O mártir, portanto, com serena confiança, caminha
para o Senhor como quem caminha em direção a um
amigo, pelo qual ofereceu voluntariamente seu corpo e
até sua alma, como os juízes esperavam. E, naquela
hora, ele ouvirá o chamado do nosso Salvador com as
palavras do poeta: O meu caro irmão!", exatamente por-
que se tornou semelhante a Ele na sua vida.
Digo que chamamos de "perfeição" o martírio, não
porque o mártir chegou ao fim de sua vida como todos
os outros, e sim, porque realizou uma obra perfeita de
amor. Se, pois, o martírio é a confissão de fé em Deus,
toda alma que leva sua vida com pureza no conheci-
mento de Deus e no cumprimento dos mandamentos
é mártir com a vida e com a palavra, qualquer que
seja o modo de sua morte corporal.
Ela, de fato, derrama sua fé como o sangue,
durante a vida e até o momento da sua morte.
Responsório
Cf Ecl 45,9; 2Tm 4,7-8
R. O Senhor coroou-vos de justiça e revestiu-vos de
um manto de glória. * O Santo de Israel estabeleceu
em vós a sua morada.
V. Combatestes o bom combate, terminastes a vossa
carreira: está preparada para vós a coroa da justiça. *
O Santo de Israel.
ou
Da "Exortação ao martírio..." de São Cipriano, bispo
(c. 13; CC: 3, 214-2160)
A nossa recompensa
será superior aquilo que suportamos
O Bem-aventurado apóstolo Paulo, elevado, por di-
vina bondade, até o terceiro céu e ao paraíso, afirma de
ter ouvido coisas que não se podem exprimir. Ele gloria-
se de ter visto Jesus Cristo na visão que lhe ofereceu
sua fé, e confessa o que aprendeu e viu, através da
verdade proveniente de um conhecimento superior.
Diz o apóstolo: "Os sofrimentos deste tempo pre-
sente não são nada em comparação com a glória futura
que se manifestará em nós". Quem, então, recusar-se-ia
a empenhar-se com todos os meios para alcançar uma
glória tão grande, a ponto de tornar-se amigo de Deus,
de gozar logo com Cristo e receber os prémios divinos,
depois dos suplícios e tormentos terrenos?
Se para os que participam das batalhas deste mun-
do é uma honra voltar para a pátria vitoriosos, depois
de vencido o inimigo, maior e mais nobre será a glória
de ter vencido o demônio, ao triunfar e voltar para o
paraíso. Levaremos os troféus da vitória até aquele Pa-
raíso do qual Adão pecador foi expulso, depois de ter-
mos vencido o demônio que antes conseguira enganá-lo.
Que glória mais nobre do que oferecer ao Senhor o dom
muito agradável da fé puríssima, da virtude intacta de
nossa alma, o galhardão glorioso da nossa homenagem,
e tornar-nos companheiros daquele que está para
chegar e vingar-se dos inimigos; que glória estar ao seu
lado, quando Ele se sentar para julgar!
O mesmo pode dizer-se ao se pensar que nos torna-
mos co-herdeiros de Cristo, iguais aos anjos, alegres com
os patriarcas, os apóstolos e os profetas na posse do
reino celeste. Que perseguição poderá vencer estes pen-
samentos, que tormentos poderão prevalecer sobre eles?
A alma que encontra sua força nestas reflexões religiosas
resiste corajosamente e persiste imóvel contra todos os
terrores do demónio e as ameaças do mundo, porque
recebe a força da fé firme e'erfeita nos bens futuros.
Durante a perseguição privam-nos da terra, mas
para nós se abre o céu: ameaça-nos o anticristo, mas
Cristo nos defende; é-nos infligida a morte, mas rece-
bemos a imortalidade. O mundo é tolhido a quem foi
morto, mas a este é restituída a viela e oferecido o para-
íso. Extingue-se a vida terrena, mas é dada a eternidade.
Que dignidade e segurança sair contentes deste mundo,
sair gloriosos entre tribulações e dificuldades, fechar, por
um instante, estes olhos que vêem as pessoas e as
coisas terrenas, para abri-los improvisamente a fim de
ver Deus e Cristo. A felicidade da passagem é
proporcional à sua rapidez. Foste tirado improvisamente
desta terra para encontrares teu lugar no reino celeste.
Devemos cultivar estas verdades em nossa alma e
em nossos pensamentos; devemos refletir sobre estas
realidade dia e noite. Se alguém combate com estes sen-