1. CARTA DO REITOR-MOR
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“Nós te esperamos, te esperamos
muito,mas finalmente estás aqui; estás entre nós e não nos fugirás!" (MB XVIII, 72)
APRESENTAÇÃO DA REGIÃO ÁSIA SUL
21 de setembro de 2006
Festa de São Mateus Apóstolo
Introdução
1.
Um grande sonho realizado2.
A Região Ásia Sul.
Situação política, social e religiosa da Região:
Índia, Sri Lanka,
Mianmar, Nepal, Kuwait, Iêmen3.
História da presença salesiana na Região3.1
Atividade missionária
na primeira metade do século3.2
Dois grandes missionários:
Dom Louis Mathias e Padre José Carreño3.3
O rápido desenvolvimento
da Congregação.
Os salesianos na Índia, em Mianmar, no Sri Lanka,
no Nepal, no Kuwait, no Iêmen4.
A atual presença
salesiana 4.1
Coordenação interispetorial4.2
Formação.
Formação permanente. Formação
inicial4.3
Pastoral juvenil.
I
nstituições educativas, internatos e pensionatos, centros juvenis, apostolado
em favor dos jovens em situação de risco (YaR), serviço de orientação profissional,
orientação vocacional4.4
Família Salesiana4.5
Comunicação social4.6
Atividade
missionária.
Missão de Arunachal. Paróquias. Programa de
desenvolvimento social, parte integrante da atividade missionária 5.
A santidade dos primeiros
missionários.
Dom Estevão Ferrando e Padre Francisco Convertini6.
Os grandes desafios da Região6.1
Dar Deus aos jovens, prioridade absoluta6.2
Viver apaixonados pela “missio ad gentes”6.3
Robustecer a vida comum6.4
Preocupar-se com a identificação carismática dos
irmãosCaríssimos irmãos,
há três meses, eu publiquei a carta
de convocação para o CG26 que obteve, em todos os lugares, uma acolhida muito
expressiva, como testemunham os inúmeros e-mails e cartas que recebi e continuo
a receber, expressando a alegria dos irmãos pelo tema escolhido, o seu orgulho
de serem filhos de Dom Bosco e a sua disponibilidade a atuar as mudanças pessoais,
comunitárias e institucionais necessárias a fim de permanecerem sempre fiéis
a Deus, a Dom Bosco e aos jovens.
Agora, nesta minha carta, quero
continuar a apresentação das Regiões. E logo, enquanto começo a escrever a
carta, minha mente se inunda de recordações ainda vivas das duas visitas que
fiz à Região Ásia Sul: a primeira, em fevereiro de 2005, às Inspetorias de
Kolkata, Guwahati e Dimapur, no nordeste da Índia, e a Nova Délhi, capital
da Índia, para estar presente na inauguração das celebrações centenárias da
presença salesiana naquele país e presidir em seguida a visita de conjunto;
a segunda, em fevereiro de 2006, ao Sri Lanka para a celebração dos cinqüenta
anos de presença salesiana naquela ilha-nação, e às Inspetorias indianas de
Chennai, Bangalore e Hyderabad e, de modo particular, a Thanjavur, Inspetoria
de Tiruchy, para encerrar as celebrações centenárias.
Aguardo a minha próxima visita
em fevereiro de 2007 às outras Inspetorias da Região, Bangalore (especificamente
ao Kerala, para o jubileu de ouro da presença salesiana naquele estado) e
Mumbai, à Visitadoria de Panjim (para o jubileu de diamante da presença salesiana
naquele território), à Visitadoria de Mianmar, e a Ranchi, na Inspetoria de
Nova Délhi.
Impressionou-me, em minhas primeiras
visitas à Região, a fecundidade com que o carisma salesiano viveu e se manifesta
nas diversas Inspetorias. Ainda tenho diante dos olhos as faces dos milhares
de jovens, cheios de vida e de entusiasmo, vistos nos vários encontros. Onde
quer que fosse, ouvia crianças e jovens aclamarem e gritarem: "Viva Dom
Bosco!". Como esquecer o encontro em Chennai, aonde mais de 15.000 jovens
vindos de vários de nossos institutos se reuniram para um encontro de paz?
Toda aquela exultação era expressão da alegria de terem sido educados pelos
filhos de Dom Bosco, de pertencerem à Família Salesiana e de encontrarem o
sucessor de Dom Bosco.
O primeiro centenário da presença
salesiana na Região foi realmente um dom de Deus à Igreja e à Congregação.
Para os salesianos, o que aconteceu foi um século para aprender, crescer e
levar à realização o sonho de Dom Bosco em favor dos jovens, um século de
bênçãos abundantes. A esta altura, devo expressar o reconhecimento da Congregação
a todos os que foram instrumentos desse maravilhoso desenvolvimento. A vibrante
presença salesiana na Região é, hoje, fruto do empreendimento pioneiro dos
missionários estrangeiros que fizeram do “
Da mihi animas” de Dom Bosco
a razão e o motor de sua vida. Eles implantaram o carisma salesiano que está
produzindo frutos em abundância. A todos esses missionários, de variadas línguas
e nacionalidades, a grande maioria dos quais já passou à casa do Pai para
receber a recompensa dos servos fiéis, vai a gratidão do Reitor-Mor e de toda
a Congregação!
Como afirmei na homilia da missa
inaugural das celebrações centenárias em Nova Délhi, no dia 28 de fevereiro
de 2005, «não podemos deixar de ficar admirados pela enorme expansão do carisma
de Dom Bosco, pelo florescimento das vocações, pelo desenvolvimento da Família
Salesiana, a ponto de podermos dizer que hoje a Congregação tem um rosto indiano».
Certamente; e desse rosto indiano e sul-asiático quero vos falar nas páginas
seguintes.
1. Um grande sonho realizadoA história da presença salesiana
na Região tem raízes muito distantes. Já em 1875 Dom Bosco falara da Índia
como um dos possíveis futuros países para onde enviar os seus missionários.
[1] Um
ano depois mencionou o Ceilão (atual Sri Lanka) entre os futuros campos missionários.
[2] Nesse mesmo ano Pio
IX oferecia a Dom Bosco um Vicariato na Índia e, no ano seguinte, Dom Bosco
escrevia ao P. Cagliero:
«Vamos assumir o Vicariato Apostólico de Mengador
(Mangalore)» e projetava ao mesmo P. Cagliero a possibilidade de ser o
seu Vigário Apostólico.
[3] Enfim, na noite entre 9 e 10 de abril
de 1886, Dom Bosco teve em Barcelona o sonho missionário que «contou ao P.
Rua (e a outros), numa voz interrompida pelos soluços».
Dom Bosco «viu uma imensa multidão
de jovenzinhos que, correndo ao seu redor, diziam-lhe: "Nós te esperamos,
te esperamos muito, mas finalmente estás aqui; estás entre nós e não nos fugirás!"
[...]; enquanto estava como que atônito entre eles, contemplando-os, viu um
imenso rebanho de cordeiros guiados por uma pastorinha que, separando os
jovens das ovelhas e colocando uns de um lado e os outros de outro, deteve-se
junto de Dom Bosco e lhe disse: "Vês o quanto tens pela frente?".
"Sim, estou vendo", respondeu Dom Bosco. "Pois bem, recorda-te
do sonho que tiveste aos dez anos?". Em seguida, ela fez com que os jovens
viessem para junto de Dom Bosco, dizendo a ele e a eles: "Eleva o teu
olhar e
elevai-o vós todos e lede o que está escrito". Um dos jovens
leu: "Valparaíso", um outro "Santiago", outros "
Pequim".
Então, a pastorinha, que parecia ser a mestra dos jovens, disse: "Traça,
agora, uma única linha de uma extremidade à outra, de Pequim a Santiago...".
A pastorinha continuou falando a Dom Bosco, "…Vês aqui outros dez centros,
desde o centro da África até Pequim. E também esses centros fornecerão missionários
para todos esses outros lugares. Lá está Hong-Kong, ali Calcutá... Estes e
mais outros terão casas, estudantados e noviciados"».
[4] Pois bem, vendo a multidão de jovens
nos vários encontros que mantive com eles na Índia, eu me recordei das palavras
dirigidas a Dom Bosco pelos jovens no sonho: “
Nós te esperamos, te esperamos
muito, mas finalmente estás aqui; estás entre nós e não nos fugirás!"
e, com gratidão, as vi realizadas. O nosso trabalho na Ásia, especialmente
na Ásia Sul, já foi então previsto por Dom Bosco, mostrado claramente a partir
do céu a ele, pela pastorinha, como parte do futuro da Congregação, e o que
vemos hoje é a realização daquele sonho.
Os bispos do Padroado de Mylapore
ao sul da Índia foram, nas mãos de Deus, os instrumentos imediatos para levar
os salesianos à Região. Desde 1896 D. Antonio de Souza Barroso pediu reiteradamente
ao P. Rua que enviasse os salesianos a fim de trabalharem em sua diocese.
O seu sucessor foi o bispo Teotônio Manuel Ribeiro Vieira de Castro, grande
admirador de Dom Bosco. Em 1885, como jovem padre, ele estivera em Turim para
encontrar-se com Dom Bosco e receber a sua bênção. Por isso, quando se tornou
Bispo de Mylapore, demonstrou-se muito desejoso de ter os salesianos em sua
diocese, e a partir de 1901 escrevia freqüentemente ao P. Rua, pedindo os
salesianos. O P. Rua, enfim, anuiu em enviá-los, desde que sob certas condições
(em sua maior parte, relativas às despesas, à residência e à manutenção).
Um acordo formal foi preparado e assinado por D. Manuel de Castro e pelo P.
Rua em Turim no dia 19 de dezembro de 1904. Concordou-se que os salesianos
seriam enviados a Thanjavur, que então fazia parte da diocese de Mylapore,
para assumirem um orfanato que já existente e uma escola profissional. Dessa
forma, em 5 de janeiro de 1906, sob a guia do P. Jorge Tomatis, o primeiro
grupo de cinco salesianos chegou à Índia.
2. A Região Ásia SulAté o CG25, a Ásia Sul fazia parte
da Região Ásia e, mais tarde, da Australásia. Considerando o crescimento constante
dos salesianos e das obras nessa Região, o Capítulo Geral 25 subdividiu a
Região em duas: Ásia Leste - Oceania e Ásia Sul. Hoje, a Ásia Sul compreende
9 Inspetorias mais a Visitadoria de Konkan na Índia, as Visitadorias de Mianmar
e do Sri Lanka, e as comunidades e presenças das Ilhas Andaman (pertencentes
à Inspetoria de Chennai), do Nepal (pertencentes à Inspetoria de Kolkata),
do Iêmen (pertencentes à Inspetoria de Bangolore) e do Kuwait (pertencente
à Inspetoria de Mumbai).
No início do século vinte, no momento
da chegada dos salesianos, Índia, Birmâmia (hoje Mianmar) e Ceilão (hoje Sri
Lanka) eram colônias inglesas, enquanto o Kuwait era um protetorado britânico.
A Índia obteve sua independência em agosto de 1947, Mianmar em janeiro de
1948, o Sri Lanka em fevereiro de 1948 e o Kuwait em setembro de 1961. O Nepal
era um país independente desde a segunda metade do século dezoito.
Situação política, social e religiosa da RegiãoComo a Região Ásia Sul é muito
vasta e as nações que a compõem muito diversas em culturas e línguas, consideraremos
os países separadamente.
ÍndiaA Índia, situada geograficamente
na parte sul da Ásia, com seus limites estendidos do Mar da Arábia ao Golfo
de Bengala, encontra-se entre Mianmar e Paquistão.
Originariamente, a Índia foi povoada
pelos dravidianos, cuja civilização é uma das mais antigas do mundo, indo
ao menos há 5.000 anos. Por volta de 1.500 a.C. alguns grupos de arianos invadiram
o subcontinente indiano a partir do noroeste; sua fusão com os habitantes
originários deu início à atual cultura clássica indiana.
Mais tarde, árabes, turcos e mercantes
europeus fizeram regularmente incursões pelo território indiano; enfim, durante
o século dezenove a Grã Bretanha assumiu o controle político de quase todo
o território indiano. Uma prolongada resistência ao colonialismo inglês desembocou
na independência de 1947.
Com a independência, o subcontinente
foi dividido em dois: o estado secular da Índia e o estado muçulmano, menor,
do Paquistão. A guerra de 1971 entre os dois países fez com que o leste do
Paquistão se tornasse uma nação separada, chamada Bangladesh.
As sucessivas ondas de invasores
estrangeiros deixaram uma marca indelével na cultura do subcontinente indiano.
Do total da população, cerca de 72% são de origem indo-ariana e 25% são de
origem dravidiana. Um número considerável da população é identificado como
dalit. Estes entram no elenco de “
scheduled castes” do governo
indiano e podem ter acesso a alguns benefícios sociais. Há ainda várias tribos
que pertencem à lista de “
scheduled tribes”.
A religião hindu (
dharma)
contempla quatro castas em ordem hierárquica: os
brahmin (classe sacerdotal),
os
kshatriya (classe principesca), os
vaishya (classe comercial)
e os
sudra (classe operária). Os membros dessas castas principais têm
oprimido diversos grupos dos habitantes originários, reduzindo-os a uma classe
de
"fora de casta", os
dalit, os párias. Durante e
depois da luta pela independência, houve uma forte reação na Índia em relação
a essa situação injusta, e hoje tanto o governo quanto a Igreja fazem muito
pelo bem-estar dos "fora de casta". Mencionamos especificamente
este grupo porque cerca de 70% dos cristãos na Índia pertencem aos
dalit,
e, em algumas de nossas Inspetorias indianas, eles são os principais destinatários
e beneficiários do nosso apostolado.
Hoje, a Índia é a maior democracia
no mundo, o segundo país mais populoso, com uma população que supera o bilhão
(1.095.351.995), dos quais 80,5% são hindus, 13,4% muçulmanos, 2,3% cristãos.
Há, no interior da nação, enormes desigualdades entre ricos e pobres. A taxa
de alfabetização é de apenas 59,5%. A língua oficial é o
hindi, enquanto
o inglês goza de uma posição associada como língua nacional. Além dessas,
existem outras 14 línguas oficiais, cada qual com sua própria escrita, e 200
outras línguas não oficiais, sem contar os milhares de dialetos. A Índia é,
dessa forma, um verdadeiro mosaico de línguas, culturas e tradições que contribuem
para sua desconcertante complexidade e para sua riqueza única.
Após as eleições parlamentares
de maio de 2004 houve uma mudança de governo: do partido ultranacionalista
de ideologia
hindutva (isto é, exclusivamente hindu), passou-se a uma
coalizão mais moderada de centro-esquerda, com o apoio externo do partido
comunista. Os conflitos inter-religiosos (principalmente entre hindus e muçulmanos)
explodem freqüentemente. A perseguição direta ou indireta dos cristãos também
continua, com algum incidente violento de vez em quando. É preciso acenar
aqui à promulgação em alguns estados de uma lei contra as conversões, que
proíbe a assim chamada conversão "forçada" de uma religião a outra.
O verdadeiro motivo da lei, porém, é impedir que o povo das castas inferiores
e das tribos enunciadas se torne cristão. Muitas vezes os porta-vozes da Igreja
têm esclarecido as coisas, ou seja, que a conversão, por sua natureza intrínseca,
não é forçada e que não existem conversões forçadas na Igreja.
Em nível político, há um conflito
desde longa data entre Índia e Paquistão sobre a questão da Caxemira, que
por bem três vezes levou as duas nações à guerra, aos limites de uma guerra
nuclear. Recentemente, porém, parece que há menos tensão e mais abertura ao
diálogo e tem-se a impressão de que a situação está melhorando.
A globalização chegou à Índia de
maneira notável mais ou menos no último decênio. O país está perto de se tornar
uma superpotência econômica nos próximos decênios, com todos os males concomitantes,
como o consumismo, o materialismo, o distanciamento sempre crescente entre
os que possuem e os que não possuem. A população da Índia ainda é preponderantemente
rural e agrícola, mesmo se no momento presente esteja sendo desenvolvida uma
vasta gama de indústrias modernas e uma multiplicidade de serviços, que alimentam
o crescimento econômico. A Índia tem condições de tirar vantagem do grande
número de gente muito instruída e competente na língua inglesa, a ponto de
ser um importante exportador de serviços e de habilidades em software. A enorme
população em crescimento é, ao mesmo tempo, o seu principal recurso em termos
de capital humano, junto aos seus prementes problemas sociais e econômicos,
que se tornam ainda mais difíceis pelo sistema difuso das castas, especialmente
nas zonas rurais.
As origens do cristianismo na
Índia podem ser referidas a São Tomé Apóstolo em 52 d.C.; a Igreja siro-malabarense
reivindica sua origem justamente a São Tomé. Um grande impulso foi dado com
a chegada de São Francisco Xavier em 1542 e pela atividade missionária dos
jesuítas. Depois de sua supressão em 1776, foram para a Índia os missionários
estrangeiros de Paris (M.E.P.) que trabalharam muito pela evangelização. Uma
parte do grupo jacobita (que séculos antes tinha deixado a Igreja Católica
devido à excessiva política latinizante dos missionários portugueses) retornou
à plena comunhão com a Igreja Católica Romana em 1930. Dessa forma, além da
Igreja de rito latino, existem outras duas Igrejas Católicas em plena comunhão
com Roma: a Igreja siro-malabarense e a Igreja siro-malankarense, que são
governadas pelos respectivos arcebispos maiores; o arcebispo maior da Igreja
siro-malabarense é também cardeal. Atualmente há na Índia três cardeais em
atividade, um dos quais (o cardeal Ivan Dias, de Mumbai) foi recentemente
nomeado Prefeito da Congregação para a Evangelização dos Povos.
Os cristãos na Índia são mais de
24 milhões, correspondentes a 2,3% da população; entre eles, os católicos
são 1,98% da população. Há 21.931 sacerdotes (12.207 diocesanos e 9.724 religiosos);
as pessoas consagradas são 102.102 dos quais 12.802 são homens e 89.300 mulheres.
[5]
68% do clero e dos religiosos provêem do sudeste do país, dos estados de Kerala,
Tâmil Nadu, Mangalore e Goa. Algumas dioceses siro-malabarenses do Kerala
têm um alto percentual de católicos (Palai, no Kerala, tem 50,64% de católicos),
enquanto existem algumas dioceses no norte da Índia que têm menos de 0,02%
de católicos.
A hierarquia católica foi erigida
na Índia em 1886, a da Igreja siro-malabarense em 1923, e a da Igreja siro-malankarense
em 1932. Além da Conferência Nacional dos Bispos (CBCI), há, desde 1987, outras
três distintas conferências de bispos para os três ritos católicos (latino,
siro-malabarense e siro-malankarense.
A comunidade cristã, e mais especificamente
a comunidade católica, é uma força na Índia. Embora sendo uma minúscula minoria,
os cristãos provêem a 20% da educação primária no país, a 10% dos programas
de alfabetização e assistência sanitária comunitária, a 25% do cuidado com
os órfãos e as viúvas, e a 30% do cuidado com os deficientes, leprosos e vítimas
da AIDS.
O maior desafio que a Igreja da
Índia deve enfrentar é o trabalho pelos mais pobres e oprimidos, com descortino
e testemunho claro e evangélico, a promoção do diálogo ecumênico e inter-religioso
entre os membros das várias religiões e seitas.
Sri Lanka
O Sri Lanka (chamado anteriormente de Ceilão)
é uma ilha-nação tropical, a cerca de 31 quilômetros ao sul da Índia. Encontra-se
no Oceano Índico em posição estratégica, na principal rota comercial marítima
entre o Extremo Oriente e a África e a Europa.
O país tem uma história muito antiga: os especialistas
atestam que houve colônias na ilha há pelo menos 130.000 anos. Um grande percentual
da população de mais de 10 milhões è de origem indiana. Entre eles, a maioria
(o grupo cingalês) tem suas origens há milhares de anos e é considerado o
povo nativo do país; constituem 73,8% da população, enquanto um número menor
de tâmeis do sul da Índia forma o segundo maior grupo (mais de 8,5%) e vive
principalmente na parte norte da ilha.
A guerra civil entre o povo cingalês e o povo
tâmil, este último apoiado pelo grupo revolucionário LTTE, causou mais de
100.000 mortos nos últimos dois decênios além de deslocar mais de 200.000
tâmeis que buscaram refúgio no ocidente. Ultimamente, a ilha foi severamente
atingida pelo
tsunami de 26 de dezembro de 2004 que causou mais de
10.000 mortos e provocou danos ingentes. Nossos irmãos mobilizaram rapidamente
os recursos para levar conforto aos parentes dos mortos, juntamente com alimento,
teto e outras ajudas ao povo.
Da população total, os budistas constituem
69,1%, os muçulmanos 7,6%, os hindus 7,1%, os cristãos 8%, e os demais grupos
não especificados cerca de 10%.
Alguns sacerdotes portugueses chegaram à
ilha já em 1505. O trabalho de evangelização teve início em 1543, e deu passos
enormes na primeira metade do século dezessete, com a chegada de vários grupos
de missionários. Entre eles estava o Beato José Vaz, sacerdote vindo de Goa.
Durante a segunda metade do mesmo século, porém, quando a ilha-nação passou
para o governo holandês (1650-1795), o trabalho de evangelização encontrou
sérios obstáculos. Mais tarde, com a chegada dos ingleses, a situação melhorou,
embora vários fatores tenham contribuído para criar obstáculos às atividades
da Igreja até à independência do país em 1948.
A hierarquia católica foi erigida em 1886.
Em 1893 foi aberto um seminário pontifício em Kandy a fim de prover à formação
sacerdotal do clero da Índia e do Sri Lanka. Em 1955, o seminário pontifício
de Kandy foi transferido para Pune, na Índia; em seu lugar foi criado em Ampitiya
o seminário nacional de Nossa Senhora do Sri Lanka, para servir às dioceses
daquele país. Hoje, a população católica soma 1.365.000 (6,8% da população
total); há 11 dioceses com 1.080 sacerdotes (683 diocesanos e 397 religiosos)
e um número total de 3.038 religiosos, dos quais 577 são homens e 2.461 são
mulheres.
[6] O maior desafio da Igreja no Sri Lanka é trabalhar
pela reconciliação entre tâmeis e cingaleses, e resolver o problema étnico;
como também, trabalhar por um maior diálogo com os budistas.
MianmarMianmar (antiga Birmânia) encontra-se no sudeste
da Ásia, confinante com a China, Laos, Bangladesh e Tailândia, às margens
do Mar de Andaman e do Golfo de Bengala. A população de Mianmar é de cerca
de 48.000.000, dos quais os budistas constituem 89%, os cristãos 4% e os muçulmanos
4%.
Desde 1988 uma cruel junta militar governa
o país. Ela não permite aos cidadãos usufruírem seus direitos humanos, liberdade
de autodeterminação política, liberdade de imprensa e de expressão. Os grupos
étnicos nos estados de Shan, Mon, Karen e Karenni (nos limites com a Tailândia)
são reprimidos pelo governo por objetivos militares, seguindo um plano sistemático
de "purificação étnica", como é chamado.
A origem da Igreja em Mianmar pode ser situada
pela metade de 1500, e especificamente numa tentativa de evangelizar feita
em 1544 por um franciscano francês. Quase um século mais tarde, os capuchinhos
chegaram a Mianmar e, depois deles, os barnabitas. Após a primeira metade
do século dezenove, como conseqüência da guerra entre ingleses e birmanes,
a Igreja foi quase completamente exterminada, de modo que em 1866, ficaram
apenas dois sacerdotes católicos. A situação foi melhorando gradualmente e,
em 1955, foi erigida a hierarquia católica.
Hoje, em Mianmar há uma população católica
de mais de 620.000 habitantes (1,16%); há 13 dioceses, com 574 sacerdotes
(dos quais 540 são diocesanos e 34 religiosos) e 1.627 consagrados religiosos,
dos quais 139 são homens e 1.488 mulheres.
[7] Em 1965-1966, o governo nacionalizou todos
os institutos eclesiásticos. Contudo, apesar dos obstáculos provenientes da
situação política, a Igreja é vibrante e dinâmica. Desde 1995 a Conferência
Episcopal de Mianmar pressiona pela liberdade de religião, tendo como base
a Constituição nacional.
Nepal
O Nepal, país do sul da Ásia, sem
saída para o mar, encontra-se numa posição estratégica entre a China e a Índia;
é um país que vai dos 70 aos 8.850 metros do monte Everest; nove das dez elevações
mais altas do mundo estão no Nepal.
O Nepal está entre os países mais
pobres e subdesenvolvidos do mundo, tendo um terço da população abaixo da
linha de pobreza. O desenvolvimento econômico do Nepal é muito baixo, e isso
se deve ao seu atraso, à sua localização geográfica remota e sem saída para
o mar, à facilidade com que está sujeito a desastres naturais e, sobretudo,
à luta civil interna, entre guerrilheiros maoístas e um número de grupos radicais
antimonárquicos com os filos-esquerdistas. A situação precária reduziu também
o turismo, que em tempos melhores era uma das fontes principais de moeda estrangeira.
O país tem uma população de 29
milhões de habitantes e é governado por um rei, com um parlamento e alguns
ministros. A situação política, porém, é mutável, se não até mesmo anárquica.
Exemplo típico deu-se em 2001, com o massacre de dez membros da família real,
inclusive o rei e a rainha, pelas mãos do príncipe herdeiro. A maior parte
da população do país é hindu. A conversão a uma outra religião è proibida
por lei.
A fé católica foi levada ao Nepal
em 1628 pelos missionários jesuítas, mas o trabalho de evangelização iniciado
por eles foi muito incipiente. Hoje, os católicos são cerca de 8.000 (0,02%),
com 50 sacerdotes (12 diocesanos e 38 religiosos), 164 consagrados religiosos,
dos quais 40 são homens e 124 mulheres.
[8] As conversões do hinduísmo, que
é a religião nacional, não são apenas proibidas, mas puníveis com prisão.
É vedada a missão cristã entendida como proclamação explícita do Evangelho.
Kuwait
O Kuwait, um pequeno país do Oriente
Médio, encontra-se entre Iraque e Arábia Saudita, confinante com o Golfo Pérsico.
Embora rico em petróleo, é quase totalmente dependente da importação de alimentos
e 75% da água potável devem ser destilados ou importados.
O Kuwait tem uma população de cerca
de 2.650.000, incluindo 1.300.000 estrangeiros; 85% são muçulmanos, enquanto
os outros 15% são formados por cristãos, hindus, seguidores do zoroastrismo
e outros, quase todos expatriados.
A origem do cristianismo na região
pode ser referida aos tempos apostólicos. No momento presente, os católicos
são cerca de 158.500 (5,98%) da população total e pertencem a vários ritos.
Há um bispo católico e uma catedral em Kuwait City, e três outros lugares
para o culto; há 12 sacerdotes, dos quais 9 são religiosos. Os consagrados
religiosos são 22, dos quais 13 são irmãs.
[9] Iêmen O Iêmen é um outro país no Oriente
Médio, com uma população de quase 21.000.000, praticamente toda muçulmana,
com um número insignificante de judeus, cristãos e hindus. A região norte
obteve sua independência do império otomano em 1918, enquanto os ingleses
se retiraram da região sul somente em 1967. Quando o Iêmen do sul tomou uma
orientação marxista, milhares de cidadãos do sul refugiaram-se no norte; esse
êxodo levou ao conflito entre as duas regiões. Enfim, em 1990, as duas regiões
uniram-se formando a República do Iêmen. Agora, falando relativamente, o país
goza de uma certa harmonia.
Os católicos são cerca de 4.000
numa população total de 21 milhões, e são em sua maioria expatriados filipinos
e indianos, com um pequeno grupo de iraquianos, sudaneses, libaneses, jordanianos,
americanos e ingleses. Há 5 sacerdotes salesianos que atuam como capelães
das Missionárias da Caridade de Madre Teresa, provendo também às necessidades
espirituais da pequena população católica. Há quatro comunidades das Missionárias
da Caridade de Madre Teresa, com 24 irmãs de diversas proveniências. Em 1998
três delas foram mortas por um fundamentalista islâmico: foram as primeiras
mártires das Missionárias da Caridade a darem a vida pela fé no serviço aos
pobres. Em alguns centros, onde os salesianos trabalham, são realizados alguns
programas de animação a fim de ajudar os expatriados a resistirem à atração
dos fundamentalistas islâmicos e das seitas protestantes. A situação está
melhor atualmente, a partir de 2000, quando o Presidente ordenou ao primeiro
ministro que devolvesse à Igreja Católica no Iêmen os edifícios das igrejas
com seus terrenos adjacentes.
3. História da presença salesiana na Região O primeiro grupo de salesianos
era formado por três sacerdotes, um clérigo, um coadjutor e um aspirante;
eram quatro italianos, um belga e um francês, sob a guia do P. Jorge Tomatis.
Embarcaram em Gênova no dia 17 de dezembro de 1905 e chegaram a Bombaim no
dia 5 de janeiro do ano seguinte. Hospedados primeiramente pelo bispo de Daman
e depois pelo de Mylapore, chegaram a Thanjavur, sua destinação missionária,
no dia 14 de janeiro de 1906.
Assumiram logo a responsabilidade
do orfanato S. Francisco Xavier e da escola elementar da paróquia. No arco
de três semanas desde a sua chegada, ativaram um grupo de cooperadores salesianos
e deram início ao oratório festivo, onde à noite depois da recreação os meninos
tinham uma hora de catecismo, ensinado pelos cooperadores e por alguns jovens
mais velhos. Em fevereiro do mesmo ano deram início a duas oficinas.
Já em junho de 1906 eles administraram
o primeiro batismo. Desde o início, procuraram desenvolver também as vocações
indígenas. Dessa forma, em agosto de 1907 um jovem de 18 anos, Inácio Muthu,
pediu para entrar entre os salesianos de Thanjavur. Em 1908, com um outro
aspirante, foi enviado à Itália para fazer o noviciado. Depois do noviciado,
e depois dos estudos filosóficos feitos em Portugal, os dois jovens salesianos
retornaram à Índia. Inácio Muthu, ordenado no dia 31 de dezembro de 1916,
foi o primeiro sacerdote salesiano indiano.
Enquanto completavam os dois primeiros
anos de trabalho salesiano em Thanjavur, a morte inesperada, no dia 19 de
novembro de 1907, do P. Ernest Vigneron, um dos missionários do primeiro grupo,
foi um duro golpe para a comunidade salesiana. Deus, porém, proveu de modo
singular. Outro missionário francês, P. Eugenio Mederlet, estava indo para
a China a fim de encontrar-se com os missionários salesianos em Macau. Passando
pela Índia, deteve-se a fim de visitar o seu amigo P. Vigneron. Enquanto ainda
estava na Índia, o seu amigo morreu, e o P. Rua mandou um telegrama ao P.
Mederlet pedindo-lhe que permanecesse ali para substituí-lo.
Em 1909 o P. Tomatis, deixando
a missão de Thanjavur aos cuidados do P. Mederlet, foi a Mylapore (Chennai)
para iniciar uma segunda fundação. Também ali se começou com o trabalho pelos
órfãos num orfanato já existente. O P. Tomatis morreu inesperadamente em 1925.
Entretanto, a Santa Sé pressionava
os salesianos para que aceitassem a vasta missão do Assam. Enfim, no dia 13
de janeiro de 1922, o primeiro grupo de 11 missionários (6 sacerdotes e 5
coadjutores), tendo o P. Luís Mathias como chefe, chegou em Shillong, então
capital do Assam. Em dezembro de 1922, o P. Mathias foi nomeado Prefeito Apostólico
do Assam. A partir daquele momento não se voltou mais o olhar para trás. Em
1923, os salesianos da Índia formavam uma Visitadoria com sede em Shillong,
e o P. Mathias foi nomeado seu primeiro superior. Em 18 de maio de 1926, a
Visitadoria indiana foi elevada a Inspetoria: o P. Mathias tornou-se o seu
primeiro Inspetor, a sede continuou em Shillong, e São Tomé Apóstolo foi escolhido
como patrono.
Enquanto a obra salesiana ia muito
bem no norte, a situação no sul não era tão encorajadora. Os salesianos tiveram
alguns problemas com a administração diocesana local. O bispo local tinha-se
demonstrado muito amigo e paterno para com os salesianos; o mesmo não aconteceu,
porém, com o Vigário Geral que governou a diocese durante a longa ausência
do bispo na Europa. Por isso, o Visitador extraordinário, P. Pedro Ricaldone,
retirou os salesianos de Thanjavur e Mylapore e mandou-os para Mumbai e Vellore.
Em 1928, a missão de Norte Arcot, com sede em Vellore, foi unida à arquidiocese
de Madras que, por sua vez, foi entregue aos salesianos, enquanto o P. Eugenio
Mederlet foi nomeado arcebispo.
Em 1934, o P. Luís Mathias e o
P. Estevão Ferrando foram ordenados bispos respectivamente de Shillong e de
Krishnagar. Em 1935 D. Mederlet morreu improvisamente. D. Mathias foi então
transferido para a arquidiocese de Madras e D. Ferrando para Shillong. Em
1939 os salesianos do norte entraram na Birmânia (Mianmar) e começaram a trabalhar
em Mandalay; em 1956 os do sul iniciaram a obra salesiana em Negombo, no Sri
Lanka.
3.1
Atividade missionária na primeira
metade do séculoA partir de 1922 e até à segunda
guerra mundial houve um fluxo constante de missionários salesianos, que foram
do exterior à Índia. Depois da proclamação da independência, em 1947, tornou-se
sempre mais difícil aos missionários estrangeiros entrarem na Índia. Enfim,
em 1966, o governo pôs fim à entrada de missionários estrangeiros. Dessa forma,
de 1906 até 1966, um período de 60 anos, mais de 450 salesianos de vários
países foram para Índia como missionários – a maior parte deles da Europa,
especialmente da Itália, mas alguns também da Austrália e das Américas. A
imensa maioria deles morreu na Índia, terra de sua adoção missionária; alguns
poucos retornaram ao país de origem por motivos de saúde ou por outros motivos
conexos. Hoje restam na Índia apenas 31 missionários estrangeiros.
Desde o início, as missões foram
uma expressão privilegiada do carisma salesiano entre a juventude. Partir
da educação dos jovens para chegar à evangelização da gente local: essa, pode-se
dizer, foi a estratégia missionária específica adotada pelos salesianos em
todas as suas missões. A obra missionária na Índia apresenta, porém, algumas
características próprias, que a distinguem da obra missionária em outros lugares
da Congregação.
Deve-se sublinhar, primeiramente,
que os missionários foram, desde o início, um grupo internacional proveniente
de diversos países, apresentando assim a realidade de uma Igreja universal.
Também servia de auxílio, o fato de esses missionários manterem contato com
os países de origem, para apoio econômico e psicológico, tão necessário ao
desenvolvimento rápido da missão. Onde quer que uma obra missionária salesiana
tivesse início, via-se a transformação, o crescimento, o progresso em toda
a zona circunstante.
Igualmente, a presença de um número
consistente de coadjutores salesianos, que trabalhavam ao lado dos sacerdotes
e punham as mãos em qualquer tipo de trabalho qualificado, causou uma impressão
muito favorável, porque dizia da igualdade fundamental das pessoas num país
dominado por divisões de tribos e de castas, e onde cada casta está ligada
a um determinado tipo de trabalho. O papel do coadjutor salesiano nas missões
foi decisivo para a qualidade e profundidade do seu testemunho leigo.
Dessa forma, a proclamação do evangelho
e a celebração dos sacramentos caminharam ao lado da educação e do trabalho
profissional, dando um forte testemunho da dignidade da pessoa humana e do
trabalho humano. A rede de escolas, centros de treinamento profissional, internatos
e escolas para meninos e meninas, surgidas rapidamente em todos os lugares
no território missionário, teve um profundo impacto transformador sobre uma
sociedade que há tempo estava estagnada e isolada, e abriu-a ao vasto mundo
circunstante, dando um testemunho crível do poder do Evangelho e das suas
implicações sociais de largo alcance.
Uma segunda característica do
trabalho missionário na Índia foi a formação dos missionários in loco. D.
Mathias insistiu com os superiores para que enviassem jovens à Índia, aonde
teriam iniciado o noviciado, passando depois através das fases formativas
nos lugares do seu futuro missionário, aprendendo a língua, os costumes e
as tradições da gente local, que haveriam de servir. Sua juventude, energia
e zelo fizeram com que se adaptassem muito rapidamente às condições locais
e se demonstrassem depois líderes e pioneiros excepcionais nas áreas às quais
foram indicados. Juntamente com a opção em favor dos missionários jovens do
exterior, ouve também, desde o início, a de recrutar vocações locais. Essa
opção corajosa que ia contra a tendência então praticada em outros lugares,
de contar exclusivamente com missionários estrangeiros, demonstrou-se sábia
e clarividente, porque preparou os salesianos indianos, que cresceram e trabalharam
ombro a ombro com os irmãos de origem estrangeira, para assumirem as rédeas
do governo e da administração quando os missionários estrangeiros foram internados
nos campos militares durante a guerra, ou não mais puderam entrar no país
depois da proclamação da independência. O trabalho missionário não cessou,
portanto, quando faltou o afluxo de missionários estrangeiros. Continuou,
mas em mãos diversas, longamente amestradas pelo espírito e pelo zelo dos
primeiros pioneiros.
Poderíamos dizer que a terceira
característica significativa da estratégia missionária na Índia foi a fundação,
feita por bispos salesianos, de institutos missionários de irmãs. As Irmãs
Missionárias de Maria Auxiliadora, as Irmãs Catequistas de Maria Imaculada,
as Irmãs Visitadoras de Dom Bosco, e outros institutos fundados recentemente,
puseram à disposição das jovens igrejas do nordeste grupos zelosos e dedicados
de irmãs locais, que giravam pelas aldeias e pelas pequenas cidades catequizando,
provendo às necessidades sanitárias e, em geral, cuidando das mulheres e das
crianças. Nos postos missionários, nos dispensários, nas escolas e nos internatos,
essas valentes irmãs integravam admiravelmente o trabalho dos sacerdotes e
dos coadjutores nos ângulos mais distantes do campo missionário.
É preciso evidenciar, ainda, o
intrépido grupo de catequistas leigos em todo posto missionário. Nas aldeias
mais distantes e inacessíveis, que os sacerdotes ou as irmãs só podiam visitar
poucas vezes por ano, esses humildes catequistas, embora não sendo muito instruídos
e escassamente retribuídos, constituíam a face visível da Igreja, reunindo
o povo para a oração aos domingos, dando-lhes instrução, visitando os doentes,
preparando os fiéis para os sacramentos, acompanhando os missionários em suas
visitas, traduzindo os discursos nas línguas locais e fazendo os primeiros
contatos em novos territórios. As Igrejas missionárias devem muito a esses
catequistas pobres e simples, que foram a vanguarda do impulso missionário
ad gentes.De apenas 5.000 católicos no Assam,
quando os primeiros missionários chegaram ao nordeste da Índia e aceitaram
a missão do Assam dos Padres Salvatorianos, a Igreja Católica cresceu a 1.300.000
fiéis hoje, no espaço de pouco mais de 80 anos.
Isso que eu disse da atividade
missionária no nordeste da Índia pode ser dito igualmente, com as devidas
proporções, das demais partes da Região.
3.2
Dois grandes missionáriosA esta altura, sinto a necessidade
de fazer um parêntesis para prestar homenagem a dois eminentes missionários,
a cujo zelo missionário, entusiasmo, capacidade administrativa e descortino
de visão podem-se atribuir a implantação e o desenvolvimento do carisma salesiano.
Durante minhas recentes visitas à Região, ouvi falar deles com grande respeito
e estima.
Dom Luis Mathias (1887-1965)O primeiro é o P. Luís Mathias, chefe da primeira expedição missionária ao norte
da Índia, um salesiano francês, uma pessoa muito dinâmica. É, sem dúvida,
o salesiano mais ilustre da Índia do século passado.
Ele pôs em ação, desde o início, aquele que mais tarde seria o lema oficial
do seu episcopado, “
Aude et spera”. Ousando e esperando, a despeito
das circunstâncias adversas, ele levou a um rápido crescimento o número dos
salesianos e de suas atividades, no período de sua responsabilidade como Inspetor
da Índia.
[10]
O P. Mathias não foi apenas um líder entusiasta, mas também uma pessoa capaz
de despertar o mesmo entusiasmo nos outros. Ele demonstrou grande engenhosidade
na superação dos sérios problemas que a nova missão do Assam teve que enfrentar,
devido à falta de homens e de meios suficientes. Um de seus empreendimentos
no Assam foi criar e manter o "espírito de família", especialmente
nas casas de formação. Foi um organizador formidável e o cérebro de toda a
programação nas missões. Tinha o controle de tudo, mas ao mesmo tempo deixava
espaço à iniciativa local, para que os missionários não se sentissem sufocados,
mas apoiados. O P. Ricaldone, Visitador extraordinário descreveu-o, em 1927,
como alguém que «possuía capacidades extraordinárias para o seu ofício. Era
inteligente: sabia como obter o apoio de outros. Mas, sobretudo, foi um homem
de piedade e de observância religiosa exemplar». Graças ao seu grande amor
por Dom Bosco, deu os passos necessários para implantar a Congregação não
só no Assam, como também em Calcutá, Bombay, Madras, Norte Arcot e Krishnagar.
O desenvolvimento da missão do Assam sob a sua liderança foi tal que a Santa
Sé em 1934 constituiu Shillong como diocese, nomeando o P. Mathias seu primeiro
bispo.
No mesmo ano, porém, tendo morrido o arcebispo salesiano de Madras, D. Mathias
foi transferido para aquela diocese a fim de tomar o seu lugar. Madras era
todo um outro mundo, mas ele adaptou-se à nova situação. Quando, depois, a
Santa Sé uniu a Arquidiocese de Madras com a de Mylapore, criando assim a
nova Arquidiocese de Madras-Mylapore, ele foi nomeado seu primeiro Arcebispo.
Durante os trinta anos passados em Madras, demonstrou-se como um dos mais
dinâmicos bispos da Índia. Sempre que os interesses da Igreja eram atacados
pelo governo em qualquer parte da Índia, ele elevava sua voz de protesto,
e freqüentemente com sucesso. Com muita justiça foi dito que a hierarquia,
o clero e o laicato da Índia são devedores a D. Mathias pelos enormes serviços
que ele prestou à Igreja naquele país. O trabalho que realizou na Arquidiocese
de Madras-Mylapore é simplesmente monumental.
Ele permaneceu sempre um filho devoto de Dom Bosco. Foi extremamente generoso
para com a Congregação. Algumas das melhores paróquias e escolas salesianas
de Madras (agora Chennai) são dons do Arcebispo D. Mathias à Congregação.
P. José Carreño (1905-1986)Outro salesiano significativo, que deixou uma forte marca no sul da Índia, foi
o P. José Carreño, originário da Espanha. Se D. Mathias foi o salesiano mais
ilustre da Índia durante o século passado, pode-se dizer que o P. Carreño
foi o salesiano mais amado no sul da Índia durante o mesmo século.
[11] Quando os salesianos tiveram que se retirar de Thanjavur, o Norte Arcot tornou-se
o campo do seu apostolado enquanto Tirupattur no Norte Arcot foi o coração
do mundo salesiano ao sul da Índia. O P. Carreño fez palpitar esse coração
de amor por Cristo. Foi dito que como mestre dos noviços, encargo que lhe
fora confiado quando ainda não tinha trinta anos, fazia os noviços se enamorarem
do Sagrado Coração de Jesus.
Reproduzo aqui duas cartas de dois de seus noviços, porque apresentam um quadro
nítido do P. Carreño. A primeira é de Hubert D'Rosario, que mais tarde foi
Arcebispo de Shillong-Guwahati. Ele escreveu:
«O meu mestre de noviciado
foi o P. Carreño. Ele se preocupava conosco como um pai... Nós nos sentíamos
atraídos a ele e procurávamos imitá-lo. Ele nos inculcava alguns valores duradouros...
Era um professor brilhante, um pregador convincente... Tínhamos sempre muita
vontade de ouvir suas conferências, tão bem preparadas por ele. Éramos conquistados
pelo seu coração paterno. A alegria, o amor, a paz e a esperança eram as coisas
que se respiravam naquela casa... Aquela casa era como o paraíso». [12] O segundo testemunho é do P.
Luís Di Fiore, que mais tarde foi Inspetor de Madras:
«Sem dúvida, a herança
mais preciosa que o P. Carreño nos transmitiu foi o espírito salesiano em
suas características: sede pelas almas, caridade fraterna e espírito de família,
apoiado na oração, no trabalho, na alegria, num sadio otimismo e na hospitalidade». [13] Em 1944, o P. Carreño foi nomeado Inspetor da Inspetoria do sul da Índia, e
na primeira reunião do Conselho foi tomada a decisão de consagrar a Inspetoria
ao Sagrado Coração de Jesus. Muitos salesianos do sul da Índia atribuem o
fenomenal crescimento da Inspetoria do sul ao amor do P. Carreño pelo Sagrado
Coração e à consagração da Inspetoria ao Sagrado Coração de Jesus. A contribuição
mais notável do P. Carreño à Índia salesiana foi o esforço de aumentar o número
dos candidatos indígenas à vida salesiana. Já em 1893 o Papa Leão XIII escrevera:
«... a sorte da Igreja na Índia jamais poderia ter raízes sólidas sem a
dedicação contínua de um clero indígena na Índia, piedoso e zeloso». [14] O P. Carreño estava plenamente
de acordo com o Papa sobre a importância das vocações indígenas à vida salesiana.
Com o início da segunda guerra mundial, cessou o fluxo de pessoal vindo da Europa.
O pior, entretanto, foi que os salesianos italianos e alemães foram internados
nos campos de concentração, e a Inspetoria ficou, então, com pouquíssimos
salesianos. O P. Carreño em 1943 abriu um aspirantado em Tirupattur. De início,
acolheu apenas os jovens que tinham concluído a escola secundária, mas, depois,
percebendo que eram muito poucos em vista de tanto trabalho no futuro, começou
a acolher também meninos mais jovens. Essa orientação permaneceu até o presente
na Índia, e se hoje os salesianos indianos são tão numerosos, isso se deve
ao descortino e à coragem do P. Carreño.
3.3.
O rápido desenvolvimento da CongregaçãoA Visitadoria indiana, com sede
em Shillong foi erigida em 1923; em 18 de maio de 1926, foi elevada ao grau
de Inspetoria, sob o patrocínio de São Tomé Apóstolo. Sucessivamente, em 14
de janeiro de 1934, a Inspetoria salesiana da Índia foi dividida em duas:
Inspetoria do norte da Índia, tendo como patrono São João Bosco, com sede
em Shillong, que mais tarde foi transferida para Calcutá (Kolkata); e a Inspetoria
do sul da Índia, tendo como patrono São Tomé Apóstolo, com sede em Vellore,
mais tarde foi transferida para Madras (Chennai).
Em 17 de outubro de 1959, a Inspetoria
de Guwahati, tendo como patrona Maria Auxiliadora, foi separada de Kolkata.
Em 31 de janeiro de 1972 a Visitadoria de Mumbai foi erigida como Inspetoria,
tendo como patrono São Francisco Xavier. Em 19 de março de 1979 a Inspetoria
de Bangalore foi separada da Inspetoria de Chennai e assumiu como patrono
o Sagrado Coração de Jesus, enquanto em 8 de dezembro de 1981, a Inspetoria
de Dimapur foi separada de Guwahati e tomou São Francisco de Sales como patrono.
Em 24 de abril de 1992, Hyderabad, que até então fazia parte da Inspetoria
de Bangalore, foi erigida como Inspetoria e dedicada a São José, enquanto
a Delegação de Nova Délhi, que fazia parte da Inspetoria de Kolkata, foi canonicamente
erigida como Inspetoria em 24 de janeiro de 1997, sob o patrocínio de Jesus
Bom Pastor. Em 5 de agosto de 1999, a Inspetoria de Chennai foi dividida em
duas, com a parte sul formando uma Inspetoria com sede em Tiruchy, tendo Nossa
Senhora da Saúde como patrona. Enfim, em 2004, três delegações forma elevadas
ao grau de Visitadorias, ou seja: em 6 de agosto, a de Mianmar, separada de
Kolkata, tendo Maria Auxiliadora como patrona; em 15 de agosto, a do Sri Lanka,
separada de Chennai, tendo São José como patrono; e em 31 e agosto, a da região
de Konkan, separada de Mumbai, com o Beato José Vaz como patrono.
Os salesianos em MianmarEm 1894, o P. J. L. Lafon fundou
em Mandalay um orfanato para meninos chineses, que depois foi ampliado para
acolher órfãos de diversas nacionalidades que estavam na Birmânia, e ao qual
foi acrescentada mais tarde uma escola. Dado o crescimento contínuo da escola
e do internato, e considerando sua idade avançada, o P. Lafon, sozinho, não
podia conduzir a obra. Em 1928, então, com a aprovação do bispo D. Falière,
escreveu ao Inspetor salesiano, P. Mathias, pedindo que os salesianos assumissem
a responsabilidade da obra. Enfim, em 1939, um grupo de seis salesianos, tendo
como chefe o P. Antonio Alessi, chegou a Mandalay para assumir a direção do
internato e da escola.
Como sempre acontece nos inícios
de uma obra, também em Mianmar, os salesianos tiveram que passar por um período
muito difícil devido a várias dificuldades, sobretudo econômicas. Logo em
seguida, Mandalay tornou-se um campo de batalha entre japoneses e ingleses.
Durante a guerra, os salesianos perderam praticamente tudo o que tinham, mas
graças a Deus nenhum deles perdeu a vida. Entretanto, eles alojaram muitas
pessoas, entre as quais dez seminaristas e órfãos e famílias de refugiados.
Depois da guerra foi-se retornando gradualmente à vida normal, graças à ajuda
das autoridades inglesas. Pouco tempo depois, porém, estourou uma guerra civil
em Mianmar, e também desta vez os salesianos tiveram que sofrer muito.
Em 1952, os salesianos aceitaram
a paróquia de Thingangyung, a cerca de 5 km de Yangon. Em 1957 abriram o aspirantado
de Anisakan. Em 1964, o primeiro grupo de três noviços iniciou o noviciado
em Anisakan continuando, depois da profissão, a formação do pós-noviciado
na mesma casa. Veio em seguida a revolução socialista de 1965, e todos os
missionários estrangeiros foram expulsos e as escolas privadas nacionalizadas.
Somente o P. Fortunato Giacomin, missionário italiano, conseguiu ficar no
país e manteve juntos os novos professos, agindo como seu superior, professor
de filosofia e teologia, tudo junto.
Em 1975 foi aberta a missão de
Lashio, graças ao zelo missionário de D. Jocelyn Madden; a missão continuou
a florescer até transformar-se enfim numa diocese, com D. Charles Bo, SDB,
como seu primeiro bispo. Em 1977 foi aberta uma casa de formação em Yangon
para os estudantes de teologia, que freqüentavam o seminário maior interdiocesano.
Em 1988 deu-se início ao aspirantado de Hsipaw e à missão dos estados Wa.
Desde os inícios, Mianmar fazia
parte da Inspetoria de Kolkata. Em 1964 tornou-se Delegação com o próprio
Delegado. Enfim, considerando a necessidade de ajudar a Delegação de Mianmar
a se desenvolver, e visto também o crescimento contínuo embora lento do número
dos irmãos, o número constante de pré-noviços e noviços, a possibilidade de
um desenvolvimento integrado da região, a estima e o encorajamento dos bispos
e, sobretudo, a fidelidade indefectível e o apego dos irmãos a Dom Bosco,
especialmente durante os anos de provação, o Reitor-Mor decidiu em 2002 elevar
a Delegação de Mianmar ao grau de Visitadoria. A ereção canônica aconteceu
sucessivamente em 13 de junho de 2004.
Os Salesianos no Sri LankaO P. Enrique Remery, salesiano
francês da Inspetoria de Chennai, deu início à presença salesiana na ilha
em 1956 nas proximidades da cidade de Colombo; em 1962 foi aberto um instituto
em Ettukal-Negombo. Embora a obra progredisse gradualmente, o P. Remery ficou
ali apenas por poucos anos, porque o governo do Sri Lanka não permitia a entrada
de indianos.
Por muitos anos, os jovens irmãos
do Sri Lanka eram enviados à Índia para a formação inicial, o que também se
tornou impossível por motivos políticos. Depois disso, em 1976, deu-se início
em Kandy a um centro de formação para os jovens irmãos que se encaminhavam
ao sacerdócio. Hoje, no Sri Lanka, existem diversas casas de formação: aspirantado,
pré-noviciado, noviciado e pós-noviciado. Para os estudos teológicos os candidatos
são enviados aos estudantados de teologia da Índia ou de outros lugares.
Em 1993, o Sri Lanka tornou-se
Delegação da Inspetoria de Chennai. No arco de um decênio, a Delegação desenvolveu-se,
dotando-se de uma infra-estrutura quase completa para a animação e a administração.
Por isso, em 2003, o Inspetor de Chennai, com o consenso do seu Conselho e
consultando o Delegado do Sri Lanka, pediu ao Reitor-Mor que separasse a Delegação
do Sri Lanka da Inspetoria de Chennai e a erigisse como Visitadoria. A Visitadoria
do Sri Lanka foi canonicamente erigida em 13 de junho de 2004.
Os salesianos no NepalA presença salesiana no Nepal teve
início em 1992. O P. Antonio Sharma, SJ, Prefeito Apostólico, adquiriu um
terreno em Dharan e convidou os salesianos para cuidarem da missão, que consistia
em cerca de 300 católicos ou 93 famílias na localidade e em seus centros próximos.
Em 2000, os salesianos deram início a uma escola na capital Kathmandu. Temos
atualmente uma comunidade e uma presença no Nepal, que faz parte da Inspetoria
de Kolkata, com dois irmãos emprestados da Inspetoria de Bangalore.
Os salesianos no KuwaitA presença salesiana no Kuwait
teve início em 2000, quando o Reitor-Mor, P. Juan Vecchi, confiou o país aos
salesianos da Inspetoria de Mumbai, para que iniciassem uma escola para os
filhos de trabalhadores, empregados sobretudo no trabalho das construções.
A maioria deles é de origem indiana ou filipina.
Os salesianos no IêmenO governo do Iêmen pediu a Madre
Teresa de Calcutá que abrisse uma obra no país que se ocupasse de idosos e
abandonados. Ela aceitou a proposta com a condição de que suas Irmãs tivessem
um capelão para prover-lhes as necessidades espirituais. Quando o governo
assentiu ao seu pedido, ela solicitou ao Reitor-Mor, P. Egídio Viganò, que
pediu à Inspetoria de Bangalore o envio de alguns salesianos ao Iêmen como
capelães para as Irmãs de Madre Teresa.
A primeira presença salesiana foi
estabelecida em Sana'am capital do Iêmen; trabalho semelhante de capelania
foi atuado também em outros lugares: em 1988, em Hodeidah, em 1989, em Taiz
e em 1991, em Aden. Em todos esses centros, além de serem capelães oficiais
das Missionárias da Caridade, os salesianos atendem a grupos significativos
de católicos, em sua maior parte trabalhadores expatriados.
4. A atual presença salesianaHoje, a Região Ásia Sul conta com
9 Inspetorias e 3 Visitadorias, com cerca de 2.400 irmãos e 170 noviços, em
359 centros; destes, 270 são casas canonicamente erigidas e 89 presenças aprovadas,
ainda não erigidas canonicamente. Há na Região 5 arcebispos e 6 bispos salesianos.
A idade média dos irmãos é de 40,3 anos. São muitos também os missionários
que partiram da Índia para diversas partes do mundo, a fim de levar o Evangelho
e implantar o carisma salesiano. A pequena semente semeada há cem anos no
território indiano cresceu e é hoje uma grande árvore, produzindo frutos de
evangelização e atividade missionária em todo o mundo.
4.1
Coordenação interinspetorialFoi constituída na Região uma Conferência
interinspetorial com estatuto próprio, que se reúne duas vezes por ano: uma
em sessão plenária e outra com reunião de caráter executivo. A Conferência
salesiana da Ásia Sul (SPCSA) tem o seu centro em Nova Délhi e age como instrumento
de comunicação e colaboração interinspetorial, como também para a animação
e as relações públicas. O secretário da Conferência é o encarregado do centro
e cuida da publicação de um boletim bimestral (
SPCSA Bulletin).São quatro as comissões interinspetoriais
sob a responsabilidade da Conferência, guiadas por delegados interinspetoriais
nomeados pela própria Conferência e que acompanham os quatro principais setores
do nosso apostolado: formação, pastoral juvenil, Família Salesiana e comunicação
social, animação missionária. A Conferência Regional elabora um projeto para
o sexênio, tendo por base o projeto de governo e animação do Reitor-Mor e
do seu Conselho. Da mesma forma, cada uma das quatro comissões interinspetoriais
tem o seu programa, inspirado no mesmo modelo. Há uma interação suficiente
entre as comissões, que se encontram regularmente. Suas atividades são acompanhadas
pela Conferência que aprova e avalia todos os anos os seus programas e balanços,
e provê às despesas necessárias. A dificuldade está em criar uma visão comum
da Região e empenhar o pessoal adequado e os recursos financeiros para realizar
e sustentar obras e atividades significativas em nível de Região.
4.2
FormaçãoFormação permanenteEm nível interinspetorial, a Conferência
Regional mantém um centro de formação permanente em Bangalore,
Don Bosco
Yuva Prachodini, e o provê de salesianos qualificados
das diversas Inspetorias. Ali são realizados regularmente programas de renovação
para os líderes das comunidades, formadores e animadores da pastoral juvenil,
tanto salesianos como outros religiosos. O centro administra também um curso
(que se conclui com os exercícios espirituais) com duração de um mês para
todos os diáconos das diversas Inspetorias antes da ordenação. Realiza também
um curso para os irmãos que se preparam para a profissão perpétua.
Formação inicialMais de 40% dos salesianos da Região
estão nas etapas da formação inicial. Esse é um fato que reconhecemos com
alegria e gratidão. Mas é também um chamado à responsabilidade a fim de garantir
uma qualidade elevada de formação, que é de importância fundamental para o
futuro da Região.
Há na Região dois estudantados
de teologia, ambos agregados à Faculdade de Teologia da UPS. O do sul (“Kristu Jyoti College”, em Bangalore) oferece
especialização em catequética e pastoral juvenil (
Viswadeep), conferindo
bacharelado em teologia e licença em teologia, pastoral juvenil e educação
na fé; desde 1984 publica uma revista trimestral intitulada
Kristu Jyoti.
O outro, do norte (“Sacred Heart Theological College”, em Shillong), oferece
especialização em missiologia; desde 1979, publica uma revista de missiologia
que trata de temas teológicos conexos à missão da Igreja na sociedade contemporânea
da Índia; desde 2000 o nome da revista é
Mission Today. Os dois teologados
e as especializações que oferecem estão abertos a religiosos e religiosas
de outras Congregações.
Há, ainda, quatro comunidades formadoras
para estudantes de teologia, que freqüentem os seminários de outros religiosos
ou da diocese. Temos neste ano um número total de 206 estudantes de teologia.
No ano passado as ordenações sacerdotais foram 44. Há, também, no Sacred Heart Theological College
de Shillong um centro de formação específica para os salesianos coadjutores:
o curso de dois anos confere diploma reconhecido pela UPS e está aberto a
outros religiosos e religiosas.
A Região possui ainda nove casas
de pós-noviciado, uma das quais, pertencente à Inspetoria de Kolkata, é exclusiva
para os salesianos coadjutores. O pós-noviciado de Nashik, na Inspetoria de
Mumbai, está agregado à faculdade de filosofia da UPS e publica uma revista
trimestral de natureza científica intitulada
Divyadaan. Todas as casas de pós-noviciado possuem
estruturas adequadas, bibliotecas bem providas e com pessoal dedicado, embora
falte em algumas o número suficiente de professores qualificados; nesses casos
são apoiadas com pessoal preparado de outras Inspetorias. Quatro estudantados
são também afiliados a universidades estatais a fim de se obter o bacharelado.
Globalmente, os estudantes pós-noviços são 295. Depois dos estudos filosóficos,
os jovens salesianos fazem o tirocínio ou continuam o treinamento acadêmico
e profissional. Neste ano, 84 deles emitiram a profissão perpétua.
São nove as casas de noviciado
na Região. Em 24 de maio de 2006, 138 noviços emitiram a primeira profissão,
enquanto 171 noviços entraram no noviciado. A Região conta também com 10 casas
de pré-noviciado que fornecem todos os anos um grupo bem preparado de noviços.
Gostaríamos de notar, ainda, que na Região há apenas 163 salesianos coadjutores
em relação aos 2.247 sacerdotes e clérigos. A proporção é de 1 coadjutor para
cada 14 sacerdotes e clérigos.
Há, depois, outros aspectos que
parecem precisar de revigoramento, como, por exemplo, a formação dos formadores,
o que comporta a instituição de um programa sério, a formação salesiana específica,
que exige cursos sólidos de salesianidade nas várias fases formativas com
textos apropriados e professores qualificados, e o Curatorium, que funcione
bem, para as casas de formação abertas a estudantes de diversas Inspetorias.
É preciso partir da consciência de que a formação é, antes de tudo, responsabilidade
de toda a Congregação como tal, que tem a primeira responsabilidade de garantir
a identidade carismática dos salesianos.
4.3
Pastoral juvenilA pastoral em favor dos jovens
é bem organizada. Em nível regional, há um delegado para a animação juvenil,
nomeado pela Conferência inspetorial. Ele é também delegado para o setor de
educação e cultura da Região. Além disso, cada Inspetoria tem o próprio delegado,
assistido por comissões e subcomissões para as cinco dimensões da pastoral
juvenil. A maior parte dessas comissões funciona organizando programas nas
escolas, centros juvenis e paróquias. As Inspetorias em sua maioria possuem
um projeto educativo-pastoral próprio e procuram mantê-lo atualizado. Em geral,
percebe-se a tendência de dar mais ênfase às atividades e iniciativas do que
à formação e animação progressivas. Há necessidade de um sentido maior de
projeto e de uma pastoral juvenil mais unificada.
Instituições educativasO apostolado salesiano pela juventude
na Região assume várias formas. A mais importante, tendo também o maior número
de beneficiários, é a educação. Falando do cenário educativo na Índia, eu
já indicara que os cristãos são responsáveis por 20% dos institutos de educação
primária na Índia. Podemos afirmar também que os salesianos possuem um papel
significativo no trabalho educativo do país através de suas instituições educativas.
Os primeiros missionários levaram
a sério a missão de evangelizar educando, e a obra missionária sempre esteve
ligada à educação. A atenção foi centrada nas escolas, primárias e secundárias,
acadêmicas e profissionais, porque a educação de base era a necessidade fundamental
dos jovens. Logo, porém, os salesianos deram início também a alguns colégios
universitários. Com efeito, o primeiro colégio universitário da Congregação,
St. Anthony’s College, foi aberto em 1934 em Shillong, Inspetoria de Guwahati.
Hoje há colégios universitários também em outras partes da Região, e eles
conferem os graus universitários de láurea e pós-láurea. Agora que a educação
de base está se tornando muito expandida e acessível, há uma mudança de ênfase
da educação primária à educação superior e, sente-se, então, nas várias Inspetorias,
uma necessidade maior de se abrirem mais colégios universitários.
Observa-se que nas principais cidades
as nossas escolas e os nossos colégios têm muita dificuldade para enfrentar
as inscrições para a admissão, tal a multidão de pedidos por uma educação
de boa qualidade, de modo que se organizam dois turnos nas escolas – pela
manhã e pela tarde – e os colégios universitários são diurnos e noturnos.
Há, na Região, 196 escolas e colégios universitários, com um total de 230.375
estudantes. Essas instituições educativas são bem conhecidas e apreciadas
pelo bom nível de disciplina, pela educação integral e pelos excelentes resultados.
Se Dom Bosco é, em geral, conhecido e respeitado em toda a Índia, isso se
deve muito à rede de sólidas instituições educativas que temos no país.
Há, porém, muitos jovens que não
podem freqüentar a escola ou o colégio universitário por motivos variados:
falta de meios, trabalho em tempo parcial, idade superada, falta de lugares
nas instituições formais, etc. A fim de ajudar esses jovens em dificuldade,
muitas Inspetorias organizam escolas noturnas, lugares para estudar à noite,
escolas e colégios para aprenderem à distância.
Há, ainda, o fato do desemprego,
que é um sério problema na Índia. Mesmo quando se fala de boom econômico,
os postos de trabalho são escassos e difíceis de se encontrar. A educação
sozinha não prepara a pessoa para um trabalho decoroso. Ocorrem, portanto,
instituições profissionais e agrícolas que ofereçam aos jovens as capacidades
exigidas. Os salesianos da Região preocuparam-se com esse problema. Administram
85 instituições profissionais e 2 instituições agrícolas, servindo um total
de 14.030 jovens. Entre essas instituições há colégios universitários de engenharia
e de informática, e outros que oferecem formação técnica e profissional para
preparar mão-de-obra qualificada. Em ambas as categorias, junto às instituições
que oferecem educação formal, há muitas também que provêem à educação não-formal
dos estudantes que, de um modo ou de outro, não se qualificam para a admissão
às instituições formais. Essa é também uma notável ajuda para reduzir a desocupação.
Internatos e pensionatosNo conjunto das instituições educativas,
os internatos e pensionatos merecem uma palavra como meios atuais de pastoral
juvenil. Os internatos são para jovens de proveniência diversa que freqüentam
a escola: jovens das aldeias aonde não há escolas, jovens de famílias nas
quais não existem as mínimas facilidades para o estudo, jovens órfãos ou de
famílias separadas; esse tipo de internato, especialmente nas zonas missionárias
e pobres, serve para evangelizar e inculcar os valores cristãos igualmente
aos cristãos e não cristãos, e dar uma boa educação. Os pensionatos são em
geral para os estudantes universitários e jovens trabalhadores, e são considerados
como um meio atual de apostolado e de transmissão de valores cristãos. Há
na Região 214 internatos e pensionatos, com um total de 20.440 internos.
Centros juvenisEm todas as Inspetorias da Região
há oratórios diários e festivos, que na Região são chamados geralmente de
centros juvenis. Há 168 desses centros, para os quais afluem quase 59.000
jovens (mais rapazes do que moças), com alguma variação na regularidade da
freqüência. A maior parte deles está ligada a uma escola ou paróquia salesiana.
É preciso dizer que, antes, havia uma média mais alta de freqüência; mas o
número dos centros juvenis ainda está em crescimento, e os métodos de animação
e os programas estão sendo atualizados. Os oratórios/centros juvenis de Shillong,
Panjim, Chennai e Kochi, com uma longa história e experiência, têm um grande
impacto no território; os centros mais recentes de Guwahati, Ranchi, Hyderabad,
Mumbai e Tiruchy oferecem aos jovens uma maior variedade de serviços e talvez
atinjam um número maior deles.
Quanto aos grupos e movimentos,
deve-se reconhecer que eles não têm tido muito sucesso na Região, embora o
grupo juvenil
Friends (Amigos) tenha funcionado bem por um certo período
de tempo. O escoteirismo, porém, recebe grande atenção em muitíssimas escolas,
e a cada três anos celebra-se, a turno nas diversas Inspetorias, o
jamboree
dos escoteiros (chamado de
Boscoree) que atrai mais de dois mil
jovens exploradores e exploradoras de toda a Índia. Esse evento é preparado
minuciosamente ao longo do ano todo, com um projeto e um tema, e é celebrado
no estilo e com elementos típicos do folclore multicultural da Índia. É uma
experiência alegre e formativa, uma miscelânea de espiritualidade juvenil
salesiana e um contexto religiosamente pluralista.
Apostolado em favor dos jovens
em situação de risco (YaR)Os irmãos da Região Ásia Sul caminharam
muito nos últimos decênios na intervenção em favor dos jovens em situação
de risco (
Youth at Risk). Os irmãos empenhados nesse trabalho fazem
um apostolado tipicamente salesiano, e merecem todo apoio, apreço e ajuda.
Os "jovens em situação de
risco" incluem diversos grupos de jovens, meninos ou meninas. O primeiro
grupo é formado pelos assim chamados meninos de rua, que são milhares nas
principais cidades da Índia. Muitos deles não têm casa ou pais; outros fogem
de casa e giram pelas cidades recolhendo das lixeiras os restos recicláveis;
alguns trabalham como carregadores não autorizados de bagagens nas estações
ferroviárias ou nos terminais de ônibus. Como vivem sob o controle dos líderes
de algum bando, um bom percentual de seus ganhos são entregues forçosamente
aos chefes. Os recolhedores de restos são freqüentemente perseguidos pela
polícia e, algumas vezes, abusados sexualmente por pessoas adultas, enquanto
as meninas são forçadas à prostituição; alojam-se sob pontes, nas tubulações
abandonas de esgoto, ou em barracas improvisadas.
O trabalho em favor desses meninos
de rua foi iniciado em 1980 por um grupo empreendedor de estudantes de teologia
de Bangalore. Hoje suscita entusiasmo nos corações dos salesianos praticamente
em todas as Inspetorias da Índia. A esses meninos oferece-se uma casa onde
encontram o sentido de pertença e onde se sentem amados. Os nomes que damos
a essas casas dizem tudo:
Sneha Bhavan, Valsalya Bhavan, Anbu Illam
(os três significam casa de amor),
Asha Alayam (casa de esperança),
Don Bosco Veedu (refúgio Dom Bosco),
Don Bosco Veedu (casa de
Dom Bosco), etc. Em muitas cidades da Índia, nas estações ferroviárias e nos
principais terminais de ônibus, os salesianos instalaram com a ajuda das autoridades
municipais uma rede telefônica gratuita chamada
Child Line. Através
dessa facilitação qualquer jovem em dificuldade, ou quem quer que encontre
um jovem em dificuldade, pode chamar o número especificado e, dessa forma,
encontrar ajuda.
Outro grupo de jovens em situação
de risco é o dos jovens trabalhadores, meninos e meninas. A Constituição da
Índia estabelece que a educação é obrigatória para todos até aos 14 anos de
idade, e que o emprego de jovens com menos de 14 anos é punível por lei; entretanto,
milhares de jovens são obrigados a trabalhar, até mesmo desde os cinco anos.
Os salesianos intervêm em favor desses jovens: muitas vezes, com a ajuda da
polícia, salvam-nos da prepotência dos patrões, levam-nos para centros de
reabilitação e, com a assistência do departamento de educação, oferecem-lhes
um curso de recuperação, inserindo-os no sistema escolar de acordo com a idade.
Em algumas Inspetorias da Região,
os salesianos intervêm também em favor dos dependentes de drogas, especialmente
jovens, e ajudam a desintoxicá-los e reabilitá-los para vida social; alguns
membros da Família Salesiana ajudam a salvar as meninas da prostituição e
oferecem assistência às assim chamadas "sex workers". É muito significativa
nesse campo a ação dos salesianos do Sri Lanka para a reabilitação das jovens
vítimas de abusos sexuais, que provêm do turismo sexual feito por estrangeiros
que vão à Ilha.
Foi criado no centro SPCSA de Nova
Délhi um fórum para enfrentar as necessidades dos jovens em situação de risco,
com um salesiano adido exclusivamente para isso. Muitos salesianos e membros
da Família Salesiana são qualificados para trabalhar com os jovens em perigo.
Há, na Região, um total de 207 centros nos quais os jovens em situação de
risco encontram alojamento todos os dias ou que servem como centros de reabilitação
para eles. Cerca de 34.000 jovens dessa categoria são ajudados todos os anos
de várias maneiras.
Serviço de orientação profissionalPraticamente em todas as Inspetorias
da Região existem serviços especiais para os jovens: serviços de orientação
profissional e centros de consultoria psicológica. Esses centros ou serviços
de aconselhamento psicológico em nível inspetorial são efetuados por pessoal
qualificado.
São 33 os centros deste tipo, que
assistem a um notável número de jovens; entre eles, são dignos de nota os
Vazhikaatti, nas Inspetorias de Chennai e Tiruchy, porque preparam
os jovens para um emprego no campo de trabalho.
Orientação vocacionalToda Inspetoria, em geral, tem
um plano de promoção vocacional e um promotor vocacional. Em seu conjunto,
o processo de seleção dos candidatos mediante entrevistas e acampamentos escolares
é muito sólido, e como conseqüência conseguimos ter boas vocações.
Apesar disso, já que o recrutamento
dos jovens é feito na idade da adolescência, há também um bom percentual de
abandonos da vida salesiana durante o período da formação inicial. Nota-se,
também que a maior parte das vocações não vem das nossas paróquias e escolas.
Talvez falte um plano de orientação vocacional em nível local, mediante o
qual cada comunidade e cada irmão sintam-se responsáveis pelo discernimento
e orientação dos jovens que demonstram sinais de vocação e, através da oração,
do testemunho radiante da vida consagrada e da presença evangelizadora entre
os jovens, plante em seus corações a semente da vocação salesiana.
Entendemos por
escolas apostólicas
e
aspirantados os internatos junto a escolas ou pensionatos, nos quais
se cuida dos possíveis candidatos ao sacerdócio ou à vida religiosa salesiana
e nos quais eles são preparados para o pré-noviciado. A Região é abençoada,
tendo 26 desses centros florescentes, verdadeiros viveiros de vida salesiana
para centenas de vocações salesianas que desabrocham todos os anos.
Concluindo esta visão sobre as
instituições em favor dos jovens, deve-se dizer que a pastoral juvenil, para
ser mais eficaz e duradoura na Região, precisa ser mais unificada e centrada
no objetivo primário da educação dos jovens à fé; deverá acompanhar o processo
de crescimento dos jovens, em vez de multiplicar as atividades; precisará
servir-se de um maior sentido de projeto e de coordenação, e envolver os colaboradores
leigos na visão comum e no trabalho compartilhado. Entretanto, a opção preferencial
salesiana pela juventude pobre encontra expressões privilegiadas e criativas
em toda a Região, do que ela pode estar legitimamente orgulhosa.
4.4.
Família SalesianaFalando de Família Salesiana na
Região, deve-se certamente mencionar por primeiro as
Filhas de Maria Auxiliadora
(FMA), que trabalharam e trabalham ao lado dos salesianos pelo desenvolvimento
do carisma e da missão salesiana. Sua presença na Índia remonta ao ano de
1922, quando o P. Tomatis, ao retornar à Índia depois de um período de férias
na Itália, levou consigo seis irmãs salesianas. De início, elas trabalharam
ao lado dos salesianos em todos os lugares, principalmente cuidando das meninas
e das mulheres pobres. Depois, vieram regularmente da Europa sucessivos grupos
de missionárias FMA, que começaram a acolher as vocações locais, de modo que
o Instituto foi se robustecendo e enriquecendo de irmãs indianas. Durante
a segunda guerra mundial, as FMA enfrentaram os mesmos problemas e as mesmas
privações dos salesianos e, mais tarde, estiveram sujeitas às mesmas restrições
impostas à entrada de missionários do exterior. Hoje, na Região, as irmãs
professas são 1.208 e as noviças 80, sem contar as 11 irmãs e 5 noviças nas
duas comunidades de Mianmar, que pertencem à Inspetoria do Camboja. A Região
das FMA está dividida em 6 Inspetorias e possui 150 centros.
Os salesianos, pouco tempo depois
de sua chegada a Thanjavur, sentiram a necessidade de terem colaboradores
leigos para o trabalho missionário. No giro de três semanas, o P. Tomatis
deu início ao centro da
Associação dos Cooperadores Salesianos em Thanjavur.
No século passado, para onde quer que fossem, os salesianos e as Filhas de
Maria Auxiliadora providenciaram com entusiasmo a formação de centros locais
de Cooperadores. Especialmente depois do impulso dado pelo Vaticano II ao
apostolado leigo, e depois da redescoberta da Família Salesiana pelo Capítulo
Geral Especial, os Cooperadores salesianos na Região cresceram em número,
chegando ao mesmo tempo a compreender mais claramente a sua vocação salesiana,
o seu papel indispensável na missão salesiana e a sua justa colocação na Família
Salesiana e na Igreja. Hoje, na Região, existem 133 centros e 2.507 Cooperadores
que fizeram a promessa. Os centros locais são animados pelos respectivos delegados
locais SDB/FMA, e em nível inspetorial e interinspetorial por um Conselho
conjunto dos centros SDB/FMA e seus Delegados.
Os
Ex-alunos/as de Dom Bosco
e das FMA são encontrados praticamente em todos os lugares da Índia. Muitos
deles ocupam posições de relevo na sociedade, também nos escritórios governamentais.
Em alguns estados há também ministros que são ex-alunos. Os centros de Ex-alunos
de Dom Bosco são 102 e os membros inscritos na Associação somam 26.025.
O número das
Voluntárias de
Dom Bosco é exíguo: menos de uma dúzia, e todas nas Inspetorias de Chennai
e Kolkata. O grupo das VDB ainda deve ser relançado.
Existem na Região outros grupos
da Família Salesiana, fundados por salesianos:
• As
Irmãs Missionárias de Maria
Auxiliadora (MSMHC) foram fundadas em 1942 pelo Servo de Deus D. Estevão
Ferrando, arcebispo de Shillong, na Inspetoria de Guwahati. O motivo que o
levou a dar origem a esse grupo de irmãs foi o fato de os missionários estrangeiros
terem sido internados em campos de concentração durante a segunda guerra mundial
e o trabalho de evangelização começar a diminuir. Enquanto pensava no envolvimento
das mulheres como evangelizadoras nas aldeias, aconteceu-lhe conhecer um grupo
de ex-alunas das FMA em Guwahati, que ajudavam o povo em geral e cuidavam
dos soldados feridos. Elas desejavam ser religiosas e dedicar a vida às obras
de caridade. D. Ferrando fundou o Instituto a partir desse grupo. Hoje são
931 irmãs em 156 comunidades e trabalham em 48 dioceses da Índia, Itália,
África e Brasil. Na maioria dessas dioceses fazem trabalho de evangelização
nas aldeias, enquanto outras dirigem escolas, oratórios, orfanatos, casas
para idosos e clínicas gratuitas.
• As
Irmãs Catequistas de Maria
Imaculada Auxiliadora (SMI) foram fundadas em 1948 pelo bispo D. Luís
LaRavoire Morrow em Krishnagar, Inspetoria de Kolkata. Sua espiritualidade
baseia-se na de Santa Teresinha de Lisieux e no sistema preventivo de Dom
Bosco. Manter contato estreito com as famílias é uma de suas principais atividades
apostólicas, além da gestão de oratórios, escolas primárias, centros de trabalho,
casas para idosos, etc. São mais de 500, e têm comunidades também fora da
Índia.
Estes dois institutos de mulheres
consagradas são oficialmente reconhecidos como membros da Família Salesiana,
enquanto outros esperam para serem reconhecidos e aceitos. Entre eles estão:
• Os
Discípulos (Instituto Secular
Dom Bosco), fundado em 1973 pelo P. Joe D'Souza, da Inspetoria de Nova
Délhi. Trata-se de um grupo de homens e mulheres. As 313 irmãs e os 87 irmãos
trabalham em 194 centros em 46 dioceses (41 dioceses indianas e 5 italianas).
Como os discípulos enviados dois a dois pelo Senhor, também eles trabalham
em pequenos grupos, levando a mensagem do Evangelho ao povo e vivendo como
os primeiros discípulos, não possuindo nenhuma propriedade, nem terra nem
instituições, mas vivendo entre o povo e como o povo vive, aceitando alimento
e alojamento que lhes são oferecidos pelo povo. Em cada diocese eles estão
sob os cuidados do bispo local.
•As
Irmãs de Maria Auxiliadora
(SMA), fundadas em 1976 pelo recentemente falecido P. Antonio Muthamthotil,
têm 91 membros, vivem em 21 comunidades e trabalham em 7 dioceses da Índia.
O seu apostolado estende-se da evangelização direta ao trabalho com meninos
de rua. Em muitos lugares ajudam os salesianos em seu apostolado.
• As
Irmãs Visitadoras de Dom
Bosco (VSDB), fundadas em 1983 por D. Hubert D'Rosario, arcebispo de Shillong,
na Inspetoria de Guwahati, têm 81 religiosas e 17 noviças, que trabalham em
15 comunidades em 4 dioceses do nordeste da Índia. Seu principal apostolado
é a evangelização através das visitas às famílias, particularmente nas aldeias,
e através de programas de desenvolvimento social.
•A
Sociedade Missionária de
São Paulo, fundada em 1990 por D. Charles Bo, arcebispo de Yangon (Mianmar),
tem dois ramos: o ramo masculino, chamado de
Irmãos Missionários de São
Paulo, compreende dois sacerdotes, outros membros professos e dois noviços,
que trabalham em 6 comunidades em três dioceses; o ramo feminino, chamado
de
Irmãs Missionárias de São Paulo, tem 74 professas e 12 noviças,
que trabalham em 22 comunidades em 5 dioceses.
•As
Irmãs Adoradoras do Coração
Imaculado de Maria foram fundadas em 1991 por D. Lucas Sirkar, quando
era bispo de Krishnagar. São 60 irmãs professas e 11 noviças, e trabalham
em 6 comunidades em 2 dioceses. Como o próprio nome sugere, o seu apostolado
principal é a adoração perpétua do Santíssimo Sacramento. Elas trabalham também
em qualquer atividade apostólica que o bispo lhes peça.
Há, praticamente, em todas as Inspetorias
um salesiano Delegado para a Família Salesiana. Em algumas Inspetorias, os
Conselhos inspetoriais SDB e FMA fazem reuniões conjuntas para intercâmbio
da visão sobre a missão comum e a projeção de iniciativas conjuntas, e celebram
a Jornada da Família Salesiana uma vez por ano.
4.5
Comunicação socialDiante da vastidão do subcontinente
indiano, com sua imensa população, grande variedade de línguas e completa
extraordinariedade de culturas e costumes, os primeiros missionários começaram
logo o exaustivo trabalho de aprender línguas diversas, o inglês, falado pelo
governo e pela elite indiana, e também a língua local da gente à qual pretendiam
servir. A tarefa mais difícil, porém, era compreender um contexto tão diverso
daquele da Europa cristã e nele aculturar-se.
Os salesianos da Região serviram-se
de todos os meios que Dom Bosco usava para conquistar as almas e difundir
os valores do Evangelho: aulas escolares animadas e cheias de narrações e
brincadeiras com temas educativos e catequéticos, juntamente com o esporte,
os jogos, a música, as recitações e as excursões. Apenas sete anos depois
de sua chegada, os salesianos organizaram em Mylapore uma banda musical, totalmente
completa.
[15]
Em Mumbai, a banda foi considerada um "bom meio para fazer
propaganda".
[16] Em
Goa, colônia portuguesa, deu-se início à obra salesiana com futebol e com
o oratório.
[17] Em Thanjavur, mais
de 30.000 pessoas, na maioria hindu, foram assistir à representação sacra
da Paixão de Cristo.
[18]
O novo ambiente salesiano ofereceu à Índia sinais e símbolos para
exprimir a alegria e o otimismo cristão.
Em breve, os salesianos criaram
um "ambiente comunicativo", no qual os valores evangélicos podiam
ser transmitidos e o carisma salesiano implantado. À raiz do seu potencial
comunicativo havia o ímpeto do zelo pastoral que os estimulava a superar as
próprias limitações. Alguns salesianos aprenderam tão bem as línguas locais
que se tornaram promotores ilustres de suas culturas, produzindo gramáticas
e livros naquelas línguas.
[19]
Não muito depois deram início a
iniciativas maiores de comunicação com a abertura de oficinas gráficas: em
1922 (isto é, no mesmo ano da chegada ao Assam), em Shillong; em 1924, em
Tanjore; em 1925, em Calcutá; e em 1948, em Tirupattur. Há ao menos oito dessas
oficinas gráficas na Região que, além de publicarem boa literatura, treinam
os jovens trabalhadores na gráfica profissional. O inicio do centro cultural
de Vaduthala em 1975 e do centro catequético em Kolkata em 1977 deu um impulso
à produção de subsídios catequéticos e audiovisuais. Atualmente, na Região,
há cerca de uma dúzia de casas editoras, centros de cultura e de comunicação,
com nomes diversos e em línguas diversas, cada qual com os próprios objetivos:
a Inspetoria de Mumbai possui dois centros, Kolkata um, Guwahati três, Bangolore
dois, Chennai dois, e Tiruchy um. Além da publicação de livros, esses centros
produzem também revistas, fitas cassete e subsídios audiovisuais.
Os salesianos iniciaram em 1930
a publicação de uma revista intitulada
Don Bosco na Índia. A partir
de 1951 foi impresso na Índia o
Boletim Salesiano, que depois de 1976
foi chamado de
Don Bosco Salesian Bulletin. Hoje, o
Boletim
Salesiano é impresso não só em inglês, mas também em seis línguas vernáculas.
Em 1937, quando D. Mathias começou a publicar o periódico
The Clergy Monthly
(Mensal para o Clero), havia cerca de 20 publicações na Região, mas por várias
razões quase todas deixaram de ser publicadas. A única que ainda existe em
língua tâmil,
Arumbu, tem uma tiragem de 20.000 exemplares.
Desde 1933 foi publicado um noticiário
inspetorial único para a Índia salesiana. A criação de novas Inspetorias deu
origem a novos noticiários. Hoje, onze das 12 circunscrições têm os próprios
noticiários. Além disso, várias organizações e instituições da Região também
publicam noticiários para seus leitores específicos. A Região não deixa de
ter também publicações de livros científicos, principalmente pelos dois teologados
de Bangalore e Shillong.
Subsídios catequéticos e publicações
religiosas, produções em áudio e vídeo, programas para rádio e televisão e
filmes são produzidos regularmente. Dignos de nota são
Catechetics India,
revista publicada trimestralmente, e
Johnny, um filme produzido em
1994 na língua Malayalam sobre os primeiros anos da vida de Dom Bosco e, na
sua continuação, um segundo filme,
Bosco, realizado em 1999; os dois
filmes estão reproduzidos em inglês e em algumas línguas indianas.
Também fez progressos a tarefa
de despertar os jovens para o uso crítico da mídia através de
media education.
Alguns salesianos empenhados no ministério rural usam
folk media para
conscientizar a gente oprimida nas aldeias distantes a lutar pela sua dignidade
e pelos seus direitos. Também aqui, é digno de nota o filme
Mathia,
realizado com poucos recursos financeiros na língua Kokborok, que venceu um
prêmio internacional pelo valor social.
Tiveram início os cursos universitários
de láurea em mídia da comunicação no St. Anthony’s College de Shillong (Inspetoria
de Guwahati) e no Don Bosco College de Angadikadavu (Inspetoria de Bangalore)
para oferecer uma gama de treinamento profissional na mídia e na tecnologia
informática. A contribuição dos salesianos para a comunicação social na Igreja
e na sociedade foi reconhecida pelo fato de dois salesianos terem sido eleitos
presidentes de SIGNIS-INDIA e de ICPA (Associação da Imprensa Católica na
Índia).
A reviravolta decisiva no campo
da comunicação aconteceu em março de 1993, quando a Conferência inspetorial
salesiana da Índia criou BOSCOM-INDIA, um organismo executivo nacional para
coordenar as iniciativas de comunicação das Inspetorias. As mais significativas
foram dois subsídios concluídos em vista do novo milênio: o plano de formação
dos salesianos na comunicação social, intitulado
Shepherds for an Information
Age (Pastores para uma época informática) e
Don Bosco Multimedia India,
o primeiro catálogo completo de todos os centros de produção da Índia.
Porquanto pareça encorajador esse
progresso na comunicação social, as iniciativas salesianas na Ásia Sul são
apenas uma gota no vasto oceano que é o complexo midiático.
[20] O desafio é fazer
do
Da mihi animas a base de todo o projeto comunicativo em nível inspetorial
e regional, procurar ser atuais e eficientes no contexto local e, ao mesmo
tempo estar abertos à partilha e sinergia no interior da Região mais ampla
da Ásia Sul e até com o resto do mundo salesiano. Tudo isso exigirá dos salesianos
uma estreita colaboração com os especialistas leigos das diversas culturas
e dos panos de fundo religiosos da realidade sul asiática.
4.5.
Atividade missionáriaOs salesianos indianos seguiram
as opções feitas pelos primeiros missionários que levaram o carisma salesiano
à Índia. Devido à estratégia de recrutamento vocacional dos primeiros missionários
(especialmente do P. Carreño), muitos jovens de diversas partes do país entraram
entre os salesianos e levaram avante a missão a partir do ponto em que os
missionários a tinham deixado. A ação do governo que deteve o fluxo de missionários
estrangeiros não pôde, por isso, diminuir o impulso missionário e suas atividades
dos tempos precedentes. Os irmãos indianos mantiveram o passo com zelo e coragem
iguais.
Os superiores (eclesiásticos e
salesianos) encontraram-nos bem formados e prontos para assumirem responsabilidades
de animação e de liderança nos níveis diocesanos, inspetoriais e locais. Hoje,
os dez arcebispos e bispos e os 12 superiores das circunscrições jurídicas
salesianas são de origem indígena; como também quase todos os superiores locais.
Da mesma forma que os primeiros
missionários tinham encorajado e promovido as vocações indianas, os próprios
irmãos indianos cuidaram das vocações locais. Dessa forma, também os estados
que tinha muitas vocações locais na primeira metade do século, como Karnataka
ao sul e os estados da Índia central e nordeste, agora recolhem uma messe
abundante de vocações, especialmente dos grupos tribais e adivasi.
A história da evangelização progrediu
de modo contínuo e seguro, sem muita propaganda, pelo temor de mal-entendidos
e pelos obstáculos dos fundamentalistas. Contra a crítica que se faz, de que
as missões salesianas tenham destruído as ricas culturas tribais da região
não deixando nenhum traço delas, temos o magnífico
Centro Dom Bosco para
as Culturas Indígenas de Shillong, aonde, em 13 salas de exposição, são
preservados e expostos os vários manufaturados e produtos tradicionais de
todas as tribos do nordeste. Com uma biblioteca especializada com cerca de
10.000 volumes, o centro facilita a pesquisa, os seminários e os encontros
sobre as culturas tribais do nordeste e o desenvolvimento cultural do povo.
Outro aspecto muito consolador
da atividade missionária na Região é que, depois de ter recebido missionários
estrangeiros por cerca de seis decênios, agora está pagando o débito que tem
diante da Igreja e da Congregação. Desde 1980, a Região está enviando missionários
a outras partes do mundo a fim de implantar o evangelho e disseminar o carisma
de Dom Bosco. Quando o P. Egídio Viganò lançou o
Projeto África 25
anos atrás, a Região deu uma resposta muito positiva ao seu apelo. A circunscrição
da África Leste, primeiramente Delegação e depois Inspetoria, sempre teve
à frente salesianos da Índia, e hoje 65 salesianos indianos lá estão como
missionários; alguns retornaram à Índia por um motivo ou outro, um foi assassinado
e outro morreu na África Leste. Há, ainda, 16 salesianos indianos que trabalham
em outras Inspetorias da África, 16 na Região Ásia Leste, 4 na Região Itália
– Oriente Médio e nos países europeus e 3 na América do Sul. Dessa forma,
o número total dos missionários da Região que trabalham no exterior é de 107
[21] , incluídos os 24 que me foram oferecidos
como um presente do Centenário.
Menção especial merece a
Missão
de Arunachal, que é algo muito especial na atividade missionária
da Região. Arunachal Pradesh é um dos estados indianos, na extremidade nordeste
da Índia, confinando com a China. Sua população é completamente tribal; esses
tribais viveram durante séculos em virtual ignorância, superstição, pobreza
absoluta, esquecimento e isolamento, oprimidos por costumes sociais nocivos,
cortados para fora em relação ao resto do mundo. Os salesianos do nordeste
foram os pioneiros no levar a fé cristã e a educação a essa belíssima terra
e ao seu povo.
O governo indiano promulgara uma
lei proibindo que os missionários entrassem em Arunachal Pradesh, com o pretexto
de preservar incontaminada a cultura das tribos. A educação e a evangelização
no Arunachal teve início em 1978, quando um certo senhor Wanglat Lowangcha,
jovem chefe de uma das tribos, foi a Shillong em busca de uma escola para
onde enviar os seus jovens. Ali se encontrou com o P. Tomás Menamparampil
(atual arcebispo de Guwahati), que recebeu os jovens muito cordialmente; a
amizade instaurada abriu caminho para uma visita do P. Tomás a Arunachal alguns
meses depois. A visita podia ter-se concluído tragicamente pois o jipe em
que viajava bateu num outro jipe militar. O P. Tomás ficou ferido, e enquanto
se restabelecia na casa de Wanglat, o chefe da tribo pediu-lhe que o batizasse
juntamente com sua família. Aquela trágica noite transformou-se na aurora
de uma época gloriosa para o povo de Arunachal.
A narração do encontro e do batismo
clandestino do chefe da tribo difundiu-se rapidamente na Inspetoria de Guwahati
(atualmente Dimapur e Guwahati) e os salesianos abriram as portas de suas
escolas à juventude tribal de Arunachal. Quando os estudantes voltavam para
casa para as férias, o povo ficava surpreendido aos vê-los educados e bem
instruídos. Isso levou ao envio de um maior número de seus jovens às escolas
católicas; e finalmente eles mesmos abraçaram o catolicismo e receberam o
batismo. Wanglat tornou-se um apóstolo de sua gente. Um ano depois de seu
batismo ele preparou 600 pessoas da sua aldeia para o batismo. O governo não
permitiu ao bispo salesiano, D. Robert Kerketta, e outros a entrarem no território.
O povo, porém, manteve-se firme e obrigou as autoridades a permitirem a entrada
dos missionários em seu território.
Mais e mais jovens foram estudar
em nossas escolas e retornaram como apóstolos e evangelizadores da sua própria
gente. O processo continuou até que finalmente hoje, depois de um quarto de
século, a Igreja no Arunachal Pradesh está bem estabelecida, com duas dioceses,
tendo como chefe de uma delas um bispo salesiano. A educação foi um meio poderoso
para levar esse povo à luz!
ParóquiasA maior parte do trabalho missionário
feito pelos salesianos da Região durante o último século foi realizado através
das paróquias. Acrescentavam-se a elas as estações missionárias, algumas das
quais, nos primeiros tempos, eram tão distantes que para chegar até elas era
preciso uma viagem de muitos dias a pé. Em algumas zonas missionárias do Assam,
o missionário empregava o ano todo para visitar as aldeias e os postos de
missão. No centro paroquial havia, em geral, uma escola e um internato, para
os meninos, dirigida pelos salesianos, e para as meninas, dirigida pelas irmãs.
Assim, através da paróquia e da escola, a obra de evangelização e a educação
do povo e dos jovens receberam uma certa sistematicidade e consistência.
Gradualmente, as estações missionárias
se desenvolveram tornando-se paróquias maduras, com variedade de serviços
e, mais tarde, à medida que o número dos fiéis aumentava, as paróquias iam
se unindo formando uma diocese. Temos hoje um número total de 207 paróquias
e centros missionários, que provêem às necessidades espirituais de 705.530
fiéis.
Programa de desenvolvimento social, parte integrante da atividade missionáriaNa situação de pluralidade religiosa
da Índia, a evangelização direta e o trabalho missionário nem sempre são possíveis.
Então, os programas de desenvolvimento social, em algumas regiões, são o único
método possível de evangelização.
Outra razão da grande importância
dada aos programas de desenvolvimento social na Região é o fato de a grande
maioria da população da Índia ainda viver em condições de subdesenvolvimento.
Falta freqüentemente a educação, início do verdadeiro desenvolvimento, sobretudo
nas zonas rurais. E, além disso, existem problemas sociais urgentes, que o
missionário deve enfrentar se quiser garantir que o seu trabalho evangelizador
seja eficaz e significativo para o povo – problemas como pobreza econômica,
distribuição desigual dos bens, opressão dos pobres pelos ricos e poderosos,
etc.
Os salesianos da Região enfrentam
esses problemas com verdadeira competência e visão evangélica, e estão decididos
a defender os oprimidos, esmagados e explorados, os ignorantes e iletrados.
Em todas as Inspetorias da Região, muitos salesianos e um time de pessoal
qualificado produzem programas e dispensam fundos e forças de trabalho para
alcançar essas finalidades. Apoiados plenamente pelas Inspetorias, contam
com escritórios de desenvolvimento bem equipados e dotados de pessoal salesiano
e leigo; os projetos são financiados por fundos locais e, em larga escala,
pelo Reitor-Mor e pelas agências estrangeiras que coletam fundos para as populações
necessitadas.
Há, na Região, ao menos 138 obras
de desenvolvimento social e seus beneficiários chegam a 80.000 pessoas de
várias categorias e com diversas necessidades. Entre as mais significativas
dessas iniciativas para a elevação social dos mais pobres estão: a rede
Bosco
Reach Out no nordeste, o
Bosco Gramin Vikas Kendra no distrito
de Ahmednagar, Inspetoria de Mumbai, o
Peoples’ Action for Rural Awakening
(Ação do povo para o despertar rural) em Andhra Pradesh, o
Peoples’
Movement (Movimento Popular) nas colinas de Jawadhi, Inspetoria de Chennai,
e o
Fishermen Community Development Programme (Programa de desenvolvimento
para a comunidade de pescadores) em Kollam, Inspetoria de Bangalore. Não se
pode deixar de mencionar a extraordinária obra de socorro prestada pelos salesianos
no Sri Lanka e nas zonas litorâneas pelas Inspetorias de Chennai e Tiruchy
no período pós
tsunami de dezembro de 2004, e o trabalho paciente para
restabelecer os pescadores e órfãos deslocados pela desastrosa onda de maremoto.
5. A santidade dos primeiros missionáriosA verdadeira implantação do carisma
comporta também frutos de santidade. Gostaria de recordar aqui dois missionários,
que levaram a sério a própria vocação de serem missionários e o seu chamado
à santidade. Seus nomes estão entre os Servos de Deus da nossa Sociedade.
Dom Estevão Ferrando (1895-1978) Estevão Ferrando nasceu em 28
de setembro de 1895 de uma família muito religiosa de Rossiglione, província
de Gênova. Ele dirá mais tarde: «da minha família recebi a rica herança de
um grande amor por Deus e por Nossa Senhora, o espírito de sacrifício e a
natureza alegre».
[22] Logo após sua primeira profissão
em 1912, quando lhe foi perguntado pelos superiores qual era a sua opção para
o futuro apostolado, sem hesitação, ele escolheu ser missionário. Depois de
fazer o serviço militar durante a guerra, quando recebeu atestados e medalhas
pelo seu valor e pela sua coragem, ele foi ordenado sacerdote em 1923. Seu
sonho missionário foi realizado quando lhe foi permitido partir para a Índia,
junto com um clérigo e oito jovens noviços. Chegou a Shillong em 22 de dezembro
daquele ano.
Tendo chegado à terra de seu sonho
missionário, o seu zelo apostólico não teve limites. De início, foi "sócio",
depois mestre dos noviços e diretor da casa de formação. Durante esse tempo
devia também substituir o Prefeito Apostólico, D. Mathias em suas ausências.
Mesmo quando cumpria essa responsabilidade, era um missionário no profundo
do coração e jamais perdeu qualquer ocasião para visitar as aldeias e pregar
o Evangelho.
Em 1934 foi consagrado bispo de
Krishnagar e um ano depois, em 1935, foi transferido para Shillong. O seu
lema episcopal foi:
Apóstolo de Cristo. Como um apóstolo de Cristo,
enquanto a saúde lhe permitia, visitou a pé as zonas missionárias e as aldeias.
Costumava dizer aos sacerdotes: «Não podeis girar com os carros para converter
as almas; para aproximar-se do povo e resolver seus problemas, deveis ir a
pé»,
[23] e, então, mesmo como bispo, caminhava
milhas e milhas em busca de almas. Seguindo o exemplo do Apóstolo dos gentios,
ele se fez tudo para todos, aprendendo as línguas da sua gente, os seus costumes
e usos a fim de compreender o seu etos e pregar-lhes Cristo mais eficazmente.
D. Ferrando foi bispo de Shillong
por 35 longos anos, no decurso dos quais desenvolveu bem a diocese. Rezava
com freqüência: «Senhor, como pastor do rebanho, eu ofereço a minha vida como
sacrifício pelo bem das ovelhas, pela salvação das almas confiadas aos meus
cuidados». O Senhor realmente ouviu a sua oração e abençoou a sua diocese
de Shillong, que se multiplicou a ponto de hoje no nordeste da Índia existirem
3 arquidioceses e 10 dioceses.
Com o mesmo zelo apostólico, ele
cuidou das vocações locais e fundou a congregação religiosa das "Irmãs
Missionárias de Maria Auxiliadora", da qual já falamos acima. Era conhecido
e apreciado pela simplicidade, jovialidade e, sobretudo, santidade. Morreu
em 1978 e foi inicialmente sepultado no túmulo da família em Rossiglione.
Mais tarde, aderindo ao desejo de ter seus ossos sepultados no solo das colinas
khasi, seus restos mortais foram transferidos para a capela do convento da
Casa Geral das Irmãs. Em 1998 foi introduzida a causa de sua beatificação
e canonização.
Padre Francisco Convertini (1898-1976)Francisco Convertini nasceu em
1898, em Papariello, uma aldeia da Murgia, província de Brindisi, Itália.
Perdeu o pai com menos de dois meses de idade, e sua mãe, depois de se ter
casado novamente, morreu quando Francisco tinha 11 anos. Foi então o padrasto
quem cuidou do órfão. Ainda menino, trabalhou prestando serviço com modesto
salário, para duas famílias de agricultores, que eram gentis para com ele.
Aprendeu a ler e escrever, enamorou-se também de uma jovem, dizendo-lhe estar
disposto a se casar com ela. Depois do serviço militar prestado durante a
guerra, insatisfeito com o trabalho de agricultor, encontrou trabalho como
funcionário em Turim.
Em Turim aconteceu uma reviravolta
decisiva em sua vida. Entrando na Basílica de Maria Auxiliadora para se confessar,
Francisco encontrou o P. Amadei, que lhe perguntou sem meios termos: «Gostarias
de ser missionário?». Por algum tempo, ele se esqueceu do incidente, entretanto
mais tarde encontrou novamente o P. Amadei e, afinal, decidiu ser missionário.
Criou coragem e explicou as coisas à sua jovem.
Entrou no Aspirantado Missionário
Dom Cagliero de Ivréia, aonde teve que estudar junto com colegas que eram
onze anos mais jovens do que ele. Não era muito inteligente, mas o desejo
de ser missionário estimulou-o. Um de seus professores disse: «Francisco aprendeu
mais sobre os joelhos do que sentado na sala de aula»,
[24] tal era o seu amor
por Jesus Eucarístico, em cuja presença passava longas horas em oração.
Em 1927 recebeu o hábito clerical
do Reitor-Mor P. Filipe Rinaldi, que já o tinha indicado para as missões do
Assam. Chegando ao Assam, fez o noviciado e os estudos para o sacerdócio e
foi ordenado padre em 1935. Durante seus anos de formação, tinha aprendido
algumas noções de khasi, a língua falada em Shillong. Depois da ordenação
foi enviado a Krishnagar e, pobre como era nas línguas, teve que aprender
uma nova língua, o bengalês. Na verdade, jamais aprendeu o bengalês suficientemente
para poder conversar com facilidade, ainda menos para fazer homilias dominicais
eloqüentes. Entretanto, o povo o amou pela sua simplicidade e apegou-se a
ele muito facilmente. Apreciavam suas pregações, feitas num bengalês um tanto
desconexo, porque viam a convicção com que falava. Compreenderam que o pregador
era um exemplo vivo da mensagem que comunicava.
O P. Convertini conquistou almas
para Cristo mediante a oração, a pregação e o sacrifício. Fazendo-se um com
o povo indiano, ele exultou quando a Índia obteve a independência em 1947,
e chorou com a morte do Mahatma Gandhi; embora sendo italiano de nascimento,
era indiano no coração: pediu e obteve a cidadania indiana. O bispo e os sacerdotes,
as irmãs e os leigos queriam-no como confessor, porque encontravam nele a
personificação da misericórdia de Deus. A sua pobreza era proverbial: tendo
nascido pobre, pobre por vocação e por opção, ele permaneceu pobre como o
seu povo, e muitas vezes andava com os pés descalços.
Era um amigo para todos, grandes
e pequenos, ricos e pobres. Entrando em contato com a simplicidade do P. Convertini,
algumas pessoas importantes de Bengala converteram-se ao catolicismo; outros
ficavam impressionados e chamavam-no «um profeta e um santo»; outros, ainda,
ficavam «fascinados pelo modo com que fazia o sinal da cruz», enquanto havia
aqueles que declaravam que «a mesma presença desse santo sacerdote era uma
inspiração».
[25]
Consumado pelo trabalho e atormentado
por vários achaques , morreu no dia 11 de fevereiro de 1976. Todos que conheciam
o P. Convertini podiam confirmar que ele foi um testemunho vivo do Evangelho
que pregava. A causa da sua beatificação foi introduzida oficialmente em 1997.
6. Os grandes desafios da RegiãoA Região Ásia Sul, pululante de milhões de
jovens que se esforçam por construir um futuro melhor para si mesmos e, ao
mesmo tempo, são dotados de ricos recursos humanos, de talentos, criatividade
e energia, é um vasto campo, ainda muito prometedor, para a missão salesiana.
Os primeiros cem anos da presença e atividade
salesiana na Região viram um exuberante florescimento de iniciativas e de
obras que bem se harmonizam com as diversas e prementes necessidades dos jovens
e dos pobres. O futuro lança um sério desafio e é muito encorajador, com a
condição, porém, de os salesianos serem fiéis ao próprio carisma salesiano
e aos destinatários da sua missão: se evangelizar é o principal desafio, será
prioritário viver o evangelho, em nível pessoal e comunitário.
6.1
Dar Deus aos jovens,
prioridade absolutaO clima natural da Região respira Deus. A
alma da Índia, do Sri Lanka e de Mianmar é profundamente religiosa. Mesmo
quando parece esmagada por uma pobreza oprimente, pelas rígidas divisões de
castas e por uma miríade de outras contradições sociais, sua busca milenar
de Deus é incansável e profunda. Se, de diversas formas, sofre pela fome de
bens essenciais para a vida das pessoas, ela tem fome ainda mais intensa de
uma experiência de Deus. E, quando entra em cena uma pessoa autenticamente
religiosa, ela toca a alma do povo imediatamente. Pensai no impacto profundo
que teve um Mahatma Gandhi ou uma Madre Teresa sobre o povo do subcontinente
indiano.
Por esse motivo, Deus é a oferta mais eficaz
que os salesianos da Região podem fazer aos pobres e aos jovens, revelando-lhes
o seu verdadeiro nome e o seu rosto na pessoa de Jesus Cristo, mediante o
testemunho de sua vida pessoal e comunitária. Eis então a necessidade de dar
o primado absoluto a Deus, e de manter viva a paixão por Deus e pelos jovens.
«Como Dom Bosco, somos chamados todos e em qualquer ocasião, a ser educadores
da fé. Nossa ciência mais eminente é, pois, conhecer Jesus Cristo; e a alegria
mais profunda, revelar a todos as insondáveis riquezas do seu mistério» (Const.
34).
Isso comporta que qualquer atividade deve
mirar com clareza a evangelização e a educação à fé dos jovens. Trata-se de
ser claros a respeito do que nós somos, para onde estamos caminhando e o que
queremos fazer pelos jovens. Nossas Constituições exprimem-no com muita franqueza:
«Caminhamos com os jovens para conduzi-los à pessoa do Senhor ressuscitado,
a fim de que, descobrindo nEle e em seu Evangelho o sentido supremo da própria
existência, cresçam como homens novos» (Const. 34).
6.2
Viver apaixonados pela
"missio ad gentes"Missão não quer dizer simplesmente atividades,
iniciativas, obras, estruturas. É, antes de tudo, paixão pela salvação dos
jovens, paixão que tem sua fonte «no próprio coração de Cristo, apóstolo do
Pai» (Const. 11). É a paixão que ecoava no coração de Dom Bosco, o motor secreto
nas profundezas do seu ser que infundia energia e dava vitalidade a tudo o
que fazia ou dizia. Dom Bosco vivia e respirava o
Da mihi animas com
todas as fibras da sua existência. Esse lema sintetizou de modo maravilhoso
a essência da sua espiritualidade. A mesma paixão pela salvação dos jovens
apossou-se dos primeiros missionários e os impulsionou para fazerem as coisas
mais incríveis que explicam o maravilhoso crescimento e a variedade da presença
salesiana na Região.
Naturalmente, num contexto de pluralidade
religiosa, esse processo é delicado e cheio de dificuldades, especialmente
em algumas situações e zonas, onde poderia ser facilmente considerado como
proselitismo. Isso, porém, não nos deveria deter, porque é direito inalienável
de qualquer pessoa conhecer Deus e o seu Filho Jesus Cristo, embora no total
respeito de sua liberdade. Nem pode ser simplesmente um processo improvisado.
Num contexto de pluralidade religiosa como o da Ásia Sul, a evangelização
e a educação à fé devem ser projetadas com cuidado, buscadas com diligência
e executadas com firmeza, com objetivos, estratégias e linhas de ação apropriadas
a cada situação e a cada contexto. Nesta área – é preciso admiti-lo, caros
irmãos – ainda há muito trabalho a fazer, e exige-se capacidade de imaginação
e criatividade.
Isso tudo implica que o zelo missionário,
expressão concreta da paixão apostólica do
Da mihi animas, deva continuar
sem pausa. Longe de permitir que possa diminuir ou esfriar-se com o passar
do tempo, ele deve antes se intensificar e crescer sempre mais. Não podemos
ser simplesmente complacentes com o passado glorioso. Cristo ainda deve ser
proclamado, o Evangelho deve ser pregado e a Igreja e o carisma salesiano
devem enraizar-se em muito mais áreas e em muito mais jovens que esperam a
Boa Nova.
O amor de Cristo nos impele (2Cor 5,14) a disseminar o Evangelho.
A Região recebeu muito nos últimos cem anos
através de missionários intrépidos, de grande calibre humano e indiscutível
santidade. Agora deverá fazer pela missão salesiana no mundo aquilo que os
missionários italianos e europeus fizeram nos primeiros cem anos de vida da
Congregação, isto é, encher o mundo de jovens missionários, ardentes e corajosos,
que sintam a
missio ad gentes como tarefa apostólica que não se pode
evitar. A Ásia Sul deve, portanto, elevar os olhos, abrir o coração, alargar
os horizontes e enviar pessoal a novos campos de missão na própria Região
e no mundo todo. As missões salesianas do mundo inteiro precisam disso, hoje
mais do que nunca! Causa-me profunda emoção encontrar missionários da Região
já em várias partes do mundo, particularmente na África, onde estão escrevendo
páginas de ouro de gesta missionária. Creio sinceramente, porém, e o peço
com urgência, que se possa fazer mais. A Ásia Sul pode e deve continuar missionária!
Essa é a sua hora, porque é forte no espírito, rica de entusiasmo apostólico
e abençoada com muitas jovens vocações. Em nome da Congregação e dos jovens
do mundo eu vos peço: «nós vos esperamos, vinde entre nós, não nos podeis
fugir».
6.3
Robustecer a vida comumO carisma salesiano gera uma vida fraterna
apostólica que Dom Bosco sintetizava em três elementos: viver e trabalhar
in unum locum, in unum spiritum, in unum agendi finem (CGE, 498). Nossas
Constituições recolheram essa inspiração com um indicativo imperativo: «Viver
e trabalhar juntos é para nós salesianos exigência fundamental e caminho seguro
para realizarmos a nossa vocação» (Const. 49). Há hoje uma sentida necessidade
de ajudar as comunidades salesianas a realizarem e aprofundarem esse estilo
comum de vida e presença entre os jovens, que supere o individualismo, o ativismo,
o setorialismo.
A consistência numérica e qualitativa das
comunidades é uma tarefa que não deve ser descurada; ela, de fato, garante
a presença educativa entre os jovens e a eficácia evangelizadora da missão
apostólica. Isso exige do governo em nível inspetorial chegar a um mirado
equilíbrio entre expansão e consolidação das obras; os salesianos não podem
– nem devem – senti-se responsáveis por responder a todas as necessidades
dos jovens mais pobres, mesmo que sejam urgentes; um ministério eficaz não
deve ser identificado com a multiplicidade das ofertas, mas com a qualidade
do serviço prestado. Justamente por isso, o número de irmãos em cada comunidade
deve adequar-se à complexidade da missão apostólica comum.
No contexto de multiplicidade étnica e pluralidade
cultural característico da Região Ásia Sul, a presença de comunidades apostólicas
que sejam testemunhas transparentes de fraternidade, aceitação sincera e estima
recíproca favorece a implantação do evangelho e o saneamento da sociedade.
Construir comunidades fraternas já é evangelização em ato, o modo mais eficaz
de transmitir o evangelho hoje. Dever-se-á, portanto, garantir nas comunidades
uma forma de vida fraterna que evite qualquer tipo de discriminação; qualquer
desigualdade, consentida ou simplesmente suportada, danificaria a qualidade
do nosso testemunho e colocaria em risco a evangelização.
Deve-se, pois, encorajar que nas comunidades,
locais ou inspetoriais, aonde haja uma presença marcante de culturas, etnias
e castas diversas, sejam estudados e se coloquem em ação processos e iniciativas
para ajudar os irmãos a enfrentarem e apreciarem as diferenças e superarem
possíveis insatisfações ou mal-entendidos. Não se deveria excluir o fato de
tratar dessas questões em nível regional a fim de se chegar, através de um
maior discernimento, a fazer opções compartilhadas e comuns na Região.
6.4
Cuidar da identificação
carismática dos irmãosDevido aos números em crescimento, a formação
é indispensável para manter e aprofundar a identificação carismática; ela
continua um ponto crucial para garantir que o crescimento não seja apenas
em números, mas sobretudo na qualidade. A formação, inicial e permanente,
deve manter vivo o espírito, o zelo e o impulso missionário que caracterizam
atualmente a Região. Precisamos de salesianos de qualidade, salesianos de
densa identidade carismática, salesianos inflamados de paixão apostólica.
A formação deve ser dirigida, em primeiro
lugar, a incendiar e manter viva e eficaz a paixão apostólica do
Da mihi
animas em seu dúplice ponto de referência: a paixão por Deus e a paixão
pelos jovens e pobres. Sem essa chama no coração, somos inúteis, sem alma,
sem meta, sacudidos por qualquer capricho e fantasia, sem uma idéia clara
de para onde caminhamos. Essa dúplice paixão é antes de tudo um dom de Deus,
dado em germe com a vocação salesiana. Esse dom inicial, porém, é também uma
responsabilidade e uma tarefa: atiçar a chama, fazê-la crescer, mantê-la sempre
acesa e luminosa. Esta é a principal tarefa da formação inicial e permanente:
fazer com que a paixão apostólica do
Da mihi animas se torne o centro,
a síntese, o ponto focal da própria existência, o coração da própria espiritualidade.
A formação, para ser atual, deve ser profundamente
aculturada, isto é, enraizada antes de tudo no evangelho, vivido segundo o
carisma salesiano, e não menos na cultura, nas tradições e no etos do povo
que somos chamados a servir.
Através dos salesianos da Ásia Sul, Dom Bosco
deve ter uma face indiana, birmane, nepalesa, cingalesa. O Evangelho e o carisma
salesiano, plantados no solo fértil da Ásia Sul, devem aprofundar suas raízes,
crescer e florescer. Isso significa aprender a língua, assimilar a cultura,
adotar as tradições sadias do povo, especialmente dos jovens e dos pobres.
Ao mesmo tempo, será preciso ter consciência,
e agir em conseqüência, de que nenhuma cultura é absoluta, porquanto antiga
e nobre que seja. Como qualquer empresa humana, ela tem suas limitações e
seus defeitos, às vezes até mesmo sérios. Toda cultura precisa ser purificada
e aperfeiçoada pelo Evangelho. Toda cultura, para ser fiel a si mesma, deve
abrir-se a outras culturas. Fechando-se, ela estagna, fenece e morre. Ao contrário,
abrindo-se e interagindo com outras culturas revigora-se e floresce.
Uma formação que dura a vida inteira, que
é assumida como projeto pessoal e vivida na comunidade, ajuda a ter os pés
firmemente plantados na realidade sócio-cultural do povo, de modo porém a
manter a mente aberta a tudo que seja verdadeiro e bom aonde quer que se encontre,
levando – como se diz hoje – a pensar globalmente, mas a agir localmente.
Ainda há muito a fazer! A Ásia Sul não pode
repousar sobre os louros, por assim dizer, contemplando o passado glorioso.
As celebrações centenárias devem estimular a levar o olhar adiante e fazer
progredir a grande missão do Senhor e o sonho de Dom Bosco na Região.
Que o Senhor, mediante a assistência materna
de Maria e a intercessão de Dom Bosco, abençoe essa nobre tarefa e a faça
florescer para a sua glória e para a salvação dos jovens.
Cordialmente,
P. Pascual Chávez Villanueva
[1] Cf. Memorie Biografiche di San Giovanni Bosco (MB) XI, p. 408.
[2] Cf.
MB XII, p. 315.
[3] Cf.
MB XIII, p. 36.
[4] MB XVIII,
p. 72-73.
[5] Cf.
Annuarium
Statisticum Ecclesiae 2004, Secretaria Status, Rationarium Generale Ecclesiae,
Libreria Editrice Vaticana, 2006, pp. 174, 205, 212, 221.
[6] Ibid.
[7] Ibid.
[8] Ibid.
[9] Ibid.
[10] Cf..
Thekkedath, J.
A History of the Salesians of Don Bosco in India, Vol.
II, pp. 1368-1375.
[11] Ibid.
pp. 1375-1379.
[12] Ibid.
p. 1375.
[13] Ibid.
pp. 1375-76.
[14] Leo XIII,
Ad Extremas, n. 4, 24 giugno 1893.
[15] Cf.
Thekkedath,
A History I, p. 29.
[16] Cf.
Thekkedath,
A History I, p. 271.
[17] Cf.
Thekkedath,
A History I, p. 720.
[18] Cf.
Thekkedath,
A History I ,p. 65.
[19] Cf.
Sebastian Karotemprel (ed.),
The Catholic Church in Northeast India, 1890-1990,
Shillong Vendrame Institute, 1993, p. 503.
[20] As cifras são incríveis na Índia: 55.780 jornais; uma rádio sob o
controle do governo com 213 centros de transmissão em 24 línguas e 146 dialetos;
uma indústria cinematográfica que é a maior do mundo, com produção média anual
de 800 filmes de longa metragem e 1.200 filmes de curta metragem.
[21] Um deles, que trabalha na América do Sul, P. Jorge Puthenpura, fundou uma congregação religiosa para mulheres, denominada "Irmãs
da Ressurreição". Sua fundação oficial deu-se em 1987 e elas foram aceitas
na Família Salesiana em 2004. Com o lema "Cristo ressuscitou; também
nós ressuscitemos com Ele", elas pregam a Palavra aculturando o Evangelho
e ensinando a fé aos pobres através da catequese.
[22] J.
Puthenkalam & A. Mampra,
Sanctity in the Salesian Family, p. 529.
[23] Ibid.,
p. 533.
[24] Ibid.,
p. 551.
[25] Ibid.
558-559.