1 50 – MAMÃE MARGARIDA – 150
Pascual Chávez Villanueva
FAMÍLIA BERÇO DA VIDA
NESTE VALE DE
LÁGRIMAS
Todos os seres humanos querem "fazer sucesso". Tudo que fazem tem só uma finalidade: serem felizes. Mas a vida não poupa preocupações, derrotas, falências. Até a família mais feliz encontra dificuldades e lágrimas ao longo do caminho.
N
ão poucos acontecimentos atentam contra a tranqüilidade e matam a esperança numa família: a violência, a perda do trabalho, a infidelidade, a indiferença entre os membros, a depressão, a separação, a doença... A palavra de ordem nesses casos é "sair do túnel", o que pode significar "crescer". Não pareça estranho: as dificuldades podem temperar, revigorar, formar. Os períodos de crise desestabilizam e angustiam, é verdade, mas se a família permanecer unida, ela se consolida e pode organizar-se e recomeçar a sua caminhada. Ser fortes nas adversidades significa não se deixar fechar num nó cego, tomar decisões quando tudo parece bloqueado, tentar por um outro lado.
A melhor garantia é a comunicação que se fundamenta num trabalho de grupo baseado na cooperação, na estima, na tratativa, na equidade. Melhorar a comunicação é escutar melhor e expressar mais. Quando um problema familiar é "posto em comum", encontra-se a solução. A educação consiste justamente em plasmar uma pessoa que tenha as capacidades necessárias para superar os problemas apresentados pela vida. Os pais sabem que não podem proteger os filhos infinitamente. Devem agir, portanto, de duas maneiras. Uma, consiste no dom da solidariedade incondicionada: «Qualquer coisa que aconteça, estamos aqui para ti!». Essa atitude significa também admitir o direito ao amor, e o empenho de ensinar aos filhos a superar os obstáculos. E significa também sentir a família como lugar onde se equipa para enfrentar os desafios e partir de novo. Sem família é impossível superar as crises. A segunda maneira consiste em treinar os filhos para uma boa disciplina construtiva, fazendo com que eles aceitem o princípio da realidade e o sentido do limite. Todas as crises nascem do limite de ser criaturas frágeis e imperfeitas. Os filhos são treinados para a vida através dos «não» motivados pelos pais. Os «não» ajudam a crescerem fortes. Se os pais satisfazem todo capricho dos filhos, eles crescerão incapazes de suportar a frustração. O pai ou a mãe, que em boa fé buscam poupar ao filho qualquer sofrimento, poderia privá-lo da oportunidade de desenvolver os instrumentos para enfrentar as dificuldades. Os limites ajudam as crianças a desenvolverem os próprios recursos.
Há uma forma de crise que se volta diretamente para destruição da família. Hoje, a separação e o divórcio são considerados um modo de pôr fim à dor de uma relação insatisfatória. Milhares de pessoas cometem anualmente homicídios e/ou suicídios, mas são centenas de milhares os indivíduos que escolhem o divórcio ou a separação. Desde há alguns anos, cinqüenta por cento dos casamentos fracassam; alguns se vêem com dois ou três ou mais divórcios às costas! A nossa pode ser considerada a 'sociedade do usa e descarta. Nossos alimentos são confeccionados em belos invólucros destinados ao lixo; o carro e os eletrodomésticos são projetados para que se tornem logo arcaicos, os móveis são mudados porque não estão mais na moda; as relações de negócios são cultivadas enquanto são produtivas. Até mesmo a gravidez indesejada é "descartada". Não é, por isso, uma grande surpresa que a sociedade tenha chegado a aceitar o conceito do matrimônio "usa e descarta". Se não se é mais feliz estando juntos, a coisa mais fácil é renunciar ao vínculo matrimonial "para se refazer uma vida", como se costuma dizer. Mas, para os filhos não é um fator neutro ou, como muitos querem, um evento "normal". Toda separação despedaça violentamente o seu mundo afetivo: sentem-se abandonados por quem os pôs no mundo, perdem de uma só vez quase todos os pontos cardeais. Em todo caso jamais verão o amor, o matrimônio, a relação entre os sexos como os viam antes. Da casa construída sobre a rocha passam à casa construída sobre a areia, e vivem a separação dos pais como uma grande injustiça.
A fé oferece perspectivas totalmente diversas. A conversão: com a graça de Deus, as pessoas podem mudar também radicalmente. A esperança: a força indestrutível de quem sabe que "nada é impossível a Deus". O amor: é a arma mais poderosa. O problema para muitos casais é que pensam no amor como numa emoção. O amor é muito mais; é ação. Uma «regra áurea» do Evangelho diz: «Fazei aos outros tudo aquilo que quereis que eles vos façam» (Mt 7,12). É uma definição do amor. O fato que o amor seja ação, mais do que emoção, significa que é possível continuar a amar o cônjuge mesmo quando em relação a ele não se experimentam fortes sentimentos emocionais. Das ações pode renascer a emoção. É esse o motivo pelo qual no primeiro século d.C., o apóstolo Paulo dirigindo-se aos maridos escrevia: «Amai vossas esposas como Cristo amou a Igreja, a ponto de sacrificar a sua vida por ela» (Ef 5,25). Enfim, o sacrifício: é a dimensão definitiva do amor, aquela que permite crescer até "tocar o céu". ■
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