A MENSAGEM DO REITOR-MOR
Pe. Ángel Fernández Artime
ATÉ DAR A VIDA
Vendo que não conseguia pará-lo, o jovem voluntário salesiano abraçou-o fortemente dizendo: “Morrerei, mas não te deixarei entrar na igreja”
Assim o jovem e o kamikaze morreram juntos.
Queridos leitores do Boletim Salesiano, gosto muito de narrar factos de vida que me impressionaram profundamente. Por isso hoje, perante tantos projetos, sonhos e perspetivas do novo ano letivo, quero narrar-vos a história de um jovem, semelhante a tantos outros jovens das nossas casas; jovens voluntários ou jovens em serviço cívico; animadores dos oratórios e dos centros juvenis, apaixonados pela vida como os seus contemporâneos.
Este jovem de que vou falar-vos é um ex-aluno salesiano do Paquistão que “pura e simplesmente” se sacrificou como mártir para salvar dezenas de vidas. Porque os jovens são capazes de tudo, até do maior heroísmo.
A história de Akash Bashir
A vida de Akash Bashir é surpreendentemente normal. Um aluno salesiano, um jovem católico nascido numa família humilde, mas com uma fé profunda e sincera. Estudou numa das nossas escolas no Paquistão, na cidade de Lahore, no bairro cristão de Youhanabad.
Akash Bashir vive a sua vida normalmente como qualquer outro jovem deste mundo, entre a família, os amigos, a escola, o trabalho, o desporto, a oração. Certamente, num país como o Paquistão, em que prevalece uma fé muçulmana conservadora, ser um jovem católico não é coisa fácil. Aqui a fé não é só um título ou uma tradição familiar, é uma identidade.
O simples mas significativo fio condutor que tornou diferente a sua existência foi o “serviço”. Cada momento da vida de Akash foi um ato de serviço, e morreu servindo a comunidade do seu bairro, morrreu servindo até dar a sua própria vida.
A 15 de março de 2015, enquanto se celebrava a Santa Missa na paróquia de S. João, o grupo de guardas de segurança composto por jovens voluntários, de que Akash Bashir fazia parte, controlava fielmente a entrada. Naquele dia aconteceu algo de insólito. Akash notou que uma pessoa com material explosivo debaixo da roupa estava a tentar entrar na igreja para se fazer explodir dentro; detém-no, fala-lhe e impede-o de continuar, mas, dando-se conta de que não conseguia pará-lo, abraçou-o fortemente, dizendo: “Morrerei, mas não te deixarei entrar na igreja”. Assim o jovem e o kamikaze morreram juntos. O nosso jovem ofereceu a sua vida salvando a vida de centenas de pessoas, rapazes, raparigas, mães, adolescentes e homens adultos que estavam a rezar naquele momento dentro da igreja.
Akash tinha 20 anos.
Este facto causou uma profunda impressão em nós como salesianos e como família salesiana e naturalmente não pdemos nem queremos esquecer o jovem Akash. A sua vida simples e normal foi, sem dúvida, um exemplo muito significativo e importante para os jovens cristãos de Lahore, de todo o Paquistão e do mundo salesiano.
A sua mãe disse: “Akash fazia parte do meu coração. Mas a nossa felicidade é maior do que a nossa dor, porque não morreu de toxicodependência ou de acidente. Era um jovem simples que morreu no caminho do Senhor, salvando o sacerdote e os paroquianos. Akash é já o nosso santo”.
Agora, é o irmão mais novo do que Akash, Arsalan, que ajuda a equipa de segurança da Igreja. “Não pusemos obstáculo porque não queremos impedir os nossos filhos de servir a Igreja”, diz a mãe.
Jovens mártires de hoje
«Quem quiser salvar a sua vida, há de perdê-la, e quem perder a sua vida por minha causa, há de salvá-la», disse Jesus.
Akash Bashir é o exemplo vivo disso. É um exemplo de santidade para todo o cristão, um exemplo para todos os jovens cristãos do mundo. Ser santo hoje é possível! E é sem dúvida o sinal carismático mais evidente do sistema educativo salesiano. Cada aluno das nossas escolas sabe que para alcançar a santidade é necessário encontrar a felicidade amando profundamente a Deus e as pessoas queridas; cuidar e prestar atenção àqueles que mal conhecemos; ser responsável nos deveres de cada dia, servir e rezar.
Mas de modo particular, Akash representa os jovens cristãos pasquistaneses, representa as minorias religiosas. Akash Bashir è a bandeira, o sinal, a voz de tantos cristão que são atacados, perseguidos, humilhados e martirizados nos países não católicos. Akash é a voz de tantos jovens corajosos que são capazes de dar a vida pela fé, não obstante as dificuldades da vida, a pobreza, o extremismo religioso, a indiferença, a desigualdade social, a discriminação.
Com o espírito de outros jovens santos ou bem-aventurados, como S. Domingos Sávio (+1857), Santa Maria Goretti (+1902), o Beato Pier Giorgio Frassati (+1925), o jovem santo José Sanchez del Rio (+1928), o jovem recentemente beatificado Carlo Acutis (+2006).
A vida de Akash é o forte testemunho da Igreja Católica de hoje que nos recorda as primeiras comunidades cristãs do passado, que viviam imersas em culturas e filosofias opostas à fé de Jesus. Também as comunidades nos Atos dos Apóstolos eram uma minoria, mas com uma fé incomensurável em Deus. A vida e o martírio deste jovem paquistanês, de apenas 20 anos, mostra-nos a força do Espírito Santo de Deus, vivo, presente nos lugares onde menos se espera, nos humildes, nos perseguidos, nos jovens, nos pequenos de Deus.
Akash Bashir, o nosso ex-aluno salesiano do Paquistão é um testemunho do nosso Sistema Preventivo, um exemplo para os nossos jovens e uma bênção para as nossas minorias religiosas.
A todos vós desejo um ótimo início do novo ano letivo e uma especial bênção para as vossaas famílias, comunidades e instituições.