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A passagem da fase de infância/adolescência para a da juventude não acontece como uma
ruptura, mas é continuidade do crescimento de uma pessoa.
O jovem cada vez mais assume responsabilidades pelas atividades masculinas: pescar, fazer
roça, participar da vida comunitária etc. Assim demonstra seu crescimento e amadurecimento. Ele se
capacita para viver bem consigo mesmo e com outros através do domínio de diversas atividades.
Aprende a interagir com as pessoas de sua comunidade nas festas, jovens, trabalho... Aprende o valor
do casamento: como tratar bem a mulher e o que deve ser evitado; como sustentar a sua mulher, como
tratar os sogros, cunhados e parentes da sua mulher, como se comportar como homem casado, como
participar da comunitária, como viver com os filhos, como tratar a sua mulher durante a festa, etc.
A jovem é preparada para o casamento. Com o casamento ela deixa a sua família e seus
parentes. Durante a educação familiar adquire o domínio do mundo do trabalho (indígena): queimar a
roça, cuidar do plantio, conhecer os diversos tipos de pé de maniva ou mandioca brava; da utilização
das ervas medicinais, escolha de fruteiras, das técnicas de cultivo da roça; preparação do mingau, beiju
e a quinhapira; dos segredos familiares sobre o trabalho; segredos da vida feminina; técnicas de ralar
mandioca, preparar a manicoera, o caxiri, a farinha, preparar o peixe e caça. A mãe, o pai, as tias, avós e
os parentes a educam, acompanham, avaliam o crescimento e amadurecimento dos filhos e filhas,
dentro do ritmo de trabalho, convivência com as pessoas etc.
As características principais das juventudes indígenas são: disponibilidade para diversas
atividades, coragem, alegria, esperteza, superação. Essas qualidades os jovens conquistam com
empenho pessoal, seguimento das disciplinas exigidas pelos pais, etc. Para a construção dessa vida
juvenil estão presentes muitos educadores interagindo: os pais, irmãos, irmãs, tios, tias, avó, avô,
parentes, etc. As pessoas adultas são responsáveis pela educação, acompanham como eles falam e
fazem; como tratam as pessoas e as coisas; corrigem quando algo está errado, etc.
Eu destaco a importância dos velhos sábios. Diariamente fortalecem a vida e cultura do povo
com suas conversas, trabalhos, ensinamentos... Sentam-se na casa de ancião-mestre de danças e
cerimônias, para conversar; ali ficam até altas horas da noite. Nestas conversas narram histórias dos
antepassados, histórias da vida e do mundo (geográfico, mítico, religioso, político etc.); fazem
previsões do futuro do povo. No final, fazem o discurso de conclusão do dia e anunciam o novo dia que
virá. Depois, cada ancião medita deitado em sua rede.
Os anciãos faziam jejum, a abstinência de certos alimentos para cultivar a sabedoria, saúde
etc. Assim, desabrochava neles a capacidade de aprender cantos, danças, benzimentos, discursos etc. O
ipadu (pó da folha de coca), elemento importante dos rituais e cerimônias, tem um lugar e sentido
mitológico. Os anciãos sábios são guardiões dos saberes de cada povo. Transmitem saberes para as
pessoas conforme a fase de crescimento da pessoa. Eles mantêm segurança, equilíbrio e harmonia;
ajudam unidos os membros de uma comunidade; protegem as vidas e curam as doenças.
As práticas educativas acontecem no ritmo da vida e todos os momentos. Porém, destaco
alguns espaços importantes para os indígenas de nossa região.
A Casa é o espaço da explicação sobre os sentidos da vida, trabalho, casamento, convivência
com as pessoas. Os pais, irmãos, tias, tios, avós, mostram como praticar os saberes dos pais e do povo;
respeitar os outros; serem bons com os parentes e amigos; partilhar a comida; convidar/participar de
diversos momentos da vida: jogos, trabalhos... acolher/cumprimentar as pessoas em casa e fora;
aprender/viver a obediência aos pais, aos líderes.
A Roça é uma das práticas mais importante da nossa vida. Ter roça significa ter dignidade, ser
respeitado... Os pais e mães assumem com muita responsabilidade o trabalho de ensinar a trabalhar na
roça. O pai ensina ao filho a fazer a roça e ensina a conhecer tipos de terrenos etc. A mãe ensina para a
filha a fazer o beiju, quinhapira, mingau e farinha; a cozinhar peixe e caça; plantar fruteiras, cuidar da
roça e cuidar das crianças. Assim a menina aprende a trabalhar com outras pessoas, a ser criativa nas
diversas atividades, etc.