2010|pt|05: A Evangelho aos jovens: O tempo e o reino

E STREIA 2010

Pascual Chávez Villanueva


O EVANGELHO AOS JOVENS


O TEMPO E O REINO


O único significado da vida consiste em ajudar a estabelecer o Reino de Deus (Leon Tolstoi).



O Evangelho de Marcos, o mais antigo, apresenta o início da pregação de Jesus com breve e simples síntese de densidade extraordinária: "Completou-se o tempo, e o Reino de Deus está próximo. Convertei-vos e crede no evangelho" (Mc 1,15). Toda a mensagem de Jesus está presente, de certo modo, nestas quatro brevíssimas expressões, inseparáveis.

"Completou-se o tempo": a história de Israel pode ser considerada toda ela na perspectiva da relação entre Deus e o seu povo. No centro, a promessa messiânica e a espera da sua realização. Israel ao longo dos séculos passou por diversas vicissitudes, negativas em grande parte: guerras com os vizinhos, desmembramento do Reino, deportações, destruição da cidade e do Templo, perseguição religiosa... Contudo a esperança jamais desapareceu, porque sempre esperou no Deus Fiel às promessas. Com Jesus, a espera termina.

"O Reino de Deus está próximo". É o conteúdo principal da "realização/plenitude". Não se trata de instaurar um novo sistema sociopolítico, oposto aos reinos humanos, à moda da teocracia javista, mas do seu senhorio sobre o povo eleito e sobre toda a humanidade; como diz a liturgia, um "Reino de justiça, de amor e de paz" ligado à pessoa de Jesus; Orígenes afirma, com uma expressão original, que Jesus é o Reino em si mesmo (Autobasileia): aceitar o Reino significa aceitar Jesus na própria vida.

Tudo isso aparece mais claro ainda na terceira frase, formada por uma única palavra: "Convertei-vos". A conversão, a mudança de rota à qual Jesus convida, tem uma configuração própria e original. O termo grego, metanoia, alude, mais do que à observância muito fiel da Lei, à mudança do modo de pensar e julgar, à transformação do coração.

"Crede no Evangelho", concretiza a conversão. Jesus convida a abrir-se no Amor de Deus, que irrompe de modo novo, definitivo e desconcertante. Os Evangelhos não escondem que a pregação de Jesus é "sinal de contradição" (cf. Lc 2,34). É triste ter que reconhecer que a sua mensagem, a sua própria pessoa, não foi "boa notícia" para todos; ao contrário, foi uma notícia nefasta e inaceitável, que o levou à cruz.

Entre os muitos trechos do Evangelho que o atestam, podemos recordar a cena da sinagoga de Nazaré (Lc 4,18s). "O ano de graça do Senhor", a anistia geral anunciada por Jesus, não é bem acolhida por quem, fechado em sua autossuficiência, não sente necessidade do perdão de Deus: "Não vim para chamar os justos, mas os pecadores" (Mc 2,17; Mt 9,13; Lc 5,32). Por isso, "os publicanos e os pecadores aproximavam-se dele para escutá-lo", porque se sentiam distantes de Deus; enquanto os que se sentiam seguros devido à observância da Lei não percebiam que o Amor de Deus é sempre Graça, isto è, dom gratuito. Estes traços fundamentais da pregação do Reino de Deus feita por Jesus aparecem nas parábolas. A reação do povo de Israel diante da pregação de Jesus continuou, ao longo dos séculos, na vida dos cristãos. Também nós nos sentimos entusiasmados quando pensamos viver na plenitude dos tempos e que o Reino está entre nós; mas quando a aceitação do Reino comporta mudança total de mentalidade e de vida, então começam as dificuldades. Gostaríamos que tudo "caísse do céu", ficando difícil aceitar que Deus quer a nossa livre resposta e colaboração na construção do seu Reino. Por outro lado, não devemos viver a conversão como "penitência" ou "castigo".

Para Dom Bosco, a conversão autêntica é inseparável da alegria; nem pode ser diferente, pois consiste em acolher Jesus e a Boa Notícia de que Deus é nosso Pai e nos ama, e não podemos viver como seus filhos e filhas se não vivermos entre nós como irmãos. Quem não quer converter-se, vive nas trevas, na solidão, na tristeza. Basta recordar a alegria do Bom Pastor quando põe nos ombros a ovelha dispersa, ou da mulher que reencontra a moeda perdida, ou do pai cujo filho "estava morto e voltou à vida; estava perdido e o reencontramos" (cf. Lc 15). Descobrimos nos escritos de Dom Bosco essa relação entre conversão e alegria,como na Vida de Miguel Magone que convido a reler. A sua mudança de vida, concretizada no sacramento da Penitência, permite-lhe saborear a mesma alegria e paz que tanto invejava em seus colegas e apreciar as práticas de piedade que antes lhe eram difíceis: é o início de um itinerário de santidade que, no Oratório de Dom Bosco, consistia "em estar sempre alegres".