ESTRÉIA 2008
Pascual Chávez Villanueva
EDUCAR COM O CORAÇÃO DE DB
SISTEMA PREVENTIVO E DIREITOS HUMANOS
"Não é difícil ver na teorização do projeto educativo e na práxis pedagógica a efetiva promoção dos direitos que são proclamados pelas declarações internacionais: direito à vida, direito à educação e à instrução, direito ao repouso, à distração e à diversão, direito ao trabalho".1
O Cardeal Tonini repetia aos jovens reunidos para o 'Confronto 2001': "Somos primeiramente homens, e depois cidadãos". A vida nos irmana, nos torna semelhantes e deve poder ser vivida com a mesma dignidade em qualquer lugar da terra. O direito a uma vida "digna para todos" deve ser a idéia-força que nos leva a empenhar-nos na educação das novas gerações. A defesa da vida é o eixo que sustenta os caminhos atuais e as diversas buscas intercomunicantes nas várias situações sociais, políticas e culturais. A luta pela defesa da vida deve ser uma ponte que une os limites reduzidos de sobrevivência das grandes massas empobrecidas com os amplos horizontes de vida mais humana e de melhor qualidade, coisa de que poucos gozam. Esses ideais não podem não estar presentes nos esforços educativos, para que não nos esqueçamos que somos homens e a espécie humana deve ser a primeira a ser protegida.
Em 1948, nas Nações Unidas, aconteceu a proclamação dos Direitos Humanos. Algumas populações nem sequer ouviram falar deles. Outros não os conhecem simplesmente porque seus governos são os primeiros a ignorá-los e pisá-los. Como poderemos falar do direito à vida se as sociedades mais desenvolvidas são as primeiras a imolarem a vida inocente por meio de leis sobre o aborto? Como falar de educação ao respeito dos direitos humanos, quando existem massas de crianças e adolescentes que não gozam nem sequer do direito à educação? Em novembro de 1989, em Nova Iorque, proclamaram-se os Direitos dos Menores. O 2º artigo prega O direito a não serem discriminados: "A totalidade dos direitos deve ser aplicada à totalidade dos menores, sem exceção, e é obrigação do Estado adotar as medidas necessárias para protegê-los de qualquer discriminação".2 O que dizer, então, das minorias étnicas; dos milhões de "meninos de rua", das crianças que morrem de fome, dos menores vendidos ou abusados sexualmente? Onde está o direito à diversão para tantos meninos trabalhadores?
Ouvimos que a humanidade dispõe de recursos suficientes para que todos os habitantes do globo possam viver com dignidade. Contudo, as estatísticas confirmam-nos que aumenta a cada ano a distância Norte/Sul, e enquanto poucos nadam na abundância, uma grande massa de indigentes mal consegue sobreviver. É coisa conhecida que os interesses econômicos fixam as prioridades da sociedade materialista e que a publicidade é a varinha mágica usada pela insaciável avidez das multinacionais. Só as sociedades agressivas e competitivas sobrevivem, e esse estilo entrou também nas entidades e associações educativas. O que fazer? A educação deve ser sempre mais uma janela escancarada sobre a realidade mundial e motor de transformação da humanidade. Por isso, nas assembléias, é preciso escutar a voz daqueles que não têm voz, ouvir a fome, a sede, a nudez de tantos povos esquecidos; devem-se tornar conhecidos os esforços de tanta gente empenhada nas grandes causas da dignidade da mulher, da paz, do respeito à criação... Felizmente, a partir de diversas situações e instâncias (ONG, Voluntariados...) começa-se a convergir na defesa da vida, do ser humano e de seus direitos, dos povos e de seus direitos, do planeta e de seus direitos.
Nossas prioridades devem caminhar, portanto, para a formação de pessoas realmente livres, críticas, empenhadas socialmente, que encontram suas motivações no Evangelho. Estará a educação perpetuando o velho sistema competitivo ou abrindo caminho para a co-responsabilidade, a solidariedade, a justiça social? Não seria mal fixar alguns critérios se quisermos fazer com que a educação seja um mecanismo eficaz de melhoria da sociedade. Primeiro: uma mentalidade crítica como instrumento para analisar a realidade. Segundo, a alteridade que nos leve a estabelecer uma relação otimizada com os outros. Terceiro, o respeito à Declaração dos Direitos Humanos, que pode ser um ponto de referência para todos os educadores. Quarto, o envolvimento e o empenho, para que os critérios indicados acima não permaneçam declarações de boa bondade. Promover os direitos humanos é um caminho salesiano. O Sistema Preventivo quer colaborar com muitas outras agências na transformação da sociedade, trabalhando pela mudança de critérios e de visões da vida, pelo desenvolvimento da cultura do outro, de um estilo de vida sóbrio, de uma atitude constante de partilha gratuita e de compromisso pela justiça e a dignidade de toda pessoa humana. A educação aos direitos humanos, particularmente dos menores, é o caminho privilegiado para realizar, nos diversos contextos, esse trabalho de prevenção, de desenvolvimento humano integral, de construção de um mundo mais équo, mais justo, mais sadio.
1 T. BERTONE, “Dom Bosco e Brasília”, p.251.
2 Direitos dos Menores, art.2°.