Indio Tuyuka cuenta


Indio Tuyuka cuenta

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Pe. JUSTINO SARMENTO REZENDE
ÍNDIO TUYUKA
CONTA SUAS HISTÓRIAS
APOIO:
INSPETORIA SALESIANA MISSIONÁRIA DA AMAZÔNIA – ISMA
Missão Salesiana de Marauiá
ANO: 2010

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SUMÁRIO
Sumário ...............................................................................................................................................................................2
Participantes ........................................................................................................................................................................3
ÍNDIO TUYUKA CONTA SUAS HISTÓRIAS ......................................................................................................................4
Tema 1: EDUCAÇÃO ..........................................................................................................................................................6
1. Todos os povos possuem seus modos de educar ................................................................................................6
2. Os modos de educar se modificam ao longo da história .......................................................................................6
3. A história é construção humana, por isso, ela também é modificada ...................................................................7
4. Fundamentos da educação ...................................................................................................................................8
a) Quem somos nós? = IDENTIDADE; Quem não somos nós? = DIFERENÇAS .............................................8
b) Cada povo surge em algum momento da história .........................................................................................8
c) Cada povo sabe explicar o significado de ser homem e ser mulher ..............................................................9
d) Educar significa ensinar uma pessoa a viver bem sendo homem e sendo mulher .......................................9
e) ENSINAVAM: Mostrando-Vivendo-Falando; APRENDIAM: Vendo-Praticando-Ouvindo ..............................9
f) Conteúdos ....................................................................................................................................................10
1. Conhecimentos Fundamentais ..............................................................................................................10
2. Outros Conhecimentos: Tipos de trabalho, Caça, Pesca... ..................................................................10
g) Educadores ..................................................................................................................................................10
1. Família: pai, mãe, avô, avó, tios, tias... .................................................................................................10
2. Comunidade: parentes, primos .............................................................................................................11
3. Tuxauas, Caciques, Pajés, Mestres de Cantos-Danças, Narradores de História..................................11
h) Espaços: Casa-Família, Comunidade; Roça, Pesca, Caça... Festas: preparação, realização....................12
i) Acompanhamento: mostrar, falar, ver, aprovar, corrigir, exigir.....................................................................13
j) Passagem para a vida adulta: Responsabilidade, Trabalho, Casamento, Educação; Serviços: liderança...
......................................................................................................................................................................14
5. A Educação dura a vida toda! Continuamente aprendemos, ensinamos, descobrimos, criamos, renovamos,
repensamos, reconstruímos... .............................................................................................................................14
6. Educação – origem da palavra ............................................................................................................................14
7. Educador .............................................................................................................................................................15
Tema 2: CULTURAS .........................................................................................................................................................17
1. Culturas são construções históricas ....................................................................................................................17
2. Cada UM = EU constrói sua história ...................................................................................................................18
3. Culturas são modos de ser ..................................................................................................................................19
4. Culturas são modos de pensar ............................................................................................................................20
5. Culturas são modos de fazer ...............................................................................................................................21
Tema 3: ESCOLA .............................................................................................................................................................22
Tema 4: PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO ................................................................................................................25
Anexo: ...............................................................................................................................................................................27
1. Nós queremos escola! Visão Yanomami: Alunos do magistério, AIS, 6º e 7º ano e outros alunos ....................27
2. Onde queremos chegar com a escola? Visão Yanomami: Alunos do magistério, AIS, 6º e 7º e alunos ............29
3. Como deveria ser escola entre nós? – Visão dos Tuxauas e Caciques .............................................................30
4. Para onde estamos levando nossos alunos? Visão de atuais professores não-Yanomami ...............................32

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PARTICIPANTES
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XAPONO POHORO
Período: 18 – 20/05/2010
Assessoria: Pe. Justino Sarmento Rezende1
Professores: Arilson Silva da Costa, Cesário Crescêncio dos Santos, Josué Brazão Brandão e Maria Rocio Neto
Marinho.
Alunos do Magistério: Edinho, Ribamar, Argemiro, Aroldo, Serra, Romeu, Gilson, Ari, Jonas e Arnaldo
XAPONO KOMIXIWË
Período: 31/05 – 04/06/2010
Assessoria: Pe. Justino Sarmento Rezende
Salesianos: Ir. Joel Brazão, Ir. Steyve Dayve Souza da Silva.
Professores: Carlos Trindade, Francisca Sampaio; também participaram os professores em passagem: Adriano
Sarmento (Balaio) e Maria Rocio Neto Marinho (Pohoro).
Alunos do Magistério: Paulo, Aureliano, Ferreira, Jânio, Moraes, Luciano
Tuxauas: Bernardo, Joaquim, Valdir
Alunos do 6º e 7º ano: Lanilson, Romério, Ladário, Clara. Olívia, Clarissa, Dionísio, Samia, Norimar, Bianca, Tarcísio,
Almiro, Soriano, Hector, Carlos, Francisco, Lucas e Sirene, Atila, Nissa, Fernando, Almir e Dedé
AIS: Zegadilha e Emílio
XAPONO TABULEIRO
Periodo: 07 – 11/06/2010
Assessoria: Pe. Justino Sarmento Rezende
Professores: Marciano Pascoal e Nicelino Fernandes.
Alunos do Magistério: Samuel, Tarciana, Wagner, Toninho, Nilton, Ezequiel.
Tuxauas: Tiago, Mariano, Brasil; Lelis, Nino, Ivanildo, Nicolau, Osmar (alguns destes são alunos)
AIS: Lourenço
Alunos: Deuseanira, Moisés, Justino, Gilberto, Carlos, João, Kiara, Junior, Marli. Reginaldo, Morais, Evandro, Lívio,
Gulli, Horácio, Sandro, Zenaide, Patrícia, Juscelino. Deise, Edson, Constância, Valdemar, Miqueias, Bira, Edimundo.
XAPONO BALAIO
Período: 12 – 15/07/2010
Assessoria: Pe. Justino Sarmento Rezende
Professores: Eleazar de Jesus Veiga Rodrigues.
Alunos do Magistério: Modesto Yanomami Xamatari Amaroko, Odorico Yanomami Xamatari Hayata.
Alunos: Soriano, Jânio, Everaldo, Nelson, Jerson, Robson, Atílio (sobrenome para todos é: Yanomami); Alcinei,
Artemisia, Augostinho, Onofre, Claudinei, Brasileiro, Abel.
Tuxauas/Caciques: Marcelino, Amilton, Davi, Claudio, Deri, Laurita, Celina, Rui, Lucinete, Marlucia, Milceia, Lito;
Inácio, Leonardo, Maurício, Iara, Manuel, Telma, Bernardo.
1 O autor é indígena Tuyuka. É sacerdote salesiano desde 1994. É Mestre em Educação [16/02/2007] pela Universidade Católica
Dom Bosco (UCDB), Campo Grande – MS [Área de concentração: Educação Escolar e Formação de Professores; Linha de
pesquisa 3: Diversidade cultural e educação indígena].

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ÍNDIO TUYUKA
CONTA SUAS HISTÓRIAS
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Contar e Recontar as histórias faz parte do método pedagógico de diversos povos em suas práticas
educativas. O povo Tuyuka utiliza com muito proveito este método pedagógico na educação de seus filhos e netos. Eu
também o utilizo bastante! Nos encontros que realizamos utilizei muito este método: contar e recontar as histórias.
Eu estou aqui, entre o povo Yanomami, no rio Marauiá e afluentes. Como eu cheguei aqui? Com certeza eu
não cheguei aqui porque eu sou Tuyuka nem porque eu escolhi vir para cá. Cheguei aqui porque conheci Jesus Cristo.
Por causa d’Ele um dia pensei em me tornar padre. Antes de tornar-me padre, tornei-me salesiano.
Desde que soube que viria para cá várias vezes fiquei pensando como seriam essas realidades. Como eu
poderia SER no meio deste povo, numa cultura diferente da minha? Talvez fosse minha racionalização porque eu já
havia convivido com muitos outros povos. Eu sei que humanamente eu não estava disposto a assumir essa realidade. A
minha vida religiosa salesiana e sacerdotal é que proporcionou este momento novo.
A presença salesiana nesta região começou no início da década de 1960. Diferentes salesianos passaram
por aqui e junto com eles vários colaboradores, voluntários, funcionários, indígenas e não-indígenas. Muitos saberes
foram semeados nos corações e nas mentes do povo Yanomami. As sementes semeadas geralmente ao seu tempo e
no momento certo brotam, crescem e dão frutos. No atual momento estamos colhendo os frutos.
Atualmente os salesianos, os professores e demais funcionários atuam em quatro Xaponos [Tabuleiro,
Komixiwë, Balaio e Pohoro]. Nós também estamos aqui para contribuir com a construção histórica do povo Yanomami.
Aconteceram muitas mudanças entre o povo Yanomami e eles expressam inúmeras necessidades materiais
e de saberes. A nossa atual tarefa deve ser de: orientar, acompanhar, assessorar e facilitar a caminhada deste povo.
Enfim, devemos repensar a nossa própria história salesiana para desconstruir e construir nossas ações.
A educação escolar que foi implantada nesta região, habitat do povo Yanomami, foi muito diferente do alto rio
Negro, por exemplo, Taracuá, Iauareté e Pari-Cachoeira, onde se construíram grandes colégios, oficinas, hospitais...
Aqui as residências salesianas onde servem também como hospedagem aos professores e funcionários, são bem
precárias; nestes espaços os professores exercem sua profissão e não dispõem de espaços adequados e suficientes
para ensinar.
Os Yanomami, hoje, começam estudar muito cedo. São visíveis as dificuldades que professores demonstram
no processo de ensino-aprendizagem. A primeira dificuldade é compreensão e utilização da língua yanomami. Os
alunos sentem muita dificuldade de compreender a língua portuguesa que o professor não-Yanomami utiliza. Os
monitores (alunos do curso de magistério indígena) procuram intermediar e facilitar este processo.
A presença salesiana e de outras agências provocaram muitas mudanças nas práticas culturais deste povo.
E, até criaram muitas dependências. Nos casos específicos dos Xaponos que atendemos, para quase todos os
problemas os salesianos são chamados para negociar a solução dos problemas que surgem [mudanças de Xaponos,
brigas (ferimentos, óbitos...)].
A influência religiosa cristã-católica na vida do Yanomami é bem forte. Têm razão os estudiosos quando
dizem que o primeiro modo de evangelização é feito através da presença [testemunho]. Os salesianos fazem isso há
quase cinquenta anos. Nestes anos não receberam nenhum sacramento da Igreja. Eu percebo que os Yanomami
gostam de “estar” na missa e gostam de cantar, principalmente, os jovens, adolescentes e crianças. Em alguns
Xaponos, os velhos participam mais e em outros, menos.
Outra realidade bem visível como uma última novidade acontece no campo da educação escolar: cursos
ministrados para algumas séries (6º e 7º Ano) através da Mídia – via internet – Projeto Igarité (Curso Tecnológico).
Através destes meios os mesmos conteúdos transmitidos para diferentes alunos de alguns estados brasileiros os
alunos Yanomami aprendem. Assim colocam sob rasura as decisões da Constituição da República Federativa do
Brasil/1988 que, pela primeira vez na história do Brasil, traçava um quadro jurídico novo para a regulamentação das
relações do Estado com as sociedades indígenas; rompia com a prática integracionista de cinco séculos; artigo 321 da
Constituição dizia: são reconhecidos aos índios a sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os
direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer
respeitar os seus bens. O artigo 210, § 2º assegurava às comunidades indígenas, no ensino fundamental regular, o uso

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das línguas maternas e processos próprios de aprendizagem; garantia a prática do ensino bilíngüe. O artigo 215, § 1º
garantia como dever do Estado a proteção das manifestações culturais indígenas. A Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional (nº 9394/96) garantia aos povos indígenas a oferta de educação escolar intercultural e bilíngüe.
Paralelo a este quadro a própria SEDUC/AM promove com um grupo de Yanomami o Curso de Magistério
Indígena para prepará-los e, assim assumirem o processo educativo escolar de seus parentes. A maioria deles ajuda os
professores titulares como monitores. A língua yanomami é um instrumento importante de transmissão de saberes
ocidentais para seus parentes. Traduzem o que eles conseguem entender.
São realidades que nos ajudam a reorganizar os nossos programas educativos de maneira a responder e
prepará-lo para conviverem adequadamente com as exigências dos próprios Xaponos e com relacionamentos que
estabelecem com o entorno.
Chegando nesta região [abril/2010ss.] eu visitei os Yanomami em quatro Xaponos. Comecei pelo Xapono
Pohoro, Komixiwë, Tabuleiro e por último, Balaio. Nestes Xaponos e, principalmente, aos participantes e encontros
formativos eu contava e recontava as minhas histórias e histórias de outros povos para mostrar que as nossas culturas
são construções históricas; mostrar que eles já construíram muitas ações diferentes das de seus pais; mostrar que eles
podem construir novas práticas culturais que favoreçam o crescimento da dignidade da vida Yanomami; mostrava-lhes
que a educação escolar é também uma construção histórica; por fim, comecei a refletir sobre como eles imaginam que
deveria ser uma escola presente no meio deles. É apenas um começo. Mas coloco como anexo os resultados dos
primeiros trabalhos.
As visitas funcionavam assim:
1. A minha (Pe. Justino) estadia em cada Xapono durava de seis (6) a oito (8) dias no máximo.
2. Os estudos feitos duravam de três (3) a cinco (5) dias, dependendo da organização do Xapono.
Estudamos de manhã e à tarde. Pelas 16h30min os jovens jogam futebol e em alguns lugares, voleibol.
Na hora do esporte em alguns dias eu visito as pessoas que ficam no Xapono que não vêm para os
estudos nem para missa. Geralmente, as encontro trabalhando com mandioca, comendo, tecendo
cestos, deitados; os homens cheiram paricá... E, algumas crianças sempre andam comigo.
3. Às 19:00h costumamos celebrar a missa. As crianças, adolescentes e jovens são os que participam
mais. E, gostam de cantar e animadamente.
4. Os participantes de nossos estudos são: tuxauas, caciques e outros senhores (as); alunos do curso de
magistério indígena; professores; alunos do 6º e 7º anos. Como os professores participam dos estudos
temáticos, as crianças ficam dispensadas das aulas naqueles dias. A princípio eu privilegiava a formação
apenas dos professores e alunos do magistério. Ao longo dos trabalhos vi que era importante ampliar a
participação.
5. Nos estudos temáticos eu explico os temas contando as experiências da minha vida e da caminhada de
outros povos indígenas; conto como outros povos constroem suas histórias. Aproveito dos alunos do
magistério para que aproveitem para aprender a falar em público. Cada dia, um dos alunos do Magistério
é escolhido por mim para ser tradutor. Alguns deles têm muita facilidade para falar e outros menos.
6. Em alguns Xaponos, como, Komixiwë e Balaio, concluímos com uma manhã ou tarde cultural. Onde
todos os participantes e os moradores do Xapono participam. Maioria dos professores participa, mas há
quem não se entrosa com estas atividades. Os salesianos também participam. Eu, pessoalmente, como
incentivador da valorização de nossas riquezas culturais sempre participo. Gosto muito, pois é um
momento de interação cultural. Os Yanomami promovem suas danças e eu, também lhes ensino outros
ritmos que eu sei de nossa cultura tuyuka, tukano etc.
Os conteúdos de minhas histórias e histórias de outros povos encontram-se nos temas organizados a seguir.
Os temas servirão como leituras complementares aos participantes de estudos e aos demais leitores interessados. São
quatro temas: 1. Educação. 2. Culturas. 3. Escola. 4. Projeto Político-Pedagógico. Anexo: Perguntas e Respostas dos
participantes.
Bom proveito!

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TEMA 1: EDUCAÇÃO
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Meus caros professores, alunos do Magistério, Tuxauas e participantes, o primeiro tema que eu escolhi para
partilhar com vocês foi o tema sobre a EDUCAÇÃO. Escolhi porque entendo que é importante estudar este tema para
poder entender o que seja Projeto Político-Pedagógico. Por outra parte este tema está presente em todos os povos.
Organizei os temas de forma bem simples para facilitar a compreensão e aprofundamento.
1. TODOS os POVOS possuem seus MODOS de EDUCAR
É um tema importante porque todos nós temos necessidade de entender a importância desta ideia. Em
diversos momentos da história humana se afirmaram que apenas alguns povos possuíam modos de educar. E, nós
indígenas ao longo da história fomos vistos como incapazes de construir uma história, uma educação.
Todos os POVOS participam da raça humana. Neste sentido somos todos iguais. Porém, cada povo é
específico, é ele mesmo; por isso, cada povo é diferente de outros povos.
Vejamos: Nós INDÍGENAS pertencemos a uma raça: INDÍGENA. Embora sejamos assim, cada povo
indígena é único, é diferente de outros povos indígenas. Exemplo: Eu sou Tuyuka e não sou Yanomami. Vocês são
Yanomami, mas não são Tuyuka, Tukano etc.
Cada povo ao longo da história vai construindo e organizando seus saberes e práticas culturais para
transmitir, contar e recontar para seus filhos e netos. Quando não entendemos bem essa realidade podemos pensar
que só os outros possuem modos de ensinar, educar... Poderíamos até pensar que nós somos necessitados e ficar só
esperando para receber dos outros que nós consideramos melhores e possuidores de saberes e conhecimentos.
Vocês meus parentes e eu somos possuidores de muitos conhecimentos, possuidores de maneiras próprias
para transmitir os nossos conhecimentos... E, isso seus avôs e meus avôs já vinham fazendo há muitos séculos. E, nós
indígenas atuais possuímos nossos modos próprios para ensinar, aprender e viver. Toda essa sabedoria que sustentou
a história de cada povo.
Cada um de nós que está aqui, seja professor, aluno, tuxaua, cacique; homem, mulher, criança, jovem; mãe,
pai; padre etc., deve assumir a sua história e trabalhar para contribuir para que a nossa história seja história muito boa.
E nós podemos fazer uma boa história! Vamos trabalhar!
2. Os MODOS de EDUCAR se MODIFICAM ao longo da HISTÓRIA
Parentes, aqui está mais uma ideia muito interessante! Eu gosto demais dessa ideia, pois ela nos ajuda a
compreender que nós pessoas humanas a cada momento estamos aprendendo coisas novas, continuamos praticando
alguns saberes de nossos avôs; recriamos outros saberes, damos novos sentidos, nunca permanecemos do mesmo
modo.
Os nossos modos (ou maneiras, jeito de ser, fazer...) de educar, isto é, de ensinar, aprender e viver se
transformam ao longo da construção de nossa história. Todos os povos passam por esse dinamismo da história. Os
meus parentes Tuyuka hoje vivem a sua vida, de maneira diferente de como viviam os nossos avôs. Ideia interessante
é de que mudam os nossos modos de vida, mas continuamos sendo Tuyuka. E, vocês Yanomami continuarão sendo
Yanomami, mesmo mudando muitas coisas em vossas vidas e na vossa cultura.
Se entendermos bem a ideia e a mensagem que ela traz nós vamos ficar muito alegres, pois ela nos aponta
para muitas possibilidades novas. Muitas vezes ficamos brigando e nos desentendendo por causa de ideias que não
têm nada que ver com a nossa vida atual, nossa história atual. Queremos viver de um jeito velho numa situação nova;
continuar insistindo com ideias velhas enquanto já é hora de pensar diferente porque a história de hoje é nova, as
pessoas são diferentes.
Os Yanomami destes Xaponos, também possuem longas histórias. Se vocês fizerem leituras de suas
histórias encontrarão muitas mudanças em vossas práticas culturais, modos de pensar, fazer... Eu vi, por exemplo, que
muitos de vocês já estudam na escola; têm professores para ensinar... É algo que seus antepassados não tiveram.

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Hoje vocês falam a língua portuguesa e os antepassados não falavam esta língua. Hoje vocês se alimentam de arroz,
bolachas, tomam mingau de aveia, colocam açúcar no suco... Muitas coisas vocês aprenderam ao longo da história.
Vossos filhos e netos não serão mais como vocês são hoje. Serão bem diferentes. Assim vemos que a história é de
acordo como nós seres humanos vivemos, transformamos a natureza...
Nós pessoas humanas vivemos um tempo nessa história. Cada pessoa é única no mundo. Exemplo: Justino
Sarmento Rezende existe só este no mundo. Pode ser que surja outro com o mesmo nome, mas não será este Justino.
A mesma realidade acontece com você. Você Tuxaua, Agente de saúde, aluno do magistério, professor você é único no
mundo. Se hoje você assume para valer o seu trabalho é você que faz e ninguém vai fazer por você.
É por sermos assim que os modos de educar variam demais. Cada pessoa possui jeito próprio e especial
para educar. Cada um tem seu jeito. E, deve ser assim. Quando nós queremos ser iguais aos outros nós sofremos,
sentimos incapazes, derrotados, medrosos, inseguros... Sofremos porque não conseguimos ser como outros. Algumas
vezes aprendemos o modo como o outro trabalha, fala..., mas ao fazer já não é mais o outro. Sou eu que faço do meu
jeito o que o outro faz. Eu vejo isso como uma riqueza muito grande. Ninguém é cópia do outro, somos originais.
Vamos para frente!
3. A HISTÓRIA é CONSTRUÇÃO HUMANA, por isso, ela também é MODIFICADA.
Meus parentes, nós vamos aprofundando as nossas histórias. O que são as histórias? Tudo aquilo que nós
seres humanos somos, pensamos e realizamos fica registrado na nossa memória pessoal e coletiva (comunitária).
Os seres humanos desde que existem realizaram muitas coisas boas e também coisas negativas. Todas
estas realidades foram sendo transmitidas para seus filhos e netos.
Todos os povos utilizaram a NARRAÇÃO (contar e recontar; ouvir e repassar) para transmitir suas histórias.
Muitos estudiosos falam de ORALIDADE para dizer que os nossos antepassados só utilizavam da voz para transmitir os
conhecimentos, saberes, músicas etc. E, outros ouviam, aprendiam e voltavam a transmitir ORALMENTE. Até cem
anos atrás os povos indígenas da região do rio Negro estavam nesta etapa histórica. Quando a escola chegou é que
nos ensinou a escrever. E, hoje já podemos escrever as nossas histórias em cadernos, no computador, filmadoras,
câmeras digitais etc.
Muito tempo depois da existência humana, o próprio homem inventou a maneira de registrar suas histórias
através de desenhos, símbolos... E, com o caminhar da história criaram-se símbolos organizados com os quais
começaram a escrever suas histórias. Aqui na nossa região do rio Negro, em muitas pedras existem desenhos que os
antepassados rabiscavam. Assim eles transmitiam mensagens importantes para os seus irmãos, parentes... Queriam
dizer algo para seus inimigos. Nós povos indígenas éramos muito briguentos. Por isso, vocês meus parentes Yanomami
gostam de brigar, também. Está na hora de perguntar: é importante brigar? É gostoso levar cacetada do outro? Se isso
existia no passado, é importante continuar hoje? Nós queremos isso? Se vocês gostam de apanhar e sentir dores,
continuem brigando! Minha sugestão é que parassem! É apenas uma sugestão!
Meus parentes, de maneira bem simples a história é tudo aquilo que já está no passado, As nossas histórias
estão bem ligadas às pessoas, pois são elas que constroem suas histórias. Nenhum homem e nenhuma mulher querem
continuar do mesmo jeito para sempre; todos querem descobrir novos sentidos para a vida e viver de modo diferente;
costurar e tecer uma história diferente.
Vocês meus parentes olhem para aquilo que vocês são hoje e perguntem: como viviam os nossos
antepassados? Os mais velhos podem contar para vocês suas histórias, como eles viviam. Eles vão contar para vocês
como as coisas foram se modificando. Eles até podem dizer para vocês nomes de pessoas que ajudaram a realizar tais
modificações. Chegando mais próximo de nós, você pode voltar a dez anos atrás e olhar como você era. O que já
mudou em você e no seu Xapono? O que você já fez para mudar sua história, história de seu povo?
Veja por exemplo: os salesianos chegaram aqui há 49 anos. Após sua chegada aconteceram muitas
mudanças entre vocês. Aconteceram coisas que vocês quiseram e outras que vocês não queriam, mas aconteceram.
Essas coisas fazem parte da história de vocês.
Assim vemos que os homens e as mulheres são construtores da história. Tudo aquilo que nós falamos,
fazemos e até mesmo aquilo que nós somos (sem falar, em silêncio) mexe com as pessoas, transforma as realidades
sociais.

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Eu, por exemplo, fico imaginando que depois de passar com vocês não serei o mesmo, pois terei aprendido
muitas coisas com vocês, com a cultura de vocês. E, por outro lado, o tempo em que eu permanecer aqui, a minha
presença, minha fala, meu agir vão influenciar na construção da história de vocês.
Diante de tudo isso, ninguém deve ter medo. Devemos assumir e aceitar as coisas boas. Vocês, meus
parentes, se quiserem acelerar a história de vocês de forma diferente podem fazer. Se quiserem ir mais devagar,
podem. É importante, saber também que têm realidades que não esperam por nossas decisões, elas chegam para
transformar. Exemplo: chegou aqui o curso tecnológico – via internet; vocês percebem que ele é rápido; você estando
aqui numa sala tem contato com outros alunos em diversos lugares do estado do Amazonas. Essa realidade é história
de vocês, não adianta negar, apagar.
4. FUNDAMENTOS da EDUCAÇÃO
Meus parentes Yanomami e não-Yanomami os estudos nos ajudam a descobrir novas realidades. Quando eu
estou falando com vocês, partilhando da minha vida, da minha história, da minha vida de estudante estou mostrando
para vocês que todos podem aprender e aprender muitas coisas e depois ensinar muitas coisas para muitas pessoas.
Isso é muito bonito! Todas as pessoas fazem isso. É próprio do ser humano ensinar, aprender e viver. Nós temos
muitas capacidades dentro de nós, temos muita inteligência, temos muitas habilidades. Nem sempre sabemos usar
tudo. Usamos algumas. Através da educação é que podemos aprender mais. E, esse tema que estamos começando a
aprofundar é muito importante.
a) QUEM SOMOS NÓS? = IDENTIDADE; QUEM NÃO SOMOS NÓS? = DIFERENÇAS
Meus caros professores, alunos do magistério, tuxauas e demais alunos participantes, estas pequenas
reflexões que estou fazendo com vocês são interessantes. Elas ajudam a ver a nós mesmos, entender quem somos
nós e quem não somos nós. Um dos melhores estudos que deveríamos fazer seria este mesmo: conhecer a nós
mesmos para conhecer melhor os outros.
A nossa vida pessoal teve início um dia. Vamos lembrar quando nós estávamos no ventre de nossa mãe.
Vivíamos sozinhos. Era EU único. Estou falando de mim. Há casos em que acontece a gravidez de dois, três e até mais
filhos. No meu caso, comecei a viver sozinho: EU. Quando nasci o meu avô me deu o nome de D™po. E,
posteriormente no dia do Batismo me deram o nome de Justino. Seja como for cada indivíduo é único, como já
dissemos, anteriormente.
Quando eu me afirmo como Justino estou me diferenciando do outro. Quando eu digo que sou Tuyuka estou
dizendo que não sou Yanomami ou outros. Quando eu digo que sou homem estou afirmando que não sou mulher. Por
isso, à nossa identidade acompanha a diferença.
Por isso, a sociedade não-indígena criou documentos de identificação para diferenciar-se de outros. Eu tenho
os meus documentos, também. Vocês moradores do Xapono devem começar adquirir os documentos. É importante.
b) Cada POVO SURGE em algum MOMENTO da HISTÓRIA:
Assim como o indivíduo é único assim também cada povo é único. Cada povo surgiu num determinado
momento da história. Não saberíamos dizer exatamente quando isso aconteceu. Mas surgimos e estamos aqui.
Donde viemos?
Cada povo narra para os seus membros as suas origens. Esta narração é feita através da história, mitos,
danças, músicas... Estou falando das narrações mitológicas do surgimento do povo. Neste caso não é muito válido os
dados cronológicos.
Cada povo sabe fazer certa retrospectiva da história. Cada narrador possui sua própria versão. E, ela é
verdadeira conforme a crença grupal.
Muitas vezes outros povos também conhecem a nossa história. Eles podem discordar e/ou confirmar com
nossas histórias. Por isso, que entre os nossos antepassados existiam homens especializados e autorizados para falar,

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cantar e dançar em cima destes acontecimentos antigos: mestres de cantos-danças; mestres de cerimônias, ritos;
entoadores de mitos etc.
Por onde já passamos?
Todos os povos passam a viver por diversos lugares de acordo com as necessidades, perigos, fugas... Os
Tuyuka, por exemplo, antes chegar onde estão agora já passaram por diversos lugares geográficos. Muitas vezes um
povo reivindica os lugares por onde passou como lugares de origem, porém, antes dele outros povos também já
passaram por aqueles lugares. Estes lugares acabam sendo lugares que hospedaram muitos povos em passagem. E, a
terra nunca negou quem nela quisesse habitar. Os seres humanos que brigam pela terra.
Vocês Yanomami deveriam perguntar para os seus avôs por quais lugares vocês já andaram antes de
chegar até aqui. Eles vão contar para vocês suas histórias. Pergunte-lhes o porquê vocês mudaram daquele lugar para
outro.
Se cada um de nós escrevermos nossa história teremos muita coisa para escrever. Seria muito interessante
e útil escrever para as gerações posteriores. Seria muito importante escrever sobre as riquezas culturais que vieram
sendo construídas e sobre realidades negativas que estragaram a vida e convivência do povo para evitar na nossa vida
atual.
Onde estamos hoje?
Cada povo sabe onde e como mora. Sabe como está trabalhando. Sabe quem convive com ele. Sabe com
quais povos mantém relacionamentos de amizade, comércio...
c) Cada POVO sabe EXPLICAR o SIGNIFICADO de SER HOMEM e SER MULHER
Cada povo foi construindo ao longo da história a compreensão do significado de SER homem e SER mulher.
É importante recuperar o seu significado para entendermos quem somos nós e o que podemos ser.
Mas nós também podemos construir novos significados para o ser homem e o ser mulher hoje. Não podemos
ficar reféns de antigos ensinamentos, principalmente, aqueles que diminuem o valor da pessoa humana. As crenças
construídas ao longo da história devem ser repensadas, reconstruídas...
Em pouco tempo que estou aqui percebi, por exemplo, que a mulher Yanomami trabalha demais, ela vai
caçar e buscar outros alimentos. É um valor que construiu. Sempre foi assim? É bom continuar assim? Se percebermos
que esse modelo de vida não é bom para os dias de hoje, devemos construir outro modo de ser homem e ser mulher.
d) EDUCAR significa ENSINAR uma PESSOA a VIVER BEM sendo HOMEM e sendo MULHER.
Aqui coloco alguma contribuição da vida Tuyuka, da qual faço parte. Quando o pai e a mãe educam seus
filhos é para que eles sejam bons homens e boas mulheres. Quando digo bons é no sentido de serem bons
trabalhadores, boas trabalhadoras... Na compreensão tuyuka o trabalho é que dá o valor que o homem e mulher
merecem. E, outras pessoas os respeitam.
Acredito que em muitos povos a educação trabalha com estes mesmos objetivos. No alto rio Negro, diversos
povos indígenas trabalham seguindo este mesmo princípio: Tukano, Tariano, Desano, Piratapuia, Wanano, Kubeu...
e) ENSINAVAM: Mostrando – Vivendo – Falando; APRENDIAM: Vendo – Praticando – Ouvindo
Essas ideias que vou partilhar em poucas palavras são ideias que eu sistematizei das práticas educativas do
povo Tuyuka. Segundo aquilo que eu vi da prática de meus pais a educação deve seguir estes passos.
O educador deve ensinar mostrando para seu filho/filha como se trabalha, como se fala, como se comporta
etc. O educador deve ensinar vivendo (praticando) o que ele ensina. Assim os filhos vão aprendendo vendo e ouvindo
os seus ensinamentos. O educador deve sempre repetir os ensinamentos. Nós pessoas humanas para muitas coisas

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fazemos questão de esquecer e demoramos compreender. Existem pessoas que aprendem logo. Cada pessoa é
diferente.
Quando se trata do educando é importante acompanhar o processo educativo do educador. Por isso que eu
coloquei que se aprende vendo o que faz seu educador; praticando o que lhe foi ensinado; por fim, continuamente
ouvirá as orientações do educador.
f) CONTEÚDOS
1. Conhecimentos Fundamentais: Mitos (histórias de nossas origens); Cantos, Danças, Cerimônias,
Rituais, Benzimentos; Organização Social; Parentesco...
Meu pai Eduardo, já falecido em 1996, que fazia essa distinção entre Conhecimentos Fundamentais dos
Conhecimentos quaisquer. Segundo a compreensão de meu pai os conhecimentos que ele considerava fundamentais
eram conhecimentos que tinham estreita relação com a vida da pessoa. São os conhecimentos próprios da cultura
tuyuka. São eles: mitos que narram origem da vida humana e origem da humanidade; benzimentos das grandes fases
da vida humana: benzimento da gravidez, benzimento do nascimento, benzimento do banho, benzimento da
alimentação, benzimentos de prevenção das doenças, estes realizados especialmente durante os ritos e cerimônias de
cantos-danças; conhecimentos da organização social, das considerações etc. Dizia meu pai: estes conhecimentos são
vitais; estes conhecimentos você deve aprender com os sábios, nossos avôs, nossos mestres de cerimônias, nossos
chefes, filhos e netos de mestres de cantos-danças, com mestre de narrativas de mitos etc.
Para meu pai também “outros” [quaisquer] benzimentos para curar as doenças seriam considerados não tão
fundamentais, saberes que qualquer um pode conhecer, sem pertencer às hierarquias de sabedores, mestres de
cantos-danças etc.
Como tratamos nos temas anteriores essas concepções também vão se modificando. Os saberes,
tradicionalmente, considerados propriedades de grupos seletos, hoje, estão com aqueles que têm facilidades para
aprender. A partir disso podemos afirmar que qualquer um de nós poderá se tornar possuidor de saberes
fundamentais. Para isso, basta aprender e seguir as disciplinas de vida para que tudo isso funcione.
2. Outros Conhecimentos: Tipos de trabalho, Caça, Pesca...
Para meu pai existem conhecimentos que qualquer pessoa pode ensinar e aprender. Meu pai era mestre de
cantos-danças, por isso, ele possuía uma compreensão própria de seus mestres. Segundo meu pai os diversos
benzimentos curativos e preventivos podem ser aprendidos em qualquer hora e com qualquer pessoa. Esses
conhecimentos não são propriedades de um povo. Enquanto que aquilo que denominamos de Conhecimentos
Fundamentais são da propriedade de um povo. Por isso, têm pessoas preparadas para sua transmissão, em espaços
próprios e momentos adequados.
Neste campo que transitamos maioria de nós, podemos aprender muitas coisas com muitas e diferentes
pessoas. Segundo esta maneira tradicional os ensinamentos da escola são conhecimentos quaisquer. Mas quem
estuda sabe que não é assim. Os estudos que realizamos têm grande importância para uma pessoa, um povo. Graças
aos estudos no mundo tivemos muitos avanços em diversos campos dos saberes.
g) EDUCADORES
1. Família: pai, mãe, avô, avó, tios, tias...
Todos nós sabemos que o primeiro ambiente onde nós vivemos, crescemos e aprendemos é o ambiente de
nossa família. Nesses anos de minha vida tenho percebido que dentro das culturas indígenas da região do rio Negro a
família é muito importante.
Dentro de cada povo existem pessoas que cuidam muito bem dessa parte. Constatamos que existem
pessoas que não se empenham tanto, isto é, deixam as coisas de lado. Exemplo: algumas pessoas fazem muitos filhos,
mas não se preocupam em cuidar e educar. Com relação ao povo Yanomami daqui, vejo que não há muito empenho
nesse campo. Em alguns Xaponos nós vemos as crianças, adolescentes e jovens andando de modo bem desajeitado,

2 Pages 11-20

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2.1 Page 11

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sem banho, não acompanha os seus pais nos trabalhos etc. A partir desses estudos é interessante, nós todos
assumirmos como uma política de limpeza (asseio) pessoal, criar gosto pelo trabalho, caça, pesca e outras atividades.
Essa disposição individual e coletiva surgirá se formos educados para isso.
Quando os pais também não veem a necessidade disso fica mais difícil a educação dos filhos. Mas podemos
melhorar a nossa educação. Quero lhes dizer que fazer filhos é bom, é importante e é fácil. O cuidado pela educação
das vidas geradas é mais difícil, principalmente quando um casal tem muitos filhos como vemos nestes Xaponos. Quem
tem filhos e filhas deve ser o primeiro responsável para cuidar e ensinar conhecimentos necessários para que seus
filhos vivam e construam uma história digna.
2. Comunidade: parentes, primos...
A educação de uma pessoa acontece dentro de uma comunidade. Nós não vivemos sozinhos, vivemos
com outras pessoas. Alguns povos indígenas formavam as comunidades por núcleos familiares, parentes, irmãos,
primos. Assim todos se tornavam educadores e eram educados dentro da consciência coletiva de seu povo. Por
exemplo: em Onça-Igarapé, lugar onde eu nasci nós todos que morávamos ali tínhamos consciência coletiva de sermos
Tuyuka. As nossas mães que não eram Tuyuka, também nos educavam para que assumíssemos a nossa identidade
tuyuka.
Os membros da comunidade é que percebiam como nós estávamos crescendo, aprendendo e colocando
em prática o que eles nos ensinavam. Esse modo de trabalhar foi muito importante para mim. Hoje em dia vejo que há
muitas misturas de povos num mesmo espaço. Quando é assim, os membros das comunidades deixam escapar a
responsabilidade coletiva. Dizem: ele não é nosso parente; os parentes dele é que devem cuidar; chamar atenção etc.
Entre vocês Yanomami há grande possibilidade de educação coletiva. Vocês têm seus tuxauas e seus
caciques. Vejo que há obediência às suas ordens. Imaginemos: vocês têm tuxauas e caciques bem empenhados com a
educação de seus membros, com os trabalhos e outras atividades! Vocês vão crescer demais porque a força coletiva é
muito forte aqui. É importante zelar por este espírito. O que podemos fazer é orientar como vocês podem desenvolver
estas capacidades que vocês possuem.
3. Tuxauas, Caciques, Pajés, Mestres de Cantos-Danças, Narradores de História...
Na região onde eu nasci antes da chegada dos missionários nós tivemos nossos tuxauas, caciques... Eles
tinham consciência de que o bem estar dos membros da comunidade dependia deles. Eles organizavam os trabalhos
de seus membros. Os chefes pediam que cada família tivesse suas roças. Não existiam as roças comunitárias. Mas
todos, quando convidados, ajudavam a fazer a roça àquele que convidava. Talvez, por isso, posteriormente quando os
missionários incentivavam fazer roças comunitárias não deu certo, dava briga, desentendimento e divisões entre os
moradores. Por quê? Porque não havia quem tomasse conta, limpasse... Na hora de colher os frutos todos queriam.
Assim não deu certo.
Os chefes organizavam as festas, caças, pescarias; pediam às mulheres que preparassem farinha, tapioca,
bebidas etc. Nas festas as autoridades coordenavam, animavam e dirigiam os rituais, cerimônias, discursos, cantos-
danças...
Pouco a pouco através das influências missionárias e da educação escolar essa forma de exercer a
autoridade foi substituída por outros modos. Surgiu então modo de escolher, indicar pessoas que assumissem a
liderança numa comunidade. Recentemente o novo modo de escolher lideranças das comunidades é por votação.
Quem ganha lidera a comunidade por um tempo determinado. Quando são boas lideranças o povo escolhe e elege
várias vezes. As lideranças eleitas devem mostrar serviços bons para seus membros, ter políticas externas, interagir
com outras comunidades indígenas e com outras instituições governamentais e não-governamentais.
Assim que na região do alto rio Negro começaram a se organizar Associações e Organizações Indígenas;
afiliaram-se nos partidos políticos e concorreram aos cargos políticos. Alguns parentes nossos ganharam nas eleições.
Tivemos vereadores. Em 2008 elegemos um indígena Tariano para ser Prefeito de São Gabriel da Cachoeira; seu vice
um indígena Baniwa.
Da mesma forma dentro da Igreja a religião cristã-católica despertou para novas lideranças religiosas. Temos
indígenas catequistas, ministros extraordinários da Eucaristia, padres e irmãs.
Essa história nos mostra que as culturas se modificam. Os contatos com outros povos influenciam em nossas
culturas de origem. Todo contato deixa suas marcas e muitas vezes marcas profundas.

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Aqui vocês têm vossas autoridades que dirigem e orientam a vida. Isso é bom. Mas vê se que surgem
pessoas que sonham diferente a organização social. E, cada vez mais será assim. Muitos de vocês estão estudando e
isso vai gerar em vocês cada vez mais outras necessidades. E, diante disso precisamos de pessoas que orientem bem,
pois há muitas coisas que não são boas para nós, há coisas que destroem a vida humana. Não pensem que tudo o que
você encontrar por ai é bom para você e para seus parentes. Exemplo: alguns Yanomami de nossos Xaponos vão às
cidades e mantêm relações sexuais com mulheres contaminadas pelas Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST) e
chegando aqui contaminam suas mulheres e elas para seus maridos. Nessas viagens podem aprender muitas coisas
boas e voltando repassar para os seus parentes. Esse sim deve ser o trabalho muito bom entre vocês.
Tem muitas coisas boas pelo mundo. E, uma delas é modo de educar as pessoas, organizar as
comunidades. As lideranças têm um papel muito importante para beneficiar nossos parentes. As comunidades boas
terão influências positivas na formação de seus membros. Num ambiente bom todos nos sentimos bem, respeitamos
bem os nossos parentes e vizinhos. Assim, vocês que estão aqui já são lideranças, uns são professores, outros são
alunos do magistério, outros são tuxauas, caciques, agentes de saúde.
Cada qual deve ajudar a comunidade a ser melhor. Os alunos do magistério são futuros professores, outros
já são. Vocês têm um papel importante na construção de novas sociedades Yanomami. Por isso, devem assimilar e
viver novos valores na vida pessoal. Se você é professor, mas quer continuar como se nunca tivesse estudado, pouca
coisa vai mudar no seu Xapono.
Eu estou falando assim, pois eu tenho outro tipo de vida, tenho outras ideias, tenho outras visões sobre o
mundo, sobre a minha cultura tuyuka... Quando eu falo do jeito que falo acima não estou forçando a modificar tudo. Eu
estou contando como a história vai mudando e as pessoas mudam. Dentro dessa dinâmica nós temos a capacidade de
fazer escolhas, quando pudermos. Outras vezes não conseguimos decidir pelas coisas boas. Outras vezes os outros
acabam decidindo por nós o que é bom. Às vezes coincide com aquilo que a gente quer, mas não tínhamos coragem
de fazer. Aí ficamos alegres. Outras vezes, as pessoas acabam decidindo pensando que aquilo é bom para nós e no
fundo do coração não era isso que a gente queria. Assim ficamos insatisfeitos e fazemos as coisas de mau gosto. Por
isso, que eu estou contando diversas experiências de diferentes povos. Ouvindo a narração destas histórias vocês que
vão decidir, mas antes deverão avaliar se é bom para vocês etc.
Eu sei que, desde que os salesianos vieram para cá, tiveram muito cuidado e carinho com vocês. Eles
tiveram preocupação de respeitar e preservar a cultura de vocês, suas tradições, costumes, línguas etc. Mas, como
disse já nesse encontro, muitas coisas novas surgiram desde que seus avôs e pais aceitaram e se encontraram com os
salesianos. Muitas coisas que não são do povo Yanomami estão aqui: redes, fósforos, roupas, sandálias, sal, açúcar,
arroz, bolacha, motores rabetas, terçados, livros, cadernos, lápis, borracha, pilhas, lanternas, panelas, pratos, copos,
creme dental e escova e muitos outros materiais; além destas coisas materiais nas vossas mentes estão outros modos
de pensar, modos de interpretar sobre a vida. Hoje não tem como negar que tudo isso faz parte da cultura de vocês,
não adianta negar, você não consegue mais viver sem isso.
Muitas vezes nós indígenas temos como política de combate às culturas não-indígenas (do “branco) e não
percebemos que estamos cheios das coisas deles. As histórias indígenas sempre foram assim. As lideranças indígenas
que têm mais contatos com os não-indígenas são aquelas que se beneficiam mais das coisas dos “brancos”: viagens,
alimentação, aprendizagens de outros ensinamentos; conhecem outras cidades; ganham gasolina, ranchos para suas
viagens... Por isso, muitas vezes os nossos parentes muitas vezes ficam bravos com lideranças, pois ao invés de ajudar
mais por conhecer mais, não fazem muita coisa. Às vezes é pior do que aqueles que nunca saíram do Xapono. Entre
vocês Yanomami não existe tanto, mas também têm pessoas desse tipo. Ao invés de levar o povo para frente impede a
caminhada. Por isso devemos continuamente rever nossas atitudes e perguntar: o que estou fazendo é certo? Fazendo
assim estou ajudando os meus parentes? É isso que os meus parentes querem?
Então, meus parentes essa tarefa é para todos nós, começando do Pe. Justino e todos vocês.
h) ESPAÇOS EDUCATIVOS: Casa-Família, Comunidade; Roça, Pesca, Caça... Festas: preparação,
realização.
As pessoas empenhadas com educação [quem ensina e quem aprende] aproveitam de todos os espaços
disponíveis. Existem pessoas que têm capacidades de perceber, enxergar os valores presentes na natureza, nas
comunidades, nos trabalhos... Assim elas vão refletindo e construindo saberes e práticas de vida.

2.3 Page 13

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Existem outras pessoas, assim como Pe. Justino, que precisam de pessoas que o ensinem mostrando os
caminhos a seguir. Estas pessoas estão presentes desde a nossa casa. A casa é uma sala de aprendizagem. Ali os
nossos pais e todos os moradores nos ensinam falando e mostrando com a prática. Aprendemos também vivendo na
comunidade e convivendo com os membros de nossa comunidade. Todos eles têm algo para nos ensinar. Para isso
precisamos ter uma mente aberta para aprender com outros. Se eu pensar que eu não preciso aprender com outros
porque eu já sei tudo, eu estou fechando a minha mente para novas possibilidades de conhecer a vida, outros
saberes...
Continuamos aprendendo quando acompanhamos os nossos pais nos trabalhos, na roça etc. Aprendemos
quando vamos com nossos pais e com outros na pescaria, na caça etc. Assim nós aprendemos a conhecer os
ambientes de caça, pesca... Aprendemos a conhecer diversos tipos de florestas, geografia da nossa região...
Aprendemos as técnicas de pesca, caça...
Aprendemos quando participamos do lazer comunitário, dos momentos lúdicos (jogos; alegria, diversão...).
Aprendemos diversas histórias, dinâmicas, modos de se comportar... A convivência é uma aula. Quem nunca saiu de
casa aprenderá pouco. Nas festas importantes da nossa comunidade aprendemos conteúdos importantes de nossas
culturas, saberes de nossos avôs e esses saberes fortalecem a nossa vida. Não podemos ficar afastados desses
momentos, mas devemos considerá-los como novas possibilidades para aprender mais.
O povo Yanomami desta região conhece muitos saberes, conhecimentos... Nem por isso deve dizer: eu já sei
tudo! Quem pensa assim não é sábio. Sábio é aquele que está continuamente aberto para aprender com outras
pessoas, eventos... Nós seres humanos somos seres de possibilidades. Vamos aproveitar para viver bem cada
momento da nossa vida como se tudo o que você precisa está em suas mãos. Quando começamos sentir muitas
necessidades começamos sofrer, lamentar, reclamar... E, a vida acaba não prestando nada e nos tornamos pessoas
infelizes. Ninguém merece viver assim! Vamos procurar viver bem. Nós merecemos viver bem a nossa vida, as nossas
culturas!
i) ACOMPANHAMENTO: Mostrar, falar, ver, aprovar, corrigir, exigir...
Todo trabalho de educação de uma pessoa não é feito de uma vez por todas. Ela segue um caminho. Todo o
trabalho da educação segue passos após passos. Os educadores acompanham como seus filhos, filhas, netos,
parentes vão assimilando a transmissão de seus ensinamentos.
Algumas pessoas aprendem rápido, outras menos e outros, ainda demoram até conseguir entender o que os
educadores querem ensinar. De maneira geral todos nós aprendemos devagar. Muitas vezes os nossos pais e nossos
educadores gostariam que aprendêssemos rapidamente. Porém, eles esquecem que também eles tiveram dificuldades
para aprender quando crianças.
O trabalho dos educadores é mostrar e falar como as pessoas devem fazer ao longo de sua aprendizagem.
Quando estão certas devem elogiar, incentivar para que continuem aprendendo mais. Se ao longo da educação as
pessoas não agem corretamente devem mostrar a direção certa, devem corrigir sempre. Para educar uma pessoa os
educadores devem ser sábios suficientes para compreender outra pessoa, ter paciência.
As exigências existem para todos os educadores. Mais do que quem está aprendendo o educador deve
exercer sua sabedoria, calma, serenidade, confiança, alegria, esperança... Mas sabemos que não é fácil. Quem é pai e
quem é mãe sabe a dificuldade para ajudar uma pessoa a crescer e aprender. Eu também, sendo um padre várias
vezes perco paciência, me torno exigente comigo mesmo e com outros. Muitas vezes gostaria que aquilo que eu ensino
fosse logo assimilado e seja praticado. Eu sei que nem para mim é fácil ser assim. Vocês que são mães também várias
vezes perdem paciência pra valer. Aqui nos Xaponos eu já vi, nesses poucos dias que estou aqui, as mães dando
surras fortes para suas crianças. Seria interessante perguntar: está certo o que estou fazendo? Será que assim meu
filho e filha aprendem mais? Será que eu mãe que ainda não aprendi a ser mãe? Com certeza a sua consciência vai
lhe ajudar a responder.
Nós adultos, também precisamos ser educados, orientados, motivados a viver melhor. Muitas vezes nós
fazemos ações que não são boas. Já ouvimos conselhos de várias pessoas, mas não aprendemos ainda. E, porque ser
tão exigentes com outros?

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Meus parentes, todos nós continuemos aprofundando sobre a nossa educação, educação que recebemos e
estamos dando. É um campo vasto, bonito e complexo que precisamos descobrir cada dia melhor.
j) PASSAGEM PARA A VIDA ADULTA: Responsabilidade, Trabalho, Casamento, Educação; Serviços:
liderança...
Meus caros parentes, todos nós cada dia estamos crescendo. Não paramos no tempo. Mesmo que algumas
pessoas digam que determinadas pessoas pararam no tempo. Nós não paramos de crescer e amadurecer.
Os dias passam, os meses passam e os anos passam. E nós crescemos! Algum tempo atrás éramos
crianças, adolescentes, jovens e hoje somos adultos. Na medida em que vamos crescendo assumimos diversas
atitudes de pessoas adultas, assumimos trabalhos de adultos.
Basta ver as pessoas que estão participando destes encontros, começando por mim. Aqui entre nós temos
professores, professoras, alunos do magistério que já são monitores; temos tuxauas, caciques. Vocês Yanomami
casam muito cedo. Para mim, como dizia minha mãe, casamento é para pessoa que já tem responsabilidade, que já
tem trabalho, que já pode sustentar a mulher e já está maduro para viver em sociedade. Não conheço bem ainda sobre
a cultura yanomami. Mas vocês devem ter a explicação para casar cedo, devem saber de vossa responsabilidade.
Se alguém que está nessa situação, mas ainda se sente criança, deve procurar aprender a ser adulto com
adultos. Todos nós aprendemos com outros. Exemplo: eu sou padre e eu aprendo com outros padres, principalmente
com padres bons. Também a gente, aprende com padres que não são tão bons e aprende a não ser como eles.
Enfim, para nós é importante assumir nossas responsabilidades para o bem maior, bem da família, da
comunidade e da sociedade. O objetivo de estarmos aprofundando essas questões é para entender como devemos
viver melhor e construir Xaponos em ambientes bons para se viver. Aqui já se passaram muitos salesianos e muitos
educadores procurando ensinar ao povo yanomami. E, continuam existindo, salesianos, professores e outros
profissionais. Em pouco tempo que estou aqui vejo que a Inspetoria Salesiana Missionária da Amazônia fez muitos
investimentos financeiros e investimentos humanos. Vocês mesmos poderiam se perguntar: valeu apena termos
recebidos tantos benefícios? Como tudo isso nos ajudou a crescer e melhorar a nossa vida? O que podemos fazer
daqui pra frente?
5. A EDUCAÇÃO dura a VIDA TODA! Continuamente APRENDEMOS,ENSINAMOS, DESCOBRIMOS,
CRIAMOS, RENOVAMOS, REPENSAMOS, RECONSTRUÍMOS...
Meus parentes queridos, essa mensagem é muito boa. Em nenhum momento de nossa vida devemos nos
considerar sabedores de tudo nem dizer eu não preciso mais aprender. Ai que devemos aprender melhor, compreender
melhor a vida, descobrir novos sentidos da nossa vida pessoal e coletiva.
Ao mesmo tempo em que vamos aprendendo devemos criar novos saberes, devemos repensar outros e dar
novos significados para outros. O tempo de nossa vida é tempo de aprendizagem. O tempo de nossa vida é único para
nós. Cada um tem seu tempo. Muitos aproveitam bem seu tempo e vivem muito bem. Outros não aproveitam bem e
vivem muito mal. Por exemplo: Eu, Pe. Justino, em diversos momentos da minha história não conseguia dar o devido
valor para minha vida, para minhas capacidades; não aproveitava bem da capacidade de criar e recriar as riquezas que
a vida me apresentava; eu reconheço isso, hoje, estou mais atento para dar valor à minha vida. O tempo de minha vida
é mesmo cada dia. Ontem já passou, não está mais comigo. Futuro ainda não existe, chegará ao seu próprio dia. Tem
um ditado que diz: “O passado é memória, o futuro é mistério e o presente é DOM”. O presente é que deve ser
valorizado.
Nós pessoas presentes aqui neste momento somos responsáveis pela nossa vida melhor hoje, somos
responsáveis pela nossa alegria hoje. Todos nós somos todos importantes, somos dons na vida do outro!
6. EDUCAÇÃO – Origem da palavra
Neste momento da nossa partilha sobre a educação quero lhes mostrar que o tema da educação é um tema
universal, isto é, todos os povos falam desse tema. É assunto que trata da vida humana. Em diversos momentos da
minha vida de estudante me ensinaram assim, mas pode ser aprofundada e pesquisada:

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Em Latim (língua que origina a língua portuguesa) ao se tratar da EDUCAÇÃO utiliza-se a palavra
EDUCERE. Esta palavra significa TRAZER para FORA o que ESTÁ DENTRO da PESSOA.
Vocês podem me ajudar a descobrir o que está dentro de uma pessoa. Façamos uma lista e você poderá
completar depois. Dentro de nós temos: Sabedoria, Conhecimentos, Alegria, Tristeza, Dor, Confiança, Benzimentos,
Inteligência, Espírito, Pensamento, Amor, Carinho, Saudade, Coragem, Sentimento, Emoção, Agilidade, Esperança,
Força-energia, Verdade, Sinceridade, Mentira, Paixão, Ciúme, Raiva, Inveja, Criatividade, Motivação, solidariedade,
paz, calma, sonhos, admiração, medo, insegurança, desconfiança, traição, fidelidade, compaixão, juventude, velhice,
doidice, instintos, maldade, bondade, tranquilidade, doçura, grosseria, indiferença...
Existem muitas realidades dentro de nós. Nem sempre sabemos o que temos dentro de nós. Um trabalho
que podemos continuar fazendo é conhecer a nós mesmos! Continue conhecendo!
A tarefa da educação é ajudar a descobrir coisas boas para poder cuidar, proteger, recriar, valorizar etc.
Somente pessoas sábias, educadores sábios, maduros podem nos ajudar melhor.
A tarefa da educação é também orientar as nossas forças negativas, nossos instintos. Todos nós temos
realidades negativas. Ninguém pode dizer que só faz coisas boas em sua vida. O que acontece é que muitas pessoas
sabem dar orientação certa para as coisas boas e para coisas ruins. Se não formos bem educados, nós seres humanos
somos dirigidos pelos nossos instintos destrutivos. Falando mais claramente: se me der vontade de matar o meu
parente vou matá-lo; se me der vontade de destruir o trabalho do outro vou destruir; se me der vontade de roubar vou
roubar... Assim outras atitudes negativas. Todos os povos têm isso, mas devem ser educados para o bem. Vocês
Yanomami, por exemplo, algum tempo atrás e até mesmo hoje em dia, gostam de brigar com as pessoas de outros
xaponos; cacetar o outro; até matam. Muitas vezes nós falamos dizendo que isso é nossa cultura, mas o que existe
dentro da cultura que nos leva a matar, fazer outro sofrer deve ser repensado, refletido e até mesmo modificado.
Eu entendo que a tarefa da educação de uma e mais pessoas é muito séria. Nós estamos estudando aqui
não para continuar do mesmo jeito, mas descobrir novas maneiras de viver e de trabalhar.
7. EDUCADOR
A tarefa de educar não acontece por si mesma. Ela precisa de pessoas humanas capazes de aprender e de
ensinar. Aqui também é muito importante entender que todos nós nos tornamos educadores. Sabemos de tudo? Claro
que não. Ao mesmo que aprendemos ensinamos e enquanto ensinamos estamos aprendendo. Esse trabalho nem
sempre é fácil.
As pessoas, de modo geral, acabam se tornando educadores e educadoras. Aquilo que se aprendeu ensina
aos seus filhos, parentes etc. Os conhecimentos são adquiridos de diversas formas: com estudo, com trabalho, com
experiência de vida, sofrimento, alegria, vitória, derrota etc. Existem inúmeras situações de nossa vida e da história
humana que nos ensinam.
Em latim utilizavam a palavra MAGISTER para dizer Mestre. E, podemos dizer Professor (a). Todos nós
sabemos também que existe educador e educadora; professor e professora.
Aqui também quando vocês Yanomami se tornarem professores devem existir também professoras. O
homem tem sua maneira de ensinar e educar. A mulher tem seu modo de ensinar e educar. A estatística do Brasil
mostra que existem muitas mulheres que são professoras. Eu, pessoalmente acredito que para séries iniciais a mulher
deve ser mais apropriada para ensinar. Ela é mãe, possui qualidades femininas que lhe capacitam compreender melhor
as crianças. Não duvido que existam homens capazes e realmente existem. Já vi professores que têm capacidades de
trabalhar com crianças e faziam muito bem.
Da palavra Magister que se deriva a palavra Magistério. Essa palavra alguns alunos já ouviram bastante,
principalmente porque são alunos do curso do Magistério. O curso do Magistério ensina uma pessoa a ser professor (a).
Curso do Magistério Indígena ensina como os indígenas devem trabalhar como professores (as).
O curso do magistério indígena que alguns de vocês estão fazendo é muito importante para vocês
Yanomami. Imagine você professor de seus parentes, falando e ensinando em sua língua, transmitidos saberes
ocidentais, saberes de sua cultura. Será muito melhor para seus parentes. Os professores não-Yanomami estão aqui
enquanto não existem professores daqui. Não significa que não devam vir. Podem vir e vocês podem convidar para que
venham ajudá-los. Em muitas regiões indígenas, como no alto rio Negro, hoje maioria dos professores são indígenas,

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são gestores de escolas. Lá caminharam mais. Vocês também vão caminhar dentro de vossos passos. Não parem de
caminhar. Vocês já conhecem diversos professores que já passaram por aqui... Está estudando várias disciplinas com
professores formados e selecionados que vem dar aulas para vocês. Aproveitem bem de seus ensinamentos.
Quando vocês Yanomami se tornarem professores muitas coisas vão mudar na sua vida. Você continuará
sendo Yanomami, mas para muitas coisas você terá que pensar como ocidental, pois a escola é ocidental. E, não deve
pensar as coisas somente como um ocidental (“branco”), mas deve pensar a vida, seus ensinamentos como um
Yanomami. Você terá que ter disciplina, pontualidade... Vocês terão que ter novas atitudes, novas posturas diante de
vossa sociedade e sociedade não-indígena.
Por enquanto vamos parar por aqui. Esse assunto é muito grande, não dá para falar e nem aprender em
algumas horas. Continuaremos estudando!

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TEMA 2: CULTURAS
Caros amigos professores, alunos do magistério, tuxauas e demais participantes vamos estudar um tema
bem interessante. É um tema muito estudado, por isso, temos muitos saberes construídos. Mas aqui nós não vamos
estudar tudo. Eu vou partilhar com vocês algumas ideias que mais se aproximam de nossos trabalhos de educação
escolar indígena.
É importante nós sabermos que as nossas culturas são como se fossem nossos espelhos. Elas mostram
para nós quem nós somos, o que pensamos e o que fazemos.
Selecionei algumas ideias para partilhar com vocês. Eu vou procurar explicar de forma bem simples para que
possamos compreender as ideias e o que elas podem dizer para a nossa vida e nossas práticas de vida.
1. CULTURAS SÃO CONSTRUÇÕES HISTÓRICAS
A primeira ideia que eu selecionei é essa: CULTURAS são CONSTRUÇÕES HISTÓRICAS.
Dentro do campo dos estudos das ciências organizadas pelo homem ao longo da história existe uma ciência
chamada ANTROPOLOGIA (Estudo sobre o Homem).
Quando eu estudei essa ciência esta ideia me fez entender que eu posso ser diferente e fazer a história cada
vez melhor. Eu que penso assim. É uma escolha que eu faço. As escolhas boas que eu faço podem atrair outras
pessoas. Assim não estarei sozinho para construir uma nova história, estaremos em grupo/comunidade para construir
história melhor para nós.
A ideia acima posta mostra que nós seres humanos somos autores de nossas histórias. Nós somos
construtores da história. Cada dia nós estamos tecendo a nossa história. Quando algo não vai bem nós modificamos,
consertamos e até mesmo eliminamos. Mesmo as coisas boas e bonitas ao longo da história perdem seu brilho. Então
precisamos recriar, pintar novamente...
Se nós olharmos para nós mesmos vamos perceber que nós não somos mais o que já fomos. Melhoramos
em muitas coisas e quem sabe pioramos em outras. Não permanecemos do mesmo jeito.
Muitas vezes ouvimos algumas pessoas falarem: eu sempre fui assim! Esse é meu jeito de ser! Na minha
cultura é assim!
Ultimamente venho refletindo sobre isso e chego à conclusão de que por causa dessas atitudes minhas eu
deixei passar muitas oportunidades de crescer, de ser melhor. Foram escolhas que eu fiz, mas que não me deixaram
crescer. Quantas vezes e quantas pessoas me sugeriram boas opções e eu não queria.
Aplicando para nossas realidades indígenas: muitos antropólogos e instituições (governamentais e não-
governamentais) assessoradas pelos antropólogos viram e querem as nossas culturas indígenas paradas no tempo, por
isso, ninguém deve mexer com elas. Criticam fortemente àqueles que trabalham com os povos indígenas,
principalmente com a educação escolar e religião. Exemplo: os salesianos foram muito criticados como destruidores
das culturas indígenas do alto rio Negro.
Este nosso pequeno estudo de que as Culturas são Construções Históricas, mostram que nós não vamos
parar no tempo, as mudanças acontecem. O simples contato com as pessoas de outras culturas nos influencia
modificando nossas práticas culturais.
Com relação ao povo Yanomami daqui muitas pessoas querem que vivam com viviam no passado. Também
os salesianos pensaram isso. Outras instituições pensam também: FUNAI... A vossa história atual mostra que todos os
medos, receios, cuidados para preservar a vossa cultura como era no passado não valeu muita coisa. Vocês foram
fortemente influenciados. Fizeram escolhas fortes. Querem ver como? Vocês atuais Yanomami são diferentes do que
seus antepassados. Hoje vocês usam roupas; usam materiais de higiene pessoal: escova e creme dental, sabão;
comem arroz, feijão, macarrão, tomam leite, Nescau... Utilizam material escolar: caderno, lápis, caneta, borracha...
Aprenderam escrever, entendem a língua portuguesa... Jogam bola (futebol, vôlei); calça as sandálias, tênis, chuteira;
utiliza terçados, machado; caçam com espingarda, chumbo, pólvora; pescam com anzois e linha nylon; viajam com

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rabetas e voadeiras; são atendidos pela medicina de fora... Estudam via internet; querem assistir televisão; ouvir
música; muitos de vocês para pinturas faciais já utilizam pinceis atômicos...
Vejam que são tantas práticas, materiais, bens que vocês foram assumindo. Talvez no início não quisessem
tudo isso. Atualmente vejo que vocês sentem necessidade disso tudo. Por outro lado vocês mantêm muitas práticas
que são próprias de seus antepassados: festas, organização social; tipo de casamento... Vocês mesmos podem
descobrir o que vocês têm ainda da cultura yanomami do passado.
As mudanças que acontecem em nós são escolhas que fazemos ou que alguém faz por nós. Se decidirmos
para o bem nós teremos bons resultados. Se decidirmos mal nós teremos resultados negativos.
Então como podemos construir a nossa história? Cada um pense que tipo de história quer construir:
professores, alunos do magistério, tuxauas, casais etc.
2. CADA UM = EU CONSTRÓI SUA HISTÓRIA
Eu partilhei com vocês que nós somos construtores de nossas histórias. Muitas pessoas não-indígenas
utilizam a palavra PROTAGONISTA. Eles explicam dizendo que o Protagonista é o ATOR principal. Para nós indígenas
essa ideia pode servir. Se nós pegarmos essa ideia de que EU SOU O ATOR PRINCIPAL da minha HISTÓRIA muitas
coisas boas vão acontecer na minha vida. Temos que ser ATORES BONS, POSITIVOS, CONSTRUTORES DO BEM.
A minha intenção de partilhar isso não quer dizer que você pode ser qualquer coisa na vida. Não vai se tornar
briguento, batendo em outros, apanhando dos outros e dizer que é o ator principal de sua história. Não é nesse sentido
que estou falando. Quando falo do PROTAGONISMO estou me referindo da construção de AÇÕES POSITIVAS.
Quando uma pessoa faz coisas boas ela se sente feliz, tranquila, sem medo, não foge das pessoas. Por que
ela vive assim? Vive assim porque está agindo corretamente como pessoa na sua história e na história dos outros. É
comum também existir entre as pessoas humanas pessoas que são más (que não prestam) e elas geralmente não
gostam de pessoas boas. Em todas as histórias existiram pessoas más.
Eu sou indígena como vocês. Eu já andei observando e refletindo comigo mesmo que muitas vezes nós
indígenas somos invejosos. Queremos e conseguimos estragar a vida das pessoas que querem viver bem. Isso é um
mal que precisa ser combatido. Sobre o povo Yanomami não posso dizer com certeza, pois não o conheço bem. Vocês
é que devem conhecer melhor.
Eu gosto destes temas e eles nos mostram que nós pessoas humanas temos muitas responsabilidades para
construir vida melhor.
Os professores não-Yanomami trabalham aqui e eles têm responsabilidade de ajudar este povo a construir
uma história muito melhor. Não estou dizendo que vocês estão vivendo mal. Estou dizendo que pode ser muito melhor.
Então vocês, professores evitem dizer: eu vou fazer qualquer coisa, pois eu não vou ficar aqui; aqui não é meu lugar;
essa não é minha cultura. Procure fazer o seu melhor para contribuir positivamente com a história deste povo.
Temos aqui os alunos do curso de magistério indígena. Estão se preparando para serem professores. Alguns
já estão atuando nas salas de aula. Vocês devem se tornar pessoas bem positivas em vossos Xaponos. Você é líder e
deve influenciar positivamente na convivência entre seus parentes. Não pode influenciar negativamente. Ser professor
não é brincadeira, é assumir um papel importante na educação das pessoas e na sociedade. Você deverá assumir
novas atitudes, você poderá promover a paz, promover os trabalhos... Os professores atuais não-Yanomami criam
diversas atividades com vocês, organizam mutirões para fazer roças, cultivar plantações etc. E, quando vocês se
tornarem professores isso vai continuar? Se você não se empenhar em levar seu povo para o bem, a educação escolar
não vai funcionar para o bem do seu povo [Yanomami]. A qualidade de ensino na escola depende muito do professor.
Professor bom ensina bem. Por isso, vocês procurem pensar em tudo isso e muito mais.
Nós temos aqui os nossos Tuxauas. Vocês são aqueles que devem zelar (cuidar, promover) pelo bem das
pessoas, bem do Xapono. Muitos Yanomami estudam na escola. Daqui a algum tempo teremos professores Yanomami.
Vão se acostumando com isso. E, vocês terão que ajudá-los. Não é qualquer um que entra na escola para ser
professor. Não adianta vocês Tuxauas criarem problema com o professor parente de vocês e tirá-lo. Se não tiver outro
preparado as crianças vão ficar sem aulas? Na escola, atualmente, existem outros coordenadores que não são tuxauas
yanomami e com eles vocês devem aprender conversar, dialogar, se entender, negociar... Hoje as coisas não se
resolvem mais na base de briga corporal, cacetadas, fechamento das escolas.

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Estão vendo que a construção da história é exigente. Só não é exigente para quem quiser viver de qualquer
jeito. Da mesma maneira como estamos vendo com uma pessoa (indivíduo) é a realidade de um povo e sua história.
Ninguém vive sozinho na história. Vivemos em família, comunidade e povo.
Eu faço parte do povo Tuyuka. Os Tuyuka estão organizados em hierarquias que vai desde os irmãos maiores
(chefes), passa para os irmãos menores até chegar aos considerados os últimos (servos). Essas maneiras de entender
os membros de um mesmo povo foram historicamente construídas. E, para nós dura até hoje. Apesar dessa
classificação nós nos consideramos irmãos. Por isso, os Tuyuka constroem suas histórias. Essa construção da história
acontece de forma diferente. Exemplo: Os Tuyuka do rio Tiquié/Brasil vivem de forma diferente do que seus irmãos
Tuyuka do Tiquié/Colômbia. Os Tuyuka do Inambu/Brasil e da Colômbia constroem sua história. Os ambientes
geográficos, sociológicos etc., influenciam muito na construção de nossas histórias.
Outro exemplo: Pe. Justino é Tuyuka. Eu também mesmo andando longe do habitat (lugar da morada) de
meus irmãos estou influenciando na história do povo Tuyuka. Pois ao contar a sua história para seus filhos, netos e
para outros povos eles irão contar que um dos parentes deles é um sacerdote (padre).
Vocês aqui são membros de um povo chamado Yanomami. Os Yanomami têm sua história geral, mas também
sua história específica. Os moradores de cada Xapono têm sua história e outros suas histórias. Por isso, andando pelos
Xaponos vi que alguns estão em melhores condições e outros menos. Vocês também têm seus parentes vivendo em
outros lugares do Brasil e na Venezuela. Eles desde o lugar onde estão morando estão construindo suas histórias.
Vocês procurem construir vossa história. Querem viver bem, então precisam se organizar para trabalhar, reunir, refletir,
agir... Muitas coisas boas vão acontecer se vocês decidirem fazer. Se ficarem só esperando da escola e dos
missionários não vai mudar muita coisa. Imaginem os salesianos deixando de repente os seus trabalhos aqui. Como
vocês ficariam? Em alguns Xaponos vocês, quando estão com raiva querem acabar com a escola. Sem a escola a vida
seria melhor para vocês? Quando eu falo isso é para refletir, pensar e decidir. Muitas vezes vocês ficam com raiva e
querem resolver na hora. Muitas pessoas disseram para mim: Justino você está com raiva e o momento da raiva não é
bom momento para resolver as coisas importantes. Vamos conversar depois. Hoje, revisitando a minha história digo
para vocês que se eu tivesse tomado minhas diversas decisões importantes na hora da raiva eu teria feito muitas
decisões erradas.
Para concluir a reflexão sobre essa ideia digo que assim nós vamos construindo as nossas identidades e
nossas diferenças. A nossa história, nossas identidades e nossas diferenças têm muito a ver com a nossa história.
Quando os membros de um povo sabem construir boa história aquela imagem é conhecida por outros povos. Por outro
lado, quando um povo não sabe construir bem a sua história é essa imagem que passa para os outros. A partir destas
reflexões nós devemos nos perguntar: como é que eu (Justino Tuyuka) quero ser conhecido por outras pessoas, por
outros povos? Como é que nós Tuyuka queremos ser conhecidos por outras pessoas e outros povos? No caso de
vocês: como é que vocês querem ser conhecidos por outros povos? É importante dizer, também que os males que
causamos [briguentos, assassinos, beberrões, ladrões...] são imagens que ficaram nas mentes de outras pessoas e
outros povos. E, estas imagens [má fama, rótulos] são difíceis de serem tirados. Mas qualquer um de nós pode
reconstruir sua história para melhor, se assim decidir ser.
A nossa identidade que está em jogo. Não foi à toa que os colonizadores não-índios nos viram e dizem: “índios
são preguiçosos”. Na década de 1980 quando os índios do alto rio Negro reivindicavam a demarcação das terras um
dos governantes do estado do Amazonas afirmou: “não sei por que os índios querem tanta terra? Eles só precisam de
500m de terra só para eles saírem de casa e urinar, pois os índios só sabem dormir e fazer filhos”.
Estão vendo como as nossas identidades entram na história de outros povos. Nós fomos rotulados com esses
nomes: preguiçosos... Mas nós devemos trabalhar para sentirmos bem como povos indígenas. Se vivermos bem e
trabalharmos bem outros povos nos reconhecerão como povos diferentes, bons... Cada um de nós deve se esforçar
para que a história indígena seja boa. Quando nós não agimos bem, contribuímos para que os outros continuem
falando mal dos indígenas. Quantas vezes eu também contribui para que os outros falassem mal de mim, dos meus
parentes e dos povos indígenas. Está lançado o desafio para todos e para cada um!
3. CULTURAS SÃO NOSSOS MODOS DE SER
Numa de minhas falas eu disse que as culturas são como se fossem nossos espelhos. Agora vamos
aprofundar outra ideia: Culturas são nossos modos de ser. Quando trato do ser estou falando do ser humano por

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inteiro. Nosso ser é muito maior do que aquilo que conhecemos de nós mesmos. Aqui precisaríamos de muitas ciências
para saber quem somos nós: biologia, sociologia, filosofia, antropologia, química, genética, religião etc. Apesar de todas
as ciências se dedicarem estudos profundos, específicos e ampliados nós continuamos ainda um mundo a ser
descoberto. O nosso ser é um universo. Nós apenas conhecemos alguns aspectos da nossa vida. Muitas vezes outras
pessoas nos ajudam a perceber quem somos nós. Por isso, devemos agradecer quem convive conosco, eles e elas são
importantes para nós.
Nossos modos de ser também são construções históricas. Cada pessoa possui modo próprio de ser pessoa.
A nossa individualidade é própria. Mesmo que as pessoas digam que nós somos parecidos com outros, nós somos nós
mesmos. Mesmo que queiramos ser iguais aos outros não seremos.
Por exemplo: Pe. Justino Sarmento Rezende, só existe este no mundo. Poderá surgir outro com o mesmo
nome, mas será outro. Isso é muito importante para mim. Somente eu sou assim, não no sentido que devo me
acomodar desse jeito. O meu jeito Pe. Justino de ser deve ser trabalhado para que seja melhorado, aprimorado,
amadurecido... Quando eu morrer esse Pe. Justino deixará de existir como pessoa, como corpo, matéria... Continuarão
as ideias que eu vivi, criei, recriei... Diante dessa ideia ao mesmo tempo em que eu me realizo devo-me sentir aberto
para realidades novas, aberto para aprender, crescer... Enfim, cada momento eu me realizo como ser e deixo de ser
(passado). O meu ser se concretiza no presente e aquilo que eu sou em cada momento fica na história, na memória...
Deixar uma história edificante, boa depende de mim mesmo.
Cada um de vocês deve refletir sobre o seu modo de ser. Reflita: eu estou satisfeito comigo mesmo sendo
aquilo sou? Esse meu modo de ser contribui para ajudar a convivência melhor? Como eu poderia ser? Cada pessoa se
deve responsabilizar por aquilo é. Muitas vezes temos medo de assumir nossas responsabilidades. Jogamos a culpa
para os outros. E, até jogamos culpa naquelas pessoas que querem nos ajudar.
O nosso modo de ser (individual e coletiva) influencia na convivência das pessoas. Assim devemos aprender
a ser bons com os outros; trabalhar com os outros; ser pessoa comprometida com os outros; ser líder para o bem das
pessoas; ser professor para o bem de seus parentes...
Para concluir a reflexão sobre essa ideia pergunte: o que as pessoas falam sobre o meu modo de ser? Se
vocês e eu soubermos aproveitar da visão dos outros sobre nós mesmos podemos modificar o nosso modo de ser para
melhorar; se as respostas dos outros me aponta algo mau em modo de ser posso trabalhar para abandoná-lo.
O melhor investimento que podemos fazer é esse mesmo: entender os nossos modos de ser; trabalhar para
aperfeiçoar, melhorar e até modificar. Se eu sozinho não consigo fazer bem para melhorar-me devo pedir ajudar de
outra pessoa; posso pedir ajuda de um grupo... Não posso esconder meus problemas que me deixam cada vez pior,
triste, medroso... Esses tipos de estudos que estou fazendo com vocês são muito bons, principalmente para nós
indígenas. Assim nós vamos descobrindo nosso potencial, nossas qualidades... Nós precisamos nos sentir bem como
povos. Sentir bem como Tuyuka, como Yanomami... Mas o povo vai se sentir bem, se cada indivíduo se esforçar para
ser bom. Cada um deve fazer sua parte. Não posso ficar esperando que o mundo melhore para eu começar melhorar.
Eu tenho que fazer a minha parte, minha mudança.
4. CULTURAS SÃO NOSSOS MODOS DE PENSAR
Vamos continuando os nossos estudos para conhecer a nós mesmos. Um dos aspectos do ser é o nosso
modo de pensar. Donde vem a nossa capacidade de pensar? Da cabeça, da nossa mente, de nosso cérebro. Como
surgem os pensamentos? Como começamos a pensar? Quem produz os pensamentos?
Os pensamentos, conhecimentos, definições, crenças são também construções históricas. As pessoas
quando vivem, trabalham, dançam, cantam, choram, realizam cerimônias, pensam, meditam etc. estão produzindo
pensamentos.
As pessoas têm a cabeça para pensar, refletir, produzir seus modos de ver o mundo, as coisas... Elas
descobrem o mundo, o mundo das pessoas; explicam como o mundo se forma e como as pessoas caminham. As
dúvidas, os questionamentos, as respostas que dão formam conhecimentos, saberes...
Os filósofos gregos diziam que o homem é um ser pensante [Descartes: Penso logo existo]. O homem e
mulher não vivem à toa no mundo. Eles pensam antes de qualquer decisão. No estado normal as decisões são
pensadas, tanto para coisas boas e negativas. Por isso, somos responsáveis pelas nossas ações, positivas e negativas.

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Nós indígenas temos a inteligência para pensar, refletir, decidir... Quando eu estou partilhando essas
realidades com vocês é para fortalecer a nossa capacidade de pensar. Muitas vezes, alguns não-índios falam que nós
somos que nem crianças. Por exemplo: a questão da TUTELA que o Governo Federal (FUNAI) utilizou e utiliza sobre
nós é para dizer que somos crianças e que precisamos de um ADULTO para tomar conta de nós. Participando em
diversos momentos da caminhada do Movimento Indígena ouvia e via muitas lideranças indígenas afirmando NÃO
QUEREMOS MAIS A TUTELA, mas existem também aquelas pessoas que querem que continuemos dentro da
TUTELA.
Pensar é uma ação humana que transforma a própria pessoa e uma sociedade. Nós estamos estudando
para entender a nossa capacidade, entender a nossa realidade e propor ações que gerem ações novas e boas. É
importante para todos nós: vocês e eu somos responsáveis pelo bem de nossos Xaponos atuais. Vamos pensar como
podemos contribuir para a melhoria de nossas vidas e vida dos Xaponos. Nós não vamos conseguir solucionar todos os
problemas, mas podemos com algumas ações positivas contribuir para melhoria das vidas.
Vocês tuxauas, caciques, animadores, alunos do magistério, agentes de saúde e outros podem se tornar
grupos pensantes nestes Xaponos. Não cruzem os braços para ver como acontecem as coisas. Temos que entrar no
jogo da vida e jogar. Ficar na arquibancada e ficar criticando é fácil.
Vamos deixar para trás os pensamentos negativos, crenças negativas que nos escravizam que não deixam
fazer nada, que nos deixam com medo... Não fiquemos justificando dizendo que esta maneira de pensar é própria da
cultura. Você e eu somos capazes de criar outras crenças que nos libertem e levem a fazer coisas boas. Todos nós
estamos merecendo viver melhor.
5. CULTURAS SÃO NOSSOS MODOS DE FAZER
Este é outro tema muito bonito. O ser humano é criador de muitas ações, artes, pinturas, trabalhos, músicas,
poesias... Se olharmos o mundo não dá para contar tantas coisas boas que o ser humano criou, desde as coisas mais
simples até mais complicadas.
Tudo começou com criatividades simples. Hoje tem tantas coisas que antes não imaginávamos: motores,
avião; arquitetura; instrumentos de trabalho; máquinas; informática; músicas, filmes, tecnologias; conquistas (viagem
para lua); avanços das ciências: curas de doenças; medicina; medicamentos... E tantas coisas. Os homens e as
mulheres são poços de sabedoria, foram acumulando desde seus antepassados. Cada geração contribuiu com algum
conhecimento, deram continuidade à pesquisa, continuaram descobrindo a beleza da vida...
Por outro lado as ações humanas também serviram para destruir muitas vidas, nações, povos inteiros... O
homem criou armas de guerra, cada vez mais sofisticadas, mais venenosas que pode acabar com a terra em pouco
tempo... Também estas coisas estão presentes nas nossas culturas, nas nossas memórias e histórias.
Entre nós povos indígenas a riqueza é imensa. Nós não conhecemos tudo. Cada povo tem suas próprias
criações, construções... Em cada ação, criação, construção está presente a nossa vida, a nossa sabedoria, nossos
conhecimentos... Nossos modos de fazer são nossas ideias, conhecimentos e saberes materializados. Como todos os
outros povos também nós desenvolvemos coisas destrutivas entre nós.
É importante refletir essas realidades. Assim vamos assumir a construção de nossas culturas com mais
consciência, com responsabilidade, com bons objetivos. O nosso trabalho sobre isso deve ser de direcionar para ações
positivas as capacidades que temos.
Vocês meus parentes Yanomami podem fazer a leitura da vossa história. E, vocês vão descobrir muitas
coisas boas que construíram durante muitos séculos de existência. E, descobrirão também ações que não ajudaram
bem a vossa história. Por exemplo: as brigas constantes, ferimentos e mortes. Essas ações devem diminuir e até
mesmo acabar.

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TEMA 3. ESCOLA
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Meus caros professores, alunos do magistério, tuxauas e demais participantes como estamos caminhando?
Já realizamos uma longa caminhada até aqui. Conversamos sobre diversos assuntos que tocam a nossa vida pessoal,
coletiva, nossos projetos de vida, nossas histórias e histórias dos outros.
Chegamos ao assunto que está muito próximo de nós: a Escola! Essa palavra já nos é familiar. Sempre
estamos falando dessa palavra. Mas o que essa palavra significa para nós indígenas? Será que foram nossos avôs,
nossos parentes que inventaram a escola?
A escola é parte das culturas. Por isso é certo dizer que a escola é construção histórica dos seres humanos.
Mas a escola não surgiu entre nós indígenas.
A instituição escola vem de fora. É importante que saibamos que a escola veio para o Brasil [1500ss.] com os
colonizadores, comerciantes, exploradores, desbravadores, missionários. Eles tinham escolas para ensinar e aprender.
Entre nós também se ensinava e aprendia. Nas culturas indígenas aprendia-se no dia a dia. Todos os
homens e mulheres ensinavam e aprendiam. Nós também sempre tivemos homens e mulheres sábios. Os nossos avôs
sabiam o que ensinar para seus filhos e netos. Os nossos avôs sabiam o porquê ensinar tais ensinamentos para seus
filhos e netos. Nossos avôs possuíam claramente onde levar as pessoas com a sua educação.
Os nossos avôs sabiam muito bem quando e onde os saberes deveriam ser transmitidos para cada etapa da
vida humana. Eles sabiam bem o que tinha que ensinar para meninos e o que deveriam ensinar para meninas. Eles
sabiam diferenciar os ensinamentos para crianças, para adolescentes, para jovens e adultos. Nossos avôs eram sábios
educadores.
Nossos avôs nos ensinavam na vida do dia a dia, como disse acima, na pescaria, na roça, no passeio... Mas
possuíam saberes que se ensinavam em espaços especiais e momentos solenes: ritos, cerimônias, cantos-danças...
Em diferentes regiões e em diferentes culturas indígenas a escola foi chegando. Desde o início a escola tinha
como objetivo principal “civilizar” o índio. “Civilizar” o índio significava tornar o índio em não-índio (“branco”). No Brasil, o
trabalho de “civilizar” era acompanhado pelo trabalho de “cristianizar” (catequizar), pois as escolas eram dirigidas pelos
representantes do governo federal e pelos representantes da Igreja (católicos e “protestantes” como se dizia na época).
Aqui na nossa região do rio Negro as escolas chegaram mesmo com os missionários salesianos a partir do
ano de 1915: São Gabriel da Cachoeira, Taracuá, Iauareté, Pari-Cachoeira... Aqui no rio Marauiá foi a partir do ano de
1961 (precisa pesquisar datas corretas). Se essa data for correta os salesianos estão presente nessa região quarenta e
nove (49) anos. É um caminho bastante longo!
Como disse acima a escola inicialmente é parte das culturas não-índias. A escola possui pessoas preparadas
para ensinar. Essas pessoas nós a chamamos de Professores e Professoras. Embora estejam dentro das comunidades
indígenas ou Xaponos elas são membros da instituição governamental. A escola possui vida/alma própria, tem seu
modo de funcionamento, segue seus calendários, possui conteúdos apropriados para cada fase da educação dos
alunos. Os alunos progressivamente aprendem saberes devidamente organizados. A escola funciona numa estrutura
própria que denominamos de salas de aula. Os professores e professoras acompanham a aprendizagem de seus
alunos. Os pais também acompanham.
Nas culturas onde a escola já está presente há muito tempo, nas cidades, os pais são exigentes. Querem
que seus filhos sejam bem ensinados, exigem professores e professoras com qualidade. O governante se preocupa
para qualificar os professores e na medida do possível pagar bem os professores.
A escola também está presente aqui nos Xaponos Yanomami. A escola não é uma instituição yanomami, é
ocidental. Trabalha com vocês. Vocês aprendem diversos conteúdos através do programa educacional da escola. Até o
momento presente os professores são todos não-Yanomami. Mas noutra época serão vocês mesmos, seus filhos e
netos.
Quando vocês se tornarem professores e professoras vocês também devem assumir novos modos de pensar
e de agir dentro da escola e dentro de vossos Xaponos. Continuarão sendo Yanomami, mas vocês serão protagonistas
num campo da educação escolar. O trabalho numa escola é um trabalho muito sério, não podemos brincar. Vocês

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serão professores e professoras conscientes de sua identidade Yanomami. Vocês terão que fazer a diferença, fazer
trabalho melhor do que como está agora etc. As exigências dos trabalhos vão gerar em vocês outras maneiras de
encarar os trabalhos. Vocês terão que administrar a sua vida pessoal, seu trabalho de roça, pescaria, caça. E,
administrar com seus trabalhos da escola. Se vocês não levarem a sério as escolas não vão ter qualidade, isto é,
vossos filhos e parentes não vão aprender bem.
No Xapono Pohoro, por exemplo, eu falei sobre a necessidade de saber planejar e saber respeitar os
professores. Daqui a algum tempo alguns Yanomami serão professores e serão contratados. Ganharão seus salários.
Será que vocês saberão respeitar essas novas realidades? Caso frequente entre vocês é este: quando vocês não
gostam de um professor querem tirar e mandá-lo embora. Querem outro professor. Quando os seus parentes se
tornarem professores continuarão fazendo assim também? Já lhes mostrei que não é qualquer pessoa que pode ser
professor, mas quem se preparou para isso. São questões que vocês precisam refletir.
Outra realidade bem presente aqui é de ficar mudando de um Xapono para outro. Essa movimentação
também terá que ser repensada. As atividades escolares para terem continuidade exigem quanto possível moradia fixa.
Mas pode se montar outro modelo escolar com programa educativo próprio. Vocês podem pensar!
Outras vezes vocês misturam problemas do Xapono com as atividades da Escola. Algumas pessoas criam
problemas com alguém do Xapono e querem que a escola não funcione mais. Várias vezes, em alguns Xaponos casos
simples tornam-se problemas grandes. Nós devemos aprender solucionar os problemas e não aumentar sem
necessidade. Imagine quando vocês forem gestores e coordenadores de escolas. Como vocês vão lidar com os
problemas que surgirem? Você gestor, coordenador, professor deve trabalhar para se tornar um bom negociador,
aquele que dialoga, propõe soluções para problemas. Imagine quando os salesianos não forem mais gestores e
coordenadores. Até agora quando surge um problema vocês chamam os salesianos e eles têm que solucionar os
problemas. Posteriormente vocês que terão que correr para encontrar professores, correr para conseguir merenda
escolar e outros materiais que a escola precisar. Até agora vocês exigem muito dos salesianos. E, vocês sabem que
nem tudo depende dos salesianos quando se trata da escola. Depende das instituições governamentais.
É nesse momento que você Yanomami terá que assumir seu protagonismo. Você será o ator principal, será
professor, será gestor etc. Pense nisso, meu amigo e minha amiga Yanomami. Esta realidade está muito próxima de
vocês, não vai demorar muito.
Claro que a compreensão da escola ao longo da história foi trazendo outras concepções e outros modelos de
vida. No nosso país a partir da década de 1970 muitas pessoas começaram avaliar os modelos de escolas presentes
em meio aos povos indígenas e perceberam que deveriam ser diferentes. Diversas organizações de governo,
universidades, estudiosos, indígenas lutaram para que no Brasil a Lei maior chamada Constituição Federal revisasse
isso e propusesse outra visão sobre os povos indígenas. Este desejo se concretizou no ano de 1988. Aconteceu uma
profunda mudança na relação do Estado brasileiro com relação aos povos indígenas.
Atualmente muitos povos indígenas criaram escolas de modelo próprio. Tem um amparo legal (das Leis:
Constituição Federal/1988; LDB, 9394/96 e outras). As escolas indígenas presentes entre os povos indígenas prima
pela interculturalidade e bilinguismo. Em síntese as escolas indígenas apropriam-se (tomam emprestadas) da escola de
modelo ocidental e constroem escolas com políticas pedagógicas próprias. De modo geral aponta para duas direções:
a) preparar os indígenas e qualificá-los dentro de suas culturas; b) preparar os indígenas e qualificá-los para que
saibam interagir com o entorno regional, nacional... Este assunto precisará um aprofundamento maior posteriormente.
Para concluir essa parte quero partilhar com vocês alguma coisa que me lembro dos meus estudos da
Filosofia. Os meus professores me ensinavam dizendo que na Grécia existiam Escolas Filosóficas. Eram Escolas
formadas por Pensadores. Não eram muitos. Eram poucos. Esses Pensadores eram denominados de Filósofos. Os
meus professores me explicavam que os Filósofos eram assim chamados, pois eram considerados Amigos da
Sabedoria. Como eles se tornavam Amigos da Sabedoria? Eles descobriam a sabedoria através da reflexão,
interpretação, meditação...
Entre nós povos indígenas também existem nossos Filósofos, Amigos da Sabedoria. São os nossos sábios:
pajés, mestres de cantos-danças, benzedores, narradores de mitos etc. Nós não somos órfãos de sábios. Temos
nossos sábios, nossos pensadores, nossos orientadores, nossos animadores...
Nos tempos atuais, cada professor e professora, aluno e aluna devem tornar-se Amigos da Sabedoria. É um
trabalho que todos podemos buscar, tornamo-nos amigos da sabedoria, amigo das coisas boas... Combater aquilo que

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não é bom para nós. Temos tudo sermos assim! Assim as nossas culturas indígenas ficarão bem bonitas e fortes. As
nossas escolas ficarão atraentes, espaços de muita união, amizade, de muita aprendizagem... Sonhem com isso!

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TEMA 4: PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO
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O nosso tema é Projeto Político-Pedagógico. Um dos trabalhos importantes que devemos fazer é a
elaboração deste Projeto Político-Pedagógico. Este PPP é um documento muito importante de uma escola. PPP é
como a carteira de identidade de uma escola. Quem quiser conhecer uma determinada escola pode ter acesso a ele.
Imaginemos: eu me considero um cidadão brasileiro, mas não tenho nenhum documento que comprove a minha
existência como cidadão. Assim acontece com uma escola sem Projeto Político-Pedagógico. Trabalhamos sem metas a
atingir. Qualquer proposta que chega à nossa escola serve. Atiramos para todas as direções.
O trabalho de elaborar um PPP é trabalho que requer um longo tempo e precisa de dedicação, precisa do
empenho de todos envolvidos com a escola: gestores, coordenadores, professores, pais, mães, alunos, alunas,
funcionários, outros agentes e instituições presentes na região, assessorias que nos ajudem a pensar etc.
Aqui é um começo! Eu vou explicar alguns sentidos das palavras, origem das palavras. Depois desta
pequena explicação nós iremos trabalhar aprofundando algumas questões importantes que poderão nos ajudar na
elaboração de nosso PPP.
Os alunos do Magistério durante o curso vão ter uma disciplina denominada Projeto Político-Pedagógico.
Eles serão os continuadores na construção de PPP. Este Projeto é bem dinâmico. Novas exigências humanas surgem,
novas metas políticas são estabelecidas; criam-se novos objetivos a atingir e novas propostas educativas.
Para o início de nossa conversa bem simples, vejamos:
PROJETO é aquilo que nós propomos atingir com os nossos trabalhos. No caso da escola seria assim: a
escola é um projeto. Devemos perguntar: Aonde queremos chegar com esse nosso modo de educar? Que tipo de
homem e mulher nós queremos educar/formar através desta escola?
A partir das respostas que damos vamos organizar os conteúdos de nossas práticas educativas escolares.
Os professores que selecionaremos para trabalhar em nossa escola terão que apresentar perfis para esse modelo
escolar que nós projetamos. Não é qualquer professor que servirá para esta escola e não é qualquer assunto que
servirá para atingir nossos objetivos.
POLÍTICO: em língua grega a palavra PÓLIS significa CIDADE. De maneira bem simples POLÍTICA é a
capacidade de organizar a vida da cidade. POLÍTICO é a pessoa capaz de organizar a vida familiar, da cidade. Todo
homem e toda mulher assume essa dimensão política.
Em nossos Xaponos os tuxauas devem ser aqueles homens que saibam organizar a vida de seu povo:
trabalho, festas, diversão; aquisição de bens materiais para o serviço do bem comum...
Os moradores de uma cidade são chamados CIDADÃOS. Eles têm direitos e deveres com a organização
social, na vida da cidade. Os cidadãos precisam receber cuidados da parte autoridades: segurança, saúde, saneamento
básico, emprego, moradia, escola... Por outra parte os cidadãos também possuem seus deveres para cuidar dos bens
públicos.
No caso específico dos povos indígenas sabemos que nós somos minoria no Brasil. As estatísticas sobre os
povos indígenas do Brasil variam desde 350 a 800 mil índios no Brasil. As estatísticas variam também conforme quem
faz. Nas últimas décadas tem aumentado o número de indígenas. Algumas entidades diminuem o número. Ultimamente
tenho acompanhado uma discussão muito duvidosa. Algumas assessorias antropológicas de algumas instituições
afirmam que os índios que estão morando na cidade já não são mais índios. Para estas instituições são índios só
aqueles que vivem em suas aldeias.
Vejamos essa minha reflexão: para nós povos indígenas a nossa essência é ser indígena. Pergunto:
1. Quando um índio vai para cidade ele deixa de ser índio? Agora deram um nome de ÍNDIO URBANO.
2. Quando um índio volta para sua aldeia volta a ser índio? ÍNDIO ALDEADO.
3. Na classificação ÍNDIO URBANO e ÍNDIO ALDEADO qual é a sua variável? Variáveis são: urbano e
aldeado. Qual é a sua essência? A essência (não variável) é ÍNDIO.

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A conclusão que eu faço é: eu sou índio e serei índio onde eu estiver. Mesmo se um de vocês estiver no
Japão, China, Itália... será sempre índio. Se estudando você conseguir ser médico, aviador etc. você será índio.
Esta discussão está gerando problemas entre os próprios parentes indígenas. Há rejeição de seus próprios
irmãos. Surgem casos de ciúmes de serem índios. Os índios que moram em suas aldeias querem deter o direito de
serem índios e negar aos seus parentes que vivem na cidade o direito de serem índios. É isso mesmo que muitas
pessoas querem de nós, que briguemos entre nós, neguemos a nossa identidade indígena. Estou falando isso, pois
posteriormente pode acontecer a mesma coisa por aqui
Por outro lado vemos uma política indígena bem confusa no caso de documentações: documentos indígenas.
Às vezes fico imaginando que posteriormente pode gerar problemas mais graves. Quando eu estudava em Campo
Grande/MS (2005-2006) alguns índios Terenas foram impedidos de entrar na Universidade porque não tinham
documentos oficiais do país, possuíam apenas documentos indígenas. Vamos torcer que essa política beneficie os
povos indígenas. Essa minha colocação é apenas uma impressão, eu não conheço bem este projeto de governo.
Muitas crianças que nascem no Brasil não possuem documentos e identificação, por isso, não são contados
como cidadãos brasileiros. Muitos parentes indígenas estão nesta situação. Nós para sermos cidadãos oficialmente
reconhecidos precisamos possuir documentos que provem a nossa existência: Registro de Nascimento, Carteira de
Identidade (RG), Cadastro de Pessoas Físicas (CPF), Título de Eleitor, Serviço Militar (para rapazes), Carteira de
Trabalho, Passaporte (para quem vai viajar) etc.
Esse assunto toca diretamente a vocês. Maioria de vocês não possui documentos pessoais. Sem
documentos muitas coisas serão dificultadas: ser contato como brasileiro (a); abrir contas no Banco; Votar e ser Votado;
ser contratado para o Trabalho (emprego); viajar para o exterior. Ultimamente estavam exigindo o comprovante da
eleição para entrar na universidade e fazer as viagens para o exterior etc.
A situação de nosso povo aqui é assim: maioria não possui documentos. Precisam se organizar para tirar os
documentos. Qualquer dia vocês vão precisar. Exemplo bem visível: os alunos do magistério terão que começar
providenciar os seus documentos. Daqui a um tempo serão contratados como funcionários públicos (professores (as)).
Se não tiverem documentos não será fácil contratá-los. Outro exemplo: a escola precisa criar a Associação de Pais,
Mestres e Comunitários (APMC). Para formar a diretoria desta Associação teremos que contar com pessoas que
possuam documentos. Se a maioria não tiver não será possível. Pois o setor que trabalha com APMC em Manaus me
perguntou quando eu estive lá: padre o pessoal possui documentos pessoais: carteira de identidade, CPF? A
responsável falou: primeiro trabalho que tem que fazer é ajudá-los a tirar os documentos. Estão vendo que os
documentos são importantes? Não adianta dizer: eu sou Yanomami e eu não preciso disso! Não diga isso, pois
qualquer dia você pode precisar.
Tem muitas outras situações que estão ligadas aos nossos documentos. Mais um exemplo: para emitir um
documento de conclusão de um curso, precisa de documentos pessoais. Geralmente quando falta um documento que
eles exigem não saem os nossos documentos de conclusão de estudos.
Eu estou contando essas realidades para que vocês saibam como funciona a sociedade brasileira. Ela é
maior do que o nosso Xapono. Aqui nós temos os nossos chefes, mas aí fora tem outras autoridades, fiscalização,
controle... Se for pego por aí numa batida policial não adianta dizer: eu sou Yanomami. Eles querem documentos para
comprovar quem é você. Sem documentos qualquer um de nós pode ser preso.
PEDAGÓGICO, termo que vem da palavra grega PEDGOGÈ que significa conduzir, acompanhar...
PEDAGOGIA: é o processo (= trabalho, ação, organização) de CONDUZIR uma PESSOA ou GRUPO para ATINGIR
determinados OBJETIVOS. Por isso, todas as ações humanas possuem objetivos, metas que quer atingir.
Independente da pertença cultural todos os educadores possuem suas pedagogias.
O educador/professor é aquele (a) que CONDUZ os ALUNOS: incentiva, motiva, freia, acelera, avança... É
um trabalho delicado, exigente... Ele precisa possuir qualidades para exercer este trabalho.
Por enquanto vamos parar por aqui. Mas os estudos continuarão.

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ANEXO:
Em cada Xapono os trabalhos de grupos demoravam uma parte do dia (uma manhã ou tarde) e noutra parte havia
exposição das respostas.
Segundo aquilo que eu percebi a maioria dos participantes tem dificuldade de expressar seus pensamentos em língua
portuguesa, por isso, eu demorava em entendê-los o que eles queriam dizer. Eu escrevia e lia se era aquilo que
estavam querendo dizer. Em algumas questões os participantes aprovavam logo. Outras vezes repetiam novamente a
ideia original até eu colocar o que eles queriam.
Foi um trabalho que nos ajudou muito a compreender o outro.
Em alguns Xaponos, os grupos escreviam e explicavam em língua yanomami. Um dos alunos do curso do Magistério
Indígena ou outro me traduziam o que eles explicavam. Em alguns momentos eu os perguntava várias vezes o que eles
queriam de fato dizer.
A organização das respostas ficou por minha conta e vocês verão encontrarão respostas repetidas por causa de
diferentes grupos.
1. NÓS QUEREMOS ESCOLA!
Visão Yanomami:
Alunos do magistério, AIS2, 6º e 7º ano e outros alunos
XAPONO POHORO
Queremos uma escola que nos traga uma educação de qualidade no nosso Xapono.
Queremos aprender mais para desenvolver melhor os nossos trabalhos de Magistério.
Queremos melhorar o nosso conhecimento da nossa língua portuguesa e falar melhor.
Queremos ser bem alfabetizados e ser bem preparados pela escola.
Queremos aprender a conviver bem com outras culturas [índios e não-índios] sem perder a nossa cultura.
Queremos escola que dê um futuro melhor para nós Yanomami e nossos Xaponos.
Queremos uma escola que traga educação para todos nós e todos Xaponos.
Queremos que a escola (2ª educação) colabore com a educação que nós já recebemos de nossos pais em nossos
Xaponos (1ª educação).
Queremos adquirir conhecimentos para nós e para todos.
Queremos aprender novos conteúdos e novas palavras.
Queremos aprender melhor para saber educar melhor os nossos filhos – quanto mais a minha vida se tornar melhor posso
educar as crianças. Se eu não aprender bem eu vou ensinar mal os meus alunos.
Queremos uma escola que nos ensine a falar melhor.
Queremos uma escola que contribua melhor para as mudanças que acontecem no nosso Xapono.
Queremos uma escola que nos ensine novos comportamentos: quando não tínhamos escola, brigávamos muito entre nós;
os nossos antepassados que não tinham escola brigavam muito entre eles, se matavam, pegavam as mulheres dos
outros. Eles faziam assim porque só seguiam a educação Yanomami.
Queremos uma escola que nos ensine a viver em paz como indígenas e viver bem com outros povos indígenas e não-
indígenas.
Queremos uma escola que contribua melhor na educação de nossos filhos.
Queremos adquirir mais conhecimentos dentro de nossas comunidades e outras cidades.
Queremos uma escola que continue nos ensinando e ajude a melhorar as nossas vidas, nos ensine a evitar brigas e viver
em paz.
Queremos uma escola que nos eduque mostrando como devemos viver como povo Yanomami.
Queremos uma escola uma escola que nos ensine conhecimentos de diversas matérias (disciplinas: português, ciências,
geografia etc).
Queremos (alunos do magistério indígena) continuar aprendendo com os professores titulares de como devemos ensinar
aos alunos de nossas escolas.
Queremos uma escola yanomami mesma [Escola Indígena: intercultural, bilíngue...]. Aqui não existem outras culturas, só
temos herança do povo Yanomami.
Queremos uma escola que nos ajude a valorizar a nossa cultura yanomami: nós não queremos abandonar as nossas
culturas; queremos aprender mais para ensinar melhor aos nossos filhos e netos: danças, caça, pesca... Se esquecermos
a nossa cultura como podemos continuar como povo Yanomami?
2 Agente Indígena de Saúde

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Queremos uma escola que ensine a valorizar cultura yanomami e nos ensine a interagir bem com as culturas não-
indígenas (e indígenas?).
Queremos uma escola nos ajude a proteger as nossas riquezas: florestas, rios, animais...
Queremos uma escola que nos ajude a aprender bem a língua yanomami e língua portuguesa...
Queremos uma escola que nos mostre que quanto mais estudamos na escola, devemos valorizar melhor a nossa cultura:
não podemos pensar que só porque estudamos devemos abandonar a nossa cultura.
Queremos uma escola que nos ensine e com aquilo que aprendemos devemos melhorar a nossa vida yanomami.
XAPONO KOMIXIWË
Nós queremos aprender mais língua portuguesa: nós temos dificuldades de estudar as palavras do “branco” (não-
indígena).
Nós queremos continuar aprendendo porque nós temos necessidade.
Nós queremos mais professores para nós ensinar.
Nós queremos que a escola [estrutura] seja ampliada para favorecer ambiente bom para o trabalho dos professores e que
os alunos aprendam bem.
Nós queremos que os alunos aprendam a conhecer a realidade dos “brancos” e também conhecer a realidade Yanomami.
Queremos estudar para nos tornarmos profissionais Yanomami aqui no nosso Xapono.
Queremos adquirir outros conhecimentos: a língua portuguesa, história, geografia e outras matérias.
Queremos que um de nós torne-se um profissional e isso será uma grande alegria para nós.
Queremos que a escola (estrutura física) fique separada da residência salesiana.
Queremos uma escola bem organizada.
Queremos que a escola (estruturada física) seja reformada para que os alunos gostem dessa escola.
Queremos estudar a língua portuguesa para melhorar a nossa pronúncia e nossas falas.
Queremos estudar mais a língua portuguesa para comunicarmos com os não-indígenas e com outros povos indígenas.
Queremos uma escola que nos ensine a língua portuguesa e assim podemos lutar pelos nossos direitos e cumprir com os
nossos deveres de brasileiros: só poucas pessoas têm documentos e a maioria não tem.
Queremos que seja construído um Ginásio Poliesportivo ou quadro de futsal como existe em outras escolas (Maturacá?)
Nós queremos sala de informática e computadores para aprendizagem dos alunos.
Queremos que tenham salas para: diretor, biblioteca, secretaria.
Na área da pastoral: sala do oratório (animação dos jovens); sermos batizados...
XAPONO TABULEIRO
Queremos uma escola maior no Xapono Tabuleiro: a escola que temos é muito pequena; o número de alunos está
aumentando.
Queremos que nossa escola em breve seja ampliada. A escola é muito pequena, não tem espaço suficiente para atender
os alunos, as salas são muito pequenas, por isso nós estamos tristes junto com os tuxauas nós queremos: sala de
biblioteca para facilitar a pesquisa; a sala dos professores para planejar as atividades escolares; materiais didáticos
suficientes.
Queremos uma escola de qualidade porque a escola é uma fonte de acolhimento: com o auxílio dos professores
aprendemos ler, escrever e falar; aprendemos a compreender como devemos viver na nossa comunidade, ou seja, o
nosso Xapono.
Queremos aprender outra língua.
Queremos aprender falar português para poder nos relacionarmos melhor com outros povos. E trazer outros
conhecimentos na nossa comunidade.
Queremos que a escola nos ensine muitos ensinamentos da língua portuguesa para dialogar com os brancos e defender
nossas terras.
Queremos estudar mais para ficar (ser) alguém na vida, por isso nós queremos chegar aonde brancos chegam.
Queremos através daquilo que aprendemos na escola entendermos melhor os nossos irmãos Yanomami.
Nós queremos que as escolas presentes em nossos Xaponos possam gerar benefícios e desenvolvimento para o nosso
povo.
Nós queremos saber falar bem português para conhecer o mundo, saber falar outra língua e também nós queremos
estudar muito melhor.
Nós queremos aprender muitas coisas boas para sermos bons professores com nossos alunos.
Queremos que a escola nos ajude a chegar os estudos que nos ajudem a tornar médicos, dentistas... para ajudarmos os
nossos parentes.
Nós Yanomami queremos ajuda na nossa formação para sermos professores para ensinar aos nossos irmãos Yanomami.
Nós queremos e precisamos materiais didáticos para escola. Assim se pode fazer trabalho de qualidade.
Com a escola nós queremos aprender, ler, escrever e falar o que a escola ensina.

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Nós Yanomami queremos escola de qualidade: espaços adequados, materiais necessários, professores preparados,
comunidade responsável...
Queremos adquirir o conhecimento Pedagógico da Escola.
Na área pastoral: construção de uma capela para momentos de orações, missa...
XAPONO BALAIO
Queremos uma escola bem equipada.
Queremos uma escola com salas separadas para cada série (1º a 6º ano ).
Queremos uma sala para biblioteca e sala de internet.
Queremos uma escola de alvenaria, pois uma construção de madeira não dura muito tempo.
Queremos mais cadeiras, pois cada ano aumenta o número de alunos.
Queremos os uniformes para alunos em cada ano.
Queremos melhorar a nossa vida.
Queremos seguir estudando mais.
Queremos uma escola que nos ensine as nossas histórias.
Queremos uma escola que nos ensine as CIÊNCIAS.
Queremos uma escola que ensine a cultura Yanomami.
Queremos uma Escola Indígena.
Queremos um campo de futebol, voleibol...
Na área pastoral: queremos uma Capela (igreja); queremos ser batizados, pois já sabemos rezar e já aprendemos muitas
coisas; queremos uma igreja católica/apostólica.
2. ONDE QUEREMOS CHEGAR COM A ESCOLA?
Visão Yanomami:
Alunos do magistério, AIS, 6º e 7º ano e outros alunos
XAPONO POHORO
Queremos chegar a possuir um bom nível de educação e saber conviver com a sociedade.
Queremos chegar a estudar na escola porque quando nós não estudamos não sabemos as palavras em língua
portuguesa.
Queremos que os alunos sejam preparados na escola para aprender falar em língua portuguesa para que aonde forem
saibam conversar com pessoas de outras culturas, dialogar com outros povos...
Queremos dar continuidade de nossa educação escolar para aprender mais. Nos primeiros anos sentimos muitas
dificuldades para aprender.
Queremos adquirir mais conhecimentos para chegar ao nível de não-indígenas.
Queremos adquirir conhecimentos diferentes e melhores do que de nossos antepassados.
Queremos que as crianças valorizem nossa cultura e outras culturas.
Queremos seguir em frente com menos dificuldades para falar a língua portuguesa.
Queremos conquistar outros conhecimentos e outras melhorias na vida como os nossos outros parentes indígenas estão
conseguindo com suas escolas.
XAPONO KOMIXIXË
Nós queremos continuar estudando.
Nós queremos aprender como os “brancos” (não-índios); não queremos ficar como foram os nossos antepassados.
Nós jovens estamos querendo dialogar com os “brancos”.
Se nós não chegar onde os “brancos” estão chegando como vamos comunicar ou solicitarmos o que necessitamos
com/dos brancos.
Estudo nosso é mais importante para nós Yanomami. Por quê? Sem estudo nós não defenderemos o nosso povo.
Nós queremos levar a escola mais pra frente onde os “brancos” estão. Por isso nós nos esforçamos para estudar na
escola estadual, caminhando bem. Por quê? A escola salesiana não pode ficar para trás.
Nós alunos esforçaremos na escola, aprendemos muitas coisas novas, muitas novidades.
Nós queremos tornar profissionais como os “brancos”.

3.10 Page 30

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Queremos nos profissionalizar na Faculdade. Assim nós queremos também.
Nós queremos levar a nossa escola para frente.
Todos nós alunos queremos através da escola atingir nossos objetivos.
Queremos muito esforçar para aprender e mudar a nossa vida.
Precisamos estudar para chegar como outros povos e chegar aonde eles chegaram.
Precisamos muito do estudo na nossa vida e mudar a nossa escola.
Nós precisamos de muitos professores de fora.
Nós queremos conhecer as culturas de outros povos, indígenas e não-indígenas.
Nós Yanomami queremos muita orientação dos professores de fora.
Para todos nós a escola é nossa mãe. Por isso que é muito importante na vida do seres humanos, precisamos conhecer
outra parte do mundo fora.
Nunca queremos desistir na escola nossa vida...
XAPONO TABULEIRO
Nós queremos professores educados para ensinar melhor.
Quando os Yanomami estiverem formados só seremos professores Yanomami ensinando os alunos do Xapono.
Nós queremos aprender para sermos alguém (professores...) na vida.
Queremos aprender mais com os professores indígenas.
O estudo é muito importante, por isso queremos caminhar no processo educativo.
Queremos chegar à escola para aprender bem com os professores.
Queremos aprender para ser professor da pedagogia para ensinar os alunos com mais facilidade.
O nosso estudo é melhor quando a educação leva pra frente e quando os professores levam para melhor.
Nós queremos chegar aos cursos superiores também como outros povos. Por isso, nós também estamos estudando.
Nós queremos atingir coisas melhores para o nosso povo. Só conseguiremos isso através da educação.
Queremos ser diferentes através da sabedoria e chegar aonde os nossos avôs nunca chegaram através da educação
recebida na escola.
Nós alunos Yanomami do Tabuleiro queremos chegar aonde nossos avôs nunca chegaram com os “brancos” e nós seus
netos queremos ir mais para frente através dos estudos.
Nós alunos Yanomami queremos chegar aonde os “brancos” chegam com estudo: estudos superiores, em diversas áreas.
Nós Yanomami queremos a escola DIFERENTE (DIFERENCIADA?) e melhor no futuro.
Nós Yanomami do Tabuleiro queremos a escola bem melhor no futuro.
Nós queremos chegar à melhoria de nossa escola e nosso povo.
Nós Yanomami do Tabuleiro queremos aprender mais outras matérias, outras línguas.
Nós Yanomami queremos chegar com a escola aonde ela nos levar: outros cursos; Faculdade; ser dentista (Lourenço –
AIS: Laboratorista); curso de Direito – para defender nossos direitos; matemática (para ser professor da matemática na
minha escola); aprender informática.
Nós Yanomami de Tabuleiro primeiro precisamos conhecer as raízes (riquezas) da nossa cultura para depois INTERAGIR
bem com outras raízes (outras culturas; outros povos).
XAPONO BALAIO
Através de estudos queremos chegar a terminar o Ensino Médio.
Através do curso de magistério queremos melhorar o nosso trabalho como os professores de fora.
Queremos ser bons professores para ensinar nossos alunos.
Queremos professores bem formados para nos ensinarem bem melhor.
Nós queremos nos tornar bons professores para ensinar bem nossos alunos.
Queremos chegar a um futuro melhor para ajudar o nosso povo Yanomami.
Nós queremos promover a paz entre os moradores de nosso Xapono e nos relacionar bem com os moradores de outros
Xaponos.
Na área pastoral: nós queremos a catequese; nós queremos ser catequistas; nós queremos ser batizados; nós queremos fazer a
1ª Eucaristia.
3. COMO DEVERIA SER ESCOLA ENTRE NÓS
Visão dos Tuxauas e Caciques
XAPONO POHORO
(Nesta Xapono os Tuxauas e Caciques não participaram).

4 Pages 31-40

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4.1 Page 31

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XAPONO KOMIXIWË
Queremos uma escola de qualidade e bem estruturado que sirva para todos.
Queremos escola de alvenaria que dê segurança e separada da residência salesiana.
Queremos valorizar a escola que temos e queremos sua continuidade para o bem de nossos filhos.
Queremos a escola maior, pois, a escola que temos é pequena e não tem espaço para todos.
Queremos mais recursos para nossas escolas.
XAPONO TABULEIRO:
Precisamos de escola maior que atenda a todos os alunos, professores (as).
Nós queremos a escola bem ampla.
Queremos a escola bonita, bem organizada.
Queremos professores para atender os nossos alunos.
Queremos assistência à educação.
Queremos ajudar as atividades da escola assim teremos ter boa escola.
Eu Tuxaua [Tiago] de Tabuleiro quero escola grande, completa feito de alvenaria.
Nós precisamos o que está faltando dentro da nossa comunidade Tabuleiro.
Queremos que na escola tenha Yanomami para trabalhar.
A SEDUC tem que ampliar a casa da Escola. Assim nós teríamos muito orgulho como povo Yanomami (como tem
Maturacá (tinha alguém vindo de Maturacá)). Com salas pequenas que temos estamos sofrendo. Por isso, as nossas
crianças estão querendo muito escola grande.
Queremos mais professores para os nossos filhos.
Queremos escola maior porque cada ano aumenta o número de alunos em nosso Xapono (atualmente são 102 alunos).
As salas de aula são pequenas e quentes. Precisa de refrigeração nas salas (ventilador? Ar condicionado?).
Queremos que a nossa escola tenha material esportivo; ambientes: campo de futebol, bolas, redes...
Os alunos querem que a casa/escola seja bem bonita.
A nossa escola precisa de cadeiras. Atualmente nem todos os alunos têm carteiras para sentar e escrever, aprender bem.
A SEDUC tem que aumentar a quantidade de merenda escolar.
Queremos que na escola tenha sala para professores.
Queremos uma cozinha própria para escola.
Queremos que uma mulher yanomami que seja a cozinheira (merendeira).
Queremos que a escola tenha cobertura de zinco e não de palha. A palha para cobertura da casa aqui é muito difícil de
encontrar.
Aqui na nossa escola os alunos e professores estão precisando os banheiros para suas necessidades (até hoje os alunos
e professores... fazem suas necessidades pelo mato).
Queremos que a escola seja feita com piso de cimento. Muitos alunos andam descalços.
Queremos uma televisão dos alunos.
Na área pastoral: nós queremos a ajuda dos salesianos.
XAPONO BALAIO
A nossa escola está nos levando para o melhor e estamos felizes com os trabalhos realizados através desta escola. Por
isso, queremos que a escola continue ensinando bem aos nossos filhos.
Nós queremos aumentar a nossa escola [estrutura], para ter mais espaços para os nossos filhos, muitos alunos, nossos
filhos estão junto com diversas turmas e às vezes estão sentados fora das salas, no chão, sem carteiras. A escola que
temos é pequena demais.
Nós queremos que a escola possua material esportivo para animar os nossos alunos e todos moradores.
Nós queremos que a nossa cultura yanomami seja ensinada na escola, pois nós não queremos que ela desapareça.
Nós queremos também que os nossos filhos aprendam bem a cultura ocidental (não-indígena) para saber viver com
outros povos.
Nós queremos que tenha campo de futebol... para que os nossos filhos possam se divertir. Devemos organizar espaços
próprios de jogos para jovens e crianças. Assim evitaremos problemas que possam surgir, como exemplo: os jovens
machucar as crianças.
Nós queremos professores Yanomami bem formados como os professores de fora, para ensinar bem aos nossos filhos.
Nós queremos uma sala apropriada para criancinhas, com carteiras próprias. Atualmente as nossas crianças com seu
professor estão estudando no Xapono e no chão. Por isso, que queremos sala para estas crianças.
Nós queremos sala de 2º, 3º, 4º ano.
Queremos sala de computação.

4.2 Page 32

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Queremos uma biblioteca.
A nossa escola [estrutura] é pequena e precisa ser ampliada; faltam materiais escolares, livros didáticos, merenda
escolar; (sabão para dar banho às criancinhas), uniformes [e seus acessórios: blusa, calças, bolsas, sapatos...].
Queremos aparelho de TV, para assistir os noticiários. Queremos gerador, diesel, fios elétricos etc.
Na área pastoral: nós queremos que seja construída uma capela para nós; para que os nossos alunos e todos os moradores
possam rezar dentro dela.
4. PARA ONDE ESTAMOS LEVANDO NOSSOS ALUNOS?
Visão de atuais professores não-yanomami
XAPONO POHORO
Através da educação escolar queremos levar o povo Yanomami para a melhoria da vida. Sem a escola a convivência com
os Yanomami continuaria como era antes.
Através da escola queremos contribuir com a construção da história do povo Yanomami, pois vemos que a escola já
modificou muitas práticas da cultura yanomami daqui. E, alguns já sabem interagir com os membros das culturas não-
indígenas.
Percebemos que para que os Yanomami se tornem cidadãos brasileiros legalmente podemos contribuir para que
adquiram os documentos pessoais: Certidão de Nascimento, RG, CPF, Título... Assim eles podem transitar melhor pelas
cidades, quando for necessário.
Os nossos alunos Yanomami estudando já estão exercendo a sua cidadania. Através de seus estudos conseguirão seus
certificados de conclusão de estudos. Assim serão reconhecidos em outros lugares, longe do Xapono. Nós estamos
colaborando nessa história deles.
Queremos prepará-los para superar os desafios da vida, criando neles nova visão sobre a vida e seus trabalhos.
Repensar a idade do casamento. Os jovens e as jovens, aqui casam bem cedo e com isso, ficam cedo para criar suas
famílias e não continuam os seus estudos. Os estudos exigem mais tempo para estudo.
Despertar neles o espírito crítico: assumir valores e tornar cidadãos responsáveis em seus Xaponos.
Preparar os futuros professores para trabalharem diferente de nós com seus parentes. Acreditamos que eles sendo
yanomami ensinarão melhor aos seus parentes.
Trabalhar pela melhoria de suas comunidades.
Evitar conflitos entre as pessoas de diversos Xaponos. A escola pode ajudar para que eles aprendam a dialogar e resolver
os problemas.
Promover uma educação melhor.
Ensinar a escrever.
Ensinar a comunicar.
Ensinar a ser cidadão [ter documentos, reconhecimento como cidadãos].
Ensinar para que eles saibam quais são seus direitos e deveres de cidadãos brasileiros.
Ensinar para que tenham um aprendizado melhor; saibam olhar para o futuro; prepará-los para progresso que vem de fora
para dentro.
Preparar para receber a educação diferenciada, [diferenciada!].
Mostrar-lhes sobre a sua capacidade, se quiser, ao ensino superior como os outros povos.
Incentivar as crianças para adquirirem conhecimentos: da sua cultura e cultura não-indígena.
Queremos a valorização da vida social para que se tornem cidadãos brasileiros, conheçam as diversidades culturais
[indígenas e não-índias].
Mostrar para eles que para nós indígenas é difícil estudar na cidade, existem muitos preconceitos contra os índios. Mas
com coragem podemos conquistar o que desejamos.
Mostrar para eles que através da escola e educação nós tornamos fortes como outros povos e assim outros nos
respeitam.
Mostrar a necessidade de que precisam de documentos para ser reconhecidos como brasileiros.
Levar os Yanomami para o desenvolvimento educacional e seus objetivos.
Queremos através da escola, ensinar sobre as diversas culturas, indígenas e não-indígenas.
Levar os alunos a sonhar com algo maior: estudar e terminar; ser professor.
Levar a interagir com outros povos e ser sonhadores de um futuro melhor.
XAPONO KOMIXIWË:
Levar a entender o valor dos estudos.
Fazer o acompanhamento dos pais e dos filhos estudantes.

4.3 Page 33

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Incentivo com visão nova na escola, através do estudo.
Fazer conhecer o valor que a Escola dá aos filhos de cada família.
Mostrar que todos os Yanomami são cidadãos brasileiros e o caminho do estudo ajuda mais compreender essa história.
Orientar principalmente os adolescentes e crianças para que mais tarde se tornem alguém; que possa ser bom
administrador, bom orientador, conservando a sua cultura.
Preparar cada aluno (a) para vida do cotidiano.
Preparar os jovens e adolescentes para formação familiar: namoro; rapaz conhecer a moça; moça conhecer o rapaz; O
que é o casamento? O homem querer bem sua esposa; a mulher querer bem seu esposo; querer bem seus filhos: AMOR
CONJUGAL – FORMAÇÃO DE FAMÍLIA ORGANIZADA.
XAPONO TABULEIRO
Nós professores temos um ideal desafiador e profundo de conduzir os alunos com o objetivo didático de acordo com o
ensino-aprendizagem, posicionando-os para uma perspectiva de vida melhor.
Através da educação escolar, orientar e ampliar seus horizontes no meio social como um bom cidadão. Dessa maneira,
poderão se relacionar melhor entre outros povos valorizando a sua cultura através da Pedagogia Intercultural Indígena, a
qual já é uma realidade entre os mesmos.
Somente através do ensino de qualidade e da participação e interesse de todos é que haverá mudanças melhores
futuramente. No entanto os alunos Yanomami já têm um bom começo no seu aprendizado.
Nós professores queremos avançar mais, oferecendo a eles o melhor. Assim estaremos abrindo um panorama de
conhecimentos com novos ideais e preparando-os para desafios, e visando um futuro promissor, levando-os
continuamente pra o seu desenvolvimento pessoal e profissional e em conseqüências trará melhoria de vida dentro da
sociedade, e no seu Xapono sem ultrapassar ou esquecer-se de sua cultura no seu dia a dia, onde os mesmos se
encontrarem futuramente.
XAPONO BALAIO
A educação leva o aluno a aprender melhor, tais como, viver em paz, alegria...
A educação leva o aluno a viver com saúde e bem limpos.
A educação ensina a viver com alegria.
A educação ensina na felicidade.
A educação ensina os alunos a aprimorar nos conhecimentos nas matérias escolares para puderem aprender e ser
alguém na vida.
A educação ensina a descobrir sua cultura e suas raízes.
A educação ensina as pessoas a viverem unidos.