301-350|pt|313 - Dom Bosco - 88

Viganò Egídio

DOM BOSCO-88



Atos do Conselho Superior

Ano LXVI – abril-junho, 1985

N. 313





No seguimento de Jesus Cristo. — Dom Bosco, o apóstolo do Oratório. O paradigma profético da sua juventude. — Pai e Fundador. — O vasto movimento da sua “escola espiritual”. — Um centenário a ser preparado em toda a parte. — Algumas iniciativas a serem realizadas com o concurso de todos.



Roma, 19 de março de 1985



Queridos Irmãos,



escrevo na festa de S. José. O nosso texto das Constituições apresenta o simpático santo como um dos padroeiros a quem Dom Bosco confiou a nossa Congregação.1 Todo salesiano invoca sua intercessão na fórmula da profissão.2 A bondade que o dis­tingue, a operosidade oculta, o amor a Maria e o contato diário e familiar com Jesus, sejam para nós estímulo para crescer na Igreja, entre o trabalho e as responsabilidades de cada dia, com coração humilde, sempre repleto de alegria. S. José, como Maria, leva-nos diretamente a Jesus.



No seguimento de Jesus Cristo



A iniciativa de aprofundar com os jovens a mensagem da “Lembrança” [Estreia] sobre as Bem-aventuranças nos está a convencer da incisividade formadora que a nossa ação pastoral adquire quando se reporta com mais atenção a Cristo no Evangelho. É essa a estrada mestra para desbaratar qualquer perigo de superficialidade espiritual. Neste sentido, pensando na prepa­ração das celebrações centenárias da morte de Dom Bosco, convido-vos a olhar para nosso Pai, como atraente e operoso discí­pulo do Senhor que nos chama a segui-lo: “Sede meus imitadores, como eu o sou de Cristo”!3

As Constituições renovadas nos lembram muitas vezes o seguimento de Cristo e a importância do Evangelho; foi essa a paixão de Dom Bosco e a ótica do seu espírito.

Estar com Dom Bosco” significa colocar-se totalmente ao seguimento de Jesus Cristo. “Com a profissão religiosa — lê-se nas Constituições — oferecemo-nos a nós mesmos a Deus para caminhar no seguimento de Cristo e trabalhar com Ele na cons­trução do Reino”;4 “A nossa Regra viva é Jesus Cristo, o Salvador anunciado no Evangelho”.5

O novo texto da Regra sublinha ademais que o Sistema Pre­ventivo nos foi transmitido “como modo de viver e trabalhar para comunicar o Evangelho”;6 que caminhamos com os jovens para fazer crescer neles o homem novo “descobrindo no Senhor e no seu Evangelho o sentido supremo da própria existência;7 que a nossa missão se preocupa em “levar aos homens a mensa­gem do Evangelho, intimamente unida ao desenvolvimento da ordem temporal”;8 que ajudemos os nossos destinatários a viver “uma vida quotidiana progressivamente inspirada e unificada pelo Evangelho”;9 que também todo o nosso processo formativo deve ser “iluminado pelo Evangelho”;10 e que mesmo quando nos reunimos em Capítulo devemos fazer reflexão comunitária preci­samente “para nos mantermos fiéis ao Evangelho”.11

É, pois, muito importante, quando falamos de Dom Bosco, referir-nos constantemente a Cristo, ver nele um profeta do Evangelho, imitá-lo no saber comunicar a Palavra de Deus com a máxima clareza e incisividade, difundir uma espiritualidade juvenil firmemente ancorada na mensagem da revelação. Se lermos o Evangelho com a ótica de Dom Bosco, havemos de perceber nós também de maneira mais sensível “certos traços da figura do Senhor”,12 significativos sobretudo para os jovens. Tão insistente referência ao seguimento de Cristo e à escuta do Evangelho deveria constituir a plataforma de que partimos para meditar sobre Dom Bosco e apresentá-lo ao mundo durante estes anos de preparação às celebrações centenárias.

Apoiando-me nessa base, apraz-me sugerir-vos algumas pistas de reflexão. Tentarei sublinhar, primeiramente, o que, na minha opinião, aparece nele como o aspecto mais luminoso e saliente, para depois aludir a alguns outros elementos complementares que deveriam guiar as nossas iniciativas.



Dom Bosco, o apóstolo do Oratório



Dom Bosco, como discípulo de Jesus Cristo, foi padre, educador, fundador, escritor, editor, viajante, cidadão famoso, homem de Deus, iniciador de uma escola de santificação e de apostolado na Igreja. Sua imagem histórica de homem evangé­lico apresenta muitos aspectos dignos de atenta consideração. Se nos perguntarmos, porém, qual é nele a nota dominante, a expressão mais típica da sua sequela de Cristo, o núcleo dinâmico do seu carisma, eu responderia sem hesitar que é a doação radi­cal de si a Jesus Cristo, para, n’Ele e com Ele, voltar-se para os jovens com a iniciativa apostólica do Oratório.

Ele sentiu-se chamado explicitamente pelo Senhor e por Ele enviado para isto. Realizou-o com uma inventiva e um ardor que lhe fizeram concentrar a sua missão pastoral no Oratório como “casa que acolhe, paróquia que evangeliza, escola que encaminha para a vida e pátio para se encontrarem como amigos e viverem com alegria”.13 Foi esse o seu empenho-modelo a ser canonizado e multiplicado.

É sintomático observar como ele próprio deu justamente o nome de “Obra dos Oratórios” às instituições criadas pelo seu zelo apostólico. Induzido por Pio IX a escrever os acontecimen­tos mais significativos da sua vida, com o objetivo de iluminar e ajudar seus colaboradores e continuadores, redigiu notas assaz interessantes, a que deu precisamente o título de “Memórias do Oratório”. Seus primeiros trinta anos de existência voltaram-se providencialmente para Valdocco, berço do Oratório; e os poste­riores, marcados pela fundação dos Salesianos, Filhas de Maria Auxiliadora e Cooperadores, são todos eles relativos ao primeiro Oratório, à sua vitalidade, ao seu desenvolvimento, à sua conti­nuidade e à sua expansão no mundo. Dom Bosco, discípulo de Jesus, destaca-se sobretudo pelo seu “coração oratoriano”.

Com razão afirma o novo texto das Constituições que a expe­riência oratoriana de Dom Bosco em Valdocco “continua critério permanente de discernimento e renovação de cada atividade e obra” salesiana.14 É com esse tipo de atividade pastoral que o nosso Pai se tornou sinal e portador do amor de Cristo aos jovens pobres e às classes populares; no Oratório inventou a síntese prática do “Sistema Preventivo”; aí aportou no ponto alto da sua vocação guiada sempre por Maria; aí releu e meditou Evangelho para tornar presente na sociedade em evolução o mistério de Cristo “que abençoa os meninos e faz o bem a todos”.15 O Oratório é o primeiro lugar da missão histórica de Dom Bosco; aí se acendeu e de aí se espalha a centelha inicial do seu propósito de seguimento do Senhor; aí se encontra a fonte borbulhante daquela “caridade pastoral”16 que fluirá como um rio na tradição salesiana. O Oratório é o lugar da peculiar intui­ção evangélica de Dom Bosco, da sua genialidade apostólica, da sua originalidade espiritual, porque é a sede privilegiada da sua “experiência do Espírito”.17 O “Oratório”, “lugar teológico” da missão salesiana, não se explica sem Jesus Cristo e o seu Evangelho.18

Alguns observadores não crentes, que consideram Dom Bosco apenas do ângulo da educação humana e civil, veem também a sua genialidade pedagógica expressa no Oratório, como centro sociocultural de resposta aos novos tempos. Um semiólogo insus­peitamente “leigo” chegou a salientar que Dom Bosco inventa, com o Oratório, não só um novo modo de agregação, mas um novo modo alternativo e futuroso de estabelecer comunicação social.

O Oratório — escreve — é uma máquina perfeita em que cada canal de comunicação, do brinquedo à música, do teatro à imprensa e assim por diante, é administrado como próprio e reutilizado e discutido quando a comunicação vem de fora. Neste sentido o projeto de Dom Bosco atinge toda a sociedade da era industrial com viva imaginação sociológica, sentido dos tempos, inventividade organizativa, e com uma política global das comu­nicações de massa que é alternativa à gestão — frequentemente inútil e muitas vezes prejudicial — dos vértices dos grandes dinossauros (os grandes Mass media hodiernos) que (talvez) valem menos do que se acredita”.19

Juízo tão lisonjeiro, proveniente de quem se preocupa de pôr em evidência tão-somente iniciativas portadoras de eficiência social, nos deveria interpelar e estimular a tirar a poeira dos anos caída sobre nossas presenças oratorianas e a relançar com atualidade uma prerrogativa pastoral e pedagógica que nos deve distinguir. A quem dissesse, como infelizmente aconteceu-me ouvir na boca de algum apressado agente de pastoral, que “o carisma do Oratório” já viveu sua época, deveríamos demonstrar com os fatos que sua plena e atual validez é seu justamente fascínio para os jovens de hoje. É preciso reconhecer, porém, que há muita poeira por tirar e que é preciso investir generosa­mente inteligência, coração e pessoal.

Convido-vos a refrescar a nossa fantasia vocacional com a leitura do belo capítulo do Pe. Ceria sobre o Oratório das origens.20

Se, portanto, quisermos, em 1988, celebrar a Dom Bosco na sua grandeza mais original, deveremos empenhar-nos em sempre melhor fazer emergir de nossas presenças o seu critério oratoriano como princípio inspirador do propósito de renovação que nos impele para a frente. Já vo-lo recordava na última carta circular.21 É agradável para mim notificar-vos que há Inspetorias que já programaram propósitos concretos com respeito a forte relançamento oratoriano. É importante que o exemplo seja imita­do pelas outras Inspetorias e que se intensifique por toda a parte, de forma atualizada e com pessoal adequado, a presença e a inventiva do Oratório como critério permanente de pastoral juvenil.



O paradigma profético da sua juventude



Creio ser importante pôr em evidência outro aspecto, parti­cularmente sugestivo, que nos faz descobrir na existência juvenil do menino, do adolescente e do jovem Bosco a sua profunda orientação para Cristo, seu desejo de Evangelho e sua paixão por uma meta sacerdotal de apostolado juvenil entrevista como ideal supremo. A vida de João antes da ordenação presbiteral é deveras uma obra-prima de itinerário para a vocação. Além da corajosa e ajuizada fé da mãe e do fascínio de Jesus e Maria do sonho dos 9 anos, encontramos aí uma opção convicta de ideais, uma vontade decidida de empenho, a capacidade de penosas iniciati­vas, a flexibilidade no trabalho, o amor pelo estudo, a constância, a amizade para com os companheiros bons (a Sociedade da alegria), a procura de um diretor espiritual para uma decisão iluminada por algum sinal da vontade do Senhor. Peripécias, aventuras, incompreensões, pobreza, audácia, alegrias, êxitos, espe­ranças foram sempre iluminados pelo catecismo, pelas pregações, pela Palavra de Deus, pela frequência dos sacramentos, por sincera amizade a Jesus e a Maria. Isso o ajudou a superar muitas dificuldades, sem excetuar a falta de um bom diretor espiritual para a escolha do estado: “Oh — escreve — se então tivesse tido um guia, que tivesse tomado cuidado da minha vocação! Teria sido para mim um grande tesouro”.22

Alguns grupos juvenis latino-americanos escolheram com acerto, anos atrás, como biografia juvenil para comentar e apro­fundar, qual paradigma profético para estimular a própria pro­cura vocacional, os primeiros vinte anos de vida de João Bosco: um colega alegre, maleável, inteligente, campeão, entusiasta por Jesus Cristo e por seu Evangelho.

Eis aí uma bela sugestão para nos prepararmos bem para as celebrações de 1988: empenhar-nos com todas as forças numa programação de pastoral vocacional que, inspirando-se na atraen­te juventude de Dom Bosco, leve com simpatia os jovens de hoje a confrontar-se lealmente e corajosamente com o Evangelho para descobrir em Jesus Cristo o “homem novo”, o verdadeiro prota­gonista do nosso futuro, que propõe grandes motivos de existên­cia e fortes ideais de empenho.

Que bonito seria chegar às celebrações centenárias com uma legião de numerosas vocações! Um dos problemas mais graves e urgentes da Igreja de hoje é sem dúvida o das vocações. Seguin­do as exortações do Sumo Pontífice e dos Bispos, eu mesmo voltei várias vezes a esse argumento. A messe é grande em cada um dos continentes; o Senhor semeia germes em numerosos jovens. Trabalhemos. Seja um nosso sagrado propósito o de ajudá-los “a descobrir, a acolher e amadurecer o dom da vocação laical, consagrada, sacerdotal, em benefício de toda a Igreja e da Família salesiana”.23 Aproveitemos o modelo da aventurosa e atraente juventude de João Bosco, para fazer dela uma proposta concreta e interpelante.



Pai e Fundador



A inspiração do alto e a preocupação com a fidelidade impe­liam Dom Bosco a dar à pastoral do Oratório uma forma perma­nente, de dimensão universal. Isto levou-o à fundação da nossa Congregação: “Tenho necessidade de recolher meninos que me queiram seguir nos trabalhos do Oratório. Vocês querem ser meus ajudantes?”.24 Bem sabemos que isso custou-lhe muitas canseiras; tanto que desaconselhou outros de quererem aventurar-se pessoal­mente e tornar-se “fundadores”.25 Para ele esse empreendimento não foi uma opção arbitrária, mas o estuário para o qual havia sido orientada e guiada a sua vocação pessoal: “Mal saberia dizer como é que as coisas aconteceram. O que eu sei é que Deus queria isso”.26

Entre os elementos peculiares e mais significativos para a fundação da Congregação deve-se colocar seu trabalho pelas Constituições, aprovadas pela Sé Apostólica em abril de 1874: “Devemos saudar esse acontecimento — escreve ele com satisfa­ção — como um dos mais gloriosos para a nossa Congregação, pois nos afiança que, observando as nossas Regras, nos apoia­mos em bases estáveis e seguras”.27

Depois de quase vinte anos de intenso trabalho, temos hoje uma consciência renovada do valor das Constituições; estamos contentes com o fato de o texto renovado nos falar mais explici­tamente do Fundador e do seu coração oratoriano e nos estimular, do proêmio ao último artigo, a estar com ele para seguir a Jesus Cristo.

Parece mais que lógico, portanto, que um dos empenhos mais agradáveis ao nosso Pai e Fundador, por ocasião das cele­brações do seu centenário, deva ser justamente o de conhecer, amar e praticar a nossa Regra renovada. É essa uma tarefa que já vem do CG22 para o atual sexênio, mas que exige mais intensa acentuação precisamente com vistas a 1988. Redobremos, pois, o propósito já formulado em parte e iniciado após haver recebido o novo texto constitucional.

Voltemo-nos para Dom Bosco também com a oração. O fato de que o nosso Pai e Fundador é “santo” não nos pode deixar indiferentes. A “Lúmen Gentium” traça estimulantes diretrizes sobre o culto que devemos aos santos. Veneramo-los porque neles — e, pois, em Dom Bosco — “somos instruídos sobre o caminho seguríssimo pelo qual podemos chegar à perfeita união com Cristo”; e, além disso, “para que a união de toda a Igreja no Espírito se consolide mediante o exercício da caridade fraterna”.28 E, para além ainda do “exemplo” e da “comu­nhão”, devemos estar convencidos de que mediante esses “nossos irmãos e insignes benfeitores, rendemos devidas graças a Deus”. Além disso, é mais do que justo que os consideremos como amigos poderosos e que “os invoquemos com súplicas e que recorramos às suas orações, à sua intercessão e ao seu auxí­lio para impetrarmos de Deus as graças necessárias, por meio do seu Filho Jesus Cristo”.29 Acatemos essas exortações do Concílio. Intensifiquemos nossa devoção a Dom Bosco, Pai e Fundador, demos esplendor ao seu culto, renovemo-lo com a sábia atualidade que nosso zelo saberá excogitar.







O vasto movimento da sua “escola espiritual”



Um quarto apelo de dom Bosco ao seguimento de Cristo segundo o Evangelho podemos vê-lo na sua característica de “mestre” de um novo estilo de santificação. É um modo original nascido e provado no Oratório para estender-se para além da Congregação a toda a Família Salesiana. É o espírito de Valdocco, a alma do Sistema Preventivo, transplantado para Mornese, para Buenos Aires, França, Espanha, para todas as presenças salesia­nas do mundo, e estendido a incontáveis cooperadores, ex-alunos, institutos de vida consagrada, amigos. É um espírito que “tem sua fonte no próprio coração de Cristo, apóstolo do Pai”;30 que se inspira “na bondade e no zelo de S. Francisco de Sales”,31 que admira e imita em Dom Bosco “uma esplêndida harmonia de natureza de graça; dois aspectos fundidos num projeto de vida fortemente unitário”.32 Dele mana uma espiritualidade simples do dia-a-dia, feita de operosidade e bom senso, resistente à fadiga, generosa na doação de si, num clima de alegria sempre aberto aos horizontes da esperança. Espiritualidade com vivo sentido de Igreja, iluminado por filial dimensão mariana.

Nessa escola típica de santificação e apostolado, Dom Bosco matriculou “vasto movimento de pessoas” deixando à Congrega­ção Salesiana precisas responsabilidades de animação: “Manter a unidade do espírito e estimular o diálogo e a colaboração fraterna, para enriquecimento recíproco e maior fecundidade apostólica”.33

Parece, pois, evidente, que para uma adequada preparação às celebrações centenárias deva mobilizar-se em todas as nossas comunidades um sentido mais convicto e operativo de animação da Família Salesiana. É urgente dar mais importância ao envol­vimento de numerosos leigos no empenho da nossa missão. Seria acanhar horizontes e ter pouca visão do futuro encerrar-se simplesmente nas obras existentes e não lançar entre os outros o patrimônio espiritual, pedagógico e apostólico de Dom Bosco, que é deveras uma peculiar profecia do Evangelho para a reno­vação da sociedade.

Os inspetores, os diretores, todos os animadores deveriam sentir-se investidos de um urgente mandato para propor e apelar para tantas pessoas de boa vontade que, em diferentes níveis de empenho, podem concorrer para tornar mais atual o projeto evangélico e a missão social e eclesial de Dom Bosco.

1988 nos interpela. Urge sair de casa para proclamar por ruas e praças a mensagem de esperança juvenil testemunhada e planeada por Dom Bosco para uma nova sociedade, que os Papas qualificam, com constante e renovado título, como “civilização do amor”. Podemos e devemos fazer mais pela Família Salesiana!



Um centenário a ser preparado em toda a parte



O apelo para preparar o centenário com renovado critério oratoriano, com mais incisiva pastoral vocacional, com o teste­munho alegre e fiel da Regra renovada, e com mais inteligente solicitude e aplicação espiritual para a animação da Família Salesiana, é dirigido a todos, em cada Inspetoria e comunidade local. Esse modo vivo e envolvente de celebração centenária deve ser preparado em toda a parte! Deve ser a alma e a meta das outras manifestações comemorativas programadas.

Trabalhemos, pois, também para essas outras manifestações. Não é barulho triunfalista, mas método evangélico também, grato a Dom Bosco pedagogo: “Assim deve brilhar vossa luz diante dos homens, para que vejam o bem que fazeis e agradeçam ao vosso Pai que está no céu”.34 Dom Bosco não fez soar o clarim para enganar o povo, mas para fazer ver que os bons existem, para fazer reconhecer para eles por parte de todos uma honrada cida­dania, e para lembrar, sobretudo aos jovens, que o bem é mais forte que o mal. Pois o Senhor nos garante a sua vitória em gestação já nesta terra.

O inspetor com o seu Conselho preocupe-se com que fun­cione uma comissão organizadora e animadora. É uma ocasião extraordinária de forte animação salesiana, e seria imperdoável leviandade preteri-la.

Cada inspetor deve sentir-se também solidário no apoio, na contribuição, na colaboração em algumas iniciativas comuns, próprias da Congregação como tal, assumidas e cuidadas pelo Conselho Geral.



Algumas iniciativas a serem realizadas com o concurso de todos



O ano comemorativo do centenário terá início dia 31 de janeiro de 1988 e durará até 31 de janeiro de 1989. Como vedes, o tempo de preparação é um tanto escasso. Já antes do CG22 haviam chegado propostas ao Conselho Geral anterior. Mas era preciso esperar as eleições capitulares. Uma comissão especial do novo Conselho examinou as propostas que, avaliadas e aprova­das de maneira global, deveriam ser levadas a efeito na esperança de que não faltem os meios suficientes para fazê-lo.

Certamente a primeira tarefa a ser assumida em todas as Inspetorias é o já exposto acima acerca dos empenhos de reno­vação espiritual e apostólica das nossas comunidades e do envolvimento de tantas pessoas que se inspiram em Dom Bosco.

Pensa-se também em peregrinações e iniciativas, sobretudo juvenis, de tipo nacional e internacional em Valdocco e nos Becchi. Existem comissões “ad hoc”, que começam a programar.

Mas é, além disso, necessário abrir caminho para iniciativas concretas, que importam em notáveis esforços financeiros. Pode ser útil enumerar algumas mais importantes.

  • O “projeto-Colle” que importa: prevenir ulteriores dete­riorações da casa de Dom Bosco nos Becchi, já muito maltratada pelas intempéries; providenciar melhor arranjo da praça diante do templo, das estradas de acesso, dos serviços para estaciona­mento, tendas, etc.; conclusão e inauguração do grande museu missionário. Em ligação com os trabalhos do Colle será preciso também fazer reestruturações em Valdocco na basílica e nos locais contíguos para atender aos peregrinos.

  • Estão-se dando passos concretos para chegar, ao menos assim esperamos, à produção de um espetáculo para televisão, de qualidade, sobre Dom Bosco (em vários capítulos), feito por artistas e técnicos de importância internacional (a produção poderia depois ser adaptada para filme).

  • Pensa-se em estimular e tornar concretamente possível a estudiosos competentes a preparação e publicação de escritos sobre a figura de Dom Bosco. No seu alcance histórico e no da cultura do seu tempo, na espiritualidade, na pastoral e na peda­gogia etc. Quer-se facilitar, além disso, a produção de publicações e de outros meios de divulgação juvenil e popular. Propõe-se também oferecer prémios, atraentes e adequados, para concur­sos artísticos, literários e musicais.

  • Desejar-se-ia também dotar a nossa Universidade Pontifí­cia com apropriada “Biblioteca Dom Bosco”, como digno centro de pesquisa, estudo, elaboração e progresso das ciências vincula­das com a nossa missão.

Tudo isso evidentemente, e outras coisas que ainda podem aparecer, para não ficarmos apenas em fase de sonho, precisa de um suporte financeiro bastante elevado. O Ecônomo Geral, Pe. Homero Paron, que acompanha as coisas com ardoroso espírito de serviço e calculada esperança, já enviou um fraterno apelo a todas as inspetorias. Exorto-vos a levar em consideração seu convite para o “fundo-88”, torná-lo conhecido a benfeitores e amigos, a lembrá-lo na oração.

Em todos estes meses (menos de três anos) que nos separam do centenário, deveríamos todos saber realizar sacrifícios para cooperar (periodicamente e não de uma só vez!). O fundo-88 pode assim tornar-se expressão e medida da comunhão nos bens eco­nómicos que foi sempre tradicional entre nós, desde os tempos de Dom Bosco. Também a Regra renovada cita, entre as respon­sabilidades do inspetor, a de prover “a solidariedade para com a Comunidade mundial, especialmente nos momentos e modos solicitados pelo Reitor-Mor e seu Conselho”.35

Não será inútil observar que tudo o que se nos propõe para realizar tem, em última análise, uma finalidade eclesial, que multiplicará os seus efeitos benéficos sobre as duas grandes ver­tentes da nossa atividade salesiana: os jovens e as missões. Sim; quanto mais crescer o conhecimento, a simpatia, a gratidão, o contato com Dom Bosco e o seu carisma, tanto mais receberão em serviço evangélico e em projeção humana “os pequenos e os pobres”.

Queridos irmãos, recorramos muitas vezes e com confiança a Nossa Senhora Auxiliadora, Mestra e Guia de Dom Bosco na sua vocação, para que ilumine e assista também a nós neste retorno providencial às fontes, por ocasião da data centenária da morte do nosso querido Pai, o amigo dos jovens nos cinco continentes.

A todos, minha cordial saudação. Para cada um, minha oração.

Cordialmente,








1 Cf. Constituições art. 9.

2 Cf. id. art. 24.

3 1Cor 11,1.

4 Constituições, art. 3

5 Ib. art. 196; cf. 60.

6 Ib. art. 20.

7 Ib. art. 34.

8 Ib. art. 31.

9 Ib. art. 37.

10 Ib. art. 98

11 Ib. art. 146.

12 Ib. art. 11.

13 Constituições, art. 40.

14 Constituições, art. 40.

15 Cf. Lumen Gentium, 46.

16 Cf. Constituições, art. 10.

17 Mutue Relationes, 11.

18 Cf. Atos do Conselho Geral n. 290.

19 O escritor comunista Umberto Eco em “L’Espresso”, 15.11.81.

20 Cf. Annali I, cap. 59, pág. 622-633.

21 Memorie dell’Oratorio, Ristampa, pág. 80.

22 Memorie dell’Oratorio, Ristampa, pág. 80.

23 Constituições, art. 28.

24 Memorie Biografiche 3, 548-550.

25 Cf. Ib. 7, 49.

26 Ib. 12, 78.

27 Introduzione alle Costituzioni, Torino, 1885, pág. 3.

28 Cf. Ef 4,1-6.

29 Lumen Gentium 50.

30 Constituições, art. 11.

31 Ib., art. 4.

32 Ib., art. 21.

33 Ib., art. 5.

34 Mt 5,16.

35 Regulamentos, art. 197.