2020|pt|07: "Sonhai e fazei sonhar” (Papa Francisco aos Salesianos)

A MENSAGEM DO REITOR-MOR

Angel Fernandez Artime



"Sonhai e fazei sonhar”

(Papa Francisco aos Salesianos)


Pobres jovens se, além de tudo o que hoje sofrem, matássemos, calcássemos aos pés ou amputássemos também os seus sonhos, os seus desejos de fazer algo de grande e de belo da sua vida.


Carissimos amigos de Dom Bosco de todo o mundo, e também você que talvez tenha pegado casualmente neste Boletim Salesiano, instrumento de comunicação que Dom Bosco mesmo fundou e tanto amou, envio-lhes uma saudação repleta de afetuosa proximidade e de espírito de família. Faço minha a mensagem que o Papa Francisco enviou a toda a família salesina, ao dirigir-se a nós, salesianos de Dom Bosco, no momento em que estávamos a celebrar o nosso Capítulo Geral.

O Santo Padre, o homem simples de Deus que é o “leader” mais credível do mundo, o homem de Deus que sozinho, no dia 27 de março, numa tarde chuvosa, sombria, numa Praça de S. Pedro completamente vazia, rezou pela humanidade, talvez nunca tão aterrorizada, nunca tão frágil e ferida por um vírus que paralizou a Terra. Francisco, homem de Deus, naquela oração nunca esteve tão só e ao mesmo tempo tão acompnhado. Três semanas antes, quis marcar presença no nosso Capítulo Geral através de uma mensagem que nada tem de protocolar, mas toda ela familiar, propositiva e interpelante para os filhos de Dom Bosco.

Entre as muitas coisas significativas que nos diz, o Papa Francisco acaba por dizer-nos o seguinte: «Desejo oferecer-vos estas palavras como a “boa-noite” em qualquer boa casa salesiana no final do dia, convidando-vos a sonhar e a sonhar em grande. Sabei que o resto vos será dado por acréscimo. Sonhai casas abertas, fecundas e evangelizadoras, capazes de permitir ao Senhor mostrar a tantos jovens o seu amor incondicional e permitir-vos gozar da beleza a que fostes chamados. Sonhai… E não só para vós e para o bem da Congregação, mas para todos os jovens privados da força, da luz e do conforto da amizade com Jesus Cristo, privados de uma comunidade de fé que os sustenha, de um horizonte de sentido e de vida. Sonhai… E fazei sonhar!»

Que belo desafio para todas as pessoas que fazem parte da família de Dom Bosco e para tantas outras que sentem simpatia por este santo que viveu para os jovens, para os seus rapazes e as suas raparigas (no caso das raparigas através das Filhas de Maria Auxiliadora, que também Dom Bosco sonhou e fundou com Maria Domingas Mazzarello, como monumento vivo a Maria auxiliadora).

Não estou a calar nem a ignorar a dor da humanidade nesta grave crise que o mundo atravessa; uma crise sanitária devida à grave pandemia que no momento em que escrevo já causou quase 377.000 mortes. Não ignoro outra crise mais grave que é a falta de salário e de alimentação para dezenas de milhões de pessoas no mundo, com milhões de pessoas que em dois meses perderam o trabalho, novos pobres que em alguns casos são ajudados por organismos estatais, mas na maior parte dos casos não têm alternativas.

Não esqueço tanta dor nas famílias, nas crianças e nos jovens, sobretudo nos mais pobres, que são sempre os mais prejudicados por tudo o que atinge as nossas sociedades, ainda que aparentemente nada tenha a ver com elas.

Precisamente porque não ignoro esta realidade, porque não olho para outro lado, creio que é quae uma emergência transformar em realidade as palavras do Papa francisco, isto é, ajudar os jovens a sonhar, e a sonhar em grande, porque se pode ter os pés bem assentes no chão e sonhar em grande. Como Dom Bosco.

Pobres jovens se, além de tudo o que hoje sofrem, matássemos, calcássemos aos pés ou amputássemos também os seus sonhos, os seus desejos de fazer algo de grande e de belo da sua vida. Que lhes resta, se não encontrarem um forte sentido para viver, um sentido que lhes dê motivação e energia para iniciar cada dia?

Nós adultos recordamos os nossos sonhos? Vocês recordam-nos? Quero pensar que sim e que de algum modo se estejam a tornar realidade.

Pois bem, continuemos a pensar, num século em que tantos dizem que as utopias morreram, que é possível oferecer horizontes, ideais e sonhos; continuemos a pensar e a esperar que, depois desta pandemia, o nosso mundo, as nossas sociedades não repitam o que vivemos e fizemos, como se quiséssemos recuperar o tempo perdido. Creio que há realidades que poderemos repensar, como por exemplo tomar muito a sério o facto de a nossa casa comum, o planeta Terra, ter necessidade de reencontrar a respiração da Criação.

Quero sonhar e desejar que não renunciemos a dar passos em direção a realidades cada vez mais justas.

Quero sonhar e desejar que o racismo, muito mais presente do que pensamos, possa desaparecer.

Quero sonhar e esperar que tenhamos mais confiança e acreditemos mais nos jovens e nas gerações que hão de vir.

Por isso fazendo minhas as palavras do Papa Francisco, quero sonhar e fazer sonhar todos adqueles que encontro.

Que o bom Deus vos abençoe.