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DOM BOSCO EDUCADOR
PASCUAL CHÁVEZ VILLANUEVA
APRENDAMOS COM TUDO
O QUE NOS ACONTECE
DOm BOSCO SE apresenta
Falando sobre mim e a minha história, devo começar pelos primeiros anos de vida. Anos belos e difíceis, anos nos quais aprendi a ser jovem e homem.
Posso dizer-te com muita simplicidade: aquele Dom Bosco que, talvez, já conheças em parte, o Dom Bosco que um dia será padre, educador e amigo dos jovens aprendeu de muitas coisas que lhe aconteceram precisamente nos primeiros anos.
Eu te apresento os valores que respirei, que aprendi a viver e, em seguida, transmiti como herança aos meus salesianos. Com o passar dos anos, serão as bases da minha pedagogia.
A presença de uma mãe. Mamãe Margarida tinha apenas 29 anos quando meu pai morreu, destruído em poucos dias por uma terrível pneumonia. Mulher enérgica e corajosa, não ficou a lamentar-se; arregaçou as mangas, e assumiu o seu duplo trabalho. Doce e decisiva, fez as vezes de pai e mãe. Muitos anos depois, feito padre para os jovens, poderei afirmar como fruto da experiência concreta: "A primeira felicidade de um jovem é saber que é amado". Por isso, com meus jovens sempre fui um verdadeiro pai, com gestos concretos de amor sereno, alegre e contagiante. Eu amava os meus jovens e dava-lhes provas concretas desse afeto, entregando-me completamente à causa deles. Não aprendi nos livros esse amor forte e viril; herdei-o de minha mãe e sou-lhe reconhecido por isso.
O trabalho. Minha mãe era a primeira a dar-nos o exemplo. Eu sempre insistia: "Quem não se habitua ao trabalho na juventude, será sempre preguiçoso até a velhice". Na conversa familiar que tinha com meus jovens depois do jantar e das orações da noite (o célebre "boa-noite") eu insistia que "O paraíso não é feito para os preguiçosos".
O sentido de Deus. Minha mãe condensara o catecismo inteiro numa frase que repetia a cada instante: "Deus te vê!". Eu, à escola de uma catequista completa como era minha mãe, cresci sob o olhar de Deus. Não um Deus-policial, frio e implacável que me 'pegava' em fragrante; mas um Deus bom e providente, que eu descobria no suceder-se das estações e aprendia a conhecer e agradecer no momento da colheita do trigo ou depois da vindima, um Deus grande, que admirava olhando para as estrelas à noite.
"Raciocinemos!" Nossos velhos pronunciavam este verbo em piemontês; e quanta sabedoria eu descobria nessa palavra. Era usada para dialogar, explicar-se, chegar a uma decisão comum, tomada sem que alguém quisesse impor o próprio ponto de vista. Depois, farei do termo "razão" uma das colunas mestras do meu método educativo. A palavra "razão" será, para mim, sinônimo de diálogo, acolhida, confiança, compreensão; será transformada numa atitude de busca para que não haja rivalidade entre educadores e jovens, mas tão somente amizade e estima recíproca. Para mim, o jovem jamais será um sujeito passivo, um simples executor de ordens. Em meus contatos com os jovens, jamais farei de conta que estou escutando; eu os escutarei realmente, discutirei o ponto de vista deles, as suas razões.
O gosto de trabalhar em conjunto. Por muitos anos, fui protagonista absoluto entre os meus colegas: penso nas primeiras experiências como saltimbanco nos Becchi, naquelas esplêndidas tardes de domingo; penso na popularidade adquirida entre meus colegas de escola em Chieri, a ponto de numa página autobiográfica eu poder afirmar que "era venerado pelos meus colegas como capitão de um pequeno exército". Mas, depois, compreendi que o protagonismo era de todos. Surgiu, então, a Sociedade da Alegria, um grupo simpático de estudantes no qual todos atuavam em posição de paridade. O Regulamento era composto por três brevíssimos artigos: estar sempre alegres, cumprir bem com os próprios deveres, evitar tudo que não fosse digno de um bom cristão. Mais tarde surgirão as Companhias, grupos juvenis, verdadeiros laboratórios de apostolado e santidade ao alcance de todos. Dizia que elas eram "coisa de jovens" para favorecer a iniciativa deles e dar espaço à sua criatividade natural.
O prazer de estar juntos. Eu queria que os educadores, jovens ou idosos que fossem, estivessem sempre entre os jovens, como "pais amorosos". Não por desconfiança em relação a eles, mas justamente para caminhar com eles, construir e participar com eles. Chegarei a dizer com íntima alegria: "Entre vocês, sinto-me bem. Minha vida é justamente estar com vocês".