Missão Salesiana de Mato Grosso
ANIMAÇÃO MISSIONÁRIA INSPETORIAL
CENTRO DE DOCUMENTAÇÃO INDÍGENA (CDI)
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"BAKARU-ROWATSU'U-Notícias Missionárias"
é de Circulação Interna
Coordenação: Delegado Inspetorial de Animação Missionária:
Pe. Georg Lachnitt SDB
Digitação e Diagramação: Georg Lachnitt
Impressão: Mariza Etelvina Rosa Irala
Centro de Documentação Indígena
UCDB - Campo Grande MS
Capa:
BAKARU, palavra Bororo, significa: o que se conta, notícia
ROWATSU'U, palavra Xavante, significa: o que se conta amplamente, notícia
Apresentação
Este número de NM deveria ser enviado em agosto do ano passado. Diversas razões de força maior protelaram a sua realização. Assim agora voltamos com nova Animação.
Em maio de 2007 foi realizado um Seminário Nacional de Animação Missionária e Pastoral Juvenil, em Brasília, para tratar da reflexão sobre o "Voluntariado e Missão Salesiana", em vista de um Manual para esta finalidade, a nível mundial dos SDB. Este seminário fez parte de uma série de seminários para esta finalidade. Enquanto aguardamos a edição definitiva, publicamos cada vez um capítulo do texto quase final.
A OMG é um grande movimento de voluntários leigos de que um de seus membros, o Sr. Frederico, fez uma apresentação no retiro da Reunião dos Missionários/as realizada na Aldeia Santa Clara, onde a OMG está trabalhando desde 1995.
Continua a oferta de Formação, promovida pela UPS (Universidad Politecnica Salesiana) de Quito. Trabalhar numa etnia diferente da própria exige necessariamente formação específica.
A Assembléia Nacional do CIMI, realizada em agosto do ano passado, apresenta alguns de seus documentos elaborados, como ainda a eleição da nova diretoria.
Como parte do itinerário formativo dos noviços, os mesmos fazem todos os anos sua visita às missões. Para isso refletem durante o noviciado sobre a realidade missionária da nossa Inspetoria, como ainda alguns traços da realidade missionária da Inspetoria de Manaus, de onde provém um grupo dos noviços.
Com a decisão do Capítulo Inspetorial dos SDB, de reforçar, conforme o Diretório das Missões, a itinerância missionária como um desafio para os próximos anos, é apresentada uma reflexão sobre critérios para a Itinerância, entre os Xavante e também mais amplamente. Faltam SDB e outros que consigam oferecer algum tempo para isso. Boa vontade e adesão não faltam.
Os Cursos de Agentes de Pastoral, como aquele para os Xavante de Parabubure, apresentam frutos interessantes de protagonismo na catequese, celebração da liturgia e vida cristã. Vale a pena dedicar esforços para dar continuidade.
Muita Animação Missionária! Pe. Georg Lachnitt SDB
1. Voluntariado e Missão Salesiana - Cap. I
Apresentação
O documento sobre o Voluntariado salesiano que aqui apresentamos oferece uma reflexão sobre a sua identidade no quadro da proposta educativo-pastoral da Congregação e alguns critérios e linhas operativas.
Em muitas Inspetorias o voluntariado é uma realidade em crescimento. Para os Salesianos é uma oportunidade de compartilhar concretamente a sua espiritualidade e o Sistema Preventivo com os jovens e os leigos. Muitas vezes, é fruto do caminho formativo proposto pela Pastoral Juvenil Salesiana e uma experiência de trabalho salesiano em favor dos jovens mais pobres e de uma sociedade mais solidária. Torna-se, em muitos ambientes, para vários jovens, um caminho de discernimento e amadurecimento vocacional.
A variedade das formas de experiências de voluntariado é múltipla, e isso constitui a sua riqueza, mas também um risco para a sua identidade e capacidade formativa. O que nos levou a retomar o documento "Voluntariado e Missão Salesiana", apresentado em 1995 pelos Dicastérios para a Pastoral Juvenil, para as Missões e para a Família Salesiana. O caminho foi longo, mas acreditamos que fecundo, porque envolveu, de diversas maneiras, muitos voluntários e organizações salesianas de voluntariado.
Este documento dirige-se a toda a Congregação e, portanto, mantém-se necessariamente em nível de princípios e critérios gerais, sem enfrentar problemas particulares de algumas regiões ou situações. Constitui como que um "quadro de referência" para toda a Congregação, à luz do qual cada Inspetoria, organização ou grupo de voluntariado deverá individuar concretamente critérios e linhas operativas num plano próprio de ação.
Não se trata de um documento destinado à biblioteca, mas ao estudo e à reflexão de todos os que estão diretamente envolvidos no voluntariado. Confiamo-lo, antes de tudo, aos Delegados Inspetoriais de Pastoral Juvenil e às suas equipes, às Delegações Inspetoriais das Missões e aos encarregados inspetoriais do Voluntariado, com o compromisso de fazê-lo objeto de estudo e de reflexão para a revisão aprofundada, a renovação e a promoção do voluntariado salesiano.
Uma primeira tarefa que lhes é confiada é apresentá-lo às comunidades salesianas e suscitar nelas uma nova sensibilidade e atenção à realidade do voluntariado, como propunha o CG24 (cf. n. 126). Deverão, ainda, elaborar um "Plano Inspetorial de Voluntariado", «que contenha uma proposta articulada a ser inserida no projeto educativo-pastoral, quer para a preparação dos voluntários, quer para o acompanhamento durante o serviço deles, quer para a acolhida e a valorização ao seu retorno» (CG24, 126).
Também as ONG salesianas, que promovem o voluntariado, são destinatárias privilegiadas deste documento. Enquanto promovem o voluntariado, em estrita relação e ligação com muitas outras organizações sociais, deverão ter um cuidado especial para garantir a sua identidade e as suas características salesianas, colaborar estritamente com as Inspetorias no seu desenvolvimento e facilitar as condições técnicas, legais e financeiras para a sua realização.
A exemplo de Dom Bosco, que confiava todas as suas iniciativas à Auxiliadora, invocamos a presença materna de Maria, para que seja guia nesta caminhada empreendida pela Congregação: caminhada que está oferecendo oportunidades renovadas de doação a tantos jovens adultos chamados a serem missionários dos jovens.
Pe. Antonio Domenech Pe. Francis Alencherry
Conselheiro Geral para a Pastoral Juvenil Conselheiro Geral para as Missões
Roma,
31 de Janeiro de 2006,
Solenidade de S. João Bosco
Premissas
Consideramos cada jovem um voluntário/a em potencial, ou seja, uma pessoa em crescimento para uma visão da vida como dom, como vocação, portanto para a aquisição de uma disposição interior de serviço; uma pessoa em formação permanente para a plena maturidade humana e cristã. É tarefa normal da PJS o esforço de guiar e sustentar esse caminho. Conseqüentemente, também na análise específica do crescimento e das saídas operativas do voluntariado, acreditamos que devemos nos referir ao quadro de conjunto da PJS.
O voluntariado nasce a serviço desse crescimento humano e cristão do/a voluntário/a, como expressão operativa de uma atitude interior de serviço e de solidariedade. Por isso, toda a dinâmica do voluntariado, isto é, a organização das várias atividades para a sua promoção, avaliação e formação, envio, acompanhamento do/a voluntário/a, deve visar o crescimento da acima indicada atitude interior e a sua concretização num empenho rico de frutos.
O voluntariado salesiano não se limita apenas aos/às jovens cristãos praticantes. Ele se abre também às pessoas de boa vontade, batizadas ou não, que se encontram em situação de busca da verdade através da ação social e compartilham o ideal salesiano e o seu método, ao menos em suas linhas essenciais. Os detalhes, portanto, de quanto é dito do/a voluntário/a aplicam-se também a eles com as devidas adaptações, sem diminuir as exigências do crisma e método salesiano.
Capítulo I
FENOMENOLOGIA DO VOLUNTARIADO
1.1. O voluntariado no mundo
O significado do termo/palavra "voluntariado" na sociedade e na cultura é notavelmente mais amplo do que a experiência atuada no mundo salesiano. È, entretanto, uma tendência social relevante que nos diz respeito. Por isso, antes de definir salesianamente de qual voluntariado entendemos falar neste documento, examinemos os aspectos mais significativos deste fenômeno em nível mundial, sublinhando os seus valores educativos.
De fato, em quase todas as nações do mundo difundiu-se entre os cidadãos uma consciência maior de participação ativa na vida social, que é definida justamente como "voluntariado".
Nessa acepção, o termo "voluntariado" é um recipiente muito amplo e pouco definido que quer evidenciar a livre decisão de cidadãos, individualmente ou em grupos organizados, serem protagonistas da vida social.
1.2 Algumas características do voluntariado no mundo
Nasce como decisão livre da pessoa
É fruto da ação livre de milhões de pessoas que decidem dedicar parte do próprio tempo, isto è, da própria vida, para melhorar a condição de pessoas com menos recursos.
Tem sua raiz num quadro de valores
È, portanto, um grande testemunho do valor da solidariedade e da gratuidade num mundo individualista.
Ele nasce para promover a transformação da sociedade; para contribuir na remoção das causas que geram pobreza e injustiça; para dar uma resposta válida às necessidades do território, com atenção prioritária aos pobres e aos marginalizados.
Promover um estilo de vida
É, antes de tudo, uma atitude e um estilo de vida e de ação que compreende abertura aos outros, generosidade, solidariedade e serviço gratuito, e – para o cristão – testemunho do Evangelho de Jesus.
Mas é, também, colaboração organizada, ou seja, uma forma de participação social de cidadãos, dotada de uma certa continuidade e de programas compartilhados, em benefício de uma comunidade.
Desenvolve a cultura da cidadania, aumentando a consciência dos direitos das pessoas e a responsabilidade de garanti-los aos mais frágeis, o valor do envolvimento pessoal e a força da iniciativa social de base.
Apresenta-se sempre mais como sujeito social
O voluntariado constitui-se como sujeito social e político diverso do Estado e do Mercado, como "Terceiro Setor", que supera a tensão entre "público" e "privado", no desenvolvimento de um novo espaço ("o privado-social"), que não funciona segundo a lógica do lucro nem da coerção, mas segue o princípio da gratuidade e da participação voluntária. Dessa forma, o voluntariado desenvolve uma relação sinérgica com o mundo do "Mercado" (benefício, eficácia, intercâmbio...), com o mundo o "Estado" (o mínimo garantido a todos, segurança, coerção...) e com os mundos vitais das pessoas e das comunidades primárias (dom, proximidade, envolvimento pessoal...).
1.2 Duas manifestações principais
A primeira distinção, universalmente aceita, que dá origem a duas tipologias de voluntariado substancialmente diferenciadas, está ligada ao lugar no qual essa atividade é desenvolvida.
Chama-se Voluntariado Social aquele que se realiza no território onde determinada pessoa mora e que, normalmente, comporta um serviço feito em tempo integral ou parcial livremente determinado, num setor livremente escolhido, depois de se ter desobrigado dos próprios deveres de família, trabalho, estudo, comunidade.
Chama-se Voluntariado Internacional aquele que alguém realiza num País diverso do seu e que comporta o empenho total, por um período consistente de meses ou de anos, inserindo-se na cultura local e realizando ao mesmo tempo um projeto de desenvolvimento humano.
2. O Voluntariado em ambiente salesiano
2.1. Orientações salesianas
A Congregação Salesiana, nos últimos Capítulos Gerais, dedicou uma atenção particular à experiência do voluntariado, integrando-o na própria missão e considerando-o como meio adequado à formação cristã dos jovens. O CG21, sem acenar explicitamente ao voluntariado, fala da participação direta dos leigos nas missões (CG21, 145, 146, 147d). O CG22 pede para dar vida "ao voluntariado juvenil e salesiano, em coordenação com as iniciativas da pastoral juvenil" (cf. Orientações operativas 10). O CG23 trata do voluntariado no âmbito da espiritualidade juvenil salesiana, como "serviço civil e missionário, para colaborar com outros organismos na promoção humana e na evangelização" (CG23, 179) e come via concreta “de empenho e de serviço gratuito entre os mais pobres", no âmbito da orientação vocacional dos jovens (CG23, 252).
Mas é, sobretudo, o CG24 que dá uma atenção especial ao voluntariado: o Capítulo faz a sua revisão, reconhecendo-lhe o desenvolvimento e a variedade de formas, o seu significativo sucesso vocacional e formativo e o estímulo positivo para as próprias comunidades salesianas que recebem os voluntários. Realça também alguns problemas, insistindo especialmente naqueles que se apresentam ao/à voluntário/a quando retorna da experiência de voluntariado (CG24, 26 e 34). O mesmo Capítulo propõe às comunidades locais e inspetoriais algumas orientações operativas para favorecer o apreço e o desenvolvimento do voluntariado na missão salesiana, a acolhida, a formação e o acompanhamento dos voluntários, sobretudo quando do seu retorno (CG24, 122, 124, 126).
2.2. Um florescimento de experiências
Onde quer que atue, a Família Salesiana encontra jovens conscientes e generosos que se sentem atraídos – não sem a ação da graça de Deus – para o voluntariado. Descobrem nele um espaço de liberdade e de iniciativa; entrevêem um caminho que os leva ao serviço dos outros; vêem a possibilidade de uma "profecia", que se torna contestação corajosa da mentalidade individualista e consumista que insidia muitos estratos sociais. Empenhando-se no voluntariado, os jovens procuram e podem encontrar um caminho que dá autenticidade à própria vida e os torna capazes de anunciar – mais com os fatos do que com as palavras – que não vale a pena viver se não se vive para servir. A Família Salesiana acolhe este "sinal dos tempos", explicitando seus múltiplos valores, sobretudo na direção da educação e da solidariedade.
Percebe-se o florescimento de experiências de voluntariado, como uma realidade em crescimento, que cobre uma grande pluralidade de formas (cf. CG24, 26): voluntariado nas obras da Inspetoria ou nos territórios de missão confiados à Congregação; voluntariado social entre os mais pobres, ou voluntariado educativo no tempo livre (animadores), ou voluntariado diretamente evangelizador, ou voluntariado entendido como uma experiência especificamente vocacional salesiana. Essas experiências podem ser de longa duração (um ano ou mais), ou de termo breve. Pode-se, às vezes, acrescentar ao voluntariado, o serviço social substitutivo ao serviço militar que, em alguns lugares, se realiza realmente no espírito do voluntariado.
Percebe-se que nem todos pensam na mesma realidade quando falam de "voluntariado salesiano". Alguns incluem nele os grupos de jovens animadores ou catequistas que trabalham voluntariamente para os outros; por isso, algumas Inspetorias incluem no voluntariado as organizações de tempo livre, também os Centros Juvenis nos quais trabalham voluntários. Outros, porém, se referem apenas àqueles que participam de organizações específicas de voluntariado missionário ou social, em forma de ONG ou em formas mais internas à Congregação.
Em nível mundial o fenômeno do voluntariado desenvolveu-se de modo admirável. Isso aconteceu especialmente entre os jovens, tornando evidente a sua capacidade de conhecer, amar e difundir o bem no mundo inteiro. Os jovens manifestam uma grande sensibilidade ao tomarem consciência da injustiça, e a força do seu empenho, às vezes, nos espanta.
Esse fenômeno é realmente um sinal dos tempos, a ser lido e interpretado. Como Salesianos, desejamos descobrir a sua riqueza e acolher a sua provocação, tendo presente o contexto social e eclesial atual, no interior do horizonte da história e dos valores salesianos.
2. Espiritualidade da Operação Mato Grosso
No retiro, por ocasião da Reunião de Missionários e Missionárias, de 11-13 de setembro de 2007, o Sr. Frederico, membro da OMG desde sua fundação, fez uma reflexão sobre a Espiritualidade da Operação Mato Grosso, de que colhemos alguns elementos, como esses que seguem.
A OMG não foi planejada, ela simplesmente nasceu. O seu futuro é nebuloso, pois o que será dela quanto o P. Hugo morrer? Ele está com idade avançada. A OMG não tem nenhuma estrutura. O passado revela o caminho cheio de esperança. O Espírito vai garantir seu futuro.
A OMG é um movimento educativo que encontra na missão a sua concretização.
O P. Hugo constatou desde 1966 que a juventude estava afastada da religião. Para nada servem discursos e sermões. É preciso de ações. Foi então que o P. Hugo se encontrou com o P. Mélisi, missionário em Poxoréo MT, que lhe descreveu a realidade da juventude naquele lugar e a dos garimpeiros. Os jovens italianos se sensibilizaram pela situação problemática, também os afastados da Igreja. Eles se ofereceram para contribuir com seu próprio trabalho; não bastam sermões, mas o trabalho que se realiza.
Os pilares (estatuto) não escritos da espiritualidade: a OMG é aconfessional; há trabalho gratuito para o pobres. Isto na Itália, pois precisava levantar fundos para concretizar o apoio.
Em 1968 houve reuniões ... os melhores locutores arrastaram. Em vez de reuniões, foram organizados "campos de trabalho", e isto nas férias.
Assim em 1968 foi construído em Poxoréo um Posto de Saúde, pois uma turma resolveu ficar nas férias, o que foi um fato inusitado. Deveria ser somente uma turma, mas amigos ... mais uma turma, e mais, e mais ... assim até hoje.
Aumentando os pedidos, decidiu-se desligar a OMG dos SDB, embora o P. Hugo fosse salesiano.
O movimento era de cunho social e político. Não se trata de mudar as estruturas, mas é preciso mudar a nós mesmos. Eu tenho que converter-me, ser mais sóbrio, pagar eu pessoalmente para os pobres para ajudá-los. É preciso de um olhar, cara a cara, com os jovens. Também daí alguns saíram da OMG para se inserir na brigada vermelha, passar para a luta.
Um grupo na Nova Guiné se separou, motivado por idéias socialistas. Mais tarde se extinguiu.
Outro grupo liderado pelo P. Hugo continua até hoje. Ao todo há 100 grupos em missão. No Brasil são 11 pequenos grupos. No Peru são grupos grandes.
Não queremos estatuto, nem reconhecimento. Não somos ONG, nem movimento eclesial.
No Peru foi construída uma catedral e, por ocasião de sua inauguração, o Cardeal Tarcísio Bertone entregou ao P. Hugo uma medalha de ouro, em reconhecimento pelas realizações. Os jovens querem ser livres; não há chefe. Manda quem mais trabalha e quem mais se sacrifica.
Na Itália, os grupos são autônomos. No Brasil são grupos pequenos e mais articulados. A espiritualidade é gratuidade. Jogar fora a vida. Em concreto, jovens morreram durante as missões. A morte indica o caminho da OMG.
Hoje! Devido à história e à experiência, é um movimento educativo para o altruismo, que leva os jovens às portas da Igreja. Hoje pertencem à OMG mais de 50 padres, consagrados, casais etc. que se reúnem e trabalham pelo caminho da caridade, por amor não só aos pobres, aos jovens, mas por amor a Deus. Isto levou à dimensão religiosa não existente no início. Mãos, pés, joelhos, não o coração nem a razão! No mundo ateu, eu sou o primeiro ateu! Não chegamos a Deus pela razão, nem pelo sentimento. Chego a Deus pelas mãos e pelos pés e pelos joelhos ... machucados.
O futuro? É uma incógnita! O futuro está nas mãos de Deus!
Assim as idéias e palavras expressas pelo Sr. Frederico, que aliás fez o seu discurso sem ouvir nada, devido a uma intensa gripe.
3. Formação específica de missionários/as
Pe. Juan Botasso SDB, USP de Quito
1. É tão evidente que para trabalhar num ambiente pluricultural ou de cultura diferente da própria há necessidade de uma preparação específica. Isto não requer de argumentos particulares demostrativos.
2. Pode ser perigosa a presunção de que seja suficiente o entusiasmo, a boa voluntade e a reta intenção. Há muitos fatos que provam que esta postura causou graves inconvenientes.
3. Pressupõe-se que aqueles que se consagram à difícil missão de anunciar o Evangelho tenham uma formação básica, tanto no campo humanístico como no campo teológico.
4. Esta preparação deve ser complementada com cursos específicos que se articulam em três fases:
a) A fase inicial: Esta contempla uma séria iniciação para enfrentar o problema da “diversidade” e adquirir as ferramentas mínimas que permitam uma atitude correta frente à mesma. Esta etapa deve feita no lugar de origem do missionário.
Falando de salesianos/as esta preparação pode ser feita durante sua formação inicial, através de cursos específicos, contemporâneos e paralelos aos que são exigidos pela “ratio”.
b) A fase da preparação específica: Esta deve realizar-se no lugar de destino. Ela se refere, em concreto, ao estudo da língua, da religião, da história, da cultura local. Em todos os países existem instituições de tipo universitário que oferecem grandes facilidades neste sentido.
Em muitos casos, as igrejas locais são as que organizam cursos para os recém-chegados. Faltando esta facilidade é preciso preencher o vazio com leituras e estudos pessoais sérios.
A urgência de entregar-se ao trabalho não deve ser considerada uma perda de tempo a dedicação a esta tarefa.
c) A fase da formação permanente: Com a rapidísima evolução das situações, tanto a nível local como mundial e o câmbio contínuo dos cenários, ninguém pode estar convencido de ter-se preparado uma vez por todas. Como em todos os campos, desde a pedagogía à medicina, desde a informática à engenharia civil, há necessidade de uma permanente atualização.
Propostas para a formação de missionários/as
5. A Universidad Politécnica Salesiana de Ecuador pôs em andamento um plano de formação para animadores em contextos pluriculturais (religiosos ou leigos). Este instrumento está à disposição de todas as inspetorias da América e, eventualmente, de outras de toda a Congregação. Para as inspetorias de língua portuguesa o idioma não constitui um obstáculo insuparável, mesmo que seja oportuno proceder gradualmente não somente à tradução, mas até à adaptação dos materiais.
Atualmente os cursos que funcionam são 8, mas estão completamente encaminhados outros 7 que poderiam ser oferecidos em qualquer momento.
Para certo número de outros cursos está-se trabalhando. Por exemplo, é preciso preencher o vazio existente no que se refere às culturas afro-americanas. A área teológica deveria ser notavelmente enriquecida, talvez com a ajuda de docentes da Pontifícia Universidade Salesiana de Roma ou da Facultade Auxilium.
Estes cursos poden tornar-se particularmente úteis nas fases de formação inicial e de formação permanente.
Modalidade
1. Os cursos que se oferecem em Quito são avaliados pela UPS e podem ser reconhecidos em vista da licenciatura, no caso que o estudante tenha interesse em adquirir este título universitário.
De todas maneiras, ao terminar cada curso, o estudante recebe um certificado que comprove sua participação.
Os cursos são oferecidos à distância. O estudante recebe o material por Internet, juntamente com a guia de leiturad e os questionários. Pelo mesmo Internet, ele envia seus trabalhos e recebe as observações e eas notas. Sempre por Internet, pode fazer perguntas ao professor, assim como solicitar dele a esclarecimento de dúvidas.
São exigidos muitos trabalhos práticos (pesquisa de campo, elaboração de projetos…), porque a finalidade do programa não é a de formar teóricos. Quando existe certo número de estudantes localizados numa mesma região, podem ser programados cursos presenciais, que seriam um complemento excelente dos cursos virtuais.
2. De 10 anos para cá está funcionando em Roma o curso para missionários/as, de 3 meses de duração. Sem dúvida alguma, este é um magnífico instrumento de atualização. Por ele passaram mais de 700 pessoas, metade das quais salesianos e salesianas. Talvez o problema mais sério que teve que ser enfrentado foi o do idioma. A compreensão limitada do italiano ha teve como conseqüência que certo número de participantes aproveitou somente em parte uma experiência que, por outro lado, resulta economicamente muito custosa.
3. Em vista da maior facilidade lingüística e de certa homogeneidade cultural, poder-se-ia pensar também em cursos por continentes, semelhantes ao de Roma, mas numa periodicidade bi-anual ou tri-anual.
4. Não se pode pensar somente em iniciativas salesianas. Outras congregações, igrejas locais, universidades, organizam também cursos de natureza diversas. Seria necessário elaborar um inventário do que se oferece nos diferentes países e continentes, para que os interessados possam aproveitar.
5. Hoje a tecnologia oferece possibilidades que eram inimagináveis em tempos idos. Não se poderia levantar a hipótese de uma revista eletrônica de atualização de missionários/as. Seria algo simples e sem maiores formalidades, uma iniciativa na qual todos possam participar, não somente como usuários e leitores?
Há quem encontra um artigo interessante, uma notícia, uma experiência que merece ser conhecida, e a põe à disposição de todos os demais por Internet. Através do mesmo instrumento podem também ser comunicadas novas publicações, livros ou material audio-visual.
Evidentemente, isto não se deveria deixar somente em mãos da espontaneidade dos indivíduos. Deveria existir uma coordenação que, de sua parte, procure material, solicite colaborações, mantenha atualizados os endereços eletrônicas de possiveis interessados.
4. Documento Final da XVII Assembléia Geral do Cimi
Nós, participantes da XVII Assembléia Geral do Conselho Indigenista Missionário, realizada em Luziânia – Goiás nos dias 30/07 a 03/08/2007, para definir os rumos da entidade para os próximos dois anos, tendo como tema “Economias e territórios indígenas: tradição, nova realidade, utopia”, e celebrar os 35 anos de nosso compromisso com os povos indígenas, estudamos, debatemos e nos posicionamos diante da realidade brasileira e latino-americana.
Celebramos também com muita alegria esses dias de fraterna e solidária convivência, iluminados pela lua cheia e sol abundante, uma brisa leve e uma vibrante esperança que nos vem do Deus da vida. Tivemos a fortalecedora presença de representantes dos povos indígenas e aliados das pastorais e dos movimentos sociais do Brasil e de outros países.
Lembramos com muito carinho companheiros e companheiras lutadores e lutadoras que nos deixaram nesses 35 anos de luta e compromisso, e os povos indígenas que tombaram na luta por seus direitos. De maneira especial celebramos o testemunho dos que nos deixaram mais recentemente como D. Franco Masserdotti, D. Luciano Mendes de Almeida, Dom Franco Dalla Valle, Maninha Xukuru-Kariri e Dra. Armanda Figueiredo, Sub-Procuradora Geral da República.
Durante esses dias nos debruçamos sobre o contexto brasileiro e latino-americano e identificamos aí diversos processos políticos e econômicos em curso, ameaçadores aos direitos culturais e territoriais dos povos, comunidades indígenas e amplos setores populares.
A nefasta política macroeconômica neoliberal, a serviço das grandes corporações transnacionais que se abate sobre a Abya-Yala dos povos denominados latino-americanos, busca o controle total dos territórios de camponeses e indígenas e dos recursos naturais. A agressividade do capital ameaça os direitos e a vida dos povos e das populações do campo.
O Programa de Aceleração do Crescimento, PAC, um projeto onde as dimensões humana, social e de futuro estão ausentes, desterritorializado, com a previsão de um elenco de obras de infra-estrutura como a transposição das águas do rio São Francisco, a construção das hidrelétricas que atingem terras indígenas, a exemplo de Belo Monte no rio Xingu/PA, Jirau e Santo Antônio no rio Madeira/RO, do Complexo do rio Juruena/MT e Estreito no rio Tocantins/MA, atendendo a poderosos interesses econômicos, atropela os direitos dos povos indígenas e das populações rurais e violenta a natureza.
O agronegócio, apoiado pelas políticas governamentais, que se caracteriza pelos monocultivos para o mercado internacional, pelo uso intensivo de produtos químicos (agrotóxicos, adubos), pela mecanização pesada, pelas tecnologias totalitárias e agressoras à biodiversidade, paralisa a demarcação das terras indígenas e mantém a concentração fundiária.
O avanço do desmatamento praticado por fazendeiros, grileiros e madeireiros na Amazônia brasileira e nos países limítrofes significa uma ameaça permanente aos mais de 60 povos que se encontram em situação de isolamento.
As fronteiras, constantemente invocadas contra os direitos dos povos indígenas são geradoras de violência para as populações que ali se localizam, devido à militarização, o contrabando, e o narcotráfico.
Cresce assustadoramente a violência contra os povos indígenas, com características de genocídio como no Mato Grosso do Sul, onde somente neste ano foram assassinadas 21 lideranças dos povos Guarani Kaiowá e Terena.
Submetidos a séculos de preconceito e discriminação, muitas vezes expulsos de seus territórios tradicionais, diversos povos indígenas se encontram nas cidades e no campo, reconstruindo suas identidades e exigindo o reconhecimento de seus direitos. No entanto, o poder público e setores poderosos da sociedade têm na repetição do preconceito e da discriminação a única resposta as suas legítimas demandas.
As políticas indigenistas governamentais têm-se revelado incapazes de assegurar os direitos indígenas. Isso se reflete no Congresso Nacional onde o Estatuto dos Povos Indígenas encontra-se paralisado há mais de 12 anos. Enquanto os recursos orçamentários diminuem para a demarcação e garantia das terras, crescem os recursos para políticas assistencialistas, geradoras de dependência e desmobilização. Continuam as práticas integracionistas. Os desmandos na atenção a saúde, gerados pelo processo de terceirização, loteamento político dos cargos na Funasa e pela corrupção resultou no aumento trágico da mortalidade nas aldeias indígenas, a exemplo do que acontece nas terras indígenas do Vale do Javari, Pirahã no Amazonas, entre os Guarani Kaiowá no Mato Grosso do Sul, nos Munduruku do Pará, nos Oro Warí em Rondônia, e nos Xerente no Tocantins. Estes desmandos vitimaram, inclusive, a líder indígena Maninha Xukuru-Kariri, integrante da Comissão Intersetorial de Saúde Indígena do Ministério da Saúde, CISI, por falta de atendimento no Hospital Regional de Palmeira dos Índios, em Alagoas.
No âmbito do Poder Judiciário existe uma avalanche de ações, com decisões liminares, que paralisam a demarcação das terras indígenas, bem como está em curso um processo de crimilização das lideranças indígenas em luta pela terra.
Destacamos como sinais de esperança a inscrição dos direitos indígenas nas Constituições de muitos paises latino-americanos e sua consolidação através de instrumentos internacionais como a Convenção 169 da OIT e a Declaração Universal dos Direitos Humanos dos Povos Indígenas aprovada pela Comissão de Direitos Humanos da ONU, em 2006.
A eleição de Evo Morales, indígena Aymara, para Presidente da Bolívia mostra o potencial desses povos para a construção de novas perspectivas de sociedade.
O crescimento demográfico da população indígena de 10% ao ano impulsionado pelo processo de auto-identificação tanto no interior quanto na cidade, a mobilização em torno do Acampamento Terra Livre e a criação da Comissão Nacional de Política Indigenista, CNPI, atestam avanços da luta indígena no Brasil.
Essa realidade nos desafia a aprofundar as contradições do sistema, mantendo e ampliando os espaços territoriais dos povos indígenas, quilombolas, camponeses e aqueles destinados a proteção ambiental; ampliar e fortalecer as alianças no Brasil e na América Latina; favorecer a soberania alimentar e a geração de renda nas comunidades indígenas; acompanhar os processos identitários e migratórios indígenas no campo e nas cidades e a problemática das fronteiras; enfrentar as políticas governamentais integracionistas e o caos da atenção à saúde indígena; desenvolver ações de proteção dos povos indígenas em situação de isolamento e risco; aprimorar os processos de formação política e integral que fortaleçam a mística militante para o enfrentamento do sistema neoliberal e construção de caminhos de justiça, equidade e solidariedade.
Destacamos em nossa ação para os próximos dois anos com os povos indígenas as dimensões terra/territorialidade, formação missionária e indígena, articulação e alianças e enfrentamento das políticas públicas. Assumiremos com particular empenho a Campanha Guarani: Terra, Vida e Futuro.
Diante da utopia do Reino, a V Conferência Geral do Episcopado Latino-americano e do Caribe, recentemente reunida em Aparecida (SP), aponta para as múltiplas transformações necessárias no mundo (DA 290) e na sociedade (DA 283, 230). Vemos com esperança e ânimo o empenho dos povos indígenas e dos setores populares brasileiros e latino-americanos nessas transformações. A diversidade de lutas, protagonistas e proposições para um novo projeto popular, sintetizadas na proposta indígena de “viver bem” para toda a sociedade, nos confirmam na aliança com os povos indígenas e no serviço evangélico a sua causa.
Luziânia-GO, 03 de agosto de 2007.
Cimi – Conselho Indigenista Missionário
5. XVII Assembléia do Cimi discute economias indígenas
Entre 30 de julho e 3 de agosto, Conselho Indigenista Missionário realiza sua XVII Assembléia Geral. Missionários e missionárias de todo Brasil, lideranças indígenas e convidados discutirão o tema “Economias e territórios Indígenas: tradição, nova realidade e utopia.”
No dia 31 de julho pela manhã haverá dois painéis. O primeiro debaterá “Economias indígenas e territorialidade”, com a participação de Xavier Albó, padre e antropólogo do Centro de Investigação e Promoção do Campesinato (Cipca), da Bolívia; do antropólogo Alfredo Wagner e do assessor teológico do Cimi, Paulo Suess.
No segundo painel, será discutida a política indigenista do governo Lula, com a presença de Valéria Paye, da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coaib), Marcos Xukuru, pela Articulação dos Povos Indígenas do Nordeste, Minas e Espírito Santo (Apoinme), Mauricio Guarani, da Comissão de Terras Guarani e do advogado do Cimi Paulo Machado.
Na tarde do dia 31, lideranças indígenas apresentarão os desafios que enfrentam para se sustentarem. No dia 1º de agosto, Frei Sérgio Görgen e Rita Zanotto, da Via Campesina, falarão sobre as perspectivas latino-americanas e os desafios para os povos do campo.
Na Assembléia, será discutida a situação de sustentabilidade dos povos indígenas – os problemas enfrentados e as possíveis alternativas. Participará da Assembléia do Cimi o atual presidente da entidade, o bispo da Prelazia do Xingu, Dom Erwin Kräutler. O Cimi realiza Assembléias Gerais a cada dois anos. Em 2007, ela também será eletiva. Os missionários elegerão presidente, vice-presidente e secretário(a)-executivo(a) da entidade.
A Assembléia também celebra os 35 anos do Cimi.
6. Os Noviços Salesianos nas Missões de Mato Grosso
Durante os dias 24-30/07 os noviços salesianos das Inspetorias Missionárias do Mato Grosso e da Amazônia realizaram uma peregrinação às missões salesianas do Mato Grosso.
Nos dias que antecederam a viagem, tivemos uma preparação com o Pe. João Bosco, Mestre de noviços, e o Pe. Georg Lachnitt, encarregado da Animação Missionária da Inspetoria, sobre a história da Missão Salesiana do Mato Grosso e uma introdução à língua Xavante. Meses antes a expectativa dos noviços já era grande!
Antes desta visita propriamente dita nós participamos do retiro da Lectio Divina com o Pe. Afonso de Castro, na Chapada dos Guimarães. Depois de um dia visitando as casas dos Salesianos e Filhas de Maria Auxiliadora de Cuiabá, como a Paróquia São Gonçalo, berço da Inspetoria, e o Seminário da Conceição, por onde passaram ilustres salesianos, partimos no dia 24 para a missão de Sangradouro.
Neste mesmo dia conhecemos as instalações da missão e as aldeias Xavante e Bororo e realizamos um encontro com a comunidade missionária dos Salesianos e das Filhas de Maria Auxiliadora. Neste encontro, nos foi exposta a realidade missionária do local, história, trabalho, desafios e perspectivas. No segundo dia em Sangradouro, visitamos a aldeia Dom Bosco e fizemos um passeio no belo Rio Cristalino e na volta conhecemos a usina que abastece algumas aldeias e a missão. Na noite deste dia, tivemos uma outra oportunidade única e rica de entrar em contato com a cultura Xavante: o Me. Adalberto Heide nos fez uma amostra sobre o Danhono e a caçada do fogo (Du).
Na manhã do dia 26 partimos para São Marcos. Visitamos a aldeia Xavante, o morro São Marcos e à noite tivemos um encontro com os jovens Xavante. Neste encontro, eles fizeram algumas apresentações de suas danças e nós também fizemos apresentações. No final, arriscamos algumas danças com os 3 grupos que estavam presentes. Foi um momento muito interessante. No dia 27 a nossa comunidade fez uma confraternização no Rio São Marcos.
Dia 28, pela manhã, antes de seguirmos viagem para Merúri, participamos da Missa Vocacional com a comunidade missionária e indígena, presidida pelo Pe. Miguel Gaya em língua Xavante.
Em Merúri conhecemos o Centro de Cultura P. Rodolfo Lunkenbein guiados pelos salesianos Pe. Eloir e Pe. Gonzalo Ochoa, que também nos fizeram um relato sobre o acontecimento da morte do Pe. Rodolfo Lunkenbein em defesa da Reserva Indígena para o povo Bororo, onde morreram também Simão Bororo, tentando defender a vida do Pe. Rodolfo, e outro integrante do grupo dos agressores. No restante da tarde subimos o morro de Merúri e fizemos uma visita ao cemitério onde estão enterrados vários salesianos missionários, inclusive o Pe. Rodolfo. Mais um momento onde fizemos lembrança deste heróico missionário, visto que passara apenas 13 dias em que se completara os 29 anos de seu martírio. O dia foi concluído com uma exposição na sala de audiovisual do Centro de Cultura sobre o funeral Bororo. No final, tivemos a oportunidade de fazer perguntas ao Pe. Gonzalo Ochoa sobre a cultura Bororo.
Manhã do dia 29. Outro dia memorável nesta peregrinação: a visita aos རྔTachosརྒ, local onde o Pe. João Bálzola chegou com sua expedição missionária com os demais Salesianos e Filhas de Maria Auxiliadora no ano de 1902 a fim de se encontrar com o povo Bororo e iniciar o trabalho de evangelização. Fomos ao antigo cemitério onde ficaram por muito tempo os restos mortais dos salesianos da missão do Sagrado Coração e que depois foram transportados para um Cruzeiro no caminho para a antiga missão.
Na parte da tarde, fizemos um jogo amistoso de futebol de campo com o time do local. Certamente mais preparados do que os visitantes ganharam de goleada: 8 x 2.
Na noite deste mesmo dia participamos da Celebração Eucarística com a assembléia local e em língua Bororo, presidia pelo Pe. Gonzalo Ochoa. Também tivemos um encontro com as Filhas de Maria Auxiliadora e Salesianos da missão, que nos deram um panorama geral sobre o trabalho missionário entre os Bororo daquela região. Encerramos, assim, o nosso itinerário pelas missões salesianas do Mato Grosso.
Na manhã do dia 30, sábado, fizemos a viagem de volta e passamos por Poxoréo onde ficamos um dia antes de seguirmos viagem para Campo Grande e depois para o noviciado em Indápolis.
Expusemos aqui somente a nossa visita às comunidades salesianas das missões, mas não pretendemos esquecer de todas as outras comunidades salesianas que nos acolheram na ida e na volta, como o Instituto São Vicente, Casa Inspetorial, Colégio São Gonçalo, Colégio Santo Antônio, salesianos de Poxoréo e familiares que encontramos no caminho e que nos acolheram como a seus filhos.
Durante a nossa permanência nas missões, nos sentimos acolhidos como filhos e irmãos de todos os Salesianos e Filhas de Maria Auxiliadora de Sangradouro, São Marcos e Merúri. As irmãs salesianas se mostraram excepcionalmente alegres e prestativas com a nossa presença e fizeram de tudo para que nos sentíssemos em casa, assim como os Salesianos que percorreram as áreas das missões conosco com grande paciência e disponibilidade, nos colocando a par da situação missionária da Inspetoria. Não queremos esquecer de ninguém por isso o nosso MUITO OBRIGADO às Filhas de Maria Auxiliadora de Sangradouro, Ir. Rita, Ir. Aparecida, Ir. Luizinha e Ir. Hilda; de São Marcos, Ir. Estela e Ir. Vittoria e de Merúri, Ir. Elsa e Ir. Irene. Aos Salesianos de Sangradouro, Pe. Benito, Me. Adalberto e Me. Tarley; de São Marcos, Pe. Osmar, Pe. Miguel e Pe. Pedro e de Merúri, Pe. Eloir, Pe. Gonzalo Ochoa e Me. Menon. Também aos povos Xavante e Bororo que souberam acolher com muita solicitude este grupo de interessados e རྔcuriososརྒ por conhecer e entrar em contato com tão ricas culturas e por terem proporcionado momentos inesquecíveis nesta nossa nova experiência salesiana. Além de nossos agradecimentos, contem com as nossas orações!
Desta nossa experiência nos fica um entusiasmo e vontade de nos engajar no ideal de Dom Bosco no que se trata desta face do carisma salesiano, o anunciar o Evangelho aos povos que não o conhecem. Certamente este caminho já foi pisado por muitos que, pela missão de anunciar o Evangelho, deram e continuam ainda hoje dando a sua vida. Destes testemunhos de fé é que haurimos toda esta vontade de continuar esta obra que permeou os sonhos de nosso Pai Dom Bosco.
7. ITINERÂNCIA, à Procura de Algumas Referências
Georg Lachnitt
A palavra itinerância, como tal, não consta nos dicionários. Encontramos no Dicionário Aurélio - Século XXI o adjetivo itinerante, do latim tardio, e que significa o que viaja, que percorre itinerários.
Esta última palavra itinerário é então a descrição de viagem; roteiro, ... caminho que se vai percorrer, ou se percorreu, ... caminho, trajeto, percurso, termo igualmente do latim tardio. Por dedução, e ainda ariscando-nos de produzir um neologismo, itinerância significa o fenômeno de viajar, viagem, andar de um lugar para o outro. Neste sentido encontramos, em Portugal, na primeira metade do século XII a meados do século XIV, o Arquivo Nacional da Torre do Tombo, arquivo este que acompanhou a corte na sua itinerância pelo reino. Então, em épocas mais remotas, o termo itinerância já era usado, no caso, referindo-se às visitas às províncias do governo reinante de Portugal.1
Falando em termos mais missionários e missiológicos, a itinerância significa o modo de anunciar Jesus Cristo e visitar as comunidades cristãs dispersas, por parte do missionário.
Observando a prática pastoral na Igreja primitiva, apostólica, encontramos como segue.
O capítulo 14 dos Atos dos Apóstolos, por exemplo, mostra a prática da itinerância dos apóstolos Paulo e Barnabé, passando por cidades e povoados. Significativa é a conclusão deste capítulo:
21Depois de terem evangelizado aquela cidade, onde fizeram muitos discípulos, voltaram para Listra, Icônio e Antioquia. 22Ali animaram os discípulos, exortando-os a permanecerem na fé, e diziam: “É preciso passar por muitas tribulações para entrar no reino de Deus”. 23Em cada Igreja constituíram presbíteros pela imposição das mãos; com orações e jejuns os recomendaram ao Senhor, em quem tinham confiado. 24Atravessaram a Pisídia e chegaram à Panfília. 25Depois de terem anunciado a palavra do Senhor em Perge, desceram para Atália. 26Dali navegaram para Antioquia, de onde tinham saído, confiados na graça de Deus para a obra que haviam realizado. 27Chegando lá, reuniram a Igreja e contaram tudo o que Deus tinha feito com eles e como havia aberto para os pagãos a porta da fé. 28Ali permaneceram com os discípulos por longo tempo.
Esta narração nos apresenta vários elementos constitutivos da itinerância apostólica, que mais adiante vamos sintetizar.
Podemos recordar também a trabalho missionário de São Francisco Xavier que durante dez anos evangelizou, incansavelmente, a Índia e o Japão, convertendo multidões à fé cristã2. Podemos observar que São Francisco Xavier se limitou ao anúncio do Evangelho e ao batismo, não constituindo comunidades cristãs que assumissem seus ministérios, talvez devido ao contesto eclesial de sua época.
Seguem então as seguintes observações, deduzindo-as da prática apostólica, do magistério da Igreja e outras emergentes da prática missionária e da reflexão sobre ela:
1 - Anunciar o Evangelho.
A itinerância tem por finalidade anunciar o Evangelho por cidades e povoados para fazer discípulos. Trata-se nisso do início de um trabalho apostólico onde não há cristãos ou onde sejam ainda poucos. Ser discípulo significa aceitar a proposta da Novidade de Jesus Cristo e encaminhar a vida de acordo com ela. Este processo é típico de catecumenato de quem ouve a Boa-Nova e faz a experiência de pô-la em prática.
2 - Criar Ministérios.
Já que a visita do missionário é temporária, de menor ou maior duração, é preciso criar ministérios na jovem comunidade que garantam a continuidade do ministério iniciado pelo missionário. Estes ministérios, na prática apostólica, culminaram em constituir presbíteros, anciãos da comunidade, que assumissem a presidência da celebração da memória do Senhor. No contexto eclesial, esta meta está mais longe de se tornar realidade; não é permitida tão simplesmente como foi então. Outros ministérios, porém, devem ser instituídos, tais como: catequistas, ministros da Palavra e ministros extraordinários da eucaristia. Podem surgir, no contexto cultural de cada comunidade, no nosso caso, indígena, outros novos ministérios oriundos da compreensão local de ser e viver como Igreja. Entre os Xavante posso entender a missão de padrinhos e madrinhas como um novo ministério, pois, antes de admitir alguém ao catecumenato, é preciso definir os padrinhos e as madrinhas, sem os quais não pode haver catecumenato.
3 - Retorno Periódico às Comunidades.
A presença do missionário e da missionária não é um evento único, mas, de acordo com a prática apostólica, requer de retorno periódico, à maneira dos apóstolos que 21...voltaram para Listra, Icônio e Antioquia. 22Ali animaram os discípulos, exortando-os a permanecerem na fé, e diziam: “É preciso passar por muitas tribulações para entrar no reino de Deus”.
Em outras palavras, os ministérios instituídos na jovem comunidade cristã exigem acompanhamento e formação. Não basta ter feito um curso inicial. A presença do missionário dialogante e que fica o tanto que for necessário é indispensável para o amadurecimento da fé e na fé.
4 - Comunicar-se na Língua do Povo.
Os apóstolos falavam a Koiné, a língua grega comum aos novos cristãos de toda aquela região. Mais complicada fica a situação quando não se fala a língua do povo. Um recurso é o missionário e a missionária agir por meio de um intérprete. Esta é uma situação inicial indispensável, mas não deveria ser uma situação permanente. Tenhamos presente a que nos exorta João Paulo II na Redemptoris Missio 53: ... torna-se necessário aprender a língua da região onde trabalham, conhecer as expressões mais significativas da sua cultura, descobrindo os seus valores por experiência direta.
5 - Inserção no Ambiente Vital do Povo.
Este mesmo texto leva-nos a identificar outra exigência, a da inserção no ambiente a evangelizar. A evangelização, à distância, nos torna estranhos e pouco confiáveis, interpretando a palavra do mesmo Papa: Eles só poderão levar aos povos, de maneira crível e frutuosa, o conhecimento do mistério escondido (cf. Rm 16,25-27; Ef 3,5), através daquela aprendizagem. Por isso, todo o trabalho missionário exige uma presença residencial no meio dos destinatários, para que, imersos no ambiente cultural, testemunhem, em primeiro lugar, que vivem o que anunciam, e esta notícia se comunica hoje mais do que antigamente por todos os demais povoados aonde forem e por onde passarem. Recordemos São Paulo que veio a Corinto. 2Ali encontrou um judeu chamado Áquila, originário do Ponto, que acabara de chegar da Itália com Priscila, sua mulher, por causa do decreto de Cláudio que ordenava saírem de Roma todos os judeus. Paulo uniu-se a eles; 3e, como era do mesmo ofício que eles, ficou em sua casa, e trabalhavam juntos. Eram fabricantes de tendas (At 18). São Paulo ficou um tempo e trabalhou como os demais, para não ser ocioso e não comer seu pão desmerecidamente (cf. 20,34; 1Cor 4,12).
6 - A Manutenção do Missionário.
A cultura Xavante indica-nos a solução para mais uma questão muito delicada de toda a atividade missionária. Os padrinhos têm direito aos bens do afilhado, uma vez concluídos os ritos de iniciação. Eu vi padrinhos verdadeiramente "depenar" seus afilhados: ornamentos indígenas, colares com crucifixo, relógio de pulso, tudo era cedido sem nenhuma reclamação. Diversas vezes fui contemplado com ricos presentes, ao concluir os ritos de iniciação cristã com o batismo e a primeira eucaristia: mandioca, bananas, abóboras, colares e outros ornamentos indígenas, a ponto de encher a carroceria do Toyota, presentes esses que na compreensão deles eram o pagamento pelo serviço prestado. Em outras aldeias fui convidado pelo cacique para o almoço. Certa vez, faltando o convite, fiquei sabendo que também eles não tinham o que comer naquele dia. Emerge, pois, o princípio de que a comunidade local mantém e deve manter o missionário. Este princípio é mais facilmente prejudicado "quando o missionário não precisa". O missionário e a missionária, que se apresentam aos olhos dos indígenas como ricos, levam os indígenas a concluir de que missionários e missionárias devam repartir com eles do muito que têm, sobrando. Então a pergunta, qual é o testemunho do missionário e da missionária? Apresenta-se como rico? E não deveria testemunhar pobreza evangélica? E como fica a postura do missionário que alicia os indígenas a abraçarem a fé pelos benefícios a receber, como o vi numa aldeia Xavante praticando o pastor da Congregação Cristã no Brasil?
Como é lembrado pelos Xavante com saudade o "verdadeiro missionário": andava a pé como nós, dormia no chão como nós, comia do que nós comíamos, sofria como todos nós. No dizer da Redemptoris Missio, não era nada mais do que testemunhar com sua vida o Evangelho que anunciava, era tornar o Evangelho crível.
7 - Viver em Clima de Reciprocidade.
Outra questão da itinerância nos vem de sua prática: a reciprocidade. Podemos citar muitos e muitos exemplos da vida prática dos missionários sobre isso. Qualquer presente que recebemos, exige, nos critérios indígenas, outro presente em troca. Isto naturalmente num valor simbólico, não financeiro. Inversamente, qualquer presente pessoal ou doação leva o indígena a entender seu compromisso de uma remuneração, de um pagamento, em sentido simbólico. Dá-se do que se tem, não tanto do que realmente custou. Este clima de reciprocidade cria um ambiente simpático, um interrelacionamento permanente, um clima de que se deve e se procura restituir. Este é um clima importante de credibilidade do Evangelho que anunciamos e de inserção evangélica no ambiente vital dos nossos destinatários. Significamos algo para eles.
8 - Trabalho em Equipe.
Mais ainda, Jesus Cristo 7chamou os Doze e começou a enviá-los dois a dois, dando-lhes poder sobre os espíritos impuros. 8Recomendou-lhes que não levassem para a viagem nada mais do que um bastão; nem pão, nem sacola, nem dinheiro no cinto. 9Podiam estar calçados de sandálias, mas não deviam usar duas túnicas. 10E lhes dizia: “Quando entrardes numa casa, ficai nela até irdes embora (Mc 6). Além dos aspectos referentes à pobreza já tratados acima, Jesus Cristo não os enviou sozinhos, cada um para o seu canto, mas enviou-os dois a dois. O espírito de trabalhar missionariamente em equipe, como hoje dizemos, remonta às origens da missão de anunciar. Isto pode-se concretizar na área indo dois a dois. Isto deve também ser considerado quanto ao modo eclesial de trabalhar. Num plano paroquial comum, que foi elaborado corresponsavelmente e que todos assumem, requer-se trabalhar em comum, com espírito de equipe, mesmo que ocasionalmente haja ações individuais. Num trabalho mais amplo em favor de uma etnia, é exigência indispensável agir dentro das exigências de um plano pastoral específico ou dentro das linhas de um diretório. Ninguém faz o seu trabalho individual, mas fazemos o nosso trabalho em conjunto. A ação de um é parte da ação de que todos participam. O individualismo pastoral deve ser superado, pois trabalhar em equipe significa trabalhar em sentido eclesial.
9 - Viver o Amor.
O elemento que considero talvez o maior: o amor. Já escreveu o P. Bartolomeu Giaccaria em 1987, referindo-se ao trabalho do professor não-indígena, já que então o Xavante somente exercia função de monitor em aula: O Xavante tem a sua própria cultura e é aceitando-o e amando-o que ele irá progredir. Amando o índio com os seus valores e contravalores e a partir da realidade é que começará o trabalho do professor.3 Esse amor sabe superar preconceitos etnocêntricos e menosprezo do indígena como inferior e ainda não ... Esta palavra ainda não revela demasiadamente tendências de superioridade-inferioridade, quando não ideais colonizadores camuflados. Isto requer ter tempo quando o indígena se aproxima; requer ouvi-lo com atenção e interesse, mesmo que não saibamos o suficiente da sua língua; requer tomá-lo a sério quando aparecerem sinais que, indevidamente, são classificados de comportamento infantil. O indígena é pessoa adulta para todos os efeitos e como tal devemos amá-lo, aceitá-lo e ser-lhe solidário.
10 - Visão Global de Evangelização.
Contra qualquer compreensão reducionista de evangelização, Tenhamos presente o significado amplo desta palavra. O Papa Paulo VI, na Evangelii Nuntiandi 17, escreve: Na ação evangelizadora da Igreja, entram a formar parte certamente alguns elementos e aspectos que se deve ter em conta. Alguns se revestem de tal importância que há a tendência de identificá-los simplesmente com a evangelização. Deduzido disso pode-se definir a evangelização como o anuncio de Cristo àqueles que não o conhecem, a pregação, a catequese, o batismo e a administração dos demais sacramentos. Nenhuma definição parcial e fragmentária reflete a realidade rica, complexa e dinâmica que comporta a evangelização, a não ser com o perigo de empobrecê-la e inclusive mutilá-la. É impossível comprendê-la se não se procurar abarcar num conjunto todos os seus elementos essenciais.
Além do anúncio, catequese e administração dos sacramentos, a CNBB cita ainda entre as exigências intrínsecas da evangelização serviço, diálogo, testemunho de comunhão4.
O serviço de caridade inclui todas as pastorais, como hoje as conhecemos, tais como pastoral da saúde, pastoral da família, apoio aos esforços de uma melhor subsistência, já que os indígenas perderam a maior parte de seus territórios que lhes garantiam os elementos necessários à sobrevivência no passado, e tantos outros serviços de caridade. Todos os esforços pela educação escolar indígena contam entre esses serviço de caridade, sobretudo quando não medem iniciativas por uma educação escolar indígena inter-cultural e bilíngüe, específica e diferenciada5.
O diálogo é método respeitoso de os missionários se encontrarem com os indígenas a evangelizar, e o modo de apresentar a novidade do Jesus Cristo, distinguindo-se claramente de modos impositivos e colonizadores.
O testemunho de comunhão, contemplado acima quando nos referimos à Redemptoris Missio 53, é a linguagem vivencial do Evangelho que anunciamos, antes de tudo com a nossa vida. Isto justamente requer o esforço de inserção na realidade a evangelizar para que o nosso anúncio não se apresente com imagens e critérios estanhos à sua vida, e com isso sejam contra-testemunho. Basta ter presente a ambigüidade de certos gestos e comportamentos, independentemente da boa vontade e da reta intenção do missionário.
11 - Evangelização é Inculturação do Evangelho.
A itinerância deve realizar-se, necessariamente, na perspectiva da inculturação. Quando João Paulo II propôs em Haiti a Nova Evangelização, solicitou novidade, no ardor, nos métodos e na expressão (cf.Discurso aos Bispos do CELAM, 9 de março de 1983). Esta novidade se concretiza, não em repetir métodos anteriores, mas em criar a novidade através do processo de inculturação. Se, por exemplo, a primeira evangelização se caraterizou pela imposição de um único modelo de ser cristão, e de ser Igreja, com certa razão caraterizada de violência, a Nova Evangelização se realiza num clima de diálogo fraterno, em que o missionário aguarda com paciência e amor a resposta ao Evangelho anunciado, com novas formas de expressão simbólica e vital. Este processo não pode mais ser chamado de violência, pois deixa liberdade para novas formulações próprias e originais. Nada mais lamentável do que um cristianismo imitativo, contrário ao que já levou Paulo VI a postular uma evangelização em profundidade, superando uma como que aplicando um verniz superficial (EN 20). Esta inculturação ... constitui uma exigência que marcou todo o seu caminho histórico, mas hoje é particularmente aguda e urgente (R.Mi. 52), é um processo longo (ibid.) e ainda não foi alcançado na inculturação da liturgia, lamentam os bispos do CELAM em Santo Domingo (43).
Com estas reflexões queremos dar uma contribuição, a partir da experiência vivida durante anos e da reflexão sobre a mesma prática. O que se espera, que muitos missionários se insiram na itinerância com os mais diferentes dons, para que, num conjunto harmonioso todos os dons contribuam para o anúncio de Jesus Cristo aos povos indígenas, no caso concreto, ao povo Xavante, hoje presente em 180 aldeias, aproximadamente. A finalidade de toda a evangelização é para que tenham a vida, e a tenham em abundância (Jo 10,10).
8. Curso de Agentes de Pastoral Xavante Parabubure
Georg Lachnitt
De 25 a 29 de junho passado foi realizado o Curso anual de Agentes de Pastoral Xavante na Casa de Encontros da Aldeia Parabubure, da T.I. Parabubure. Participaram com muita animação 51 agentes de 34 aldeias. O tema geral foi: A celebração da Palavra nas aldeias quando não há sacerdote. A estrutura geral da celebração foi refletida com eles pelo Pe. Jorge. com a grande maioria de novatos, o tema apresentaod há 15 anos foi grande novidade, onde os poucos veteranos puderam dar valiosa contribuição. A Ir. Glória aprofundou o significado do Evangelho de Jesus Cristo para a comunidade. Para isso recorreu à leitura e explicação e, em seguida, a encenação do fato noarrado em parábola, onde os participantes se mostraram muito criativos. Pe. Giaccaria mostrou que o Evangelho, qual Boa Nova, pressupõe não somente o Antigo Testamento bíblico, mas igualmente a rica experiência de Deus do povo Xavante antes do encontro com os missionários. Os antigos participantes não narraram o que de melhor se encontra em sua tradição mítica, mas também relembraram os primórdios da evangelização, quando dos primeiros encontros com os missionários. A Ir. Glória mostrou ainda a experiência de vida cristã das primeiras comunidades cristãs e a atuação sobretudo de São Paulo para confirmar os irmãos na fé. Para encerrar o terceiro dia, foi feita uma Celebração da Palavra, organizada e dirigida pelos participantes. O Pe. Aquilino, tendo chegado na Quarta-feira, ocupou este novo dia mostrou como, através da homilia, fazer penetrar a Palavra de Deus na vida do povo. As reações foram vivas e mostraram também os desafios que a evangelização do povo Xavante enfrenta hoje. Logo no início do encontro, ao Pe. Giaccaria deu informações sobre a conjuntura, como fez a introdução e a conclusão do evento com sua avaliação. As informações dadas fizeram surgir nos outros dias ainda questionamentos. Diante das diferentes estatísticas da FUNAI, CNBB/ CIMI e IBGE sobre as populações indígenas, surgiu uma ampla discussão das razões para certas discriminações, ainda remontando nos tempos antes da Constituição Federal de 1988. Como no último dia ocorreu a festa de São Pedro e São Paulo, foi celebrada a missa pelas 10:00 hs da manhã, onde a liturgia da Palavra foi dirigida pelos agentes presentes, seguindo a liturgia eucarística presidida pelo Pe. Jorge. O Pe. Aquilino tinha ida à Aldeia São Pedro, padroeiro desta, onde celebrou no centro da aldeia com viva participação, já que tinham vindo para esta festa um caminhão e um ônibus com Xavante de Sangradouro. Esperemos que o Espírito Santo inspire os corações e dê coragem a todos para renovarem suas comunidades com fervorosas celebrações da Palavra nos domingos.
9. Notícias Breves
Aldeias Xavante:
Com as últimas informações, as aldeias Xavante somam um total de 185. Por Terra Indígena (T.I.) são as seguintes:
São Marcos: 27Sangradouro: 25 Parabubure: 100
Mal. Rondon: 9Areões:14 P. Barbosa: 9
Marãiwatsédé: 1
XVI Assembléia do CIMI Nacional
Eleita nova Diretoria:
Presidente: D. Erwin Kräutler
Vice-Presidente: Roberto Liebgott
Secretário: Eden Magalhães
Conselho Fiscal: Fr. Volmir Bavaresco, Francisco Loebens, Maria do Céu
Suplentes do Conselho Fiscal: P. Georg Lachnitt, Mário ..., Fátima ...
Nomeado Diretor do NEPPI da UCDB
Por Portaria da Reitoria da UCDB n.o 030/2007, de 01 de agosto de 2007, o Reitor em Exercício da UCDB, nomeio o Pe. Georg Lachnitt para exercer a função de Diretor do Núcleo de Estudos e Pesquisas das Populações Indígenas - NEPPI - da Universidade Católica Dom Bosco - UCDB. Atualmente pertencem ao NEPPI os Programas Kaiowá, Terena, Xavante e Bororo, com seus respectivos projetos, e os Projetos Especiais Rede de Saberes, Curso de Agroecologia para Indígenas e Revista TELLUS. Até a data de sua nomeação, o Pe. Georg está encarregado do Centro de Documentação Indígena, da Missão Salesiana de Mato Grosso, situado desde 2002 na Biblioteca da UCDB, que serve como suporte para as atividades de Animação Missionária Inspetorial.
10. Videos Missionários
Os seguintes Videos de temas missionários podem ser encontrados nas Locadoras.
A Missão, Robert de Niro e Jeremy Irons, 2 horas
Hábito Negro. 1:35 horas
Romero - uma história verdadeira. John Duigan. 1:05 horas
Brincando nos Campos do Senhor. Hector Babenco. 3 horas.
A Floresta de Esmeraldas. John Boorman. 1:53 horas
O Curandeiro da Selva. Cinergi. 1:40 horas
Avaeté - semente de vingança. Zelito Viana. 1:10 horas
Gerônimo. Joseph Runningfox. 1:20 horas
11. Agenda
13-15/05 - Reunião de Missionários/as entre Bororo e Xavante, São Marcos
16-17/05 - Estudo de Língua e Cultura Xavante, São Marcos
19-23/05 - Curso de Agentes de Pastoral Xavante, Areões
23-27/06 - Curso de Agentes de Pastoral Xavante, Parabubure
21-26/07 - Assembléia Regional do CIMI-MT,Chapada dos Guimarães
09-11/09 - Reunião de Missionários/as entre Bororo e Xavante,
Sangradouro
12-13/09 - Estudo de Língua e Cultura Xavante, Sangradouro
12. Publicações Diversas
Folders:
Índios, Xavante 1, Xavante 2, Xavante 3, Xavante 4, Bororo 1, Bororo 2, Nambiquara. - Aldeias Xavante 2004, Aldeias Kaiowá e Guarani, Aldeias Terena-Kinikinaua-Aticum-Guató-Kamba-Kadiwéu-Ofayè Xavante.
Livros recentes do CDI:
VV.AA. (Coord.) Romhurinhihötö Nhoré Waihu'uprãdzé - Cartilha de Leitura I. 2ª ed. Campo Grande, MSMT, 2004, 47 p.; MSMT-UCDB, 2004, 47 p.
VV.AA. (Coord.) Rowatsu'u Nhorédzé-Cartilha de Leitura II. 2ª ed. Campo Grande, MSMT, 12004, 106 p.; 2ª ed. MSMT-UCDB, 2004, 106 p.
LACHNITT, Georg. O Símbolo "Água" na Iniciação Cristã. Ed. prov. Campo Grande, MSMT-UCDB, 2004, 126 p.
LACHNITT, Georg. Estudando o Símbolo. Ed. prov. Campo Grande, MSMT-UCDB, 2004, 151 p.
LACHNITT, Georg. Ritos de Passagem do Povo Xavante - um estudo sistemático. Ed. prov. Campo Grande, MSMT-UCDB, 2004, 155 p.
LACHNITT, Georg. Cultura - Religião - Mito. Ed. Prov. Campo Grande, MSMT-UCDB, 2005, 122 p.
LACHNITT, Georg. Curso de Língua Xavante. Campo Grande, MSMT-UCDB, 2005, 172 p.
LACHNITT, Georg (Coord.). Romhurinhihötö Waihu'u Na'ratadzé - Cartilha de Alfabetização (Comentários em Xavante). (livro do prof.), Campo Grande, MSMT - UCDB, 2005, 3ª ed. exp. modificada.
LACHNITT, Georg. Noções de Símbolo. Campo Grande, MSMT-UCDB, 2005, 46 p.
TRINDADE, Rosa Adélia Garcia Neto. Ai'uté ma Rowatsu'u (Literatura Infantil Xavante). Campo Grande, MSMT - UCDB, 2ª ed. 2005.
OBS: Eventuais pedidos sejam dirigidos ao CDI, com o endereço acima.
1Cf. Arquivo Nacional da Torre do Tombo, em Enciclopédia ® Microsoft ® Encarta 2.000.
2Liturgia das Horas. 3 de dezembro, introdução.
3GIACCARIA, Bartolomeu. ENSAIOS, Pedagogia Xavante - aprofundamentos antropológicos. Campo Grande, MSMT 1990, p. 13.
4Doc. CNGG 54, Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora, introdução.
5MEC. Diretrizes para a Política Nacional de Educação Escolar Indígena. Brasília, MEC-Secretaria de Ensino Fundamental, 2a Ed. p.10.