2008|pt|08: Educar com o coração de DB: Valdocco: um laboratório pedagógico

Agosto de 2008


VALDOCCO: UM LABORATÓRIO PEDAGÓGICO


Oratório salesiano: máquina perfeita em que cada canal de comunicação, do jogo à música, do teatro à imprensa, é gerido por conta própria em bases mínimas e reutilizado e discutido quando a comunicação vem de fora... A genialidade do Oratório está em que ele prescreve aos seus freqüentadores um código moral e religioso, mas depois acolhe também quem não o segue. Nesse sentido, o projeto de Dom Bosco abrange toda a sociedade da era industrial”1.


É curioso que o senhor Pancrácio Soave ao falar com Dom Bosco, em nome de José Pinardi, apresente-se e ofereça-lhe o terreno para um 'laboratório'. Dom Bosco esclarece que está em busca de um 'oratório', mas fica naqueles terrenos, com o telheiro, e fará de Valdocco um verdadeiro e próprio laboratório onde inventa, experimenta, corrige e põe em prática as suas idéias pedagógicas, o seu Sistema Preventivo.

O Oratório preenche literalmente a existência de Dom Bosco. Tem suas primeiras expressões nas brincadeiras e reuniões dominicais nos prados dos Becchi e na 'Sociedade da Alegria'. Desenvolve-se, depois, nos primeiros anos de seu sacerdócio. Em Valdocco, o Oratório floresce na multiplicidade das propostas e das estruturas educativas e pastorais.

Ao reler à luz da fé a caminhada pastoral de Dom Bosco, as "Memórias do Oratório de São Francisco de Sales", descobre-se que no encontro com os jovens do Oratório lançaram-se os fundamentos de um projeto, aumentaram os empreendimentos, amadureceu um estilo.2

Por isso, as iniciativas de Dom Bosco tiveram no início a denominação de 'Obra dos Oratórios', e a casa-mãe salesiana, mesmo depois das sucessivas transformações, conservou o nome de 'Oratório de Valdocco. Em que consiste, porém, a tipicidade desta experiência oratoriana? O Capítulo Geral 21 dos Salesianos responde: a relação pessoal de 'amizade' do salesiano com o jovem e a 'presença' fraterna do educador entre os jovens; a criação de um ambiente que facilite o encontro; a oferta de atividades variadas para o tempo livre; o sentido missionário das 'portas abertas' a todos os jovens que quiserem entrar; a abertura à massa, com atenção à pessoa e ao grupo; a formação progressiva de toda a comunidade juvenil através da pedagogia da festa; a catequese vocacional sistemática; o empenho de solidariedade; a vida de grupo; tudo isso com a finalidade de levar à formação de uma forte personalidade humana e cristã.3

Dom Bosco está profundamente convencido de que é chamado por Deus ao ministério de pastor dos jovens; sente-se, pois, inspirado e guiado por Ele. Ao mesmo tempo, é sensibilíssimo aos apelos contingentes da história e atento à situação concreta de seus jovens. Por isso, no Oratório, mais do que um brilhante gestor, descobrimos em Dom Bosco a genialidade criativa que sabe ler as situações e responder a elas, movido pela caridade pastoral. A evolução histórica gradual do Oratório de Valdocco em suas mais diversas e múltiplas vicissitudes é testemunho disso.

A experiência típica, vivida por Dom Bosco com os jovens em Valdocco é proposta como modelo permanente e critério fundamental para discernir e renovar, em fidelidade dinâmica, todas as atividades e obras salesianas. Não se trata decerto de reproduzir a experiência tal e qual – as coordenadas geográficas, históricas, culturais não são as mesmas – mas de considerá-la como a matriz, o resumo das geniais criações educativas e apostólicas do santo Fundador, o fruto maduro de todos os seus esforços.4

Como exprime bem esta realidade criativa do primeiro Oratório o último filme sobre Dom Bosco!5 De seus jovens provêem os primeiros sacerdotes salesianos, os primeiros salesianos coadjutores os primeiros missionários salesianos, o primeiro bispo e cardeal salesiano, o seu sucessor, o primeiro jovem santo. Com esses frutos, será possível conceber um 'laboratório pedagógico e pastoral' melhor?

É preciso, também hoje, referir-se ao Oratório e dar a esta palavra uma plenitude de significado, com o fascínio dos primeiros tempos. O Oratório, de fato, representa o paradigma de toda obra que deve desejar ser ao mesmo tempo: casa que acolhe e família, especialmente para os que não a têm; paróquia que evangeliza e que nos apresenta Jesus como Caminho, Verdade e Vida, que conta conosco e que é capaz de preencher a nossa vida de sentido; escola que encaminha para a vida e é acessível a quem teria dificuldade em outro lugar; pátio para encontrar-se entre amigos e viver a alegria própria de um jovem sadio.6 São termos, estes, de grande carga salesiana, são imagens evocativas que se referem a sensibilidades, atitudes, convencimentos, programas, estilos de presença.

A cultura atual precisa do carisma salesiano; a missão tem suas urgências; o campo de ação é grande e a pátria juvenil imensa. As novas questões exigem, e a resposta não pode faltar. A imaginação, porém, não pode ser realizada certamente a qualquer custo e de qualquer maneira. Exige-se no discernimento, inteligência para avaliar as situações e coragem do coração para ser sempre fiel ao 'critério oratoriano', convencidos de que Dom Bosco encontrou em Valdocco a realização da sua paixão pela salvação dos jovens. "Antes, podemos afirmar que Dom Bosco tem a consciência clara de dar no Oratório a sua plena resposta ao chamado de Deus, realizando nele a finalidade da sua vida".7


Trad.: jav

1 Umberto Eco

2 O PROJETO DE VIDA DOS SALESIANOS DE DOM BOSCO, ed. CCS 1977, pag. 416

3 Cf. CG21, 124 (‘passim’).

4 Cf. CGS 195

5 Filme produzido por LUX VIDAE; diretor: Lodovico Gasparini.

6 Cf. CGE 216

7 O PROJETO DE VIDA DOS SALESIANOS DE DOM BOSCO, 349.