Solenidade da Imaculada Conceição de Maria


Solenidade da Imaculada Conceição de Maria

1. CARTA DO REITOR-MOR





«Um amor sem limites a Deus e aos Jovens»1


1. A castidade pelo Reino. O que professamos. – O clima cultural. – A certeza inspiradora: um amor que anuncia o Ressuscitado e o espera. – 2. Castidade e carisma salesiano. No sulco de uma tradição. – A serviço do amor educativo. – Sinal de doação total. "Como um postulado da educação". – Complementaridade enriquecedora. 3. O caminho para a maturidade. Uma emergência que desafia e interpela. – Um caminho a assumir. – Discernimento vocacional e formação inicial. – A parte da comunidade. Conclusão: a força de uma profecia.




Roma, 8 de dezembro de 1998



Queridos irmãos,


Estou escrevendo no início do ano jubilar dedicado ao Pai, do qual provêm todos os dons. Entre os dons maiores recebidos em nossa existência está, depois do Batismo e da vida cristã, a graça especial da consagração sobre a qual vos convidei a refletir na carta anterior.

Nela «sobressai o precioso dom (…) dado pelo Pai a alguns (cf. Mt 19,11; 1Cor 7,7) de votar-se a Deus somente, mais facilmente e com coração indiviso (cf. 1Cor 7,32-33) na virgindade e no celibato»2.

Pareceu-me oportuno continuar, então, o discurso iniciado propondo-vos algumas idéias sobre esta dimensão da nossa consagração.

As Constituições apresentam a manifestação singular que este dom tem em nosso carisma, quando afirmam que é «um amor sem limites a Deus e aos jovens»3. Ele inclui a doação total de si e dispõe a enfrentar com maior liberdade e prontidão também o risco de vida nas fronteiras da missão ad gentes, a solidariedade com os pobres, as situações em conflito.

Enquanto estou concluindo a redação desta carta, tornaram-se públicos os nomes dos missionários e missionárias mortos em 1998 em contextos de guerra, fundamentalismo religioso e conflitos étnicos: um total de trinta e um, que se somam aos numerosíssimos que formam o martirológio do século XX.

Sobre esse fundo, marcado pela história de irmãs e irmãos que não hesitaram em dar a vida, gostaria de colocar a minha reflexão sobre «um modo intensamente evangélico de amar a Deus e aos irmãos»4 realizado através do voto de castidade. Proponho-me, com esta reflexão, evidenciar «o valor educativo da nossa consagração religiosa na vida cotidiana»5, segundo quanto nos propusemos na programação do sexênio.


1. A castidade pelo Reino


O que professamos.


A Exortação Apostólica Vita Consecrata não trata cada um dos conselhos evangélicos em separado. Une-os na graça única da seqüela, limitando-se a explicitar cá e lá significados, valores ou exigências particulares de cada um deles. Sublinha, assim, o caráter de relação pessoal com o Senhor que tem a profissão e a dimensão mística dos votos. Cada conselho compreende atitudes e empenhos específicos, mas acaba por compreender os outros dois. É difícil pensar numa castidade coerente e luminosa destacada da pobreza, que consiste na oferta total dos próprios bens materiais e pessoais, ou de uma obediência do coração, que coloca a si mesmo a qualquer custo à disposição da missão. E vice-versa.

Vita Consecrata não apresenta nem mesmo um discurso extensivo sobre o conjunto dos conselhos, mas insere algumas idéias sobre eles quando trata da consagração, da missão e da comunidade fraterna. Os conselhos são condições para a realização serena e coerente desses aspectos fundamentais da nossa vida e refletem-se em cada um deles.

A clareza com que o evangelho fala da castidade, a freqüência com que os documentos da Igreja e da Congregação, mesmo em tempos recentes, estudaram o argumento ajudaram-nos a adquirir um quadro suficientemente seguro sobre o sentido da castidade consagrada: é um dom do Pai e, da nossa parte, uma resposta livre de amor que nos leva a conformar-nos ao gênero de vida virginal escolhido por Jesus. E são assim também alguns compromissos que ela comporta: o celibato como estado de vida e a prática da continência própria de tal estado, a vontade de doação sem limites a Deus e aos jovens. Doutrinalmente adquirida é também a ascese exigida pela prática da castidade, expressa quase sempre numa série de indicações que compreendem meios humanos e sobrenaturais.

O clima cultural em que vivemos sugere, contudo, que se faça uma reflexão pessoal e contextualizada sobre este conselho6.

Estamos, de fato, quase submersos por imagens, mensagens, opiniões e explicações que se referem à sexualidade, enquanto o silêncio sobre a castidade é quase total.

Isso leva a interrogar-se sobre a atual prática da castidade, sobre as condições a serem exigidas e criadas para que seja amadurecedora e serena, sobre a sua força de testemunho, sobre os percursos pedagógicos e espirituais que nos possam levar à sua significativa realização num mundo que parece não levá-la em consideração.


O clima cultural,


Um certo silêncio sobre a castidade cristã, também de nossa parte, pode derivar da mudança cultural que torna mais difícil hoje do que ontem perceber o seu significado humano e falar, em termos realísticos e delicados, sobre alguns problemas que ela suscita, como as expressões legítimas do amor, a forma do casal, as práticas que se referem à vida, a culpabilidade ou não de determinados comportamentos pessoais.

A reflexão católica è submetida a esforços particulares pela complexidade das questões e pela variedade das opiniões. Procura respostas às interpelações, aprofundando o caráter da pessoa, o papel da consciência, o influxo da situação, a orientação existencial. Juízos sumários, portanto, também formalmente corrigidos mas sem suficiente análise ou aprofundamento, acabam por não resolver interrogativos urgentes levantados pela castidade.

Entre os elementos que marcam a presente evolução está, sem dúvida, a valorização da sexualidade. Ela é complexa. A ela é reconhecido um influxo determinante no desenvolvimento da personalidade. É considerada uma riqueza a explorar, mais do que um instinto a debelar. É colocada em relação com aspectos muito sentidos da pessoa como a maturidade, a realização completa, a capacidade de relação, o prazer, o equilíbrio interior que sabe superar complexos, sentimentos de culpa e inseguranças. Essa perspectiva positiva é assumida também pelo pensamento da Igreja, como demonstram a abundante catequese de João Paulo II e a vasta literatura moral e espiritual.

Por outro lado, caíram os controles sociais e, às vezes, também os familiares. Há tolerância pública e defende-se o direito de opções diversas; antes, imprensa, literatura, espetáculos exaltam muitas vezes a transgressão e apresentam os desvios como opções possíveis, conseqüências de condições pessoais. Qualquer dimensão ética, mesmo apenas humanística, é desvalorizada quando não ignorada, até em programas oficiais amplamente difundidos. Existe a preocupação de viver a sexualidade apenas de modo gratificante e seguro de riscos para a saúde física ou psíquica, separada de componentes que lhe dão sentido transcendente e dignidade humana.

O corpo é valorizado e quase exaltado em suas diversas possibilidades: saúde, forma, beleza, expressão artística, prazer. Está no centro de muitas preocupações e relativas indústrias que respondem e estimulam a novos interesses: ginástica, esporte, cosmética, dança. O pensamento cristão sublinha que o corpo é chamado a integrar-se sempre mais no projeto vocacional, que o homem não tem só um corpo, mas é corpo capaz de exprimir o que o espírito sente e quer comunicar: amor e alegria, ânsia e raiva, atenção pelo outro ou exclusivo interesse por si.

A evolução cultural em seu conjunto e as contribuições de um feminismo equilibrado colocaram às claras a originalidade da mulher, as riquezas do seu gênio e a complementaridade recíproca com o homem. As intervenções de João Paulo II a respeito são sinal também de uma mudança eclesial. A conseqüência, para nós, é uma maior proximidade à mulher, que se expressa na presença comum em todos os âmbitos, na colaboração, na relação mais livre, que não poucas vezes leva à confidência, à familiaridade e à amizade.

Nossas sociedades tornaram-se, ainda, alérgicas a controles e leis que pretendam adentrar-se naquela que é tida a esfera do privado, e, por isso, as mesmas normas morais suscitam reações e têm dificuldade de encontrar espaço em âmbito civil para expressar nele o seu profundo valor humano e religioso. A sexualidade, o amor e, em certo sentido, a família são privatizadas. Não poucos comportamentos e opções pessoais sobre isso deixaram de ser avaliados a partir de uma consideração moral, aceita de modo comum, mas dos direitos da pessoa, considerada ora em sua irredutível dignidade ora confundida com uma liberdade arbitrária.

A transformação cultural em ato comporta desenvolvimentos positivos e custos pesados. Entre os primeiros, podemos enumerar a maior liberdade no viver as próprias opções, a percepção de vazios que pedem para ser preenchidos, sendo-o de fato através da volta do desejo de um amor autêntico, da busca e da oferta do gratuito, isto é, do que não pode ser comprado, mas descoberto e vivido fora dos intercâmbios.

Entre os custos pesados, existe uma insistência exagerada da subjetividade em matéria sexual; o enfraquecimento ou desaparecimento do liame matrimonial e o temor de assumi-lo, com as conseqüentes "adolescências prolongadas"; a proliferação de imagens e material sexual de baixo teor, praticamente à mão de todos, através dos canais e redes autorizadas ou clandestinas.

Tudo isso produz uma ambigüidade que desafia, não só a capacidade de avaliação, mas também o controle dos desejos. Se, de um lado, defende-se tenazmente a dignidade da mulher, que é bem mais do seu corpo, de outro, continua-se a apresentá-la como objeto erótico na publicidade e no cinema. Estimula-se a expressão livre da sexualidade, mas reage-se com dureza quando, descontrolada, ela não reconhece limites. Insiste-se na "emoção", particularmente dos jovens, através de imagens e slogans, e pretende-se deles constância e fidelidade, fruto de capacidade reflexiva e projetual. A conquista dos mercados leva a mídia a voltar-se para a eficácia comunicativa, quando não sobre a esperteza tecnológica, mais do que sobre a oferta de uma visão verdadeira e profunda da realidade.

O clima envolve os jovens aos quais a primeira informação sobre a sexualidade e a castidade chega confusa e ambígua. E não poupa os religiosos, nem sequer aqueles que anteriormente tinham interiorizado a sua visão cristã. Pode derivar daí, também para nós, um queda de sensibilidade, que nos torna quase indiferentes quanto às avaliações ou comportamentos e diminui o valor específico da nossa opção consagrada. Pode desaparecer o rigor da vigilância, que evita expor-se em ocasiões negativas, por parte de quem escolheu colocar Jesus no centro do próprio coração. Podem ser geradas, nos pastores e educadores, uma incerteza na orientação das consciências em comunhão com a Igreja, e na proposição, de modo convincente, da castidade como valor essencial na construção do homem e do cristão.

Isso pode tornar-se muito arriscado, se a educação recebida por nós, que teve seus limites ao lado de inegáveis méritos, não nos tenha munido suficientemente dos instrumentos necessários de avaliação, de atitudes consolidadas de vida, de honestidade interior capaz de desmascarar as racionalizações de que o mal freqüentemente se reveste.

Vita Consecrata convida a responder às provocações da cultura com «a prática alegre da castidade perfeita, como testemunho do poder do amor de Deus na fragilidade da condição humana»7.

Nós Salesianos advertimos a necessidade de uma mobilização interior, pessoal e comunitária, para viver, com mais alegria e com transparência mais irradiante, esta virtude que configura os membros de Cristo à total liberdade e capacidade de dom de sua Cabeça.

Só com o olhar voltado para ele, seremos capazes de perceber o significado da castidade, sobretudo na forma profética e peculiar que brilha no dom da virgindade, professada pelo Reino dos céus, nas comunidades religiosas.



A certeza inspiradora: uma amor que anuncia o Ressuscitado e o espera.


É impossível enfrentar qualquer questão específica da castidade cristã sem buscar suas raízes mais profundas na palavra de Deus. E, mais do que em textos particulares, que certamente não faltam, o fundamento da castidade consagrada e o seu significado devem ser buscados na pessoa mesma de Jesus, Palavra total e definitiva de Deus. Ele é celibatário pelo Reino, para manifestar visivelmente o amor de Deus por todos e cada um. Inaugura assim um outro modo de ser pessoa, em quem a sexualidade realiza, com total liberdade, a pertença plena ao Pai e a doação até o extremo pelos homens.

Tomo da Bíblia apenas algum estímulo que julgo particularmente adequado ao nosso presente. Servirá como convite a aproximardes da Palavra de forma pessoal e tranqüila para colocar a reflexão toda em seu contexto pleno de luz e graça.

O Antigo Testamento entrevê a revelação futura da virgindade pelo Reino quando Jeremias, colocando o seu celibato a serviço da missão profética8, introduz a imagem da virgem de Israel9. A expectativa normal do Antigo Testamento, porém, é a fecundidade, abençoada por Deus com filhos que chegam, de geração em geração, para confirmar as promessas de Javé e a esperança de dar condições, na própria carne e no próprio sangue, à vinda do Messias.

O dom da virgindade pertence ao Novo Testamento e traz em seu cerne – como dizíamos – a memória de Jesus, que a viveu com simplicidade e exprimiu seus conteúdos com a própria existência, entregue ao Pai e ao serviço dos irmãos.

É fácil perceber no Novo Testamento uma acentuação da relação personalíssima que liga o discípulo a Jesus: aparece particularmente forte e propositiva no evangelho de João; desenvolve-se no diálogo de Jesus com Nicodemos e com a Samaritana; torna-se familiaridade na casa de Lázaro, Marta e Maria; demonstra-se fiel na hora da cruz, num entrelaçamento de recíproca entrega e paixão, que vê como protagonistas Jesus, a Virgem Maria, o discípulo predileto.

É justamente o ícone do discípulo que Jesus amava10 que demonstra a centralidade do amor pessoal. O "discipulado" tem sua origem e expressão no amor crente e obediente. Ele é o fundamento do "apostolado". É esse o sentido do diálogo com Pedro no capitulo 21 do evangelho de São João: nele, o amor pessoal pelo Mestre é exigido como condição imprescindível, em vista da entrega do ministério pastoral: «Amas-me mais do que estes?»11.

Trata-se de um amor marcado pela intimidade imediata entre Jesus e o discípulo predileto, que, na última ceia, repousa a cabeça sobre o coração do Mestre. É amor contagioso, que lhe fica ao lado na prova. É amor iluminado, que no dia da Ressurreição "crê sem ver", e mantém o olhar aguçado, capaz de reconhecer o Ressuscitado à margem do lago, mesmo em meio às brumas da manhã. É amor que dura «até que Ele venha»12.

Acredita-se, hoje, que o discípulo que Jesus amava seja também o "tipo" do cristão maduro, que fez de Cristo o centro, a causa, o "primeiro amor" da própria vida. Existe também uma tradição eclesial, antiga e sempre viva, que vê no discípulo predileto o "símbolo" da virgindade e do "coração indiviso", como uma premonição da vida consagrada, que faz de Cristo o amor único e soberano da própria existência, capaz de dar vigor e regra a todos os outros amores. Sua casa é com Maria, no coração da Igreja. Sua família é a companhia dos irmãos e das irmãs, aos quais é dado o dom do mesmo chamado. Seu destino é durar "até o Seu retorno", escrevendo, de modo sempre novo, a longa história dos amigos e seguidores de Jesus.

A compreensão dessa novidade não foi fácil. A mudança introduzida por Jesus no costume corrente, em homenagem ao plano originário de Deus – «no princípio não era assim»13 – era por demais radical. Jesus mesmo afirma – respectivamente diante da fidelidade matrimonial e do celibato pelo Reino – que «nem todos entendem este ensinamento, mas somente aqueles aos quais Deus dá a capacidade de fazê-lo»14: «outros, depois, não se casam para melhor servir o reino de Deus. Quem puder entender procure entender»15.

«O que é, então, este Reino de Deus que habilita até mesmo a renunciar ao matrimônio? É o amor paterno, materno, esponsal de Deus pelo homem, de que fala toda a Escritura; o doce senhorio do Pai, através de Cristo, no Espírito, sobre quem se decide a responder com amor filial e esponsal. É a percepção da irrupção do Reino: essa é a raiz da virgindade cristã»16.

Se Jesus prega o Reino, os apóstolos pregam Cristo, que incarna a sua plenitude definitiva. A virgindade faz memória dele. Ele é o Reino que, em espírito e verdade, reinicia a humanidade no destino de Graça, preparado pelo Pai.

O Apocalipse vê na virgindade o sinal da esposa, "que desce do céu, de Deus"17 e que, da terra, sobe até Ele. Ela significa, pois, proximidade a Cristo Senhor, a felicidade de acompanhá-lo em comunidades alegres, que se exprimem com um cântico novo, carregado de beleza e de mistério, tensão sustentada pela esperança de um encontro definitivo. Pela entusiasmante descoberta de Cristo, «o estado religioso mais fielmente imita e continuamente representa na Igreja a forma de vida, que o Filho de Deus abraçou, quando veio ao mundo para fazer a vontade do Pai, e que propôs aos discípulos que o seguiam»18.

O nosso voto é um sinal indicativo de Cristo: vivo, ressuscitado, presente na Sua Igreja, capaz de enamorar os corações, com aquele "amor", que a Igreja canta há séculos em sua história e na liturgia.

Pela castidade, o religioso faz-se imagem e primícias da Igreja, entregue toda – só e para sempre – ao Seu Senhor. A sua identificação com a Igreja acontece e expressa-se sobretudo no dom total de si. «Não há virgindade que seja fecunda e cheia de significado em si (…); ela adquire o seu sentido e a sua fecundidade unicamente a partir da total entrega na Igreja»19.

A virgindade cristã surge com o mistério da cruz, com a abertura da ferida no peito de onde nasce a Igreja, como "corpo e esposa de Cristo". Esta expressividade eclesial é a razão pela qual em cada voto se recapitulam também os outros dois. «A obediência é a pobreza do espírito por amor, e a virgindade, que é a pobreza do corpo por amor, torna-se fecunda somente lá onde tem cono pressuposto o sacrifício espiritual»20. A castidade – também nesta linha – configura-nos a Cristo que, "de rico que era, fez-se pobre por nós"21. O religioso – a exemplo de Cristo, morto nu numa cruz – encontrar-se-á no final da sua existência, como homem sem família e sem fortuna, que não construiu nada por própria conta, cujos olhos estão fixos em Deus, que, unicamente, dá significado à sua existência.

A castidade exprime assim uma forma madura de liberdade, que é a opção de doar-se sem economia, de realizar de forma insólita a dimensão pessoal, de entregar-se totalmente à própria missão sem nada buscar nem reter para si. Esse é o testemunho que tantos missionários de ontem e de hoje – e muitos irmãos salesianos entre eles – deram e dão à Igreja, quando, nos postos avançados da missão, entregam continuamente tudo, também a própria vida, exposta com freqüência a riscos mortais, pela fidelidade ao povo a eles confiado. Descobre-se dessa forma a presença operosa do Mistério Pascal no coração da Congregação e de nosso irmãos melhores. A história da Igreja, especialmente nos países de missão, e as crônicas dramáticas dos últimos anos confirmam amplamente que não estamos brincando com palavras, mas apenas esforçando-nos por ler "fatos de Evangelho".

A totalidade incondicional da oblação é o âmago da castidade de Maria, que – no ato de dizer Ecce ancilla Domini, «Eis aqui a serva do Senhor»22 – entrelaça a castidade mais alta com a autoentrega total ao projeto de Deus.



2. Castidade e carisma salesiano.


No sulco de uma tradição.


Basta recordar a atenção de Dom Bosco pela virtude da pureza, em que ele via um componente essencial do crescimento cristão do jovem, a garantia do clima educativo da casa salesiana, a premissa da autoentrega do salesiano e do jovem a Cristo e à Igreja.

É unânime o testemunho dos contemporâneos sobre o fascínio que o exercício dessa virtude conferia a Dom Bosco, tornando-se um dos mais límpidos lineamentos da sua santidade. Não causa estupor, portanto, que o nosso santo Fundador sonhe os Salesianos caracterizados pela castidade e coloque essa virtude na encruzilhada de exigências educativas, de caminhos de santificação pessoal na seqüela de Cristo, de urgências proféticas ao serviço dos jovens e do povo de Deus.

Nosso Pai gozou certamente de um dom extraordinário para ajudar os jovens a viver a castidade com alegria. Em uma nota pessoal o P. Giovanni Bonetti, falando de Dom Bosco, observa: «Ouvi-o falar muitas vezes do púlpito sobre o assunto, mas confesso que, sempre, cada vez mais do que as outras, experimentava a força de suas palavras, e sentia-me impelido a qualquer sacrifício por amor de tão inestimável tesouro»23.

Relendo a práxis de Dom Bosco24, chega-se à convicção de que a qualidade global do ambiente educativo, a paternidade amorável do próprio Dom Bosco, educador e confessor, a contínua proposta serena dos meios sobrenaturais (Eucaristia, Penitência, amor a Maria), o espírito de mortificação e a fuga das ocasiões, um estilo de vida cheio de alegria, vivido e proposto positivamente eram as pistas sobre as quais o nosso Fundador insistia de preferência e indicava com convicção aos educadores, para formar os jovens à castidade.

Não foi apenas um traço da sua santidade pessoal, mas elemento do carisma. Dom Bosco inaugura uma tradição. No 20º aniversário da sua morte, o Bem-aventurado Miguel Rua escreve uma das suas cartas mais acaloradas, intitulando-a Vigilância. Sua preocupação é dar a conhecer «aquilo que aos poucos a experiência nos ensina ou que as necessidades dos tempos presentes nos sugerem»25. A carta foi publicada no dia seguinte à difícil prova, conhecida na história da Congregação como os fatos de Varazze26. «Uma avalanche de calúnias e de acusações horríveis fundiu-se num instante como névoa ao sol» – escreve o P. Rua – evocando as palavras de Dom Bosco: Est Deus in Israel. Niente ti turbi. Fazendo tesouro da dolorosa experiência, o Bem-aventurado acrescenta, porém, com sereno realismo: «Não podemos ter ilusões: os nossos pensamentos são escrutados, as nossas ações são recolhidas e avaliadas». Parece claro o propósito de infundir coragem num momento de prova, ma também de prevenir fatos que pudessem dar lugar a críticas e acusações num campo tão delicado, como o juvenil e educativo.

Sob esse aspecto, é preciso dizer que – desde então até hoje, em muitas partes do mundo – o clima tornou-se ainda mais sensível e exigente.

O P. Paulo Albera, igualmente, em 1916, achou oportuno escrever uma carta Sobre a castidade27,densa de elementos, derivados da tradição salesiana, e atenta em fornecer os grandes meios de fidelidade: Eucaristia e Penitência, oração e devoção a Maria, mortificação, humildade e prudência. A carta é também colocada num determinado contexto. Iniciava-se então a propor, como parte da educação dos jovens, uma informação mais sistemática e fundada sobre as questões sexuais. Nada mais natural que recordar a delicadeza de Dom Bosco e apresentar as expressões usadas por ele ao propô-la e os caminhos que indicava para desenvolvê-la.

P. Alberta insiste no caráter ofertorial da castidade, com referência à Carta de São Paulo aos Romanos: «Exorto-vos, pois, irmãos, que ofereçais os vossos corpos como oferta viva, santa e agradável a Deus. Seja este o vosso verdadeiro culto espiritual»28.

Seu segundo sucessor – tido como caríssimo por Dom Bosco – colheu bem o fundamento evangélico da castidade, que o nosso Fundador anunciava mais com o estilo de vida, totalmente entregue aos jovens, do que com os discursos: a oferta eucarística prolonga-se na vida, que repete humilde, mas firmemente: «Este é o meu corpo dado por vós»29.

O P. Pedro Ricaldone, com o coração ainda muito cheio das celebrações da Páscoa de 1934, que vira a canonização de Dom Bosco, oferecia a sua carta Santidade é pureza, como coroação daquele ano inesquecível. Tratava-se de uma escolha calculada e radicada na certeza de tocar um dos pontos mais nevrálgicos do espírito salesiano. P. Ricaldone dizia-se convencido de não fazer a Dom Bosco «coisa mais agradável do que exortar todos os Salesianos a refletirem sem trégua que a nossa santidade deve manifestar-se especialmente com um vida de candura e pureza virginal»30.

Em 1977, o P. Luigi Ricceri, com a carta Viver hoje a castidade consagrada, propunha de novo, «obedecendo a um preciso ditame» da consciência, «o testemunho típico da castidade salesiana». É uma carta interessante, ainda de grande atualidade, que vos convido a reler como complemento desta. Coloca-se no contexto do clima dos inícios destes anos que estamos vivendo plenamente: contexto novo e desafios novos por parte do mundo e interpelações por parte da Igreja: um contexto marcado no interior da Congregação pelo doloroso problema das defecções freqüentemente tocadas, embora não unicamente, por vazios, por faltas de fundamento, por imprudências ou descuido neste campo.

Talvez, muito sumariamente, as severas palavras de Dom Bosco sobre a castidade, tenham sido atribuídas ao contexto cultural e ascético da sua época, certamente não sem limitações igualmente sérias. Hoje compreendemos melhor que somos chamados a ler, também nelas, a sabedoria de um santo, profundo conhecedor do coração humano, que via com preocupação as conseqüências negativas, mesmo distantes, de algumas tendências e atitudes. Tornam-se atuais – à luz de quanto, com freqüência, é publicamente denunciado hoje – as reflexões de Dom Bosco durante o terceiro Capítulo Geral de 1883: «Faltando contra a moralidade, perde-se diante de Deus a alma, diante do mundo a honra»31. «O Senhor – observa em outra ocasião – dispersaria a Congregação, caso faltássemos à castidade»32.

Os dramas educativos da nossa época, os abusos contra menores dentro e fora da família, a prostituição de menores, organizada e transformada em nova escravidão no contexto de um turismo depravado, as formas atrozes de pedofilia, o renovado "tráfico de escravos" em relação a mulheres indefesas, jovens adultos e adolescentes, confirma-nos que esse não é um problema apenas de religião, mas de urgência ética, não é uma questão de virtude privada, mas de necessidade de justiça pública, não é problema exclusivo da Igreja, mas responsabilidade de uma sociedade civil que se preocupe com o próprio futuro e dignidade.


1 A serviço do amor educativo.

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Quando buscamos os motivos profundos da insistência que percorre a nossa tradição vêm-nos à mente algumas expressões com que Dom Bosco expressa o seu amor aos jovens e que, talvez, nós hoje tenhamos dificuldade de repetir: «Eu vos amo, caros jovens, e por vós estou disposto a dar a vida!». Ou aquelas que lemos no prólogo do "Jovem Instruído": «Meus caros, eu vos amo a todos de coração. (…) Posso-vos garantir que encontrareis livros com propostas de pessoas muito mais virtuosas e mais doutas do que eu, mas dificilmente podereis encontrar quem mais do que eu vos ame em Jesus Cristo e que mais deseje a vossa felicidade»33.

«O celibato… é um estado de amor»34, que faz de nós «sinais e portadores do amor de Deus aos jovens»35. Professam-se os votos para amar evangelica e educativamente, com maior liberdade e eficácia. É coisa adquirida que a castidade não deve ser separada da caridade. São Francisco de Sales afirma-o com a sua costumeira simplicidade e elegância: «Saberemos que a nossa oração foi boa e que nela nós progrediremos se, depois dela, o nosso rosto resplender de caridade e o nosso corpo de castidade»36.

Sabe-se que a caridade pastoral, que constitui o coração da missão salesiana em âmbito educativo, exprime-se de forma "sensível": «Procura fazer-te amar», «Que os jovens vejam que os amais». Não se trata, então, só de proximidade e profissionalismo, mas de amizade, afeto paterno e materno que eleva, suaviza e, muitas vezes, supre o que faltou aos jovens. E isso tudo, olhando para o bem deles e não para a nossa satisfação, sem mecanismos de captação ou posse, sem ambigüidade ou cansaço nas inevitáveis provas de falta de correspondência ou incompreensão. Quem fez experiência disso entende o peso das palavras de Dom Bosco: «Aquele que gasta a vida em prol dos jovens abandonados deve certamente fazer todos os esforços para enriquecer-se de todas as virtudes. Mas a virtude que se deve sumamente cultivar… é a virtude da castidade»37.

Também neste âmbito central do nosso ministério educativo vem-nos dada uma "graça de unidade", pela qual a caridade torna-se geradora de pureza e a delicadeza, comunicação ótima do afeto.

«A chave da castidade salesiana – nota o P. Ricceri – é a caridade salesiana»38. O estilo da caridade salesiana é profundamente marcado pela castidade. Ela liberta e exprime, tempera e protege, confere originalidade ao amor do educador e pastor.

Antes de tudo torna-o capaz de gratuidade. Sua alegria consiste em ver crescer cada um dos jovens e por isso "dá a vida" no paciente acompanhamento cotidiano. Deseja a correspondência e fica contente porque vê nela o sinal de que o jovem acolheu aquilo que o educador lhe vai propondo; mas, diante da resistência, é também capaz de esperar e de oferecer novas oportunidades de salvação.

A castidade inspira, ainda, um carinho transparente e puro como o modelo de Dom Bosco, de quem cada um sentia-se predileto, de acordo com os sinais de um amor que se faz legível com inexaurível criatividade: «um amor sem um mínimo movimento de retorno sobre si»39, que não se corrompe e nem sequer sugere de longe qualquer tipo de ambigüidade.

Este tipo de amor educativo dá origem ao espírito de família, autêntica forja da casa e da obra salesiana40. A caridade mantém o fogo aceso; mas a castidade exalta a sua luz e calor. Estimula a acolhida pronta dos irmãos e dos jovens, cultiva o gosto pelo serviço da casa, abre o coração a amizades límpidas e profundas41 e, no encontro de corações tranqüilos, faz-se escudo e apoio da perseverança e da alegria de Salesianos e jovens. «Aqueles que Deus leva a separar-se de seus parentes próximos pelo Seu amor – observa J. H. Newman – encontram ao seu lado irmãos no espírito. Aqueles que permanecem sozinhos pelo Seu amor têm filhos no espírito, criados por eles»42.

Dom Bosco «adverte-nos que o seu método exige que amemos a juventude não só santamente e sobrenaturalmente, mas também de modo sensível; e este amor deve ter todo o perfume da vida de família e as expansões santas da amorabilidade»43. O P. Ricaldone hesita44 em falar de "caridade sensível", e não é o único; mas compreende que se trata da palavra justa para exprimir a intenção de Dom Bosco, que "desejava que o aluno não só percebesse, mas sentisse a caridade do seu educador".

Essa dimensão é tão central, que o CG24 a retoma sob o título Espiritualidade da relação: espírito de família. Para livrar a relação educativa de possíveis aspectos de captação ou manipulação, ela «deve ser cheia de caridade, até ser transformada em expressão de autêntica espiritualidade. Seu fruto e sinal é a castidade serena, tão cara a Dom Bosco, que rege o equilíbrio afetivo e a fidelidade oblativa»45.

Situações graves, que colocam em risco a vocação salesiana, podem ter o seu início na dificuldade de conjugar ao mesmo tempo caridade generosa e castidade prudente, audácia apostólica e regularidade comunitária. A parábola de determinados caminhos, iniciados com sincero desejo de serviço, mas progressivamente falidos, convida cada um a sentir-se responsável pela alegre perseverança do irmão, dando-lhe o calor da amizade, a alegria da família, a ajuda da correção fraterna.


2 Sinal de doação total.

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«Por vós estou disposto a dar a vida», «quem gasta a vida pelos jovens…» são expressões de Dom Bosco para definir o propósito interior que garante a prática do Sistema Preventivo.

A virgindade de Jesus, de Sua Mãe, de José seu esposo é o sinal da própria autoentrega incondicional ao projeto do Pai pela salvação dos homens. Eles não tiveram um projeto pessoal ou, se tiveram-no, abandonaram-no no mesmo momento em que receberam a sua vocação especial. Tornaram próprio o plano de Deus. Não tiveram uma família própria, mas só a Família de Deus; nem uma descendência, mas apenas aquela incluída na Promessa de Deus.

Maria "Tota pulchra" vive radicalmente entregue a Deus. «Não só participa da forma de vida que consiste na entrega de si, mas é implantada nela como sua alma»46. É o seu modelo, motor, impulso e ponto de atração.

O "Totus Tuus" – repetido por João Paulo II – é a atitude interior de Cristo, que veio fazer a vontade do Pai até à morte, e à morte de cruz.

Diante destes parâmetros sentimo-nos pequenos e tornamo-nos sempre mais conscientes da nossa pobreza. Jesus ama-nos, por isso, com amor de predição. O essencial é que, em nossa resposta ao Seu amor eterno, lhe damos tudo, quem sabe apenas dois trocados, como a viúva do Evangelho47. Desde que seja tudo o que somos, tudo o que temos. Será difícil para nós compreender totalmente os votos religiosos, a não ser no interior desse contexto, em que se coloca a nossa paciente navegação até à plenitude da doação a Deus na missão.

Os votos são três sinais da atitude total e única com que nos abandonamos à fidelidade do Senhor, e que transfigura evangelicamente todos os valores da nossa existência.

«Dom Bosco viveu a castidade como amor sem limites a Deus e aos jovens»48. Eles tornaram-se – pela força do dom do Espírito – a sua família. Consumiu-se para encontrá-los, recolhe-los e educá-los. Queimou o seu tempo para alcançá-los, onde quer que estivessem, nas prisões e nas ruas, através das "Leituras Católicas" e as coleções de livros escolares. Construiu para eles uma casa, para dar-lhes alimento e roupas, uma família e uma escola, apesar da exigüidade dos meios.

Há na tradição espiritual do Ocidente, um significado da locução pureza evangélica, que merece ser novamente descoberta49. Ela refere-se, de um lado, à profundidade com que os anjos contemplam a Deus e, de outro, à prontidão com que se fazem mensageiros de salvação junto aos homens e se transformam em companheiros daqueles que Ele ama, acompanhando-os em meio às dramáticas vicissitudes do mundo. Trata-se de uma virtude missionária, que deve ser recuperada e explicitada, por analogia, a respeito da vocação dos Salesianos, chamados a serem companheiros e educadores dos jovens. A castidade torna totalmente "disponíveis: a estar aqui ou correr até lá, a levar uma vida recolhida de estudo e educação ou a ousar quando e onde corre-se risco de vida; a entregar-se à "obediência" religiosa (virtude missionária, por excelência), como nos abandonamos aos braços da Providência de Deus.

A alegria expressa por muitas populações, por aquele que "permanece" – também nos momentos mais difíceis – compartilhando e arriscando tudo com elas, a enorme ressonância que teve, em todos os lugares, a morte de Madre Teresa de Calcutá, mostram-nos os frutos maduros daquela "entrega total" à causa do Reino, de que a castidade é sinal.

Quem olhava para Dom Bosco ou para Madre Teresa não se interrogava sobre a vida de castidade deles, mas percebia-a e apreciava-a como um fogo que acendia todos os dias uma vida totalmente doada.

Quando perguntados, durante a jornada mundial da juventude de Paris 1997, qual o fascínio que encontravam em João Paulo II, velho e cadente, dois jovens responderam: «Viemos, porque compreendemos que ele dá a sua vida por nós».

Colocar a vida totalmente à disposição não é um movimento espontâneo. Contudo, não era difícil para os melhores jovens de Valdocco (entre os quais existiam muitos moleques…), dizer: «Eu quero ficar com Dom Bosco». Ficavam não só para "estar com ele", mas também para "fazer como ele", o que comportava inevitavelmente "viver como ele".

Estou convencido de que a castidade de Dom Bosco para aqueles jovens, não era percebida como problema, dificuldade, ou sacrifício – e certamente terá sido assim alguma vez para o santo dos jovens – mas sempre como dom do Senhor, alegria de amar, plenitude de vida, olhar cheio de gáudio, que lhe permitia ser "tudo" para eles. Por isso, embora tratando-se de uma virtude exigente, eles abraçavam-na, juntamente com tudo o que torna bela a vida salesiana, mas ao mesmo tempo empenhativa.


"Como um postulado da educação.


A expressão é do P. Alberto Caviglia, que assim define o papel da pureza no projeto educativo pensado por Dom Bosco.

A nossa castidade, dissemos acima, é fecunda ao inspirar um amor paterno pelos jovens, particularmente por aqueles que dele mais precisam, e ao sugerir os gestos que o possam tornar imediatamente compreensível.

É igualmente fecunda quanto aos objetivos e conteúdos da educação pela visão de vida, de pessoa e de cultura que supõe, testemunha e comunica.

A sexualidade compreende, decerto, uma constelação de manifestações específicas: sentido justo do corpo, relacionamento, imagem de si e dos outros, domínio e orientação do prazer, valores como amor, amizade, doação. Amadurece e expressa-se, porém, no contexto da pessoa inteira e jamais como função separada. Interage com todos os outros aspectos da personalidade. Torna-se, pois, indispensável educar a totalidade da pessoa em conformidade com uma certa visão.

Isso faz perceber o influxo cotidiano que a presença, as palavras, a amizade, as ações de educadores e educadoras podem ter sobre os jovens que freqüentam nossos ambientes. Educamos mais por aquilo que somos do que por aquilo que dizemos.

Sente-se hoje a necessidade difusa de individuar caminhos adequados, para ajudar os jovens a serem capazes de viver e integrar a sexualidade no projeto de vida ao qual se sentirem chamados, o que comporta processos delicados e trabalhosos, muitas vezes destinados a irem contra a corrente; não nos podemos iludir que eles possam amadurecer sozinhos, sem iluminações, propostas e esforço.

Se – como foi justamente observado – "castidade é liberdade" é preciso individuar, então, no amar e no ser amados, as etapas sucessivas de um "processo de libertação", que leva progressivamente a orientar os recursos afetivos da pessoa, colocando-as a serviço da amizade e do amor, num projeto estável de vida.

Para realizar tal processo, é preciso, antes de tudo, recolocar no centro da atenção educativa a pessoa com as suas múltiplas possibilidades e, particularmente, a sua destinação a Deus. Isso levará a esclarecer o justo valor do corpo e da virtude, não comum hoje, que se chama pudor. Com ele o homem e a mulher reconhecem que são mais do que o próprio corpo e habituam-se a perceber a inédita riqueza dos outros.

A presença de rapazes e moças em muitos de nossos ambientes, empenha-nos a levar muito a sério o caminho da coeducação, em que cada pessoa acolhe a própria sexualidade como vocação, descobre e aprecia a originalidade do outro sem transformá-lo em objeto de desejo, aprende a organizar diálogos livres e maduros, numa dinâmica relacional, em que se expande a amizade serena e o intercâmbio de dons.

Os jovens são, hoje, inseridos à força em campos de alta tensão emocional (mídia, grupos de amizade, discotecas, cultura ambiente…), que exige um surplus de empenho para educar à castidade do coração, ensinando sobriedade e regularidade de vida, controle e orientação dos desejos, reflexão permanente sobre as próprias opções e atitudes afetivas, capacidade forte e serena de espera, à qual è chamado um jovem cristão, em preparação aos empenhos vocacionais e matrimoniais.

Acompanhemos os nossos jovens, desde os primeiros anos, a compreenderem que a pessoa se realiza na experiência do amor. Amor que é encontro e projeto, oferta e dom, alegria e sacrifício, vontade de fazer feliz mais do que sê-lo, quem sabe, às custas alheias.

Somente o amor oblativo pode ser o porto sereno do impulso sexual. Quanto mais a sexualidade girar sobre si mesma – o jovem deve entendê-lo – ela não conseguirá ser retribuída, e será enlouquecida na busca de variações às quais se pedirá, em vão, que satisfaçam o anélito do coração. A nossa sociedade oferece-nos, mesmo sem sabê-lo, mil confirmações do drama que envolve quem não entra no caminho justo do amor. Um amor que ignore o sacrifício, que não dê espaço à cruz de Cristo, corre o risco de transformar-se continuamente em possessividade, que subjuga e instrumentaliza.

Aprender a amar, porém, é aprender a viver, é começar a ser cristão. Sabia-o Dom Bosco, e ensinava-o aos seus jovens. Por isso, a um convite que não admitia dúvidas, acrescentava sábias indicações de guarda dos próprios movimentos e sentidos, de reforço interior, de purificação.

O CG23 considerou particularmente influente sobre a manutenção ou queda da fé a educação ao amor, e convidou-nos a retomá-la com decisão e de modo atualizado, mediante alguns itinerários: clima educativo rico de amizade, atenção integral à pessoa, qualidade humana na presença em comum de rapazes e moças, educação da sexualidade, testemunho de Salesianos e leigos que vivam serenamente a doação, catequese que oriente para o Senhor e forme a consciência, vida espiritual que sublinhe a força transformadora dos Sacramentos50.


Complementaridade enriquecedora.


O CG24 sancionou um tipo de ambiente educativo que se vinha formando há tempo, mas cujas características ainda não estavam plenamente expressas, nem explicitadas suas conseqüências sobre nossas atitudes e possibilidades. Uma dessas características é a complementaridade entre educadores e pais, que se traduz em diálogo, colaboração, iluminação e troca de experiências. «Intensifique-se a colaboração com a família enquanto primeira educadora de seus filhos e filhas. Com essa finalidade, é preciso oferecer em nossas obras, um clima educativo rico de valores familiares e, particularmente, uma equipe de educação integrada harmoniosamente de presenças masculinas e femininas»51.

O amor entre os esposos, da mesma forma que dá origem à vida, constitui a primeira e principal energia educativa da família. Ora, os esposos, protagonistas da família cristã, e os celibatários, protagonistas da vida consagrada, exprimem o dom de Cristo à sua Igreja na fidelidade corajosa e na oferta total a uma missão típica. O matrimônio cristão e a castidade consagrada manifestam de dois modos excelentes, embora diversos, o mesmo mistério de totalidade, expresso no "pacto de amor", animado pelo mesmo Espírito Santo52. «O sim da promessa matrimonial e o sim do voto religioso correspondem àquilo que Deus espera do homem: a entrega de si sem condições, assim como o Senhor sobre a cruz ofereceu tudo, alma e corpo, pelo Pai e pelo mundo»53.

No intercâmbio de dons entre vocações e estados de vida, a fidelidade dos esposos encoraja os consagrados, enquanto a sua virgindade fecunda sustenta o caminho dos esposos, hoje muito mais insidiado e exposto do que ontem. Testemunham reciprocamente aquela força que não vem da carne e do sangue, mas do Espírito de Cristo, que anima a Sua Igreja. Associa-os a única fidelidade ao Senhor, abrindo entre eles profundos diálogos de comunhão.

O diálogo no encontro e na colaboração torna-se, para os jovens, comunicação de valores e exemplo de vida cristã. «Nesse contexto – afirma o CG24 – é necessário destacar o significado e a força profética do salesiano: ele não só concorre à educação com os valores masculinos mas, vivendo o celibato com alegria e fidelidade, testemunha uma qualidade particular do amor e da paternidade»54

Por outro lado, somos chamados a exprimir, hoje, nos ambientes educativos, a riqueza educativa da complementaridade masculino-feminino. Religiosos e educadores projetam, trabalham e verificam juntos. O percurso de co-educação interpela-nos juntos e, talvez, antes que os jovens. Devem ser superados o temor, a distância, a timidez, a falta de comunicação. Como também as leviandades, a superficialidades, o ofuscamento do sentido pastoral e do testemunho consagrado.

A exigência de co-educação toca o coração, os pensamentos, as atitudes profundas, mais do que apenas as maneiras.

O olhar de Jesus e a pessoa de Maria dão-nos os parâmetros para orientar e modelar pensamentos, sentimentos e atitudes. É claro que as relações humanas e a colaboração educativa fundada e expressa de acordo com tais parâmetros dá um toque de qualidade humana e de testemunho cristão ao ambiente e a cada intervenção educativa.

O CG24 no-lo recorda em muitas passagens. Apresento uma delas: «A presença da mulher ajuda os Salesianos não só a interpretar o universo feminino, mas a viver uma relação educativa mais completa: de fato, homem e mulher ajudam o menino e a menina a descobrir a própria identidade, a aceitar como enriquecedora a própria especificidade que deve ser oferecida como dom na reciprocidade»55.

A caridade virginal unindo-se ao amor conjugal, a originalidade masculina em diálogo com o gênio feminino confluem com inédita fecundidade na "caridade educativa", que se torna capaz de estruturar unitariamente os caminhos de crescimento humano e cristão de jovens e adultos.



3. O caminho para a maturidade.


Uma emergência que desafia e interpela56.


Não posso silenciar sobre a dolorosa experiência, que está colocando à dura prova algumas Igrejas locais e Institutos religiosos, em diversas partes do mundo. Encontraram-se – aqui e ali – casos de sacerdotes e religiosos acusados de "abusos e moléstias sexuais" em relação a menores ou mulheres indefesas. É conhecida a devastação – muitas vezes irremediável – acarretada por esses traumas numa jovem vida. Isso explica a severidade de muitas legislações diante desses deprecáveis episódios e a severidade dos tribunais diante dos imputados. Os fatos em questão remontam, às vezes, até mesmo há dezenas de anos antes: nem por isso deixaram de tornar-se objeto de procedimentos penais, com grave prejuízo da missão da Igreja, com repercussões dolorosas sobre o acusado e sua comunidade, e também com danos ingentes de natureza econômica.

Esses acontecimentos adquirem relevância – além da objetiva gravidade dos fatos – também pelos problemas conexos, que causam preocupação às Igreja e instituições religiosas. Acontece, às vezes, um alargamento anômalo do conceito de "abuso e moléstia sexual", no qual possam ver a cair também atos apenas imprudentes. Não faltam exemplos conhecidos por todos.

Não nos foge o realce dado pela mídia às faltas de sacerdotes e consagrados, o mais das vezes em vista da denúncia legítima e da óbvia expectativa de coerência, mas, com freqüência, também com finalidades especulativas e difamadoras em relação à Igreja católica e outras Instituições. Tudo é agravado pela instrumentalização dos fatos na previsão do desembolso de ingentes somas em dinheiro pelos danos e despesas processuais.

Tudo isso faz ressoar em nós o eco das palavras dramáticas escritas por Dom Bosco em Roma no dia 5 de fevereiro de 1873: «A voz pública lamenta, muitas vezes, fatos morais cometidos contra os costumes e escândalos horríveis. É um grande mal, é um desastre: eu peço ao Senhor que sejam fechadas todas as nossas casas, antes que nelas aconteçam semelhantes desgraças»57.

Os fatos que estão sob nossos olhos empenham-nos, de todas as maneiras possíveis, a intervir na defesa dos menores e contra a exploração das mulheres, e agradeço de coração aos irmãos empenhados nessas fronteiras.

Esses fatos levam-nos, também, a perceber algum elemento do sistema preventivo, que Dom Bosco evidenciara ou sugerira, e que, talvez, tenha sido parcialmente desatendido em algum lugar.

É preciso recuperar algumas normas pedagógicas e de prudência – próprias da tradição salesiana – que merecem ser novamente apresentadas e que, a seu tempo, foram entregues aos superiores responsáveis, aos quais, também através destas páginas, peço uma colaboração firme e serena. Esta é uma parte não insignificante da preventividade, que estrutura ambientes e hábitos, para ajudar o florescimento de qualquer virtude humana e cristã.

Solicita-nos, sobretudo, à luz de conhecimentos adequados e da Palavra de Deus, uma nova compreensão do caminho de crescimento permanente que somos chamados a trilhar. A busca descontrolada de satisfações, embora seja o mais grave, não é a única manifestação de uma sexualidade imatura e reprimida. Há também a incapacidade da amizade, o fechamento à fraternidade, a dureza do coração, o apego incompreensível a pareceres, coisas ou vantagens, a aridez nas relações. É necessário, pois, que se mantenha a tensão para a plenitude da nossa doação e da nossa capacidade educativa.


3 Um caminho a assumir.

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A energia e a identidade sexual – que a castidade reconhece com alegria, acolhe sem hesitações e valoriza no próprio projeto de vida – estrutura a personalidade nos níveis mais profundos, dando conotação a todas as suas dimensões: pensamento, afetos, expressividade, capacidade de projeto, relação. Ela permanece marcada pelas mais significativas experiências de vida. A estação pré-natal, os primeiros meses e as relações com a mãe, o clima e as relações familiares, os elementos de hereditariedade, a precocidade ou os atrasos na educação e na auto-educação, as experiências traumáticas de não fácil elaboração e outras influem no processo de amadurecimento da afetividade e da sexualidade.

A castidade serena está ao final de um longo caminho, pela simples razão de a personalidade madura ser, também ela, o ponto de chegada de um longo percurso. Trata-se, então, de acolher – para nós mesmos e para aqueles que são confiados ao nosso cuidado educativo – os processos necessários para atingir essa maturidade, que gera alegria e paz, e se traduz em força de testemunho.

Somos chamados, ao mesmo tempo, a tomar consciência de que neste decisivo campo do crescimento humano, a vida religiosa, e mais ainda uma Congregação de educadores, é, por assim dizer, colocada à prova, não só quanto à moral sexual, mas sobretudo quanto à riqueza afetiva. «É necessário que a vida consagrada apresente ao mundo de hoje exemplos de uma castidade vivida por homens e mulheres que demonstrem equilíbrio, domínio de si, audácia, amadurecimento psicológico e afetivo»58. Isso comporta o controle e a orientação das tendências espontâneas, mas ainda mais o desenvolvimento da capacidade de amar.

As Constituições fazem-nos advertir que «a castidade não é conquista feita de uma vez por todas. Tem momentos de paz e momentos de prova. É um dom que, por causa da fraqueza humana, exige esforço quotidiano na fidelidade»59.

«Quer dizer – anota paternalmente o P. Ricceri – que não nos devemos admirar nem assustar, se em certos momentos de depressão, inatividade ou isolamento, soframos na carne e no coração. É um aspecto da nossa cruz. Alguma vez, quem sabe, até uma forma de participação da angústia de Cristo no horto do Getsêmani»60. Dificuldades nas relações, frustrações apostólicas, falta de compreensões comunitárias, ansiedades quanto à saúde própria ou dos caros, momentos de stress: tudo é pontualmente registrado em nossa esfera afetiva, com contragolpes que devem ser avaliados e superados com a ajuda da graça e da oração, do espírito de mortificação, de uma serena determinação, de uma comunidade que acolhe e acompanha. Não se exclua, também, a necessidade de empreender pacientes itinerários para redescobrir motivações e mudar hábitos enraizados. As diversas estações da vida exigem outros processos de renovada compreensão do empenho assumido.


Devem-se recordar algumas indicações substanciais desse caminho.

O nosso ministério deve ser gerido com espírito de humildade e prudência, libertando-o de qualquer forma de presunção diante do que possa ferir a castidade: «Recordai-vos que vos mando pescar, e que não devereis ser pescados», dizia Dom Bosco aos seus, com uma ponta de humorismo, e, quando sabia que trabalhavam em ambientes com algum risco, avisava-os para «deixar os olhos em casa»61. Estas palavras repropõem, além de acenos materiais, a atenção a ser mantida em relação a amizades e familiaridades em nossos ambientes educativos e pastorais, marcados pelo encontro cotidiano com colaboradoras e com jovens de ambos os sexos.


O caminho para a serena maturidade é marcado pelo cruz. Com a autoridade de testemunha ocular, o P. Albera escreve. «Não se creia que Dom Bosco tenha dado pouca importância ao espírito de mortificação; estude-se-lhe bem a vida e ver-se-á que todas as suas circunstâncias são uma excitação e uma lição à prática da mortificação»62. Pode parecer uma palavra não atual, contudo deve ser relacionada à fecundidade da cruz. A insídia mais perigosa do espírito burguês, não só à vida religiosa, mas antes ainda às mesmas raízes cristãs, talvez, seja a recusa da cruz: tácita, prática, sistemática. O conforto é tido como valor a almejar e status a atingir; os analgésicos passaram do mundo da medicina ao da vida cotidiana, desejosa de aliviar qualquer sofrimento. Foram então gerados atitudes e hábitos, pelos quais a satisfação do desejo torna-se um imperativo, a supressão dos riscos de sofrimento, tanto físico como moral e espiritual, um estilo de vida. O que é lícito no campo físico, e freqüentemente desejável, tende a transferir-se ao campo moral, anulando ou reduzindo o preço do esforço obrigatório que cada um é chamado a pagar em defesa dos valores, da fidelidade, da autenticidade da vida cristã. Esta, desde os inícios, esteve confrontando-se com a cruz, a perseguição, o martírio. A palavra de Paulo aos cristãos de Filipos continua de plena atualidade para nós, homens de hoje, imersos às vezes, num clima de falta de esforço moral: «Muito procedem como inimigos da cruz de Cristo. Já vo-lo disse muitas vezes e agora torno a dize-lo entre lágrimas»63.


Quando discutiu-se bastante sobre o lema a ser inserido no brasão da Congregação, houve quem também propusesse Trabalho e temperança. É conhecida a insistência de Dom Bosco sobre o binômio, que convida a gastar-se com generosidade, sem esquecer-se, porém da medida. Nesse sentido, os dois elementos devem ser lidos não separados, mas unidos, significando que o próprio trabalho deve ser regulado pela temperança, para poder continuar a exprimir caridade para com Deus e para com o homem, evitando os excessos que possam levar ao stress, ao "burn out" e à confusão afetiva.

É preciso uma dosagem racional de tempos de trabalho e tempos de recuperação, de espaços de ação e de formação, de imersão entre o povo e de emersão espiritual em busca de nós mesmos e das motivações mais profundas da nossa vida e da nossa ação. Supere-se o ativismo e a desordem da vida, reconquistando o controle sobre o tempo, sobre as atividades e sobre si mesmos. Ocorre, portanto, dar o relevo necessário aos exercícios espirituais anuais, ao retiro mensal, ao dia semanal do Senhor, aos momentos quotidianos de comunidade e de oração (compreendida a meditação!). O recolhimento pessoal deve, de novo, encontrar espaço na programação da nossa jornada. «O isolamento é negativo, mas a solidão é outra coisa: pode-se dizer que é o seu contrário. É como o silêncio, que precede e fecunda a palavra»64.


As ajudas mais decisivas, entretanto, vêm-nos da graça do Senhor, que tem nos sacramentos e no amor a Maria Auxiliadora elementos que a nossa tradição sempre reconheceu de grande eficácia.

A Eucaristia, que nos nutre do Corpo e Sangue do Senhor, renova continuamente a nossa consciência de sermos Seus membros, dá-nos a força de viver como cristãos, evitando tudo o que seja contrário a esse nome.

A escuta cotidiana da Palavra de Deus contesta e desfaz os sofismas com que somos tentados a justificar eventuais condescendências ou abandonos a hábitos menos positivos.

O amor a Maria e a contemplação da sua incomparável existência mantêm altas e castas as intenções do coração e animam a uma maior docilidade às moções da graça.

P. Paolo Albera insistia na importância de confiar no diretor espiritual recomendando «escancarar a própria consciência ao confessor»65. Trata-se de uma insistência em fase de recuperação. A fim de manter a consciência sensível e vigilante, capaz de reconhecer de longe o bem e o mal e defender a própria liberdade espiritual é útil colocar a própria existência sob os olhos dos irmãos, saber confiar-se e valorizar as mediações que o Senhor coloca em nosso caminho.



Discernimento vocacional e formação inicial.


O caminho, ao qual acenamos, exige uma atitude fundamental de partida, que é o sinal do chamado à vida salesiana e a aprendizagem interiorizada de atitudes, hábitos e práticas relativas à castidade. Ao falar-se de caminho à maturidade, não se pode deixar de lado, então, o discurso do discernimento vocacional e da formação inicial. Nossos documentos já oferecem alguns critérios carismáticos de discernimento e opções pedagógicas para o acompanhamento dos candidatos. Não é o caso de voltar a apresentá-los aqui. Convém, em todo caso, apelar a algum ponto de particular atualidade.

A experiência, a reflexão e as orientações eclesiais dos últimos anos deram particular relevo ao amadurecimento afetivo e sexual de base como condição prévia à admissão aos votos religiosos e ao ministério ordenado, e como elemento indispensável para uma experiência vocacional serena e madura66.

A formação específica à afetividade, que integre o aspecto humano com o mais propriamente espiritual, é particularmente necessária no contexto atual, que é, ao mesmo tempo, de grande abertura e de contínua exposição a variados estímulos. «Torna-se mais difícil, mas mais urgente, – afirma a Pastores Dabo Vobis – uma educação à sexualidade que seja real e plenamente pessoal e que dê lugar, portanto, à estima e ao amor pela castidade, como virtude que desenvolve o autêntico amadurecimento da pessoa tornando-a capaz de respeitar e promover o significado esponsal do corpo»67.

Em versão contextualizada na fase que está sendo aberta para nós, o CG24 pede que «seja reservada uma atenção particular ao amadurecimento afetivo exigido pela colaboração com os leigos e com o mundo feminino»68, e que se ajudem os irmãos desde a primeira profissão «a crescer numa atitude serena e madura diante da feminilidade»69.

Trata-se de levar os candidatos a uma decisão madura e livre, fundada no conhecimento de si e do projeto vocacional ao qual são chamados; de garantir aquela idoneidade «graças à qual o consagrado ama a sua vocação e ama segundo a sua vocação»70.

A área afetiva e sexual deve ser, no processo de discernimento e nos momentos de admissão, objeto de particular atenção, avaliada na globalidade da pessoa e da sua história, em relação com as características da vocação salesiana.

Entre os pontos a serem verificados e esclarecidos antes do noviciado, de acordo com um conhecimento adequado e uma avaliação prudente, há o estado saudável da afetividade, particularmente o equilíbrio sexual. O decreto Perfectae Caritatis do Vaticano II, retomado pela Potissimum Institutioni, pede que os candidatos à profissão da castidade não abracem este estado, nem a ele sejam admitidos, a não ser depois de uma prova suficiente e depois que tenha sido alcançada uma conveniente maturidade psicológica e afetiva.71.

O discernimento inicial ou o percurso formativo podem evidenciar sérias inconsistências, experiências de vida que levem, pelo menos, a uma extrema prudência. O artigo 82 das Constituições apela à palavra de Dom Bosco: «Quem não tem fundada esperança de poder conservar, como auxílio divino, a virtude da castidade nas palavras, nas obras e nos pensamentos, não professe nesta Sociedade, porque muitas vezes se encontraria em perigo». É uma orientação que nos empenha a garantir a seriedade do discernimento e das admissões.

Existem personalidades que demonstram, desde o início, elementos que levantam séria preocupação: a vida salesiana não é a sua estrada72. A "fundada esperança", sublinhada pelas palavras de Dom Bosco, não pode coexistir com situações que incidiram profundamente na pessoa, nem com inclinações que dificilmente se harmonizam com as características da vocação salesiana e com as exigências da missão de educador pastor, nem com uma vida precedente gravemente incorreta.

Conhecemos tais situações e tendências; penso, por exemplo, nas relações precoces, nas experiências sexuais, nas problemáticas em âmbito de homossexualidade, em situações de violência, e outras semelhantes. Discute-se sobre elas com abundância de dados antropológicos, pedagógicos e morais. A variedade dos sujeitos, a incidência diversa das situações e o estado desigual em que se podem encontrar essas tendências, desaconselha um tratamento sumário, para não cometer um erro contra a pessoa e não limitar-se ao fato da aceitação ou não. É conveniente saber, porém, que nós temos critérios próprios de uma Congregação de educadores, expressos em nossos documentos e com possibilidade de serem posteriormente especificados nos casos particulares.

Nem sempre é fácil discernir e avaliar com delicadeza e prudência. É necessário, por isso, o recurso a profissionais sérios, para servir-se de tudo aquilo que a ciência coloca à nossa disposição neste fundamental campo do amadurecimento humano.

Em todo caso, não se podem fechar os olhos sobre situações dúbias. Elas devem ser esclarecidas antes de admitir a empenhos que envolvem seriamente a pessoa e a Congregação. O formador, guia ou acompanhante deve ser capaz de não se iludir e de não iludir sobre a consistência do candidato73.

Certos abandonos, em fase de experiência avançada, muitas vezes conseqüência de admissões pouco prudentes, e outras situações dolorosas (ambigüidade de vida, insatisfação permanente e inexplicável, compensações ilegítimas) convidam à vigilância no discernimento.


Sublinhada a atenção a ser dada à dimensão afetiva e sexual, e relevada a necessidade de uma atitude de base para a castidade "salesiana", deve-se recordar que ela exige uma formação mental, moral, espiritual e ascética, desejando-se que ela leve à realização de pessoas maduras e alegres. É, pois, um ponto a ser enfrentado de forma serena, aberta e direta.

Torna-se hoje necessário o conhecimento adequado, em termos reais, da sexualidade em seus diversos aspectos, significados e realizações, sem descuidar a informação sobre fatos e tendências presentes em nossa cultura. Sejam apresentados, nesse sentido, o problema dos "abusos e moléstias" e suas implicações de natureza civil, eclesial, vocacional, sublinhando o sentido de justiça para com aqueles que são objeto deles, e cultivando uma cuidadosa preocupação pastoral tanto em relação às vítimas como aos culpáveis.

Será necessário apresentar, ao mesmo tempo, de forma "positiva" o celibato e a castidade pelo Reino, ajudando a assumi-la como um bem também do ponto de vista humano, com aquela liberdade que «se configura como obediência convicta e cordial à verdade do próprio ser, ao significado da própria existência»74. A visão que se oferece dela, baseada sempre na Palavra de Deus, caracterizada pelo realismo, indicará critérios e parâmetros de autoavaliação que o sujeito possa aplicar-se sem ansiedade e sem ilusões.

Inserem-se harmoniosamente nesta perspectiva, sem dicotomias e ingenuidades, a exigência da vigilância espiritual de prudência e renúncia, o apelo à ascese e à disciplina de vida, ao esforço indispensável e contínuo para dominar e integrar os impulsos sexuais.

A abertura transparente no diálogo formativo (direção espiritual) e a prática freqüente do sacramento da reconciliação, as relações humanas e comunitárias de serena amizade e fraternidade, o sentido da missão e o amor pessoal a Jesus Cristo sustentam um caminho de fidelidade não destituído de insídias.

A formação à castidade consagrada constitui um desafio e um esforço para todos os que intervêm com títulos diversos no processo vocacional. Alguns contextos podem incluir, também, dificuldades vindas do ambiente cultural. Nesse sentido, uma atenção especial deve ser reservada à preparação inicial dos candidatos e à formação contínua, à renovação pedagógica e à unidade de critérios ao longo de todo o caminho formativo.

O ensinamento de Dom Bosco e a experiência da Congregação ajudam-nos a unir confiança educativa e exigência, sensibilidade pedagógica e responsabilidade carismática.



O papel da comunidade.


Tudo o que dissemos pode gerar a impressão de que a castidade se refira exclusivamente à esfera individual. Seria como aceitar a insinuação insistente das culturas atuais que relega determinados aspectos do comportamento ao incontestável "privado", somente à consciência do indivíduo.

É verdade que neste âmbito, como em todo o processo vocacional, cada um de nós carrega uma responsabilidade intransferível e única. Contudo, a comunidade tem uma função muito mais que secundária.

Cada um é chamado pessoalmente a inserir-se na comunidade com maturidade e a tornar-se disponível para o intercâmbio fraterno de dons e experiências. A comunidade, por outro lado, cria o clima, apoia, estimula e sustenta. A qualidade do nosso testemunho de castidade está ligada à qualidade do nosso ser e construir comunidade, do nosso viver e trabalhar juntos. Podemos explicitar alguns motivos desta interdependência.


«Na comunidade – dizem as Constituições – encontramos uma resposta às aspirações profundas do coração»75, ou seja, à necessidade de amar e ser amados. No afeto dado e trocado tornamo-nos conscientes do nosso valor como pessoas e exprimimos as mais profundas potencialidades do nosso ser. A comunidade é a nossa família. Na comunicação serena e na amizade adulta cresce e manifesta-se a nossa capacidade de doação, construímos relações de colaboração eficaz. Quanto mais forte e sincera for a nossa vida em comum, tanto maior será o sentido da nossa castidade, também em seus evidentes aspectos de renúncia, tonificará a nossa necessidade de amor humano e dará testemunho crível de que o amor de Deus enche a nossa existência. Torna-se evidente, então, sobretudo para os jovens e o povo que vive junto de nós, que a virgindade que professamos é escolhida por um amor autêntico, sincero, envolvente, rico de humanidade e aberto a todos. É certo que o amor fraterno previne, neutraliza, tempera e orienta novamente, em tempo, eventuais quedas afetivas. A dissolução comunitária, ao contrário, que tem suas manifestações na frieza, na fuga para o externo, no individualismo apostólico, leva a evasões e satisfações alternativas.


Um segundo motivo do entrelaçamento estreito entre responsabilidade pessoal e experiência comunitária refere-se à nossa missão de educadores. A vida comunitária é uma escola e um ginásio. A comunicação educativa é eficaz quando realizada através de uma relação correta e intensa, capaz de transmitir experiências válidas e visões de vida. A partilha comunitária, a capacidade e disponibilidade a integrar-nos e completar-nos reciprocamente fornecem um banco de prova para relacionar-nos de modo equilibrado e eficaz também em relação aos jovens. Talvez esconda-se, atrás de muitas tensões comunitárias, a incapacidade ao confronto, à renúncia a integrar-se na missão, a teimosia de querer fazer a nossa caminhada contra tudo e contra todos. A fragilidade do tecido comunitário repercute-se negativamente na eficácia da nossa presença junto aos jovens, que se podem tornar o objeto de nossos desabafos e de nossas tensões. Uma experiência de vida comunitária serena torna-se educativa por si mesma, sobretudo na esfera do amor, da amizade, da afetividade, em que os jovens são particularmente sensíveis.


Por último, a comunidade guia-nos e sustenta-nos em nosso caminho de fidelidade, oferecendo-nos um espaço humano de inter-relações, circunstâncias, acontecimentos e contatos que fazem com que nos sintamos humanamente realizados, inseridos positivamente na sociedade e no mundo. Uma comunidade bem integrada comunica força, energia a cada um de seus membros, motivando-o ulteriormente na vivência do próprio chamado, apoiando-o nos momentos de dificuldade, dando-lhe um amplo espaço de compreensão para enfrentar também situações difíceis, momentos de crise e de desânimo. A proximidade amigável e discreta dos irmãos é apoio para quem vive as tensões da juventude e as crises da maturidade, as preocupações da doença e da senilidade.


A comunidade tem, pois, uma tarefa delicada: assistir e discernir. Assistir no sentido salesiano significa prevenir, perceber prontamente os sinais de um estado de ânimo ou insatisfação, advertir com uma palavra fraterna ambigüidades e riscos nascentes, apresentar um corajoso e franco esclarecimento a quem disso precisasse.

Discernir quer dizer resolver situações insustentáveis com respeito fraterno, mas com igual firmeza e tempestividade. É tarefa do superior, mas não só. O testemunho de cada um influi sobre toda a comunidade e, portanto, a ela pertence. Ela deve sentir-se investida do dever de cuidar desse testemunho. A isso apela o nosso empenho religioso e, de certa forma, também a lei civil.


4 Conclusão: a força de uma profecia.

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A Exortação Apostólica Vita Consecrata sublinha o fato que os religiosos «enquanto buscam a santidade para si mesmos, propõem, por assim dizer, uma "terapia espiritual" para a humanidade, pois recusam a idolatria do criado e tornam, de algum modo, visível o Deus vivo»76.

Urs Von Balthsar, retomando uma expressão de Nietzsche, escreve: «A frase mais sensata que eu jamais tenha ouvido é: no verdadeiro amor, é a alma que envolve o corpo», isto é: «A irradiação do corpo por obra da pureza da alma é efetivamente a castidade absoluta»77. O homem, novamente plasmado pelo Batismo, através do dom da castidade, assume de um novo modo, a própria corporeidade na graça, para dela fazer sinal, não de domínio, nem só de prazer ou simples prestança física e estética, mas de uma vida que se entrega incondicionalmente ao Senhor e aos irmãos.

Estamos conscientes de que não basta "raciocinar" sobre a castidade. Dom Bosco ensinou-nos a irradiá-la: «A educação à pureza desenvolve-se, como condição básica, a partir de uma irradiação pessoal dos educadores»78.

Nem se pode falar de castidade salesiana, separando-a do clima que a gerava e exprimia. Naquela experiência de Espírito Santo, Jesus Eucarístico nutria a vida dos educadores e dos jovens fazendo-os cristãos, iluminava as almas com o fogo da caridade e conferia à presença e aos gestos a capacidade de comunicar a graça. Criava assim uma escola de espiritualidade, que continua a dar, em todas as partes do mundo, frutos de santidade apostólica e educativa. O seu "reino" é o da alegria, em que Dom Bosco via a versão salesiana da "boa nova" evangélica. A castidade salesiana, sublinhava o P. Ricceri, «é habitualmente vivida com uma espécie de serenidade e de alegria, com um ardor juvenil, com o frescor do espírito, com a clareza do olhar, com uma confiança invencível na vida, com a percepção da presença secreta de Deus»79.


A festividade hodierna da Imaculada está cheia da memória daquele ambiente que nos serve sempre de inspiração. Sob seus olhares solícitos e o fascínio de sua maternidade virginal, nasceu e cresceu aquele grupo de jovens, futuros pilares da Congregação Salesiana que constituiu a Companhia da Imaculada. O carinho de Dom Bosco suscitara neles o desejo de consagração total.

Ajude-nos também a amadurecer no amor e a orientar os jovens aos propósitos de santidade.

Com os votos de um ano novo enriquecido pela graça do Pai, ao qual nos voltamos com amor de filhos80 à vigília do terceiro milênio,


5 Juan E. Vecchi

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Reitor-Mor








1 C 81

2 LG 42

3 C 81

4 C 80

5 cf. ACG 358, Número especial, n. 310, p. 16

6 Percebeu-o dessa forma o Grupo dos dezesseis Superiores Gerais que em sua reunião com a CIVCSVA desenvolveram o tema: Viver a castidade – celibato hoje: os problemas e as nossas responsabilidades.

7 VC 88

8 cf. Jr 16,1-2

9 cf. Jr 18,13; 31,4.21

10 Jo 20,2

11 Jo 21,15

12 1Cor 11,26

13 Mt 19,8

14 Mt 19,11

15 Mt 19,12

16 AA.VV. Parola de Dio e spirito salesiano. Ricerca sulla dimensione biblica delle Costituzioni della Famiglia Salesiana, p. 137

17 cf. Ap 21,2

18 LG 44

19 Von Balthasar, Gli stati di vita del cristiano, (Jaca Book 1995) p. 204

20 ib.

21 Cf. 2Cor 8,9

22 Lc 1,38

23 P. Ricaldone, Santità è purezza, in ACS n. 69 (31 de janeiro de 1935), p. 11

24 cf. a análise atenta do P. P. Stella, in Don Bosco, II (Roma 1981), p. 240-274; o tratado do P. P. Braido, in Il sistema preventivo di Don Bosco (PAS-Verlag 1964), p. 289-311; F. Desramaut, Don Bosco et la vie spirituelle (Paris 1967), especialmente o capítulo "L'ascése indispensable".

25 Cf. Lettere circolari di don Michele Rua ai Salesiani (Turim 1965), p. 461-73

26 cf. Annali della Società salesiana, vol. III, p. 684-702

27 cf. Lettere circolare di don Paolo Alberta ai Salesiani (Turim 1965), Sulla castità, p. 212-229

28 Rm 12,1

29 Lc 22,19

30 P. Pedro Ricaldone, Santità è purezza, in ACS n. 69 (31 de janeiro de 1935), p. 6

31 MB XVI, 417

32 MB XIII, 83

33 Dom Bosco, Opere edite II, p. 1886

34 Congregação para a Educação Católica: Orientações educativas para a Formação ao celibato sacerdotal

35 C 2

36 Dictionnaire de spiritualité, voz SFDSales, 1085

37 Constituições de 1875, V, 1 (cf. Motto F., p. 109)

38 Lettere circolari di don Ricceri ai Salesiani (Roma 1966), Vivere oggi la castità consacrata, II, p. 984.

39 Ib. P. 979

40 cf. P. Pedro Ricaldone: Santità è purezza, in ACS n. 69 (31 de janeiro de 1935), pp. 57-58

41 cf. C 83

42 J. H. Newman, Parrochial and plain Sermons, V, 280

43 P. Pedro Ricaldone, Santità è purezza in ACS n. 69 (31 de janeiro de 1935), p. 59-60

44 Cf. P. Pedro Ricaldone, Santità è purezza, in ACS n. 69 (31 de janeiro de 1935), pp. 59-60: «Confesso-vos, filhos caríssimos, que minhas mãos tremem ao escrever estas coisas, embora estando persuadido de transmitir no modo mais exato, porque no mais das vezes não faço outra coisa que repetir expressões suas, o pensamento do nosso Pai. Tremo porque não há quem não veja o quanto possa ser perigosa a prática da caridade com a características com que ele quer vê-la adornada».

45 CG24, 93

46 V. Balthasar, Gli stati di vita del cristiano (Jaca Book 1995), p. 248

47 Lc 21,2

48 C 81

49 cf. 34ª Congregazione della Compagnia di Gesù. Castità, número 11 e nota 5

50 cf. CG23 195-202

51 CG24 177

52 cf. Familiaris consortio, n. 11

53 Von Balthasar, Gli stati di vita del cristiano (Jaca Book 1995), p. 206

54 Cg24 178

55 CG24 53

56 cf. Documento de trabalho do Conselho Geral: Di fronte alle accuse di abusi e di molestie sessuali

57 P. Pietro Ricaldone, Santità è purezza, in ACS n. 69 (31 de janeiro de 1935), p. 62

58 VC 88

59 C 84

60 Lettere circolari di don Ricceri ai salesiani (Roma 1966), Vivere oggi la castità consacrata, II, p. 974

61 MB V, 165

62 Lettere circolari di don Paolo Alberta ai Salesiani (Turim 1965), Sulla castità, p. 224

63 Fl 3,18

64 Lettere circolari di don Luigi Ricceri ai Salesiani, Vivere oggi la castità consacrata, (Roma 1996) II, p. 976

65 Lettere circolari di don Paolo Alberta ai Salesiani, Sulla castità, (Turim, 1965), p. 222

66 cf. Pastores Dabo Vobis (PDV) e Potissimum Institutioni (PI)

67 PDV 44

68 CG24 147

69 CG24 178

70 VFC 37

71 PC 12; PI 13

72 cf. Critérios e Normas, 46-49

73 cf. Orientações sobre a preparação dos educadores nos seminários, 57

74 PDV 44

75 C 49

76 VC 87

77 Cit. de Von Balthasar, Gli stati di vita del cristiano (Jaca Book 1995), p. 86

78 P. Braido in Il sistema preventivo di Don Bosco (PAS-Verlag 1964), p. 292

79 Lettere circolari di don Luigi Ricceri ai Salesiani (Roma 1966), Vivere oggi la castiatà consacrata, II, p. 984

80 cf. Estréia 1999

25