tentes neste divino objeto, é impossível que a nossa
vontade não sinta complacência nesse bem; e então
usamos da liberdade e do domínio que temos sobre nós
mesmos, levando o nosso próprio coração a robustecer
e a aumentar a sua primeira complacência com atos de
aprovação e de regozijo. Por meio desta complacência
Ele é o Deus do nosso coração porque, por ela, o nosso
coração abraça e se apodera dele; Ele é a nossa heran-
ça porque, por este ato, gozamos dos bens que estão
em Deus, e, como de uma herança, dele tiramos todo
gozo e contentamento. Por esta complacência, como
que assimilamos espiritualmente as perfeições da
Divindade, porque as tornamos nossas e as infundimos
em nosso coração.
Oh meu Deus! que alegria teremos no céu, õ
Teótimo, quando virmos o Amado de nossos corações
como um mar infinito, cujas águas são unicamente
perfeição e bondade!
Então, como o cervo que, perseguido, pára junto
duma clara fonte e haure a frescura de suas águas (Si
41,2), assim os nossos corações, depois de tanta ansie-
dade e desejos, chegando à fonte viva e salutar da Di-
vindade (cf. Si 41,3), haurirão, pela sua complacência,
todas as perfeições do Bem-Amado e nele terão perfeito
gozo, pelo prazer que sentirão, ao saciarem-se de suas
delicias imortais: desta forma, o Amado entrará em nós
para comunicar à nossa alma a sua eterna alegria, se-
gundo Ele mesmo diz (cf. Jo 14, 23): que se observar-
mos a sua santa lei do amor, Ele virá e fará em nós a
sua morada.
O amor que o grande apóstolo São Paulo tinha pela
vida, morte e paixão de Nosso Senhor foi tão grande
que atraiu ao seu coração a própria vida, paixão e
morte do divino Salvador, de modo que estas lhe
ocupavam a vontade pelo amor, a memória pela
meditação e o entendimento pela contemplação.
Responsôrio
R. Sede bondosos e compassivos uns com os outros, e
perdoai-vos mutuamente como Deus vos perdoou em
Cristo * Sede imitadores de Deus, como filhos amados.
V. Tomai meu jugo sobre vós e aprendei de mim que
sou manso e humilde de coração.
R. Sede imitadores de Deus.
Ef 4,32 - 5,1; Mt 11,29
ou
Da "Introdução à Vida Devota" de
São Francisco de Sales, bispo.
A devoção deve ser praticada de diversos modos
A devoção deve ser praticada de diversos modos,
pelo cavalheiro, pelo operário, pelo trabalhador, pelo
príncipe, pela viúva, pela solteira e pela esposa. E isto
não basta; mas é necessário que a prática da devoção
seja adaptada às forças, às ocupações e aos deveres
de cada um em particular.
Dize-me, ó Filotéia: seria conveniente que um bis-
po procurasse a solidão como os Cartuxos? e que as
pessoas casadas não quisessem aumentar sua
fortuna, como os Capuchinhos? e o que o trabalhador
freqüentasse a igreja com tanta assiduidade quanto o
religioso no oficio coral? e que os religiosos se
dedicassem continuamente a encontros de toda
espécie em favor do próximo, como o bispo? Essa
devoção não seria ridícula, desregrada e intolerável?
No entanto, com freqüência se cai nesse erro absurdo.
Não, Filotéia, a devoção, se for verdadeira e since-
ra, não estraga nada; mas leva as coisas à perfeição; e
se ãs vezes não se coaduna com a legítima vocação de
alguma pessoa, então, sem dúvida, é devoção falsa .
A abelha tira o mel das flores sem feri-las, mas dei-
xando-as íntegras e frescas como as encontrou; e a ver-
dadeira devoção faz ainda melhor, pois que não somente
não estraga nenhuma vocação e ocupação, mas, ao con-
trário, agrega-lhes beleza e valor. Com ela, de fato, gover-
na-se a família com mais serenidade, com ela o amor
entre marido e mulher torna-se mais sincero; e mais fiel
a submissão à autoridade; com ela, cumprem-se todas
as obrigações de modo mais suave e mais amável.
É um erro, antes, uma heresia, querer excluir a
vida devota da caserna dos soldados, das oficinas dos
artesãos, da corte dos príncipes, da casa dos casados.
Sim, é verdade, caríssima Filotéia, a devoção puramen-
te contemplativa, monástica e religiosa, não pode ser