2019|pt|07: Três estolas, três histórias maravilhosas

A MENSAGEM DO REITOR-MOR

Pe. ANGEL FERNANDEZ ARTIME

T RÊS ESTOLAS, TRÊS HISTÓRIAS MARAVILHOSAS



Devemos recordar o valor incalculável de todo o encontro humano, breve ou duradoiro,

profundo ou rápido que seja. Todo o encontro deixa um perfume particular na nossa alma. Vivemos cada encontro humano de modo especial. Como os três que vou narrar.


Queridos amigos e leitores do Boletim Salesiano, é com alegria que me encontro de novo convosco

nesta nossa citação mensal na revista fundada e tão amada por Dom Bosco. Através do Boletim Salesiano, Dom Bosco quer dar a conhecer o bem que se faz nas casas salesianas, sobretudo nas missões salesianas e, como normalmente fazia ele próprio, estendia a mão com imensa confiança a quem encontrava, na esperança de que muitas pessoas o ajudassem a realizar a sua missão entre os rapazes e as famílias mais pobres do mundo.

Quero rcordar brevemente três simpáticas histórias que vivi durante as minhas visitas aos salesianos do mundo. A protagonista absoluta de todas elas é uma estola.

A estola faz parte da indumentária do sacerdote e do diácono para as celebrações litúrgicas. É aquela tira de tecido da cor litúrgica do dia que o sacerdote coloca sobre os ombros e deixa cair sobre o peito. É o distintivo da dignidade e da consagração do sacerdote, recorda o jugo leve de Nosso Senhor, as obrigações do estado sacerdotal e simboliza de algum modo as ovelhas que o bom pastor leva aos ombros.

Nestes meses deram-me três estolas que têm para mim um especial significado afetivo.



A estola de uma mulher anónima

A primeira estola foi-me oferecida durante a festa de Maria Auxiliadora, no dia 24 de maio em Valdocco. É uma bela estola, confecionada à mão com um estupendo fio de ouro, bordada em centenas de horas de trabalho. Uma senhora devota de Maria Auxiliadora e de Dom Bosco desejava que a usasse na Eucaristia e na procissão de Maria Auxiliadora daquela noite. Havia sido bordada com sacrifício, em simplicidade, com muita generosidade e muito amor a Nossa Senhora. Celebrei a Eucaristia com aquela estola, e rezei na procissão com aquela estola, e ofereci toda a oração pelos milhares e milhares de pessoas que ali se encontravam, e em particular precisamente por aquela senhora (que não conhecia, porque o presente havia sido feito de forma anónima), cujo coração transbordava de amor a Nossa Senhora Auxiliadora e de fé no Senhor.


A estola dos jovens debaixo das bombas

A segunda estola recebi-a em Damasco, na Síria, numa tarde em que centenas de rapazes e raparigas estavam no oratório. Naquela tarde celebrámos a Eucaristia com mais de cem jovens animadores universitários. Acreditávamos ardentemente que a paz estava próxima e no fim da Missa devíamos largar um pomba branca para dizer a todos que se podia exultar pela paz, mas pouco longe de nós explodiram violentos tiros de morteiro.

Pois bem, naquela tarde, aqueles jovens animadores maravilhosos, com um olhar profundo e uma fé realmente vivida, ofereceram-me uma bela estola na qual está bordado um letreiro em árabe que diz: «Recorda-te de nós sempre que celebrares a Eucaristia».


A estola dos jovens presos


A terceira estola recebi-a há um mês, durante a minha visita ao Brasil, no Mato Grosso. No fim de um encontro com os jovens, um educador ofereceu-me uma estola que tem escritos com tinta indelével os 56 nomes e apelidos dos rapazes que estão na casa salesiana. Não são rapazes com uma história qualquer. São rapazes condenados àquilo a que antigamente se chamava prisão de menores, são rapazes privados da liberdade, devido a algum delito e que depois do processo nos foram confiados.

Aqueles rapazes não podiam ir ao encontro, mas enviaram-me a estola com os seus nomes, pedindo-me que não me esquecesse deles e prometendo que eles também se recordariam de mim. Posso assegurar-vos que todos os dias me recordo deles na Eucaristia.


Creio


Creio sinceramente na sintonia e na comunhão dos corações. Creio covictamente na oração, especialmente na oração de uns pelos outros. É uma expressão verdadeira de amor, rezar pelas outras pessoas, conhecidas ou desconhecidas, mas que vêm habitar no nosso coração no momento em que as recordamos. Nestes anos compreendi cada vez melhor o motivo da insistência do Papa Francisco ao pedir que se reze por ele.

Por isso quero deixar-vos o testemunho do grande valor destas três estolas.

Quero gravar na minha memória e na vossa o valor incalculável de todo o encontro humano, breve ou duradoiro, profundo ou rápido que seja. Todo o encontro deixa um perfume especial na nossa alma. Devemos fazer com que cada encontro humano seja especial. Assim a nossa vida enriquecer-se-á.

As pessoas são como as cordas de uma guitarra, cada uma dá uma nota diferente, mas juntas podem produzir harmonias inolvidáveis.

Quero recordar como a fé consegue mover corações e vontades. Constato isto por toda a parte nas minhas viagens no mundo salesiano.

Cada vez compreendo melhor aquilo que Dom Bosco escreveu aos rapazes de Valdocco, quando estava longe deles, e lhes chamou “ladrões”. Sim, assim os definiu: «Sois ladrões…» e depois acrescentou «porque me roubastes o coração».

É belo ouvir que o coração pode ser roubado de um modo tão amável e cheio de afeto, quando se busca só o bem das pessoas.

A todos vós abençoo e prometo, na próxima vez que usar uma destas estolas, recoradar-me também de vós que partilhastes comigo o seu significado profundo.