SOMOS TODOS MISSIONÁRIOS
Dom Bosco quis ter Congregações e Institutos ‘em saída’. Somos uma Familia que teve um Pai com um coração tão grande e apaixonado que não parava, nem mesmo quando sonhava, e assim ofereceu-nos tantos sonhos missionários que ainda são os nossos sonhos.
Valdocco, Maria Auxiliadora, Expedição Missionária: uma tripla preciosa para oferecer à humanidade, sobretudo aos jovens mais necessitados da nossa aldeia global, o nosso carisma partilhado do qual todos nós somos corresponsáveis. Uma tripla que nos faz chegar até ao fim do mundo!
De facto, o nosso amado Dom Bosco fez chegar os seus até à longínqua e quase desconhecida Terra do Fogo, ao sul do sul da não menos inexplorada Patagónia, terra de corajosos povos muito abertos à transcendência e ao amor pela terra, pelo criado. Aquela foi uma aventura que teve necessidade de tantos sacrifícios e fadigas das nossas irmãs e irmãos, que nos ajudou a fazer crescer e desenvolver não só a fé, mas também a cultura e a sociedade nos países da região.
Hoje, temos um Papa que veio de lá e, na audiência com o Capítulo Geral, manifestou o seu desejo-mandato: “Peço-vos, não deixeis a Patagónia!”.
Quero deixar-vos três lembranças, como fazia Dom Bosco.
A primeira inspira-se no profeta Ezequiel e é esta: Ser rectos segundo Deus.
Ser rectos significa ser transparentes, não ter dupla linguagem nem intenções escondidas. Somos chamados a ser sinceros, alguma vez expertos no sentido evangélico que nos ensina Jesus, mas sempre homens e mulheres nos quais não há falsidade, como Natanael. Ser rectos significa ser claros nas nossas motivações, ser capazes de nos dizer a verdade sobre nós a nós mesmos e aos outros. Não se vai para a missão (qualquer tipo de missão, também a do Reitor Maior) se um vai procurando-se a sí mesmo, se procura o poder o impor-se aos outros, se um acredita interiormente que aquilo que leva consigo não só é de um grande valor – que seguramente o é!- mas que é superior, melhor àquilo que encontrará nos outros e nos lugares onde chega.
Ser rectos segundo Deus, é lançar-se plenamente no coração de Deus misericordioso que ama o pecador e que sempre lhe dá uma outra oportunidade e sempre está disposto a recebé-lo e a abrazá-lo como filho amadíssimo que vem de longe...
Para nos ajudar, o salmo 23 nos ensina a rezar com todo o coração: “Faz-me conhecer, Senhor, os teus caminhos,/ ensina.me os teus senderos./ Guía-me na tua fidelidade e instrue-me...”
A carta de Pablo aos Filipenses me inspira uma segunda palavra: Ser servos sem privilégios.
O apóstolo deixa à história um dos hinos cristológicos que os primeiros cristãos seguramente rezavam na liturgia. Um hino que é também um ato de fé: “Cristo Jesus, mesmo sendo de condição divina, não teve um privilégio ser como Deus, mas esvaziou-se a si mesmo assumindo a condição de servo...”
Meus queridos, o nosso privilégio mais precioso é ser chamados a viver como Jesus, que se esvaziou a sí mesmo assumindo a condição de servo!
Cada um de nós é, mesmo de diversas formas, servo ou serva dos outros. Também aquí, a natural tentação do poder está vacinada pelo claro e forte exemplo de Jesus. Colocar-se ao serviço daqueles aos quais somos enviados, colocarmo-nos ao serviço também daqueles que são indiferentes, nos rejeitam ou nos combatem. Ser sábios e cuidar de nós mesmos, das nossas comunidades, dos nossos irmãos e irmãs... mas, estando dispostos a dar toda a vida.
Ir em missão é responder à chamada a dar a própria vida até ao último respiro, como Dom Bosco para os seus – nossos jovens. O nosso privilégio seja sempre o serviço àqueles que tem mais necessidade, os jovens que estão em mais perigo e as povoações mais pobres.
Chegamos à terceira palavra que quero partilhar convosco: Cumprir a vontade do Pai.
Cumprir a vontade do Pai é o unico horizonte válido da nossa vida seja como batizados, seja como consagrados. Não há outra coisa. E a vontade do Pai não se realiza a sós, autonomamente, acreditando-nos os redentores numa versão renovada. Nunca! Ninguém de nós é chamado a ser o Messias! Ninguém de nós está chamado a prescindir do discernimento comunitário, do trabalho em equipa, do compromiso, lado a lado, com os outros educadores e pastores, e, além das distâncias, de não estar em comunhão profunda de espírito e de intenções, de oração e de afecto.
Irmãos e irmãs, o Senhor nos chama e nos envia a ser discípulos missionários que vivem não só o grande mandamento de Jesus de nos amar uns aos outros, mas de fazer realidade o sonho-desejo de Jesus que fez oração no momento da partida: “Pai Santo, guarda no teu nome àqueles que me deste, para que sejam uma só coisa, como nós” (Jn 17,11).
Cumprir a vontade do Pai é testemunhar ao mundo que somos capaces de ser irmãos e irmãs entre nós e entre todos os homens e mulheres de boa vontade além das crenças, fé, religião e costumes.
Mais uma vez, o Senhor nos chama pelo nome, nos consagra e nos envia a ser como o seu querido filho, Jesus Cristo e a anunciá-lo. Eu vos convido, e vos peço: ser rectos segundo Deus, servos sem privilégios e cumprir sempre a vontade do Pai.
Só com a protecção materna e tenra de Maria, a Mestra de Dom Bosco, e com o seu ensinamento quotidiano, podemos chegar a ser verdadeiros discípulos missionários e ajudar para que “...toda língua proclame: «Jesus Cristo é o Senhor! A glória de Deus Pai”.
Ángel Fernández Artime,
Reitor-Mor