E STREIA 2010
O EVANGELHO AOS JOVENS
A FORMAÇÃO
DOS DISCÍPULOS
Para mudar as pessoas, é preciso amá-las. A nossa influência só chega aonde chega o nosso amor (Johann H. Pestalozzi).
J
á
refletimos sobre o chamado dos discípulos que é o divisor de águas
de suas vidas, fixando um 'antes' e um 'depois' que se prolonga com a
fidelidade 'até a morte'. Contemplemos agora a vida comum entre
Jesus e seus discípulos. Ele os convida, não para aprender uma
doutrina ou discutir conceitos religiosos, mas para compartilhar a
sua missão: a paixão pelo Reino e o senhorio de Deus/Abbá que é o
sentido de toda a sua vida. Não se trata, porém, apenas de um
trabalho a fazer,
mas de ser
em profundidade crentes/discípulos/apóstolos. "Chamou
os que Ele quis... constituiu então doze... para que os enviasse a
pregar com o poder de expulsão os demônios"
(Mc 3,13-15). O convite a ser 'amigos de Jesus' não transforma os
discípulos automaticamente. As futuras colunas da Igreja têm
limites, defeitos e pecados. O Senhor começa com eles um longo
processo de formação que só terminará em Pentecostes: "Quando
Ele vier, o Espírito da verdade, vos guiará em toda a verdade"
(Jo 16,13).
Uma das dificuldades encontradas por Jesus nos seus, em vista do discipulado, é o orgulho e a avidez de poder. Enquanto Ele começa a anunciar a sua futura morte, eles discutem sobre quem é o maior (Mc 9,30-37). Os filhos de Zebedeu se fazem até mesmo recomendar pela mãe: "Manda que estes meus dois filhos se sentem, no teu Reino, um à tua direita e outro à tua esquerda" (Mt 20,21). Os outros ficam indignados, mas Jesus não condena esse desejo tão humano, mas indica o verdadeiro caminho para ter sucesso: "Quem quiser ser o maior entre vós seja aquele que vos serve, e quem quiser ser o primeiro entre vós, seja vosso escravo. Pois o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir" (v. 26-27). Não lhes é fácil entender. Em outras ocasiões, manifestam a intransigência de quem se sente acima dos outros: Jesus os corrige depois de impedirem que alguém não pertencente ao grupo deles faça o bem em seu nome (Mc 9,38-40); reprova-os quando, diante da oposição dos samaritanos ao atravessarem pela região deles, invocam fogo do céu para consumi-los (Lc 9,51-59). Diante dessas fraquezas humanas, Jesus demonstra compreensão, paciência e compaixão. Mas não transige no essencial: a fé. Ela não é 'negociável'. Não lhe interessa ter uma multidão de seguidores que se retira diante da 'dureza' das suas palavras (Jo 6). A pouca fé manifesta-se também na incapacidade de compreender as parábolas (Mt 13,10s) que é obrigado a explicar, e também diante do anúncio da paixão: "Eles não compreendiam o que lhes dizia e tinham medo de perguntar" (Mc 9,32). É a atitude de quem acredita ser melhor não entender...
Em Cesareia de Filipe, Jesus pergunta qual a opinião que o povo tem dele; depois, faz a pergunta decisiva: "E vós, quem dizeis que eu sou?" (Mc 8,29). Não basta saber o que os outros dizem, nada substitui a opção pessoal de fé e adesão ao Senhor Jesus. A falta de fé concretiza-se no não querer aceitar o plano de Deus e chega até mesmo ao extremo no chefe do grupo apostólico, Simão Pedro, que Jesus reprova com a palavra mais dura que jamais tenha utilizado: "Afasta-te de mim, Satanás, pois não pensas como Deus, mas como os homens" (Mt 16,23; Mc 8,31-33). Há situações diante das quais não se pode transigir: está em jogo a mesma essência do discipulado. Os evangelhos não escondem nem mesmo a atitude mais deplorável: o abandono covarde do Mestre na noite da sua prisão, compreendida a vergonhosa negação de Pedro. Contudo, também na noite escura da fuga e da negação não se apaga a pequena chama que arde no coração deles: o amor por Jesus que leva Pedro a "chorar amargamente" (Mc 14,72) e que, depois da morte do mestre, lhes permitirá encontrar-se com o Ressuscitado e com a força do Espírito Santo (At 1,8). Pouco se sabe de suas vidas, mas sabemos que foram fiéis ao Senhor e marcaram essa fidelidade com o sangue. Exceto Judas: a sua proximidade 'física' com Jesus não se traduz em adesão. Mas A Igreja jamais emitiu um juízo definitivo sobre ele. Deixemos no silêncio aquilo sobre o que Deus mesmo quis calar.
Dom Bosco, com os seus primeiros salesianos, soube seguir uma pedagogia semelhante à de Jesus. Não era um vovozinho bonachão que tudo tolera; era um pai afetuoso e compreensivo, mas também exigente. "Fechava um olho, às vezes também os dois, diante dos defeitos e imperfeições dos seus jovens colaboradores", mas era inflexível em relação à moralidade, porque no meio estava o bem dos seus meninos. Não se contentava com a mediocridade, mas apresentava-lhes a "medida elevada" da santidade. Assim conseguiu realizar obras primas como Domingos Sávio e os outros jovens que morreram em odor de santidade. ◄
Foto
1. João, Filho de Zebedeu, irmão de Tiago
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