351-400|pt|397 Apresentação da Região Ásia Leste e Oceania

1. CARTA DO REITOR-MOR

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«VÓS SOIS O SAL DA TERRA...

VÓS SOIS A LUZ DO MUNDO» (Mt 5, 13.14)

Apresentação da Região Ásia Leste e Oceania



1. Uma breve apresentação global da Região. A realidade social. – O contexto cultural. - A presença da Igreja Católica. - A vida consagrada. 2. Como Dom Bosco chegou ali e como se desenvolveu o seu Carisma. O chamado missionário de Dom Bosco nasce na Ásia. - Anotações históricas a partir dos sonhos missionários de Dom Bosco. - Dom Bosco chegou antes dos Salesianos. - Uma Região missionária. 3. Apresentação da Região do ponto de vista salesiano. Os Salesianos. - A vida comunitária. - Tipologia das presenças e obras salesianas: Pastoral juvenil - Formação - Trabalho missionário e aculturação do Carisma - Comunicação social - Família Salesiana - Economia-solidariedade. - Santidade salesiana. 4. Algumas experiências carismáticas muito significativas (nas diversas Inspetorias). 5. Alguns desafios. 6. Conclusão – “Estou sempre perto de vós".




Roma, 25 de fevereiro de 2007

Festa dos Santos Mártires Luís Versiglia e Calisto Caravario



Caríssimos Irmãos,


depois da carta de apresentação da Região Ásia Sul, tenho o prazer de vos falar agora da Região Ásia Leste e Oceania. Mais do que em outras partes do mundo, aqui os cristãos em geral e os religiosos em particular, são chamados a ser "sal da terra" e "luz do mundo". Diante de povos com tradições religiosas antiqüíssimas e veneráveis, que permeiam em larga medida a sua cultura, é natural que o cristianismo seja visto como religião ocidental e, portanto, estrangeira e estranha. Por isso, os seguidores de Jesus devem dar provas de que o cristianismo, além de saber conviver com outras formas religiosas intensamente enraizadas naqueles povos, é uma religião que se pode inculturar em todas as culturas do mundo sem se identificar, porém, com qualquer uma delas, pois todas devem ser purificadas e elevadas por Cristo. Há necessidade, sim, de um esforço qualificado e custoso de inculturação, mas isso exige do cristão, antes de tudo, uma identidade transparente. No sermão da montanha, Jesus nos diz que ser discípulo é uma questão de ser, não de fazer. E isso é, em todo caso, expressão do quanto se é "sal" e "luz", ou seja, discípulos autênticos de Jesus que não hesita em dizer qual seria a sorte dos seus seguidores caso perdessem a própria identidade, a mesma do sal que perdeu o sabor: «Para nada mais serve senão para ser lançado fora e pisado pelos homens».

Nossa vida deve sobressair-se pela altíssima qualidade espiritual e pelo agir permeado de caridade, de modo que os dois aspectos, experiência de Deus e missão, nos tornem uma presença transfiguradora de Cristo que dê luz a todos os que estão na casa. Eis o auspício de Cristo, que faço meu: «Assim brilhe a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem o vosso Pai que está nos céus» (Mt 5,16). Ao falar da vida cristã como anúncio, João Paulo II escreve na Exortação Apostólica Ecclesia in Ásia: «Este anúncio é uma missão que precisa de homens e mulheres santos que farão conhecer e amar o Salvador através de sua vida. O fogo não pode se aceso senão através de alguma coisa que também esteja inflamada» (n. 23). Para nós, Salesianos, essas imagens de sal e de fogo encontram o seu equivalente na paixão espiritual e apostólica do Da mihi animas, que cada irmão é chamado a despertar no próprio coração.

Nesta área do mundo, da Igreja e da Congregação, não haveria contradição maior do que uma presença cristã religiosa salesiana secularizada, sem uma clara e arrebatadora experiência de Deus, uma presença aburguesada, sem o trabalho solidário pelos mais pobres, que seja sinal eficaz do Reino.

A Região Ásia Leste e Oceania, que compreende 20 países, embora tenha sido a última a ser constituída no último Capítulo Geral, celebrou recentemente o centenário da chegada dos primeiros missionários. Eles chegaram a Macau, na China, em 13 de fevereiro de 1906, para fundar aquela que é a primeira e mais antiga presença - praticamente ininterrupta - de toda a Região. Ela pode ser considerada, com razão, o 'berço' das obras salesianas na Ásia Leste. A obra salesiana na Região é uma árvore já secular, à qual não falta vitalidade e promessas para o futuro. Conta, de fato, com um número não indiferente de novas presenças, também recentes. Naturalmente, sendo uma Região tão diversificada em sua composição, compreende áreas nas quais a Congregação cresce com vigor e fecundidade, e outras nas quais a Congregação olha com interesse e esperança. Trata-se de uma realidade completa e dinâmica, tanto que nos últimos 40 anos, as Inspetorias e Visitadorias que a compõem pertenceram sucessivamente a diversas circunscrições regionais. A opção do CG25 por criar uma Região a sé parece corresponder melhor à realidade e às necessidades das Inspetorias, da Visitadoria e Delegação que a compõem.

A Região estende-se às seguintes Nações: Austrália, Camboja, China (Hong-Kong e Macau), Coréia do Sul, Filipinas, Ilhas Fiji, Ilhas Salomão, Indonésia, Japão, Laos, Mongólia, Papua Nova Guiné, Paquistão, Samoa, Tailândia, Taiwan, Timor Leste, Vietnã.

Ela compreende as seguintes Circunscrições: as Inspetorias da China, Austrália, Japão, Tailândia, Filipinas Norte, Filipinas Sul, Vietnã, Coréia; a Visitadoria da Indonésia e Timor Leste; e, enfim, a Delegação de Papua Nova Guiné e Ilhas Salomão.

Nos primeiros cinco anos de existência desta nova Região, viram-se muitas vantagens em poder acompanhar mais de perto cada circunscrição e coordenar o conjunto. A Visita de conjunto de 2005, realizada em Hua Hin (Tailândia), reforçou o sentido de Região, sobre o que se vinha discutindo há pelo menos 18 anos e se estava experimentando em diversos setores (Inspetores, Dicastérios, atividades).1 Em Hua Hin, contudo, chegou-se ao verdadeiro sentido de Região, ao crescimento na colaboração e à vontade clara de coordenação, expressos no Documento "Vision - Mission".

Contemplando a situação nas diversas realidades da Ásia Leste e Oceania, onde o cristianismo representa uma autêntica minoria, percebe-se logo como os Salesianos são chamados a ser 'sal' e 'luz', a exigência que eles têm de viver a vida consagrada como missionários 'inter gentes' e a sua tarefa de ser 'missionários dos jovens'. A Igreja Católica e, nela, a Vida consagrada e a Congregação Salesiana, vive imersa no oceano de diversos povos, de antigas religiões e de culturas com raízes religiosas profundas mas não cristãs.

Isso torna mais urgente o empenho de inculturação, a fim de enraizar a vida salesiana nos vários contextos e torná-la relevante e fecunda preocupando-se com a identidade cristã e carismática e dando atenção às diversidades culturais. Ao mesmo tempo, ser minoria entre as populações exige de nós nesta Região um empenho decidido para desenvolver a dimensão missionária da vocação salesiana, fazer crescer a missionariedade dos irmãos e das comunidades e dar prioridade à evangelização. Trata-se de um empenho de longo prazo, que exige no Salesiano uma capacidade não inata ao diálogo com as culturas e religiões locais.2


1. Uma breve apresentação global da Região


A área geográfica da Região é muito extensa. O traço mais evidente é a variedade dos contextos e das situações nas quais nossos irmãos vivem a própria vida religiosa e desenvolvem a missão salesiana. Não é fácil descrever de maneira breve uma realidade sociopolítica e religiosa tão variada. Tento aproximá-la de vós em algumas pinceladas,.


A realidade social


Entre as nações compreendidas pela Região, encontramos algumas que só recentemente saíram de situações de guerras, de luta pela própria autonomia, às vezes de guerras ideológicas, civis, com genocídios horrendos. Pode-se dizer que a Região agora é pacífica e se dedica com energia ao próprio desenvolvimento econômico, social e civil, embora não faltem tensões e lutas de matrizes racial, religiosa ou polícia (Timor Leste, Aceh Livre, Ilhas Fiji, Ilhas Salomão, o sul da Tailândia e as Filipinas).

A área da Ásia Leste e Oceania compreende quase um terço da população mundial e ali se fala um terço das línguas do mundo todo. 60% da população têm menos de 21 anos de idade. Só a China, com seu bilhão e trezentos milhões de habitantes, tem um específico peso demográfico, econômico e político superior, não só ao de outras nações, mas de continentes inteiros. Sua abertura econômica e de mercado, a partir de 1979, e sua recente entrada no âmbito da política internacional fazem dela um sujeito que naturalmente influi e influirá sempre mais no futuro da vida social, econômica e política no mundo inteiro. A Região enquanto tal é intensamente envolvida - se não até mesmo na vanguarda - em mudanças vastas, rápidas e profundas, que estão criando realidades contrastantes de luzes e sombras: vida e morte, pobreza e riqueza, progressos e regressos sociais, conquistas e derrotas. Trata-se, de fato, de uma Região formada por dois continentes e por culturas e religiões diversas.

Vivem na Região quase 40% dos não cristãos do mundo. Os católicos são apenas 100 milhões, formando uma diáspora correspondente a 5% da população (100 milhões sobre os cerca de 2 bilhões de habitantes na Região). Constata-se, de um lado, um despertar religioso, e de outro, a subordinação crescente dos valores religiosos ao desenvolvimento econômico, sobretudo nas grandes cidades. Perguntamo-nos: será justo falar de "secularização" na sociedade asiática, um processo que se desenvolveu essencialmente no âmbito cultural cristão-ocidental? Segundo a reflexão feita em nossos encontros de animação missionária na Ásia não se pode dizer que exista secularização, sendo mais justo falar de "subordinação ou sujeição dos valores religiosos ao desenvolvimento econômico". Poder-se-ia falar de ateísmo prático com uma mistura de religiosidade social.

Ali estão presentes quantidades mais ou menos amplas de fundamentalismo, como reação às enormes mudanças sociais e culturais, que o povo não sabe enfrentar. A crise econômica no leste asiático há pouco superada (1997-1998) levantou muitas questões sobre o modelo econômico que estava por detrás do chamado 'milagre asiático', a sua correlação com os valores culturais, as insuficiências e inadequações, o crescente degrado ambiental, as disparidades sociais e o desfrute da mão-de-obra, a necessidade crescente de energia e de matérias primas, as tensões e falências postas a nu pelo terrível tsunami de 2004 e pelos atentados de Bali de 2002-2004.

Coexistem nessa área formas variadas de governo, já afirmadas ou em evolução: ao lado de democracias antigas e novas (Japão, Filipinas, Taiwan, Austrália), encontramos sistemas socialistas, monarquias tradicionais (Tailândia, Camboja, Japão) e ditaduras militares. Particularmente a China e o Vietnã, com a Coréia do Norte e o Laos, representam o último grande bloco de ideologia e totalitarismo de matriz marxista. Todos estão enfrentando fenômenos comuns, já mencionados, e que tendem a estender-se; a brecha entre ricos e pobres, a fuga do campo e a urbanização, com o conseqüente deslocamento cultural, a industrialização pouco atenta ao ambiente e a crescente injustiça social correm o risco de subverter antigos equilíbrios. Cresce a consciência política democrática, e inevitavelmente, embora de modo marginal, refere-se até mesmo aos países de regime comunista.


O contexto cultural


Distinguem-se, fundamentalmente, quatro sistemas de valores culturais.

O primeiro e mais sólido é o sistema Leste Asiático, com raízes confucionistas e/ou budistas, cuja influência estende-se a grande parte da Região. Esse sistema põe sua força nos valores familiares e comunitários; dá prioridade aos deveres do indivíduo para com a família, os anciãos ou o clã e, no pólo oposto, para com os governantes. O estudo e o trabalho diligente são considerados importantes.

O sistema Islâmico de tipo asiático é, em geral, mais moderado e tolerante do que o Islã da zona árabe, e está misturado com diversos valores de animismo popular. Encontramos também um ambiente misto nas Filipinas, onde a cultura da maioria malaia está marcada por uma longa colonização espanhola.

O sistema Pacífico da Melanésia e Polinésia está centrado no animismo, núcleo familiar-tribal, e na partilha dos bens.

Por último, o sistema Ocidental racionalista e libertário, que está surgindo na Região e traz consigo as raízes da visão cristã e da reação racionalista a ela. Como nota a Exortação Apostólica Ecclesia in Oceania (cf. n. 6), este sistema, presente na Austrália e típico dela, tem seu foco na felicidade, no sucesso, com crescente individualismo e intensa secularização.

Enquanto constatamos a presença desses diversos sistemas de valores e contextos culturais, vemos, ao mesmo tempo, que a forte migração local e internacional favorece também a mistura dessas raízes e matrizes culturais e religiosas.


A presença da Igreja Católica


A maioria dos católicos da Ásia Leste está concentrada nas Filipinas, país com elevado percentual católico (81% dos 84 milhões de habitantes), embora não sem tensões. Outros dois países com um percentual notável de católicos são Timor Leste (90%) e Coréia do Sul (11%) que, juntos, possuem 30% dos católicos. Quanto ao mais, o catolicismo na região vive a realidade de diáspora, com percentuais que vão do mínimo de 0,4% (Tailândia, China, Japão) aos 6% (Vietnã) da população.

Trata-se de uma Igreja jovem, com vitalidade e coragem às vezes extraordinárias, como na Coréia do Sul e no Vietnã. Embora em alguns lugares a Igreja ainda seja considerada uma religião ocidental, estrangeira, ela é vista em geral de modo muito positivo. Mesmo que em muitas partes da Região, a evangelização seja relativamente recente, ela colocou raízes profundas, graças, também, aos inúmeros mártires dos últimos três séculos, muitos dos quais já canonizados ou ao menos beatificados (120 da China, entre os quais os nossos São Luís Versiglia e São Calisto Caravario, 177 do Vietnã, 103 da Coréia, 247 do Japão, 8 da Tailândia, 2 das Filipinas, 1 de Papua Nova Guiné).

Acompanhando a caminhada da Federação das Conferências dos Bispos da Ásia (FABC) nos últimos trinta anos, aprecia-se o empenho de aprofundamento das orientações para a evangelização integral no ambiente asiático. Um dos principais valores dessas culturas - a harmonia - sugere como via imprescindível da missão um quadrúplice diálogo (diálogo de vida - de ação - de intercâmbio teológico e da partilha de experiências religiosas), através do qual o Evangelho deve ser compartilhado e comunicado aos concidadãos das antigas religiões não cristãs. Evento histórico foi o 1° Congresso Missionário Asiático organizado pela Federação das Conferências Episcopais Asiáticas (GABC) em Chiang Mai (Tailândia) em outubro de 2006, com o tema "Narrar a história de Jesus na Ásia". A narração da experiência com Jesus, como o melhor caminho para proclamar o evangelho nos países asiáticos, foi sugerida por João Paulo II na Exortação Apostólica Ecclesia in Asia (n. 20).

Nos países da Oceania, os católicos chegam a um quarto da população, mas vivem duas situações completamente diversas. De um lado, a Austrália (27% de católicos), país com uma "hard culture", caracterizado pela presença não indiferente de imigrantes provenientes da Itália e, em geral, da Europa, depois da segunda guerra mundial, e do Vietnã, após a guerra do Vietnã, onde se deve trabalhar com afinco para evangelizar; do outro lado, as ilhas do Pacífico, área de evangelização recente que precisa aprofundar suas raízes e encontra dificuldade na formação de vocações locais sólidas, para o sacerdócio e a vida consagrada.

Em toda essa área, a Igreja está diante do desafio de fomentar uma verdadeira espiritualidade missionária integral e inculturada, para fazer dos fiéis testemunhas críveis em meio às diversas religiões e culturas. Só assim a Igreja poderá superar a dicotomia entre vida e fé, entre uma vida centrada nos sacramentos e na oração e uma vida empenhada no social, entre uma vida cristã encerrada em si mesma e uma vida aberta ao diálogo com os não cristãos. Os novos convertidos das religiões animistas e politeístas da Oceania, ou do budismo e do confucionismo da Ásia Leste abraçaram o Evangelho, às vezes com entusiasmo e profundidade, às vezes de modo apenas superficial. Há ainda um longo caminho a trilhar para o enraizamento da fé no solo das antigas culturas.


A vida consagrada


Para a maioria das Igrejas da Ásia Leste, o tempo presente parece uma primavera, com todas as suas promessas: a fundação de novas Igrejas locais (por exemplo, na Mongólia, com 450 católicos locais depois dos primeiros 15 anos de missão), o surgimento de novos Institutos missionários locais (Coréia, Filipinas, Tailândia, Indonésia), o frescor do anúncio do Evangelho, apesar da situação de diáspora, a fecundidade vocacional (Vietnã, Coréia do Sul). No interior da Igreja da Ásia Leste somos testemunhas de um crescimento impressionante. Nos últimos 15 anos, o número dos sacerdotes religiosos cresceu quatro vezes, o dos religiosos irmãos 40%, o das irmãs 30%. Centenas de missionários ad gentes e ad vitam partiram das Igrejas locais.

Na parte pacífica da Região encontramos muitas Congregações religiosas ainda em busca de expressões da vida consagrada nas culturas locais, compartilhadas quer pelos missionários quer pelos membros indígenas. Na Austrália, porém, o empenho dos consagrados roda ao redor da pastoral vocacional, da formação de leigos colaboradores segundo os vários carismas das Congregações.

Em meu modo de ver, há quatro desafios principais para a Vida Consagrada na Região:

  • a mística: numa Região, em geral profundamente religiosa, é absolutamente indispensável garantir nos consagrados uma densa experiência pessoal de Deus;

  • a profecia: as comunidades religiosas são chamadas a ter a coragem de encarnar o Evangelho como modelo de vida alternativo;

  • a inculturação da Vida Consagrada, fazendo com que os religiosos não se sintam estrangeiros na própria terra, nem sejam estranhos aos olhos de seus concidadãos;

  • o serviço em favor dos mais pobres e dos marginalizados por motivos econômicos, sexuais, raciais ou religiosos.


2. Como Dom Bosco chegou ali e como se desenvolveu o seu Carisma.


O chamado missionário de Dom Bosco nasce na Ásia


Dom Bosco viveu a extraordinária primavera missionária da Igreja do seu tempo e nutriu inicialmente a vocação missionária tendo em vista a Ásia, particularmente a China, e, mais em geral, o mundo de língua inglesa, sobretudo a Austrália. Dom Bosco aproxima-se desse mundo missionário enquanto busca sua verdadeira vocação e toma contato ora com os Franciscanos Reformados, ora com os Oblatos de Maria, ou quando lê as revistas missionárias que então começavam a circular no Piemonte (os Annali della Propagazione della Fede, o Museo delle Missioni Cattoliche). Aquele mundo missionário falava de modo predominante da Ásia e, sobretudo, das perseguições na China e no Vietnã, do heroísmo dos missionários e dos mártires, da nova era que se abria para a Igreja e para a evangelização à sombra dos exércitos anglo-franceses. Os Annali, que Dom Bosco começou a ler ao menos desde quando era jovem sacerdote, registravam semana a semana a ação política do ocidente que permitia a retomada da penetração missionária e da obra de evangelização. Como conseqüência, também os habitantes do Celeste Império, um povo que causava admiração em Dom Bosco pela sua imensidão, teria podido aproximar-se da salvação. Dom Bosco foi particularmente fulgurado pelo corajoso martírio do jovem sacerdote Gabriel Perboyre, de quem terá uma imagem no quarto e de quem escreverá na primeira edição da sua História Eclesiástica. Nesse livro, que foi sua primeira obra de fôlego e que verá diversas edições, ele escreve de relance sobre as missões, mas escreve sobretudo dos eventos que naqueles anos se sucediam na China e no Japão.

Quando a fama de Dom Bosco crescer, baterão à sua porta os grandes missionários da África, Lavigerie e Comboni, em busca de ajuda e colaboração. Mas também diversos bispos da China, por ocasião do Concílio Vaticano I, virão em visita a Valdocco em busca de pessoal. Com Timoleone Raimundo, missionário do seminário de Milão e Prefeito Apostólico de Hong-Kong, Dom Bosco tratou por diversos meses entre 1873 e 1874 para abrir uma casa em Hong-Kong. Os acordos não prosseguiram e o esboço de contrato permaneceu letra morta devido - Dom Bosco não o sabia - ao veto colocado pelo Superior do Seminário Milanês. Foi nesse clima de incerteza, criado por acordos deixados em suspenso, que Dom Bosco, já convencido que chegara a hora de expandir-se para o exterior, abriu-se à Argentina, ambiente cultural e linguisticamente menos remoto, e rapidamente decidiu enviar seus primeiros missionários para trabalharem entre os emigrantes italianos de Buenos Aires e entre os índios nas 'proximidades' de San Nicolas de los Arroyos (11 de novembro de 1875). Dom Bosco, contudo, não deixou de pensar na Ásia, tanto que concedia ao P. João Cagliero menos de dois anos para organizar as obras na Argentina e depois partir para a Índia, onde Dom Bosco aceitara um Vicariato Apostólico. Entretanto, a América do Sul absorverá energias e pessoal e, por isso, Dom Bosco retornará ao pensamento da China somente em 1885, quando tiver obtido o Vicariato Apostólico da Patagônia. Agora intui, porém, que para ele é muito tarde para realizar algo de concreto. Seus filhos o farão e verão: para ele a Ásia permanecerá uma meta, um sonho, um campo para o futuro.

No sonho de Barcelona, Dom Bosco verá do alto da colina do sonho dos 9 anos a futura abertura de obras em Pequim, como realização da sua missão juvenil que se estende até abraçar o mundo: como em Valdocco, assim no mundo todo, de Valparaiso a Pequim. Essa visão torna-se tensão, horizonte e profecia e, por isso escreverá em seu "testamento espiritual": «A seu tempo levarão consigo as nossas missões à China e precisamente a Pequim»3 e no leito de morte causará admiração em D. Cagliero dizendo-lhe repetidamente: «Recomendo-te a Ásia!».


Anotações históricas a partir dos sonhos missionários de Dom Bosco


Relendo os cinco sonhos missionários de nosso Pai, especialmente os dois últimos, vemos seu zelo missionário voltado explicitamente também para os povos da China, da Mongólia (Tartária), da Austrália;4 até à conclusão do seu testamento espiritual, como eu já acenava, encontramos um desejo nutrido em seu coração pela salvação dos jovens da Ásia. Gerações de missionários salesianos cresceram com a consciência encorajadora que Dom Bosco os tinha sonhado, vistos em seus sonhos missionários.

O sonho de 1886, o testamento espiritual e o "falar continuamente" da China por parte de Dom Bosco criaram um notável senso de expectativa nos ambientes salesianos. O P. Artur Conelli, a quem Dom Bosco fizera algumas confidências a respeito da ida à China, a ponto de ser considerado um pouco por todos como o chefe designado da expedição, logo depois da morte do Fundador não perdeu tempo para estabelecer os primeiros contatos com as autoridades eclesiásticas de Macau. As tratativas chegaram finalmente a um acordo. Os seis primeiros Salesianos, três sacerdotes e três coadjutores, dos quais dois noviços, tendo como chefe o P. Luís Versiglia, chegaram a Macau em 13 de fevereiro de 1906 para cuidarem do pequeno Orfanato da Imaculada Conceição que lhes fora confiado pelo bispo. Os seis puseram-se logo ao trabalho abrindo uma escola de artes e ofícios. Os primeiros anos foram difíceis, aparentemente sem perspectivas. Em 1910, os Salesianos foram até mesmo expulsos de Macau, envolvida na revolução republicana. Foi apenas um breve obstáculo, que abriu as portas a novos campos de trabalho: a primeira missão no continente chinês (Heungshan, hoje Zhongshan, 1911-1928) e o retorno ao Orfanato com um novo e mais amplo contrato e novos irmãos, e isso permitiu aos Salesianos organizarem uma verdadeira e própria escola.

Nesse tempo, caíra o Império Chinês e nascera a República (1911): a nova China tinha sede de aprender do ocidente. A escola de artes e ofícios estava bem posicionada para se proporem como modelo de outros institutos semelhantes a se disseminar no vasto território. A escola desenvolveu-se, mas a expansão foi noutra direção, quando em 1917, a Sagrada Congregação da Propagação da Fé confiou aos Salesianos uma missão ao norte da província de Guangdong, destacando-a do Vicariato Apostólico de Cantão (hoje Guangzhou). Após dois anos de preparativos era erigido o novo Vicariato Apostólico de Shiuchow (hoje Shaoguan) e o P. Luís Versiglia foi eleito seu primeiro Vigário Apostólico. Era o menos desenvolvido e o mais árduo dos três territórios que o Salesianos desejariam: o Senhor preparava-lhes um caminho cheio de sacrifícios, mas que os primeiros missionários, logo depois de serem despedidos do front da primeira guerra mundial, souberam enfrentar com coragem e abnegação. Em 1918, recebendo um cálice de presente do P. Paulo Albera, o P. Versiglia recordou que Dom Bosco, sonhando com a China, tinha entrevisto dois cálices, um cheio dos suores e cansaços dos missionários, o outro, cheio de sangue.

Entretanto, o empenho colocado no reforço e na melhoria da escola de Macau dava os seus frutos: o governo e alguns filantropos de Hong-Kong queriam algo semelhante para os jovens da colônia britânica, a confiar justamente aos Salesianos; de Xangai chegavam insistentes pedidos para que se aceitasse um orfanato. Começavam a chegar do exterior os primeiros missionários noviços, estratégia inovadora que dava o que falar. Em 1924 partia um grupo consistente de jovens irmãos para Xangai, guiados pelo P. Sante Garelli, veterano da China. Entre eles estava o clérigo Calisto Caravario. Estabeleceram-se no bairro chinês, entre os pobres. Em 1923 nascia a Visitadoria chinesa, mas tinha dificuldade para assumir os novos compromissos: era preciso uma boa casa de formação para os jovens que continuavam a vir do exterior e para as primeiras vocações locais, mas faltavam o pessoal apto e os meios financeiros.

Chegavam convites, também da Santa Sé, para que se aceitasse uma missão em Kyushu, no Japão (1925) e outra na Tailândia (1925). Vieram então os primeiros missionários destinados ao Japão, guiados pelo P. Vicente Cimatti. Aumentando os compromissos, a Visitadoria foi erigida como Inspetoria Sino-Japonesa (1926). O Inspetor deveria interessar-se de toda a vasta área que ia da Tailândia ao Japão.

Nem tudo, porém, ia bem: a guerra civil estourou na China dando início, em seguida, aos movimentos bolcheviques. Já não era prudente manter a casa de formação em Shiuchow e, por isso, os noviços e filósofos desceram aventurosamente até Macau. O Partido Nacionalista e o Partido Comunista, ajudados pela Rússia, aliaram-se para interromper a resistência dos senhores da guerra e unificar o pais. De Guangdong o exército dirigiu-se ao norte, chegando a Wuhan e Xangai. Em Nanquim deram-se episódios de violência também contra alguns missionários. Rompeu-se a aliança e teve início um grande expurgo das forças de esquerda por parte dos nacionalistas. A escola salesiana de Xangai foi ocupada pelas tropas e transformada em hospital para pessoas atingidas por doenças infecciosas. Os Superiores, então, decidiram evacuar o Instituto e afastar os irmãos, a começar dos mais jovens. Pôde-se iniciar assim a obra salesiana de Hong-Kong (St. Louis Industrial School), de Timor (Dili, para onde foi destinado também o clérigo Calisto Caravario) e da Tailândia, para onde o Visitador extraordinário P. Pedro Ricaldone transferiu o noviciado, com os noviços, o Mestre (P. Caetano Pasotti) e alguns irmãos, 28 ao todo! Desafios, provações e dificuldades tornaram-se impulso para o desenvolvimento: parecia um retorno à experiência da Igreja primitiva, obrigada pelas perseguições e pelas guerras a voar em todas as direções. Nasceram, dessa forma, as duas novas missões independentes: no Japão, que terá o P. Vicente Cimatti como Prefeito Apostólico (1935) e depois como Inspetor (1937), e no Sião, com o P. Caetano Pasotti, primeiramente Prefeito Apostólico (1935), depois Inspetor (1937) e, enfim, Vigário Apostólico (1941).

A maior provação, momento de trevas e de luz, foi o martírio de D. Luís Versiglia e do P. Calisto Caravario. Não serão os únicos a dar a própria vida em missão pelo próprio rebanho. Segui-los-ão outros três missionários. Diversos outros morrerão com menos de cinqüenta anos devido a doenças e fadigas.

Nos anos 30 consolidaram-se as missões da Tailândia e do Japão, embora em meio a dificuldades e desafios: pessoal jamais suficiente, fileiras de jovens a formar e inculturar, vocações indígenas a promover. A China foi guiada por 22 anos pelo P. Carlos Braga (1930-1952), o "pequeno Dom Bosco da China", que se formou em Turim sob o P. Cimatti, cresceu em Shiuchow à sombra de D. Versiglia e se tornou o Pai dos Salesianos da China. Com ele, e no ímpeto de novas estratégias missionárias, a China constelou-se de novas presenças. Começaram a despontar as vocações locais, antes timidamente como de um solo árido, depois com vigor, sobretudo nos anos de guerra, quando todo o estudantado, cujo edifício tinha apenas acabado de ser construído, teve que se transferir para Hong-Kong e Xangai. Quem dava vida a esse período de grande pobreza, mas ainda de maior fraternidade e comunhão salesiana, era justamente ele, o P. Braga, que se fazia tudo para todos. Foi o período de ouro da história da Inspetoria chinesa.

A Inspetoria chinesa saiu da guerra com um denso manípulo de irmãos motivados e de jovens que muito prometiam. Em 1946 foi aberta a casa de Pequim, a "Casa de Nossa Senhora", como costumava chamá-la o primeiro diretor, P. Mario Acquistapace: a casa mais pobre da Inspetoria! A profecia de Dom Bosco tornava-se verdadeira. Os Superiores pensaram que tivesse chegado o momento de dividir as obras em duas Inspetorias, uma ao norte com sede em Xangai, e outra ao sul, com sede em Macau. O Japão, porém, tinha visto todas as vocações locais devoradas pela guerra e foi preciso recomeçar do início. A Tailândia, já pobre de pessoal devido a numerosas perdas, encontrará o espírito de renovação em novas presenças.

Foi, contudo, justamente a China a ver-se na tormenta. Com o advento de Mao e a proclamação da República Popular, o povo chinês "levantou-se". Estrangeiros, imperialistas, missionários são expulsos e as obras confiscadas: o povo reclama o direito de gerir a educação da nação. Ficaram na China diversos irmãos chineses, a fim de, se possível, permanecerem ao lado dos jovens. Serão logo aprisionados, e alguns morrerão na prisão, sacrificando a própria vida pela fidelidade ao Papa. Mas, também dessa tragédia, nascia uma vida nova. Não só se desenvolveram as obras salesianas em Hong-Kong, Macau e depois também em Taiwan (1963) em favor dos refugiados, mas brotaram novas presenças em outras nações do Oriente.5

Em 1951 teve início a presença nas Filipinas com duas escolas: em Victorias (Negros) ao sul e Tarlac (Luzon) ao norte; em 1958 as obras das Filipinas foram separadas da Inspetoria chinesa, formando uma Visitadoria, erigida depois como Inspetoria em 1963. Depois de um grande crescimento vocacional nos anos 70 e 80, em 1992 a Inspetoria filipina foi dividida em duas, uma ao norte com sede em Manila e outra ao sul com sede em Cebu. Às Filipinas foram também confiadas as obras de Timor Leste (1975-1998) e da Indonésia (1985-1998). Enfim, foi confiada à Inspetoria das Filipinas Sul a missão no Paquistão (1998).

A missão no Vietnã cresceu a partir de 1952. Depois de uma primeira presença em Hanói com o P. Francis Dupont, que morreu assassinato durante a guerra (+ 1945), foi retomada em 1952 com o P. Andrej Majcen. Em 1974 foi criada uma Delegação que, em 1984, foi erigida como Visitadoria. Os irmãos acompanharam o êxodo para o sul de um povo dividido em dois. Viveram 15 anos de isolamento (1975-1990), do qual saíram empobrecidos, mas altamente motivados. Em 1999 foi erigida a Inspetoria, à qual em 2001 foi confiada a nova missão na Mongólia.

A presença salesiana na Coréia do Sul teve início em 1954, quando foi enviado do Japão à Coréia o P. Arquimedes Martelli, que fundou a primeira obra em Kwangju. Em 1972 foi formada a Delegação, erigida em 1984 como Visitadoria e que, em 1999, tornou-se Inspetoria.

A obra salesiana do Timor Leste, depois de uma primeira tentativa a partir de Macau nos anos 1927-1929, foi relançada por Portugal em 1946. Em seguida, durante os difíceis anos da invasão da Indonésia (1975-1999), as obras foram confiadas à Inspetoria filipina passando depois à Inspetoria de Cebu em 1992, quando houve a divisão das Filipinas. Em 1998, com o multiplicar-se dos irmãos e das obras, foi erigida a Visitadoria da Indonésia e Timor Leste.

Nestes últimos anos, novas presenças foram crescendo com vigor juvenil, estendendo-se em várias direções, com o enxerto do carisma de Dom Bosco em novos ambientes e sob o ímpeto de uma reencontrada vocação missionária.

A iniciativa em direção ao Camboja partiu da Tailândia, a partir da ajuda dada aos Khmer nos campos de refugiados: a primeira obra em Phnom Pehn foi aberta em 1991. Também a primeira obra no Laos teve início de modo semelhante em 2004, inteiramente levada adiante pelos nossos ex-alunos laocianos, sob a assistência dos irmãos de Bangkok.

Em 1995, o Japão, por sua vez, abriu uma difícil missão em Tetere nas Ilhas Salomão. Desde abril de 2005 essa missão faz parte da nova Delegação de Papua Nova Guiné e Ilhas Salomão.

Os Salesianos chegaram ao Pacífico, Austrália, em 1922. E justamente da Inspetoria da Austrália partiram duas iniciativas corajosas. A primeira levou o carisma salesiano a Samoa, em 1978, que deu muitos frutos vocacionais, junto com o trabalho de formação dos catequistas locais; a segunda fez os Salesianos aportarem nas Ilhas Fiji, a partir de 1999.


Dom Bosco chegou antes dos Salesianos


Dos acenos evidenciados da história, percebe-se que foram necessários 30 anos desde o primeiro convite para ir à China (1874-1906), 60 anos antes de chegar às Filipinas (1891-1951), 45 anos antes de chegar à Coréia (1909-1954), 26 anos para chegar ao Vietnã (1926-1952), 20 anos para chegar de modo definitivo ao Timor Leste (1927-1946). As razões desses 'atrasos' deveram-se em parte às vicissitudes político-sociais, aos preconceitos de algumas autoridades eclesiásticas, à dificuldade de comunicação entre os amigos de Dom Bosco presentes na Região e os Superiores em Turim. De fato, o Santo educador foi venerado pelo clero local em muitos lugares a partir da sua canonização em 1934, antes da nossa chegada.

Deve-se dizer, como para outras Regiões, que Dom Bosco era conhecido em muitos países antes mesmo da chegada dos primeiros Salesianos: estão presentes os primeiros Cooperadores Salesianos e a ADMA, a Associação dos Jovens de Dom Bosco e escolas com o nome de Dom Bosco (Filipinas), há biografias suas em língua local (Coréia - Seul: Revista Kyoh Hyang, 1934; Vietnã - Phat Diem: Luk Ly, 1937), há duas estátuas em Igrejas e Seminários locais (por exemplo no Vietnã, Seminário de Trung Linh - 1939), encontram-se escolas católicas ou seminários menores fundados no nome de Dom Bosco (como na Indonésia, a partir dos anos 40).

Em tempos recentes, a resposta da Congregação aos convites recebidos tornou-se mais veloz e foram abreviados os tempos que correram entre o primeiro convite e a chegada dos Salesianos: 3 anos para Samoa (1978), 4 anos para o Paquistão (1998), 3 anos para a Mongólia (2001). Em alguns países o início da missão dos Salesianos precedeu a nossa iniciativa como na Indonésia (das Filipinas e Timor em 1985), no Camboja (da Tailândia em 1991), no Laos (da Tailândia em 2004), em Fiji (da Austrália em 1999).


Uma Região missionária


A Região foi abençoada com a presença de grandes missionários, pioneiros em alguns países: D. Luís Versiglia (1881-1930), D. Inácio Canazei (+1946), P. Carlos Braga (+1972), P. Mário Acquistapace (1916-2002) na China; Mons. Vicente Cimatti (1883-1965) no Japão; P. André Majcen (1905-1999) no Vietnã; P. Arquimedes Martelli (1916-1984) na Coréia do Sul; D. Ernesto Coppo, Sr. Celestino Acerni (que entrou em Kimberley, primeiro Salesiano em solo australiano) e P. José Ciantar (1893-1967) na Austrália, e muitos outros personagens de realce.

Agrada-me assinalar também alguns nomes de Salesianos, pioneiros no período mais recente, 'fundadores' nos respectivos países da Região: P. José Carbonell na Indonésia; P. Valeriano Barbero em Papua Nova Guiné; Sr. José Ribeiro no Timor Leste (1946); Sr. Roberto Panetto e P. Walter Brigolin no Camboja (Phnom Penh, 1991); P. Pedro Balcazar e Sr. Francisco Tanaka nas Ilhas Salomão (Tetere, 1995); P. Pedro Zago e P. Hans Dopheide no Paquistão (Lahore e Quetta, 1998); P. Julian Fox em Fiji (1999); P. Carlo Villegas na Mongólia (Ulaanbataar, 2001).


3. A presença salesiana


Os Salesianos


Os irmãos presentes na Região neste momento6 são 1.257, com 60 noviços e 9 bispos salesianos. Nos últimos vinte anos, o número dos irmãos da Região cresceu substancialmente em 340 Salesianos, com novas presenças estendidas a mais de sete países, com 50 novas comunidades. Algumas Inspetorias crescem regularmente (Filipinas Norte e Sul, Coréia); algumas Inspetorias estão crescendo de modo muito veloz (Vietnã e Timor Leste); outras sofreram uma diminuição de irmãos em relação há vinte anos (Austrália, China, Japão, Tailândia). Os missionários vindos do exterior são hoje apenas 15% dos irmãos, e a idade média deles é de 65 anos. Ao mesmo tempo, até 2006, já partiram cerca de 80 irmãos nascidos na Região para a missão ad gentes. A perseverança vocacional está na média mundial, com 46% de saídas após a profissão; o recorde de perseverança cabe ao Vietnã, onde apenas 5% deixaram a Congregação depois da profissão. A maior parte dos irmãos vive e trabalha nas grandes cidades e isso influi no estilo de vida, na economia, no tipo dos destinatários e na tipologia das obras. Bem 353 irmãos, quase um terço do total, encontram-se nas diversas fases de formação inicial. O número de Coadjutores está em crescimento, graças ao trabalho da promoção vocacional por parte de todas as Inspetorias: os Irmãos Coadjutores na Região são atualmente 201, dos quais 47 com votos temporários.


A vida comunitária


A maioria das comunidades na Região, como já acenava, está situada nas grandes cidades. Em algumas Inspetorias, um número não indiferente de comunidades está relacionado com as etapas da formação, o que influi na boa qualidade de vida. Como confirma o Card. José Zen de Hong-Kong, a contribuição mais importante que o Carisma Salesiano levou às culturas da Região é o testemunho do espírito de família, que torna muito atraente quer a pessoa de Dom Bosco quer a nossa Congregação. Há sempre mais consciência da importância da comunidade, do seu testemunho para a evangelização e para o crescimento vocacional.

O número das comunidades salesianas nos últimos vinte anos cresceu notavelmente. Em 1986 havia na Região 76 comunidades erigidas canonicamente; passaram a 106 em 1996 e chegaram ao número de 130 em 2006. Há outras 30 presenças, ainda não erigidas canonicamente, sobretudo nas zonas de missão (Paquistão, Mongólia, Camboja, Tailândia, Filipinas, Indonésia, Vietnã).


Tipologia das presenças e das obras salesianas


A pastoral juvenil


Como em toda a Igreja da Ásia e Oceania, dá-se uma importância estratégica às estruturas de educação formal (escolas acadêmicas e centros de formação profissional). Em algumas zonas, um outro traço típico são as obras de tipo social, que representam uma ajuda muito relevante para os jovens pobres.

É também por isso que a maior parte dos irmãos está trabalhando no setor escola. São 282 escolas que cuidam de 100.900 alunos, com 350 Salesianos e 4.200 colaboradores leigos, em sua maioria não cristãos. Das pequenas escolas paroquiais do Timor Leste às grandes escolas com milhares de estudantes da Tailândia, a educação formal é um campo a privilegiar pelas grandes oportunidades de estarem presentes no mundo da cultura em sociedades ainda distantes do Evangelho. Nos últimos dez anos cresceram também algumas Instituições Universitárias Salesianas nas Filipinas, em Papua Nova Guiné, para não falar do primeiro politécnico em Tóquio - Ikuei (agora Salesio Polytechnic).

As 106 paróquias, com numerosas estações missionárias e uma população católica de cerca de 876.000 pessoas, são servidas por 200 irmãos. Das grandes paróquias nos ambientes católicos, com dezenas de estações missionárias e milhares de católicos, até às paróquias ou estações missionárias nos lugares de primeira evangelização, com poucas dezenas de fiéis, contribuímos nas Igrejas locais com um estilo específico de evangelização.

Os centros de formação profissional são 39, com 10.262 alunos, animados por 151 irmãos. Trata-se de um campo privilegiado nos ambientes em vias de desenvolvimento e nos lugares de primeira evangelização, porque respondem diretamente às necessidades dos jovens pobres, encaminhando-os ao mundo do trabalho através de uma sólida educação humana, cristã e profissional.

Várias obras de tipo educativo estão unidas a 38 internatos ou pensionatos, com 3.168 jovens que vivem conosco em tempo integral. Os internatos oferecem-nos algumas oportunidades extraordinárias para aprofundar a vida de fé dos jovens católicos e, ao mesmo tempo, aproximar muitos jovens não católicos da fé, de maneira gradual e vital. Baste pensar que desses ambientes saem os Ex-alunos mais afeiçoados e empenhados em nossa missão e na Família Salesiana.

Os Oratórios - Centros juvenis são 60, freqüentados por 16.000 rapazes e moças, cuidados por 68 Salesianos com dedicação exclusiva. Há centenas de jovens, rapazes e moças nas zonas em vias de desenvolvimento que freqüentam os nossos campos esportivos, felizes pelos jogos oferecidos e motivados pelo ambiente educativo sereno que ali encontram; nos países desenvolvidos há atividades extra-escolares ao redor dos "media education", grupos de serviço social e grupos empenhados no caminho de fé.

O Movimento Juvenil Salesiano (AJS) existe com formas muito diversas em todas as Inspetorias, a começar dos grupos organizados em nossas escolas, até ao voluntariado missionário que se desenvolveu recentemente em algumas Inspetorias. Nos países de maioria católica, como as Filipinas e o Timor Leste, milhares de jovens foram envolvidos em nível nacional; nos demais países, o trabalho é manifestado na caminhada de grupos que se reúnem para algumas festas salesianas, sobretudo em nível de escolas ou de paróquias salesianas. O fruto mais belo é seguramente o voluntariado missionário: “Don Bosco Volunteer Group”, no Japão (1991), "Movimento da Tocha", em Hong-Kong (1995), Voluntariado Internacional Juvenil, na Coréia (2002), Voluntariado Missionário, em Manila (2003), o incipiente Voluntariado Internacional, na Austrália (2006). Centenas de jovens, também não cristãos, participam da missão salesiana; alguns começaram o caminho de iniciação cristã ou também o caminho vocacional. Esses movimentos, com iniciativas no interior da Região, tornam-se uma ponte natural entre os jovens das diversas nações.

A Região conta com 31 diversas obras de tipo social, que servem a 3.378 jovens. Estamos ao lado de meninos de rua, de jovens reclusos nos reformatórios, de jovens filhos de hansenianos, de jovens sem família, com respostas educativas variadas. Há muitas casas-família (Coréia, Japão), inteiras ‘Boys town’ (“Youth off the streets” em Engadine, Austrália; “Boys Town” em Taiwan; “Tuloy sa Don Bosco” em Manila; “Don Bosco Boys Town” em Cebu; “Bangsak” na Tailândia criada perto da ilha de Phuket depois do terrível tsunami de 2004); há também um serviço regular para os jovens delinqüentes (Inspetorias da Coréia e das Filipinas Sul) e um serviço para os jovens operários, especialmente emigrantes do exterior e do interior do país (Inspetorias da Coréia, Filipinas Norte, Japão, Vietnã).

Para a promoção vocacional existem 23 obras, aspirantados de diversos tipos, com cerca de 1.057 jovens em processo de discernimento. A atenção vocacional é um traço específico da nossa pastoral em muitas Inspetorias, devendo enfrentar muitos desafios da Igreja, com escassez de clero e um forte ambiente diocesano, onde a visibilidade da vida religiosa masculina não é fácil. As energias gastas nesse campo são admiráveis em várias Inspetorias (Coréia, Japão, Tailândia, Vietnã). Um número não pequeno dos nossos irmãos provém de famílias mistas, católico-protestantes, budistas, muçulmanas. De fato, há também alguns irmãos que pediram o batismo para poderem seguir Dom Bosco.


A formação


No campo da formação inicial, além dos acima citados 23 aspirantados (menores e maiores), há na Região 6 noviciados, 11 pós-noviciados, 7 casas para a formação específica dos sacerdotes e uma casa para a formação específica dos coadjutores. As três casas de formação nas Filipinas são interinspetoriais (noviciado de Cebu-Lawaan, pós-noviciado de Canlubang, formação específica para os coadjutores e sacerdotes em Manila-Parañaque). Os Centros de estudos salesianos são apenas dois para o pós-noviciado - Dalat (Vietnã) e Canlubang (Filipinas Norte) - e duas para a teologia - Xuan Hiep (Vietnã) e Manila-Parañaque (Filipinas Norte). Os demais formandos freqüentam Centros de estudos inter-religiosos ou diocesanos, com a participação de docentes salesianos. Atualmente, cerca de 70 jovens irmãos na formação inicial do total de 353 formandos fazem o tirocínio ou os estudos fora das Inspetorias de origem.

Quanto à formação permanente, nota-se em nível pessoal um progresso na responsabilidade pelo próprio crescimento vocacional, expressa também no empenho pela elaboração e colocação em prática do projeto pessoal de vida.

A jornada da comunidade foi sempre muito valorizada nas comunidades locais. Depois do CG25 as comunidades próximas reúnem-se frequentemente para o retiro mensal ou trimestral feitos em comum. Em vista da formação dos diretores, algumas Inspetorias produziram cadernos mensais (Filipinas Norte, Coréia), e todas as Inspetorias procuram realizá-la durante suas reuniões em nível inspetorial. Os diretores estão crescendo na arte de animar as comunidades, tanto no aspecto espiritual quanto no pastoral. Em nível regional, desde os anos 90 é oferecida a oportunidade de cursos formativos a cada três anos com a participação de todas as Inspetorias.

Os quatro Congressos regionais da Ásia Leste e Oceania, que se realizaram desde 1986, aumentaram a sensibilidade quanto à promoção e preparação do Salesiano Coadjutor. O recente Seminário sobre esse tema no Camboja (2006) foi um passo adiante, envolvendo os Conselhos Inspetoriais, formadores e promotores vocacionais pelo período de um ano.


O trabalho missionário e a inculturação do Carisma Salesiano


A Região recebeu, nos últimos cem anos, cerca de mil missionários. Nos anos 20 do século passado, houve uma verdadeira onda de jovens missionários que se formaram em terra de missão. Agora, na Região, trabalham cerca de 150 missionários vindos do exterior. A partir dos anos 60, na gestão das Inspetorias, sucederam-lhes os irmãos locais. Agora são os irmãos locais que vão em missão ad gentes, fora ou dentro da Região. Até agora partiram cerca de uma centena. O maior número foi enviado das Filipinas (75), depois do Vietnã (25), da Coréia (9), de Timor Leste (6), do Japão (5), da Austrália (4).

Sendo quase todos os irmãos nascidos em ambiente de minoria cristã, o seu espírito missionário, em geral, e a convicção de serem missionários dos jovens, em particular, é muito importante. Já foi dito que muitas famílias de onde provêem os nossos irmãos não são católicas e que a maior parte dos jovens que encontramos em nossos ambientes também é de outra religião. Então, com as palavras da FABC (Federação das Conferências dos Bispos da Ásia), podemos falar de um crescimento da consciência missionária 'inter gentes', que muito bem exprime a situação real da maioria dos Salesianos. Há ainda cinco países que precisam de reforço nas presenças salesianas: Papua Nova Guiné, Ilhas Salomão, Mongólia, Paquistão e Camboja.7

A Congregação olha para a China com o coração e a fé de Dom Bosco, mas no momento deve limitar-se a oferecer serviços mais ou menos continuados na área da assistência aos pobres e aos doentes, serviços compatíveis com as leis ou as políticas do país, que não permitem presenças e trabalho de Institutos Religiosos, sobretudo em campo educativo ou religioso.


A comunicação social


A partir dos humildes inícios do Boletim Salesiano em cada país, cresceu a ação comunicativa até chegar a algumas editoras (Don Bosco Sha em Tokyo, Salesiana Publishers em Manila, Vox Amica em Hong Kong, Don Bosco Media em Seul), que contribuem para o crescimento da Família Salesiana e da evangelização. Cresce o empenho no mundo dos audiovisuais, da Internet, da educação para a mídia em nossos Oratórios - Centros juvenis. Recentemente surgiram também duas emissoras radiofônicas: em Banpong na Tailândia e em Tetere nas Ilhas Salomão.

Atualmente, em quase todas as Inspetorias há o Boletim Salesiano em língua local, e todas as Inspetorias possuem o Noticiário Inspetorial, algumas em forma digital. Entre os irmãos, os SMS são usados para a comunicação tempestiva e econômica.

Fato particularmente indicativo é a opção das nove Inspetorias pela adoção da língua inglesa como língua de comunicação, o que comporta o empenho gradual de todos os irmãos para adquirir o conhecimento operativo do inglês. A Região possui uma rede regional de notícias salesianas, iniciada em 1997, depois de uma reunião regional dos Delegados de Comunicação Social, o AustraLasia link. O editor reside em Roma, coligado com dezenas de correspondentes em todas as Inspetorias, e oferece um serviço diário das notícias vindas de toda a Família Salesiana. Essa rede é reforçada com a implantação, depois da Visita de conjunto de 2005, do novo site regional BOSCONET (www.bosconet.aust.com), que oferece os recursos de salesianidade em língua inglesa.


A Família Salesiana


A animação da Família Salesiana e a sinergia entre os diversos grupos é um dos pontos fortes da Região. Além das 1.150 FMA, estão também presentes outras quatro Congregações femininas nascidas em contexto missionário: 1.040 Irmãs da Caridade de Miyasaki, fundadas por Mons. Vicente Cimatti e pelo P. Antonio Cavoli; 92 Servas do Coração Imaculado de Maria, fundadas por D. Caetano Pasotti; 25 Irmãs da Anunciação do Senhor, Congregação nascida da mente e do coração de D. Luís Versiglia e fundada por D. Inácio Canazei; e 65 Filhas de Realeza de Maria Imaculada, fundadas pelo P. Carlos della Torre.

Entre outros grupos consagrados da Família Salesiana encontra-se a Congregação de São Miguel Arcanjo (6 membros em Papua Nova Guiné e Austrália) e dois Institutos Seculares: as Voluntárias de Dom Bosco (VDB), com 132 membros, que tiveram início em 1969 em Macau e presentes agora em todas as Inspetorias; e os Voluntários com Dom Bosco (CDB), com 3 membros, que iniciaram em 2000 na Coréia.

Entre os grupos leigos sobressai a Associação dos Salesianos Cooperadores, que cresce em quantidade e em qualidade, graças também aos congressos regionais regulares iniciados em 1993. Atualmente são 2.025 Cooperadores em 120 Centros, com muitos aspirantes jovens, acompanhados pelos Delegados SDB e FMA. Os Ex-alunos de Dom Bosco estão organizados em todas as Inspetorias e reúnem-se em nível regional a cada quatro anos. Sua contribuição para a missão salesiana varia de lugar para lugar; encontramo-los muito presentes entre os nossos colaboradores leigos nas escolas e nas paróquias, empenhados na Igreja local, mas presentes também entre o clero diocesano e nos postos de responsabilidade sociopolítica.

O Conselho da Família Salesiana funciona muito bem em todas as Inspetorias, e a sinergia traz notáveis frutos apostólicos e de crescimento no espírito salesiano. As jornadas de espiritualidade em todas as Inspetorias e os Exercícios espirituais da Família Salesiana (Filipinas Norte) são ocasiões para conhecer-se reciprocamente e ser mais eficazes no trabalho pelos jovens.

Já existem, também, algumas obras que em parte ou completamente são confiadas aos membros da Família Salesiana, como as VDB, as Damas Salesianas, os Salesianos Cooperadores (obras sociais na Tailândia, casas de retiro para jovens nas Filipinas, centro extra-escolar em Hong-Kong, direção de algumas escolas salesianas).


Economia - Solidariedade


Tendo presente a diversidade das situações, em vista do bom funcionamento, as nossas obras fazem intensos apelos aos benfeitores e às autoridades locais, mesmo nos ambientes não cristãos. Há muitos lugares que precisam de ajudas externas, aos quais os modestos escritórios missionários, de projeto e para o desenvolvimento procuram responder (localizados nas Inspetorias da Austrália, China, Japão, Coréia, Filipinas Norte).

A solidariedade inspetorial está em crescimento em todos os lugares, como também o profissionalismo na gestão administrativa, com previsões inspetoriais regulares. Cresce também a solidariedade regional, e não só para ir ao encontro das emergências dos desastres naturais (pense-se na erupção de um vulcão em Bacolor, Filipinas Norte, em 1995, que sepultou uma escola com o aspirantado, e no tsunami - no sul da Tailândia - em 2004), mas também para o desenvolvimento de algumas obras (por exemplo, a construção do novo noviciado no Vietnã, em 2006) ou apoio às Inspetorias que têm muitas vocações e poucos meios econômicos.


Santidade salesiana


O Carisma Salesiano foi implantado em alguns lugares por grandes personagens salesianos, alguns dos quais já tiveram a santidade ou a heroicidade das virtudes reconhecida oficialmente: S. Luís Versiglia e S. Calisto Caravario, protomártires da Congregação, na China; o Ven. Vicente Cimatti no Japão; o P. Carlos della Torre na Tailândia e o P. André Majcen no Vietnã, dos quais foi iniciada a Causa de beatificação e canonização. Entre os mártires da China no advento do comunismo recordamos o Cl. Petro Yeh, os sacerdotes P. José Fu e P. Simone Leung, e o Coadj. Jerônimo Yip, mártir da caridade no campo de detenção. A espiritualidade missionária salesiana desses irmãos exprime-se na simplicidade e na profundidade atraente. Recordemos apenas o lema do clérigo Pedro Yeh (+1953): Tudo a Jesus, Jesus a todos!

Não resisto à tentação de evidenciar a figura do Ven. Vicente Cimatti (1879-1965). O P. Renato Ziggiotti, V Sucessor de Dom Bosco e aluno do P. Cimatti, deixou-nos este testemunho: «Para mim, Mons. Cimatti é o salesiano mais completo que tenha conhecido pela piedade, pela habilidade, pelo espírito de fraternidade, pela paternidade, pela arte de conquistador de almas. Foi educador mais que professor de pedagogia, muitíssimo versátil e afável, verdadeira cópia de S. João Bosco». Ao visitar o Museu Cimatti em Tóquio-Chofu, percebe-se logo a riqueza carismática do "Dom Bosco do Japão": ali são recolhidas mais de 900 composições musicais, 6.160 cartas, mais de 10.000 fotos originais, centenas de artigos, livros de filosofia, de espiritualidade, de agricultura e ciências naturais. Tudo isso para difundir o Evangelho em lugares muito difíceis para a evangelização. Sua paixão para fazer funcionar o Sistema Preventivo nas escolas, na busca vocacional, na presença pessoal entre os jovens salesianos nos momentos de diversão e de trabalho foi transmitida às novas gerações de Salesianos e leigos locais. Jesus Cristo, junto com o nome de Dom Bosco, foi difundido graças às centenas de seus concertos musicais no Japão, na Coréia e na China. Ele sempre sobressaiu por sua bondade salesiana quer como formador em Turim, quer como chefe da expedição missionária, quer ainda como Vigário Apostólico, Inspetor, Diretor da casa de formação.


4. Algumas experiências carismáticas muito significativas


É preciso muita paciência para implantar, fazer enraizar-se e inculturar o Carisma Salesiano nas Igrejas jovens da Ásia e da Oceania a fim de que o nosso espírito e a nossa ação exprimam-se fielmente nas culturas locais. Esse é o grande desafio que exige conhecimento e amor, quer diante da mesma cultura, quer em relação a Dom Bosco e à Congregação. Nesse importante trabalho, levado adiante com otimismo e coragem, fez-se o esforço de tornar disponíveis todas as fontes salesianas e traduzir as cartas do Reitor-Mor nas sete principais línguas da Região: chinês, japonês, tailandês, coreano, vietnamita, indonésio e tétum. Há a primeira tradução abreviada das Memórias Biográficas em 5 volumes (Hong-Kong, 2005). A coisa mais importante é que todas as Inspetorias estão fazendo um esforço notável para conhecer melhor Dom Bosco e encarná-lo no próprio ambiente. Algumas Inspetorias publicam revistas de espiritualidade salesiana em língua local (Japão, Tailândia), ou enviam os irmãos aos cursos de salesianidade em Roma ou Berkeley, USA. O movimento para retornar a Dom Bosco, a que nos convida a carta de convocação do CG26, viu um grande entusiasmo e suscitou iniciativas interessantes, como seminários inspetoriais ou regionais, exercícios espirituais sobre o tema.

O diálogo entre as culturas, das quais os nossos irmãos provêm e nas quais trabalham, junto com o testemunho do Evangelho de Cristo vivido salesianamente, está produzindo bons frutos. Não há dúvidas de que a proximidade do povo, o estar entre os jovens, o estilo educativo-pastoral feito de simpatia, acolhida, espírito de família, a qualidade religiosa e cultural tornam-nos atraentes e, em geral, benquistos pela Igreja local.

É belo e causa entusiasmo encontrar expressões inculturadas de Valdocco nos diversos lugares da Região. Começando da China - Macau, Instituto Salesiano (1906), à Tailândia - Banpong (1927) e Bangkok - Dom Bosco (1946), ao Japão - Tóquio, Suginami (1934), e depois China - Beijing (1946-1954), Austrália - Sydney, Engadine (1947), Filipinas - Manila, Mandaluyong (1954), Filipinas - Visayas, Victoria (1952), Timor Leste - Fatumaca (1964), Coréia do Sul - Seul, Dae Rim Dong (1963), Vietnã - Saigon, Go Vap (1963-1976), Papua Nova Guiné - Araimiri (1980), Samoa - Alafua (1980), Indonésia - Jacarta, Sunter (1992) e outros.

Quero apresentar agora algumas experiências e opções carismáticas significativas, que poderiam inspirar também os irmãos de outras Regiões.

Na Austrália, os nossos irmãos estão animando com inúmeros leigos oito escolas secundárias desde 1998, segundo a "Carta da Escola Salesiana" fundada no critério oratoriano (Const. 40). A organização, a animação e a revisão são unificadas ao redor dessa visão participada e compartilhada de modo eficaz por todos os professores de nossas escolas. No processo formativo aprofundaram o que significa para eles conceber o ambiente educativo como «casa que acolhe, paróquia que evangeliza, escola que encaminha para a vida, e pátio para se encontrarem como amigos e viverem com alegria» (Const. 40).

Na Inspetoria da China, a preparação para o centenário da presença salesiana (2001-2006) foi animada por um movimento inspetorial pela santidade salesiana, a fim de redescobrir Dom Bosco com os 20.000 jovens e professores das nossas escolas. Ao redor desse núcleo animador desenvolveu-se a sinergia da Família Salesiana que pôde alcançar os jovens pobres. Durante as celebrações do centenário visitei, entre outros, o Don Bosco Discovery Center de Hong-Kong, Tang King Po College, onde os jovens podem encontrar-se com Dom Bosco numa exposição interativa. Ainda entre as tantas obras da Inspetoria não posso esquecer o Youth Outreach, um grande Centro juvenil aberto 24 horas por dia, sobretudo para os jovens que estão expostos aos perigos das ruas de Hong-Kong.

Nas Filipinas, as celebrações do 50° aniversário da presença salesiana, em 2001, levaram à corajosa opção de empenhar-se mais pelos jovens pobres, a maior parte dos quais vive no campo. Surgiram então muitas presenças rurais, sobretudo com centros de formação profissional, adaptados a esse ambiente. Desde 1994 o Conselho da Família Salesiana de Manila pode servir de modelo às demais Inspetorias pelo estilo de animação. É presidida por turno pelos diversos grupos; estes animam encontros de tipo espiritual, formativo, celebrativo, com algumas atividades apostólicas. Na Inspetoria de Cebu está em ação o instituto Don Bosco CLAY, até agora modelo único de formação salesiana na Região realizada por leigos e para os leigos e os jovens. Também os nossos noviços de Lawaan estão envolvidos em sessões semanais para confrontar-se, através das Memórias do Oratório, com os formadores e alunos do Don Bosco CLAY.

A Inspetoria do Japão, de acordo com o recente Projeto Operativo Inspetorial, orienta-se para os jovens em perigo e as camadas populares que a sociedade japonesa não consegue assimilar. São jovens e operários migrantes, católicos em sua maioria, mas não se limitando a eles. As duas paróquias de Yamato e Hamamatsu são um modelo de pluralidade de culturas no interior da Igreja Católica do Japão. Num único ambiente elas oferecem serviços a oito diversos grupos lingüísticos de migrantes. Ao mesmo tempo a Inspetoria continua zelosamente o trabalho vocacional que é excepcional na Igreja japonesa, quando se pensa que o número dos cristãos não chega a 1% da população. Os acampamentos bíblicos, iniciados em 1973 em Nojiriko, tornaram-se um verdadeiro ponto de referência para os nossos três aspirantados. Temos agora cerca de 50 aspirantes em Yokohama, Yokkaichi e Chofu, grande parte dos quais provém da experiência dos acampamentos bíblicos.

A única Visitadoria da Região, Indonésia - Timor Leste, gozou de um crescimento vocacional miraculoso nos últimos vinte anos, que a fez passar de 19 a 170 irmãos, com a abertura de muitas estruturas de formação. Depois de vinte anos de presença na Indonésia, temos agora mais de 50 irmãos nativos, que realizam um delicado trabalho no maior país muçulmano do mundo. Em Timor Leste, o país mais pobre da Ásia, apesar da situação muito difícil que está vivendo, o Carisma cresce graças à proximidade e à generosa dedicação dos irmãos ao povo que sofre, empenhados na reevangelização e na promoção humana.

A Coréia do Sul é uma Inspetoria que desde os anos 70 centrou-se com intensidade na missão pelos jovens pobres e abandonados, com numerosas casas-família, com o trabalho pelos jovens delinqüentes e alguns Centros de Formação Profissional. Embora com as rapidíssimas mudanças socioculturais do país, os Salesianos conseguem adaptar-se à nova situação para desenvolver uma missão eficaz por essa faixa de jovens pobres e marginalizados. A formação inicial é realizada em todas as fases ao lado dos jovens prediletos por Dom Bosco, de modo que possam viver a vida consagrada em interação com eles. Os irmãos coreanos desenvolveram um modo de evangelização peculiar através dos Centros juvenis freqüentados por milhares de alunos das escolas estatais durante o ano e por outros provenientes de centenas de paróquias diocesanas da dinâmica Igreja coreana. Releva-se também a vitalidade dos Salesianos Cooperadores, devida à boa formação inculturada e ao apostolado realizado ao lado dos Salesianos nas obras para os jovens em dificuldade. A Inspetoria, além disso, leva adiante um trabalho missionário no nordeste da Ásia em resposta ao convite explícito do P. Egídio Viganò; nos últimos dez anos partiram 10 missionários ad gentes para diversas partes do mundo.

A Inspetoria da Tailândia é numericamente a menor da Região. Apesar disso, os Salesianos na Tailândia constituem a primeira Congregação religiosa. Uma das melhores oportunidades para estar presente entre os jovens budistas são as nossas numerosas escolas, onde servimos a 21.000 estudantes. As escolas são muito apreciadas e os nossos Ex-alunos budistas levam a própria afeição a Dom Bosco à sociedade. Graças aos Ex-alunos, também a grande Família Salesiana está unida e bem animada. A expansão aos países vizinhos do Camboja e do Laos faz ver o espírito missionário salesiano com a preciosa ajuda dos nossos Ex-alunos professores e educadores.

O Vietnã é a Inspetoria mais numerosa e dinâmica da Região, com um ardente espírito missionário, quer no interior do país, quer no exterior. Nos últimos quatro anos, essa Inspetoria deu quase 30 irmãos como missionários ad gentes. A Inspetoria distingue-se depois pelo zelo especial na promoção vocacional capilar, com encontros semanais bem feitos, acompanhando sobretudo o crescimento na fé dos estudantes universitários. Também a promoção do Salesiano Coadjutor encontra o seu ápice no Vietnã. Deve-se sublinhar o testemunho excepcional, depois de 1975, para fazer reviver o Carisma Salesiano apesar da perda de todas as instituições educativas. Além das 25 paróquias, que nos ajudaram a sobreviver nos tempos difíceis, surgiram recentemente vários centros de formação profissional, muito bem vistos pelo governo e pelo povo. Tudo isso faz desta uma das Inspetorias salesianas do mundo com maior vitalidade carismática.

Há, enfim, a Delegação de Papua Nova Guiné e Ilhas Salomão. A missão acontece nos lugares pobres com uma população de maioria cristã, mas que precisa de evangelização e educação dos jovens, junto com a promoção social.


5. Alguns desafios


Levando em consideração o contexto multicultural e multirreligioso da vida salesiana na Região e a contribuição específica que o nosso carisma e a nossa missão são chamados a oferecer aos países onde nos encontramos, eis os desafios que devemos enfrentar:


A. Na dimensão espiritual-carismática evidenciamos três desafios principais:

  • em nível cultural: o risco do secularismo e do materialismo num ambiente sensível à realidade religiosa e que exige não só o serviço social, mas também o testemunho de uma profunda experiência de Deus:

  • em nível pessoal: a tentação da busca de um 'status social' que privilegie o profissionalismo, reduzindo a vida salesiana mais a um 'estado de vida' do que a um 'projeto de vida evangélica';

  • em nível institucional: o sentido frágil e apenas formal de pertença à Congregação e de adesão às suas orientações, que se manifesta entre outras coisas na fragilidade da formação inicial, devido à precariedade das condições formativas e da escassez de centros salesianos de estudo, e na insatisfatória acolhida e aplicação do modelo de pastoral da Congregação;

Estes desafios dizem-nos que precisamos de uma vida salesiana de intensa MÍSTICA.


B. Na dimensão evangelizadora e pastoral evidenciamos sobretudo três desafios:

  • em nível cultural: a tendência ao individualismo, expressa na falta de coragem no enfrentar as dificuldades provenientes da situação de minoria entre os não cristãos, especialmente de fundo confucionista-budista;

  • em nível pessoal: o ativismo exagerado que pode fazer de nós profissionais seculares mais do que pessoas consagradas e a pouca preparação ao diálogo inter-religioso e multicultural;

  • em nível institucional: a resistência em responder às mudanças de estilo de vida e de trabalho para ser mais significativos e eficazes e para estar mais próximos e servir os jovens pobres.

Estes desafios são enfrentados através da missão salesiana vivida como SERVIÇO.


C. Na dimensão de vida religiosa e comunitária notamos três desafios principais:

  • em nível cultural: a ausência de um modelo inculturado, comum e compartilhado, de vida consagrada e a dificuldade de exprimir a nossa consagração religiosa com um testemunho mais visível e crível do Evangelho, com a consciência de sermos chamados a criar um forte impacto cultural da fé cristã;

  • em nível pessoal: a tentação de viver de modo tal a não tornar visível a nossa identidade cristã e consagrada, justificando elementos culturais que não se destinam ao projeto de vida salesiana;

  • em nível institucional: a necessidade urgente de redimensionamento das obras em algumas Inspetorias, a fim de garantir a experiência de vida comunitária e dar qualidade à proposta educativo-pastoral.

Estes desafios falam-nos da necessidade de recuperar uma vida salesiana cheia de PROFECIA.


D. No funcionamento regional individuamos dois desafios principais:

  • em nível de coordenação regional: o isolamento de algumas presenças, as distâncias geográficas, as línguas, as diferenças sociais, culturais, eclesiais, vocacionais, que tornam difícil alcançar um nível de intercâmbio mais eficaz, profundo e operativo;

  • em nível de animação regional: a falta de um centro regional que seja elemento de integração, coordenação e propulsão das Inspetorias nos diversos campos da vida e da missão salesiana: formação, pastoral juvenil, família salesiana, comunicação social, missões, economia.

Estes desafios levam-nos a crer no valor da SINERGIA.


Podemos resumir todos estes desafios na necessidade de construir e viver uma espiritualidade salesiana realmente missionária e inculturada, que nos ajude

  • a evitar o perigo do ativismo, do aburguesamento, da falta de identidade carismática;

  • a superar a dicotomia entre vida e fé, entre ser e fazer, entre conselhos evangélicos - missão - vida comunitária;

  • a dar uma fisionomia mais encarnada a Dom Bosco na Região Ásia Leste e Oceania.


A esta altura, não posso deixar de acenar, entre tantos Salesianos de santidade resplendente, a dois irmãos autóctones que souberam encarnar Dom Bosco, acompanhando o seu povo em momentos muito difíceis, sendo-lhes guias seguras. Refiro-me ao Card. Joseph Zen Zé-kium, bispo de Hong-Kong, que foi nomeado Cardeal quando a presença salesiana na Região Ásia Leste e Oceania celebrava o seu centenário, e D. Carlos Ximenes Belo, Prêmio Nobel da Paz, pelo seu papel em favor do provado país do Timor Leste. O fato que Deus tenha dado à Congregação santos, mártires, fundadores, pedagogos estupendos e grandes bispos é a melhor garantia para sonhar uma fisionomia de Dom Bosco sempre mais asiática.


Conclusão - "Estou sempre perto de vós"


Geograficamente, o lugar mais distante de Roma está justamente na Região Ásia Leste e Oceania. Pude-o experimentar durante a minha viagem à Austrália e Samoa em 2004. Justamente o primeiro diretor de origem samoa, que não estava presente no momento de minha visita, expressou em maio de 2006 o seu sonho: «Gostaria de visitar os lugares santos de Dom Bosco e gostaria de encontrar o Reitor-Mor pessoalmente, ao menos uma vez na minha vida».

Alguns irmãos da Região fizeram uma peregrinação aos lugares santos salesianos, outros fizeram o esforço de aproximar Dom Bosco das línguas e culturas locais.

Como Sucessor de Dom Bosco, já pude visitar todas as Inspetorias da Região (em abril deste ano, será a vez da última, a do Vietnã) e conhecer pessoalmente tantos irmãos e obras. Alguma Inspetoria não era visitada pelo Reitor-Mor há bem vinte e quatro anos. Existem ainda alguns lugares onde nenhum Reitor-Mor jamais esteve, como as Ilhas Salomão, o Paquistão, a Mongólia, o Laos, Fiji. Pois bem, com esta carta quero exprimir a minha proximidade a todos vós, mas não só, quero também vos fazer próximos de todos os Salesianos do mundo.

«Sem Maria Auxiliadora, nós Salesianos não somos nada» era um dos cinco conselhos dados aos missionários da China, no distante 1920, pelo primeiro salesiano, D. Luís Versiglia.

Muitas Igrejas locais da Ásia Leste e Oceania estão venerando a Mãe de Jesus e da Igreja como Auxílio dos Cristãos: Ela é patrona da Austrália, da China, do Vietnã, das Igrejas da Oceania. Para não excluir ninguém, muitas comunidades salesianas da Região rezam todos os dias com a jaculatória: «Maria, nosso auxílio, ora por nós!». A sua presença é vivamente sentida. Quero confiar a Ela o futuro desta nossa Região, a mais distante das raízes no tempo, no espaço, na cultura, mas nem por isso menos bem querida, afeiçoada a Dom Bosco e identificada com a Congregação.

Maria Auxiliadora, a Mestra de Dom Bosco, continue a guiar e abençoar as gerações dos irmãos que crescem nesta Região.

Com afeto, em Dom Bosco


P. Pascual Chávez Villanueva

Reitor-Mor

1 Cf. Missionary Animation: First Meeting of the Provincial delegates of Missionary Animation for Asia and Australia, Bangalore – India, 7-11 October 1992, p. 103

2 Cf. Luciano Odorico, Evangelization and Interreligious Dialogue, in Evangelization and Interreligious Dialogue. Batulao (Philippines) March 12-18, 1994, p. 47-64.

3 Cf. P. Braido (a cura di), Don Bosco Educatore, scritti e testimonianze, LAS Roma 1992, p. 438

4 Cf. MB X,53; MB XV, 91; MB XVI,385; MB XVII,643-7;MB XVIII,72-74.

5 Sobre a evolução da presença e da obra salesiana na China, veja-se o estudo recente de Carlo Socol, Don Bosco’s Missionary call and China, in RSS n. 49, luglio-dicembre 2006, pp. 215-294


6 Estatística de 31 de dezembro de 2006

7 Cf. ACG 395, nº 2.1 Empenho missionário dos Salesianos de Dom Bosco hoje.

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