“O PAI NOS CONSAGRA E NOS ENVIA”1 |
1. CARTA DO REITOR-MOR
I. UMA VIDA CONSAGRADA – 1. Um convite urgente – 2. Uma palavra chave – 3. A alegre experiência de um dom recebido – 4. A confissão da iniciativa de Deus – 5. Um projeto de vida em Deus – 6. A profissão pública – 7. Algumas conseqüências.
II. A NOSSA CONSAGRAÇÃO APOSTÓLICA – 1. Singularidade da consagração “salesiana” – 2. A originalidade “consagrada” da nossa missão apostólica – 3. Serviço e profecia – 4. Os múltiplos dons da nossa comunidade consagrada – 5. Algumas conseqüências – 6. O guia da comunidade consagrada
Roma, 8 de setembro de 1998
1 Festa da Natividade de Nossa Senhora |
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Queridos Irmãos,
Estou contente apresentar-vos a minha saudação, unida a dos membros do Conselho Geral, quando uma parte de vós prepara-se para iniciar o ano de atividade pastoral e outros pensam em recolher os resultados finais. Dirijo uma palavra especial de encorajamento e proximidade às comunidades que se encontram em situações difíceis devido às guerras e conflitos de variados tipos, particularmente na África. Por elas peço a vossa oração e a vossa lembrança.
A carta anterior sobre o núcleo animador estimulou uma reflexão salutar. Levantou, também, uma preocupação, que alguns se apressaram em exprimir-me. Ela dá-me ocasião de aprofundar ainda o tema que vai se tornando determinante na caminhada destes anos: a capacidade de animação da comunidade salesiana.
1.1 I. UMA VIDA CONSAGRADA |
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1. Um convite urgente
Freqüentemente vem à tona uma questão, quando enfrenta-se esta temática. Refere-se ao peso, à incidência, ao influxo da nossa vida consagrada no trabalho de animação comunitária, na orientação da educação e na prática pedagógica. Não se refere principalmente ao tempo que a consagração permite dedicar, fator que se pode suprir com um maior emprego de recursos leigos, e nem mesmo às competências em dinâmicas comunitárias ou em educação, conseguidas hoje facilmente entre os leigos; mas justamente a qualidade específica trazida pela vida consagrada à comunhão, à proposta educativa pastoral, à prática pedagógica.
O CG24 esteve muito atento a essa problemática. Embora não lhe tenha dado um desenvolvimento unificado e orgânico, apresentou uma série de estímulos a serem repensados. Sem pretensão de ser completo, creio que se possam resumir alguns pontos.
Um primeiro ponto: a consagração, vivida com autenticidade e alegria, introduz algumas sensibilidades na comunidade educativa salesiana: o primado de Deus na vida2, a relevância da espiritualidade no trabalho educativo3, a atenção ao espírito salesiano4, a visão do crescimento humano de acordo com o paradigma de uma nova humanidade, a abertura à experiência de Deus a jovens e adultos5.
Desses acenos, recolhidos numa rápida leitura, vem um segundo ponto de atenção: a identidade do consagrado deve ser colocada em evidência «como força dinâmica e específica para a educação e a animação da CEP»6. Torna-se urgente, pois, por parte dos consagrados, um aprofundamento da própria identidade7, como razão última dos papéis que lhe são atribuídos e como possibilidade de desenvolvê-los com resultados plenos, conforme as finalidades que a Congregação se propõe.
A reflexão torna-se urgente, também em vista da descoberta da vocação do leigo8 e da insistência sobre a sua máxima realização.
Ela deve levar os consagrados a cultivarem e compartilharem os dons provenientes da própria vocação, conscientes “daquilo que temos em comum como também das nossas diferenças” com os leigos, sabendo também que existe um ponto de encontro de todos: o coração oratoriano e o estilo do Bom Pastor9.
Um terceiro ponto: o que foi indicado acima deve levar a superar uma certa desorientação por parte de alguns consagrados quanto à própria participação na comunidade educativa e diante dos espaços de intervenção abertos aos leigos10. A sua participação deve consistir mais na comunicação do espírito11 do que na realização material do trabalho quotidiano. A relação com os leigos deve ser organizada em base à partilha dos dons12.
E ainda: para conseguir realizar este projeto, é preciso visar a formação inicial13 e o crescimento permanente, que ajudem os Salesianos «a aprofundarem a identidade da própria consagração e a amadurecerem convicções sólidas sobre o valor educativo da mesma consagração»14.
O influxo da consagração na animação comunitária e na orientação da educação tem um particular desenvolvimento nos nn. 149-155 do CG24, cujo cerne parece ser a afirmação: «Dom Bosco quis pessoas consagradas no centro da sua obra, orientada à salvação dos jovens e à sua santidade. Queria os seus religiosos como ponto preciso de referência do seu carisma»15.
Atribui-se esta sua vontade à inspiração divina; é determinante, então, para a missão, que não consiste apenas na promoção temporal, mas na proposta de santidade aos jovens. «Dom Bosco foi levado pelo Senhor a fundar uma comunidade de consagrados para que fosse fermento pela multiplicidade de serviços, animação espiritual para os que se dedicam à educação, garantia de continuidade na missão dos jovens»16.
O carisma não se exprime, pois, em sua totalidade e autenticidade se faltarem os leigos; menos ainda, porém, se viesse a faltar a contribuição específica dos consagrados.
Derivam daí, para a comunidade salesiana, orientações como estas: «verifique freqüentemente a incidência da sua vida consagrada e comunitária; valorize as ocasiões para apresentar e explicar aos leigos e jovens o específico da vida consagrada em seu valor educativo»17.
A mesma problemática vem das comunidades religiosas, e não só das nossas. Certos de que a educação, particularmente aquela feita através da escola, é uma atividade útil à evangelização, não poucos religiosos põe-se a questão quanto ao lugar dela em sua opção radical pelo Reino.
Diante da delegação das principais tarefas aos leigos, à entrega a eles da própria tradição pedagógica, alguns sentem-se desanimados quanto à própria contribuição, além da possibilidade de dedicação completa e da competência que essa dedicação comporta. Mesmo depois de ter priorizado os compromissos, como indica o CG24: formação, orientação, identidade educativa.
A partir da visão dos jovens, não poucos sublinham que estes conseguem perceber a profissionalidade e a generosidade do nosso serviço, mas nem sempre resulta perceptível a sua razão última e o seu sentido.
É real, por outro lado, que em algumas estruturas não se consiga fazer resplender a opção consagrada devido ao peso das atividades instrumentais: ficou-se nos meios, mais do que na evidência dos fins. O mesmo acontece no exercício de alguns papéis organizativos ou diretivos nos quais não se alcança a unidade entre profissionalidade e coração oratoriano, que define a imagem do salesiano.
Quanto à mesma comunidade, alguns lamentam não a perda, mas a debilidade de expressão, do sentido e das manifestações mais imediatas da consagração, como a fraternidade e a oração cotidiana. Embora reconhecendo que isso se deva à multiplicidade dos trabalhos inspirados na caridade pastoral, o fato representa um empobrecimento do testemunho da consagração e, para os mais jovens, uma dificuldade de vivê-la alegremente.
O CG24, e certamente os Capítulos Inspetorias farão o mesmo, ocupou-se amplamente das relações a serem instauradas com os leigos, das modalidades fundamentais com que os religiosos se fazem presentes na comunidade educativa, do objeto principal de suas intervenções e das qualidades de sua ação. Não insistirei nesses pontos. Considero-os, se não realizados, pelo menos postos suficiente sob a vossa atenção. Ocupei-me deles na Carta anterior: Especialistas, testemunhas e artífices de comunhão18.
O discurso sobre a nossa consagração leva a fundo o significado dessas indicações, refazendo-se à sua fonte mais interior e pessoal. Nesse sentido foi também assumida em nossa programação para o sexênio19.
2. Uma palavra chave
As discussões dos últimos anos evidenciaram posições diversas sobre a vida consagrada e a sua colocação na Igreja. As palavras chaves, para introduzir-se no que se pode chamar de cerne, são várias: carisma, sequela Christi, missão.
O Sínodo sobre a vida consagrada esteve consciente das diversidades e procurou reconduzi-las ao álveo comum. Pediu ao Papa que desse uma resposta precisa a algumas questões, para poder atuar um discernimento diante de desafios ameaçadores e desenvolver os valores permanentes da vida consagrada, também através de novas expressões.
Entre as questões a serem esclarecidas havia o elemento distintivo, que determina a identidade da vida consagrada e, portanto, também a sua contribuição especifica à vida da comunidade cristã e à pastoral.
É sabido, porque já foi objeto de numerosos comentários, que a Exortação Apostólica coloca esse elemento na consagração, o que já estava presente no ensinamento que vai do Concílio Vaticano ao Sínodo sobre a Vida Consagrada. Tinha sido, porém, corroído tanto por uma interpretação restrita da consagração, como pelo novo perfil da vida consagrada na Igreja entendida como povo de Deus, como ainda pelo progresso da secularização, que levou a uma mudança de significado do “sagrado”.
A declaração Elementos essenciais do ensinamento da Igreja sobre a Vida Religiosa (31 de maio de 1983) afirmava: «À base da vida religiosa está a consagração. Insistindo nesse princípio, a Igreja acentua a iniciativa de Deus e a relação diversa e nova que a vida religiosa comporta com Ele»20. Duas referências fundamentais determinam, então, a realidade de uma vida consagrada: a iniciativa de Deus, sentida pelo sujeito como apelo ou chamado, e a nova e singular relação com Ele, segundo a qual se orienta e organiza a existência.
A Exortação Apostólica Redemptionis Donum (25 de março de 1984), que entendia ir ao encontro do fecundo intercâmbio em curso, dizia dirigindo-se aos religiosos: «A Igreja pensa em vós, antes de tudo, como pessoas consagradas: consagrados a Deus em Jesus Cristo como propriedade exclusiva. A consagração determina o vosso lugar na vasta comunidade da Igreja, do povo de Deus. Ao mesmo tempo, ela introduz na missão universal desse povo um recurso especial de energia espiritual e sobrenatural»21.
Consagração tornou-se, então, a palavra chave com que se resume a condição e o caminho de santidade daqueles que se colocam, com profissão pública, na seqüela radical de Cristo. Todos os projetos de existência que respondem a esse propósito são designados como vida consagrada, embora entre eles ocorram diferenças notáveis quanto à modalidade, organização e finalidades imediatas.
A Exortação Apostólica Vita Consecrata enfrenta o argumento diretamente, e fala dele com deliberada clareza, dando à consagração outros elementos qualificadores e distintivos desse gênero de existência. Lê-se no n. 72 cujo título é “Consagrados para a missão”: «À imagem de Jesus, Filho dileto “a quem o Pai consagrou e enviou ao mundo” (Jo 10,36), também aqueles que Deus chama a seguir a Cristo são consagrados e enviados ao mundo para imitar o seu exemplo e continuar a sua missão»22.
Da consagração, que é definida como “nova e especial”, esclarece-se o sentido e dissipam-se os maus entendidos. Há uma continuidade com a consagração batismal porque esta é assumida de forma radical. Ao mesmo tempo há uma novidade, um “salto”, um êxodo, uma intervenção de Deus, enquanto este tipo de existência não está necessariamente incluído na graça batismal. Comporta uma vocação ou chamado pessoal.
A excelência objetiva da vida consagrada não exclui outros objetivos excelentes em seu gênero (laical, sacerdotal), nem induz uma hierarquia espiritual. Gera, porém, uma diferença enriquecedora na comunhão, e representa então uma contribuição típica de sinal, anúncio, testemunho de vida cristã e serviço à missão da Igreja.
A Exortação Apostólica Vita Consecrata sublinha que nenhum outro elemento, além ou separado deste, pode dar a fisionomia e justificar a presença da vida religiosa no mundo atual: nem os compromissos educativos ou sociais, nem o voluntariado nas situações pobreza, nem as lutas pelas grandes causas humanas; apenas o fato de sentir-se chamados a testemunhar o primado de Deus e acolher a centralidade indispensável de Cristo na orientação e na organização da própria existência. E como não podem dar o traço original, outras motivações não são suficientes para assumir uma existência consagrada. Percebe-se então a debilidade, particularmente hoje, de uma vocação movida apenas pelo entusiasmo com o trabalho juvenil ou a promoção dos pobres e outros semelhantes. Essas motivações esgotam-se caso não possuam raízes mais sólidas e definitivas.
O que se disse presta-se a alguns comentários.
Nem todos entenderam o peso dessa opção e insistência. Tive a oportunidade de ouvir, em congressos e encontros, algumas reservas a respeito. É útil colher os motivos pelos quais aqui e ali se insinuam essas reservas, também em nossos ambientes.
Há quem tema que se volte a pensar nos religiosos como pessoas constituídas publicamente numa situação social diversa, coisa já “estranha” à mentalidade atual. Isso está totalmente excluído. Da nossa escolha de Deus não provêm prerrogativas ou privilégios de “status”, nem em âmbito secular nem eclesial. E vale a pena recordar que a nossa existência não é protegida, mas exposta.
Outras reservas vêm, ainda, da suspeita de que os consagrados considerem a si mesmos, e sejamos tidos pelos outros, como “superiores”. A “excelência objetiva” da vida consagrada, a “nova especial consagração”, o termo “mais” (mais radical, mais intensa, mais próxima, mais conforme), repetido freqüentemente para descrever o empenho do religioso em relação às exigências pedidas a todo cristão, causa desconfiança. Como também o temor que os religiosos apareçam organizados numa categoria separada, em contraste com a atual visão eclesial de comunhão a ser realizada também em âmbitos imediatos, como as igrejas locais e as comunidades paroquiais.
Há também outras duas dificuldades levantadas por alguns. Uma, de tipo pastoral: que a afirmação antes e quase isolada da relação pessoal com Deus centralize novamente os religiosos na própria perfeição, separando-os do ser para o mundo. A outra, espiritual: que isso determine uma visão intimista ou dualista da experiência cristã (sacro – profano; espiritual – corporal; relação com Deus – ação no mundo). Os dois aspectos tocam-nos de perto pelas finalidades apostólicas da nossa Congregação, delineadas no artigo 6 das Constituições, e pela espiritualidade ativa que se inspira na caridade pastoral.
Nenhum dos significados que provocam essas diferenças está compreendido no termo consagração, de acordo com o aprofundamento feito nos últimos anos. Antes, esclarece-se o sentido total que a consagração tem. Ela compreende ao mesmo tempo todos os elementos de um projeto de vida em Deus: conselhos evangélicos, missão apostólica, comunhão fraterna, espiritualidade. Não se trata de uma elemento “organizativo” diverso ou acima do conjunto deles, mas o acontecimento que está em sua base. É a graça e a relação que a todos compreende. O que nos é familiar, porque encontrado em nossas Constituições: «Missão apostólica, comunidade fraterna e prática dos conselhos evangélicos são os elementos inseparáveis da nossa consagração, vividos num único movimento de caridade para com Deus e para com os irmãos»23.
A consagração não consiste na disposição externa da vida, mas numa graça que transforma interiormente. A nossa Regra afirmará que fomos consagrados não por uma pessoa ou instituição humana, nem em força de um gesto mesmo litúrgico, mas com o dom do Espírito: «O Pai nos consagra com o dom do seu Espírito e nos envia para sermos apóstolos dos jovens»24.
Trata-se de um motivo retomado continuamente em nossas Constituições com outras palavras equivalentes: vocação, aliança com Deus, doação total, amor de predileção, opção radical. Todas elas indicam uma só coisa: uma relação particularíssima de Deus e com Deus, que marca a nossa experiência pessoal e o nosso trabalho educativo.
Por causa deste sentido total (seqüela de Cristo com os votos, vida de comunhão, formas concretas de missão) dão-se muitas formas ou tipos no interior da vida consagrada. A consagração não é una na modalidade, mas tem múltiplas expressões. É importante entender isso para não confundir consagração com o aspecto só estritamente “religioso”, criando uma espécie de dualismo quanto aos compromissos pastorais, mais ainda quando estes, como é o nosso caso, desenvolvem-se em âmbito secular e exigem profissionalidade e relações também seculares.
Pela nossa unidade pessoal, pelo nosso testemunho, pela contribuição a dar na comunidade educativa, interessa redescobrir alguns aspectos da consagração. Hoje, mais do que como um “momento” singular, ela é pensada como um “continuum” que compreende a existência inteira; mais do que como um “estado” em que se é estabelecido, de uma vez por todas, ela é tida como um dom, um caminho a percorrer, uma relação a cultivar. «A vida inteira, dedicada ao serviço de Deus, estabelece uma consagração especial»25.
A vida consagrada compreende a experiência pessoal do apelo ou vocação, a acolhida da iniciativa de Deus na fé, a opção de um projeto de discipulado ou seqüela de Cristo, o reconhecimento, por parte da Igreja, da ação de Deus em nossa pessoa e a inserção pública do projeto escolhido em sua missão.
Penso que seja útil repensar e reviver esses aspectos e passagens. Eles não têm apenas um valor doutrinal, de iluminação, mas representam uma condição para a expressão viva da consagração em nossos ambientes.
3. A alegre experiência de um dom recebido
«Um apelo acompanhado de uma atração interior», diz a Exortação Vita Consecrata falando da consagração26. «Uma experiência singular da luz que promana do Verbo Encarnado constituem certamente os chamados à vida consagrada»27. «Quem recebeu a graça desta especial comunhão de amor com Cristo, sente-se como que arrebatado pelo seu fulgor»28.
Muitos “motivos” transversais da Exortação Apostólica insistem nesse elemento subjetivo, que é o sinal e o primeiro passo da consagração: apelo da beleza que atrai, sentir-se alcançado por uma particular manifestação de Cristo29, ser arrebatado no horizonte do eterno30 ou envolvido no fulgor da verdade, fazer experiência de Deus amor, felicidade interior para um conhecimento novo, fascínio da sabedoria.
A consagração consiste no fato que Deus se faz perceber em nossa vida de forma singular até envolvê-la totalmente e tornar-se o seu “motivo” principal, Aquele que mais escutamos e para quem olhamos com mais atenção e gosto. E não por obrigação religiosa ou ética, mas como vida, sentido e alegria.
Esta atração ou paixão de Deus é um dado e uma experiência que podemos reviver a posteriori. Ela marca o percurso da nossa decisão vocacional. Recordamos, certamente, quando e porque nos decidimos por Ele, como os esposos recordam-se do momento em que se deu o seu encontro e como se acendeu a atração recíproca.
Para alguns pode ter sido uma iluminação repentina num momento de particular intensidade espiritual, por exemplo, um retiro. Para a maioria, entretanto, tudo aconteceu gradualmente: uma primeira amostra no contato com ambientes ou pessoas ligadas ao religioso, nos quais se compreendeu um valor particular; depois, aos poucos, foi-se descobrindo a fonte de onde esses valores promanam; participou-se da experiência daqueles que nos impressionaram pela amizade, a colaboração e as confidências. Descobriu-se um panorama de vida novo e repleto de sentido. Enfim, sentimo-nos “presos”, segundo a expressão de São Paulo: «Fui conquistado por Jesus Cristo»31.
É a expressão bíblica de pertencer a Deus e não conseguir separar-se dele, embora conscientes de nossas fraquezas e infidelidades: «Seduziste-me, Senhor, e deixei-me seduzir. (…) Havia um fogo ardente em meu coração, comprimido dentro de meus ossos; esforçava-me por suportá-lo, mas não conseguia»32.
Ouvimos, às vezes, dessas histórias pessoais quando, nos encontros juvenis, algum/a jovem professo/a conta aos companheiros como e porque se decidiu a entrar na vida religiosa.
As narrações são muito variadas quanto às particularidades e circunstâncias. Existe, porém, em todos um mesmo esquema: depois de um primeiro vislumbre do valor de Cristo, de Deus Pai, para a própria vida, a reflexão levou-os a escolhê-los como “o amor” da própria existência, preferindo-o a outras possíveis experiências humanas. É o início. Ouvimos a história mais completa de religiosos, também irmãos nossos, que responderam alegremente ao apelo.
A consagração não consiste principalmente num decreto, num conjunto de sinais externos, num estado social, numa separação do mundo, mas no fato de Deus ter entrado na existência de uma pessoa e nela ter tomado o lugar principal, habitando nela e tornando-a interlocutora e companheira.
Não é portanto exclusiva dos religiosos, e nem sequer dos cristãos. Onde quer que Deus intervenha, criando ou salvando, Ele consagra com a presença do seu amor e dá uma dignidade inviolável. A primeira consagração é a existência humana: é o primeiro ato de amor que estabelece o caráter intangível da pessoa, a sua superioridade sobre tudo e ainda os traços fundamentais da nossa existência.
Através da fé e do batismo, que são auto-comunicação de Deus através do ministério da Igreja, a nossa pertença a Ele torna-se consciente e transforma-se em princípio de um novo desenvolvimento pessoal. Nós mesmos explicamo-lo tantas vezes aos jovens quando falamos da consagração do batismo que nos faz filhos de Deus, membros do seu povo, templos do Espírito.
A coisa mais singular do consagrado na vida religiosa ou no “século” é que ele sente isso tudo como o elemento principal, um ponto irrenunciável para a própria realização. Deus alcança-o no momento em que faz o projeto da própria vida e através do dom do Espírito atrai-o a si de forma radical e exclusiva: é o fato original da consagração que a Igreja discernirá, tornará público, confirmará inserindo esse dom em sua comunhão e missão.
O recente congresso dos jovens religiosos, realizado em Roma, em outubro de 1997, exprimiu este primeiro elemento da consagração no mote: Vidimus Dominum. Tivemos uma experiência de encontro, revelação, “visão” do Senhor.
A vivacidade dessa experiência não deve diminuir com o aumento da idade ou o enraizar-se do hábito. Antes, ela é chamada a amadurecer e preencher a vida. Caso caísse, a vida religiosa perderia a própria motivação e seria arrastada para o profissionalismo, isto é, par a tão somente realização correta dos próprios deveres.
Aconteceria a nós o que acontece aos casais cansados, que continuam a conviver em paz, mas que não esperam dessa convivência nem novidade, nem felicidade.
Acrescento que hoje isso é indispensável. Vivemos tempos de emergência do “subjetivo”; a comunicação leva a sublinhar “a emoção”; os jovens vão para onde leva-os “o coração”; menos indicada que nunca é a “genericidade”, uma proposta que não toque a vida. Aos jovens religiosos o Papa dizia: «Esta sabedoria (da vida consagrada) é o sabor do mistério de Deus, o gosto da intimidade divina; mas é também a beleza do estar juntos em seu nome»33.
4. A confissão da iniciativa de Deus.
Ao corresponder-se a essa intuição, gosto, percepção nítida da presença de Deus e da atração de Cristo e da nossa alegre acolhida, vai-se enraizando em nós a convicção de termos sido destinatários da atenção e do amor de Deus, não em geral, como indivíduo na massa, mas pessoalmente: «Chamei-te pelo nome»34.
«Escolheu-nos antes da criação do mundo para que fôssemos seus filhos adotivos»35. A Escritura está repleta de expressões desse teor quando descreve a atitude de Deus para conosco.
O primeiro passo foi dele. Não fomos nós que o alcançamos; mas foi Ele quem veio até nós e entrou em nossa existência. A categoria “dom” para interpretar o fato, não só da vocação, mas da mesma existência, é dominante e é usada continuamente na Exortação Apostólica.
Chama a atenção o uso do verbo “consagrar” no passivo. Diz-se com freqüência que «fomos consagrados». A consagração não é um esforço nosso para chegar a um certo grau de virtude ou colocar o pensamento de Deus no centro da nossa vida. Isso é sobretudo conseqüência do fato que está muito dentro de nós e na base do nosso projeto. A consagração é uma visita, um dom, uma vinda de Deus em nossa direção, uma irrupção da sua graça em nossa vida. A iniciativa é expressa no evangelho com o olhar que Jesus dirige a alguns, o chamado, o convite, o fascínio que Ele suscita, o envolvimento prático, a interpelação, a visita em casa.
Vê-se o mesmo nas vocações proféticas. Elas são repentinas e imprevisíveis. Não é o profeta que vai em busca de Deus, mas é Deus que o reveste, o ocupa. Amós diz que caminhava com o seu rebanho quando ouviu a voz de Deus36. Os outros profetas falam de movimento semelhante, embora em circunstâncias muito diversas. Normalmente, para exatidão teológica, seguindo a ordem da causalidade, esse elemento é enunciado em primeiro lugar.
A iniciativa é do Pai que nos coloca na rota de Cristo. «Está aqui o sentido da vocação à vida consagrada: uma iniciativa total do Pai (cf. Jo 15,16), que requer daqueles que ele escolhe uma resposta de dedicação plena e exclusiva»37. Jesus chama, convida: «A alguns Ele pede uma adesão total, que implica o abandono de tudo (cf. Mt 19,27) para viver na intimidade com Ele e segui-lo para onde quer que vá»38. A iniciativa pertence ao Espírito que, do profundo da consciência e da mente, produz aberturas, revelações, gostos, propósitos, tendência, amor por Deus e a sua obra. «É o Espírito que suscita o desejo de uma resposta plena; é Ele que orienta o crescimento desse anseio, fazendo amadurecer a resposta positiva e sustentando, depois, a sua fiel realização»39.
Trata-se de abrir-se à escuta, de responder, de deixar-se ocupar, de acolher. A iniciativa e as possibilidades não estão em nós. É preciso sentir a presença que nos fez objeto de sua predileção e responder com amor. A consagração é toda fundada na relação: não é principalmente um esforço a superar em si mesmos, mas um confronto, uma luta com Deus. Domina, no ícone de Jacó em luta com Deus, o desejo da proximidade e benção do Senhor, do qual não se pode separar, embora às vezes a sua presença provoque resistência em nós. A imagem exprime com vigor uma relação sentida como vital, também numa existência problemática.
A iniciativa de Deus não deve permanecer um “segredo” pessoal, uma doutrina teológica, mas tornar-se uma “confissão” ou proclamação que explique aos jovens a nossa opção de vida. Convém, sobretudo, despertá-la nos inevitáveis momentos de prova, cuja solução confiamos freqüentemente apenas à nossas forças.
5. Um projeto de vida em Deus.
Dos dois fatos descritos acima, que são existencialmente um só (presença de Deus – acolhida; vocação – resposta; apelo – seqüela; dom – correspondência; revelação – adesão), deriva um terceiro: a orientação e a opção de vida.
Amadureceu em nós a convicção e o sentimento de que somos seus, que «nele nos movemos e existimos»40, que Ele é o primeiro e o único importante, não em abstrato e em geral, para o mundo ou para o gênero humano, mas para nós.
Nele concentramos expectativas e esperanças. Buscamo-lo «desde a aurora»41, ou seja, continuamente, como fonte de sentido, como interlocutor, como companhia.
Provém daí uma ligação que nos vai enchendo de luz e de paz, também psicologicamente, e nos caracteriza diante do mundo. O consagrado é aquele que colocou no centro de sua existência Deus e o valor religioso, a fé e o que ela oferece. «O Senhor é a parte da minha herança»42.
Isso não é só um vago desejo, mas um propósito. O esforço é para chegar a viver o mistério de Deus não como uma breve pausa semanal ou diária, por exemplo na missa ou na oração, mas como uma relação permanente, capaz de inspirar decisões e modalidades de vida.
Assumimos, por isso, um projeto concreto, uma forma de existência visível, que carrega o sinal de Deus. Incorporamo-nos numa comunidade que se reconhece já na mesma opção e predispôs um caminho para desenvolvê-la.
Também este tipo de vida comunitária é “consagrado”, não em força de uma separação material do mundo, dos sinais ou das práticas externas (seria esta uma visão estranha à fé cristã) mas, justamente porque a comunhão surge da ação permanente do Espírito, a vida é organizada sob a inspiração do evangelho e a Igreja reconhece-o como uma das suas expressões autênticas e visíveis. Nossas Constituições exprimem-no no art. 50: «Deus nos chama a viver em comunidade… (Nelas) formamos um só coração e uma só alma para amar e servir a Deus e para nos ajudarmos uns aos outros»43.
Sublinha-se nesse projeto o desejo de conformar-se a Cristo, expresso nos conselhos evangélicos assumidos com voto. Eles, embora precisos em seu objeto específico, têm um significado aberto à generosidade e criatividade sem limites.
Exprimem o cerne do evangelho e são sinal da vida que nele se inspira. Hoje, eles são expostos a muitos sérios interrogativos e a novos desafios. E é tudo o mais que supérfluo retomar uma reflexão sobre eles em relação com as correntes, modas ou hábitos atuais, para redescobrir a sua força propositiva e a sua carga de contestação e profecia. Os desafios, de fato, provocam novas expressões e fazem surgir novas mensagens. O fato de entendê-los em sentido evangélico, escolhê-los como modalidade de vida, decidir-se por professá-los publicamente, ser criativos no exprimi-los hoje é um dom que procede da Trindade e reflete o seu mistério de doação.
À imitação é preciso acrescentar duas outras exigências. Primeiramente o traço, a amizade e a intimidade com Cristo. A assunção de suas preferências e de suas atitudes seria insuficiente. É preciso a relação pessoal. Jesus é uma pessoa viva com quem encontrar-se e em quem viver. Estabelece-se entre o consagrado e Ele uma relação profunda. Ensina-o a vida dos discípulos. Jesus, de fato, teve ouvintes, admiradores, sequazes, discípulos e alguns que lhe foram particularmente íntimos e amigos: «Vós sois meus amigos»44. Eram movidos pelo desejo de compartilhar a vida com Ele num estar juntos. «Mestre, onde moras?»45. Repete-se e deve ser meditado que a consagração insere mais intimamente na vida e no mistério pascal de Cristo.
Hoje, quando todos os vínculos institucionais parecem fracos e todas as pertenças formais, transitórias e pouco eloqüentes, a experiência pessoal torna-se testemunho convincente e garantia de fidelidade.
Torna-se oportuno um comentário: é conveniente dar espaço às manifestações afetivas de amizade com Cristo, além das efetivas. É preciso evitar dois extremos: converter o amor em sentimento superficial, um simples movimento de sensibilidade e, o outro extremo, tornar árido o nosso coração com o esquecimento ou o intelectualismo. Se, muitas vezes, no amor de Deus, a vontade fica travada, isso acontece também porque a nossa sensibilidade humana está atrofiada. Enquanto a fé ou o pensamento de Deus não atingem os sentimentos, eles permanecem marginais e inoperantes. Santos existiram que manifestaram com ternura o próprio amor por Deus. Podemos recordar São Francisco de Assis, mas não menos, embora com outro estilo, São Francisco de Sales, em cuja espiritualidade nos inspiramos.
Além da imitação e da intimidade há a participação ativa em sua causa, isto é, gastar-se por aquilo que Ele trabalhou e sofreu. Ocupar-nos-emos disso mais adiante, verificando o predominante caráter apostólico da nossa consagração.
O caminho de amizade, imitação, participação, discipulado, é denominado na Exortação Apostólica como «conformação a Cristo»46. «Na verdade, pela profissão dos conselhos, o consagrado não só faz de Cristo o sentido da própria vida, mas preocupa-se por reproduzir em si mesmo, na medida do possível, «aquela forma de vida que o Filho de Deus assumiu ao entrar no mundo» (LG, 44)47.
Este aspecto da consagração provoca-nos ainda alguns interrogativos práticos e salutares. O que foi e é objetivamente o núcleo gerador e iluminante do projeto, a opção por Cristo, conserva no coração e na vida a sua centralidade a ponto de dar luz e calor ao resto?
Conseguimos fazer com que os jovens e colaboradores percebam que a nossa vida desenvolve-se sob a energia de um grande “amor”, que nos pareceu vantajoso, também humanamente?
6. A profissão pública.
Os três fatos: chamada-resposta-projeto, presença-acolhida-opção, convite-correspondência-aliança são expressos pela profissão. Nela a pessoa “consagra-se” no sentido corrente de oferecer-se, votar-se, colocar-se inteiramente à disposição. O Senhor, como no Batismo, consagra quem o Espírito levou a oferecer-se e dá-lhe uma nova graça para que caminhe com Cristo em novidade de vida48.
As mais antigas fórmulas são concisas e essenciais. As atuais são bastante longas e analíticas. Todas porém sublinham que o objeto da consagração não são as coisas, nem as atividades ou as obrigações morais, mas a pessoa; que a razão última não é a obrigação, mas o amor de Deus sentido e o desejo de a ele corresponder; que os principais sujeitos são o Senhor e quem professa: «Deus Pai, me consagrastes a Vós». (…) «Eu ofereço-me totalmente a Vós»49.
«A profissão religiosa é um sinal do encontro de amor entre o Senhor que chama e o discípulo que responde, doando-se inteiramente a Ele e aos irmãos»50. As exigências da consagração são, pois, totais, exclusivas, perpétuas: tudo, somente, para sempre. Prevaleceu, num determinado período a fórmula “até à morte”. Não era uma determinação de tempo, mas de intensidade: até ao holocausto, à consumação.
A profissão tem uma importância singular na organização e no desenvolvimento da nossa vida espiritual. Não é um ato passageiro, um rito que se realiza e termina deixando compromissos a serem respeitados, mas o início de uma relação que se prolongará pela vida toda, como a do matrimônio. Dela deverão brotar atitudes, gestos e orientações de vida. Resulta, pois, não apenas um propósito de santificação, ou contrato de pertença a uma comunidade; mas, sobretudo, uma fonte de graça, como para os esposos a promessa inicial de pertença recíproca.
A existência será construída sobre a graça que se recebe e o empenho de a ela corresponder. O seu influxo no quotidiano faz a diferença entre o salesiano autêntico e o incolor. Por isso é mais que oportuna a preparação imediata, especialmente à profissão perpétua, que já se tornou comum na Congregação. Não se deve torná-la “restrita” no tempo e no conteúdo, mas qualificá-la, quanto à inspiração como à tomada de consciência da experiência feita.
A profissão é o reconhecimento público, por parte da Igreja, da irrupção de Deus na vida de uma pessoa, da vontade dessa pessoa de viver tal evento na comunidade cristã e a serviço do Reino, não portanto de forma intimista e individual. Ela é reconhecida pela Igreja que a reconhece e incorpora na comunhão e missão do povo de Deus. Autentica o dom e faz-se mediadora da consagração51. A liturgia, com efeito, valoriza a profissão com uma celebração especial: invoca sobre as pessoas o dom do Espírito Santo e associa a sua oferta ao sacrifício de Cristo, enquanto a presença numerosa da comunidade dá ao ato um relevo carismático e eclesial.
Esta intervenção da Igreja deve ser relacionada a um ponto discutido e sofrido hoje em alguns ambientes, sobretudo do ponto de vista prático: o caráter indispensável da vida consagrada para a qualidade da comunhão e missão da Igreja. Lemos na Exortação Apostólica: «A vida consagrada presente desde os inícios, jamais poderá faltar à Igreja como um elemento próprio irrenunciável e qualificante, enquanto expressivo da sua mesma natureza»52.
«A concepção de uma Igreja unicamente composta de ministro sacros e de leigos não corresponde, pois, às intenções do seu Divino Fundador, como resultam dos Evangelhos e dos demais escritos neo-testamentários»53.
A “profissão” não é genérica promessa de amor, concebida e expressa subjetivamente, mas assunção de um projeto real, suscitado pelo Espírito, vivido pelo Fundador até à santidade, reconhecido pela Igreja como caminho eficaz para a sequela Christi. Leva, portanto, a uma «renovada referência à Regra»54, que recolhe o espírito, a disciplina e os caminhos já experimentados para a realização do projeto.
É atual a preocupação pela espiritualidade. E alguns vão em busca de livros que a proponham e expliquem. Ela já se encontra nas Constituições, meditada por sucessivas gerações que a viveram; é magnificamente apresentada em fórmulas originais que refletem essa longa vivência. Uma leitura rápida ou apenas a escuta comunitária não fazem justiça à profundidade e riqueza do texto. Uma “lectio” que valorize o conjunto e cada uma das expressões, que confronte o significado dessas expressões com a história do carisma e com a vida pessoal, haverá de ajudar-nos a perceber a sabedoria do caminho que a profissão nos oferece.
Sabemos que «a nossa regra viva é Jesus Cristo, o Salvador anunciado no Evangelho, que hoje vive na Igreja e no mundo, e que descobrimos presente em Dom Bosco»55. Justamente por isso «acolhemos as Constituições como testamento de Dom Bosco… meditamo-las na fé e comprometemo-nos a praticá-las. São para nós, discípulos do Senhor, um caminho que leva ao Amor»56.
Vê-se de quanto expusemos aqui que a vida vai se tornando sempre mais autenticamente consagrada através do apelo ou convite de Deus, da experiência sentida da sua presença, da vontade de corresponder, de um projeto concreto de vida, que coloca Jesus Cristo no centro da existência, e do gesto da Igreja que insere tudo isso na própria comunhão e missão.
A consagração abraça toda a vida e realiza-se num crescendo: um encontro, uma aliança, um pacto de amor e de fidelidade, a comunhão final.
7. Algumas conseqüências.
Podemos agora buscar algumas expressões não secundárias para a nossa presença entre os jovens e os leigos.
Os consagrados assumem a santificação como o propósito principal da vida. Isso é comum a todas as formas de vida consagrada. Em seu estilo de existência, de relação, de trabalho querem viver e comunicar, de alguma maneira, o mistério de Deus, libertador, próximo, através da «conformação a Cristo de toda a existência»57. Quereriam ser uma memória viva de Cristo58.
As Constituições afirmam que a santidade é o dom mais precioso que podemos oferecer aos jovens59. Para eles, com efeito, é difícil construir a própria humanidade. Chegam-lhes de fora mensagens e sugestões discordantes e contraditórias. Com dificuldade conseguem avaliar, discernir e, sobretudo, escolher e orientar-se. O clima libertário torna trabalhosa a escuta da consciência e o amadurecimento de critérios morais.
Não lhes é nem mesmo fácil, no contexto secular, perceber a transcendência e crer que Cristo vive hoje e não é apenas uma edificante história do passado.
Colocada assim, em estrita relação com a missão, a santidade torna-se a principal contribuição dos Salesianos religiosos à educação e à promoção humana. De fato, a santidade tem um valor temporal não só pela obras de caridade em benefício dos pobres, mas pelo horizonte, sentido e dignidade que insere na convivência humana.
Tem, portanto, um primado sem par na existência dos consagrados. O seu projeto de vida comunitário assegura-lhe as dimensões essenciais na justa prioridade: a contemplativa ou de oração e interioridade, a apostólica de doação pelo Reino, a ascética de penitência e êxodo. Toda a vida numa relação de intimidade e colaboração com Cristo sob a guia do Espírito.
Outra conseqüência relacionada à anterior é que os consagrados aparecem como especialistas da experiência de Deus. Tal experiência está na origem da sua vocação. O projeto de vida que assumem tende a cultivá-la. Privilegia-a em termos de tempo e de atividade. Todos os cristãos, por outro lado, devem e querem fazer uma certa experiência de Deus; mas só podem dedicar-se a ela fragmentariamente e em condições de vida menos favoráveis, correndo o risco de descuidar-se dela.
Os consagrados propõe-se como interlocutores a todos o que no mundo estão em busca de Deus. Aos cristãos, oferecem a possibilidade de fazer, na companhia deles, uma experiência religiosa renovada; com os que não crêem, colocam-se ao seu lado no caminho de busca.
Hoje, esse serviço está tornando-se atual e exigido. Demonstra-o a abertura de mosteiros e conventos para aqueles que desejam servir-se deles para jornadas de reflexão. Nós, por outro lado, somos chamados a fazer um serviço semelhante com os jovens.
Há na vida uma lei que é aplicada em todos os âmbitos: nenhum valor permanece vivo na sociedade sem um grupo de pessoas que se dediquem complemente a desenvolvê-lo e sustentá-lo. Sem a classe médica e a organização dos hospitais seria impossível a saúde. Sem os artistas e as instituições correspondentes decai o sentido artístico da população. O mesmo acontece com o sentido de Deus: os religiosos, contemplativos ou não, constituem aquele corpo de místicos capaz de ajudar, pelo menos a quem está perto, a ler a existência à luz do Absoluto e a fazer sua experiência.
Isso pertence aos propósitos essenciais da vida religiosa. Com efeito, os Fundadores colocaram o sentido de Deus acima de todas as atividades e aspectos da própria instituição. Crentes e não crentes advertem a mediocridade religiosa dos consagrados como uma deformidade. Os próprios religiosos sentem um vazio que não pode ser preenchido quando essa dimensão desaparece.
A Exortação Apostólica Vita Consecrata viu a vida religiosa como espaço privilegiado para o diálogo entre as grandes religiões60, porque existe em sua origem uma opção que, em termos gerais, é compartilhada por todas as pessoas profundamente religiosas.
As Constituições salesianas recordam-no no art. 62: «Num mundo tentado pelo ateísmo e pela idolatria do prazer, da posse e do poder, o nosso modo de viver testemunha, especialmente ao jovens, que Deus existe e o seu amor pode saciar uma vida»61.
Manifestação deste nosso perfil profissional é a experiência pessoal de Deus, que se tornou consciente, buscada, aprofundada e amadurecida como adultos; é a competência na iniciação de outros, especialmente os jovens. Eles desejam, pelo menos como curiosidade ou sensação passageira, ter algum momento espiritual. Demonstra-o a freqüência às casas de retiro. Seria triste se os consagrados estivessem ocupados mais em administrá-las do que qualificados na guia das pessoas à vida espiritual.
II. A NOSSA CONSAGRAÇÃO APOSTÓLICA62
1. A singularidade da consagração “salesiana”.
A vida consagrada tem uma realização original no carisma salesiano. Já fizemos alguns breves acenos sobre isso para manter o discurso unitário. Examinemo-lo agora mais profundamente.
As Constituições dizem que a nossa consagração é apostólica: «A missão dá a toda a nossa existência o seu tom concreto»63. O apelo de Deus chegou-nos através a experiência da missão juvenil; ela foi para muitos a faísca que ateou o fogo da seqüela.
Na missão empenham-se, manifestam-se em sua singularidade carismática e crescem em nós os dons da consagração. Existe um único movimento de caridade que atrai a Deus e move para os jovens, especialmente os mais pobres, que estimula os gestos de amor e correspondência ao Pai e leva aos serviços de que os jovens precisam.
Antes, as duas dimensões agem circularmente: contemplamos a Deus em sua presença providente e em sua obra de salvação, entrevemo-lo nos acontecimentos, compreendemos os seus sentimentos e a sua ação à luz da imagem do Bom Pastor, que busca as pessoas e dá a sua vida na Cruz. Vivemos o trabalho educativo com os jovens como um ato de culto e uma possibilidade de encontro com Deus.
Se faltasse ou diminuísse uma dessas dimensões, tornar-se-ia descolorida a nossa alegre experiência educativa, o nosso projeto de vida espiritual: numa palavra, a graça típica da nossa consagração recairia no genérico, o carisma seria desvalorizado.
É verdade que a nossa espiritualidade desequilibra-se para o lado da ação. De fato «trabalhando pela salvação de juventude, o salesiano faz experiência da paternidade de Deus e reaviva continuamente a dimensão divina da própria atividade»64.
Da mihi animas, espiritualidade apostólica, caridade pastoral, coração oratoriano são todas palavras que dão a medida da originalidade e unidade que gostaríamos de dar à nossa vida. Torna-se verdadeiro para nós o que Vita Consecrata afirma em geral dos consagrados: «compreende-se em seu chamado o empenho de dedicar-se integralmente à missão»65, assim como é verdade que, na realização da missão, encontramos a matéria, a motivação e os estímulos para viver em profundidade o amor de Deus que «antecipa a toda criatura com a sua Providência, segue-a com sua presença e salva-a com a doação da própria vida»66.
A nossa missão, é preciso insisti-lo, centra-se na área juvenil e segue o caminho educativo. O carisma manifestou-se entre essas coordenadas, e nelas encontramos ainda o segredo da nossa possível vitalidade. Existe aí hoje um amplo campo de criatividade, tanto quanto à colocação das forças, como à reformulação dos conteúdos, ou à renovação da ação.
Longe de nós, portanto, qualquer dicotomia entre interioridade e empenho pastoral, entre espírito religioso e trabalho educativo ou qualquer fuga a formas de vida que não correspondam às três palavras de Dom Bosco: trabalho, oração, temperança.
É preciso, contudo, um esclarecimento, no qual não me detenho porque o considero adquirido: a missão não consiste no trabalho profissional que se realiza. Um religioso ou religiosa é educador ou educadora com todos os outros, mas não como todos os outros. A missão não é nem mesmo apenas um serviço pastoral que se pretende prestar. É uma experiência espiritual, um sentir-se colaborador de Deus, saber-se “enviado” por Ele através das mediações em que vemos a expressão da sua vontade, primeiramente a profissão religiosa na qual manifestamos o propósito de seguir o seu chamado, e estar unidos a Ele na sua obra em favor do mundo e de cada pessoa.
As finalidades da missão vão além dos resultados, mesmo ótimos, que se possam obter num trabalho profissional. Consistem em viver, testemunhar e anunciar o Reino de Deus: a possibilidade de vida para todos, particularmente para os pobres, a revelação do amor que Deus tem por cada um, o sentido da existência. O tipo de vida que assumimos e o trabalho que realizamos servem como vias e instrumentos a essas finalidades.
Essa é a linha da narração que Dom Bosco faz da própria vida nas Memórias do Oratório a partir do primeiro sonho. «O Senhor enviou-me aos jovens, por isso é preciso que me poupe nas outras coisas estranhas e conserve a minha saúde para eles»67. Essa é uma convicção permanente, que se vai enraizando nele com sempre maior profundidade à medida em que decorre o tempo de vida e os acontecimento se vão entrelaçando. «A persuasão de viver sob uma singularíssima pressão do divino domina a vida de Dom Bosco, está na raiz das suas resoluções mais audazes e está pronta para explodir em gestos não comuns. A certeza de ser instrumento do Senhor para uma missão singularíssima foi nele profunda e sólida, o que fundamentava nele a atitude religiosa característica do servo bíblico, do profeta que não se pode subtrair à vontade divina»68.
A “dimensão interior e ulterior” da missão distingue o enviado do funcionário competente e consciencioso, do profissional convicto e satisfeito com o próprio ofício e está na origem das atitudes que configuram a espiritualidade apostólica. Livra-nos do apego excessivo às satisfações e ao sucesso, do desejo, às vezes inconsciente, da própria afirmação, do individualismo. Faz-nos atentos às dimensões do nosso trabalho e infunde um senso de serena confiança.
2. A originalidade “consagrada” da nossa missão apostólica.
São muitos os que se envolvem no apostolado, também juvenil e educativo. Não poucos fazem-no hoje com espírito salesiano.
A missão dos religiosos tem, entretanto, algumas características próprias pelo que o seu serviço aparece como qualificante na comunhão eclesial, diverso de um igual serviço material oferecido numa outra condição de vida.
É interessante meditar essa afirmação porque nos toca de perto: como educadores, fazemos tudo o que faz um educador cristão competente; como sacerdotes, fazemos tudo o que faz um sacerdote diocesano, apoiados, querendo-se, por uma práxis pastoral e por uma espiritualidade particular. A missão, porém, desenvolve-se com a vida antes ainda do que com o trabalho, particularmente hoje quando, na mentalidade comum, este último é sentido como um meio e não se lhe confia a tarefa de exprimir o sentido que se dá à existência.
Elemento caracterizador da missão dos consagrados é justamente a opção de vida, não só como fonte de energia para o trabalho, mas ela mesma como mensagem e serviço. «A própria vida consagrada, sob a ação do Espírito Santo que está na origem de toda vocação e de todo carisma, torna-se missão, como foi toda a vida de Jesus»69.
Antes e mais do que no fazer alguma coisa, a missão da vida consagrada consiste no modo que a existência assume, no viver de uma determinada forma na Igreja e no mundo, no lugar que Deus ocupa nela. Em outros termos: não se abraça a vida consagrada apenas para fazer coisas ótimas do ponto de vista promocional ou religioso, que hoje podem ser feitos de outros modos, mas porque se percebeu e se quer manifestar a presença de Deus na história e na vida, nos campos e através das modalidades incluídas pela própria vocação.
A Exortação Apostólica Vita Consecrata desenvolve cá e lá os motivos dessa afirmação. Assumindo a “forma de vida de Cristo”, os consagrados tornam-se uma referência ao acontecimento de Jesus para a comunidade cristã e para quem no mundo coloca-se questões mesmo mínimas. A dimensão religiosa, que expressam de forma concentrada, apela para a necessidade do reditus ad Deum, o retorno, pelo menos, ao pensamento de Deus.
Nesse sentido, os consagrados já são anúncio, mensagem e serviço. Têm algo a dizer ao homem, recordando a dimensão chamada de “coração” pela Escritura: interioridade, consciência, espiritualidade.
Em ambientes nos quais se tende a levar em consideração apenas as condições materiais da vida, embora com o bom propósito de transformá-las, a vida consagrada mantém viva a necessidade de considerar uma outra dimensão, sem a qual todo progresso externo, embora necessário e obrigatório, pode torna-se largamente insuficiente.
A existência pessoal e coletiva rege-se numa constelação de valores que todos assumimos: respeito pelo outro, trabalho, saúde, honestidade, responsabilidade social. Dizendo constelação, indicamos que há entre esses valores uma organização e uma hierarquia que consente vê-los como um sistema. Cada pessoa coloca no centro alguns de sua preferência e organiza a totalidade em coerência com eles.
Os consagrados colocam no centro o valor religioso e a confissão de Cristo, e daí projetam-se para os demais valores, mantendo o primeiro como justificativa e matriz de tudo o que fazem. Dessa forma assumem a educação, cuidam dos doentes, entregam-se à pesquisa. Cada ramo do agir humano está aberto aos consagrados, desde que a inspiração e a motivação sejam próprias de quem fez de Deus a sua opção principal. Parece uma anormalidade quando prevalece uma outra dimensão e o espírito religioso fica marginalizado.
Os religiosos têm uma missão de estímulo e apoio a quantos, mesmo independente da fé, empenham-se em favor dos outros. Penso nos jovens, mesmo não praticantes, que se aproximam para envolver-se nas iniciativas, atraídos pelo tipo de vida que descobrem em nós. Para os que já vivem a fé, o testemunho dos consagrados qualifica a dedicação aos irmãos e irmãs, recordando que na obra da salvação tudo provém do ágape divino, recebido, vivido e doado.
Sublinhemos, por último, a perspectiva do além; é um serviço de visão e de esperança em relação ao que está mais além da vida terrena. Trata-se de viver o anélito da Igreja quanto à plenitude de vida, o desejo da pátria que ocupa o coração do cristão, a espera da vinda e do encontro com o Senhor, que é conteúdo essencial da fé, e de abrir para todos, janelas para a transcendência.
«Pode-se dizer, então, que a pessoa consagrada está em “missão” por força da sua própria consagração testemunhada segundo o projeto do próprio instituto»70. É o seu aspecto principal. A conclusão parece ser que o trabalho pastoral, educativo e promocional, sem a manifestação da opção radical de vida no seguimento de Cristo, não consegue configurar a missão própria do religioso. E, por outro lado, se ele é assumido à luz da consagração, torna-se sua expressão eficaz e, em certas condições, desprende energias insólitas de caridade e oferece mensagens particularmente eloqüentes.
3. Serviço e profecia.
«Quando o carisma fundacional prevê atividades pastorais, é óbvio que testemunho de vida e obras de apostolado e de promoção humana são igualmente necessárias: ambas representam Cristo, que é ao mesmo tempo consagrado à glória do Pai e enviado ao mundo para a salvação dos irmãos e irmãs»71.
Dissemos que, em certas condições, o nosso trabalho pastoral educativo desprende energias e emite mensagens.
A primeira das condições é o caráter profético. É de toda a Igreja e de sempre; mas é urgente hoje e particularmente indicado aos religiosos. Eles tornam-se sinal e proposta de orientação, mais do que apenas solução de uma necessidade humana; não suprem aquilo que os outros deveriam fazer, mas oferecem o que lhes é próprio: o evangelho. Jesus realiza curas, mas “revela dimensões novas de vida”, “abre aos horizontes de Deus”, diz palavras e faz ações “incompreensíveis” e “audazes”, criticáveis e inúteis no momento, mas que estabelecem novos critérios de existência.
São dez os números dedicados a esse aspecto na Exortação Apostólica no interior no capítulo da missão72. É-nos oferecido, portanto, um critério também para organizar os trabalhos e as obras.
Num mundo marcado pela comunicação, conseguir passar uma mensagem parece ser um dos principais elementos da pastoral. É, de fato, importante não só o que se faz materialmente, mas o que se suscita ou desperta, aquilo para o que se acena a fim de levantar questionamentos, o que se faz cintilar, o que se indica, os desafios que se lançam. Foi dito que a vida consagrada deve não só responder aos desafios, mas também lançar outros deles: à visão “fechada”, ao desejo de posse, à busca do prazer imediato. É interessante ler os sinais dos tempos, mas é preciso escrever outros novos. Deve-se entrar em diálogo com a mentalidade corrente, mas também inserir nela elementos que não estão em sua lógica.
A dimensão profética não deve ser confundida tout cour com a contestação, particularmente no interior da comunidade cristã, com a teatralidade dos gestos ampliados, de bom gosto, pelos meios de comunicação social, com a espetacularidade. É verdade, entretanto, que a profecia comporta novidade, ruptura em relação ao seguro, superação das visões imediatas e restritas a respeito do além, confirmação do que é pequeno ou escondido, mas verdadeiro, como fez Jesus com o do óbolo da viúva, aceitação radical do que é quotidiano, mas fecundo.
Quais sejam as funções da profecia e do profetismo, vêem-se na história do povo de Deus; não estão longe das nossas exigências e da nossa experiência: a profecia recorda, levanta questões, indica uma orientação, interpreta os acontecimentos, reforça e apoia, infunde esperança, apela à sensatez e à conversão.
Ser profeta não é alguma coisa de fácil; por isso aqueles que o tentam com leviandade e vaidade acabam por desencorajar-se ou voltar-se a outras posições.
Elias é apresentado como paradigma do profetismo. Dele diz-se que «vivia em sua presença (de Deus) e contemplava no silêncio a sua passagem, intercedia pelo povo e proclamava com coragem a sua vontade, defendia os direitos de Deus e levantava-se contra os poderosos do mundo (cf. 1Re, 18-19)73.
O problema para os religiosos, e entre eles os Salesianos, é o modo de exprimir essa dimensão com eficácia, o que requer aderência ao momento histórico da mensagem, do estilo de vida e das iniciativas. Os profetas falaram no interior da própria sociedade e dos acontecimentos, transcendendo-os, mas sem ignorá-los ou diminuir o seu peso. Exige também que o anúncio seja autêntico e que os sinais e palavras sejam compreensíveis.
Uma das principais dificuldades da vida consagrada diante do mundo de hoje é o sentimento de uma estranheza cultural, que pode enfraquecer o impulso profético e levar a formas de frustração, resignação, desalento, escondimento e até mesmo abandono.
Por isso, entre as muitas interessantes e, às vezes, originais indicações contínuas nesta parte e em outras da Exortação Apostólica, chama-se a atenção para “um maior empenho cultural”. A vida consagrada, para ser profética, deve ter a capacidade de agitar aquele mundo que se vai afastando do evangelho. E, por isso, deve ser capaz de ler, avaliar, assumir, dar novo significado e contestar as “correntes” ou “modas” culturais, em suas raízes além de em suas manifestações.
Seguindo os três elementos da consagração podem-se propor alguns caminhos proféticos. A missão específica revela-se profética quando projeta e realiza um modo diverso, “mais evangélico” de enfrentar as questões da área típica do próprio trabalho. Não, portanto, apenas suplência, beneficência ou simples manutenção.
Devemos, nesse sentido, perguntar-nos o que inserir hoje na educação e em nossa presença entre os jovens, para atualizar o impacto de novidade na expressão do amor que Dom Bosco teve sobre o seu contexto.
O testemunho profético exige não só dedicação e competência no próprio trabalho, mas também esforço de pensar criativamente e motivar culturalmente modalidades de presença e ação, novas e mais evangélicas, para que o evangelho possa ser fermento em todas as situações.
Da seqüela radical de Cristo deve provir um discernimento dos valores correntes e uma proposta que represente um tipo de educação alternativa.
Pode ser indicada a denúncia que coloca em discussão algumas orientações ou exageros das nossas sociedades, o que exige vigilância e resistência evangélica. Comporta uma ação crítica franca diante da exaltação do instinto sexual desligado de qualquer norma moral, da “cultura da transgressão”, que leva a verdadeiras e próprias aberrações; diante da busca a qualquer custo do dinheiro (pensai nos imensos fenômenos de exploração!), que leva à insensibilidade social e ao abandono prático dos pobres ao seu destino, tanto por parte de governos como da opinião pública; enfim, diante do desejo exagerado e narcisista do sucesso, do aparecer a qualquer custo, do emergir, do poder.
A contestação, porém, não basta e, menos ainda, se parece uma condenação fundamentalista. Com a existência realizada e serena e a reflexão cultural empenhada, o consagrado propõe alguns bens nos quais a pessoa pode colocar a felicidade e oferece a sabedoria contida no evangelho. Fazemo-lo em termos de orientação e de conteúdos educativos assumidos em primeiro lugar por nós mesmos.
É interessante a anotação a respeito: «Aqueles que seguem os conselhos evangélicos, enquanto buscam a santidade para si mesmos, propõem, por assim dizer, uma terapia espiritual para a humanidade, visto que recusam a idolatria do criado e, de alguma maneira, tornam visível o Deus vivo»74. É uma terapia para o desejo insaciável, para o vazio, para a busca do imediato, para o egoísmo.
Atenção, reflexão, capacidade de interpretação, diálogo: deveria brotar daí capacidade e prontidão para entrar em comunicação e confrontar-se com a cultura “secular”, sendo verdadeiro que o evangelho é um enriquecimento para o homem e que quanto mais alguém se aproxima de Cristo, mais se torna homem e mulher75.
A vida fraterna em comum torna-se profética quando afina a consciência crítica diante do individualismo. Com ela unimo-nos aos que elaboram a “cultura da solidariedade”, dando a própria contribuição de experiência e reflexão. Como expusemos na Carta anterior isso acontece particularmente quando leva a expandir a comunhão e o espírito de reconciliação, acolher os mais necessitados e criar o intercâmbio de dons do carisma na comunidade educativa.
4. Os múltiplos dons da nossa comunidade consagrada.
Outra originalidade da contribuição que a nossa experiência de consagrados pode dar, quando é vivida com profundidade e expressa luminosamente no trabalho educativo, provém da forma tomada pela nossa comunidade. Existem nela dons e carismas pessoais assumidos e resignificados na consagração. E existem serviços interpretados e vividos à luz da consagração.
A comunidade salesiana vê-se enriquecida particularmente com a presença significativa e complementar do salesiano presbítero e do salesiano coadjutor76. Juntos configuram uma exaustão insólita de energias para o testemunho e para a missão educativa.
Podemos perguntar-nos o que evidenciam as figuras do salesiano coadjutor e do salesiano presbítero na experiência e no testemunho da consagração apostólica; o que a laicidade acentua na “consagração” e o que a “consagração” dá à “laicidade”, ambas plasmadas e como que fundidas pelo espírito salesiano. Podemos perguntar-nos igualmente o que o ministério presbiteral acentua na consagração salesiana e o que esta dá ao ministério.
O valor original não está na adição extrínseca de qualidades ou categorias de sócios, mas na fisionomia tomada pela comunidade salesiana.
O salesiano coadjutor «unifica em si os dons da consagração e os da laicidade»77. Vive a laicidade não nas condições seculares, mas nas da vida consagrada; vive como religioso salesiano a sua vocação de leigo e vive como leigo a sua vocação comunitária de religioso salesiano78.
«Aos irmãos consagrados – afirma o CG24 – lembra os valores da criação e das realidades seculares: aos irmãos leigos lembra os valores da dedicação total a Deus por causa do Reino. A todos oferece particular sensibilidade pelo mundo do trabalho, a atenção ao território, as exigências da profissionalidade através da qual passa sua ação educativa e pastoral»79 .
Nele, profissionalidades técnicas, campos seculares de trabalho, formas práticas de intervenção mostram a sua orientação substancial para o bem último do homem, especialmente dos jovens, e para o Reino. “Tudo está aberto para ele, até aquelas coisas que os padres não podem fazer”; mas tudo é colocado à luz do amor radical a Cristo, polarizado na evangelização e na salvação eterna dos jovens.
«A presença do salesiano leigo enriquece a ação apostólica da comunidade: torna presente aos Salesianos presbíteros os valores da vida religiosa leiga e chama-os permanentemente à colaboração viva com os leigos, recorda ao salesiano padre uma visão e um esforço apostólico muito concreto e complexo, que vai mais além da atividade presbiteral e catequética em sentido estrito»80.
Sobretudo em determinados contextos e diante de um certo modo de perceber e conceber o sacerdote, como figura sacral ou cultual, o estilo de consagração do salesiano coadjutor proclama concretamente a presença e comunicação de Deus no quotidiano, a importância de tornar-se discípulos antes de serem mestres, o dever de testemunhar uma experiência pessoal de fé, para além dos empenhos funcionais ou de ministério.
Certas atitudes, que se dão por certas no sacerdote enquanto, pensa-se, pertencem ao seu “ofício”, interpelam mais quando encontram-se no religioso leigo.
A figura do salesiano sacerdote unifica em si os dons da consagração e os do ministério pastoral. O sacerdócio tem nele uma realização original que nasce justamente da recíproca referência interna e da fusão fecundante com a consagração apostólica salesiana.
A reflexão eclesial pôs às claras que o sacerdócio não é genérico, nem como exercício do ministério, nem como graça. A sua prática e a sua espiritualidade vão-se configurando de acordo com a destinação vocacional do sujeito.
Acertaram na mosca aqueles que, para a biografia de Dom Bosco, criaram o título: “Um sacerdote educador”, ou “Um sacerdote para os jovens”. O carisma deu origem a uma modalidade singular no ser sacerdote e no exercer o ministério.
O sacerdote é mediação sacramental de Cristo. A Ele conforma-se o Salesiano na caridade pastoral e no desejo de “salvar” os jovens em contexto educativo. A sua palavra não só traz a palavra de Jesus, mas dela participa. O exercício da palavra no âmbito educativo tem situações, circunstâncias, temas e formas “sui generis”. Vão da homilia ao diálogo pessoal e amigo, da catequese à escola. Serve-se do púlpito, da cátedra e do pátio. Toma forma de pregação, de saudação e de conselho. Ilumina as situações dos jovens e cura suas feridas.
A ação de coordenação e animação do sacerdote salesiano é participação no ministério pastoral de Jesus e da Igreja. Serve-se de sua graça para unir a comunidade e orientá-la para o Pai. Tal ministério, no ambiente e na comunidade educativa, tem finalidades e modalidades típicas.
Também o serviço da santificação tem no ambiente educativo, com os jovens mais pobres e necessitados e com os colaboradores, seus itinerário singulares com o momento mais significativo e fecundo nos sacramentos, mas não se limitam a eles. É toda a iniciação na vida em Cristo.
Clérigos e leigos constituem e testemunham na comunidade salesiana uma fraternidade exemplar pela eliminação das distâncias baseadas nos papéis e ministérios, pela capacidade de pôr em comum os diversos dons num único projeto. A relação recíproca é fonte de mútuo enriquecimento e estímulo pela experiência harmoniosa, onde o sacerdócio não eclipsa a identidade religiosa e a característica laical não vela a radicalidade da consagração. Isso tudo é um antídoto à clericalização do religioso sacerdote, que se deplora em algumas faixas da vida consagrada, ou a secularização do religioso leigo.
Devemos estar particularmente atentos ao estimulo dos sacerdotes para que sejam sensíveis à dimensão histórico-laical da Igreja e da salvação, e favorecer uma experiência não genérica dos coadjutores, mas alimentada pela caridade pastoral. Dessa forma a graça de unidade será evidenciada na vida de cada irmão, na fisionomia da comunidade e na realização da missão.
Há na Congregação pouco mais de 11.000 sacerdotes, todos suscitados por Deus como educadores dos jovens. O que aconteceria se todos reavivassem e colocassem em ação com intensidade o nosso sacerdócio “típico”? E com isso não me refiro a tomar um ministério fora do ambiente que nos foi confiado, mas a jogar justamente todos os recursos do sacerdócio no ambiente juvenil e na comunidade educativa.
Há igualmente um número por nada indiferente de leigos consagrados: cerca de 2.500. Quanto pode influir sobre jovens e educadores a sua laicidade vivida à luz do amor de Deus e dos irmãos? A sua presença significativa e crível faz com que os jovens percebam os valores da seqüela e do discipulado que freqüentemente identificam com o sacerdócio; «oferece, aos que não se sentem chamados à vida consagrada, um modelo mais próximo de vida cristã, de santificação do trabalho, de apostolado leigo. Permite à comunidade salesiana uma particular incarnação apostólica no mundo e uma particular presença na missão da Igreja»81.
5. Algumas conseqüências
O que acabamos de dizer tem aplicações muito práticas em três âmbitos. Enuncio-os apenas sinteticamente para sugerir uma reflexão posterior,
O primeiro é a nossa comunidade religiosa. Os sinais da sequela Christi devem ser evidentes e legíveis quanto ao primado dado ao espírito religioso e à vida espiritual. Eles manifestam-se na oração calma, regular e participada. Hoje, dizíamos acima, conventos e mosteiros convidam católicos e profanos à experiência de oração. Foi típico de Dom Bosco e de seus Salesianos rezar com os jovens e com o povo. Seria interessante que a nossa oração fosse tão educativa a ponto de podê-la compartilhar, em circunstâncias particulares, com quem desejasse participar dela.
A consagração manifesta-se também na dedicação ao trabalho comunitário ordenado, preparado, executado com diligência. Impressionou-me ler as seguintes orientações sobre o trabalho na Regra de um instituto religioso: «É obediência e prolongamento da Eucaristia e da liturgia das horas e objeto normal da nossa oferta: portanto pré-organizado, protegido, realizado com zelo religioso»82
Demostra-se a consagração também na temperança evangélica. Pede-se hoje, de muitas direções, um retorno à austeridade cotidiana diante do alastrar-se do consumismo, das desigualdades e do desperdício. A temperança abarca todas as manifestações visíveis dos votos. A consagração floresce sobretudo na unidade de espírito e ação; é o sinal que Jesus mesmo recomenda aos discípulos, aquele que Dom Bosco mais desejava ver em suas comunidades.
O segundo âmbito, onde oferecer os dons da consagração, é a comunidade educativa pastoral, que leva a sublinhar o primado da espiritualidade como principal energia do educador. Dizemos com freqüência que o Sistema Preventivo é espiritualidade e pedagogia, e que entre as duas há uma tal comunicação que não é possível colocar em prática a segunda sem assumir também a primeira. Essa convicção corresponde à afirmação de Dom Bosco: «A prática desse sistema baseia-se nas palavras de S. Paulo: A caridade é benigna e paciente: tudo sofre, mas espera tudo e suporta qualquer incômodo»83. O Sistema Preventivo, afirmou o CG2484, tem uma alma religiosa. É uma pedagogia do Espírito. A dimensão humanista e profissional deve ser valorizada ao máximo. Deve, contudo, ser fermentada com a orientação para Deus e para a fé.
O terceiro âmbito, no qual a consagração pode fazer-se sentir, é o ambiente educativo. Há que se assumir muito de quanto dissemos sobre a profecia. Através de palavras e exemplos os jovens podem ver em nossa vida uma crítica e uma orientação: crítica aos excessos da mentalidade transgressora, à corrida aos bens que produz miséria, à liberdade sem finalidade; um anúncio de novas e originais formas em que a pessoa pode realizar-se, dos bens reais propostos pelas Bem-aventuranças e pela doação de si como mola da vida.
A manifestação mais clara da nossa presença de consagrados nos ambientes educativos é a sua fermentação pastoral. O educador tem em vista, desde o início, revelar aos jovens o amor de Deus, qualquer que seja o ponto de partida e os caminhos a percorrer. Fá-lo através da abertura à fé, predispondo para os jovens um encontro com Cristo vivo e apoiando um caminho de crescimento através da catequese, dos sacramentos, da participação na Igreja. Para nós não teria sentido uma educação neutra ou sem referência a Cristo. A consagração convida-nos, pois, a repensar e realizar o evangelizar educando.
6. O guia da comunidade consagrada
O desenvolvimento dos dons da consagração e a comunicação de suas riquezas à comunidade educativa e aos jovens são entregues à co-responsabilidade comunitária. Também a sua animação é participada, mas tem no diretor o seu ponto de referência e o responsável principal. Ele é ao mesmo tempo Superior religioso, diretor da obra apostólica, pai espiritual da comunidade.
Meditou-se muito sobre a sua figura e o seu papel, não sem razão, dada a evolução acontecida nas comunidades e nas gestões das obras. Figura e papel amadureceram no próprio Dom Bosco, que foi diretor por muito tempo e na fase mais criativa de sua vida. Recorda do nosso Pai, sobretudo a preocupação pelo bem espiritual, a bondade que inspiravam os seus relacionamentos e a sabedoria na orientação de indivíduos e grupos: um trinômio que caracteriza a sua paternidade. Esta, depois, exprimia-se em múltiplos gestos e atitudes.
Com efeito, o nosso texto O Diretor Salesiano adverte que a primeira tarefa do diretor é «despertar nos indivíduos a consciência do que são; fazer emergir as capacidades e os carismas; ajudá-los a manter desperto o espírito da vida teologal; (…) numa palavra, criar clima e condições aptas para que cada salesiano, em plena docilidade à graça, possa amadurecer na identidade da própria vocação e realizar aquela plenitude de “união com Deus”, que foi característica de Dom Bosco. Tudo isso supõe as capacidades técnicas de quem sabe organizar e dirigir; mais ainda, porém, um espírito, ou melhor, uma arte espiritual»85.
Os últimos Capítulos insistiram na animação “espiritual” capaz de tornar a propor, de forma contextualizada, os motivos que estão na base da nossa vida, para favorecer uma resposta sempre mais consciente e completa ao Senhor. A situação atual de nossas comunidades, o seu papel no novo modelo operativo, a exigência de animar uma comunidade de consagrados, a insistência sobre a comunidade local como lugar de formação permanente, exigem do Superior que dê prioridade a alguns aspectos do seu serviço. São bem indicados em nosso Manual, mas nesta oportunidade é bom lê-los também nos textos do Sínodo: «Quem preside a comunidade deve ser considerado antes de tudo um mestre de espírito que, realizando uma função ou ministério de ensinar, exerce a verdadeira direção espiritual da comunidade, o ensinamento autorizado feito em nome de Cristo quanto ao carisma do Instituto. Ele serve a Deus na medida em que promove a autenticidade da vida comunitária e serve aos irmãos ajudando-os a realizar a sua vocação na verdade»86.
É preciso reconhecer os sinais positivos existentes sobre isso na Congregação, como a disponibilidade a assumir a responsabilidade de direção muitas vezes em condições de escassez de pessoal, a formação permanente que vai caminhando em quase todos os lugares, a nova atenção a exprimir a unidade fraterna, o interesse para compreender as modalidades possíveis de direção espiritual.
Retomando os pontos desenvolvidos na primeira parte desta carta, sinto o dever de pedir aos diretores que animem a consagração, despertando nos irmãos a feliz experiência do chamado, sublinhando a iniciativa de Deus na vida e na ação da comunidade, tornando a propor o projeto em seus diversos aspectos e aprofundando o significado da profissão.
Existem alguns momentos e práticas a conservar para que não falte em nenhuma comunidade a Palavra, o encontro de oração, a fraternidade na experiência de consagração, a co-responsabilidade no testemunho e ação comunitária.
Recordo a utilidade do discernimento que leva, em espírito de sinceridade e conversão87, a buscar a vontade de Deus nas questões que se referem ao projeto apostólico88, à vida da comunidade89, aos dons e capacidades dos irmãos90, ao esclarecimento vocacional91 e às tendências culturais.
De acordo com a nossa tradição, dizem as Constituições, «as comunidades são guiadas por um sócio sacerdote, que, pela graça do ministério presbiteral e pela experiência pastoral, sustenta e orienta o espírito e a ação dos irmãos»92.
Não se trata apenas de um requisito jurídico, mas refere-se à substância, às modalidades e aos caminhos tomados pelo serviço de autoridade do diretor. A ele é pedido que nela empenhe todos os dons e energias do seu sacerdócio, que anime como sacerdote e não só como técnico. Deve ser, para a comunidade e o seu ambiente educativo, mediação sacramental de Cristo. A comunidade religiosa e o ambiente educativo são o campo onde o Senhor chama-o a fazer frutificar o seu sacerdócio.
* * *
A cada dia, como conclusão da meditação, renovamos a consagração a Nossa Senhora, invocando-a com dois títulos relacionados, que sintetizam a história e a espiritualidade salesiana: Imaculada e Auxiliadora. É uma prática mantida em todos os lugares com afetuoso apego e sentida devoção.
Vem-me espontâneo recitar a oração de consagração unido espiritualmente a vós, como conclusão destas reflexões.
As Constituições, apresentando uma tradição espiritual, vêem nesta imagem de Maria, a representação da nossa consagração apostólica: «Maria Imaculada e Auxiliadora – dizem – educa-nos à plenitude da doação ao Senhor e nos infunde coragem no serviço aos irmãos»93. Os dois aspectos fundidos num único movimento de caridade.
Ela nos ensina a viver em nosso tempo a seqüela incondicional de Cristo e o serviço assíduo de que é Mestra e exemplo94 e a comunicar aos jovens a alegria que comporta o fato de colocar-se no seguimento de Jesus.
P. Juan Edmundo Vecchi
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1 C 3
2 cf. CG24, 54
3 cf. ib.
4 cf. CG24, 88
5 cf. CG24, 152
6 CG24,45
7 cf. CG24, 140
8 cf. CG24, 45
9 cf. CG24, 102
10 cf. CG24, 45
11 cf. CG24, 88
12 cf. CG24, 109-110
13 cf. CG24, 167
14 ib.
15 CG24, 150
16 CG24, 155
17 CG24, 167
18 ACG 363
19 cf. Suplemento ACG 358, Número especial, p. 16 (Estratégias n. 32, Intervenções n. 34).
20 Elementos essenciais do ensinamento da Igreja sobre a vida religiosa, 5
21 RD, 7
22 VC, 72
23 C 3
24 ib.
25 Elementos essenciais do ensinamento da Igreja sobre a vida religiosa, III, 4
26 VC, 17
27 VC, 15
28 ib.
29 Cf. VC, 14
30 cf. ib.
31 Fl 3,12
32 Jr 20,7-9
33 João Paulo II, Mensagem do Congresso VIDIMUS DOMINUM dos jovens religiosos, 29-9-1997
34 Is 43,1
35 Ef 1,4
36 cf. Am 1,1
37 VC, 17
38 VC, 18
39 VC, 19
40 At 17,28
41 Sl 62,2
42 Sl 16,5
43 C 50
44 Jo 15,14
45 Jo 1,38
46 VC, 16
47 ib.
48 Cf. RD, 7
49 C 24
50 C 23
51 cf. Elementos essenciais do ensinamento da Igreja sobre a vida religiosa, I, 8
52 VC, 29
53 ib.
54 VC, 37
55 C 196
56 ib.
57 VC, 16
58 cf. VC, 22
59 cf. C 25
60 cf. VC, 101-102
61 C 62
62 cf. C 3
63 C 3
64 C 12
65 VC, 72
66 C 20
67 MB VII, p. 291
68 Stella P., Don Bosco nella storia della spiritualità cattolica, Vol. II, p. 32
69 VC, 72
70 VC 72
71 ib.
72 Cf. VC 84-93
73 VC, 84
74 VC, 87
75 cf. GS n. 41
76 cf. CG24, 174; C 45
77 CG24, 154; cf. 236
78 cf. Il Salesiano Coadiutore, Roma 1989, p. 107-108
79 CG24, 154
80 Il Salesiano Coadiutore, p. 116
81 Il Salesiano Coadiutore, p. 116; cf. ACG21, 195
82 Pequena Família da Anunciação, Documentos 10/25
83 Dom Bosco, O Sistema Preventivo na educação da juventude, 2; cf. Constituições SDB, Escritos de Dom Bosco, p. 232
84 cf. CG24, 100 e passim
85 O diretor salesiano, Roma, 1986, n. 105
86 A Vida Consagrada e a sua missão na Igreja e no mundo, Instrumentum laboris, 59
87 cf. C 91
88 cf. C 44
89 cf. C 66
90 cf. C 69
91 cf. C 107
92 C 12
93 C 92
94 cf. VC, 28