“Dom Bosco ‘storyteller’: por que usou a narração na educação dos meninos”
São João Bosco era um grande storyteller!
Seja ao descrever sua infância, seja ao falar sobre seus sonhos ou, ainda, ao escrever a biografia de alguns de seus jovens, ele sabia como contar histórias para tocar o coração e a mente das pessoas.
As narrativas desempenham um papel muito importante nos termos "virtual" e "digital". Podemos afirmar que as redes sociais são feitas de narrativas. As pessoas amam escrever, contar suas histórias cotidianas e publicá-las em formato de breves contos.
No que diz respeito à comunicação digital e virtual, o jornalismo e a televisão estão intimamente ligados às narrativas. Os talk shows e os reality shows são criados a partir de histórias. Os filmes e muitos textos musicais são escritos sob a forma de narrativas.
Por que gostamos de contar nossas histórias?
Do ponto de vista da arte, narrar uma história é uma maneira muito eficaz e poderosa de comunicar. Faz a magia de prender a atenção e envolver as pessoas no enredo da história que se quer contar. A narração leva o ouvinte a entrar na história.
Mas o que é narrativa?
A etimologia do termo tem raiz na língua latina: narrativus, ou seja, o que está ligado à narração; narrat\\narrare: contar, relatar, explicar, descrever.
A narrativa é uma maneira de transmitir fatos e experiências por meio de cartas, histórias, literatura e contos, valendo-se de imagens, metáforas, elementos míticos, religiosos e culturais para comunicar uma mensagem.
O storytelling prefere a linguagem simples e humana, as imagens visuais que estimulam os aspectos imaginativos, cognitivos e emocionais dos leitores ou ouvintes, para envolvê-los na trama e na história que está sendo contada. Possui o poder de transportar-nos, mental e emocionalmente, para diferentes tempos e lugares.
É certo que as narrativas tocam o coração e a imaginação das pessoas. Elas têm a capacidade de nos envolver intensamente na trama da história, composta por início, meio e fim! Elas estimulam a nossa fantasia, tornando-nos parte ativa no processo de comunicação.
Mas o que as torna realmente atraentes e persuasivas?
As narrativas precisam da verdade! Nas narrativas e nas histórias sobre pessoas, um dos aspectos fundamentais, para quem escreve ou fala, é a consistência das mesmas.
Uma boa narrativa demanda coerência entre aquilo que o narrador comunica e aquilo que ele acredita e sente, de tal forma que, ao comunicar, ele esteja inteiro. Todos estes aspectos precisam estar em sincronia com as palavras, as expressões faciais e as emoções do narrador.
Portanto, a narrativa não é apenas uma questão de estilo! Trata-se, acima de tudo, da verdade; tem a ver conosco e com a coerência entre o que dizemos, o que fazemos e o que queremos dizer.
Quando narramos uma experiência, também verbalizamos nossos sentimentos, exprimimos nossas motivações internas e nos tornamos quem somos, por meio do relato daquilo que sentimos, acreditamos e vivenciamos. As narrativas constituem portas abertas, por meio das quais nos expressamos.
Uma das coisas mais importantes, na narrativa, é acreditar nas nossas histórias, naquilo que dizemos quando somos coerentes com a narração das nossas histórias.
Mas, que tipo de histórias?
Quando nossas histórias são verdadeiramente coerentes com nosso eu profundo e expressam o melhor de nós mesmos.
Por exemplo, quando enfrentamos situações difíceis, que nos desafiam profundamente, como uma doença, a perda de um ente querido, a perda de um emprego, ou uma grande crise existencial, é nosso eu profundo, nosso instinto de sobrevivência, nossa força interior quem nos defende das ameaças. Ao enfrentar tais desafios com fé, amor e perseverança, construímos nossa verdadeira mensagem. Ao enfrentar as experiências reais, expressamos nossos valores mais profundos e a melhor parte daquilo que somos.
A narrativa está relacionada à vida real e às experiências significativas!
Neste sentido, quando avaliamos as perdas que Dom Bosco teve na sua infância e adolescência, percebemos que as mesmas influenciaram fortemente o desenvolvimento de uma atitude de profunda fé e autenticidade em relação aos seus sentimentos e à sua coragem de enfrentar as adversidades e interpretar a presença de Deus em sua vida.
Durante toda a sua vida, Dom Bosco viveu as alegrias e tristezas de forma autêntica e verdadeira! Por ser autêntico e fiel à sua vida, ele pôde ser um ponto de referência espiritual humano para muitas pessoas.
Dom Bosco sentia-se muito à vontade para compartilhar suas histórias e seus sonhos com seus salesianos e jovens. Todavia, havia outro elemento muito importante na forma como Dom Bosco compunha suas narrativas: a fé! Suas histórias, seus sonhos e seus relatos escritos eram interpretados através da sua profunda fé em Deus e na Mãe de Jesus.
Além disso, as narrativas também estão relacionadas ao testemunho do amor e do cuidado pelos outros. Dom Bosco narra histórias caracterizadas por seu amor firme e fiel pelos jovens: o fato de estar entre eles, atraí-los, amá-los, exigir que deem o seu melhor, criar vínculos afetivos, propor-lhes desafios, trabalhar juntos, deixar-se envolver em atividades religiosas, educativas e artísticas.
Dom Bosco aprendeu a narrar as próprias experiências e compreendeu a importância de narrar a vida dos outros.
Dom Bosco também escreveu narrativas históricas para as quatro biografias e histórias de Comollo (1844); Sávio (1859); Magone (1861); Besuco (1864). Nos referidos textos ele empregou as histórias de seus jovens de forma inteligente e criativa.
Narrativas de vidas! Narrativa de testemunhos! Biografias sob forma de narração de histórias!
A tecnologia digital e a comunicação virtual mudaram definitivamente a forma como nos relacionamos por meio das redes sociais, internet e inteligência artificial.
As pessoas estão sempre criando conteúdo, produzindo informações, enviando notícias e construindo uma incrível rede humana global.
Nestes cenários da comunicação, as narrativas continuam a desempenhar um grande papel, uma vez que todos adoramos ouvir boas histórias!