que deseja e decide ser um dos seus. Decisão essa que comporta a audácia do discípulo que vence toda forma
de temor e torna leves as dificuldades inerentes ao seguimento, como são a rejeição, a exclusão, a
incompreensão ou os riscos.
Encontrar Jesus, ou melhor, ser encontrado por Ele, desperta admiração, atração, fascínio. Mas não basta.
Talvez, a experiência mais importante envolvida no seguimento seja a amizade pessoal com o Mestre.
Amizade que se compreende e vive como entrega, fidelidade e confiança. Onde não houver amizade pessoal,
não poderá existir seguimento, mesmo havendo outras qualidades, como o entusiasmo ou a laboriosidade até
a exaustão. O chamado coloca-nos diante de um esplêndido horizonte de amizade, requer adesão cordial à
pessoa de Jesus e uma mudança radical de vida. Um seguir e caminhar com Jesus que vai se transformando
em comunhão com Ele (Jo 1,31-51); um seguir e um caminhar com Jesus que é também permanecer com
Ele, dado que se liga a uma experiência pessoal de verdadeiro encontro (Jo 15,14-16).
O que expus brevemente, procurando ir ao essencial, deve ser, meus caros irmãos e irmãs, o ponto de
partida e de chegada, a máxima prioridade das nossas ações de educadores e evangelizadores dos jovens e
das jovens. A partir deste momento, o convite que lhes faço é de percorrer pessoalmente, às vezes com
outros educadores e educadoras dos milhares de presenças da nossa Família no mundo, e sempre com os
jovens – sempre com eles e sempre para eles – um itinerário de fé no qual reavivar a nossa relação com
Jesus. Sim, é disso que se trata! Deixar-nos tomar pela sua pessoa, deixar-nos seduzir não só por um ideal ou
uma missão, mas pelo Deus vivo encarnado n’Ele. Deixar-nos transformar, pouco a pouco, por este Deus
apaixonado por uma vida mais digna e feliz para todos.
Nós mesmos, e particularmente os nossos jovens, temos desejo de Deus e necessidade de Deus. “A Itália,
a Europa e o mundo nestes dois séculos mudaram muito, mas a alma dos jovens não mudou: ainda hoje os
jovens e as jovens estão abertos à vida e ao encontro com Deus e com os outros, mas existem muitos deles
que correm o risco do desencorajamento, da anemia espiritual, da marginalização”, disse-nos, como Família
Salesiana, o Papa Francisco.1
E deveríamos estar convencidos de que esta abertura ao encontro com Deus, esta necessidade de Deus, se
converte num acontecimento decisivo para todos nós, especialmente para os nossos jovens, quando o Cristo
do Evangelho, sem supressões ou acréscimos, é experimentado como Aquele que dá sentido pleno à vida,
passando “da admiração ao conhecimento e do conhecimento à intimidade, ao enamoramento, à sequela, à
imitação”.2 Este desejo é um desafio educativo e pastoral que devemos enfrentar se quisermos cultivar e
desenvolver uma espiritualidade cristã para o nosso tempo.
Quando isso é entendido e se começa a vivê-lo, altera-se muitas vezes a perspectiva pessoal, porque cada
um de nós vai tomando consciência da gratuidade de Deus, que Ele nos amou e nos ama, e pousa o seu olhar
sobre cada um dos seus filhos e filhas. Isso nos leva a buscar muito seriamente este encontro, que se realiza
geralmente de maneira gradual, que amadurece ordinariamente de modo lento, com os altos e baixos da
limitada resposta humana, que requer tempo e espaço, que envolve um processo de liberdade. É por isso que,
compartilhando a sua mesma experiência e convicção pessoal, o Papa Francisco convida, numa entrevista
concedida no início do seu pontificado, a “entrar na aventura da busca do encontro e do deixar-se buscar e
deixar-se encontrar por Deus”.3
3. PERCORRAMOS JUNTOS
Pensando no caminho da vida como lugar em que se joga tudo e o que nela é mais importante, podemos
olhar, como imagem bíblica, para Jesus que percorre as estradas da Galileia com os seus, encontrando-se
com muitas pessoas, pregando, curando... Jesus que percorre as estradas entre o povo, entre as suas
vicissitudes, e rodeado, às vezes, dos que passam por necessidades, também de curiosos, dos que buscam
novidade, dos que são fascinados pela sua pessoa, dos indiferentes, dos que o veem como um perigo e
querem tirá-lo do meio deles.
Percorrer o caminho, como experiência humana, é conhecê-lo e reconhecê-lo, conhecer quais os
caminhos pelos quais Ele passa e saber que nos encontraremos mais adiante, onde se encontram as sombras
que refrescam, onde estão as fontes que saciam. É fazer experiência de caminhar por lugares pedregosos,
subir por caminhos às vezes íngremes e difíceis; outras vezes, mais fáceis e tranquilos. Como no caso do
1 FRANCISCO, Como Dom Bosco, com os jovens, para os jovens. Carta do Papa Francisco ao Reitor-Mor dos Salesianos.
Cidade do Vaticano, Roma, LEV, 2015, 4.
2 Pascual CHÁVEZ, Levar o Evangelho aos jovens, in ACG 406, Carta do Reitor-Mor, Roma, 2010, 21.
3 FRANCISCO, Entrevista a Antonio Spadaro S.J., Cidade do Vaticano, 21 de setembro de 2013.
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