A narração lucana dos discípulos de Emaús diz-nos que se o Ressuscitado não tivesse feito
comunidade com eles durante a viagem e à mesa, os dois discípulos não teriam chegado a descobri-
lo vivo, nem teriam recuperado a vontade de viver em comum. Notemo-lo bem: não importa se
quem retorna à comunidade a tinha abandonado anteriormente; é decisivo, porém, que se retorne o
quanto antes, logo depois de ter visto o Senhor. Só quem recupera a vida comum sabe que o
Ressuscitado esteve com ele e encontra a alegria de tê-lo sentido ao seu lado (cf. Lc 24,35.32).
Deve-se temer uma evangelização que, além dos métodos e das intenções, não parta de uma vida
em comum dos evangelizadores e não nasça da sua alegria de ter encontrado Cristo na comunidade.
Se assim fosse, a evangelização não teria brotado do encontro com o Ressuscitado, nem levaria a
encontrar-se com Ele. Aqueles que viram o Ressuscitado e comeram com Ele não puderam retê-lo
consigo, mas tiveram vontade de falar da experiência vivida, retornando à comunidade. Isso não é
casual, mas comprova uma lei da existência cristã: quem sabe e proclama que Jesus ressuscitou,
vive a sua experiência em comunhão.
Mesmo sendo verdade que Jesus pode ser encontrado em todos os lugares, a sua casa, o lugar onde
ele mora, é a Igreja, a comunidade dos crentes, daqueles que o confessam como seu Senhor, a
família dos seus discípulos, daqueles que compartilham a vida e a missão com Ele.
Não resta dúvida de que devemos trabalhar para corrigir a imagem deformada da Igreja que possa
existir em muitos jovens. Alguns "falam dela com afeto, como se fosse a própria família antes, a
própria mãe. Sabem que nela e dela receberam a vida espiritual. Mesmo reconhecendo os seus
limites, as suas rugas e até mesmo os seus escândalos, isso, todavia parece secundário diante dos
bens que ela traz à pessoa e à humanidade enquanto morada de Cristo e ponto de irradiação da sua
luz: as energias de bem manifestadas em obras e pessoas, a experiência de Deus movida pelo
Espírito que aparece na santidade, a sabedoria vinda da Palavra de Deus, o amor que une e cria
solidariedade além dos limites nacionais e continentais, a perspectiva da vida eterna.
Outros a tratam com desinteresse, como se fosse uma realidade que não lhes pertence e da qual não
se sentem parte. Julgam-na de fora. Quando dizem 'a Igreja', parecem referir-se somente a algumas
de suas instituições, a alguma formulação da fé ou a normas de moral que não são do próprio gosto.
É a impressão que se tem na leitura de alguns jornais. [...] Erram justamente sobre o que constitui a
Igreja: a sua relação, ou melhor, a sua identificação com Cristo. Para muitos, trata-se de uma
verdade desconhecida ou praticamente esquecida. Não falta quem a interprete como uma pretensão
da Igreja de monopolizar a figura de Cristo, controlar as suas interpretações e gerir o patrimônio de
imagem, de verdade, de fascínio representado por Cristo.
Para o crente, porém, esse é o ponto fundamental: a Igreja é continuação, morada, presença atual
de Cristo, lugar onde ele dispensa a graça, a verdade e a vida no Espírito. [...] É exatamente assim.
A Igreja vive da memória de Jesus, reexamina e estuda com todos os meios a sua palavra tirando
dela significados novos, atualiza a sua presença nas celebrações, procura projetar a luz que se
desprende do seu mistério sobre os acontecimentos e as concepções de vida atuais e assume e leva
adiante a missão de Cristo na sua totalidade: anúncio do Reino e transformação das condições de
vida menos humanas. Sobretudo, Jesus é a sua cabeça e atrai os indivíduos, une-os num corpo
visível e infunde energias nas comunidades".[12]
Sendo essa a verdadeira realidade da Igreja, temos a missão de fazer com que os jovens a amem
como mãe da própria fé, que os educa como filhos de Deus, os faz encontrar a vocação e a missão,
os acompanha ao longo do caminho da vida e os espera para introduzi-los na casa do Pai. É o que
Dom Bosco soube fazer de modo incomparável na educação e evangelização dos seus meninos em
Valdocco. Vejamos o que podemos fazer hoje em relação aos jovens que querem ver Jesus.