do ponto de vista logístico, era tal que o Departamento de projetos era uma entidade
independente, gerenciado de forma muito eficiente por um irmão, que agia com autonomia
com relação à administração inspetorial. Em inspetorias com meios financeiros limitados,
isto significa que, na prática, o Departamento de Projetos, que administra consideráveis
meios econômicos, pode chegar a ser até um elemento antagônico ao economato inspetorial.
A “divisão” que existe nessa inspetoria espelha uma situação que se verifica também
em outras inspetorias na relação entre economato inspetorial, departamento de projetos,
departamento de desenvolvimento, procuradoria missionária, etc... A falta de uma
coordenação e de uma visão de conjunto, naturalmente, dá origem a um grande mal estar
e a disfunções. Indico algumas:
1. Uma visão e administração excessivamente ‘personalizada” dos projetos, das
ofertas e de todas as iniciativas ligadas a eles, com prejuízo de uma interpretação mais
corretamente institucional. O benfeitor oferece à instituição, aos salesianos, às missões, ao
trabalho para rapazes em situação de risco, se compromete com bolsas de estudo, com
adoções a distância. Se aquele que é responsável administra tudo isso de forma
excessivamente autônoma e personalizada, por falta de uma coordenação inspetorial, podem
criar-se tensões, demoras, favoritismos e, sobretudo, uma referência à pessoa em detrimento
da instituição. A excessiva liberdade de movimento, a falta de controle e de avaliação, às
vezes até com o aval do superior, nestes últimos anos tem causado graves problemas não
só à pessoa de alguns salesianos, mas sobretudo à instituição salesiana.
2. Outro elemento crítico é que, sem uma coordenação centralizada, com normas e
procedimentos codificados, numa mesma inspetoria convivem vários “centros de poder”
financeiro e, por tanto, referenciais cruzados para os irmãos. Uma análise atenta dos fatos
acontecidos na Polônia e no Paraguai nos permite detectar numerosas anomalias e
incongruências que, talvez de forma menos gritante, também estão presentes em outras
inspetorias.
3. Indico ainda outro elemento de preocupação. Sem uma visão de conjunto partilhada
e uma coordenação eficaz dos meios financeiros e dos projetos, o corpo da inspetoria
apresenta-se dividido e transtornado passando-se de uma escolha à outra...; quase que
perseguindo obsessivamente as oportunidades que se apresentam, por causa de iniciativas
que são boas, mas sem coordenação dos responsáveis dos vários departamentos. Desta
forma, corre-se o risco de não realizar um “projeto” mas de correr atrás de “projetos”.
Além desses aspectos preocupantes, ainda tenho o prazer de partilhar com vocês, algumas
experiências interessantes e positivas:
§ Em algumas inspetorias, com uma inteligente política de dar passos gradualmente,
se chegou a uma organização unitária de todas as funções projetuais, financeiras e
administrativas que competem ao nível inspetorial. E este procedimento foi
oportunamente codificado na parte econômica do Diretório Inspetorial. Os vários
departamentos representam aspectos e atividades diferenciadas que se referem a um único
centro direcional, representado pelo ecônomo inspetorial. Desta forma se tem a grande
vantagem de que a coordenação do ecônomo inspetorial garante a referência direta ao
inspetor e ao seu conselho. Portanto, não se trata de enfatizar o poder do ecônomo
18
coerentemente com o próprio carisma: “A luta contra o subdesenvolvimento pertence à mesma
essência da Congregação salesiana. Por isso, ela se sente comprometida a fundo nesta luta. Mas
deve fazê-lo de acordo com seu carisma, isto é, na linha, no estilo, no espírito de Dom Bosco e,
portanto, com coragem, com inteligência, com realismo e sempre com caridade” (CGE 72).
Apesar de ter já 33 anos, as observações do Capítulo sobre as condições do subdesenvolvimento
e da pobreza no mundo não são hoje menos atuais que então. Sob muitos aspectos a situação
dos pobres só tem piorado; o fenômeno da pobreza e do subdesenvolvimento cresceu
proporcionalmente ao incremento demográfico nos países em vias de desenvolvimento e aos
efeitos negativos da globalização econômica. Nem seria necessário dizer, por isso, que o
compromisso dos salesianos com o desenvolvimento integral dos pobres, especialmente dos
jovens, é necessário hoje como 33 anos atrás e como no tempo de Dom Bosco.
Demoramos longamente nos ensinamentos do CGE a propósito do nosso tema porque
os documentos sucessivos (tanto dos CG quanto dos Reitores Mores) a eles se referem
continuamente e com eles estão relacionados. Apesar disso, ainda convém lembrar
brevemente o que eles disseram.
3.4 O Capítulo Geral XXI (CG 21)
O CG 21 se refere aos documentos da Igreja e de modo especial à EN ao afirmar: “Uma
autêntica evangelização se realiza dentro de um projeto que visa a promoção total do
homem, ao desenvolvimento integral de cada um e dos grupos” (CG 21, 81). Além disso,
observa que as duas idéias de “promoção integral cristã” e “educação libertadora cristã”,
de que se fala acima, corroboram o desejo de Dom Bosco de formar “bons cristãos e
honestos cidadãos”. De fato, não pode existir separação entre evangelização e promoção
humana, porque no pensamento e na atuação da Congregação, a partir do mesmo Dom
Bosco, ambas formam um único movimento de caridade” (CG 21, 140,b).
A respeito do estilo salesiano de ação missionária, o CG 21 sublinha, entre outras coisas, “a
ligação profunda entre o compromisso de evangelização e de promoção humana (e) a
atenção preferencial aos jovens pobres e às classes populares” (CG 21, 146, 4.2.3).
3.5 O capítulo Geral XXIII (CG 23)
O CG 23 tratou amplamente dos temas da pobreza e do desenvolvimento: observando
que a “tragédia dos pobres” constitui um “desafio permanente”, o Capítulo tomou
consciência de que “parece que a pobreza material está se alastrando sem medida em
muitos países” e que parece que já existem explosões de “novas e trágicas formas de
pobreza: desvios de comportamento, marginalização, exploração de pessoas e droga” (CG
23, 203). Ainda mostra que o problema ultrapassa a pobreza meramente material e por
isso é preciso “preparar uma geração capaz de construir uma ordem social mais humana
para todos” (CG 23, 204); “a dimensão social da caridade se apresenta, então, como a
manifestação de uma fé convincente” (ibid.).
Por isso, o desafio aos educadores passa a ser “educar ao valor da solidariedade contra
a práxis da concorrência exasperada e do proveito individual” (CG 23, 205). É importante
que as pessoas não se rendam à mentalidade do “cuidar só de si” descuidando o tomar
conta do resto da humanidade, especialmente dos pobres e dos que estão em piores
condições.
7