301-350|pt|346 - Somos Profetas Educadores

Egídio Viganò


SOMOS “PROFETAS-EDUCADORES”!


Atos do Conselho Geral


Ano LXXIV – outubro-dezembro, 1993


N. 346



Introdução. - A dimensão profética da Vida consagrada. - Fermento na significatividade. - A contemporaneidade de Cristo. - A chave de leitura conciliar. - Com Dom Bosco, conforme a nossa consagração apostólica: * na Aliança, * na Missão, * na Comunhão, * na Radicalidade. - Ajude-nos a Virgem do Rosário.



Roma, 7 de outubro de 1993

Memória da Bem-aventurada Virgem do Rosário



Queridos irmãos,


celebra-se hoje a memória da Bem-aventurada Virgem do Rosário. Ela nos convida a dar importância à récita – pessoal e comunitária – daquele piedoso exercício que nos envolve nos acontecimentos do grande mistério de Cristo. Uma prática de piedade fácil e popular, muito recomendada pelo Papa João Paulo II. Trata-se de uma maneira profunda e adequada, para que todos contemplem as pessoas e os acontecimentos do momento central da história da salvação. Aproxima de Cristo e intensifica a familiaridade com Ele, o único verdadeiro Profeta da verdade na Aliança definitiva do tempo da Igreja.

Pensei que esta memória mariana, enquanto nos estimula à contemplação do mistério de Cristo, pode sugerir-nos a reflexão sobre um tema particularmente ligado à Vida consagrada na Igreja: o da sua dimensão profética. Falou-se mais de uma vez, nestes anos pós-conciliares, do papel profético dos consagrados, postos como fermento no Povo de Deus, para iluminar, estimular, corrigir, projetar de novo criativamente a vocação comum à santidade. Urge despertar os consagrados neste seu serviço que é dom do Espírito para todos.

Ser chamado de “profetas” é um estímulo forte para as responsabilidades da própria vocação. A profecia, porém, mesmo se absolutamente indispensável, não é fácil e existe ainda o perigo de interpretações não autênticas. Sempre existiram os “falsos profetas”, que jamais representaram a autenticidade da intervenção de Deus na história: partir da meditação do acontecimento-Cristo para avaliar a realidade e a genuinidade do nosso serviço eclesial.

A preparação do Sínodo-94 sobre a Vida consagrada é um estímulo para aprofundar este tipo de serviço, em harmonia com os demais aspectos globais dos Institutos de Vida consagrada na Igreja.

Assistimos nestes meses a numerosas iniciativas pré-sinodais promovidas pelas Conferências episcopais e por organismos de consagrados. Surgem vários estudos e contribuições que criam um clima de interesse e de esperança. Aparecerá também nestes dias um Manual de teologia da Vida religiosa1 produzido por alguns especialistas, desejado pela Comissão mista dos Bispos e dos Superiores-maiores na Itália, que servirá certamente de iluminação das mentalidades.

É verdade que o Sínodo se move numa órbita desejadamente “pastoral” e não diretamente doutrinal; mas justamente por isso tem também urgente necessidade de algumas clarificações de princípio, como base para uma maior atualização de comunhão, de ação apostólica e de testemunho de vida.

Fazemos votos que o próximo Sínodo sirva para trazer uma melhor consideração e valorização dos carismas na Igreja, e que os Institutos de Vida consagrada desenvolvam com mais consciência orgânica e com maior incisividade profética a própria pertença vital ao Povo de Deus em seu aspecto conciliar de “Sacramento de salvação” nestes tempos novos.

Convido-vos, nestes meses que precedem à assembleia, a ter também como objeto de reflexão a “dimensão profética” da nossa vocação de consagrados.



A dimensão profética da Vida consagrada



Profeta é o crente escolhido pelo Senhor para falar aos homens em seu nome. Ao realizar esta função ele vive em intimidade com Deus para escutar, entender e transmitir bem a sua mensagem. Aquilo que ele comunica não é seu, mas vem do mesmo coração de Deus. Um Deus que não é simplesmente uma espécie de grande arquiteto do mundo, mas o Senhor da história, que ama imensamente o homem e o acompanha incrivelmente nas aventuras de sua liberdade.

O profetismo é um dos fenômenos que de modo maior revelam a transcendência da história da salvação; ele caracteriza o realismo religioso do Judaísmo e do Cristianismo: traz novidade e contestação nada menos que da parte de Deus.

O mistério de Cristo é o apogeu deste fenômeno. Jesus não deu por concluída a época dos profetas, mas sublimou-lhes e transformou-lhes a função. Ele é eminentemente “o grande Profeta”, o maior e definitivo, e deixou um papel profético de novo tipo para sua Igreja, sob a poderosa animação do dom de seu Espírito. Hoje, com o surgir de tantas novidades, e infelizmente com o espalhar-se de desorientações variadas, sente-se uma grande necessidade de autênticos profetas: eles deveriam levar adiante uma evangelização verdadeiramente nova.

Desta exigência vital nasce um interesse especial para a função profética da Igreja e, nela, da Vida consagrada.

Ouve-se atribuir às vezes à Vida consagrada a característica específica de ser por vocação “a” dimensão profética de toda a Igreja. Tal afirmação parece evidentemente um exagero; mas tem o mérito de tentar ressaltar um aspecto vital não suficientemente evidenciado. A vida consagrada não pode apropriar-se, de forma exclusiva, de uma qualidade comum a todo o Povo de Deus. Diz o Concílio, falando dos fiéis leigos: “Cristo, o grande Profeta, que com o testemunho da sua vida e com a virtude da sua palavra proclamou o Reino do Pai, realiza a sua função profética até a plena manifestação da sua glória, não só através da hierarquia, que ensina em Seu nome e com o Seu poder, mas também por meio dos leigos que, por isso, constituem suas testemunhas, e os provê do senso da fé e da graça da palavra, afim de que a força do Evangelho brilhe na vida quotidiana, familiar e social”.2

E o recente Catecismo da Igreja Católica fala de todo um Povo profético como luz e sacramento da humanidade a caminho: “Jesus Cristo é aquele que o Pai ungiu com o Espírito Santo e constituiu ‘Sacerdote, Profeta e Rei’. Todo o Povo de Deus participa destas três funções de Cristo e carrega as responsabilidades de missão e de serviço que daí derivam”.3

Não parece, por isso, conveniente e correto, apresentar a Vida consagrada como uma espécie de “institucionalização” da dimensão profética da Igreja. Em todo caso, é sem dúvida, justo e urgente relevar e intensificar, em particular, o aspecto peculiarmente profético da Vida consagrada. Os Fundadores e Fundadoras que estão na origem dos Institutos exerceram um verdadeiro papel profético na Igreja e na sociedade de seu tempo e deixaram em herança aos seus seguidores um dinamismo profético a “ser vivido, conservado, aprofundado e constantemente desenvolvido em sintonia com o Corpo de Cristo em perene crescimento”.4

O aspecto carismático da Vida consagrada comporta uma contínua presença e criatividade do Espírito Santo; ele pertence à dimensão profética da Igreja para proclamar a todos “que o mundo não pode ser transfigurado e oferecido a Deus sem o espírito das bem-aventuranças”.5

O fato de que a Vida consagrada “embora não pertencendo à estrutura hierárquica da Igreja, pertença, contudo, indiscutivelmente à sua vida e à sua santidade”,6 reveste-a de um especial caráter profético para todo o Povo de Deus. Afirma-o justamente o Concílio quando declara: “Coloquem os religiosos todo o empenho para que, através deles, a Igreja apresente, cada dia melhor, Cristo aos fiéis e aos infiéis, enquanto Ele contempla sobre o monte, anuncia o Reino de Deus às multidões, cura os enfermos e os feridos e converte para melhor vida os pecadores, abençoa os pequeninos e faz o bem a todos, sempre obediente à vontade do Pai que o enviou”.7

O documento Mutuae relationes toca de alguma forma este aspecto quando apresenta os traços de autenticidade de um carisma: “exame contínuo da fidelidade para com o Senhor, da docilidade para com o seu Espírito, da atenção inteligente às circunstâncias e da visão intensamente voltada para os sinais dos tempos, da vontade de inserção na Igreja, da consciência de obediência à sagrada hierarquia, da ousadia nas iniciativas, da constância na doação, da humildade no suportar os contratempos”.8

Em coerência com estas autorizadas orientações, os distintos Institutos religiosos são chamados a atuar a comum função profética, não de maneira uniforme e indiferenciada, mas em conformidade com o projeto carismático, indicado pelo Espírito de Cristo no próprio Fundador e identificado por quantos, em cada Instituto, têm esta delicada e trabalhosa tarefa de discernimento.

O problema não está tanto, aqui para nós, em definir as diferenças ou a complementariedade da função profética da Vida consagrada em relação aos vários grupos eclesiais – laicais ou hierárquicos – quanto em aprofundar e intensificar o próprio autêntico papel profético de acordo com a órbita carismática do Fundador.

Deve-se reconhecer, entretanto, que o argumento da dimensão profética da Vida consagrada ainda não foi enfrentado a fundo em nenhum documento do Magistério universal. Ele é sublinhado em algumas regiões mais sensíveis (por ex. na América Latina) e em várias intervenções de Conferências de religiosos. Trata-se sem dúvida de um tema atual: ele pode contribuir para agilizar a lentidão no caminho de renovação, calibrar a sua qualidade e encorajar iniciativas de mudança, evitando interpretações desviadas: faz conviver com a própria gente na perspectiva de uma esperança que não se encontra mais no clima ambiental.

No final das contas o profetismo indica uma opção permanente de Deus: a de intervir pessoalmente nos acontecimentos humanos. O profeta é um seu embaixador, não vive numa esfera atemporal, mas profundamente empenhado com seus contemporâneos: sente-se enviado por Deus e destinado a transmitir a sua mensagem, não apenas com palavras, mas também com suas ações, sua vida, com gestos simbólicos – por vezes até paradoxais –; ele é um transmissor vivo da luz salvífica de Deus: manifesta, corrige, estimula, prega, prepara, constrói, sofre e testemunha; “o espírito do Senhor – diz Isaias – está sobre mim, porque o Senhor me consagrou com a unção; enviou-me para levar o alegre anúncio”;9 o profeta não é um estranho, mas uma sentinela: “Eu te constitui sentinela para os israelitas: escutarás uma palavra de minha boca e os advertirás em meu nome”.10

O Deus dos profetas entra através deles na história para salvar. Eles, em seu nome, definem metas, indicam critérios para alcançá-las, introduzem novidades positivas, individualizam os males a serem superados, insistem com constância sobre o sentido do pecado, mostram caminhos concretos de conversão, contestam os desvios e os erros.

A aceleração atual das mudanças sociais e culturais tem necessidade especial da luz de um Deus que se encarnou justamente para levar a humanidade à salvação. As múltiplas novidades que se sucedem com ritmo acelerado concorrem para fazer esquecer a função profética, ou a instrumentalizá-la em relação apenas ao âmbito sociocultural; neste sentido vemos sublinhar, por vezes, determinados aspectos dos profetas do Antigo Testamento sem fazer referência específica a Cristo; isto pode levar a perigosas arbitrariedades. Justamente por isso, também, uma genuína consideração da dimensão profética ocupa um lugar prioritário na renovação dos Institutos e na busca de empenhos eficazes para a Nova Evangelização.

Um Povo de Deus sem profecia não teria capacidade de fermentar a atual corrida do mundo; seria infiel à extraordinária presença do Espírito de Cristo manifestada no Vaticano II e em tantos acontecimentos, eclesiais e sociais, que lhe seguiram: “Vós sois a luz do mundo – disse o Senhor –, brilhe a vossa luz diante dos homens”;11 bem sabendo que a “luz verdadeira, aquela que ilumina todo homem”12 é Jesus Cristo.

Hoje, a Igreja inteira é chamada com urgência a profetizar Jesus Cristo; a exemplo de João Batista deve “dar testemunho da luz, a fim de que todos creiam por meio d’Ele”.13

O apóstolo Paulo proclama justamente: “Não anunciamos a nós mesmos, mas a Cristo Jesus Senhor”.14

Se a Igreja inteira é a isto intensamente convidada, quer dizer que, n’Ela, a Vida consagrada deverá preocupar-se com sua própria função profética numa forma muito peculiar e intensa, devido ao seu próprio estado de vida “que torna os seus seguidores mais livres dos cuidados terrenos, torna visível para todos os crentes a presença, já neste mundo, dos bens celestes, dá maior testemunho da vida nova e eterna, adquirida pela redenção de Cristo, e anuncia de forma melhor a futura ressurreição e a glória do Reino celeste. Igualmente de maneira mais fiel imita e continuamente representa na Igreja a forma de vida, que o Filho de Deus assumiu quando veio ao mundo para fazer a vontade do Pai e que propôs aos discípulos que o seguiam. Finalmente, de modo especial, manifesta a elevação do Reino de Deus acima de todas as coisas terrestres e as suas exigências supremas; demonstra também a todos os homens a proeminente grandeza da força de Cristo reinante e a infinita força do Espírito Santo, que age admiravelmente na Igreja”.15



Fermento na significatividade



Em Jesus Cristo realiza-se a nova e definitiva Aliança, não mais com um único povo de uma determinada cultura e organização religioso-social (Israel), mas com toda a humanidade na multiplicidade de seus povos e de suas culturas, dando um significado profundamente novo à intervenção de Deus através da profecia, do sacerdócio e da realeza.

No Antigo Testamento a função do profeta - suscitado de forma pessoal por Deus mesmo - era distinta e separada daquela institucionalizada do sacerdote e do rei; não recebia deles a sua legitimação, mas de uma relação direta estrita e pessoal com Javé, falava em seu nome.

Em Cristo unificaram-se indissoluvelmente estas três funções (profeta, sacerdote e rei); e assim unificadas Ele a deixou em patrimônio ao seu Corpo místico na história, para serem exercidas em múltiplos modos e ministérios. O Concílio Vaticano II recordou-nos que na Igreja a “comunhão” tem um valor central e caracterizante; ela se manifesta também na mútua compenetração destas três funções: juntas servem para edificar o Reino – não terreno – que é de Cristo ao longo dos séculos para ser entregue ao Pai no final dos tempos.

No atual momento histórico o exercício da função profética é uma das prioridades pastorais mais urgentes. O Vaticano II sublinhou expressamente em primeiro lugar o serviço da Palavra, da atividade evangelizadora, da formação das consciências nos crentes. Os cristãos são chamados a ser um Povo de profetas com a criatividade, a inteligente audácia e a capacidade de testemunho até o martírio, seguindo o exemplo generoso e incisivo dos apóstolos.

Olhando para o contexto em que atuaram os profetas do Antigo Testamento, defrontamo-nos com um Israel em graves situações de infidelidade social à Aliança, por isso a obra do profeta costuma manifestar-se com força numa contestação a um tempo religiosa e social. Hoje, no mundo, para o futuro de todos os povos com suas culturas e religiões, atua-se uma mudança de época que, sem a luz de Cristo, não poderá encetar a justa rota.

O momento atual apresenta-se, sem mais, com muitos males a corrigir, mas a profecia de Cristo é chamada a iluminar e discernir as instantes novidades para assumir os valores e prevenir ou corrigir perigosos desvios, de modo que a complexa mudança antropológica não chegue a um fatal antropocentrismo.

Para nós Salesianos a específica função profética, neste contexto, deve ser inserida naquela “opção educativa” que dá um tom característico a toda a nossa vocação: não somos chamados a ser “agitadores dos jovens”, mas luz para suas consciências como “sinais e portadores”16 do amor e da bondade de Cristo. O contexto juvenil apresenta hoje desafios exigentes; vimos a sua dimensão no CG23, a nível mundial, explicitado posteriormente pelas Inspetorias em situações locais diferenciadas.

Ouvem-se proclamar nos areópagos do mundo inúmeros substitutivos à luz da fé cristã; separa-se o percurso do conhecimento humano do conhecimento do Evangelho, como se se tratasse de duas estradas com metas inconciliáveis; faltam válidas orientações de rota; trata-se de uma hora de ansiosa busca de mestres para a educação das personalidades.

Procuramos exprimir globalmente, nestes anos, o nosso esforço de renovação com o termo “significatividade”: tornar-nos de novo “sinais” de “nova evangelização” entre os jovens justamente com uma “nova educação”. Estamos dando passos concretos: mas há o que perseverar, aprofundar e intensificar.

Temos que nos convencer de que a dimensão profética de nossos empenhos constitui o núcleo central da nossa significatividade. O Comentário oficial ao art. 2º das Constituições (“ser sinais e portadores”) afirma claramente que se trata de “um empenho terrivelmente exigente, porque envolve toda a pessoa, toda a vida, toda a ação dos Salesianos, deslocando-os de si mesmos para centralizá-los, ao mesmo tempo, em dois polos do Cristo vivo e da juventude, e no encontro de um e de outro no amor. Empenha os Salesianos a serem duplamente servidores de Cristo que os envia e dos jovens aos quais são enviados, a revelar o amor-chamado de Cristo e a suscitar o amor-resposta dos jovens. Este é o significado último de todas as suas ‘obras de caridade espiritual e corporal’”.17

Esta é justamente a função profética do Salesiano: somos (é exortativo) “profetas-educadores”!

A significatividade tem uma esfera mais ampla daquela da profecia, mas ser autêntico profeta de Cristo é o seu fermento vital, de forma tal que sem ele a própria significatividade perde sentido. Este papel profético, porém, situa-se “dentro” das atuais exigências da nova educação, em partilha e harmonia de intentos: Cristo escolheu na encarnação a reviravolta antropológica para que a sua luz derrote, a partir de dentro, o antropocentrismo. Fazer profecia hoje para nós não significa tanto um exibicionismo sociocultural, quanto saber anunciar validamente o acontecimento supremo de Cristo como medida de todas as novidades, mostrando abertamente os seus dinamismos de futuro, proclamando a sua proveniência divina, irradiando os seus poderosos fachos de luz que, únicos, mostram em que consiste verdadeiramente o homem.

Trata-se de fazer com que os jovens sintam a presença e a força do amor de Cristo em clara fidelidade às suas iniciativas. Uma atividade profética que não é fantasia individual, mas serviço ativo e criativo ao seu mistério; este não se reduz a simples observação religiosa, mas é comunicação de energias de salvação; não propicia em primeiro lugar qualquer revolução estrutural, mas se concentra na formação das mentalidades e na conversão das pessoas e a também saber fazer, quando necessário, contestação cultural e social, embora não com metodologias de tipo horizontal e temporal.

Somos, chamados, pois, a intensificar uma dimensão profética que dinamize e intensifique a significatividade salesiana.



A contemporaneidade de Cristo



A função profética no Antigo Testamento pertencia a um período da história da salvação que caminhava em direção a Cristo; as intervenções de Javé se moviam gradualmente num processo de preparação sempre mais clara, até chegar ao testemunho de João Batista, que já proclama a presença do Messias.

Em Cristo, diversamente, a história da salvação chegou à sua plenitude; daqui para frente a revelação da parte de Deus não cresce mais; em Jesus tornou-se presente para sempre a sua Palavra, nele vive a profecia definitiva: Ele é o Homem novo, o Senhor da história, o Centro e a Fonte de qualquer ulterior função profética; Cristo é “o Novíssimo” (l’éskaton), o vértice absoluto da intervenção de Deus na evolução humana.

Sem dúvida a evolução humana continua progredindo e crescendo mesmo depois da Palavra do Senhor; mas é um progresso e um crescimento na linha da criação, não na da revelação. Isto comporta novidade de interpelações e de desafios, mas não uma Palavra de Deus verdadeiramente nova: “a economia cristã, com efeito, enquanto é Aliança nova e definitiva, jamais passará, e não se deve esperar qualquer nova revelação pública antes da manifestação gloriosa do Senhor nosso Jesus Cristo”.18

Esta intervenção definitiva em Cristo não desconhece, portanto, os dinamismos do progresso humano na linha da criação, antes leva-os explicitamente em conta; para isso Ele instituiu a Igreja, seu Corpo místico nos séculos, com a missão de difundir a luz pascal daquele acontecimento definitivo a todos os tempos.

De outra parte o mesmo progresso humano está ligado a Cristo, quer enquanto Ele mesmo é o seu “criador” inicial (“por meio d’Ele Deus criou todas as coisas, sem Ele nada foi criado”19), quer enquanto Ele envia continuamente - em cada espaço de tempo - o Espírito Santo, que move todas as coisas na direção do Reino (“Ele me glorificará, porque tomará do que é meu e vô-lo anunciará”20).

Ainda existe, pois, um crescimento humano e, hoje, os numerosos sinais dos tempos o demonstram: mudam, de fato, as culturas, as mentalidades do povo, as situações e as estruturas sociais, a percepção dos valores, os acelerados desafios e a busca de uma verdade que oriente.

O acontecimento-Cristo, enquanto Novíssimo, é de per si contemporâneo a todo o tempo que se lhe segue; precisa, porém, que a Igreja dê a conhecer esta contemporaneidade. E aqui se coloca aquele papel profético que deve apresentar como contemporânea, ou seja, como revelação de Deus para hoje e para os tempos novos, toda a luz do acontecimento-Cristo.

Saber apresentar Cristo como “o grande Profeta” do presente; fazê-lo aparecer como Mestre atualizado e perturbador, como Luz que não pode ser eclipsada por nenhum sinal dos tempos, como Novidade absoluta que mede, assume e julga todas as novidades que vêm à tona. É a tarefa da Nova Evangelização chamada a tornar o Evangelho fascinante.

Não se trata de uma tarefa fácil; comporta uma função profética indispensável e urgente. A Igreja, e nela a Vida consagrada, é chamada a empenhar-se com “novo ardor”.



A chave de leitura conciliar



Muitos Fundadores e Fundadoras de Institutos religiosos realizaram – como dissemos – uma especial função profética de formas normas em relação a situações anteriores: alguns com o testemunho da vida eremítica, cenobítica e contemplativa atuada para indicar o absoluto de Cristo na existência humana; outros com o ensinamento voltado para a iluminação das inteligências, ao amadurecimento da fé e à colocação de um limite ao erro e à heresia; outros ainda testemunhando com a caridade operosa o interesse de Cristo por todas as categorias de necessitados; e também em outras formas de amor.

Toda a Vida consagrada é chamada hoje a relançar este aspecto, de acordo com os multíplices carismas que a constituem.

A fim de renovar-se nisso é preciso partir de uma ótica segura, que não seja reviravolta do próprio carisma.

O Vaticano II indica com autoridade uma chave de leitura ao falar da renovação dos Institutos religiosos. O decreto Perfectae caritatis afirma que se deve considerar em primeiro lugar “o seguimento de Cristo como é ensinado pelo Evangelho”, tornando-se indispensável, portanto, uma fidelidade dinâmica “ao espírito e às finalidades dos Fundadores, como também às sãs tradições”.21

Estas duas afirmações conciliares não constituem duas chaves separadas, mas uma única chave de leitura, porque os Fundadores foram suscitados pelo Espírito de Cristo para atuar, de acordo com os tempos, a sua missão portadora de salvação. Eles podem ser considerados como uma página viva da contemporaneidade de Cristo, aqueles que procuraram proclamar a sua profecia em seu momento histórico em relação aos próprios destinatários.

Para tornar contemporânea a grande profecia da Nova Aliança, eles viveram “dentro” da própria atualidade, dóceis e em sintonia com o Espírito do Senhor, para entender onde está situada a urgência da salvação, quais sejam as interpelações e os desafios, e o porquê das zonas escuras, caracterizadas pela ausência, pela indiferença e pela recusa da luz pascal. É, com efeito, “a partir de dentro” que se pode encaminhar um discernimento de contemporaneidade.

É importante observar, porém, a esta altura, que a função profética da Nova Aliança não somente responde a exigências emersas no desenvolvimento humano. A profecia de Cristo oferece sem dúvida grandes e adequadas respostas a muitas questões; mas o Evangelho não é apenas resposta, é iniciativa de Deus que revela e ensina: ele propõe, interpela, previne, ensina, corrige e também responde.

A renovação profética, portanto, não se limita a preocupar-se com o polo da cultura emergente com seu contexto de vida, sua linguagem e seus métodos - sem dúvida isto é indispensável -; ela vai em primeiro lugar e a fundo investigar, de novo e com a sensibilidade do “a partir de dentro” cultural, o polo luminoso do acontecimento-Cristo para individuar com maior clareza os seus núcleos vitais de mais penetrante incisividade e, dessa forma, saber comunicá-los com verdadeira atualidade.

O Espírito do Senhor confiou a Dom Bosco e a nós, na missão profética da Igreja, um campo operativo caracterizado – como dizíamos – pela “opção educativa” a favor da juventude necessitada, em relação também às classes populares.

Chamou-nos a ser “profetas-educadores”! A renovação da função profética do nosso carisma não pode ser uma espécie de convite a mudar de “ocupação”, ou seja, a sair da opção educativa; mas, segundo a chave de leitura indicada, um estímulo a despertar-nos, a reforçar a coragem da fé, a abrir-nos com mais audácia à busca de caminhos pedagógicos que tornem o mistério de Cristo contemporâneo aos jovens.

Empenhamos a nossa função profética com uma nova educação cristã, na medida das várias categorias de jovens com os quais vivemos e agimos, ativando itinerários educativo-pastorais construídos em referência direta a eles, valorizando adequadamente experiências do passado e presente e criando outras novas.



Com Dom Bosco, conforme a nossa consagração apostólica



Seguindo a chave de leitura indicada, podemos evidenciar – embora brevemente – o sentido e o modo com que o nosso carisma participa da função profética da Igreja a favor dos jovens e das classes populares nas várias culturas e situações geográficas.

O CG23 encaminhou-nos com sério discernimento quer para a contextualização das nossas atividades,22 quer para a releitura da contemporaneidade do mistério de Cristo.23

Gostaria de evocar aqui alguns dados de maior empenho da nossa função profética em seu aspecto de “proposta” de Cristo, referindo-os aos elementos constitutivos de nossa consagração apostólica, como ela é indicada no artigo 3 das Constituições.

Quatro são os elementos de base indicados naquele artigo: a aliança (estar com Cristo), a missão (apóstolos dos jovens), a comunhão (comunidade fraterna) e a radicalidade evangélica (prática dos conselhos). Queremos escolher para cada um deles alguns aspectos de maior urgência profética a fim de intensificar o seu testemunho. Indico, aqui, aqueles que considero mais incisivos no atual esforço de renovação.



Na Aliança.



A aliança de nossa profissão religiosa exige um testemunho de especial intimidade com Cristo, de forma vital e constante. Está aqui o segredo de toda profecia: é preciso que os jovens percebam que somos “sacramentos de Cristo”, sinais e portadores do seu amor, que vivemos d’Ele e com Ele por eles.

Pode-se recordar sobre isso a intensidade das relações pessoais com Javé por parte dos profetas do Antigo Testamento; esta é a condição-base: ela não é fruto de uma genialidade psicológica ou de simples simpatia humana. É uma vocação: “antes de formar-te no seio materno eu te conhecia; antes de vires à luz eu já te havia consagrado; eu te estabeleci profeta das nações”;24 “tu me seduziste, Senhor, e eu me deixei seduzir; no meu coração havia como que um fogo ardente, encerrado em meus ossos; esforçava-me por contê-lo, mas não conseguia”.25

E, no Novo Testamento, o entusiasmo místico do apóstolo Paulo afirma claramente: “para mim viver é Cristo”;26 “não sou mais eu quem vive, mas é Cristo que vive em mim”;27 “quem está em Cristo é uma criatura nova; o antigo passou, surgiu o novo”.28 A aliança da profissão religiosa é uma amizade pessoal transformadora que nos faz viver em Cristo, com Cristo e por Cristo.

A nossa dimensão profética mostra um caráter cristocêntrico muito definido. A amizade e a intimidade quotidiana com Cristo fazem viver em sua novidade. A ponto de sermos capazes de mostrar adequadamente a contemporaneidade do seu mistério: “Deus se propôs, na economia da plenitude dos tempos, de recapitular todas as coisas em Cristo, as do céu e as da terra”29. Nesta luz se poderá perceber, a partir do interior das mentalidades culturais, o aspecto cristão de tantos temas de interesse atual: amor, solidariedade, libertação, justiça e paz, verdade e consciência, sentido de pecado, bondade e perdão, voluntariado e dom de si, personalidade e sacrifício, diálogo intercultural, sentido da história etc.

Gostaria de recomendar sobretudo três aspectos nos quais concentrar a função profética partindo da ótica desta nossa aliança: a comunicação da Palavra de Cristo, sua novidade pascal na Eucaristia e a experiência da sua infinita Bondade na Reconciliação.

Sobre eles há de se concentrar a nossa atenção pedagógica. Trata-se de aspectos centrais do Sistema Preventivo a serem relançados profeticamente, com coragem e inteligência, com uma metodologia e com ritmos incisivos, conforme a possibilidade das pessoas e dos grupos.



A comunicação da Palavra de Deus. Questionemo-nos: podemos dizer que temos hoje uma interioridade de aliança com o Senhor, que nos faça ser catequistas atualizados? O primeiro oratório de Dom Bosco foi um simples catecismo,30 e ele sempre considerou como escopo primário de suas obras a comunicação da Palavra de Deus. O Capítulo Geral Especial (1971) legou um importante documento sobre “Evangelização e Catequese” que é válido ainda hoje. Em suas “orientações operativas” afirma que: 1º, a Congregação Salesiana está hoje em estado de missão evangelizadora; 2º, a Inspetoria é “comunidade a serviço” da evangelização; 3º, cada comunidade é uma comunidade evangelizadora, ou seja, uma comunidade em escuta, em busca, inserida na Igreja local, educativa e animadora.

Igualmente o Capítulo Geral 21 (1978) estudou, em seu primeiro documento (“Os Salesianos evangelizadores dos jovens”), este mesmo argumento prioritário. A atualidade de suas orientações (que desejavam uma “nova presença salesiana” neste campo) foi-se concentrando no projeto educativo-pastoral, já familiar nas Inspetorias e nas casas.

O Capítulo Geral 22 (1984) elaborou o texto definitivo da nossa Regra de vida. Releiamos o art. 34: “a evangelização e a catequese são a dimensão fundamental da nossa missão. Como Dom Bosco, somos chamados todos e em qualquer ocasião, a ser educadores da fé. Nossa ciência mais eminente é, pois, conhecer Jesus Cristo; e a alegria mais profunda, revelar a todos as insondáveis riquezas do seu mistério. Caminhamos com os jovens para conduzi-los à pessoa do Senhor ressuscitado, a fim de que, descobrindo n’Ele e em seu Evangelho o sentido supremo da própria existência, cresçam como homens novos”.31

Finalmente o Capítulo Geral 23 (1990) é todo dedicado à educação dos jovens à fé e está orientando a nossa renovação. Agrada-me ressaltar que o destinatário direto deste documento é a comunidade salesiana como primeiro sujeito de atividade pastoral. Como escrevia na Apresentação dos Atos: “a comunidade vive com alegre intensidade o seguimento de Cristo, confessa o seu mistério com o testemunho consagrado, sintoniza-se e investiga com atenção o contexto em que age, nele descobre as sementes do Evangelho, interpreta os desejos de fé, intui os passos a dar no caminho, dedica-se a percorrê-lo, revisa-o continuamente à luz da Palavra de Deus”.32

É sintomático que os principais documentos destes últimos grandes Capítulos históricos concentrem o esforço de renovação na capacidade de escutar e comunicar o Evangelho de Cristo. Neste sentido cuidou-se igualmente, na Congregação, de importantes e válidas instituições para promover o estudo, o ensino, a comunicação, a difusão de quanto se refira à evangelização e à catequese. Caminha-se e trabalha-se.

Tudo isto foi visto e promovido a partir sobretudo da ótica da missão. Revemo-lo aqui na ótica da aliança, que sublinha nas pessoas o aspecto profético de sua vitalidade interior, individual e comunitária. Com efeito, urge hoje intensificar e melhorar o aspecto de “novo ardor” que é a fonte e o fermento da dimensão profética.

Seja este, um argumento privilegiado de revisão e de propósitos em cada comunidade!



A novidade pascal na Eucaristia. O vértice do mistério de Cristo é a sua Páscoa, que constitui o centro de toda a história da salvação. Ela se faz continuamente presente no tempo e no espaço através da Eucaristia. “Na santíssima Eucaristia – diz o Concílio – é compreendido todo o bem espiritual na Igreja. Ela se apresenta como fonte e cume de toda a evangelização, e os fiéis, já marcados pelos sinais do sagrado Batismo e da Confirmação, são plenamente inseridos no Corpo de Cristo por meio da Eucaristia. A sinaxe eucarística é, pois, o centro da comunidade dos fiéis”.33

Já meditamos há alguns anos sobre este aspecto central: A Eucaristia no espírito apostólico de Dom Bosco.34 Aqui, se trata de rever, a partir da ótica da aliança, as convicções, o testemunho e o nosso serviço profético, em concreto, nas atividades educativas.

Não é possível conceber a autenticidade da aliança salesiana, sem a centralidade, como meta já alcançada e a ser alcançada, da celebração eucarística. Creio que, de nossa parte, há muito a se rever neste campo, na educação dos jovens à fé. O CG23 reconhece que estamos atravessando, neste sentido, um momento de paralisação35 e exorta a remediá-lo.36

Não se pode ser profetas-educadores com Dom Bosco sem uma retomada explícita, inteligente e entusiasta de um caminho pedagógico voltado para a Eucaristia.



- A experiência pessoal do seu perdão. A perda do sentido de pecado deve ser hoje combatida com especial cuidado. Deve-se recuperar na educação a consciência da dignidade cristã de se sentir “penitente” e de experimentar os valores terapêuticos do sacramento da Reconciliação. Deste ponto de vista, evangelizar é contar de novo a história da misericórdia de Deus. Não se concebe a vida de Dom Bosco sem uma constante dedicação a este empenho entre os jovens: é “uma das colunas fundamentais do edifício educativo”.37 Trata-se de “um momento privilegiado de encontro pessoal com o jovem”; por isso, diz o Capítulo: “o Inspetor cuide da preparação dos irmãos para este ministério, tão importante na pedagogia salesiana”.38

Aqui também, repito-o, estamos falando do papel profético de nós Salesianos, de nossas convicções, de nossas iniciativas, de nossos programas operativos nas atividades de educação. Os irmãos padres haverão de fazer um sério exame de consciência sobre sua prática pessoal e sobre sua disponibilidade para o exercício do ministério da Reconciliação, que alimenta no coração a paternidade espiritual; e os irmãos não padres haverão de rever a própria prática a respeito e a própria colaboração na promoção de um ambiente de valorização do sacramento da Penitência. Recordemos o quanto escreve São Paulo a Timóteo: “Jesus Cristo veio ao mundo para salvar os pecadores; quis demonstrar em mim, por primeiro, toda a sua longanimidade”.39

Em resumo, a partir da ótica da aliança o nosso papel profético nos empenhos de uma educação integral não pode absolutamente prescindir da comunicação do Evangelho, da convocação na Eucaristia como vértice real da vida do homem novo, do encontro pessoal com Cristo como aproximação terapêutica que educa a consciência ao sentido do pecado e a transforma em conhecimento de amizade pessoal com Cristo.

O cuidado profético destes aspectos exige itinerários pedagógicos concretos, que cada comunidade e cada irmão haverá de elaborar com particular atenção para poder ser, como Dom Bosco, profeta-educador”.

O que se faz a respeito em cada casa? Quais as iniciativas práticas para o conhecimento da Palavra de Deus, para a preparação e participação ao supremo ato de Amor da Páscoa, para a contestação à perda do sentido de pecado segundo a luz da inefável e infinita bondade misericordiosa de Cristo?



Na missão



O tema da missão oferece inúmeras e fecundas possibilidades de opções proféticas, nas quais já nos deveríamos encontrar empenhados. Limito-me aqui a sublinhar duas delas, que creio serem particularmente urgentes: a generosa aplicação do critério oratoriano na opção dos destinatários, e a graça de unidade entre evangelização e educação.



O critério oratoriano de Dom Bosco faz preferir os jovens pobres. No-lo recordaram os recentes Capítulos Gerais; dele falamos na última carta circular sobre a pobreza;40 trata-se de um aspecto central na revisão da significatividade de nossas obras.

O CG23, apresentando-nos o caminho de educação dos jovens à fé, afirma explicitamente que “a opção salesiana de privilegiar os mais pobres é a condição prévia para dialogar com todos, também com os menos informados sobre o ‘acontecimento’ cristão”.41

E acrescenta: “Sua pobreza apresenta-se sob muitas formas: pobreza de condições de vida, de sentido, de perspectivas, de possibilidades, de conhecimento, de recursos. É a mesma vida que se encontra depauperada de seus principais recursos. Nenhuma experiência religiosa aflora enquanto não se descobre a vida em seu verdadeiro sentido. E, vice-versa, toda experiência de verdadeira vida libera uma tensão religiosa”.42 A sensibilidade profética inclui também a busca de respostas às novas pobrezas, como expressão da ânsia de Dom Bosco em ir ao encontro dos mais necessitados em seus tempos e territórios; o CG23 exorta a instituir “alguma presença como ‘sinal’ do nosso ir na direção dos jovens mais distantes”.43

A dedicação aos nossos destinatários privilegiados traz em si mesma um caráter vital de fidelidade ao Espírito do Senhor, que assim quis em Dom Bosco. Não se trata de uma opção secundária; ela incide sobre o sentido global do nosso papel profético na Igreja; constitui, com efeito, um traço caracterizador de nossa fisionomia carismática. Vi em várias Inspetorias que brotam deste empenho concreto, iniciativas fecundas e mais ardorosas atitudes espirituais, que renovam os irmãos e resultam grandemente apreciadas pelos Bispos e pelas Igrejas locais; estas nossas presenças constituem providencial dom profético que incide eficazmente também na renovação social.



A graça de unidade entre evangelização e educação mostra claramente que o estilo de nossa missão ajuda positivamente a superar o dissídio entre evangelho e cultura. A competência por aquilo que existe de válido na cultura e nos sinais dos tempos, investigado a partir da ótica do mistério de Cristo, deveria constituir um elemento de profissionalismo educativo a serviço da nossa consagração apostólica. Cristo mesmo nos impele nesta direção. Ele é – como já vimos – o criador da realidade humana e o seu Espírito, animador do dinamismo dela. O CG23 proclama com perspicaz profundidade: “Cremos que Deus ama os jovens... que neles o Espírito Santo se faz presente e que, através deles, quer edificar uma comunidade humana e cristã mais autêntica. Ele já está agindo nos indivíduos e nos grupos. Confiou-lhes uma missão profética a ser desenvolvida no mundo, que é também o mundo de todos nós. Cremos que Deus nos espera nos jovens... O momento educativo torna-se, assim, o lugar privilegiado do nosso encontro com Ele”.44

Integrar estes diferentes valores não é uma arte fácil; uma especial graça de unidade nos é oferecida na caridade pastoral do nosso carisma, pela qual “evangelizamos educando e educamos evangelizando”.

Infelizmente é comum hoje separar os valores culturais dos princípios evangélicos, não necessariamente para contrapô-los, mas para ignorar de fato a sua conexão. É tarefa de nossa missão saber fazer ressaltar pedagogicamente a sua inseparabilidade, quer com o testemunho de vida, quer com o diálogo quotidiano, ou com a seriedade de um ensino adequado.45 Esta tarefa é um aspecto vital não só de uma escola verdadeiramente católica, como também de toda atividade educativa. Penso que o fato concreto de envolver leigos preparados em nossas atividades educativas haverá de nos ajudar a praticar melhor este empenho.

Uma frente de particular atenção neste campo é o da dimensão social da vida. O processo de socialização, sempre em devir, trouxe e continua a trazer grandes inovações na convivência civil; de outro lado, o influxo de tantos egoísmos nas atividades políticas e na ordem econômica provocou terríveis desigualdades e injustiças sociais, que exigem com urgência uma profunda transformação de mentalidade e uma reestruturação dos sistemas em perspectiva de mundialidade.

Urge que se forme uma responsabilidade política cristã, a incorporação da doutrina social da Igreja nos programas concretos de evangelização, um contínuo repensamento do fundamental preceito evangélico da caridade. Participa-se, assim, ativamente do exercício profético da Igreja, realizado abundantemente nestes decênios pelo Sucessor de Pedro e pelos Pastores.

A revisão é, neste campo, delicadamente complexa e deve ser permanente.



Na comunhão.



O CG23 deu um relevo expressivo à comunidade como sujeito de nossa missão. Aquilo que ela deve profetizar com seu testemunho quotidiano e suas atividades é a mensagem proclamada por Cristo sobre a “comunhão”.

Esta profecia da comunhão deve ser, para nós, aplicada sobretudo em dois níveis: o da comunidade religiosa e o do envolvimento apostólico de numerosos fiéis leigos.



A comunhão na comunidade religiosa. Dando graças ao Senhor, existe na Congregação uma viva comunhão a nível mundial, inspetorial e local. Referimo-nos aqui, antes de mais nada, aos grandes valores do mistério de Cristo nas comunidades locais: fazê-los circular entre os irmãos de modo que a comunidade de cada casa se transforme existencialmente em “sinal” e em “escola” de fé. Uma fé viva que, sendo necessariamente enraizada em cada pessoa, leva-a à comunhão com as demais ampliando sua capacidade de testemunho (“sinal”) e multiplicando sua fecundidade de transmissão (“escola”) numa comunidade claramente significativa na órbita do seu papel profético.

A prática da comunhão é própria de toda a Igreja, com diferenciadas modalidades de realização. Testemunham-na já os Atos dos Apóstolos falando dos primeiros Cristãos;46 e depois o Vaticano II, para o qual “a eclesiologia de comunhão é a ideia central e fundamental”.47

Tudo aquilo que já se está fazendo e se fará em nossas casas para que a comunidade seja de verdade núcleo de animação como “sinal e escola de fé” é, sem dúvida, um verdadeiro empenho profético de segura eficácia neste momento de nova evangelização.

Recomendo a cada Inspetoria e a cada casa a valorização do providencial “dia da comunidade” para uma revisão continuada e construtiva em vista da circulação (comunhão) entre os irmãos dos valores evangélicos de nossa vocação.



O envolvimento apostólico dos fiéis leigos tem uma própria realização prática naquela mais ampla comunidade operativa que chamamos “comunidade educativa”. O empenho dos irmãos, como núcleo animador, é o de nela cuidar e estimular um contínuo intercâmbio dos valores do nosso projeto educativo, a ponto de chegar a constituir uma autêntica comunhão operativa sobre os grandes princípios e se torne um verdadeiro sujeito eclesial para o amadurecimento humano e cristão dos jovens.

É já de há muito que tentamos traduzir em realidade este propósito. Conseguir constituir esta comunidade educativa intensificando nela a circulação dos grandes dinamismos da pedagogia de Dom Bosco, para lançar uma profecia de forte perspectiva para o futuro, comporta uma indispensável capacidade de envolvimento de fiéis leigos preparados. Trata-se de levar a sério a eclesiologia conciliar que haverá de transformar a nossa presença evangelizadora e educativa, abrindo as obras a uma nova vitalidade e a um futuro mais prometedor.



Na radicalidade



Vimos que a prática dos conselhos evangélicos já é, por si mesma, uma nossa presença profética na Igreja e na sociedade. O problema está em saber dar-lhes uma maior atualidade profética em relação à missão e comunhão do nosso propósito evangelizador. Não se trata somente de viver obedientes, pobres e castos, mas de fazer ver que esta radicalidade nos transforma em visíveis “sinais e portadores” do amor de Cristo aos jovens.

Afirmam as Constituições: “Os conselhos evangélicos, favorecendo a purificação e a liberdade espiritual, tornam solícita e fecunda nossa caridade pastoral”;48 “a prática dos conselhos, vivida no espírito das bem-aventuranças, torna mais convincente o nosso anúncio do Evangelho”;49 os conselhos evangélicos “tornam o salesiano um sinal da força da ressurreição. Plasmando inteiramente seu coração para o Reino, ajudam-no a discernir e a acolher a ação de Deus na história; e, na simplicidade e laboriosidade da vida quotidiana, transformam-no num educador que anuncia aos jovens ‘novos céus e nova terra’, estimulando neles os compromissos e a alegria da esperança”.50

Convido-vos a testemunhardes hoje essa nossa profecia de radicalidade com um particular cuidado por dois aspectos complementares verdadeiramente urgentes: a educação dos jovens para o amor e a perseverante e corajosa contestação a determinados ídolos de moda.



A educação dos jovens para o amor51 é certamente um dos pontos nodais da educação à fé. Se existe um aspecto onde as mudanças culturais levaram a um esfacelamento da conduta e ao mesmo tempo impuseram uma necessidade de repensamento é justamente este. Motivados por uma visão destorcida do amor, muitos jovens não são mais capazes de viver a graça de Cristo; eis um obstáculo deletério para o crescimento na fé e para orientar a vida na direção de metas vocacionais.

Em nós, a prática “salesiana” dos conselhos evangélicos que reforça a aliança, a missão e a comunhão, traduz o nosso testemunho quotidiano de vida num estilo de bondade, de acolhida educativa, de espírito de família, na sinceridade e constância de relações pessoais, na alegria da convivência, na circulação de grandes ideais que oferecem um clima muito favorável para uma autêntica formação para o amor. A modalidade salesiana de uma vida obediente, pobre e casta, testemunhada na alegria de uma convivência operosa, mostra a beleza e a satisfação de uma vocação de amor que sabe, em Cristo, fazer-se dom aos outros, ajudando a experimentar existencialmente as razões das exigências e das capacidades de sacrifício inerentes ao amor de Cristo.

A acentuação profética desta nossa prática deve ser colocada na fidelidade a Cristo, sem subterfúgios e compensações; ela nos ajuda a renovar aquele clima de convivência oratoriana que fez de Dom Bosco “o gênio do coração”. Neste clima dedicamo-nos a entender e orientar a afetividade dos jovens, a dar relevo educativo à sua orientação vocacional, a abri-los às experiências do dom de si no serviço, a crescer na solidariedade.

Acredito ser importante que se reflita comunitariamente sobre este aspecto, meditando as Constituições e fazendo exames de consciência concretos, considerando com particular atenção o tema da pureza salesiana; os progressos das disciplinas antropológicas trazem a necessidade de revisão de uma certa mentalidade do passado, mas exigem, ao mesmo tempo, um aprofundamento da castidade consagrada que seja realmente sinal do mistério de Cristo, que é sempre a revelação máxima do que seja o amor.



A contestação aos ídolos de moda recorda-nos o corajoso estilo profético do Antigo Testamento; o próprio Jesus contestou mais de uma vez, e de modo sensível, determinadas mentalidades e abusos morais que desnaturavam o conceito profético de Reino por Ele proclamado.52

Existem hoje alguns ídolos de moda que devem ser certamente desacreditados: eles giram ao redor do poder, da riqueza e do prazer. São já existencialmente contestados por nós com a prática dos conselhos evangélicos: “Num mundo tentado pelo ateísmo e pela idolatria do prazer, da posse e do poder, o nosso modo de viver testemunha, especialmente aos jovens, que Deus existe e o seu amor pode saciar uma vida; que a necessidade de amar, a ânsia de possuir e a liberdade de decidir da própria existência adquirem em Cristo Salvador o sentido supremo”.53

Pode existir, porém, em alguma casa, uma certa modalidade aburguesada de viver ou um modo liberalizante de julgar e de falar, ou algum irmão imprudente que dê contratestemunho e, ao invés de colaborar na contestação dos ídolos, esconda, negue e tire de fato a força profética da radicalidade evangélica, como se ela não influísse ou, pelo menos, não se preocupasse mais por ser comunitariamente sinal eficaz contra os desvios mundanos. Infelizmente o secularismo insinua-se também nas comunidades consagradas e entorpece seus dinamismos proféticos; faz com que a capacidade de proposta evangélica da nossa existência perca o empenho educativo, camuflando-a com novidades não evangélicas.

É importante saber contestar pedagogicamente certas idolatrias invasoras fazendo brilhar antes de tudo as motivações e a alegria da nossa profissão salesiana.

Cada comunidade sinta-se convidada a fazer um sério exame de consciência sobre o aspecto profético de sua radicalidade evangélica em contraposição às idolatrias do individualismo, do aburguesamento e do hedonismo. Devemos saber desmascarar, também com a ajuda das disciplinas antropológicas, certas orientações antievangélicas a respeito do sexo, do matrimônio, da promoção da personalidade, da dignidade da mulher, da constituição da família, da sacralidade da vida, do uso dos bens, da indispensabilidade da política, dos danos do egoísmo, da irracionalidade de tantos conflitos, do sentido de pecado etc. Contestar educativamente é uma tarefa delicada, não populista, que exige competência, estudo e reflexão; é expressão de um serviço profético concreto do qual a juventude tem especial necessidade.

Eis algumas reflexões sobre a dimensão profética de nossa vida salesiana. “Exorto-vos – disse São Paulo – a que ofereçais vossos corpos como hóstia viva, santa e agradável a Deus. Não vos conformeis com este mundo, mas deixai-vos transformar por Deus com uma completa mudança de vossa mentalidade. Segundo a capacidade que Deus nos deu, temos tarefas diversas. Se recebemos o dom de sermos profetas, anunciemos a Palavra de Deus conforme a fé recebida”.54

Parecerá, à primeira vista, que sejam muitas as coisas sobre as quais concentramos a nossa atenção e, portanto, que daí derive uma dispersão operativa. Mas, observando-se bem, cada uma das coisas indicadas já está sendo realizada juntamente com outras expressas pelos últimos Capítulos Gerais. Com efeito, aquilo sobre o que se insiste nesta carta circular é somente uma coisa, o nosso ardor profético em tudo aquilo que nos esforçamos por realizar: ter a consciência de ser profetas de Cristo e saber em que insistir para sê-lo com genuinidade e sem eventuais exibições de moda inautênticas.

O papel profético que nos cabe na Igreja é o de viver com novo ardor a autenticidade do carisma de Dom Bosco, para que toda a obra de nossa evangelização apareça revestida daquela verdadeira novidade cristã desejada pelos tempos. Isto implica na base de tudo um renovado testemunho de intimidade pessoal com Cristo que nos leve a rever, reavaliar, repensar, projetar de novo, acentuar aspectos, concentrar esforços, despertar novamente a criatividade pastoral, a partir realmente d’Ele! Em definitivo, trata-se de mostrar de modo eficaz a contemporaneidade de Cristo a fim de levar as novas gerações para um futuro melhor.

São Paulo nos diria: urge que vos torneis Cristo para os jovens!

Sentir-se profetas é para nós um grande novo despertar que nos faz levar a sério a chave de leitura conciliar que seguimos nestas reflexões: “a atualização da vida religiosa – afirma o Vaticano II – comporta o contínuo retorno às fontes de toda vida cristã e ao espírito primitivo dos Institutos, e ao mesmo tempo a adaptação dos próprios Institutos às alteradas condições dos tempos. E as melhores formas de atualização não poderão ter sucesso, se não forem animadas por uma renovação espiritual, a qual cabe o primeiro lugar também nas obras externas de apostolado”.55



Ajude-nos a Virgem do Rosário



O evangelista Lucas, falando de Maria Mãe de Jesus, afirma que Ela “conservava cuidadosamente a lembrança de todos estes fatos em seu coração”.56 E não só dos fatos extraordinários da concepção de Jesus, de seu nascimento e sua infância, mas também de toda a sua vida, de sua ascensão à direita do Pai e das maravilhosas intervenções na história. Prova disso é o cântico do Magnificat, espelho do coração de Maria, que pode considerar-se modelo de interioridade e de visão global, que todo verdadeiro profeta da nova Aliança deve cultivar em si. Peçamos a Nossa Senhora que nos ajude a fazer crescer quotidianamente em nosso coração esta ótica própria da esperança cristã.

A hodierna memória mariana de 7 de outubro convida-nos a descobrir na récita do Rosário um modo prático de conservar cuidadosamente em nós os vários aspectos do acontecimento-Cristo: são 15 e os chamamos de “mistérios”. É sobre estes fatos que podemos alimentar nossas relações de amizade com Cristo e, enquanto consideramos neles a inefável riqueza da encarnação e da redenção confrontada com os graves problemas que nos circundam nesta mudança de época, podemos, dia após dia, perceber e comunicar a sua contemporaneidade. Constituem fonte abundante de luz salvífica; recordam qual é o segredo para a função profética de todo discípulo, que deverá ser “como um chefe de família que do seu tesouro tira coisas velhas e coisas novas”.57

Há que se aprender “a tirar” do tesouro de Cristo as urgentes mensagens evangélicas que o Espírito Santo sugere na meditação daqueles 15 mistérios. A preocupação profética pode fazer mudar a prática e o apreço por este piedoso exercício, dando-lhe de novo verdadeira atualidade para alimentar a nova evangelização.

Podemos recordar também que Dom Bosco dava muita importância ao Rosário. Ao marquês Roberto D’Azeglio, que tentava dissuadi-lo de fazer recitá-lo pelos jovens, respondia: “eu aprecio muito esta prática: e poderia dizer que minha instituição está fundamentada sobre ela; e estaria disposto antes a deixar tantas outras coisas bem importantes, mas não essa”.58

A nossa atenção não se deve voltar tanto para a louvável observância de uma prática, quanto para o aspecto de um coração mariano concentrado constantemente e com afeto profético sobre os vários aspectos do acontecimento-Cristo, centro vital da nova evangelização. Fazer memória contemplativa de Cristo não é simplesmente recordar uma visita de Deus no passado, mas considerar a sua permanência de revelação e de salvação, entrando em familiaridade com o seu aspecto escatológico, ou seja, de novidade para cada tempo, enquanto é chamado a fermentar a história de hoje.

Trata-se de uma forma de cuidar da experiência do divino vivida por Cristo. O profeta não é constituído em autoridade para comandar, mas para comunicar a luz do mistério experimentado pessoalmente; contraria esta sua vocação o fato de cair na rotina; não pode parecer “habituado” a Cristo, mas amigo de sua atualidade salvadora e como seu mensageiro perspicaz e fiel, que carrega em si a atenção à sua perene novidade e o dom da parrésia, ou seja, da franqueza e da coragem em comunicá-la; em lugar de alinhar-se com opções sociais, preocupa-se em anunciar o seu Evangelho colocando-se totalmente do lado de Cristo; mais que à rebelião, convida à conversão; não é um especialista do calendário dos acontecimentos futuros, mas orienta com o senso de futuro; leva a alegre notícia em que existe também o perdão insistindo, portanto, na conversão e contestando o mal com franqueza; ama as novidades sendo portador da novidade maior.

Para ser profeta exige-se fogo, vitalidade sempre fresca, fantasia audaz, docilidade quotidiana ao Espírito do Senhor, entusiasmo e coragem até o martírio. No-lo demonstram os santos de todos os séculos, homens e mulheres, que fizeram de Cristo a razão de sua vida e de seu agir.

Que Maria obtenha para cada irmão e para cada comunidade uma interioridade apostólica que faça brilhar profeticamente para os jovens a plenitude da luz de Cristo.

Uma fraterna saudação para todos.

Cordialmente em Dom Bosco,

P. Egídio Viganò

Reitor-Mor

1 Turim – LDC.

2 LG 35.

3 Catecismo da Igreja Católica n. 783.

4 Cf. MR 11.

5 LG 31.

6 LG 44.

7 LG 46.

8 MR 12.

9 Is 61,1.

10 Ez 33,7.

11 Mt 5,14-16.

12 Jo 1,9.

13 Jo 1,7

14 2Cor 4,5.

15 LG 44.

16 Const. 12.

17 O Projeto de vida dos SDB, Roma 1986, p. 92 [EDEBE Brasília, 2016].

18 DV 4.

19 Jo 1,3.

20 Jo 16,15.

21 Cf. PC 2.

22 CG23, sobretudo na 1ª parte.

23 CG23, sobretudo na 2ª parte.

24 Jr 1,5.

25 Jr 20,7.9.

26 Fl 1,21.

27 Gl 2,20.

28 2Cor 5,17.

29 Ef 1,10.

30 Cf. MB IX, 61.

31 Const. 34; cf. também: 6, 17, 20, 38, 43 etc.

32 CG23, 11.

33 PO 5.

34 Cf. ACG 324.

35 CG23 148.

36 CG23 175.

37 CG23 174.

38 CG23 289.

39 1Tm 1,15-16.

40 Cf. ACG 345.

41 CG23 105.

42 CG23 120.

43 CG23 230.

44 CG23 95.

45 Cf. ACG 344, circular Educar à fé na escola.

46 Cf. At 2,42-47; 4,32-35.

47 Sínodo extraordinário a vinte anos do Concílio – Relação final: II, C, 1.

48 Const. 61.

49 Const. 62.

50 Const. 63.

51 Cf. CG23 192ss.

52 Cf. p. ex.: Mt 23,13ss; Mc 9,42ss; Lc 19,41-45.

53 Const. 62.

54 Cf. Rm 12,1ss.

55 PC 2.

56 Lc 2,51.

57 Mt 13,52.

58 MB III, 294.

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