DOM BOSCO
REALIDADE DIGITAL E VIRTUAL
P. Gildasio Mendes SDB
QUARTA PARTE
O QUE AS FOTOGRAFIAS DE DOM BOSCO E DOS PRIMEIROS SALESIANO NOS DIZEM SOBRE A SUA PERCEPÇÃO DA COMUNICAÇÃO
A fotografia é uma característica da comunicação de Dom Bosco, um dos primeiros santos a ser fotografado. Os temas e os cenários das fotografias de Dom Bosco são estudados em profundidade e usados estrategicamente para produzir um tipo de mensagem educativo e espiritual. Dom Bosco compreendeu o poder das imagens e a eficácia de um momento vivido para mantê-lo vivo na história.
Talvez Dom Bosco tenha sido o santo da Igreja mais fotografado de sua época. Giuseppe Soldà organizou uma coleção completa de fotos (e pinturas) dele. Neste trabalho de rigor metodológico preciso e sistemático, ele oferece uma apresentação das fotos de Dom Bosco: retratos dele sozinho; fotos de alguns lugares onde Dom Bosco esteve; encontros de Dom Bosco com algumas pessoas, grupos de salesianos, organizadas por etapas cronológicas de sua vida1.
Ao analisar a variedade e a qualidade ímpar destas fotos de Dom Bosco, retratado em diversas situações e com pessoas idades diferentes, é possível identificar um pouco alguns aspectos de sua noção de comunicação visual2.
Em primeiro lugar, podemos notar a intenção de Dom Bosco de organizar e registrar salesianos, situações e épocas que pudessem servir de referência futura para os salesianos. Cada foto representa uma exposição de experiências e lições de vida, tornando-se um livro vivo de memórias para as gerações futuras. Fotografia é memória e, ao mesmo tempo, mensagem!
Uma fotografia expressa intenções e motivações e, tanto Dom Bosco, quanto aqueles primeiros salesianos, expressavam naquelas primeiras fotografias, uma linguagem e uma mensagem. De fato, as fotos não eram "instantâneas", como as de hoje, eram longamente preparadas para serem feitas por um fotógrafo que estudava previamente os detalhes para realizar a foto.
O
valor que Dom Bosco dá às fotos evidencia o sentimento de pertença
dos salesianos, algumas atividades organizadas (por exemplo, a
banda), o desejo de imortalizar a fidelidade dos salesianos (entrega
das Constituições). Há também fotos de Dom Bosco escutando
confissões ou rezando diante de uma estátua de Nossa Senhora. As
fotos revelam Dom Bosco, seus sentimentos e suas intenções
latentes.
Dom
Bosco certamente sabia muito bem escolher os cenários e as pessoas
que fariam parte das fotos e, com a ajuda do fotógrafo, certamente
colaborava na organização e no modo de enquadrar as fotografias:
A
imagem fotográfica é sempre criada por dimensões espaciais que são
delimitadas pelo enquadramento da imagem. A dimensão que se pretende
dar à foto influencia, acima de tudo, a composição das cenas3.
Fotografar
e ser fotografado, portanto, implica uma atitude psicológica,
expressão afetiva e espiritual. A fotografia é uma forma de
expressar sentimentos de amizade, laços emocionais profundos,
espirito de família e lembranças.
Dom
Bosco se deixou fotografar em diferentes momentos e em diversas
situações de sua vida. Está claro que ele não pensava apenas em
si, mas em seus salesianos, seus jovens, seus projetos e também na
Congregação Salesiana que havia fundado. Ao fazê-lo, também
expressava suas percepções e seu interesse em comunicar valores e
memórias de uma maneira decididamente moderna para a época.
A
escrita era a forma mais comum de comunicação na época de Dom
Bosco e, de fato, ele costumava escrever muito. Todavia, sua
inclinação para a fotografia sugeria um anseio por algo mais
moderno, que pudesse ter um impacto visual maior nos espectadores
pelo bem da mensagem.
Também
é interessante notar como, desde a infância, Dom Bosco sempre
esteve muito envolvido pela música, pelos sons, pelos ritmos. Tendo
aprendido a tocar pelo menos um instrumento (o violino), ele conhecia
o poder do som, capaz de atingir o coração, a memória e a
percepção das pessoas.
Como
escritor, Dom Bosco costumava usar o poder das palavras para instruir
e educar sua gente: por meio das Leituras
Católicas,
das Vidas
de alguns de seus alunos, de muitas cartas e muitos livros didáticos
e outros escritos, ou enquanto ensinava seus jovens a produzir
livros, ele era um mestre da comunicação por meio da palavra
escrita.
Em
relação à fotografia, podemos imaginar um Dom Bosco em constante
atualização no que diz respeito à maneira de comunicar. Ele
certamente quis usar a fotografia para passar a seus salesianos uma
percepção melhor daquilo que Deus havia feito por ele, por eles e
pelos jovens. Seu único objetivo era abrir cada vez mais os olhos
das pessoas para a realidade daqueles jovens que precisavam de amor e
educação.
A
experiência da fotografia pode ser vista como uma maneira de abrir
nossos olhos, ignorando menos a vida em que vivemos, pois a
fotografia leva a focar no que ocorre ao nosso redor, forçando e
ensinando-nos a observar com mais atenção4.
A
comunicação se baseia muito em palavras, sons e imagens. Esta
tríade
foi, e continua a ser, a base da comunicação, incluindo o modo de
comunicar no universo digital e virtual. Este é o motivo pelo qual
gostamos de assistir filmes, ouvir música e ler. É correto dizer
que a digitalização trouxe uma enorme revolução na comunicação
e continuará a fazê-lo. Como seres humanos, somos atraídos por
mensagens visuais e sonoras, porque envolvem dois sentidos fortes: a
audição e a visão. O som e as imagens têm o poder de nos tocar
profundamente e permanecer conosco, às vezes para sempre.
Graças
à intuição de Dom Bosco neste campo e ao hábito de ser
fotografado, sozinho ou em meio a grupos de salesianos, a Congregação
Salesiana pôde herdar memórias visuais significativas deste grande
comunicador e de muitos de seus momentos com seus salesianos e
jovens.
Ao
analisar estas imagens em profundidade, é possível perceber alguns
aspectos de sua personalidade, sua espiritualidade, seus sentimentos,
seus valores e sua santidade. Uma imagem realmente vale mais que mil
palavras! Por isso, grandes comunicadores como Dom Bosco souberam
usá-las na hora e no lugar certos.
1 G. Soldà, Dom Bosco na Fotografia do século XIX (1861-1888). Società Editrice Internazionale - Turim - 1987.
2 Embora este seja um esforço desafiador de interpretação, uma vez que as fotos não vêm acompanhadas de descrições das situações representadas ou do objeto da foto, como pessoas e eventos.
3 Diana Eftaiha (2012). Este texto está disponível on-line: The Theory and Psychology of Framing Your Image: https://photog- raphy.tutsplus.com/articles/the-theory-and-psychology-of-framing-your-image--photo-3106
4 Vide o artigo em: https://the.me/the-psychology-of-photography/