O círculo, para além de sua fria figura geométrica, representa um estilo de vida, o estilo dos santos
que caminham decididamente para o seu centro, Deus. Provêm de pontos diferentes do círculo,
mesmo distantes entre si, e por vezes talvez opostos, atraídos misteriosamente pela força do centro.
Rosto e olhar convergem em movimento centrípeto, que une uns aos outros. Na medida em que se
aproximam de Deus, centro ideal, também se aproximam entre si de maneira muito mais profunda.
É a maravilhosa peregrinação rumo à comunhão em Deus.
Mas está implícita também a outra face da metáfora: a da separação e do movimento centrífugo,
para o recíproco afastamento ou rejeição. Quanto mais as pessoas se afastam de Deus, tanto mais
também se afastam umas das outras; e quanto mais se afastam entre si, tanto mais se afastam de
Deus.
É um dinamismo em que podemos ver bem descrita a lógica interna da comunhão/desagregação.
Caminhando para o centro os rostos convergem, se encontram, concentram-se e se comunicam.
Retrocedendo e afastando-se, rejeitando a comunhão com Deus, perde-se também a comunhão entre
as pessoas, aprofunda-se a dist�ncia recíproca, permanecendo cada qual fechado em seu próprio
egoísmo, tolhido na sua própria solidão, não iluminado nem pelo amor que vem de Deus nem pelo
reflexo de luz que vem do amor ao próximo.
Quanto mais distantes estamos de uma referência a Deus, tanto mais distantes nos tornamos do
nosso próximo (cf. 1Jo 4,19-21). Mas é também verdade que quanto mais nos aproximamos do
nosso próximo, tanto mais nos aproximamos de Deus, que se faz presente no homem, até
identificar-se com o mais pequeno dos seres humanos, como nos assegura o próprio Jesus: �Cada
vez que o fizestes a um desses meus irmãos mais pequeninos, a mim o fizestes� (Mt 25,40).
Os dois símbolos propostos parecem estar hoje aptos a inspirar o caminho da espiritualidade das
comunidades religiosas, sobretudo no que se refere ao aprofundamento do processo de realização da
comunhão em seu interior. Mas tais símbolos se podem referir também à vida de comunhão das
famílias.
E para dar ênfase à sua metáfora, Doróteo refere um dito do abade Zosima, que se pergunta: `Quem
é que, tendo uma ferida na mão ou no pé, ou em qualquer outro membro, sentiria repugn�ncia de si
mesmo ou, sem mais, deceparia os próprios membros, ainda quando a ferida estivesse pútrida? Não
é verdade, ao contrário, que dela trataria, a lavaria, emplastraria, enfaixaria, ungindo-a com óleo
santo, rezaria, invocaria os santos para que intercedessem por ele? Em resumo, é certo que não
abandonaria nem rejeitaria o próprio membro, fossem mesmo os odores fétidos, fazendo quanto
pudesse para curá-lo e salvá-lo!�.
Quem é que não ouve nestas palavras um eco da doutrina de São Paulo sobre a caridade? �Assim
� continua Doróteo � devemos também nós compadecer-nos uns dos outros, cuidar de nós
mesmos ou diretamente ou por meio de outros mais capazes, e excogitar e fazer de tudo para ajudar-
nos a nós mesmos e ajudar-nos uns aos outros. Somos de fato membros uns dos outros, como diz o
Apóstolo (Rm 12,5). Se portanto formamos todos um só corpo, e também singularmente somos
membros uns dos outros, quando um membro sofre, com ele sofrem, juntos, todos os outros
membros (cf. 1Cor 12,26).
Estas reflexões que interpretam tão bem os textos paulinos, propondo de maneira plástica uma
doutrina muito cara aos primeiros cristãos, podem ser, muito adequadamente, aplicadas à vida da
comunidade religiosa e à vida da família. Elas exprimem de modo próprio e variado o mistério da
Igreja, corpo de Cristo, que se funda sobre a caridade recíproca e dela vive cada dia: uma caridade
que se torna compaixão mútua, ajuda recíproca, quer quando é posta à prova nos momentos difíceis