BS 2023-07: ESTE É AMOR…

A MENSAGEM DO REITOR-MOR

Pe. Ángel Fernández Artime


ESTE É AMOR…


Este é o bem simples e silencioso que Dom Bosco fez.

Este é o bem que continuamos a fazer juntos.


Amigos, leitores do Boletim Salesiano: recebam como todos os meses a minha cordial saudação, uma saudação que estou a preparar deixando falar o meu coração, um coração que quer continuar a olhar o mundo salesiano com aquela esperança e aquela certeza que Dom Bosco mesmo tinha, que juntos podemos fazer muito bem e que o bem que se faz deve ser dado a conhecer.

Antes de escrever as minhas saudações, li todo o conteúdo do número do Boletim deste mês. Vejo-o sempre antecipadamente, de modo a escrever aquilo que considero adequado ao tema.

Gostei muito do boletim deste mês, com toda a sua diversidade, com o precioso testemunho de como é possível ser muito salesiano através da entrega quotidiana no oratório salesiano, em todos os pátios, em todos os lugares onde crianças e adolescentes – e os jovens que os animam – encontram um espaço de vida, um espaço são, um espaço educativo, um espaço que educa para a vida e para o sentido da vida, um espaço de fé (se se quiser fazer).

Revejo em muitos salesianos a “paixão” de Dom Bosco pela felicidade dos seus jovens. Uma fórmula que se tornou famosa procura condensar o sistema educativo de Dom Bosco em três palavras: razão, religião, amor. Escola, igreja, pátio. Uma casa salesiana é tudo isto realizado na pedra. Mas o oratório de Dom Bosco é muito mais do que isso. É um arsenal de estímulos e de criatividade: música, teatro, desporto e passeios que são verdadeiros mergulhos na natureza. Tudo condimentado com um afeto real, paterno, paciente, entusiasta.



MÃE CORAGEM



Pois bem, enquanto leio com pena e preocupação a crónica do Sudão, onde a situação de todos é muito difícil, e também a situação salesiana, hoje queria oferecer outro belo testemunho, ainda que desta vez não haja sido ocular, mas narro aquilo que me foi contado. A cena passa-se em Palabek (Uganda), para onde, em simultâneo com a chegada dos primeiros refugiados, há cinco anos, nós salesianos de Dom Bosco quisemos ir com os primeiros refugiados. A tenda era o alojamento e a capela para a oração e a celebração da primeira Eucaristia era a sombra de uma árvore.

Todos os dias chegavam a Palabek centenas e centenas de refugiados do Sudão. Primeiro por causa do conflito no Sudão do Sul. Passados anos, continuam a chegar, agora por causa do conflito no Sudão do Norte.

Aquilo que estou a narrar-vos foi-me dito pelo Conselheiro Geral para as Missões que alguns dias antes tinha ido a Palabek para continuar a acompanhar esta presença num campo de refugiados em que já foram acolhidas dezenas de milhares de pessoas.

Há dez dias chegou uma mulher com onze crianças. Sozinha, sem qualquer ajuda, havia atravessado diversas regiões cheias de perigos para si e para as crianças; havia percorrido mais de 700 quilómetros a pé no último mês e o grupo de crianças ia crescendo. E é disto que quero falar, porque isto é HUMANIDADE e isto é AMOR. Esta mulher chegou a Palabek com onze crianças que lhe foram confiadas. E apresentou-as todas como seus filhos. Mas, na realidade, seis eram seus filhos fruto do seu ventre. Outras três eram filhas do irmão há pouco falecido e de que se tinha encarregado, e outras duas eram órfãos pequenos que havia encontrado pelo caminho, sozinhos, sem ninguém e naturalmente sem documentos (quem pode pensar nos documentos e na documentação quando faltam as coisas mais básicas para a vida?), e tinham-se tornado filhos adotivos desta mulher.

Em algumas ocasiões, uma mãe que deu a vida para defender o seu filho foi definida “mãe coragem”. Neste caso, gostaria de dar a esta mãe de onze filhos o título de Mãe Coragem, mas sobretudo de mulher que sabe muito bem – nas vísceras do seu coração” –, o que é amar, até sofrer, porque vive e viveu em absoluta pobreza com os seus onze filhos.

Bem-vinda a Palabek, Mãe corajosa. Bem-vinda à presença salesiana. De certeza que se fará tudo o possível para que a estas crianças não falte alimento, e também um lugar para brincar e rir e sorrir – no oratório salesiano – e um lugar na nossa escola.

Este é o bem simples e silencioso que Dom Bosco fez. Este é o bem que continuamos a fazer juntos porque, acreditem, sentir que não estamos sós, ter a certeza que muitos de vós veem com agrado e simpatia o esforço que diariamente fazemos em favor dos outros, dá-nos também muita força humana, que o Bom Deus sem dúvida faz crescer.

Auguro-lhes um bom verão. O nosso, também o meu, será certamente mais sereno e confortável do que o desta mãe de Palabek, mas creio poder dizer que, havendo pensado nela e nos seus filhos, construímos de algum modo uma ponte.

Sejam muito felizes.