301-350|pt|329 - Alocução ao Conselho Geral (João Paulo II)


João Paulo II



ALOCUÇÃO DO SANTO PADRE NA AUDIÊNCIA CONCEDIDA

AO REITOR-MOR E AO SEU CONSELHO 1



Atos do Conselho Geral

Ano LXX – abril-junho, 1989

N. 329





1. Estou particularmente feliz de me encontrar com o Reitor-Mor e o Conselho Geral da Sociedade Salesiana, no final das solenes celebrações do Centenário da morte de São João Bosco. Como escrevi exatamente há alguns dias, por ocasião do encerramento do ano centenário, “a minha alma abre-se a tantas lembranças e recebe conforto, ao recordar os principais momentos celebrativos que o caracterizaram” (Carta Centésimo Exeunte, 24 de janeiro de 1989). Como apareceu da multiplici­dade dos encontros, especialmente juvenis, das peregrinações aos lugares salesianos, dos convênios de estudo, entre as quais o Congresso internacional de estudos históricos e pedagógicos rea­lizado em Roma, é óbvio que o dinamismo do seu amor continua a produzir frutos em todos os países do mundo. Também eu quis, de diversos modos, sobretudo com a minha peregrinação aos lugares do vosso Fundador, pôr em evidência o peculiar ca­risma e a missão de um Educador tão insigne, verdadeiro dom de Deus à Igreja. “A sua estrutura de Santo — escrevi na Carta Iuvenum Patris de 31 de janeiro de 1988 — coloca-o, com origi­nalidade, entre os grandes Fundadores de Institutos religiosos na Igreja. Sobressai por muitos aspectos: é o iniciador de uma verdadeira escola de nova e atraente espiritualidade apostólica; é o promotor de especial devoção a Maria, Auxiliadora dos Cristãos e Mãe da Igreja; é a testemunha de leal e corajoso sen­tido eclesial, manifestado através de mediações delicadas nas então difíceis relações entre a Igreja e o Estado; é o apóstolo realista e prático, aberto aos contributos das novas descobertas; é o organizador zeloso das Missões, com sensibilidade verdadei­ramente católica; é, por excelência, o exemplar de um amor pre­ferencial pelos jovens, especialmente pelos mais necessitados, para o bem da Igreja e da sociedade; é o mestre de uma eficaz e genial práxis pedagógica, deixada como dom precioso a ser con­servado e desenvolvido” (n. 5, AAS 70 [1988], p. 973).

Plenamente convicto que Dom Bosco realizou a sua santi­dade pessoal “através do empenho educativo vivido com zelo e coração apostólico” (ibidem), e que a sua vida, a sua espiritua­lidade, os seus escritos e a sua obra oferecem grandes luzes evangélicas e válidos critérios metodológicos para a formação do “Homem novo”, eu quis proclamá-lo Pai e Mestre da Juventude, estabelecendo que com esse título Ele seja honrado e invocado na Igreja toda, não só pelos membros da grande Família Sale­siana, mas por quantos se interessam pela causa dos jovens, e buscam promover a sua educação a fim de contribuir na edifi­cação de uma nova humanidade (Centesimo Exeunte).

Dom Bosco constitui um momento basilar da história da Igreja: deixou de fato uma intuição, uma experiência, um mé­todo que são já um patrimônio adquirido; e, como declarava o meu venerado Predecessor Paulo VI, ele foi “um gênio reconhe­cido pela moderna pedagogia e catequese e, mais ainda, gênio de santidade, daquela santidade, que é nota característica da Igreja, santa e santificadora” (AAS 70 [1978], p. 177).



2. O campo da ação educativa está intimamente unido com a missão salvífica da Igreja, como lugar onde amadurece o cres­cimento de cada pessoa à luz da Palavra de Deus. Dom Bosco é um “sinal” do amor preferencial pelos jovens, sobretudo pelos mais necessitados.

Na fase atual de grande crescimento das ciências da edu­cação, que estão encontrando também com a contribuição de estudiosos da Família Salesiana o seu específico estatuto episte­mológico, Dom Bosco convida-nos não tanto a nos dedicar gene­ricamente aos jovens, mas a “educar com um projeto”. O nosso Santo, que realizou uma síntese vital entre saber pedagógico e práxis educativa, ofereceu-nos um sistema completo que, sem nada tirar à contribuição enriquecedora e específica dos outros educadores passados ou do seu tempo, permanece um tanto firme por ter conseguido unificar em uma síntese os complexos ele­mentos destinados a promover o desenvolvimento completo do garoto e do jovem.

Por fim é urgente estabelecer uma síntese entre evangeliza­ção e educação: em Dom Bosco “a preocupação de evangelizar os jovens não se reduz unicamente à catequese, ou apenas à liturgia, ou àqueles atos religiosos que exigem explícito exercício da fé e a ela conduzem, mas abraça o vasto setor da condição juvenil” (Carta Iuvenum Patris, n. 15, AAS 80 [1988], p. 981).

Queridos Irmãos, fui informado que escolheram para o pró­ximo Capítulo Geral o tema: “Educar os jovens à fé: tarefa e desafio para a comunidade salesiana hoje”. Trata-se de um tema que atinge profundamente toda a Igreja. O seu alcance não depende somente de determinadas características da atual con­dição juvenil, mas provém de uma situação de cultura emergente numa hora de profundas mudanças, ao aproximar-se o terceiro milênio cristão. É uma hora de grande responsabilidade eclesial e de fascinante compromisso no caminho da evangelização.



3. Portanto digo a Vós e repito a todos os membros da Família Salesiana: sede sempre e em todos os lugares “missioná­rios dos jovens”! Educai com o olhar fixo no Cristo, divino Edu­cador do Povo de Deus, como fez Dom Bosco. Hoje mais do que nunca é necessária uma metodologia pedagógica que saiba assumir as contribuições das ciências humanas da educação elevando-as ao degrau vivificante da caridade pastoral. Existe verdadeira fome de sabedoria pastoral, que não se satisfaça em “decifrar” e em “interpretar” o homem, mas que se comprometa eficaz­mente em transformá-lo à luz daquelas finalidades e com a força daqueles dinamismos, que o próprio Deus colocou no coração da Igreja e da humanidade. Neste campo, Dom Bosco é de verdade uma testemunha, um pai e mestre que pode iluminar as atuais tarefas da educação, para responder aos graves desafios do mundo atual.

A sua poderosa intercessão sustente o vibrante pedido de ajuda que se levanta dos mil problemas das famílias e dos edu­cadores de hoje.

Acompanhem-vos a minha oração e a minha Bênção.

1 Ver L’Osservatore Romano, 26 de fevereiro de 1989, p. (115) 11.

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