Study Days on The Salesian Mission
and the Initial Proclamation of Christ in Africa & Madagascar
Addis Ababa (Ethiopia), November 5 – 9, 2012
Primeiro Anúncio: Redescobrindo seu significado e relevância para a África
Fr. Alfred Maravilla, SDB
O que é impressionante na história da Igreja na África é o zelo apostólico dos primeiros missionários para anunciar Cristo àqueles que não eram cristãos. Na verdade, esse zelo para com o primo anúncio é o que torna a Igreja verdadeiramente missionária. É por isso que João Paulo II insistiu que este «tem um papel central e insubstituível» (João Paulo II, Redemptoris Missio, 44). Recentemente, o Papa Bento XVI também convidou a Igreja na África a «recuperar o ardor dos primórdios da evangelização do continente Africano» (Africae munus, 164). Parece necessário, portanto, redescobrir o significado e a relevância do anúncio inicial para a África hoje.
Observando as Escrituras
Primeiro anúncio é um termo essencialmente enraizado no Novo Testamento que nos mostra como os cristãos sentiram o dever de proclamar com ousadia que Jesus é Senhor e Salvador, mesmo em meio a perseguições (Atos 4-5). Na maioria dos casos, no entanto, a proclamação acontecia no contexto da vida cotidiana dos cristãos, testemunhando uma nova maneira de viver juntos (Atos 4,32).
O querigma foi uma resposta à memória de Jesus, cujo núcleo consistia em sua vida, ensinamentos e ressurreição. Este foi meditado, cuidadosamente formulado, proclamado, celebrado e vivido como testemunham vários textos encontradas no Novo Testamento (Mt 28,6; Mc 16, 6; Lc 24,6.34; Atos 2,24; 1 Ts 4,14). Inversamente, não pode haver qualquer querigma sem a narração da memória da pessoa e dos ensinamentos de Jesus Cristo. Esta narrativa querigmática é, na verdade, uma confluência da história de Jesus, a partilha de experiências de fé pessoal do narrador e as esperanças e expectativas de quem ouve e vive a busca humana de um significado para a vida. Quando estes convergem, se desenvolve uma relação entre o anunciador e o ouvinte que favorece a experiência da presença do Senhor, o que poderia despertar o interesse de conhecer mais a pessoa de Jesus, que, em última análise, poderia dar vida à fé (Rm 10,17), com sua consequente conversão radical, a metanoia, (At 5,31; 11,18) e compromisso de seguir e imitar Jesus (Fil 2,1-11).
O que é o primeiro anúncio?
Graças à apresentação de Ubaldo Montisci durante as Jornadas de Estudo sobre o primeiro anúncio de Cristo na Europa (2010), chegamos a um entendimento comum, que o primeiro anúncio é cronologicamente o primeiro passo no complexo processo de evangelização descrito pelo Evangelii Nuntiandi (n. 24) e pelo Diretório Geral para a Catequese (n. 47-49). Montisci ressaltou que, no processo de evangelização, o primeiro anúncio tem um papel decisivo, porque seu objetivo é despertar o interesse em conhecer a pessoa de Jesus Cristo, que finalmente leva à fé e a uma adesão inicial ou a uma revitalização da fé nele. Como tal, é o princípio e o fundamento do processo de evangelização.
Por isso, o Primeiro Anúncio é mais do que um método. Ele assume várias formas, dependendo da cultura, do contexto, do ritmo de vida e das situações sócio-históricas daqueles a quem é dirigido. É um convite gratuito e respeitos, no qual o interlocutor livremente decide de aceitar ou rejeitar tal convite; exemplificando, o encontro de Jesus com a mulher samaritana no poço de Jacó (Jo 4,3-42). Na verdade, nem uma escolha ética, nem um discurso doutrinário, nem uma apresentação argumentativa da fé é capaz de despertar o desejo de conhecer Jesus Cristo. Só «o encontro com um acontecimento, com uma Pessoa que dá vida a um novo horizonte e um rumo decisivo» (Bento XVI, Deus caritas est, 1) pode levar ao início do processo de evangelização.
O Primeiro anúncio é principalmente im estilo de vida de cada cristão e de toda a comunidade cristã, no contexto da vida diária. Assim, o testemunho de vida pessoal dos cristãos, da família cristã, o estilo de vida dos SDB e das FMA, das comunidades religiosas e de toda a comunidade cristã, bem como a imagem institucional e coletiva da Congregação e da Igreja em todos os seus eventos públicos são todas formas de um primeiro anúnico ou, infelizmente, um obstáculo para ele.
A quem é dirigido?
A apresentação Montisci ajudou-nos a identificar que o primeiro anúncio, por sua própria natureza, é dirigido principalmente 1) não apenas àqueles que não conhecem a Jesus Cristo (aqueles que não são cristãos), 2), mas também àqueles que, depois de tê-lo conhecido, o abandonaram, 3) àqueles que acreditam que já sabem o suficiente, vivem a sua fé de forma rotineira; 4) àqueles que buscam Alguém ou alguma coisa que eles sentem, mas não sabem dizer, 5) e àqueles que vivem uma vida privada de qualquer sentido. Desde então, estes pontos foram considerados centrais nas subsequentes Jornadas de Estudo.
Quando poderia ser feito?
O discernimento do momento certo e da forma mais adequada de fazer o primeiro anúncio são cruciais para a sua eficácia. Uma vez que é principalmente um estilo de vida, tem espaço em todos os momentos, oportunos e inoportunos (2 Tm 4,2), especialmente no contexto da vida cotidiana, bem como no contexto das expressões culturais de momentos importantes da existência humana. Deste modo, Montisci salientou que uma atenção especial deve ser dada ao que poderia ser denominado como atividade pastoral "tradicional" (celebração dos sacramentos, especialmente do batismo e do matrimônio, romarias, religiosidade popular), bem como a possibilidades e desafios oferecidos pelas novas fronteiras (migração por exemplo, contextos multiculturais e multirreligiosos), a novas situações provocadas por mudanças culturais (por exemplo, o individualismo, a fluidez, o secularismo). O que é importante é encontrar e criar ocasiões ou lugares de encontro, onde é possível sentir-se livre para falar sobre questões existenciais e religiosas e sentir que está sendo compreendido e ouvido.
Isto significa que o primeiro anúncio faz cada cristão estar em estado constante de missão, como um sentinela sempre pronto a dar razões de sua esperança (Africae munus 30) quando e onde o Espírito abre a porta e faz um breve, respeitoso e inteligível convite para conhecer Jesus Cristo e o seu Evangelho. A aceitação do primeiro anúncio, no entanto, não tem visibilidade formal, porque tem lugar nos recessos internos da consciência humana através da ação do Espírito Santo que trabalha em pessoas e culturas, como demonstrado pelo seu desejo inato «mesmo se inconsciente, de saber a verdade sobre Deus, sobre o homem e sobre o caminho que leva à libertação do pecado e da morte» (Redemptoris Missio 44).
Como é realizado?
O Primeiro anúncio exige que seja dada importância ao contato pessoal, ao relacionamento interpessoal e ao diálogo como etapas preparatórias. A insistência quanto ao «respeito e à estima» (Ecclesia in Africa 47, 66) destaca que o primeiro anúncio rejeita qualquer sombra de uma relação de coerção ou de conquista, de imposição ou proselitismo. Em vez disso, é pacientemente progressivo, porque leva a sério as realidades culturais, religiosas e sociais de cada pessoa bem como a sua receptividade e capacidade de assimilar o mistério da fé.
As possibilidades de primeiro anúncio são inumeráveis. No entanto, eu gostaria de apresentar para a nossa consideração três formas que mutuamente se completam que, na minha opinião, são relevantes para o nosso estudo destes dias: o testemunho de vida, o testemunho da ação e a narração de histórias.
1. O testemunho de vida
O testemunho de amor mútuo e sincero de cada cristão (Ecclesia in Africa 77), bem como o serviço da reconciliação, da justiça e da paz (Africae munus, 163) são indispensáveis para o primeiro anúncio. O testemunho é fundado sobre a atitude inicial de respeito e valorização dos valores humanos e religiosos de amigos e vizinhos que não conhecem Cristo. Isto, por sua vez, pressupõe que "o raio da verdade que ilumina todos» (Nostra Aetate 2) já está presente, mesmo que de forma oculta, nas suas culturas e tradições religiosas.
O testemunho de uma vida cristã autêntica, bem como o compromisso de amor cristão e serviço são o primeiro anúncio, porque eles são um constante convite e um desafio para a outra pessoa de entrar em si mesma de forma mais consciente, personalizada e profunda, o que poderia provocar perguntas existenciais.
2. O testemunho de ação
Qualquer forma de primeiro anúncio está intimamente ligado e acompanhado pelo serviço da reconciliação, da justiça e da paz (Africae munus, 15) expresso através da preocupação com os oprimidos, os marginalizados,d o cuidado para com os doentes e os que sofrem, da luta pela paz e justiça, e do compromisso com o desenvolvimento humano integral, a reconciliação e a construção de uma sociedade mais humana (Ecclesia in Africa 44-45, 68). O ato de primeiro anúncio também é em si e por si, um ato de caridade, porque o cristão desperta gratuitamente o interesse do "outro" a conhecer o melhor que ele pode oferecer, que é o conhecimento do amor de Deus em Cristo para todos. Isto, por sua vez, leva a um testemunho cristão de amor e serviço mais autêntico, especialmente através da presença e da atividade preferencial entre os pobres.
Estas várias formas de testemunho da ação (Ecclesia in Africa 21) promovem um diálogo de mente e coração, que se torna a base de um encontro humano duradouro, a fim de responder habilmente, com paciência e sabedoria, às necessidades daqueles que estão dispostos a serem conduzidos pelo Espírito na fé. Torna-se primeiro anúncio quando se transforma em uma comunicação da própria experiência do divino, que se expressa no compromisso com a libertação humana e o desenvolvimento, alcançado com a fé, a esperança e o amor que, por sua vez, são mediados pela oração.
3. Narração
A narração da história de Jesus e as parábolas que Ele usou são semelhantes ao estilo de histórias e folclores da África e Madagascar. Ao contrário de um anúncio direto que corre o risco de ser um monólogo culturalmente insensível e religiosamente desrespeitoso, contar histórias é uma pedagogia gradual e dialógica que possibilita compartilhar a fé cristã. O fato de poder narrar a alguém uma história implica uma relação pessoal e uma atitude receptiva já estabelecidas anteriormente. Contar histórias é, de fato, um diálogo entre o narrador e o ouvinte. Desenvolve-se no contexto da vida cotidiana e a sua rede de relacionamentos são os amigos e vizinhos, sem qualquer tentativa de forçar os ouvintes. Este narrar e narrar a história de Jesus e o nosso próprio caminho de fé, enquanto, ao mesmo tempo, permitimos enriquecer a nossa fé ouvindo atentamente o caminho de fé da outra pessoa, na sua própria cultura ou religião tradicional, aprofunda esta relação e a atitude receptiva entre narrador e ouvinte.
A narração torna-se primeiro anúncio quando o narrador narra sua própria experiência pessoal de Cristo ou outras experiências como codificada na história e entrelaçada com a busca de sentido para a vida dos ouvintes, que inspira-lhes esperança e força para enfrentar as suas lutas na vida diária. Através do Espírito Santo, que trabalha no fundo de cada consciência (Ecclesia in Africa 21), contar histórias pode provocar o surgir de questões existenciais que poderiam levar à revelação da verdade e dos valores profundamente almejados pelo coração humano e despertar o interesse pela pessoa de Jesus Cristo.
O testemunho de uma vida cristã autêntica, bem como o testemunho de ação tornam a história de Jesus e a própria experiência de fé transparente na vida do narrador e, portanto, mais credível.
Orientado para o Catecumenato
Sem o primeiro anúncio, seguido pela conversão e pela fé pessoal, a catequese corre o risco de se tornar estéril. Este é, portanto, indispensável. O primeiro anúncio é apenas o início do processo de evangelização, é orientado para a próxima fase, a opção por iniciar um caminho de iniciação cristã ou catecumenato - ou re-iniciação para os cristãos distantes - que leva ao batismo e, em última instância, ao compromisso de viver a fé cristã e compartilhá-la com os outros.
Nossa tarefa
Estamos aqui para refletir e discutir em conjunto, a fim de chegar a uma compreensão mais profunda dos desafios e descobrir novas idéias e perspectivas sobre o primeiro anúncio. Com o coração missionário de Dom Bosco buscamos modos de suscitar o interesse por Jesus Cristo nos africanos que não o conhecem, bem como naqueles que se tornaram insípidos na fé. Mas o zelo missionário de Dom Bosco também abre nossos olhos para os mais de 25 milhões de chineses que vivem na região, muitos dos quais não conhecem a Cristo. No entanto, aqui temos todas as possibilidades - que a Igreja na China não tem - para fazer o primeiro anúncio pelo menos entre os jovens chineses que vêm aos nossos centros e oratórios! Certamente, redescobrir o significado e a relevância do primeiro anúncio é uma expressão importante da Da mihi animas na África de hoje!