro (por exemplo, acesso a sanitá-
rios e vestiários a critério dos alunos).
[c] Para o mundo docente, ter de lidar com
a educação afetiva e sexual de crianças e ado-
lescentes em sala de aula é uma questão com-
plexa. A afetividade e a sexualidade envolve-
-nos como pessoas, com nossas crenças, valo-
res, experiências e representações sobre esses
âmbitos e, por isso, não é fácil lidar com ela
em nossos dias. Acrescenta-se a isso as dife-
renças geracionais, as tensões e pressões do
ambiente e a falta de formação específica que
os professores receberam para lidar com essa
questão. Três fatores inibem a ação dos pro-
fessores: a ausência de diretrizes aprovadas
pela escola, o temor da desaprovação dos pais
e a inexperiência.
O silêncio dos professores e dirigentes esco-
lares é um dos fatores de risco mais importan-
tes, pois facilita a oposição entre o mais for-
te e o mais fraco, tornando o aluno homosse-
xual (ou percebido como tal) ainda mais frágil
e sozinho. Por isso, não há espaço para o silên-
cio como resposta às necessidades expressas
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às leis sobre a identidade de gênero e sobre a expressão de gênero
ou implícitas de nossos adolescentes e jovens.
A sexualidade dos adolescentes não é um ris-
co a ser evitado, proibido ou adiado.
Por outro lado, assistimos experiências
relacionadas à sexualidade que, indepen-
dentemente de sensibilidades e preconcei-
tos, levantam questões importantes, pois
vemos meninas e meninos, mesmo em ten-
ra idade, colocando em risco a própria segu-
rança, dignidade e saúde física e emotiva. O
aumento do uso da pornografia é uma des-
sas experiências.
[d] Sem entrar em outras considerações, é
evidente o antagonismo do conceito antro-
pológico incluído em algumas legislações em
relação à antropologia cristã. Esse aspecto,
em particular, é de grande importância para
a educação em nossas escolas e toca ques-
tões muito importantes relativas ao conceito
de pessoa que se pretende transmitir, tocan-
do – e às vezes colidindo frontalmente – com
os pressupostos antropológicos da visão cris-
tã de pessoa.
Na perspectiva antropológica cristã, a edu-
cação afetivo-sexual deve considerar a pessoa
como um todo (abordagem personalista) e,
portanto, ter como objetivo educacional a inte-
gração dos elementos biológicos, psicoafeti-
vos, sociais e espirituais. Uma verdadeira edu-
cação não pode se limitar a informar o intelec-
to, mas deve dar atenção especial à educação
da vontade, dos sentimentos e das emoções,
pois, para alcançar a plena maturidade huma-
na, é indispensável o autocontrole, que pres-
supõe a aquisição de virtudes como a modés-
tia, a temperança, o respeito por si mesmo e
pelos outros e a abertura aos demais.
O que devemos pensar dessas disposições
legais que contêm regras de ação mais ou
menos prescritivas para as escolas no caso de
um aluno apresentar uma situação específi-
ca relacionada à sua “identidade de gênero”?
As questões mais relevantes que afetam
diretamente as escolas serão apresentadas
a seguir. Não temos a intenção de esgotar a
reflexão sobre essas realidades. A nossa inten-
ção continua a ser o aprofundamento do nos-
so conhecimento sobre essas questões e as
suas implicações, com a assessoria de profis-
sionais de confiança de diferentes disciplinas
e em sintonia com o pensamento da Igreja,
para poder oferecer critérios alinhados com
a nossa identidade salesiana.
2 Esclarecimento
sobre os termos
[a] Este ponto diz respeito ao uso das pala-
vras e os seus efeitos nos vários contextos da
vida. As palavras podem ser janelas ou muros.
Lidamos com palavras-chave relacionadas
à diferença sexual e suas declinações. Nem
sempre as dominamos. Precisamos enten-
dê-las bem para libertá-las de mal-entendi-
dos, impotência ou censura que as silenciam.
Para nos orientarmos nessa nebulosa semân-
tica e conceitual do gênero, é útil relembrar as
principais categorias:
•  Uma primeira categoria, relacionada à
dimensão física do corpo, é a do sexo bio-
lógico, dado por componentes genéticos,
somáticos e cerebrais.
•  Outra categoria, relacionada à dimensão
psíquica, é a identidade de gênero, que se
refere à percepção que um indivíduo tem
de si mesmo, de acordo ou não com o seu
sexo biológico. Essa categoria, que indica o
sentimento psíquico do próprio ser sexual,
é mais imediatamente referida pelo termo
gender (gênero). Com base na crença de que
é o resultado de múltiplos fatores, a maio-
ria dos estudos correlaciona estreitamente
os aspectos neurobiológicos e psicológicos,
que caminham lado a lado com a formação
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da identidade pessoal, ou seja, a categoria
gênero surge da necessidade de esclarecer
o emaranhado de significados e processos
biopsicossociais que ocorrem no desenvol-
vimento humano. Assim, a sexualidade tor-
nou-se um campo de maior complexidade
e, portanto, os estudos de gênero obrigam-
-nos a abandonar uma visão excessivamen-
te simplificada da sexualidade.
•  Relacionadas à identidade psicológica de
gênero estão as categorias da orientação
sexual (segundo à atração emotiva, afetiva
e/ou sexual sentida por outras pessoas) e
do comportamento sexual, que se refere às
formas pelas quais ela é realizada.
•  Outra categoria, referente à dimensão socio-
cultural, é a da expressão ou papel de gêne-
ro, que indica o comportamento sexual
que uma sociedade espera e promove em
um indivíduo.
[b] A posição da Igreja Católica sobre a ques-
tão do gênero pode ser traçada levando-se em
conta os pronunciamentos pontifícios em nível
de magistério e as várias tendências no interior
da comunidade eclesial. Assim, diante da aco-
lhida do termo gender nos documentos políti-
cos internacionais e locais, a Igreja aceita o seu
uso, com a condição de que esteja relaciona-
do com a diferença biológica do sexo, o que
não invalida toda a especificidade e comple-
mentaridade entre homens e mulheres. Mais
do que uma impossível aceitação, é eviden-
ciada a reserva crítica do termo.
Na verdade, o magistério papal considera,
a deriva ideológica do conceito de gênero e a
sua incompatibilidade antropológica com a
visão cristã da pessoa humana. “Quando se
passa da distinção sexo/gênero à dissociação,
entra-se na ideologia” (Conferência Episcopal
da França, 2014). Assim, a ideologia começa
quando se sustenta que a identidade sexual
é “inteiramente construída socialmente” ou
que é “inteiramente determinada pela natu-
reza” (estaríamos cometendo o mesmo erro
se considerássemos a genitalidade ou a biolo-
gia como a palavra final no processo de iden-
tidade de uma pessoa).
Nossa intenção é ler a sexualidade huma-
na não em um nível exclusivamente biológi-
co, mas em um nível antropológico, de uma
perspectiva que vai além da compreensão ape-
nas dos mecanismos fisiológicos, da anatomia
ou do funcionamento mecânico dos órgãos
sexuais.
A categoria “gênero” é um complemen-
to essencial da variável “sexo” que permite,
sem cair em questões deterministas, analisar
as complexas interações que ocorrem entre
os fatores biológicos e aqueles que, desde
o nascimento, se verificam no contexto psi-
cossocial.
É verdade que as pessoas podem estar
sujeitas a influências ideológicas que con-
dicionam o exercício da liberdade. Todavia,
não podemos ignorar o fato de que várias
ciências (médica, psicológica e psiquiátrica)
indicam a existência, em algumas pessoas,
de discrepâncias entre o sexo biológico e o
sexo vivido. Os relatos dessas pessoas devem
ser confrontados com o conhecimento des-
sas disciplinas científicas, sem suspeitar ime-
diatamente de ideologia.
Com relação aos postulados da ideologia
gender, é oportuno recordar as palavras do
Papa: “É preciso não esquecer que ‘sexo bioló-
gico (sex) e função sociocultural do sexo (gen-
der) podem-se distinguir, mas não separar’...
Uma coisa é compreender a fragilidade huma-
na ou a complexidade da vida, e outra é aceitar
ideologias que pretendem dividir em dois os
aspectos inseparáveis da realidade. Não caia-
mos no pecado de pretender substituir-nos ao
Criador. Somos criaturas, não somos omnipo-
tentes. A criação precede-nos e deve ser rece-
bida como um dom. Ao mesmo tempo somos
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às leis sobre a identidade de gênero e sobre a expressão de gênero
chamados a guardar a nossa humanidade, e
isto significa, antes de tudo, aceitá-la e respei-
tá-la como ela foi criada(Amoris Laetitia, 56).
Em suma, duas atitudes podem ser obser-
vadas: uma denúncia decisiva da “ideologia de
gênero (o sexo biológico é uma construção
sociocultural) e uma aceitação crítica da pers-
pectiva de gênero – ambas podem ser encon-
tradas, embora com diversos graus de ênfa-
se, nos pronunciamentos da Igreja.
3 Sete reflexões práticas nos
nossos centros
A integração da diversidade afetivo-sexual
em um centro educacional teria a ver com
certos critérios de reflexão e caminhos de
intervenção:
[1] Na educação afetivo-sexual, assim como
em toda a educação, realiza-se o axioma da
“impossibilidade de não comunicar”. Não
enfrentar uma questão já é enviar uma men-
sagem sobre como se posicionar diante des-
sa realidade. É por isso que a educação afeti-
vo-sexual e, especificamente, a abordagem
da diversidade sexual na educação podem
ser conscientes ou inconscientes, voluntá-
rias ou involuntárias, invisíveis ou abertas,
mas é impossível não educar.
Por outro lado, a escola salesiana, como par-
te da sua vocação à educação integral dos seus
alunos, assume o desafio da educação afeti-
vo-sexual em resposta às diretrizes da iden-
tidade de escola católica: “Eles devem ser ini-
ciados, à medida que a idade avança, em uma
educação sexual positiva e prudente”, “levando
em conta os avanços da psicologia, da peda-
gogia e da didática”.2
2 Vaticano II. Gravissimum educationis sobre a educação cris-
. 28 de outubro de 1965, n. 1; cf. Congregação para a
Educação Católica. A identidade da escola católica para uma
cultura do diálogo. Cidade do Vaticano, 25 janeiro de 2022.
[2] Em todo caso, trata-se de agir com mode-
ração e bom senso, com o espírito educativo
que deve caracterizar-nos, sem responder à
intenção de alguns coletivos ou setores sociais
de provocar o extremismo para alcançar os
próprios fins. Vivemos hoje num conflito de
paradigmas, estamos passando por um perío-
do de busca e de incertezas até mesmo em ter-
mos de sexualidade; nesse sentido, é neces-
sário diferenciar os textos normativos das
intenções subjacentes (às vezes uma sexua-
lidade sem ética ou códigos). Não podemos
esquecer de que a prioridade deve ser sem-
pre a proteção e a redução dos riscos e danos
aos menores.
É necessário, pois, ter uma conceituação
clara e elaborada de cada argumento. A pró-
pria categoria “gênero” é cercada de grande
ambiguidade e confusão. Precisamos de ins-
trumentos e modelos para responder com efi-
cácia a situações educativas que comportam
um componente de diversidade sexual. Tam-
bém precisamos de “uma preparação psico-
pedagógica adequada e séria que nos permita
compreender situações particulares que exi-
gem atenção especial”.3 Remete-se ao livro:
Antonella Sinagoga e Miguel Ángel García Mor-
cuende, Uma Pastoral Juvenil que educa para
o amor, CCS, Madri 2022.
A mensagem do Evangelho deve ser a base
do nosso discurso e, no nosso discurso, os
apelos para aproximar-se das pessoas tendo
em mente as suas necessidades e a sua con-
dição, a começar do valor de cada um, devem
ocupar um lugar importante. Também temos,
como centro, o direito e a obrigação de apre-
sentar e oferecer aos alunos a visão cristã da
dimensão afetivo-sexual e de nos fazermos ouvir.
Temos o direito de ter a nossa própria con-
cepção de escola e de agir em conformidade
3 Congregação para a Educação Católica. Orientações edu-
cativas sobre o amor humano, Roma, 1° de novembro de
1983, n. 81.
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com ela. Por esse motivo, uma visão pedagó-
gica e uma forma de pensar que se lhe opo-
nha não podem ser impostas às escolas por
lei; essa é uma questão importante.
[3] Para os alunos alcançarem o pleno desen-
volvimento da própria personalidade, é neces-
sário incluir na sua educação os aspectos rela-
cionados à educação afetivo-sexual que os aju-
dem em seu processo de amadurecimento,
em total consonância com o Projeto Educa-
tivo do Centro e em respeito aos direitos e
liberdades pessoais dos alunos. Por esse moti-
vo, é importante, e não só por causa dessas
leis, que as escolas tenham um programa de
educação afetivo-sexual adequado às diver-
sas idades dos alunos. O analfabetismo sen-
timental e afetivo é um dos principais fato-
res responsáveis pelo desconforto interior,
pela dependência, pela solidão psicológica e
pela incapacidade de se emancipar de forma
plena e segura.
Esses programas devem garantir três ele-
mentos fundamentais:
•  Uma educação afetiva que ajude a mapear e
discernir os diferentes estados emotivos, para
poder mergulhar neles sem medo, sabendo
distinguir emoções e impulsos passageiros
vindos dos nossos desejos mais profundos.
E, a partir deles, estruturar a própria identi-
dade e as próprias opções.
•  A experiência da corporeidade e da espiri-
tualidade como requisitos indispensáveis
que interagem com a formação intelectual,
para que todos nós (crianças, adolescentes
e adultos) possamos assumir um conheci-
mento progressivo de nossos próprios rit-
mos biológicos, na descoberta da beleza e
da harmonia de um corpo feito para a comu-
nicação e o relacionamento.
•  Uma formação integral que anuncia e pro-
põe a felicidade como horizonte de senti-
do da vida, uma felicidade que se constrói
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às leis sobre a identidade de gênero e sobre a expressão de gênero
progressivamente, ouvindo a própria cons-
ciência e baseada em vínculos de amor,
ternura e respeito. E, nesse contexto, uma
visão antropológica da sexualidade huma-
na, complexa e articulada, combinada com
uma educação para o amor humano.
Chama-se “integral” porque não se limita a
fornecer informações sobre os aspectos bio-
lógicos da sexualidade, mas abrange todas as
dimensões do ser humano: física ou biológi-
ca (genitais, cromossomos, higiene, atividade
física), social (como nos relacionamos com os
outros), psicológica (sentimentos, emoções,
afetos e intelecto) e espiritual (transcendência,
valores ou projeto de vida). Por esse motivo,
em alguns países é usado um conceito mais
amplo de educação sexual global, que inclui a
afetividade e as relações humanas numa mes-
ma área.4
Referimo-nos à educação “para” e “na” pes-
soa de cada aluno, que começa no nível inicial
do sistema educativo, mas que, na verdade,
começa no coração da família. Devido à sua
dimensão pessoal e personalizante, a sexua-
lidade não é apenas genitalidade; é o valor da
pessoa que manifesta o significado da vida e a
maneira específica como ela é realizada. Acei-
tar que ela é uma dimensão da pessoa signifi-
ca retirar a sexualidade da esfera do “ter” para
incluí-la na ordem do “ser”. Não se trata de algo
a ser possuído, a ser manipulado. Respeitar a
sexualidade em sua condição pessoal é respei-
tar a pessoa como tal.
Um dos pontos-chave a serem observados é
que a resposta da escola à diversidade sexual
não se limita a educar ou direcionar os alunos
4 Por exemplo, a Inglaterra atualizou a sua política de
educação sexual em 2020 e a nomenclatura utilizada é
“Educação às relações, educação sexual e às relações e
educação à saúde” (“Relationships Education, Relationships
and Sex Education (RSE) and Health Education”). Também
na Nova Zelândia, os programas de educação sexual foram
atualizados em 2020 e utilizam uma terminologia semel-
hante: “Relationships and Sexuality Education”.
das minorias, mas também as maiorias sexuais
com gênero, identidade sexual, papéis sexuais
e orientação sexual. A educação à sexual é
uma educação de todos e para todos.
As equipes educacionais deveriam ser cons-
tituídas no interior da mesma matéria ou de
forma interdisciplinar, no interior de uma área
ou entre diversas áreas. Incluir nessas equipes
pelo menos um profissional da escola: consul-
tor pedagógico, psicólogo, psicopedagogo,
equipe do departamento de orientação etc.
No entanto, os professores não devem trans-
ferir a educação à diversidade para “especia-
listas da saúde”, tratando esses tópicos como
uma exceção ou uma dificuldade, se não rejei-
tando-os explicitamente. A biologia não é o
único espaço curricular “natural” para a educa-
ção sexual. A sexualidade é um objeto de conhe-
cimento que pode ser articulado com diferentes
matérias e disciplinas. Compreender a sexuali-
dade requer superar os limites disciplinares e
colocar-se “entre” as ciências sociais e naturais,
a filosofia, a ética, a psicologia, a experiência
religiosa e outros conhecimentos.
De qualquer modo, embora essa área seja
enfrentada nos programas escolares de modo
transversal, há outro grande porcentual de
escolas em que essa formação é oferecida de
forma ad hoc por pessoal externo, na maioria das
vezes por profissionais que insistem em dar
informações sobre como usar preservativos
e prevenir infecções sexualmente transmissí-
veis e gravidez indesejada em adolescentes.
Essa formação reducionista, um mero estu-
do da anatomia e fisiologia da sexualidade.
Não responde à visão integral da pessoa que
leva em conta todas as suas dimensões consti-
tuintes (biológica, psíquica, ética e espiritual).
[4] Embora seja, sem dúvida, um equilíbrio
difícil, a própria Igreja oferece um caminho em
seu diálogo com a questão do gênero na edu-
cação: escutar, raciocinar e propor.
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Ainda que a formação nas diversas áreas
relativas ao desenvolvimento e amadureci-
mento da pessoa deva ocorrer em grupo, o
acompanhamento individual deve ser estabe-
lecido de forma abrangente. As escolas devem
abordar as situações relacionadas à identida-
de de gênero vividas pelos alunos, que reque-
rem atenção e acompanhamento específicos
a partir de uma perspectiva que tenha o seu
centro no indivíduo.
Esses casos, por serem questões que tocam
o núcleo mais íntimo da personalidade, reque-
rem uma gestão atenta e prudente, sempre em
benefício do menor, principalmente a partir
dos nossos princípios e valores contidos no
Projeto Educativo do Centro, sempre levan-
do em conta as decisões tomadas pelos pais
ou representantes legais dos menores.
Quanto aos alunos cuja identidade de gêne-
ro é diferente do seu sexo biológico, em ter-
mos científicos, isso não é considerado um
distúrbio ou uma doença. Entretanto, há pes-
soas para as quais essa diferença entre o sexo
biológico e sua identidade gera um desconfor-
to significativo. É fundamental transmitir em
nossas escolas uma mensagem de apoio e res-
peito total por cada pessoa, consciente da sua
individualidade. Trata-se, como educadores,
de acompanhar e facilitar a vida de todos os
alunos, especialmente daqueles que se encon-
tram em uma situação de vida complexa e que
estão passando por uma situação dolorosa (na
forma de ansiedade, depressão, irritabilida-
de...) que, às vezes, também pode ser devi-
da à sua falta de integração, pelo que é essen-
cial interpretar adequadamente o momento
que estão vivendo.
Eles precisam de tempo e de um ambien-
te de confiança para crescer. É importante,
então, criar um clima amigável e acolhedor
para todos os alunos que possam se sentir
“diferentes” ou que tenham problemas para
definir a própria identidade pessoal, um lugar
que facilite a escuta paciente e compreensiva,
livre de julgamentos morais, mas seguro em
seus critérios. Ao mesmo tempo, deve ser res-
peitada e tutelada a privacidade dos alunos que
não desejam tornar visível a própria condição.
Na circunstância de um caso particular rela-
tivo à identidade de gênero de um aluno, com
o consentimento e a cooperação da família ou
do tutor legal, que deve ser informado dos
fatos observados, e no respeito à privacidade
do aluno, deve ser elaborado um plano de ação
para responder adequadamente às necessida-
des do aluno. A escola deve garantir o apoio
psicopedagógico.
[5] A escola deve garantir um bom clima
de convivência entre os alunos e a comuni-
dade educativa em geral, tanto dentro quan-
to fora da escola. As atividades são planejadas
com o objetivo de promover um bom clima
de convivência dentro da escola.
Para tanto, promoverá valores como o respei-
to, a igualdade entre homens e mulheres e a não
discriminação, independentemente do motivo
(deficiência, gênero, orientação sexual, raça,
origem, ideologia, crença religiosa ou qualquer
outra situação pessoal), trabalhará na inclu-
são e tomará medidas específicas para preve-
nir e, quando adequado, resolver comporta-
mentos contrários à dignidade das pessoas,
como situações de violência, discriminação,
assédio ou relações tóxicas.
O aluno não só entra em contato com os
conteúdos didático-disciplinares estabeleci-
dos pelo currículo escolar, como também se
depara com uma espécie de currículo “implícito”
ou “oculto”, que consiste no conjunto de men-
sagens transmitidas pela didática, pelo uso do
espaço, pela comunicação verbal e não verbal
e pelas atitudes que os professores determi-
nam na relação educativa.
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2.1 Page 11

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Pe. Miguel Ángel García Morcuende Reflexões para as instituições educacionais em relação
às leis sobre a identidade de gênero e sobre a expressão de gênero
11
O nosso objetivo é o de permear a institui-
ção em todas as suas camadas, de modo que
os currículos explícitos e ocultos sejam identi-
ficados num grande esforço para que todos os
alunos possam sentir-se respeitados, indepen-
dentemente do seu sexo, identidade de gêne-
ro, expressão de papéis de gênero ou orienta-
ção sexual. Portanto, todas as atividades (curri-
culares, pastorais, organizativas etc.) formarão
uma estrutura de proteção (tolerância zero) e
prevenção da violência, criando espaços livres
de bullying ou assédio por qualquer motivo.
São necessárias respostas rápidas e firmes de
desaprovação por parte dos professores con-
tra o bullying.
[6] Os professores e a equipe educativa
desempenham um papel importante na cria-
ção de um clima escolar positivo e seguro; eles
têm a grande responsabilidade de intervir pre-
cocemente para que as atitudes e os compor-
tamentos discriminatórios em relação à orien-
tação e à identidade sexual dos alunos não se
tornem crônicos.
A primeira resposta da escola à diversida-
de sexual é criar ambientes seguros contra
todo tipo de violência, desenvolvendo pro-
tocolos eficazes de resposta para detectar e
reagir quando essas violências acontecem. A
escola tem o dever de desempenhar um papel
ativo, que envolva não minimizar, nem norma-
lizar, mas investigar e punir os atos de violência,
abuso e assédio que ocorram contra outras pes-
soas, também quando atribuídos à sua diver-
sidade sexual. Em outras palavras, caso ocor-
ram situações de bullying ou insultos, rumores,
zombarias, afirmações depreciativas, apelidos
vulgares e agressões físicas decorrentes da
orientação sexual de um aluno, é necessário
agir com determinação e diligência para evitá-
-las, aplicando as medidas educativas, legais e
de comunicação previstas nos projetos e pro-
tocolos de convivência da escola.
Em vez de optar por resolver esses proble-
mas de modo privado e secreto a abordagem
comunitária à violência também é uma oportu-
nidade de educar e prevenir episódios futuros.
As emergências e os episódios críticos
muitas vezes nos sobrecarregam, pelo que
as ações devem ser bem pensadas, evitando
respostas precipitadas e repercussões inde-
sejáveis na Comunidade Educativo-Pastoral,
levando em conta as circunstâncias específi-
cas de cada caso e colaborando com os pais,
tanto do aluno em questão quanto dos pais
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2.2 Page 12

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12
FLASH • Janeiro 2025 SETOR PASTORAL JUVENIL Salesiani di Don Bosco Sede Centrale Salesiana
em seu conjunto. Por exemplo, no uso das
estruturas da escola, em particular dos sani-
tários e vestiários, serão buscadas as alterna-
tivas mais adequadas, de acordo com a con-
figuração e as estruturas da escola, de modo
que a situação do aluno seja levada em con-
ta com o devido respeito, sem prejudicar os
direitos e interesses dos demais alunos.
[7] Seria desejável que os pais fossem infor-
mados sobre o conteúdo dessas normas por
pessoas qualificadas e confiáveis, que também
poderiam vir da própria escola. Isso deveria ser
feito sempre de maneira serena e equilibrada
e, naturalmente, tendo em mente o concei-
to de escola salesiana. Da mesma forma, seria
importante formar os professores e criar com
eles equipes interdisciplinares.
Os pais também deveriam ter conhecimen-
to dos programas da escola para promover a
compreensão e o acompanhamento no ama-
durecimento afetivo das crianças e dos ado-
lescentes, ajudando-os a formar a sua sexua-
lidade e preparando-os para relacionamentos
interpessoais positivos.
Há, enfim, diversos tipos de famílias com
que os dirigentes deverão aprender a comu-
nicar-se e colaborar, a partir do desejo de rea-
lizar esse encontro construtivo: a maioria das
famílias, as famílias exasperadas, as famílias
feridas e as famílias diferentes.
•  A maior parte das famílias conhece a esco-
la para onde levou os seus filhos e é grata
pela orientação e pelo apoio que a escola
pode oferecer numa tarefa que é importan-
te para elas, mas que, às vezes, está além
das suas capacidades; o nosso desafio com
elas será envolvê-las.
•  As famílias diferentes precisam saber que
a sua diversidade não será uma desvanta-
gem para os filhos na escola; que o fato de
serem filhos de divorciados, pais solteiros
ou homossexuais não será uma fonte de
rejeição ou exclusão para os filhos: o nos-
so desafio para eles será demonstrar res-
peito e aceitação.
•  As famílias feridas podem ser aquelas que
estão descobrindo a diversidade dos filhos
e, às vezes, estão carregadas de medo, dúvi-
das e sofrimento; a nossa tarefa será acom-
panhá-las em seu caminho de aceitação.
•  As famílias exasperadas pensam que esta-
mos confundindo, impondo ou condicio-
nando os seus filhos: o nosso trabalho com
elas será informá-las e convidá-las a parti-
cipar da tarefa educativa a partir da pró-
pria perspectiva.
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