Missão Salesiana de Mato Grosso
ANIMAÇÃO MISSIONÁRIA INSPETORIAL
CENTRO DE DOCUMENTAÇÃO INDÍGENA (CDI)
Av. Tamandaré, 6000 - Jd. Seminário
Caixa Postal 100 - UCDB
79.117-900 Campo Grande MS
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E-mail: lachnitt@ucdb.br
"BAKARU-ROWATSU'U-Notícias Missionárias"
é de Circulação Interna
Coordenação: Delegado Inspetorial de Animação Missionária:
Pe. Georg Lachnitt SDB
Digitação e Diagramação: Georg Lachnitt
Impressão: Mariza Etelvina Rosa Irala
Centro de Documentação Indígena
UCDB - Campo Grande MS
Capa:
BAKARU, palavra Bororo, significa: o que se conta, notícia
ROWATSU'U, palavra Xavante, significa: o que se conta amplamente, notícia
Apresentação
Este número de BAKARU-ROWATSU'U- Notícias Missionárias trata principalmente do Encontro de Missionários/as da Família Saldesiana em Cumbayá, Ecudador. Este era um encontro de Pastoral Missionária de representantes das muitas comunidades que exercem sua atividade junto aos povos indígenas. Devido ao elevado valor missiológico dos discursos, apresentaremos nos próprios números de NM outros tantos. Por hoje as conferências introdutórias do Pe. Francis Alencherry e da Ir. Ciri Hernandez, além da mensagem dos encontristas.
Recebemos ainda uma apresentação dos cursos de formação missionária oferecidos pela UPS de Quito e que colocamos à disposição de interessados no Brasil.
O tema da Teologia Índia que já foi contemplado em números anteriores, foi novamente promovido pelo V. Encontro Latino-Americano, desta vez realizado em Manaus e de que poderemos ler a mensagem dos participantes.
A Missão em Sangradouro comemorou seu centenário de que seguem algumas notícias.
Um grupo numeroso de indígenas concluiu seu curso universitário em Barra do Bugres na Universidade Estadual de Mato Grosso, entre os quais um grupo numeroso de Bororo e Xavante de várias aldeias. Estes se somam aos 03 Bororo e 11 Xavante que no início deste ano receberam seu diploma pela Universidade Católica Dom Bosco de Campo Grande. Assim o ensino escolar nas aldeias recebe uma significativa contribuição para promover o ensino nas escolas indígenas.
A dimensão missionária atua transversalmente em todas as dimensões da nossa ação pastoral. Isso deve ser levado em conta nas programações pastorais de nossas atividades, sobretudo no próximo segundo semestre onde comemoraremos o Mês das Missões, em outubro.
Fazemos um novo apelo para que sejam enviadas mais contribuições para a publicação nos próximos números de NM. Muito obrigado!
Muita Animação Missionária!
Pe. Georg Lachnitt SDB
1. Seminário de Animação Missionária
Georg Lachnitt
De 01 a 05 de maio deste ano, foi realizado um Seminário de Animação Missionária Latino-Americano, convocado pelo Conselheiro Geral para as Missões dos SDB, Pe. Francis Alencherry, e pela Conselheira Geral para as Missões das FMA, Ir. Ciri Hernandez. Como o covite foi para missionários e missionárias de toda a Família Salesiana, vários outros grupos se fizeram presentes, num lugar bem adequado para isso, Cumbaya, Quito, na proximidade da capital Quito.
Os 70 participantes deram a tonalidade bem latino-americana ao evento, com a acolhida de cada um com sua língua, com músicas e dinâmicas próprias, além de uma atuação marcante dos indígenas presentes.
Devido à importância deste encontro por sua ampla participação e de uma temática vital para renovar e dinamizar a nossa prática missionária junto aos povos indígenas, tentaremos publicar algumas reflexões e conclusões neste e nos próximos números de NM. Hoje os dois discursos de introdução e a mensagem final dos encontristas!
2. Desafios da Evangelização entre os Povos Indígenas na América Latina
Conferência introdutória
P.
Francis Alencherry SDB
Cumbayá, 01 Maio de 2006
Queridos Irmãos e Irmãs.
Estou verdadeiramente feliz de poder estar presente hoje aqui para dar-lhes as boas-vindas para estes dias de estudo, de reflexão e de oração, com a finalidade de promover nosso compromisso de evangelização dos povos indígenas que vivem em distintas partes de América.
Anteriormente foram organizados nossos encontros de estudo sobre argumentos semelhantes de maneira diferente. Em 1993-94 foram organizados quatro seminários diferentes:
1- Evangelização e cultura no contexto de pastoral Mapuche (Ruca Choroi, Argentina, 18-22 de março de 1993).
2- Evangelização e cultura no contexto de pastoral Andina, Cumbayá, 29 de março – 2 de abril de 1993).
3- Evangelização e cultura no contexto de pastoral Amazônica, Cumbayá, 20-25 de setembro de 1993).
4- Evangelização e cultura no contexto de pastoral centro-americana, (Ayutla, Mexico, 17-20 de janeiro de 1994).
Em 1999, o quanto pude encontrar notícias, houve dois seminários:
1- Seminário sobre a práxis missionária na Região “Amazônica” (Manaus, 1-5 de setembro de 1999).
2- A primeira evangelização em diálogo intercultural. [Seminário de Animação……no contexto pastoral andino e centro-americano] (Cumbayá, 7-12 de setembro de 1999).
A finalidade era a de tomar em consideração os problemas de cada região por separado, ainda que os argumentos tratados eram semelhantes. Desta vez quisemos reunir quatro seminários neste único, uma vez que temos a intenção de comparar observações sobre os problemas e as possibilidades que encontramos em função de nosso compromisso de evangelização dos povos indígenas nos diferentes contextos. Efetivamente, parece-nos que, mesmo que os contextos sejam diferentes, os problemas são semelhantes. Temos muito que aprender uns dos outros, para melhorarmos nosso compromisso com a causa da evangelização e em particular da inculturação.
Os seminários precedentes trataram de problemas gerais da evangelização nas diferentes regiões. Neste seminário gostaríamos de focalizar nossa atenção sobre um ou dois aspectos. Com efeito, os objetivos específicos deste seminário foram delineados em:
1- Identificar as características e os desafios da evangelização e da espiritualidade missionária a partir das perspectivas indígenas.
2- Concretizar estratégias e propostas para renovar o compromisso por uma evangelização integral dos povos indígenas hoje.
3- Promover e acompanhar as vocações indígenas.
Em particular, eu gostaria de sugerir, antes de mais nada, que nos concentrássemos sobre os desafios da evangelização no contexto dos problemas existenciais que os povos indígenas devem enfrentar hoje nos distintos contextos nos quais vivem. Estes problemas estão freqüentemente unidos à luta pela sobrevivência e a inserção deles nos vários setores da sociedade. Para exemplificar podemos pôr em evidência:
1- Os problemas ligados à propriedade da terra, que se tornam sempre mais agudos para muitos povos indígenas, sem fazer referência ao país onde vivem.
2- Os desafios causados pelo forte avanço da globalização.
3- A política agressiva das multinacionais, em busca de recursos naturais nas reservas tradicionais dos povos indígenas, e
4- A exigência destes povos de uma política de auto-afirmação e de influência real na vida pública.
Estes e outros problemas semelhantes de natureza existencial têm grande influência na evangelização dos povos indígenas, e nós não podemos permanecer indiferentes diante deles, sob pena de corrermos o risco de reduzir-nos a um ministério exclusivamente sacramental, que certamente não poderá aliviar a vida e os problemas cruciais de povo.
Na Exortação Apostólica post-sinodal Ecclesia in America, João Paulo II escreveu:
Se a Igreja na América, em sua fidelidade ao Evangelho de Cristo, quiser percorrer o caminho da solidariedade, ela deve dedicar uma atenção especial a estes grupos étnicos que ainda hoje padecem a discriminação. Cada atentado para marginalizar os povos indígenas deve absolutamente ser eliminado. Isso significa, antes de tudo, respeitar seus territórios e as alianças que fizeram com eles; e especialmente devem ser feitos esforços para satisfazer suas legítimas exigências sociais pela saúde e a cultura. Como se pode favorecer a necessidade de reconciliação entre os povos indígenas e as sociedades nas quais eles vivem? (No. 64).
Nossas reflexões sobre a evangelização dos povos indígenas deveriam ter em conta este chamado do Papa como ponto de partida.
Uma segunda área sobre a qual nosso seminário deverá centrar sua atenção é o tema das vocações. Muito se falou e escreveu sobre a inculturação. Este argumento teve grande importância nos nossos seminários sobre a evangelização dos povos indígenas. A verdadeira pedra de comparação da inculturação é a capacidade de um povo de fazer própria a mensagem de salvação que recebeu, e de expressá-la depois em formas de sua própria cultura. Tudo isto requer líderes indígenas que tenham assimilado a fé e sejam capazes de guiar seus fiéis em uma reflexão permanente sobre os efeitos da conversão e da salvação da mensagem que o povo recebe em sua vida diária de fé. A promoção das vocações às diferentes formas de ministério é, pois, uma parte essencial e integral de todo o esforço de inculturação.
Mesmo que o argumento das vocações tenha sido tratado em alguns seminários precedentes, não teve todavia a atenção que merece. Esta é a motivação pela qual lhes sugiro de dedicar uma particular atenção a este argumento neste seminário. Os Salesianos estão trabalhando entre os povos indígenas da América há muitas décadas, mais de cento e vinte anos, segundo os distintos países. E, todavia, o número das vocações indígenas é realmente pequeno, quase não existe. Seria, pois, interessante refletir sobre os motivos disto, procurando explorar a possibilidade de adotar uma estratégia mais positiva de promoção das vocações entre os povos indígenas. Tudo isto é importante, também a partir do enfoque da continuidade das comunidades cristãs que foram fundadas entre esses povos.
A promoção das vocações é algo intimamente relacionado com a espiritualidade missionária vivida pelos mesmos missionários. O espírito é o que move os outros, e não as estruturas de organização. Por esta razão, a reflexão sobre nossa espiritualidade missionária terá um peso imediato sobre a construção das comunidades de fé, promovendo vocações entre elas.
Tenho a esperança de que, buscando com perspicácia dentro da nossa experiência e com a oração como comunidades de fé e evangelização, possamos fazer reviver o fervor pela evangelização em nossos corações. O Senhor envia suas testemunhas a todos os povos. Ele nos permita, pois, descobrir o que isto significa para nós hoje em nossas relações com os povos indígenas.
3. Evangelização e povos indígenas da América Latina: Quais os desafios? Qual é o futuro?
Ir. Ciri Hernandez, FMA
Conselheira Geral para as Missões
Bem-vindos/as
Encontrar-nos de novo, com muitos de vocês, é motivo de alegria e de esperança, sobretudo depois de tê-los conhecido na área da tarefa missionária e de ter constatado sua dedicação e entrega como discípulos/as de Jesus entre os mais empobrecidos/as.
Pela primeira vez na história da reflexão indígena salesiana1 nos encontramos todas as comunidades indígenas presentes na América Latina. A celebração dos Seminários anteriores, por regiões, a partir da ótica missionária do Vaticano II, Medellin, Puebla, Santo Domingo, e do caminho de nossas respectivas Congregações, constituíram uma reflexão necessária para avaliar a caminhada feita e programar o futuro com novas iniciativas. As reflexiões/propostas dos citados seminários levaram a responder às exigências dos tempos em circunstâncias complexas e plurais de cada contexto.
Hoje, a globalização considerada em seu aspecto positivo, é um sinal dos tempos que nos leva a conectar, a criar redes e a enfrentarmos juntos as situações e problemas comuns dos povos indígenas em sua trajetória histórica evangelizada e evangelizadora.
Reunimo-nos neste Seminário, não para homologar-nos, mas para revitalizar nossas opções comuns a partir das diferenças culturais, pois cremos que estas contribuem com originalidade, energia espiritual para resistir, mudar, transformar e transformar-nos. E, a partir desta realidade, com a força do Espírito, individualizar caminhos de alternativa humana e evangélica, neste mundo pluricultural e interdependente, sedento de vida e de verdade.
Com estas palavras de introdução, desejo pôr em evidência um aspecto da cultura emergente de nosso Instituto expresso com claridade no Capítulo General XXI e recolhido como eixo transversal nas Orientações das linhas educativas FMA ”Para que tenham vida e vida em abundância” (Jo 10,10), Roma, 2005. Trata-se do reconhecimento e importância das culturas na hora de educar/evangelizando e/ou de evangelizar/educando. Este reconhecimento assumido e assimilado como proceseo de mudança, de conversão pessoal e comunitária (comunidade salesiana, comunidades apostólicas, educativas, etc.) da atualidade, dinamismo e vivacidade ao carisma educativo salesiano. O Sistema preventivo salesiano, espiritualidade e método, está chamado hoje, talvez com maior urgência, a dialogar, a enriquecer e enriquecer-se, com a pluralidade de culturas e situações juvenis em todos os continentes.
Experiência do CG XXI, 2002, das FMA
A experiência capitular ficou marcada pela celebração do 125º aniversário da primeira expedição missionária. Vivemos o renovar-se na paixão missionária que caracterizou o nosso Instituto desde o seu nascimento, com milhares de histórias extraordinárias de caridade escritas com a vida em lugares desconhecidos e distantes.
O carisma educativo salesiano sulcou os mares, deixou raízes, fez amadurecer sementes de santidade em muitos povos e culturas diversas. Pertence à Igreja e continua suscitando uma ampla implicação de pessoas e instituições que se comprometem a viver o Evangelho com o estilo típico da espiritualidade Salesiana.
Sentiu-se viva a urgência de aprofundá-la, de expressar seu dinamismo e novidade para que possa continuar manifestando o dom de predileção pela juventude, em particular pela mais pobre” (cf. Actas CGXXI, n. 7).
Quando as nossas primeiras Irmãs deixaram Mornese em 1877 para ir à América, não sabiam nada do que significava a palavra inculturação, amavam sinceramente a Cristo e as meninas. Este amor levou-as a estar no meio delas, a aprender sua língua, a comer as mesmas coisas... a sentir-se pouco a pouco parte viva do povo. Desejavam simplesmente fazer o bem... e reconstruir Mornese. Graças à sensibilidade educativa adquirida no Piemonte, levavam consigo sementes fecundas para a educação e instrução das meninas. Os parâmetros da inculturação ou do diálogo intercultural não se delineavam naqueles tempos.
Hoje, 125 anos depois, a assembléia capitular no ano 2002 se reconhece pela primeira vez na história do nosso Instituto, não somente internacional, mas multicultural por proveniência, língua e mentalidade e faz experiência de interculturalidade. Reconhece-a presente em todas as comunidades e contextos e a consideram uma nova perspectiva que acompanhou toda a reflexão capitular. As Irmãs reunidas em capítulo constataram reconhecida e valorizada a diversidade cultural como sinal dos tempos, como chamado do Espírito para percorrer, como Instituto, o caminho do diálogo entre as culturas e construir desta maneira, a nova humanidade sonhada por Deus e por todos os povos: a comunhão a partir e com a diversidade.
Isto significou uma nova experiência para o Instituto. Irmãs, conscientes de sua originalidade cultural, entraram em interação, estabelecendo relações simétricas e igualitárias, e juntas criaram uma nova realidade comum onde cada identidade cultural pôde encontrar seu lugar, sua dignidade e sua específica contribuição no caminho profético e missionário da história do carisma.
A interculturalidade, como processo a partir da ótica dialógica missionária, é a nova chave para compreender e realizar as propostas capitulares: as três linhas orientadoras para a ação e a única deliberação2.
Esta experiência capitular constitui, ao meu parecer, uma questão vital num mundo cada vez mais fragmentado, desumano que tende, sob a aparência de desenvolvimento, globalizar e homologar estilos de vida e de “cultura”, de credos e crenças, de aspirações e de comportamentos, criando ao mesmo tempo divisões, injustiças e extrema pobreza que afetam povos inteiros.
Começamos a vislumbrar como Instituto o caminho intercultural e interreligioso (MEL3) como uma condição indispensável para educar integralmente os/as jovens de hoje no Sistema Preventivo, sobretudo os mais empobrecidos. A exclusão social, na qual se vêem submergidos muitos grupos humanos e juvenis, é também cultural, isto é, a maneira de ver, de entender a vida, a convivência, a economia, a democracia e a religiosidade. Estamos, em muitas latitudes do Instituto, começando caminhos novos, ... em outras, estes caminhos já têm história, se bem, às vezes, não tenham sido suficientemente reconhecidos. Em todo o Instituto sentimo-lo como novo desafio que necessita ser vivido em autêntica reciprocidade, mediante a tomada de poder de todos os povos para o bem comum.
“Aprender a dialogar com as diferências, não foi e não será um caminho fácil”, afirmam as capitulares.
Isto requer que cada um tenha consciência de que a dignidade da pessoa se nutre no respeito da alteridade.
Isto pressupõe a capacidade de um diálogo interpessoal autêntico, feito possível pelo silêncio interior que nos permite captar e acolher o que o outro é, mais além das palavras.
É necessário amadurecer atitudes, assumir comportamentos e saberes cotidianos capazes de superar a rígida lógica da única cultura e pertença.
O processo de interculturalidade nos fará mais conscientes da presença do Espírito Santo em cada pessoa, em cada cultura. Ele nos ensinará a transformar-nos em “talleres de acolhida, de comunhão, de solidaridade, interlocutoras críticas e capazes de fazer propostas valiosas nas realidades em que vivemos” (Cf. Atas CG XXI, n. 4,5).
Encontramos-nos diante de um salto de qualidade no crescimento carismático do nosso Instituto. Percebe-se:
- uma maior consciência do sentido antropológico da cultura vinculado ao estilo de vida de um povo e decisivo, portanto, para o processo educativo/evangelizador de seus membros;
- uma grande importância ao sentido humanizador das culturas. Todas elas são respostas diferentes às situações humanas, daí a necessidade de estabelecer entre elas uma atitude dialógica para a recíproca transformação e busca do bem comum;
- a urgência de superar o próprio egocentrismo cultural para abrir-se a uma reação igualitária e de reciprocidade. E isto implica madurar atitudes e assumir comportamentos e saberes cotidianos;
- as culturas são portadoras de autêntico significado humano/divino, são mediações nas quais se descobre a presença amorosa de Deus nos homens e nas mulheres de todos os povos.
Todas necessitam ser transformadas evangelicamente a partir das próprias categorias e dos projetos históricos culturais.
- O processo de “inculturação” ou “intercultural” do Evangelho, do carisma educativo/evangelizador é um elemento essencial em todas as situações juvenis, se funda no mistério da Encarnação4, como processo, e faz responsáveis do mesmo as igrejas locais, comunidades educativas e os grupos originais, em comunhão, na busca e solidariedade entre elas;
- a riqueza de um pensamento teológico multicolor, de uma ação pastoral pluricultural, de uma espiritualidade evangélica mais significativamente aberta à sabedoria, mitos, sonhos e utopias que estão forjando a alma e a criatividade de povos e religiões.
A partir das fronteiras missionárias
O fenômeno da movilidade humana, as novas tecnologias alcançaram em todo o mundo, até no povoado mais distante da cidade, o contato direto ou virtual com o outro distinto, suscitando atitudes de acolhida e simpatia ou de rechaço e de medo dependendo da realidade mediadora do momento.
Constata-se também, como sinal dos tempos, uma maior consciência do que implica na prática a dignidade pessoal, os direitos/deveres dos povos. O povo simples, a sociedade civil, grupos cristãos e de outras religiões veiculam valores de não violência e de paz para com todos num respeito pela diversidade de povos, culturas e religiões. Mentalidade que vai adquirindo, ainda que seja lentamente, cidadania numa educação libertadora, intercultural através da preventividade salesiana.
Em nosso Instituto esta nova perspectiva amadureceu também, graças à presença missionária das comunidades, comunidades apostólicas, vocações originárias, voluntários/as, inseridas nos projetos históricos dos povos, trabalhando e acompanhando as lutas, as resistências e as esperanças de grupos culturais não reconhecidos, povos indígenas, afro/americanos e campesinos. Os vestígios deste caminho junto a ... são muitos e diversos, teremos ocasião de ouvi-las diretamente nestes dias, a partir da defesa dos Direitos Humanos, direito à terra, até o revigoramento da espiritualidade e da teologia indígena. Estas são realidades que nos falam de um já e de um todavia no interior da dinâmica do Reino, porém que sem duvida alguma são fonte de vida, de Boa Nova. Um propósito e um sincero esforço de “inculturar” o Evangelho e o carisma salesiano. Neste campo temos, em muitas partes do mundo, história selada com o martírio que a converte em sinal crível e testemunho profético.
Madre Antonia Colombo na reação do Instituto ao CG XXI, no ano 2002, evidenciou que a exigência da inculturação, do diálogo com os mais pobres, as culturas e as religiões, provêm-nos das fronteiras missionárias e se propõem hoje a todo o Instituto. Em certo sentido, a vida das comunidades em missão, mesmo em sua debilidade e pobreza, canalizam uma ação do Espírito renovadora e cheia de esperança que necessita ser conhecida mais amplamente, acompanhada e integrada na animação inspetorial. Animação sempre mais consciente da pluralidade dos contextos educativos e da urgência de ter intervenções educativas/evangelizadoras diferenciadas, convergentes e em sinergia.
É a conversão em prática do modelo de animação proposto pelo Instituto: a coordenação circular para a comunhão da missão, rumo a um novo futuro...Sentimo-lo como dom de convivialidade.
Em continuação no caminho realizado nos encontros e organizações de Pastoral indígena nacional e internacional, nos Seminários SDB/FMA anteriores, e na novidade do Espírito, desejamos enfrentar juntos como Família Salesiana os momentos históricos e religiosos nos quais se encontram os povos indígenas na América no contexto de globalização, com especial atenção à educação dos jovens e das jovens, uma vez que a pobreza em muitas atitudes se chama menina, jovem, mulher analfabeta. E isso também em muitas comunidades indígenas.
Desejamos deixar-nos novamente interpelar pelo mandato missionário de Jesus que nos envia, a partir da originalidade dos nossos povos, aos gentios entre os gentios, para viver e testemunhar seu Evangelho e realizar desde o simples e pequeno a utopia do Reino.
O diálogo dialogante, a confrontação sincera e transparente, a busca humilde, constituirão nossa metodologia.
Sabemos pela fé que o Senhor nos precede sempre, está conosco e em nós, nos projetos de nossos povos e o celebraremos com a diversidade e a força do nosso mundo simbólico, místico e profético. Com a força do Espírito que se move no mundo a partir do pequeno... do quo conta pouco...
Sua graça acompanha nosso discernimento, nosso desejo de ser pontes de comunhão entre povos, culturas, religiões e sensibilidades, para que o mundo creia e seja mais humano nEle.
Maria Auxiliadora de todos/as nos indicará por onde avançar na construção do Reino de reconciliação e de justiça.
4. Mensagem do Seminário de Animação Missionária e Evangelização Missionária da América Latina
Estivemos reunidos em Cumbayá, Ecuador, (01-05/05/06), num grupo representativo da Família Salesiana (68 membros), SDB, FMA, HR, Voluntários e Cooperadores, convocados pelo Dicastério das Missões, por Pe. Francis Alencherry e Ir. Ciry Hernández, para:
a. Identificar as características, os desafíos e as intervenções salesianas nas comunidades indígenas do nosso continente.
b. Concretizar estratégias e propostas para renovar o compromiso por uma evangelização integral dos povos indígenas hoje.
c. Promover e acompanhar as vocações indígenas.
Constatamos com grande esperança que:
a. No decorrer destes anos, realizou-se um crescimento na abertura e capacidade para trabalhar juntos (como Família Salesiana) na corresponsabilidade, fraternidade e ações concretas, que nos fortaleceram espiritual e pastoralmente através de um compromisso recíproco em nossa missão, com o carisma salesiano.
b. Vivemos numa maior proximidade entre missionários e povos indígenas.
c. Favorecemos o protagonismo e florescimento de vocações indígenas na Igreja Missionária.
d. Vivemos um clima intercultural de festa, de alegria, de colorido plurilingüístico, que favoreceu a reflexão aberta, criativa e constructiva. Toda essa experiência nos diz que isto pode ser uma vivência em cada uma das nossas comunidades.
O que vivemos e experimentamos, como sinal do Espírito de Deus nestes dias, leva-nos a:
a. Impulsionar e priorizar a animação missionária nas inspetorias: urge que se prossiga na preparação das novas forças para continuar o trabalho que foi feito, com sua criatividade e juventude, em continuação e no respeito aos processos.
b. Trabalhar com mais paixão, alegria, entrega desinteressada, ‘com’ e pelos povos indígenas.
c. Renovar a nossa presença missionária: no respeito, valorização, proximidade e trabalho partilhado com o povo indígena.
d. Formar grupos de reflexão indígena–missionária em cada inspetoria.
e. Um maior intercâmbio de forças vivas, material, experiências que nos fortaleçam e enriqueçam, trabalhando em rede.
Com a força das nossas orígens, Valdoco e Mornese, comprome-temo-nos a:
a. Crescer na espiritualidade pessoal e comunitariamente para fortalecer nossa vida missionária.
b. Continuar acompanhando o crescimento da Igreja Autóctone na América Latina.
c. Continuar trabalhando com mais afinco pelas vocações autóctones e ministérios: sacerdocio, vida religiosa e laical.
d. Criar uma rede interinspetorial no campo missionário.
María de Guadalupe, Mãe e Mestra
da evangelização dos povos indígenas,
e modelo de inculturação, nos acompanhe
e faça com que cada país, cada povo,
e todas as missionárias/os,
sejam São Juan Diego hoje,
construindo ‘os templos vivos’
onde o Reino continue crescendo
no amor, respeito, valorização e impulso,
cada dia mais. AMEN! ALELUIA!
5. Cursos para Missionários/as
Universidade Politécnica Salesiana (UPS) --- IUS
Antecedentes
Comprometer-se com o ação missionária da Igreja hoje exige, além de uma sólida preparação específica, uma atualização permanente, uma vez que as ciências teológicas e antropológicas enfrentam desafios e enfoques sempre novos.
O difícil diálogo das culturas entre si e a exigência da inculturação constituem o grande desafio do século que iniciamos.
Missão
A Universidad Politécnica Salesiana (UPS), fiel à sua inspiração e missão, procura dar uma contribuição para a formação de agentes de pastoral que devem exercer seu ministério em contextos culturais diferentes do próprio.
Visão
Proporcionar a oportunidade de preparar os jovens que iniciam sua atividade missionária e renovar a quem tem trabalhado neste campo. Tudo isso deve ser enfrentado sem distanciar-se de sua área de trabalho.
Objetivos
1 Formar os agentes de pastoral por cursos abertos de missiologia aplicada.
2 Criar espaço de reflexão, aprofundamento e acompanhamento da atividade missionária numa perspectiva teológica, antropológica e histórica.
Modalidades do Estudo
Os cursos são oferecidos na modalidade à distância, como suporte virtual através da internet. A relação estudante-docente se realiza pelo correio eletrônico.
Orientação
Os cursos são teoórico-práticos (missiologia aplicada): a observação, a pesquisas e o trabalho de campo são fundamentais.
Cursos
A UPS oferece dois cursos cujas matérias têm homogeneidade, e seqüência, todavia, se o estudante com suas ocupações quiser inscrever-se somente em uma matéria, há possibilidade de fazê-lo.
Cada curso de desenvolve durante cinco meses.
Curso I
Fundamentos antropológicos - históricos e missão
1. Antropologia cultural
Introduzir ao conceito de cultura: sua origem, sua transmissão, suas mudanças. A antropologia como ciência, seu método, estruturas culturais etc.
2. Fenomenologia da Religião
O fato religioso: como se manifesta? O sagrado, o espaço, o tempo, o rito, o mito, o símbolo.
3. Teologia das Culturais
Com o Vaticano II começa-se e ver as culturas com um olhar positivo: Deus já está nelas (sementes do Verbo). O anúncio do Evangelho comça com a descoberta de Jesus Cristo em cada cultura.
4. História da Conquista e Evangelização da América Latina
O que hoje somos, é o produto de um processo histórico: entender a religiosidade latino-americana a partir do cristianismo que foi transferido e implantado.
Curso II
5. Metodologia da investigação antropológica
A aprendizagem de uma metodologia genérica e a maneira de se proximar das pessoas, recolher dados, classificá-los etc., para elaborar uma etnografia.
6. Fundamentos da educação intercultural e bilíngüe
O bilingüismo será o grande desafio do século XXI. Todos somos chamados a praticar pelo menos dois idiomas: o próprio, expressão e veículo da própria cultura e o do contato, para relacionar-nos com o mundo.
7. Antropologia do desenvolvimento
Para que o desenvolvimento não resulte numa imposição colonialista, deverá respeitar valores, ritmos e padrões culturais dos diferentes povos.
8. Elaboração e aviação de projetos
Metodologias aplicáveis à conceituação e execução de projetos missionários em contextos pluriculturais.
Destinatários
Missionários/as, tanto de comunidades religiosas, como de organizações laicais: voluntários/as, agentes de pastoral etc.
Reconhecimento acadêmico
A Universidade outorga um certificado por cada curso aprovado, que servirá como documento para o processo de convalidação interna nos diversos cursos da UPS, para aqueles estudantes que desejma continuar os estudos regulares.
Custos
O Curso completo: U$ 208 (quatro matérias).
Somente uma matéria: U$ 52,00.
Matrículas: A partir de 3 de abril de 2006
Pre-requisitos
1 foto tamanho carnê e Cópia da cédula de identidade.
Informação
Campus el Girón A, Av. 12 de Octubre N24-22 e Wilson PBX 223-7159 - Telf. 2236175/2236899. Ext. 228, Correos electrónicos: curso_misioneros@uio.ups.edu.ec, curso.animadores@uio.ups.edu.ec
Observações do CDI
Este curso valioso em seu conjunto e muito adequado para missionários em áreas indígenas, não é reconhecido academicamente no Brasil. Ele mantém porém seu valor formativo, contanto que o estudioso tenha certo domínio da língua espanhola. Pelo Centro de Documentação Indígena começamos a tradução dos textos para oferecê-lo a estudiosos no Brasil. Tanto na versão original quanto na futura tradução, cada apostila pode ser solicitada para estudo pessoal, a preço de custo. Pode-se futuramente também avaliar a possibilidade de oferecer o mesmo curso no Brasil na forma de Curso de Extensão, se houver interessados em número suficiente.
6. V. Encontro Latino-Americano de Teologia Índia
Carta final do encontro que reuniu 180 indígenas, missionários e agentes de pastoral em Manaus, Amazonas, de 21 1 26 de abril de 2006:
A todas as comunidades indígenas
a todas as nações e governos do mundo
a todas as Igrejas
do coração da maloca da Amazônia
anunciamos que
a força dos pequenos é vida do mundo.
Como os córregos e mananciais que se encontram no grande rio Amazonas, assim também nós, povos que nascemos nos quatro ventos, viemos unir nossos corações e nossas palavras às margens deste rio sagrado.
Convocados pelo Criador das águas e das florestas, o Deus Grande Pai e Mãe, o Deus de quatrocentos nomes, Tupâ, Tuminkier, Koamakë, Tamacco, Kohamacu, Elchen, (Ngenechen) Tuminkary, Nguluvi, Nyasaye, Mungu, Kanobo, Paapa, Karagabi, Tupo, Katata, Acha Diosï, Tata Kuerajpiri, Trindade, Tupana, Ñande ru, Metion, Wanadi, Ngai, Nungungulu, Palob, Encânticos da mata e do mar, Ngai, Nana-Tata, Kaa’ti, Pachacamac, Apunchic, Ajaw, Qatata’ Qate’, Sabaseba, Onoruame, Yumtsil, Jmanojel, Waxacamen, Paba, Nana, Zalita, Qart’a, Tata Fitsocoyich, Dsara, Ndiose, Kinpaxkatsikan, Kinpuchinakan, Teótzin, Ometeótzin, Tonántzin, Totátzin, Pacha-Camac, Pachamama, Tata, Apunchiy, Viya, Jeiñ, Het, Maimuná, Wirak’ocha, Tata Viya, Moxeno, Ngurá, Mañusi, Omama, Karosakaybu, Tupagâ, Bôdje, Kaa’t, Viya, Jeiñ, Mejión, Akoré, Ngöbö, Nun Run, Bôdjé Dev, Eidjadwlha’, Bhagvan,, Ye’paô’âktht, Co’amact, Ishwak, Jangoiko, Aijimarihi, Yumahi, T^sorá, Wainikaxiri, Ko Mam, N’diose, Ajuä, Pita’o, Achillik, Kausayuk viemos participar do V Encontro Latino Americano de Teologia Índia, em Manaus.
O Brasil nos recebeu com imensa ternura, com palavras floridas e danças incentivadas por maracás, flautas, violões e corações dispostos a partilhar esperanças e sonhos de um outro mundo possível, onde a força dos pequenos é alternativa de vida.
Desde os primeiros momentos, saboreamos as riquezas culturais de nossos povos que manifestam a grande sabedoria e o imenso amor de nossa Mãe e de nosso Pai geradores de vida. Sabedoria simbolizada pelo fogo, por sementes e frutos, bebida, incenso e orações.
Jesus Cristo ressuscitado fez-se presente nesse encontro, fortificando a luta dos povos e dando sentido à morte de nossos mártires. No mais íntimo de nós mesmos, escutamos o quanto a vida triunfa sobre a morte. O testemunho de uma mulher indígena nos ensinou que não se morre jamais quando se morre lutando pela vida. Nossos mártires não são enterrados, eles são plantados para que nasçam novos guerreiros. A experiência de nossos mortos fortalece o coração de nossos povos. Vivemos e queremos continuar vivendo e por isso oferecemos nossa própria vida.
Trouxe-nos grande alegria e esperança a palavra de irmãos e irmãs que caminham conosco nessa experiência teológica quando afirmaram que a Luz, dom do Espírito da Terra e da Água já se encontrava em todos os povos indígenas, em todas as culturas e religiões e que, nenhuma delas é superior às outras porque cada uma tem em suas mãos uma fagulha do Fogo divino.
Mas escutamos com dor e preocupação que foi freado o processo que permitia a nossos irmãos indígenas receberem o diaconato na Diocese de S. Cristóvão de las Casas e que também se impuseram medidas disciplinares a irmãos indígenas, teólogos, do México. Pedimos ao Espírito que abra os corações e as mentes daqueles que nos conduzem à autêntica universalidade, para que, como em Pentecostes, nossa assembléia cristã manifeste todos os rostos e todas as línguas do mundo.
Constatamos que nossos mitos, nossos ritos e experiências históricas são, para nós, expressão do sagrado. As orações e danças desses dias nos convidaram a uma contínua purificação dos males e das pragas que o sistema neoliberal nos impôs. A maioria dessas pragas vem de fora, embora, infelizmente, também as produzimos entre nós: divisões, perda de identidade, abandono de nossas terras, violência intrafamiliar...
Nós, os participantes desse Encontro, queremos denunciar que a praga que mais ameaça esse momento da História é aquela que a Amazônia sofre em seu imenso manancial aquático, na riqueza de sua biodiversidade, em seus povos e culturas milenares, pela cobiça dos poderosos que pretendem apossar-se desse eco-sistema imprescindível para a vida de todos os seres da terra. Frente ao sistema neoliberal avassalador e destrutivo, queremos então oferecer a todos os povos do mundo, como alternativa, a sabedoria com que cultivamos nossa terra e cuidamos da natureza. O mundo de hoje necessita do saber tradicional que nos cura e da força espiritual que nos impele adiante na construção da História.
Convocamos a todos os povos indígenas a continuar sendo os defensores dos mares e dos rios, dos peixes e das aves, das sementes e dos frutos, das árvores e dos animais, dos rios e das montanhas, das matas e do cerrado, porque o Coração do Céu e o Coração da Terra nos introduziram na História para oferecermos ao mundo alegria e plenitude, ao invés de maltratá-lo e destruí-lo.
E convocamos também a continuar lutando e exigindo dos governos, da sociedade e das Igrejas respeito e apoio pelos direitos indígenas.
A partir da palavra milenar de nossos antepassados, percebemos nossa pequenez e tomamos consciência de que, sozinhos e isolados não podemos enfrentar as ameaças do sistema de morte. Guardamos no coração essa lição que aprendemos das experiências históricas e dos relatos de mitos em que os animais mais pequeninos como formigas e rãs são os vencedores do mal.
Quando nossos irmãos e irmãs indígenas de Manaus nos convidaram para visitar as águas sagradas do Amazonas, lugar onde se juntam as águas brancas e as águas negras, aprendemos que é possível a união dos diferentes em uma única caudal geradora de vida para a humanidade e de fertilidade para o mundo.
Ao longo desses dias surgiram diversos desafios: defender a vida de tantos de nossos irmãos e irmãs indígenas ameaçados, propiciar um autêntico diálogo entre índios e instituições nacionais e eclesiais, comprometer-nos profeticamente como missionários e missionárias para que, longe de impormos uma ideologia, testemunhemos e anunciemos o Evangelho de Jesus.
Em profunda contemplação, constatamos que a força dos pequenos está em sua união e organização, em suas assembléias e consensos comunitários, no saber complementar-se, na responsabilidade e no serviço, no abrir seus corações para somar com outros e multiplicar sonhos e utopias. Essa força está na identidade e cosmovisão próprias, na ética e na autenticidade de sua palavra.
Força que vem de seu vínculo com a Terra e com a Água, de sua profunda solidariedade, de seu parentesco com toda a criação e da fraternidade que os une a todos os povos.
Sua força está na dança e na festa, na espiritualidade que os vincula com Deus Pai e Mãe da vida.
Ao terminase Encontro, queremos manifestar nossa gratidão a todos aqueles que se solidarizam com as causas indígenas e com elas se comprometem até as últimas conseqüências em cada um dos países da América Latina: o levante de Chiapas, no México, o Movimento Indígena do Equador, o empoderamento indígena de Bolívia, as luta por demarcação da terra no Brasil, o reconhecimento constitucional no Paraguai.
E, somos especialmente agradecidos àqueles e àquelas que, como Jesus, estão conosco no dia-a-dia, nos momentos de dor ou de festa, no plantio e na colheita, nos altos e baixos da vida, a todos os que trabalham e sonham conosco, a todos e todas que, por nós, são capazes de morrer e que, em nós, ressuscitam.
Ao final desses dias, em volta do fogo e da comida que nos unem, assumimos o compromisso de continuar a construir juntos nossa História, defender nossos territórios tradicionais, fortalecer nossas culturas e religiões, solidarizar-nos com as lutas políticas de nossos povos e prosseguir incentivando o surgimento de Igrejas autóctones.
Da grande maloca indígena da Amazônia, em Manaus, Brasil
26 de abril de 2006.
7. Centenário da Missão de Sangradouro
No dia 24 de maio de 1906, o Pe. João Bálzola chegou a Sangradouro e celebrou a primeira Missa na sede da Missão São José, propriedade comprada no ano anterior por Dom Antônio Malán do Dr. Manoel Gomes, de Cuiabá. Sangradouro recebeu uma aldeia bororo daqueles que em Merúri, fundada no ano de 1902, se distinguiram na assimilação da "civilização", como naquele tempo de positivismo se considerava.
Aos 11 de agosto de 1911 chegaram as FMA a Sangradouro, integrando o trabalho missionário.
No mesmo ano a Colônia recebeu a visita do Mal. Rondon que deixou suas impressões de reconhecimento pelo trabalho missionário depositadas por escrito, embora alhures manifestasse outro parecer menos simpático pelos missionários.
Desde 1918, faltando lideranças missionárias de pulso naquele tempo, as missões entraram em crise. Vários missionários tinham sido promovidos a bispo e o próprio Pe. João Bálzola foi em 1914 ao Rio Negro para dar início à presença salesiana naquela região. Nesta nova situação de Sangradouro e da inspetoria em geral, começaram os missionários com o imenso trabalho de itinerância, que por longos anos foi uma das características de muitos padres. A Inspetoria, por sua vez, começou a expansão ao sul do Mato Grosso abrindo várias casas.
Em 1925, a Missão abriu as portas para filhos e filhas de moradores da redondeza, de perto e de longe, que aí faziam seus estudos em regime de internato, os meninos com os Salesianos e as meninas com as Filhas de Maria Auxiliadora.
O Pe. César Albisetti foi durante longos anos a figura de referência pela simpatia com os Bororo, o estudo de sua cultura e língua, que ele falava com desenvoltura. Foi também durante seu tempo, 1924, que missionários e missionárias tiveram que fugir diante da Coluna Prestes e se esconder no mato até que seguissem adiante, deixando atrás de si a destruição. Pe. César também trabalhou em Merúri e Poxoréo, onde havia também uma aldeia Bororo, mas seu centro sempre foi Sangradouro e onde ele chegou a falecer em 1977, aos 90 .. anos de idade.
Foi assim que no dia 24 de fevereiro de 1957 chegou o primeiro grupo de Xavante e que foi acolhido pelos missionários. Outros grupos se juntaram a este primeiro. Vendo-se de repente acuados pela presença maciça das crianças Xavante na escola, os moradores regionais retiraram seus filhos e filhas do internato. Desde então, missionários e missionárias dedicaram toda a sua atenção aos indígenas, tanto aos Xavante quanto aos Bororo que sempre conservaram um grupo de mais ou menos 50 pessoas na aldeia junto à Missão.
Em 1973 foi decretada a criação hoje chamada Terra Indígena de Sangradouro de 88.620 ha e em 1987 foi acrescentada a T. I. de Sangradouro/Volta Grande de 11.640 ha, no outro lado do Rio das Mortes. Desde 1974 os Xavante começaram a ocupar seu território com cada vez mais aldeias, pelo que hoje podemos observar umas vinte aldeias titulares.
Por estas demarcações, a terra original da MSMT ficou conservada e serve de suporte para a atividade juntos aos dois povos indígenas. Os Bororo continuam junto à Missão nas terras da mesma dedicando-se às suas atividades.
Desde o início, as FMA dedicaram atenção preferencial à saúde dos indígenas e da população da redondeza, trabalho de grande importância e insubstituível pela ausência do governo. Desde 1973 o Dr. Geraldo Salomon, sempre acompanhado por sua esposa, fez um trabalho de extrema importância entre os indígenas das missões salesianas, combatendo até a extinção a tuberculose, trabalho durante vinte anos consecutivos. Só nos anos 90, o Governo Federal através da FUNASA veio substituir as FMA em seu empenho pela saúde dos indígenas.
O trabalho pela educação escolar foi sempre exercido numa ação conjunta de SDB e FMA, procurando meios e métodos mais adequados à realidade indígena. Foi nesse sentido que, além da instalação de 5. à 8. séries, foi iniciado em Sangradouro também o 2. Grau na modalidade de magistério, num primeiro momento, e posteriormente na modalidade de formação de Técnicos em Enfermagem, de indígenas. Em seguida, já com professores indígena próprios, continua o 2. Grau regular devido à exigência de curso superior para lecionar nas escolas de ensino básico.
No início do novo milênio, a Missioni Don Bosco promoveu a reforma completa das casas da aldeia Bororo e a reforma dos telhados das casas da aldeia Xavante, casas esta construídas há vinte anos por iniciativa de missionários. Promoveu ainda criação da Casa de Cultura Xavante, ao lado das instalações da sede da Missão. Os Bororo foram beneficiados com um Centro Cultural na forma de BAITO, um centro cultural da tradição bororo no centro de sua aldeia.
Muitas outras iniciativas beneficiaram a Missão e as aldeias indígenas durante esses anos. Podemos citar os trabalhos do Projeto AMA, coordenado pelo Me. Luiz Würstle, como a construção da usina hidro-elétrica e instalações elétricas, entre muitas outras colaborações, como ultimamente a perfuração de poços semi-artesianos com bombas de água manuais e por meio de placas solares, de grande ultilidade para a conservação da saúde dos povos indígenas hoje residindo em muitas aldeias dispersas.
Estas são algumas realizações dentro de muito mais outras que fizeram crescer e dar estrutura à presença missionária em Sangradouro e que hoje são pontos marcantes da história de 100 anos de existência.
8. Cursos para Agentes de Pastoral Xavante
De 15 a 19 de maio foi realizado um novo Curso de Agentes de Pastoral Xavante na Aldeia Cachoeirinha da T.I. de Areões. Outro Curso foi realizado ainda na Casa de Encontros da T.I. Parabubure de, 25 a 30 de junho. Ambos os cursos tiveram por temática a Reconciliação. Como assessores apresentaram sua reflexão o P. Giaccaria, a Ir. Cleide, a Ir. Glória, o P. Aquilino e o Pe. Jorge. Além do tema principal sobre a Reconciliação, não faltou a reflexão sobre conjuntura nacional no que ela incide sobre as comunidades indígenas, como ainda sobre teologia índia. Um grupo de 40 participantes de cada região garantiu a divulgação das reflexões, já que na vida Xavante todas as notícias são divulgadas nas respectivas comunidades.
9. Notícias Breves
- Dados Estatísticos sobre Populações e Terras Indígenas
- Iniciação Cristã em Sangradouro
Depois de vários anos de catequese dentro do processo de Iniciação Cristã, interrompida várias vezes por diversas razões, no ano passado o Pe. Giulio Boffi retomou com fervor o pedido dos jovens candidatos solicitando continuação da catequese. Neste ano, o Pe. Luiz Silva Leal deu continuação ao projeto iniciado e levou à celebração dos sacramentos do Batismo e da Primeira Eucaristia nada menos que 82 jovens, além de outros seis que receberam a Primeira Eucaristia. Tudo isso foi celebrado no dia mais adequado para isso, a Vigília Pascal. Nada impediu o fervor, nem a chuva justamente na hora da celebração.
- Iniciação Cristã em São Pedro
Na aldeia de São Pedro, sob a orientação das Irmãs Lauritas e do pároco Pe. Bartolomeu Giaccaria, o catequista Moisés preparou durante dois anos um novo grupo de catecúmenos, pela celebração dos momentos incisivos do rito de Iniciação Cristã e a respectiva catequese. Assim, o Pe. Georg Lachnitt, na Vigília Pascal, pôde administrar os sacramentos do Batismo e da Primeira Eucaristia a 22 jovens e mais 4 apenas a Primeira Eucaristia. A chuva tentou atrapalhar, pelo que a celebração foi realizada na capela local com muito aperto.
- Mestrado em Educação Indígena
No dia 30 de maio passado, o Pe. Luiz Silva Leal defendeu sua dissertação de Mestrado em Educação Indígena, com o tema "Classe etária Xavante e sua interferência na educação escolar", diante da Banca, composta pelo Dr. Antônio Brand, a Dr.a Edir Pina de Barros da UFMT, sob a orientação da Dr.a Adir Casaro Nascimento. Esta é uma nova contribuição significativa para a qualidade do ensino nas escolas indígenas das nossas presenças missionárias e mais amplamente. Ao novo Mestre o nosso reconhecimento pelo esforço durante sua permanência em Campo Grande, como diretor da Casa de Formação Instituto São Vicente!
- Concurso Específico para Professores de Ensino Básico em Escolas Indígenas de Mato Grosso
Os professores que desejarem prestar o Concurso Público para provimento de cargos e formação de cadastro de reserva para Professor da Educação Básica do Estado de Mato Grosso para atuação na modalidade de Educação Escolar Indígena, poderão se inscrever nos escritórios da Unemat nos pólos: Cuiabá, Barra do Garças e Juína.
O Edital do concurso - Edital N° 003/2006 -SAD/MT de 09 de maio de 2006, poderá ser acessado nos sites da Secretaria de Administração (http://www.sad.mt.gov.br) no site da UNEMAT(http://www.unemat. br). Caso o candidato não possa fazer pessoalmente a inscrição, deverá fazer uma procuração simples em nome de quem fará a inscrição por ele (não precisa registrar em cartório).
No ato de inscrição, o candidato ou candidata deverá apresentar uma carta de recomendação da comunidade indígena, atestada pelo representante da FUNAI, conforme anexo a esta mensagem.
Data da inscrição: 22 a 26 de maio de 2006; Confirmação das inscrições e divulgação dos locais de realização das provas: a partir de 02 de junho de 2006; Realização das provas: 11 de junho de 2006 (horário oficial de Mato Grosso);
Prazo para recurso contra o gabarito: 13 e 14 de junho de 2006;
Divulgação do gabarito oficial: a partir de 16 de junho de 2006;
Divulgação do desempenho geral dos candidatos: a partir de 19 de junho;
Prazo para recurso contra o desempenho do candidato: 20 e 21 de junho;
Resultado final: 26 de junho em diante.
Requisitos para inscrição:
- ser índio, pertencente a uma das etnias indígenas do estado de Mato Grosso;
- Diploma, devidamente registrado, de conclusão de curso de graduação de nível superior em Licenciatura Plena, habilitação em Educação Básica;
- Carta de recomendação da comunidade indígena a qual pertence, referendada pela Administração Executiva Regional da FUNAI.
- Divulgação dos Eliminados e Não-Eliminados do Concurso de Ensino Básico em Escolas Indígenas
Foi divulgada a lista dos candidatos que participaram do concurso acima e os respectivos resultados.
Destes serão efetivados os necessários para preencher as vagas disponíveis.
- Censo Xavante, segundo a FUNASA:
Polo Base Terra Indígena Aldeias População
1. São Marcos São Marcos 26 2.757
2. Campinápolis Parabubu 78 5.120
3. Água Boa P. Barbosa 08 1.255
Areões 13 1.033
4. Marãiwatsédé Marãiwatsédé 01 700
5. Paranatinga M. Rondon 08 495
6. Sangradouro Sangr.V.Grande 23 1.189
Total 157 12.549
Informativo da Funasa - Barra do Garças/MT - n. 1. - Maio de 2006, p. 1.
10. Agenda
- 26 de junho a 01 de julho: Curso de Agentes de Pastoral Xavante, na Casa de Encontro de Parabubure
- 04 a 12 de julho: Experiência Missionária com um grupo de Pré-Noviços SDB na região de Parabubure
- 09 a 17 de julho: Visita dos Noviços nas três Missões entre os Bororo e Xavante
- 15 a 16 de julho: Romaria dos Mártires em Ribeirão Cascalheira
- 17 a 21 de julho - Assembléia Regional do CIMI-MT, São Félix do Araguaia
- 06 a 08 de setembro: Reunião de Missionários e Missionárias da Região III das quatro paróquias entre os indígenas da Diocese de Barra do Garças, em São Pedro
- 12 e 13 de setembro: Encontro anual de Pastoral Indigenista do Paraná em Guarapuava PR
11. Videos Missionários
Os seguintes Videos de temas missionários podem ser encontrados nas Locadoras.
A Missão, Robert de Niro e Jeremy Irons, 2 horas
Hábito Negro. 1:35 horas
Romero - uma história verdadeira. John Duigan. 1:05 horas
Brincando nos Campos do Senhor. Hector Babenco. 3 horas.
A Floresta de Esmeraldas. John Boorman. 1:53 horas
O Curandeiro da Selva. Cinergi. 1:40 horas
Avaeté - semente de vingança. Zelito Viana. 1:10 horas
Gerônimo. Joseph Runningfox. 1:20 horas
12. Publicações Diversas
Folders:
Índios, Xavante 1, Xavante 2, Xavante 3, Xavante 4, Bororo 1, Bororo 2, Nambiquara. - Aldeias Xavante 2004, Aldeias Kaiowá e Guarani, Aldeias Terena-Kinikinaua-Aticum-Guató-Kamba-Kadiwéu-Ofayè Xavante.
Livros recentes do CDI:
TSAWE, Jerônimo. A'uwe na Rowatsu'u 1. Campo Grande, MSMT-UCDB, 2ª ed. 2004, 109 p.
TSAWE, Jerônimo. A'uwe na Rowatsu'u 2. Campo Grande, MSMT - UCDB, 2ª ed. 2004, 114 p.
HITSÉ, Xavante Rafael e outros. O Meu Mundo - Wahöimanadzé - Livro de Leitura. Campo Grande, MSMT-UCDB, 2ª ed. 2002, 107 p.
LACHNITT, Georg e TSI'RUI'A, Aquilino Tsere'ubu'õ (Coord.s). Ihöiba prédu 'rãti'i na'ratadzé - Iniciação Cristã de Adultos. Campo Grande, MSMT-UCDB. 2004, 71 p.
VV.AA. (Coord.) Romhurinhihötö Nhoré Waihu'uprãdzé - Cartilha de Leitura I. 2ª ed. Campo Grande, MSMT, 2004, 47 p.; MSMT-UCDB, 2004, 47 p.
VV.AA. (Coord.) Rowatsu'u Nhorédzé-Cartilha de Leitura II. 2ª ed. Campo Grande, MSMT, 12004, 106 p.; 2ª ed. MSMT-UCDB, 2004, 106 p.
LACHNITT, Georg. O Símbolo "Água" na Iniciação Cristã. Ed. prov. Campo Grande, MSMT-UCDB, 2004, 126 p.
LACHNITT, Georg. Estudando o Símbolo. Ed. prov. Campo Grande, MSMT-UCDB, 2004, 151 p.
LACHNITT, Georg. Ritos de Passagem do Povo Xavante - um estudo sistemático Ed. prov. Campo Grande, MSMT-UCDB, 2004, 155 p.
OBS: Eventuais pedidos sejam dirigidos ao CDI, com o endereço acima.
1Pastoral amazónica: Campo Grande 1988; Cumbayá 1993; Manaus 1999 Em contexto andino (Cumbayá 93), em contexto centro-americano (Ayutla 1994) Cumbayá 1999.
2Estas linhas orientadoras para a ação ajudam-nos a trabalhar opções que visam mais as prioridades do que as urgências:
1.- Habilitar-nos para a escuta e leitura na fé da realidade na experiência cotidiana de Deus, no exercício concreto do discernimento.
2.- Expressar a riqueza carismática do espírito de família na experiência da espiritualidade de comunhão, num estilo de animação corresponsável.
3.- Renovar o compromisso pela educação com a força profética do Sistema Preventivo na educação para a justiça e para a paz, nas opções audazes a favor da vida e da cultura da solidariedade, na valorrização da interculturalidade (Cf. Atas nn. 32 –38. A deliberação capitular n. 40).
3MEL. Macro Ecumenismo Latino-americano
4Este mistério evidencia a comunicação de Deus a partir de uma partilha em profundidade da experiência humana e expressa o rosto de um Deus radicalmente solidário (Cf. GS32 5 e Linhas Orientadoras da Missão, n. 36).