Viganò Egídio
P. Felipe Rinaldi
Fiel Testemunha e Intérprete do “Espírito Salesiano
Atos do Conselho Geral
Ano LXXI – janeiro-março, 1990
N. 332
A beatificação do Pe. Rinaldi — O percurso da causa — O significado que tem, para nós, este acontecimento — O percurso da existência do Pe. Felipe — No ápice, na primeira metade do primeiro século salesiano — A sua admirável coragem — Cultor de “salesianidade” — Autorizado intérprete da nossa interioridade apostólica — Protótipo de “bondade pastoral” com sua paternidade — Intercessor e guia para toda a Família Salesiana — Testemunha da vital mensagem de “Dom Bosco-Modelo”.
Roma, 5 de dezembro de 1989
58º aniversário da morte do novo Bem-aventurado
Queridos irmãos,
enquanto nos preparamos com intensidade de oração e de estudo para celebrar o próximo CG23 convido-os a concentrar a atenção sobre o testemunho de “espírito salesiano” do terceiro sucessor de Dom Bosco, Pe. Felipe Rinaldi. A sua figura histórica, a sua constante relação com o patrimônio vivo de Dom Bosco e a sua relevante incidência sobre o desenvolvimento da Família Salesiana, oferecerão preciosas luzes sobre os importantes trabalhos capitulares, mas também sobre todo o crescente processo da nossa renovação na Igreja.
Escrevo-lhes no 58º aniversário de sua morte (5 de dezembro de 1931) enquanto estamos esperando que seja marcada a data da Beatificação. Já estão sendo concluídos junto à Congregação para as Causas dos Santos os vários processos; na prática, só falta a decisão final do Santo Padre.
Naturalmente ainda não é possível apresentar datas definitivas, mas pode-se pensar com fundada previsão que a Beatificação poderá acontecer no primeiro semestre de 1990.
Qualquer que seja a data, é minha convicção que será para nós um acontecimento de ressonância espiritual. Fiquei pessoalmente convencido disto nos contatos que mantive com os membros dos vários Grupos da nossa Família em diferentes partes do mundo. Há mais de meio século de sua morte vê-se engrandecida sua figura: espera-se um especial estímulo de autenticidade vocacional através do reconhecimento oficial da sua santidade.
O percurso da Causa
Acredito interessará a todos conhecer um breve resumo das etapas pelas quais passou a Causa do Pe. Rinaldi: é um convite para agradecer juntos à Providência pelo grande dom que nos preparamos para receber.
Quando o Pe. Rinaldi faleceu, a 5 de dezembro de 1931, já se difundira a fama da sua santidade e poucos anos depois foi-se pedindo para dar início aos Processos necessários. O Conselho geral da época preferiu esperar; o Reitor-Mor, Pe. Pedro Ricaldone, assim se expressou: “Deixemo-nos guiar por Deus, se Ele quiser glorificar o seu Servo no-lo demonstrará de maneira inequívoca”.1 Era o mesmo que pedir um sinal do céu. Este veio pouco depois através de uma resposta: a cura milagrosa da Irmã Carla De Noni, da Congregação da Paixão de N.S.J.C. em Villanova de Mondovì.
A Irmã fora gravissimamente ferida na boca por uma bala de metralhadora durante o bombardeamento aéreo de 20 de abril de 1945. Foi-lhe arrancado na hora o queixo com todos os dentes inferiores deixando a língua solta sobre o peito e cortando todas as funções da boca, a voz, a mastigação e a deglutição; todos acreditaram numa morte iminente.
A Superiora Fundadora do Instituto — madre Maria Lazzari, morta em conceito de santidade — fora orientada espiritualmente, durante vinte e cinco anos, quando professora de letras nas escolas públicas de Turim, pelo Pe. Rinaldi; convidou, então, toda a comunidade a implorar sua intercessão. Foi colocado sobre a ferida da irmã um lenço do Pe. Rinaldi; ela sentiu certa melhora, mas por quase cinquenta dias ficou imóvel, sem poder pronunciar uma só palavra e sem poder ingerir nada. Enquanto se intensificaram as orações, poucos dias antes da festa de S. Pedro (junho de 1945) a Irmã Carla improvisamente despertou de um ligeiro sono, pela primeira vez levantou-se sozinha, começou a falar normalmente, a comer e a deglutir; a língua tinha voltado ao seu lugar natural, o osso do queixo ficou reconstituído e todas as funções da boca voltaram à normalidade. No dia de S. Pedro, a Irmã dava aula de canto às meninas da localidade.
O fato teve vasta repercussão e os Superiores decidiram imediatamente que fosse iniciado o Processo ordinário para introduzir a Causa junto à cúria arquidiocesana de Turim (1948-1953), enquanto junto à cúria diocesana de Mondovì pensou-se no Processo ordinário para o milagre (1948-1949).
O estudo posterior sobre as virtudes heroicas do Pe. Rinaldi por parte da Congregação das Causas dos Santos em Roma foi caminhando devagar também pelo número relevante de candidatos a serem examinados. Somente no dia 3 de janeiro de 1987, na presença do Papa João Paulo II, foi lido o decreto que reconhecia a heroicidade das suas virtudes. O juízo dos teólogos consultores e dos cardeais foi unânime com expressões de peculiar estima.
Faltava examinar o milagre. O correspondente Processo de Mondovì foi totalmente positivo e as radiografias do caso tinham sido enviadas logo em seguida para Roma ao Procurador da fé. Infelizmente — depois de tantos anos — não puderam ser encontradas nos arquivos da Congregação das Causas dos Santos. Por falta destes elementos de prova, os médicos legistas — em um primeiro encontro — deixaram de dar um juízo positivo. Por sorte a agraciada, Irmã Carla De Noni, vive ainda e pode se apresentar para novos exames.
As dificuldades encontradas pelos médicos puderam ser superadas recorrendo às modernas técnicas científicas: ao TAC (tomografia axial computadorizada), à RM (ressonância magnética) e à “sirognatografia”. Na consulta médica foram chamados bons especialistas maxilofaciais, tratando-se exatamente de um caso inerente à sua especialização científica.
Os resultados dos minuciosos exames levaram a junta dos médicos legistas (em 17 de junho de 1989) a declarar — com juízo unânime e com provas por eles consideradas indiscutíveis — que essa cura não podia ser explicada naturalmente.
Aqui merece um louvor o nosso Postulador Pe. Luís Fiora, pela constância e a inteligência com que se dedicou na solução das várias dificuldades.
Depois do juízo positivo dos médicos legistas, o milagre foi reconhecido unanimemente pelos teólogos consultores no dia 13 de outubro de 1989; prevê-se que a sentença dos teólogos e dos médicos será aprovada pela Congregação dos Cardeais no próximo 19 de dezembro de 1989. Em data posterior será feita a leitura do decreto sobre o milagre na presença do Sumo Pontífice, a quem compete exclusivamente dar continuidade à beatificação e fixar a data.
O significado que tem para nós este acontecimento
Algum tempo atrás, quando se estava preparando o centenário da morte de Dom Bosco, nós desejávamos que a beatificação do Pe. Rinaldi pudesse ser incluída nas celebrações do DB88. Agora podemos também pensar que o atraso deste acontecimento tenha sido providencial.
Antes de tudo, na próxima data, a atenção de toda a Família Salesiana poderá concentrar-se melhor na figura do novo Bem-aventurado para colher com maior proveito a sua mensagem profética; em 1988 teria ficado um pouco na sombra.
Em vida, ele soubera recobrir com um pesado manto de humildade um conjunto de riquezas espirituais, de criatividade apostólica, de audazes iniciativas, de adaptação aos tempos, de intuição e até de desenvolvimento do carisma; a sua beatificação pode ser considerada agora quase como o reflexo mais bonito e significativo do 88, que desvelará a todos o quanto Deus quis dar à nossa Família na pessoa do terceiro sucessor de Dom Bosco.
O fato, ainda, de a beatificação acontecer na proximidade dos dois Capítulos Gerais de 1990 (o nosso e o das Filhas de Maria Auxiliadora) — que terão lugar num momento particular da nossa renovação (depois de um sexênio da aprovação apostólica das Regras reelaboradas) —, nos oferece a extraordinária possibilidade de enfrentar a delicada problemática da educação dos jovens à fé com o coração e o dinamismo de uma maior fidelidade ao espírito salesiano. A garantia da santidade do Pe. Rinaldi poderá influir beneficamente sobre os capitulares.
Além do mais, teremos todos, com as Voluntárias de Dom Bosco, a oportunidade para considerar com maior atenção os mais amplos horizontes da fecundidade do espírito salesiano no século, em favor de tantos fiéis leigos da nossa Família.
Existe, nesta beatificação, algo a mais, um suplemento de significado, que a torna sobremaneira importante. A beatificação de um nosso irmão ou irmã foi sempre preciosa e iluminante; ajuda-nos de fato a valorizar e amar mais a vocação salesiana e a sublinhar alguns aspectos. A do Pe. Rinaldi, porém, guarda um significado eminente e de particular atualidade para a identidade do nosso carisma na sua globalidade: apresenta-nos o terceiro sucessor de Dom Bosco como defensor e revelador do segredo do “espírito salesiano”, para animação e guia de toda a nossa Família: ele indica claramente a cada Grupo o vínculo comum que nos une a ela.
A sua vida é a mais bonita resposta à superficialidade espiritual que nos ameaça hoje.
Além de conservar e guardar, interpretou, explicou e aumentou a vitalidade de todo o patrimônio recebido.
Falou-se dele que foi “lâmpada de múltiplas luzes”: ajudar-nos-á atravessar com passo seguro a escura região da delicada passagem deste final de século.
Gostaria de convidá-los a refletir sobre alguns aspectos mais característicos sem a pretensão de esgotá-los.
O percurso da existência do Pe. Felipe
Os anos de vida do Pe. Felipe Rinaldi foram 75: de 28 de maio de 1858 (Lu Monferrato) a 5 de dezembro de 1931 (Turim-Valdocco). O encontro com Dom Bosco deu estrutura e significado a toda a sua vida.
Na peculiar história da vocação do jovem Felipe notam-se circunstâncias que superam o caminho vocacional ordinário e fazem pensar a uma intervenção especial da Providência. Eugênio Ceria, seu primeiro biógrafo, afirma explicitamente: “é um caso mais único do que raro, aliás o único que se tenha conhecimento. ‘Depois dos fatos’ tem-se razão em dizer: ‘a mão de Deus está aqui’“.2
Dom Bosco encontrou e confessou Felipe adolescente no colégio recém-aberto de Mirabello Monferrato, perto de Lu, a 9 de julho de 1867; e a partir daquele momento nunca o perdeu de vista. Apesar que o garoto, por uma injusta grosseria recebida de um assistente, tivesse deixado o colégio antes do tempo, o bom pai aproveitava toda oportunidade para mandar-lhe saudações, pedia que escrevesse, e o convidou muitas vezes a voltar.
Pode ter acontecido que na única conversa, Dom Bosco lhe tenha indicado o caminho do sacerdócio, ao qual o garoto não se sentia inclinado, achando que não tinha as qualidades, sentindo-se até indigno. E assim o impasse continuou por quase uma década: “religioso, sim; sacerdote, não”.
Finalmente aos 21 anos, num novo encontro provocado por Dom Bosco no colégio de Borgo San Martino em 22 de novembro de 1877, declarou-se disponível e aceitou unir-se à original comunidade dos Filhos de Maria (vocações adultas), aberta com dificuldades por Dom Bosco em Sampierdarena: era diretor o Pe. Paulo Albera, que Felipe encontrara clérigo assistente em Mirabello e do qual tornara-se amigo.
Muitos anos depois, numa nota íntima do diário lembrando aquele dia, assim se expressava com humildade: “Façam Deus e Maria SS. que, depois de ter resistido tanto à graça no passado, não mais abuse no futuro. Sim, ó Mãe minha SS., antes a morte do que não corresponder à minha vocação. Fazei que com o presente e com o futuro repare o passado”.3
Depois de vários anos em que completou os estudos o mais rápido possível, em 1879-1880 pode fazer o noviciado em San Benigno, tendo como mestre o Pe. Júlio Barberis.
Nos seus sucessivos passos em direção ao ministério sacerdotal encontramos novamente a intervenção extraordinária de Dom Bosco que o seguia com um interesse à primeira vista inexplicável e que o orientou com autoridade paterna e convicta para as várias etapas das ordenações; assim no dia 23 de dezembro de 1882 tornou-se finalmente presbítero. “Foi Dom Bosco — confessou ele — quem indicou-me o caminho, quem mandou-me receber as sagradas ordenações sem que eu fizesse aceno e pedido a ele ou a outros”.4
Podemos perguntar: por este método inusitado? O que movia a excepcionalidade e a segurança no agir de Dom Bosco? Verdadeiramente na história vocacional de Felipe Rinaldi e no agir de Dom Bosco, durante todo o tempo em que eles tiveram um relacionamento pessoal, houve algo de singular que foge a um simples olhar exterior, mas que levou o Pe. Rinaldi a uma meta bem definida, que é, a nossos olhos, claramente providencial.
Ele mesmo o confessou mais tarde com convicta sinceridade, declarando aos Superiores maiores (convidando-os a não falar disso durante a sua vida) que duas vezes — em Mirabello e em Borgo San Martino — vira o rosto de Dom Bosco irradiando uma luz viva, mais viva daquela solar (e também mais tarde, uma terceira vez por volta de 1886).5
Quando faltavam nove meses para a ordenação sacerdotal, aos 27 anos, Dom Bosco nomeou-o diretor da obra dos “Filhos de Maria”, transferida de Sampierdarena a Mathi (por um ano) e depois a Turim-S. João Evangelista. O jovem diretor teve o privilégio de ir toda semana relatar o andamento da casa a Dom Bosco já idoso e a se confessar com ele; foi convidado algumas vezes também às reuniões do Conselho geral (então “Capítulo superior”). Mereceu, portanto, uma extraordinária confiança por parte do Fundador exatamente nos últimos anos, dolorosos, mas lúcidos, da sua velhice. Certo dia pedira ao bom pai que pudesse ir para as missões: “respondeu-me — afirmou ele mesmo aos irmãos da sua comunidade — que não teria ido para as missões; que teria ficado aqui para mandar outros. Depois acrescentou-me outras coisas que não direi nem a vós nem a qualquer outro”.6
Considerando este especial relacionamento do Pe. Rinaldi com Dom Bosco, é natural e espontâneo pensar às graças extraordinárias com as quais Deus acompanha a obra de um Fundador. Também em relação às várias pessoas perto de Dom Bosco, nas primeiras origens salesianas, há circunstâncias que não se explicam humanamente. Pensemos à ação decisiva de S. José Cafasso, à do Papa Pio IX, ao encontro e formação de determinados jovens, por exemplo, Miguel Rua, João Cagliero, Paulo Albera e depois Maria Domingas Mazzarello, para não falar de outros. Estamos diante de uma constelação de diferenciados colaboradores entre os quais hoje podemos incluir, a seu modo, também Felipe Rinaldi, vendo a obra por ele desenvolvida para a permanência da herança do Fundador.
Pouco depois da morte de Dom Bosco, o Pe. Rinaldi foi mandado (outubro de 1889) como Diretor de Sarriá na Espanha, onde se relacionou durante vários anos com a senhora Dorotéia Chopitea, viúva Serra, insigne e santa cooperadora. No verão de 1892 foi nomeado Inspetor da península ibérica; ficou neste cargo durante uma dezena de anos com surpresa e admiração de todos, dentro e fora da Congregação.
Em 1901 o Pe. Rua chamou-o a colaborar estritamente com ele no cargo de Prefeito geral, ou seja, de “Vigário” do Reitor-Mor: tinha 45 anos. Deve-se assinalar que até 1923 era competência do Prefeito, dirigir também a administração central. O Pe. Rinaldi desempenhou esta tarefa, antes com o Pe. Rua e depois com o Pe. Albera até 1922. Por duas vezes, durante estes vinte anos, fez as vezes do Reitor-Mor falecido.
Em uma carta, sem data, escreveu (provavelmente depois da morte do Pe. Albera): “Agora peço ao Capítulo para eleger um Prefeito jovem. Este é um cargo que exige muita atividade e trabalho. Quando alguém fica velho é difícil suportar a responsabilidade de um Prefeito geral dos Salesianos. O cargo foi criado tal e qual por Dom Bosco e não deve mudar. Na minha idade, entregaram as armas o Pe. Alasonatti, o Pe. Rua, o Pe. Durando, o Pe. Belmonte e isto na época em que a Congregação não tinha o trabalho complexo que exige hoje. Pode-se acrescentar que com um Reitor novo pede-se um homem novo que se adapte facilmente às novas aspirações e necessidades pessoais. Pode-se acrescentar que temos necessidade que no Capítulo (ou seja, no Conselho geral) entrem jovens aos quais uniremos se o quereis o nosso conselho”.7
No CG XII, em 24 de abril de 1922, foi no entanto eleito Reitor-Mor: tinha 66 anos. Ficou no cargo até o final de 1931.
No ápice, em meados do primeiro século salesiano
É útil apresentar brevemente os anos de alta responsabilidade do Pe. Rinaldi durante os primeiros decênios do século em sua atividade no Conselho geral. Durante quase trinta anos ele esteve no ápice da vida salesiana, sobretudo de 1922 a 1931 como 3º sucessor de Dom Bosco, quando iniciava uma “nova época” — como dizia ele — da vida salesiana.
Procurando interpretar a sua missão histórica podemos pensar legitimamente que ele desempenhou uma atividade de peculiar importância; e de alguma maneira teve consciência disso. Assim escrevia alguns meses antes de morrer: “Parece-me que já faz um bom tempo que Dom Bosco está me repetindo: apressa-te e não te canses em dizer aos meus filhos, agora confiados aos teus cuidados, as coisas que pratiquei e ensinei para serem verdadeiros salesianos de acordo com o modelo que me foi apontado pelo alto para ensinamento da nossa Sociedade”.8
É significativo ler em sua circular de 1925 algumas afirmações que fazem ressoar aos nossos ouvidos o famoso texto do evangelista João onde fala daquilo que “nós ouvimos, que vimos com os nossos olhos, que contemplamos, que tocamos com as nossas mãos”;9 escreve, de fato, aos irmãos “ter tido a sorte de tratar familiarmente com Dom Bosco vários anos, durante os quais, podemos dizer, respiramos a santidade do seu olhar, das suas palavras e das suas ações mesmo mínimas; ... e a sua voz carinhosa, inesquecível, pronunciava a palavra que, modificando completamente os nossos precedentes ideais, unia a ele indissoluvelmente todo o nosso futuro”.10
Para compreender melhor a figura do Pe. Rinaldi, devemos pensar, embora rapidamente, no contexto ambiental daqueles anos. É um ambiente cultural que precede de quase um decênio o segundo grande conflito mundial (1939-1945), que traria tantas mudanças; no ambiente eclesial o contexto caracterizava-se por modalidades e estruturas eclesiais ainda longe do Concílio Vaticano II.
Podemos lembrar rapidamente alguns elementos: a problemática da questão social, a delicada crise modernista, as batalhas coloniais, as oscilações dos valores econômicos, o flagelo da primeira guerra mundial (1914-1918), a promulgação do Código de Direito Canônico (27 de maio de 1917), o surgimento das ideologias e dos nacionalismos, as lutas políticas, o lento despertar dos católicos no campo social, a crise dos partidos, a suspirada realização dos pactos lateranenses com a concordata entre Igreja e Estado italiano (1929) e, finalmente, o perigoso despertar dos totalitarismos.
Em relação à vida salesiana influenciaram fortemente os seguintes fatos: em primeiro lugar o decreto de 24 de abril de 1901 sobre o Diretor-confessor, que tanto fez sofrer a Congregação; depois as famosas “Normae secundum quas” para a autonomia do Instituto das Filhas de Maria Auxiliadora (1901); e mais, durante vários anos, a primeira guerra mundial que convocou às armas uns 2.000 irmãos (ou seja, quase a metade de todo o pessoal de então); depois a gradual elaboração — através de vários Capítulos Gerais — de uma mais detalhada regulamentação da vida da Congregação, com a reestruturação completa das Constituições conforme o novo Código de direito canônico publicado pouco antes do seu reitorado.
Deve-se acrescentar, ainda, após a primeira guerra mundial, a entrada de numerosas vocações e a necessidade de formá-las adequadamente.
O Pe. Rinaldi, entre 1922 e 1932, também teve a sorte de presidir vários jubileus de ouro que lhe serviram para concentrar a atenção sobre elementos vitais da vida salesiana; as suas circulares lembram vários deles; podemos indicar alguns: tratava-se de meditar sobre 50 anos de memória e de formular propósitos! Assim por exemplo, o jubileu da fundação do Instituto das Filhas de Maria Auxiliadora (1922), da aprovação das Constituições (1924), das Missões (1925), da Obra de Maria Auxiliadora (1926), dos Cooperadores (1926), do sonho do personagem dos dez diamantes (1931) ao qual o Pe. Rinaldi deu especial importância11 e também o centenário do sonho dos 9 anos que se calculava ter acontecido em 1825 e cujo significado ele desejava estivesse no centro das reflexões salesianas porque encerrava como numa semente o espírito das mesmas Constituições.12
Acrescentemos a estes eventos duas importantes beatificações: a do Pe. José Cafasso (1925); e, sobretudo, a de Dom Bosco (1929). Os dois bem-aventurados tinham sido amigos íntimos durante uns vinte anos, dois santos eminentes, mas duas santidades com duas missões diferentes: um reservado e voltado para a formação do clero, o outro com grande criatividade apostólica e voltado à educação cristã da juventude necessitada e das classes populares.13
À luz destes breves tópicos sobre o contexto da sua vida de Superior vemos hoje que o Pe. Rinaldi está inserido com perspectiva de alto nível na história da Família Salesiana e com particular destaque. Nos anos do seu reitorado atuava-se aos poucos a passagem para as novas gerações que não tinham conhecido o Fundador e que, portanto, não tinham recebido dele, em contato direto, a formação salesiana. No entanto tinham que assimilar, guardar e desenvolver a herança de Dom Bosco.
O Pe. Rua fora quem guardara fidelissimamente e soubera evitar com sabedoria e coragem os riscos que alguns (fora da Congregação e na cúpula da Igreja) previam depois da morte do Fundador. Porém, apesar da obra de grande valor do primeiro sucessor, os tempos mudavam e surgiam novos desafios.
O patrimônio salesiano devia conservar a sua genuinidade e, na passagem para as novas gerações, era necessário um mediador sólida e atraentemente ligado a Dom Bosco. Devia-se também prevenir os perigos que podiam surgir da expansão própria da Família Salesiana e do seu encontro com culturas sempre mais diferentes. Os tempos exigiam a capacidade de desenvolver as riquezas contidas no carisma do Fundador, do qual algumas sementes não tinham conseguido ainda manifestar-se completamente no primeiro desenvolvimento.
Deviam-se depois consolidar as estruturas que se tornavam necessariamente mais complexas sem que sufocassem a autenticidade e a simplicidade do espírito. Apresentava-se em particular o vasto problema da formação, destinando a ela um número crescente de homens, especificamente qualificados e fiéis, e abrindo para isso centros válidos de formação e de estudo.
Para esta passagem de geração deram sua contribuição não poucos irmãos eminentes por intensidade espiritual e ardor apostólico; nunca faltaram homens de caráter louvável; por outro lado, apesar dos defeitos, a Congregação nunca foi, até então, vítima de graves crises. Entre os beneméritos, porém, parece-me poder afirmar que não se vê outro que tenha tido a importância, a eficácia e o papel histórico do Pe. Rinaldi.
Ele, além de ter tido um relacionamento muito estreito com Dom Bosco, colaborara diretamente com o Pe. Rua e com o Pe. Albera durante uns vinte anos; ambos deixaram à sua responsabilidade pessoal muitas tarefas entre as mais difíceis e mais delicadas, que lhe permitiram adquirir uma vasta experiência, pode-se dizer, em todos os setores da vida salesiana. Também com humildade, bondade e simplicidade, ele esteve no vértice da Congregação numa hora de mudança e guiou sua segura afirmação na Igreja. Conquistou os irmãos irradiando uma santidade que reproduzia os elementos essenciais e característicos daquela de Dom Bosco: a interioridade apostólica, o dinamismo pastoral, a bondade fraterna. Fez reviver verdadeiramente diante de todos a figura do Pai a ponto de ser definido “imagem viva” dele; ou, como afirmou o Pe. João Batista Francesia: “faltava-lhe de Dom Bosco só a voz, todo o resto já tinha”.14
A delicada reelaboração do texto da Regra de vida, depois do Código de 1917, levou-o a fazer refletir os irmãos sobre a estreita ligação que ela tem com a herança do Fundador. Ele mesmo falou disso no cinquentenário da aprovação das Constituições. Olhando para a reelaboração do texto (apesar de ter sido mais jurídico) insiste sobre a mediação qualificada que as Constituições têm como portadoras do espírito do Fundador: “são a alma da nossa Sociedade, e esta foi a alma de toda a vida de Dom Bosco; portanto, a história delas está toda na vida dele... que escreveu seus artigos antes no íntimo e na vida daqueles que escolhera para seus filhos... As nossas Constituições, modificando de quando em quando as cores das linhas secundárias, não só perderão a tonalidade primitiva, mas tornar-se-ão cada vez mais fecundas de bem”.15
É verdade, escrevera um ano antes numa outra circular, que as nossas Constituições “tiveram que sofrer com o tempo diferentes variações, ou sugeridas pelas Congregações romanas, ou exigidas pelo desenvolvimento da Pia Sociedade, ou impostas pelas leis positivas da Igreja... Esta elasticidade de adaptação a todas as formas de bem que continuamente surgem no seio da humanidade, é o espírito próprio das nossas Constituições... O salesiano que as observa pontualmente, torna-se, sem quase perceber, um outro Dom Bosco”.16 Elas “substancialmente são as mesmas de antes”, “são animadas por um sopro daquela vitalidade que emana do santo Evangelho, que, exatamente por isso, pertence a todos os tempos e é sempre rico de novas fontes de vida”.17
Insistia também sobre a recomendação de considerar com atenção as cartas circulares do Pe. Rua e do Pe. Albera (estávamos em 1923) para uma correta interpretação do espírito; e escrevia: “No Rodriguez — que era então o texto mais utilizado na leitura espiritual comunitária —, encontramos muitas vezes unidas aos ótimos conselhos, muitas coisas que para nós não têm importância. Por que não ler as nossas coisas, escritas com tão puro afeto e simplicidade pelos nossos Padres?”.18
Era o grande vigia do verdadeiro “espírito salesiano”; percebia estar nele a vitalidade do futuro; preocupou-se, então, em aprofundá-lo, comentá-lo e fazê-lo estudar e documentar, assegurando assim a plataforma de lançamento para o grande impulso na direção da maturidade de toda a nossa Família.
O seu admirável dinamismo
O terceiro Sucessor de Dom Bosco é pouco conhecido entre nós. Ao menos para mim foi uma espécie de descoberta dedicando-me a ler e refletir sobre a sua vida e as suas atividades. Parece-me conveniente indicar, num primeiro momento, o volume e a importância das suas atividades, para depois aprofundar melhor a sua mensagem.
Havia a necessidade de guardar e guiar um carisma, digamos assim, “adolescente” em pleno desenvolvimento; era preciso, portanto, cultivá-lo e alimentá-lo com a mais genuína seiva do Fundador.
O Pe. Rinaldi foi endereçado para isto logo no início, antes como encarregado da formação das vocações “adultas” (os “Filhos de Maria”): um original compromisso de futuro, no qual foi orientado pessoalmente por Dom Bosco; depois, foi lançado na península ibérica, onde foi o primeiro protagonista do transplante do carisma numa outra cultura; finalmente, foi colocado no centro de tudo, seja como Vigário geral seja como Reitor-Mor.
Paremos um pouco para contemplar o que fez. Veremos abrir-se diante de nossos olhos um panorama inusitado; nele aparece às vezes — como alguém escreveu — um “apóstolo quase clandestino”.19 Ter uma ideia ajudará a não equivocar a sua figura e a compreender a sua missão histórica.
O Pe. Rinaldi, com sua simplicidade bonachona, era, na realidade, um homem dinâmico e criativo; com acentuada tendência à ação, calma e firme; audaz nas suas iniciativas, mesmo se sempre guiado pela prudência. Era defensor consciente da herança recebida, mas não tinha medo das novidades, quando intuía que a elas se aplicava, desenvolvendo-o, o espírito de Dom Bosco. Possuía uma inteligência prática particularmente penetrante. Era reservado e recolhido em suas atitudes exteriores, mas conhecia com olhar seguro a realidade do ambiente e das situações em que vivia, e tinha a boa intuição de adaptar-se a elas e valorizá-las em suas iniciativas. Não passavam para ele despercebidas as mudanças dos tempos — para melhor ou para pior — e sabia responder às exigências novas que elas comportavam. Respeitava todos aqueles com os quais se relacionava; era incapaz de imposições autoritárias, mas tinha a habilidade de atraí-los com a sua bondade e torná-los colaboradores. Não fazia demonstração de erudição e de competências especializadas, aliás tinha pouca estima dele mesmo, mas era rico de penetrante observação, de criatividade e de bom senso e, assim, de fato, impulsionou com sucesso obras de grande originalidade no tempo em que viveu, antecipadoras do futuro.
Foi, afinal, um verdadeiro realizador, não impulsivo, mas empreendedor, calmo e sábio, de quem permanecem as obras e os ensinamentos.
— Enviado à Espanha, fez dela sua pátria adotiva e “a amou — testemunhou Dom Marcelino Olaechea, arcebispo salesiano de Valência — como se nela tivesse nascido”.20 Isto indica uma especial capacidade de adaptação, acompanhada pela valorização das pessoas, da cultura e do ambiente.
Dedicou-se ardorosamente a familiarizar-se com a língua castelhana e também com a catalã; adquirida uma certa habilidade com a língua de Cervantes, quis ler (e reler também mais de uma vez) o ‘Dom Quixote’, porque “ensinava-lhe muita filosofia prática e sobretudo a arte de compreender e tratar os homens e governá-los, além de ser um meio para se distrair dos problemas e de alimentar um pouco de bom humor”.21
Em nove anos — como lembrou o Pe. Ricaldone nos Processos — foram 21 casas por ele fundadas: quase um milagre de atividade e de intuição na promoção das vocações e na escolha das pessoas. Com a sua saída, na península foram erigidas quatro Inspetorias: a ‘Portuguesa’ e, na Espanha, a ‘Tarraconense’ (Barcelona), a ‘Céltica’ (Madri) e a ‘Bética’ (Sevilha).
Preocupou-se muito também com a presença e o crescimento das Filhas de Maria Auxiliadora. Orientou-as sobretudo a se expandir na Andaluzia. Tinham só a casa de Sarriá; ele as estimulou e ajudou em nove fundações. “À sua chegada em Barcelona, as irmãs eram 4 e as noviças 3; à sua saída as irmãs tinham aumentado para 63 e as noviças para 31, quase todas espanholas”.22
Não parece exagerado afirmar que ele foi o maior protagonista dos inícios da Obra Salesiana na península ibérica e que ele semeou nela — coisa significativa — uma sólida e fiel tradição do espírito de Dom Bosco.
Com razão Dom Marcelino Olaechea pode afirmar com simpático entusiasmo: “Se um dia a voz infalível da Igreja elevar o Pe. Rinaldi às honras dos altares, haverá grande júbilo em toda a Congregação, mas se sentirá sobretudo na Espanha, naquela Espanha que ele levou no coração acariciando-a até à morte, e cujas terríveis dores previu como profeta”.23
— Colocado no centro da Família como Vigário do Sucessor de Dom Bosco, não limitou sua ação unicamente às tarefas administrativas de Prefeito geral da Congregação salesiana. Sua vida de escritório, que exigia também graves responsabilidades nos casos mais difíceis, era, sem dúvida, desgastante. Pensemos, por exemplo, nos fatos de Varazze (1907) e mais tarde nos de Marsala (1909): o longo e delicado processo judicial que se seguiu aos fatos de Varazze passou pelas suas mãos.
Que esta tarefa de Prefeito geral foi desenvolvida por ele com sentido de responsabilidade e eficiência, pode-se deduzir do fato de ele ser reeleito três vezes, servindo dois Reitores-Mores, bem diferentes dele em caráter e mentalidade.
É surpreendente o número de atividades, a variedade de interesses e as iniciativas de longo alcance que ele apoiou.
E tudo isto em pleno acordo e virtuosa submissão ao Reitor-Mor, fosse o Pe. Rua ou o Pe. Albera. Pode ser esclarecedor o que observa o Pe. Ceria na sua biografia em relação ao segundo. “O Pe. Rinaldi, positivo e empreendedor, sendo até o fim — para usar uma palavra atual — um dinâmico, isto é, um homem de iniciativas corajosas, devia se entender com um Superior (Pe. Albera) prevalentemente, diríamos assim, de ideias gerais e por natureza um tanto estático, com receio de iniciar coisas novas, que costumava avaliar em profundidade em seus aspectos difíceis e incertos”;24 além disso, deixava-se facilmente influenciar negativamente, justamente em relação ao seu tão válido e humilde colaborador.
Vejamos, continuando em rápidos acenos, quais os principais campos de suas atividades no centro da Congregação.
Durante o período em que foi “Prefeito geral”
A. Um primeiro campo é certamente o dos fiéis leigos. O Pe. Rinaldi demonstra aqui um interesse verdadeiramente antecipador.
• Fortaleceu e dinamizou a associação dos Cooperadores. Na época, o Reitor-Mor interessava-se deles pessoalmente através de um delegado. O Pe. Rinaldi percebeu que as coisas não caminhavam suficientemente por falta de uma organização adequada; insistiu com o Pe. Rua para que se criasse uma comissão central, presidida pelo Prefeito e composta por três conselheiros e alguns secretários, de acordo com a necessidade. Escolheu o pessoal, estimulou a ação dos Inspetores e dos Diretores, promoveu diferentes iniciativas de formação e de trabalho apostólico, distinguiu claramente os Cooperadores dos Benfeitores, estimulou a entrada dos jovens que tivessem completados 16 anos, cuidou mais tarde, em 1917, de uma nova edição do Regulamento, simplificando as inscrições, preocupou-se para que os centros locais fossem dinamicamente vivos, foi formando e completando as fileiras dos animadores; atribuiu em vista disso também especial importância ao “Boletim Salesiano”.
De 1903 a 1930 fez celebrar nove Congressos internacionais, 4 na Itália e 5 na América Latina: é bom assinalar que o de 1920 marcou época na organização e ação dos Cooperadores Salesianos.
Sua preocupação fundamental foi fazer viver com atualidade o verdadeiro espírito de Dom Bosco entre eles.
• Com os Ex-alunos, a ação do Pe. Rinaldi foi ainda mais original e rica de resultados com perspectivas internacionais e mundiais. Já falei disso numa Carta circular;25 aqui lembro brevemente.
Existem no arquivo documentos que demonstram como ele estudasse este assunto com os próprios leigos. Convocou o Congresso Internacional de 1911 em Valsalice, quando se proclamou a Federação Internacional das Associações e foram criados os órgãos diretivos: era a primeira Federação internacional deste tipo entre todas as instituições católicas! Dele partiu também a ideia de que os Ex-alunos levantassem a Dom Bosco na praça de Maria Auxiliadora um monumento, que chegou à sua feliz realização em 1920. Para a inauguração ele promovera três Congressos internacionais: dos Cooperadores, dos Ex-alunos e das Ex-alunas.
O Pe. Rinaldi foi, de fato, o inspirador e organizador também das Ex-alunas: “desde o primeiro momento que começou a se interessar pelo Oratório feminino, alimentava o grandioso plano de unir as Ex-alunas das FMA numa União mundial, novidade corajosa sem dúvida, mas que não o apavorava”.26 Para a primeira associação escolheu como responsável a sra. Felicita Gastini, filha daquele Carlos Gastini que reunira o primeiro grupo de Antigos Alunos de Dom Bosco.
• Outro grupo feminino, que foi objeto dos seus cuidados de predileção, é o das Zeladoras de Maria Auxiliadora, que floresceu depois no atual Instituto Secular das “Voluntárias de Dom Bosco”. Em 1908 escolhe entre as Filhas de Maria as chamadas “Zeladoras do Oratório”. No primeiro congresso das Ex-alunas (1911) algumas delas apresentam a ideia de uma associação de Filhas de Maria “no século”; mais tarde (3 de outubro de 1916) prepara para elas um esboço de estatuto em 7 pontos; em 20 de maio de 1917 marca a primeira reunião: é o início oficial! Supera não poucas dificuldades e incompreensões; finalmente, obtém o sinal verde com a aprovação de um primeiro Regulamento em 18 artigos para a “Associação das Zeladoras salesianas” (julho de 1918); em 26 de outubro de 1919 acompanha as primeiras 7 profissões e, pouco depois (novembro de 1920), manda eleger entre elas um Conselho para admitir as novas (autonomia laical! 29 de janeiro de 1921). Em 8 de outubro de 1922, recebendo de algumas delas a renovação dos votos, insiste sobre o seu espírito salesiano, considerando-as as primeiras consagradas dedicadas a seguir Dom Bosco na sociedade”.27
Parece à primeira vista uma coisa humilde, como todas as sementes, mas esconde uma genialidade eclesial. “Aqui — escreve o seu biógrafo — o Pe. Rinaldi chegou a intuir e atuar uma nova forma de vida consagrada no mundo e lançar as bases de um Instituto que hoje nele se reconhece e o honra como inspirador e pai. Poder-se-ia dizer que esta foi a sua obra mais acertada e mais pessoal”.28 Ninguém pretende afirmar que tenha pensado explicitamente em um “Instituto secular” como se entende hoje; seria uma presunção anacrônica. O que, porém, devemos considerar seguro é que ele intuiu e trilhou um caminho que levava à secularidade consagrada e que fazendo isto “entendeu retomar um ideal não completado por Dom Bosco e dar-lhe vida”.29
• Outra iniciativa laical a ser lembrada é a “União Dom Bosco de Professores”. Alguns professores — dirigidos espiritualmente pelo Pe. Rinaldi — avançaram a proposta, no início da década de 1920, de se criar uma associação apolítica de inspiração cristã entre os professores. Ele intuiu logo o benefício que se alcançaria seja entre os próprios membros, seja pela ação educativa que teriam desenvolvido nas escolas estatais. Fez sua a iniciativa e deu vida a uma original “União”, da qual se tornou o primeiro animador com o seu grande prestígio.30
A iniciativa apresentava três características que lhe eram bastante queridas: era associação de leigos, tinha como objetivo a educação moral da juventude, e pretendia trabalhar seguindo os critérios do Sistema educativo de Dom Bosco. Também este tipo de associação foi o primeiro do gênero na Itália na área de inspiração cristã: o Pe. Rinaldi não ia certamente em busca dos primeiros lugares, mas o seu ardor apostólico fazia-o assumir naturalmente posições de vanguarda.
• Outro campo em que aparece positivamente seu trabalho criativo é o da Comunicação social.
São poucos talvez aqueles que esperam na pessoa do Pe. Rinaldi a preocupação de dar vida a uma grande Editora; no entanto é a pura realidade. Ele é o fundador da Sociedade Editora Internacional (SEI). Dom Bosco já tinha iniciado diferentes atividades editoriais em Valdocco, mas com o passar dos decênios não foi feita qualquer ordenada sistematização geral. O Pe. Rinaldi organizou o setor e criou a SEI, para cujo sustento financeiro procurou também os Cooperadores e Benfeitores das diferentes nações da Europa e da América. Como o santo Fundador, também ele tinha o sentido empresarial de certas obras apostólicas.
Além disso, ele foi promotor de várias publicações e revistas; por exemplo: quando estava na Espanha, o jornalzinho “El Oratório festivo”; depois cuidou muito do “Boletim Salesiano”, fundou “Voci fraterne” e “Unione” para os Ex-alunos e as Ex-alunas, a revista “Maria Ausiliatrice” para a basílica de Valdocco, a revista “Gioventù Missionaria” para as missões. Organizou bibliotecas para a juventude: fundou círculos de cultura, incentivou a “schola cantorum”, criou fundos de mútuo socorro, serviços médicos gratuitos, etc.
Teve a ideia de fundar também uma Revista para a mulher: é interessante considerar — ver nota 31 — o sentido de atualidade com que atuava este projeto de revista feminina.31
B. Um dos compromissos mais significativos, válidos e frutuosos, porém, foi sem dúvida a sua paternal dedicação às Filhas de Maria Auxiliadora.
Pe. Rinaldi começou a agir num momento particularmente delicado quando, por disposição da Sé Apostólica, estabeleceu-se a autonomia jurídica e administrativa do Instituto até então agregado à Sociedade de S. Francisco de Sales. Era preciso saber identificar a comunhão no espírito e na missão, enquanto se organizava a autonomia.
Ele conquistou um geral reconhecimento de estima quando fez uma boa e razoável divisão dos bens materiais entre as duas Congregações, como aparece dos Processos; mas, sobretudo, conquistou a confiança de todas e de todos quando trabalhou com redobrado interesse, paterno e profundamente espiritual para que se conservasse o patrimônio carismático comum do Fundador. As afirmações nos Processos são unânimes e entusiastas a este respeito: os testemunhos das FMA são os mais confiáveis seja sobre a santidade pessoal, seja sobre a ação por ele desenvolvida para a comunhão espiritual e apostólica das duas instituições de Dom Bosco. É, isto, um assunto que deveria ser profundamente estudado para se ter uma visão mais documentada da unidade espiritual da nossa Família (faço votos que alguém qualificado inicie este trabalho).
Campo privilegiado da ação do Pe. Rinaldi, em colaboração com as FMA, foi o Oratório feminino de Valdocco, desde quando começou a trabalhar nele em 1907 com o título de Diretor (como então se usava) sucedendo ao Pe. Francesia. Aqui, ele durante anos prodigalizou verdadeiramente o ardor do seu zelo sacerdotal e a originalidade de suas iniciativas educacionais e apostólicas. Quase não se consegue compreender como ele tenha conseguido desenvolver tanto trabalho além daquele que já tinha como prefeito; mas os depoimentos são tão particularizados, concordes e autorizados que asseguram sua objetividade. Ele deixava às irmãs o que era de sua competência, mas animava, sugeria, orientava, encorajava com paterno otimismo e iluminada sabedoria. Em um clima de fervor partilhado recolhiam-se centenas de meninas e de jovens; e nasciam associações de acordo com a idade e o diferente nível espiritual: eram grupos apostólicos, sociais, culturais, recreativos, que algumas testemunhas apresentam e explicam com profusão de dados; múltiplas manifestações mantinham o Oratório numa contínua tonalidade de mobilização festiva: multiplicavam-se as vocações (ele era confessor regular na basílica, duas horas toda manhã). Das jovens, a ação passava às famílias, ao bairro, aos lugares de trabalho, às associações católicas diocesanas. O Oratório não era um mundo fechado, mas aberto: um fermento de bem, em que o Pe. Rinaldi fazia entrar também elementos do laicato católico para endereçar verdadeiramente à vida.
Esta era uma grande lição salesiana não só para as FMA, mas também para os irmãos. O Pe. Rinaldi, de fato, entendia o Oratório como centro vivo de iniciativas culturais, sociais e religiosas. Queria-o enriquecido com oportunas iniciativas laicais; desejava-o inserido nas periferias das cidades (como foram mais tarde os de S. Paulo e de Monterosa que ele, como Reitor-Mor, mais gostava em Turim).
No masculino de Valdocco foi ele, por exemplo, o fundador do grupo “Auxilium”, que se tornou depois famoso no Piemonte. (No primeiro ano de fundação em 1906, os membros quiseram que ele fosse presidente; aceitou, mas com a condição que fossem preparados dirigentes leigos que deveriam guiar a associação com responsabilidade pessoal).
Além das atividades oratorianas sobrava-lhe tempo para a preciosa direção espiritual das Irmãs, para as conferências pedagógicas que ele ia fazer na Casa geral de Nizza Monferrato, onde funcionava um florescente Instituto de preparação ao Magistério; falava às Irmãs, às jovens dos últimos anos, às professoras, às mães. É surpreendente como tenha compreendido os problemas femininos tratando, além de temas estritamente pedagógicos, aqueles do namoro, do matrimônio e da vida conjugal, com uma visão verdadeiramente pastoral. Soube transferir para o mundo feminino o conhecimento e a prática do Sistema Preventivo, cuja plena aplicação até então tinha sido interpretada prevalentemente do ponto de vista das obras masculinas.
A maior realização para com as Filhas de Maria Auxiliadora, porém, foi realizada pelo Pe. Rinaldi como intérprete e defensor do patrimônio espiritual comum. A Irmã Clélia Genghini afirmou nos Processos: “O período entre 1905 e 1913, e especialmente entre 1905 e 1907, foi verdadeiramente crucial. Temia-se ser completamente afastadas da direção do Superior da Sociedade salesiana e, portanto, um pouco por vez, do espírito de Dom Bosco... Nesse período, o Pe. Rinaldi com sua bondade paterna, e com os seus sábios e luminosos conselhos, foi de grande conforto e ajuda para o nosso Instituto. Prova disso são as cartas endereçadas neste período. Numa carta do dia 5 de setembro de 1905, escrevia: ‘Deus vos ilumine. Estais atravessando o momento mais solene da vossa vida. Portanto, é preciso ter serenidade e graça de Deus. Eu espero muito bem das novas decisões, se souberdes inserir em tudo o espírito de Dom Bosco’”.32
Portanto, seja bem-vinda uma sadia autonomia, mas na plena comunhão do mesmo espírito. “Com este intuito — afirmou a Irmã Tereza Graziano — o Pe. Rinaldi aproximava-se com particular preferência e com prudente frequência das Superioras Maiores que, nos primeiros anos de seu reitorado, moravam ainda na Casa-mãe de Nizza. Foi ele quem conseguiu que a Casa-mãe fosse transferida para Turim, perto do santuário de Maria Auxiliadora, onde as Superioras pudessem participar mais intensamente e com maior comodidade da vida salesiana, e receber mais eficaz e largo sinal do espírito de Dom Bosco”.33
Estava extraordinariamente preocupado em assegurar a mais estreita comunhão no idêntico precioso patrimônio.
Nesta delicada circunstância, ele foi o homem providencial, sábio, delicado, paterno, constante e iluminado; parecia tivesse recebido como dom do Espírito uma especial capacidade de percepção dos traços da alma feminina: incidia com delicadeza nos seus corações de maneira admirável. A direção espiritual, as cartas pessoais, os conselhos às Superioras, as múltiplas formas de contato para orientação, também as correções, serviram para intensificar a fidelidade e a união.
É belo constatar a franqueza com que falava ou escrevia às Superioras. Assim, por exemplo, numa carta de 1915 à benemérita Superiora geral madre Catarina Daghero diz com familiar sinceridade: “Meu desejo sempre foi favorecer entre vós as ideias que me parecem verdadeiramente de Dom Bosco. Parece-me que até certo ponto falou-se muito: ‘são irmãs, são mulheres, nem tudo é adaptável a elas’. Assim se foi adiante e, sem perceber, vos tornais religiosas comuns como tantas outras. Neste caso não era necessário um Instituto feminino a mais: já existem muitos outros!”.34 Expressões, estas, que fazem lembrar um clima cultural de outros tempos, sobretudo a mentalidade de padres e irmãos. Mas é impressionante — e diria profético — o fato de ele nunca ter tolerado em relação às Filhas de Maria Auxiliadora — como em relação a outras religiosas em geral — comportamentos menos delicados e juízos nascidos de certo complexo de superioridade e, ao mesmo tempo, tenha exortado madre Daghero a guardar preciosamente a identidade salesiana comum de que a veneranda Cofundadora, madre Mazzarello, foi sempre cuidadosa intérprete e transparência viva.
É mérito sobretudo do Pe. Rinaldi se os dois Institutos, na legítima autonomia jurídica, souberam manter relações de intensa comunhão espiritual, de compreensão mútua, de solidariedade prática e de fecunda colaboração recíproca.
Este é uma advertência profética para nós hoje numa Igreja caracterizada pela “comunhão” e comprometida numa busca apostólica de “nova evangelização”.
Quando o Pe. Rinaldi foi eleito Reitor-Mor considerou sua grave tarefa a nomeação pontifícia de “Delegado Apostólico” para o Instituto das FMA, obtida pela primeira vez do Papa Bento XV em 1917 graças ao válido interesse do Card. Cagliero.
Entre os múltiplos serviços e orientações merecem uma particular lembrança as Lembranças especiais do início do ano para as FMA: 1922, 1929, 1930, 1931, 1932 (o Pe. Rinaldi costumava dar uma Lembrança diferente aos vários Grupos, às vezes era diferente até entre os Salesianos: uma para os padres e outra para os Coadjutores). Dirigia as suas intervenções com a finalidade de que fossem revigorados o caráter e a forma dados a eles pelo Fundador sem nunca se fecharem diante das exigências dos tempos.
Durante o período em que foi Reitor-Mor
O Pe. Rinaldi, como sucessor de Dom Bosco, deixou nas mãos do dinâmico Prefeito geral, Pe. Pedro Ricaldone, muitas atividades de caráter organizativo e executivo para poder desenvolver plenamente a tarefa de guia e animador: quis ser sobretudo “pai”.
Não se deve acreditar, porém, que seu dinamismo tivesse diminuído. Lendo os “Atos do Capítulo Superior” durante o seu reitorado constata-se como ele estivesse no centro do governo: muitas iniciativas partiram dele e todas eram por ele coordenadas, mesmo se na sua humildade deixava aos outros os louvores da realização.
O que mais o interessava era a formação dos irmãos e a organização das comunidades formativas e dos centros de estudo. Durante aquele decênio, os Irmãos passaram de 4.788 a 8.836, com um crescimento médio de 450 ao ano, e as Casas de 404 a 644.
A beatificação de Dom Bosco (1929) foi a ocasião que ele valorizou para uma total e concreta renovação espiritual e apostólica.
Um empreendimento magnânimo e bem corajoso foi o impulso missionário. Criou uma espécie de mobilização neste sentido: abriu sete aspirantados missionários e preparou expedições de proporções excepcionais, enviando às missões pessoal muito jovem (noviços e pós-noviços). Podemos dizer que o impulso missionário daqueles anos deu verdadeiramente consistência e dimensão mundial ao carisma do Fundador, realizando assim o que Dom Bosco lhe dissera: “Tu não irás para as missões, mas mandarás os outros”.
— Há também uma iniciativa importante e de futuro que o Pe. Rinaldi Reitor-Mor não pôde levá-la até o fim, mas que é uma ulterior demonstração da sua admirável dinamicidade: o projeto de ampliação da basílica de Maria Auxiliadora em Valdocco. Foi ele quem mandou fazer o estudo e quis essa ampliação, e foi sua bondade, habilidade e constância que fizeram superar os fortes contrastes entre os próprios Superiores antes que se tomasse a decisão.35 “É preciso preparar na igreja-mãe da Obra salesiana — escrevia numa carta aos Cooperadores — uma digna acolhida ao Ven. Dom Bosco no dia em que será, esperamos, elevado à honra dos altares”. A ampliação foi iniciada depois de sua morte, mas ele tinha plenamente convencido entre outros, o ecônomo peral. Pe. Fedele Giraudi por ele chamado a fazer parte do Conselho geral. Assim o santuário da Auxiliadora em Valdocco, centro vivo da Família Salesiana no mundo, apresenta a todos, juntamente com Nossa Senhora, também Dom Bosco: seja em seu monumento da praça seja em seu altar na basílica. Devemos isso ao amor filial do Pe. Rinaldi, e à sua corajosa intuição.
Como conclusão desta visão panorâmica sobre a sua atividade podemos formular um juízo global citando o parecer de um irmão bastante competente e que fora inicialmente um pouco crítico em relação a ele. Trata-se do Pe. Bartolomeu Fascie que foi durante 15 anos membro do Conselho geral; afirma: “Não poucos pensavam que, por causa da vocação tardia, o Pe. Rinaldi fosse um homem de limitada cultura e de inteligência comum. Evidentemente não o conheciam. O Pe. Rinaldi foi verdadeiramente uma das grandes cabeças da nossa Congregação, um líder nato, que poderia ter sido um grande estadista, se tivesse escolhido a carreira política... Último dos sucessores de Dom Bosco a tratar familiarmente com o Fundador, ele era chamado a personificar em si mesmo o espírito de Dom Bosco, a sua paternidade e santidade, para podê-las melhor incutir nos seus filhos espirituais”.36
Cultor de “salesianidade”
A palavra “salesianidade” está sendo utilizada ultimamente (também nos Capítulos gerais e na “Ratio”) para indicar um conjunto de aspectos pertencentes ao patrimônio espiritual, pedagógico, pastoral, religioso, histórico da nossa vida de Salesianos de Dom Bosco. O Pe. Rinaldi não utilizava esta palavra; falava sim de “espírito salesiano”, em sentido amplo e concreto que se referia de fato à experiência de uma tradição ininterrupta. Trata-se de uma realidade inserida no cotidiano como “experiência do Espírito Santo” transmitida de geração em geração.
Dom Bosco deixou as Constituições e outros escritos bastante significativos, mas sobretudo formou testemunhas vivas que soubessem cuidar deste seu patrimônio e transmiti-lo. Os Sucessores do Fundador e os Capítulos gerais acrescentaram outros escritos certamente importantes. Deve-se lembrar, entre outros, o “Vade-mécum” do Pe. Barberis para os noviços. Depois, vieram as “Memórias Biográficas” que enriqueceram a possibilidade do conhecimento da experiência.
Todavia nas primeiras três décadas do século a literatura da salesianidade era pouca. Era preciso buscar o material, digamos assim, da própria realidade. É sintomático que o Pe. Rinaldi tivesse consciência disso e que tenha assumido para si, sempre que lhe fosse possível, esta importante tarefa.
Chamamo-lo “cultor”, mais do que “mestre”, para reservar esta segunda palavra, tão rica e fundamental, ao próprio Dom Bosco, embora se pudesse aplicá-la, de maneira derivada e dependente também a ele.
Assimilara o espírito do Fundador de uma maneira eminente: era-lhe congenial e o expressava com espontânea naturalidade. Aprofundava-o constantemente com reflexões originais.
Se pensarmos, depois, que as suas leituras preferidas eram aquelas de tipo espiritual e ascético e que entre os propósitos da sua Primeira Missa encontra-se o de ler todo ano a vida de um Santo, encontrando sempre em cada um deles — como ele dizia — algum aspecto que servia a iluminar o espírito de Dom Bosco,37 devemos reconhecer que possuía as qualidades e utilizava meios eficazes para ser cultor extraordinariamente autorizado de salesianidade.
Durante quatro anos, como Prefeito geral, viajou para fazer conferências aos estudantes de teologia em Foglizzo, tratando de argumentos de pedagogia, de espiritualidade e de vida salesiana.38 Por vários anos fez o mesmo com as Filhas de Maria Auxiliadora. Nisto demonstrou-se, além de válida testemunha, também brilhante pensador, de “uma grande mente e um grande coração”; à objetividade da análise unia “a modernidade das concepções, a assimilação perfeita do espírito e do sistema de Dom Bosco”.39
Não estava só preocupado em ser genuinamente fiel às origens, mas ao mesmo tempo preocupava-se em conhecer as exigências dos tempos; foi simultaneamente “defensor da tradição e da modernidade”. Não se sentia amarrado ao pé da letra, mas ao verdadeiro espírito com força e convicção: nossa missão, não o esqueçamos, não é sermos arrastados, mas arrastar os outros, não receber as impressões do lugar e das pessoas aonde vamos, mas de imprimir o nosso espirito salesiano na formação cristã dos jovens e no ambiente que nos rodeia”.40
E deste espírito tornou-se constante defensor, deduzindo as suas afirmações, em grande parte, da reflexão pacata e profunda, da experiência constante na tradição viva. Não tratou somente alguns aspectos; aprofundou a realidade na sua globalidade. Talvez a sua é a primeira reflexão global sobre o essencial da salesianidade. Os irmãos e as irmãs escutavam essas conferências com sincero apreço, tanto é verdade que chegaram até nós, porque conservadas em vários cadernos de apontamentos. Foi ele, ainda, que insistiu com o Pe. Ceria para que escrevesse sobre São Francisco de Sales41 e, sobretudo, sobre o nosso Fundador com o precioso livro “Dom Bosco com Deus”; ao Pe. Alberto Caviglia pediu para que se dedicasse às Obras e Escritos editados e inéditos de Dom Bosco.
Suas intervenções (circulares, cartas, lembranças, conferências, pregações, etc.), pode-se dizer, têm como nota dominante “Dom Bosco modelo”, e que o tema da “vida de família” constitui com o do “Sistema preventivo” a tradição prática do espírito salesiano. “Se fosse possível recolher e classificar todos os ensinamentos — escreve o Pe. Ceria — que o Pe. Rinaldi ia falando aqui e ali de acordo com as circunstâncias ter-se-ia um tesouro de doutrina ascética”.42
O ponto vital sobre o qual insistia foi sempre o da peculiar interioridade que devia caracterizar o espírito salesiano; queixava-se que Dom Bosco nisso não fosse ainda suficientemente conhecido: “prestai atenção — dizia nos últimos anos aos estudantes de teologia da Crocetta — que a verdadeira fisionomia do Pai não é apresentada pelas suas obras... a verdadeira grandeza e justa fisionomia de Dom Bosco se poderá e se deverá conhecer no seu íntimo”.43
Seria longo demais entreter-nos, aqui, sobre os vários aspectos de seus ensinamentos. Focalizaremos somente dois temas mais característicos: o da “interioridade” e o da “bondade”.
Autorizado intérprete da nossa “interioridade apostólica”
O Pe. Rinaldi entendera, no familiar contato com Dom Bosco e depois na sua experiência pessoal, que a atitude constante de união com Deus era o segredo de toda a operosa vida e do espírito próprio do Fundador.
Hoje já não são poucos aqueles que focalizam a atenção sobre este aspecto interior de Dom Bosco, mas talvez ninguém o fez com a força, a convicção, a insistência e a autoridade do Pe. Rinaldi. Foi a principal mensagem que ele quis deixar como testamento à nossa Família. Sem a plena imersão em Deus não é possível sermos seus apóstolos. “A vida interior — dizia — pode parecer de alguma maneira estranha para nós, porque, como Salesianos, somos sempre ativos e ocupados. Todavia é exatamente a coisa, a única coisa que nos torna religiosos”.44
Considerava esta atitude a fonte cristalina de tudo, a primeira graça, o verdadeiro motor escondido do nosso espírito; e afirmava-o corajosamente, quase de maneira paradoxal: “a nossa santidade — escrevia aos irmãos — não está tanto na prática do sistema de vida abraçado com a profissão salesiana e nem só na imitação das virtudes do nosso Pai, mas em fazer com que a vida salesiana por nós abraçada, a imitação das virtudes paternas sejam animadas pelo espírito do qual vivia e com o qual exercitava as virtudes o próprio Dom Bosco”.45
E na Lembrança especial às Filhas de Maria Auxiliadora para o ano de 1931 sobre a vida interior de Dom Bosco, enquanto as exortava a realizarem em si — como já lhes tinha dito o Fundador — uma síntese vital entre a operosidade de Marta e a contemplação de Maria, afirmava que se trata de uma “vida interior simples, evangélica, prática, laboriosa”; Dom Bosco — lê-se na Lembrança — “unificou com a máxima perfeição a sua atividade exterior, incansável, envolvente, vastíssima, cheia de responsabilidade, com uma vida interior que teve início no sentido da presença de Deus (oh! o poder do “Deus te vê” de mamãe Margarida!) e que, pouco por vez, torna-se atual, persistente e viva o ponto de se tornar perfeita união com Deus. De tal maneira realizou em si o estado mais perfeito, que é a contemplação operante, o êxtase da ação, a que se entregou até o fim, com serenidade estática, para a salvação das almas”.
Portanto, o segredo do nosso espírito é a união com Deus como alicerce e acima de tudo; o trabalho apostólico dinâmico e criativo brote constantemente do ardor da caridade para com Deus: de aí procede a famosa “graça de unidade” da nossa caridade pastoral!
Mas procuremos descobrir um pouco melhor de que maneira o Pe. Rinaldi aprofundava este segredo da interioridade apostólica salesiana. Analisaremos três aspectos: o “ardor pelas almas”, o “trabalho” apostólico contínuo e a fidelidade cotidiana à “oração”.
— Antes de tudo o cuidado para viver de verdade o lema “da mihi animas”: Dom Bosco escolheu-o para caracterizar o nosso espírito diante de todos.
A união com Deus introduz-nos no coração de Deus Pai, rico de amor infinito para com as “almas”, ou seja, para com todos os homens — e, sobretudo, para com os jovens — visando sua evangelização e salvação. Esta atitude de interioridade hoje pode ser chamada “coração pastoral”: é a união com Deus que se traduz em amor ardente e operativo pelas almas!
Considero importante interpretar, no nosso lema, a palavra “alma”, não como uma expressão antiquada e um pouco alienada da realidade dos acontecimentos da vida, mas como a afirmação de saber captar da realidade o que há nela de mais caracteristicamente humano com os valores transcendentes da pessoa e com as exigências do Evangelho, dedicando-se a cultivá-los operativamente para que possam influir também no devir social e sirvam para realizar a missão salvadora de Deus. A palavra “alma”, na nossa tradição, sublinha os traços mais significativos e válidos da pessoa humana e do seu contexto social.
O “ardor pelas almas” é a expressão “rinaldiana” do ardor pastoral que nasce da união com Deus. O Fundador dizia muitas vezes a seus jovens: “Sabeis por que Dom Bosco vos quer tanto bem? Porque tendes uma alma que é tão preciosa, e para salvar esta alma eu já faço algo, mas Deus fez muito mais”.46
De verdade o “da mihi animas” é o lema que sintetiza toda a sua pastoral juvenil e popular.
Vale mesmo transcrever aqui uma página inteira da circular do Pe. Rinaldi, escrita quase às vésperas da beatificação do nosso Pai.
Preocupa-se em destacar o espírito que animava Dom Bosco na prática das virtudes. Com esta finalidade cita um discurso do Papa Pio XI e comenta seu conteúdo: “O Santo Padre aponta-nos um ponto luminoso que nunca devemos perder de vista. Mas onde — nos disse o Papa — Dom Bosco atingiu a energia inesgotável para realizar tantas coisas? Existe o segredo e ele mesmo continuamente o revelou num lema que é repetido muitas vezes nas obras salesianas; é a frase ditada do coração do Fundador: — Da mihi animas; cetera tolle — dê-me as almas e leve todo o resto. Eis o segredo do seu coração, a força, o ardor da sua caridade: o amor pelas almas, o amor verdadeiro, porque era o reflexo do amor para com N. S. Jesus Cristo e porque as próprias almas ele via no pensamento, no coração, no sangue precioso de nosso Senhor; assim que não havia sacrifício ou empreendimento que não ousasse enfrentar para ganhar as almas tão intensamente amadas.
Como é bonito, sublime e atraente — comentava o Pe. Rinaldi — tudo isto! Como amplia os horizontes do nosso apostolado e da nossa vida religiosa! Dom Bosco conseguira perder-se todo em Deus, em N. S. Jesus Cristo, e de aí, por causa daquela admirável união, lançou-se na busca das almas com os ardores da mesma caridade do divino Redentor de maneira a não mais viver, não mais respirar a não ser pelas almas. Oh! nós que vivemos ao seu lado e gozamos de sua familiaridade verdadeiramente única, podemos afirmar ter ouvido várias vezes, quase de maneira sensível, este seu ardor pelas almas que eram toda a sua vida! Aqui, meus queridos, está todo o segredo da excelente santidade e das maravilhosas obras de Dom Bosco; e aqui nós também devemos agora convergir todos os nossos esforços; ou seja, devemos aumentar em nós dia por dia, minuto por minuto, a caridade para com Deus, N. S. Jesus Cristo, até àquela bem-aventurada união que o mesmo Jesus pediu por nós a seu eterno Pai na sua oração sacerdotal: ‘que todos sejam um’!
Para chegar a sermos uma só coisa com as almas, é preciso primeiro estabelecer a nossa vida em Deus de maneira que sejam divinos os nossos pensamentos, as nossas palavras e as nossas obras. Então, para nós as almas não serão outra coisa que Jesus, e nós seremos uma só coisa para as almas, seguindo o exemplo do nosso Pai. Então compreendemos em toda sua profundidade as palavras que Dom Bosco nos repetia nos últimos anos de sua vida: ‘eu não posso fazer mais nada. Oh! quantas almas salvará Maria Auxiliadora através dos Salesianos’”.47 Até aqui a citação.
Não acredito que exista uma página mais penetrante e mais envolvente sobre a interioridade apostólica salesiana; descreve o segredo para merecer o nome de filhos de Dom Bosco: toda a nossa força está nesse engajamento vital: aqui está o nosso primitivo carisma. Será necessário retomá-la, comentá-la, meditá-la porque nos revela de verdade o núcleo central do nosso espírito.
Obrigado, Pe. Rinaldi!
Com razão afirmou Alberto Caviglia que nunca se compreenderá Dom Bosco Fundador, em sua pedagogia e o seu apostolado se não partirmos inicialmente da assimilação deste seu espírito. É a partir da ótica da união com Deus que o Pe. Rinaldi pode afirmar: “Para mim Dom Bosco é uma das mais esplêndidas personificações da caridade dos nossos tempos. A sua vida nada mais é do que ardor de caridade divina na completa imolação para o bem da juventude e para a salvação das almas. ‘Quem ama nasceu de Deus e conhece a Deus’: o seu Sistema preventivo nada mais é do que caridade!”.48
Dos 73 anos da vida de Dom Bosco, afirma ainda o Pe. Rinaldi, mais de 63 os entregou na salvação das almas, sobretudo da juventude: “como o S. Evangelho nos apresenta Jesus, desde a sua primeira entrada no mundo, unicamente voltado a fazer a vontade de seu Eterno Pai, que só era a salvação das almas, assim a vida de Dom Bosco no-lo apresenta em um contínuo apostolado pela salvação das almas. Experimentai a tirar este fio de ouro da sua vida e ela não terá mais consistência alguma; analisai-a em todos os seus mais pequenos particulares e sempre aparecerá a síntese radiosa do “da mihi animas” e do “cetera tolle”! Resumi-a num pequeno volume, contendo só os pontos essenciais, e tereis entre as mãos um Evangelho salesiano”.49
Este “fio de ouro” supunha nele um contínuo exercício de escuta na fé, ou seja, de amor contemplativo cultivado cotidianamente com vários meios de referência viva a Deus.
— Em segundo lugar, como aspecto inseparável deste “ardor pelas almas”, o Pe. Rinaldi insistiu sobre o conceito salesiano de “trabalho”. É, o seu, uma espécie de comentário àquele “êxtase da ação” que ele, inspirando-se em S. Francisco de Sales, lembrou às Filhas de Maria Auxiliadora, na Lembrança citada, como “mais perfeito estado de contemplação operativa”.
Dom Evásio Colli, conterrâneo e profundo amigo do Pe. Rinaldi, no sermão da missa de trigésimo dia, sublinhava exatamente como o seu extraordinário trabalho apostólico era uma modalidade de “êxtase”: “Nestes tempos de dinamismo superficial e espalhafatoso — que domina às vezes também a vida religiosa — ... é preciso retomar o conceito que de santidade e de perfeição cristã dava S. Francisco de Sales. O espírito de união com Deus é como a raiz escondida, humilde, mas sempre ativa da árvore gigantesca da vida salesiana; é como o interior do edifício, que é a parte mais preciosa, mas também muitas vezes desconhecida aos profanos que se satisfazem em admirar o exterior... De aí deriva no Pe. Rinaldi — como em Dom Bosco — a sua calma característica, serena e confiante, forte, e, portanto, também tranquila... e, portanto, nas mais terríveis evidências não se apavorava, como nos triunfos não se exaltava; sempre igual a si mesmo, serenamente vigilante, sadiamente otimista... e travava, então, com o mesmo cuidado e com a mesma visão sobrenatural um caso de consciência e um assunto financeiro”.50
O Pe. Rinaldi aprendera de Dom Bosco a importância que o trabalho apostólico tem para nós; quem não é levado a se sacrificar cotidianamente no trabalho não é feito para nós. Dom Bosco é um santo da ação apostólica e caritativa: sobressai-se neste campo de maneira eminente.
Podemos então compreender as expressões de alegria a que se entregou o Pe. Rinaldi — coisa não habitual nele — quando o Papa Pio XI promulgou as virtudes heroicas de Dom Bosco, depois de tantas objeções e dificuldades nos Processos. Comoveu-o o conhecido elogio do Papa: “Uma das mais bonitas características de Dom Bosco — dissera Pio XI — era a de estar presente a tudo, interessado no contínuo e permanente movimento de coisas, entre uma multidão de pedidos e consultas, e ter o espírito sempre em outro lugar: sempre no alto, onde a serenidade não era perturbada, onde a calma era sempre dominante e soberana; de modo que nele o trabalho era exatamente efetiva oração e realizava-se nele o grande princípio da vida cristã: ‘quem trabalha, reza’”.51
No primeiro encontro que o Pe. Rinaldi teve (como Reitor-Mor) com Pio XI ousou pedir a indulgência do trabalho santificado. Não foi um pedido improvisado; era o resultado de um programa de vida que ele tinha visto realizado pelo Fundador, fizera próprio e considerava importante ser comunicado aos irmãos com o gesto especial e autorizado da indulgência eclesial: pedia-o a um Papa que intuíra pessoalmente o segredo de Dom Bosco.
A audiência papal foi concedida ao Pe. Rinaldi a 6 de junho de 1922; ele tinha pensado pedir este “favor especialíssimo para todos os meus amados filhos, para as boas Filhas de Maria Auxiliadora, para os respectivos alunos e ex-alunos de ambos os sexos, para os nossos zelosos Cooperadores e Cooperadoras... um estímulo eficaz que os ajudasse a serem todo dia mais ativos e ao mesmo tempo mais unidos a Deus. No meu modo de ver, um meio muito eficaz para ajudá-los e incentivá-los a isso, seria conceder-lhes uma especial Indulgência a ser lucrada toda vez que tivessem unido ao trabalho, ao ensino, à assistência, e assim por diante, alguma devota invocação... (O Papa consentiu respondendo que) para a laboriosidade salesiana ser vantajosa deve estar ligada à união com Deus, deve ser sempre precedida da santificação pessoal... Até agora as Indulgências eram concedidas aos fiéis só com a condição de cumprirem certas práticas piedosas exteriores; mas daqui por diante os Salesianos as lucrarão com o seu trabalho, toda vez que a ele unirem alguma devota invocação, embora breve. Desta maneira conseguirão mais facilmente a sua santificação individuai, através da união habitual com Deus”.52
Também esta página do Pe. Rinaldi deve ser meditada atentamente. A sua preocupação pela indulgência do trabalho, como estímulo para viver a identidade do espírito salesiano, nos revela qual era o seu conceito de “trabalho”. Uma laboriosidade que seja demonstração de interioridade apostólica, ou seja, de uma profundidade espiritual ou “santificação pessoal” que afaste tantas atitudes de superficialidade; um trabalho que manifeste a união com Deus Salvador como atitude mais elevada e mais completa do espírito. A interioridade salesiana, porém, é autêntica se traduz incansável e criativamente em atividades pastorais pela salvação das almas. Um tipo de ação, portanto, que personaliza cristãmente o trabalho, evitando o ativismo simplesmente exterior e o automatismo da máquina.
Portanto, ele insistia na santificação do “momento presente”, do cotidiano; nós, de fato, vivemos só no presente, e grande parte dele é trabalho. Comentando o 3º centenário da morte de S. Francisco de Sales, apresentava-o como o “apóstolo da santificação do momento presente”.53
O ponto está em não acreditar que o trabalho enquanto tal, por si mesmo na sua objetividade natural, seja de verdade exteriorização genuína do nosso espírito. O segredo está todo na pessoa, da qual o trabalho é um fruto e que, portanto, caracteriza a sua própria fisionomia espiritual. Só a pessoa santificada produz um trabalho que é oração. É da pessoa penetrada de caridade pastoral que flui a “graça de unidade” que realiza a síntese vital entre união com Deus e trabalho. Na citada Lembrança às Filhas de Maria Auxiliadora o Pe. Rinaldi insiste: “O trabalho não pode substituir a oração, mas sim transformar-se em oração ele também, se se possui a vida interior de união com Deus não a intervalos, de tempo em tempo, como se a vida interior fosse uma roupa para ser usada só nas festas e durante os exercícios de piedade, para depois guardá-la cuidadosamente antes de iniciar as outras tarefas”. A união com Deus é a verdadeira “causa criadora” do trabalho santificado.
— E existe um terceiro aspecto, inteiramente unido aos dois anteriores, que explica o segredo do espírito salesiano: é o da oração pessoal e comunitária.
Certo dia em Valdocco, impressionado pela agitação de certos irmãos, o Pe. Rinaldi exclamou: “É demais! É demais! Não podem depois rezar com calma e tirar todo o fruto das práticas de piedade”.54 E no Capítulo geral XII (1922), depois da discussão sobre o tema da oração, disse: “Não esqueçamos que o espírito é superior às normas e às regras e que os atarefados batalham muito, mas resolvem pouco. Com uma sólida piedade se fazem milagres”.55
Em seu Processo ordinário lê-se que tendo escolhido um grupo de irmãos para definir, com eles, a característica do nosso espírito, um dos presentes testemunhou que ele “o definiu com estas palavras: ‘Laboriosidade incansável, santificada pela oração e pela união com Deus’”.56
Foi ele quem difundiu na Congregação a leitura de São Francisco de Sales (especialmente o seu famoso “Tratado do amor de Deus”) e dos livros que incentivaram à oração, como “A alma de todo apostolado” do Chautard, “Vida íntima com Jesus” de F. Macourant que ele mesmo mandou traduzir do francês (com outros do mesmo autor sobre a humildade, a pobreza, a obediência e a castidade, porque a sua doutrina relacionava-se com a de S. Francisco de Sales) e várias obras do Faber.
Ele também era para todos claramente homem de oração: “era — assegura o Pe. Pedro Ricaldone — diligente e diria rigoroso consigo e com os outros, quando se tratava de práticas religiosas... Lia livros de piedade, meditava-os e assimilava-os; e a sua conversa demonstrava o quanto estivesse unido a Deus”.57
Falando de “oração” referimo-nos aqui àquele espaço indispensável de tempo que é dedicado explicitamente ao diálogo com Deus através das práticas de piedade da vida salesiana: meditação da Palavra de Deus, récita da liturgia das horas, leitura espiritual, celebração da Eucaristia, exercício da conversão através do sacramento da Penitência etc. É um espaço diário, de manhã e à noite, com tempos fortes todo mês (retiro mensal e trimestral) e todo ano (Exercícios espirituais). A isto se deve acrescentar as iniciativas de oração pessoal, as frequentes visitas ao SS. Sacramento, a familiaridade com Deus alimentada por contínuas jaculatórias e a prática de duas devoções privilegiadas que o Pe. Rinaldi procurava difundir com ardente entusiasmo, ao S. Coração de Jesus e a Maria Auxiliadora, mãe da Igreja: via-as perpetuadas nos dois grandes santuários construídos por Dom Bosco: a basílica do S. Coração no Castro Pretório em Roma e a de Maria Auxiliadora em Valdocco.
Como conclusão deste argumento sobre a interioridade apostólica salesiana, penso ser útil transcrever algumas reflexões do autor da primeira biografia do Pe. Rinaldi.
O Pe. Ceria, que — como dissemos — foi por ele convidado a escrever “Dom Bosco com Deus”, nos dá toda a garantia de interpretar a genuína personalidade do nosso Bem-aventurado: “O Pe. Rinaldi — escreve o biógrafo — apresenta-se com a característica do homem de vida interior. Praticou-a para si e apresentou-a aos outros. Era sua convicção que para viver de acordo com o espírito de Dom Bosco, era preciso não perder de vista sua vida interior... A vida interior é o sentido espiritual que deve acompanhar-nos, é a presença de Deus em nós, lembrado, invocado, amado... Prestai atenção que a verdadeira fisionomia de Dom Bosco não é apresentada pelas suas obras... A vida religiosa é vida interior, vida do espírito; quem quiser salvar as almas, deve ter o espírito de Deus... Há famílias religiosas que se dedicam só à vida contemplativa, mas não é possível que existam famílias religiosas que não cultivem a vida interior, apesar de serem consagradas às obras do apostolado... Assim desejava que se estudasse Dom Bosco para imitá-lo em sua vida interior... Eis quase um lugar comum em suas exortações, especialmente no último ano de vida... Numa conversa familiar em 3 de março de 1930 afirmava que a vida interior de Dom Bosco ainda não fora escrita. Há dificuldades, porque ele pouco manifestou do seu espírito. Será preciso pesquisá-la através dos sonhos, dos escritos, das cartas e da tradição. Quando se quer falar dele, dever-se-ia falar como Chautard fala do apostolado. E insistia: Dom Bosco não é conhecido como deveria ser “em por nós Salesianos. Deforma-se facilmente a sua figura. Dom Bosco é todo de Deus e com Deus. Se trabalhava, se se mexia, era unicamente pelas almas: ele só via as almas”.58
Depois desta citação acredito que não é enfático e exagerado afirmar que o Pe. Rinaldi se eleva em nossa Família como o mais genuíno e autorizado intérprete da interioridade apostólica própria do espírito de Dom Bosco. É suficiente sublinhar que a “graça de unidade” que assegura a síntese vital do nosso espírito fica iluminada pelo Pe. Rinaldi com o maravilhoso aprofundamento dos três aspectos que vimos: o fundamental da mística do “da mihi animas”, o encarnado do compromisso ascético do “trabalho” cotidiano, e o vitalizante, pessoal e comunitário, da “oração”.
Trata-se de uma visão clara e fundamental. Assinalar e desenvolver esses conteúdos é para nós hoje de máxima atualidade.
Protótipo de “bondade pastoral” com a sua paternidade
A “bondade” que é a segunda característica do espírito salesiano que queremos comentar, manifestou-se no Pe. Rinaldi como “paternidade”.
Prefiro utilizar neste subtítulo a palavra “bondade” no lugar de “paternidade”, porque é mais amplo e compreensivo. Em todo caso, o Pe. Rinaldi ensinava aos próprios noviços (lembram-no ainda alguns) que desde o noviciado deviam aprender a serem “pais”.
Deve-se notar que o Pe. Rinaldi foi “Superior” praticamente durante todo o tempo de sua vida sacerdotal, ou seja, de 1883 até o fim, por mais de 48 anos de ministério. Assim, nele, a “bondade” própria do espírito de Dom Bosco foi-se realizando no exercício paterno da autoridade: uma paternidade sincera, constante, suave e forte, como expressão da predileção salesiana pelos jovens e do espírito de família em casa.
Todas as testemunhas que falaram nos dois Processos realizados em Turim sobre suas virtudes foram unânimes e calorosos em afirmar que a “paternidade” foi a sua atitude mais eminente e distinta, e falaram como se ainda se sentissem envolvidos pelo seu olhar afetuoso. Cada um lembra um sorriso, uma palavra encorajadora, uma acolhida afetuosa, um gesto de compreensão, de perdão e de generosidade, uma atitude de governo paternal, uma atenção igual para todos, um conselho iluminado, uma paciência inesgotável, uma conversa tranquilizadora, uma capacidade de simplicidade evangélica diante de todo e qualquer acontecimento. A paternidade, depois, era acompanhada de uma maneira de fazer espontânea e bonachona que anulava todas as distâncias e ia direto ao coração, levando a todo lugar serenidade e alegria. “O coração do Pe. Rinaldi” é o título acertado de uma biografia dele, escrita com “intelecto de amor” pela srta. L. Larese-Cella59.
Em uma de suas últimas circulares, quase como testamento espiritual, ele escreveu: “A tradição mais importante e vital para nós é a paternidade. O nosso Fundador nada mais foi do que pai, no sentido mais nobre da palavra; e a santa Igreja invoca-o na liturgia de Pai e Mestre”. E continua com perspectiva mais elevada: “Toda a sua vida é um tratado completo sobre a ‘paternidade’, que nasce do Pai celeste, ‘de onde vem toda paternidade, no céu e na terra’60 e que Dom Bosco praticou aqui em máximo grau, quase único, para com a juventude e para com todos, nas mil contingências da vida, para alívio de todas as misérias temporais e espirituais, e com tal decisão e sacrifício de si, na grandeza do seu coração, imenso como a areia do mar, tornando-se tudo para todos para ganhar as almas juvenis e levá-las a Deus. E como a sua vida foi só paternidade, assim a sua obra e os seus filhos não podem viver sem ela... Parece-me estar ainda vivo e gozar de sua maravilhosa familiaridade de olhar, de voz, de trato e de obras: ‘familiaris stupenda nimis’ também lá de cima”.61
Como se pode perceber, a bondade que o Pe. Rinaldi engrandecia no espírito salesiano, que não se cansava de recomendar aos irmãos, não era só expressão de um sentimento humano e natural para com os jovens e em casa. Ela é “bondade pastoral” que vem do alto: nasce, isto é, da paternidade divina, é fruto da união com Deus que traduz o “da mihi animas” em uma metodologia de amizade e compreensão. Quem vive o espírito salesiano torna-se pastoralmente “bom” (paterno e materno) para com os jovens, as pessoas e mutuamente com os irmãos e as irmãs em casa, porque sente profundamente no seu coração que Deus é “pai”, que Deus nos ama e se doa a nós e quer que cada um seja “sinal e portador” do seu amor.
Quando o Pe Rinaldi falava de Deus apresentava-o normalmente como “Pai”.
Este foi certamente o seu testemunho mais atraente. Dom Marcelino Olaechea, basco e de temperamento forte, testemunhou nos Processos que nunca encontrou um sacerdote que lhe “tenha apresentado mais elevada ideia da paternidade afetuosa de Deus”.62
Alguém, talvez, pudesse ficar satisfeito simplesmente na contemplação desta paternidade nas relações do Pe. Rinaldi com os irmãos ou com as Filhas de Maria Auxiliadora; neste sentido poderia reunir uma abundante e tocante documentação, como em parte pode-se ver também nas biografias dele até agora escritas.
Também nós aqui queremos ampliar este aspecto tão característico com a finalidade de penetrar melhor o “espírito salesiano”, e ver porque ele comporta constitutivamente, para todos os membros da Família, uma verdadeira e perceptível “bondade pastoral” visando os destinatários.
Certamente, a paternidade testemunhada e inculcada pelo Pe. Rinaldi deve ser considerada por todos os Diretores e Superiores (e a correspondente “maternidade” das Diretoras e Superioras) como a peculiar modalidade de exercer a autoridade entre nós. Ele mesmo afirmou muitas vezes: “O superior salesiano deve saber entregar-se. Está à disposição de todos, dia e noite. Deve estar pronto a receber qualquer um, em qualquer tempo. Em primeiro lugar a sua comunidade, os seus filhos. Ele deve deixar de lado os seus interesses, os seus livros, outras obras, até a oração... Acima de tudo deve ser desejoso de ouvir. Os irmãos “precisam disto”.63
Mas a atitude da “bondade” salesiana tem espaços mais amplos, relacionados em primeiro lugar com a juventude. Isso é deduzido das conferências, dos sermões, escritos, orientações variadas e até dos bilhetinhos por ele endereçados filialmente a Nossa Senhora.
Vejamos alguns componentes que iluminam sua natureza e que intensificam seu crescimento: primeiramente, o “amor pelos jovens” como aplicação do Sistema Preventivo, e depois a importância do “sacramento da Penitência”, o cuidado com o “espírito de família” em casa, e o domínio de si na “temperança”.
— Um primeiro elemento fundamental da bondade salesiana é aquele que, partindo do “da mihi animas”, comporta um amor de predileção pela juventude necessitada com tamanha intensidade que se traduz na práxis pastoral do Sistema Preventivo. É, portanto, uma bondade paterna e materna pedida pelas exigências da salvação dos jovens. É um exercício prático de caridade: “É bom não esquecer — escreveu o Pe. Rinaldi — que o Salesiano não é um teórico da pedagogia, mas um educador... A nossa pedagogia está inserida na vida salesiana”64 e as suas páginas são o pátio, as salas de aula, o refeitório, a igreja, o dormitório, o passeio.
A sabedoria indispensável do educador salesiano brota cotidianamente da “bondade pastoral” que é amor sobrenatural, como deixou escrito o próprio Dom Bosco: “A prática desse sistema baseia-se toda nas palavras de S. Paulo que diz: a caridade é benigna e paciente; tudo sofre, mas espera tudo e suporta qualquer incômodo. Por isso, somente o cristão pode aplicar com sucesso o sistema preventivo”.65
Em suas conferências pedagógicas, o Pe. Rinaldi insiste sobre a genialidade do coração, acompanhada também por um adequado nível de conhecimentos pedagógicos; o coração exige que os educadores sejam amigos, que sê façam amar e saibam utilizar os meios apropriados a um ambiente juvenil (estudo, sim, e religião, mas também música, teatro, brincadeiras, turismo, etc.), a ponto de formarem juntos uma verdadeira família a casa-família foi o ideal de Dom Bosco”... na educação da juventude devemos orientar a cabeça, o coração e a alma; com a educação exterior dificilmente chega-se ao coração, à cabeça e à alma. Dom Bosco dizia que para governar o coração é preciso visar o interior. É esta a característica da Congregação. Dom Bosco com os seus filhos era o pai e oferecia-lhes inteiramente o seu coração”.66
Portanto, um primeiro elemento da bondade salesiana é a prática do amor de predileção pelos jovens com o Sistema Preventivo.
— Um segundo aspecto, bastante querido ao Fundador, e lembrado insistentemente pelo Pe. Rinaldi, é o exercício da paternidade espiritual que se realiza na celebração do sacramento da Penitência. Aí, sobretudo, o Diretor (e os irmãos padres) aprendem a exercer e a crescer na verdadeira paternidade. “Para Dom Bosco, o educador representa Deus. Os garotos precisam sentir a autoridade divina. Esta é a razão das razões. Se vós colocais um jovem debaixo desta razão de ordem superior, sob o olhar de Deus, então a coisa torna-se mais simples... As orações, a S. Missa e os Sacramentos recebidos com frequência, são um grande meio de educação. Mas não são um meio de disciplina... Quando esta frequência não é espontânea e convicta torna-se um meio para arruinar os jovens. Deve existir antes a formação à piedade”.67
Portanto: a celebração do sacramento da Penitência como elemento vitalmente presente na obra educativa, não como ato mágico e disciplinar, mas como mediação da paternidade divina.
Ele insistia de maneira particular sobre a importância de os Diretores e os Salesianos presbíteros se comprometerem livremente e muito na administração deste sacramento, que comporta para os padres um exercício concreto de união com Deus a favor dos outros. Lamentava a interpretação demasiado fechada do decreto de 1901, que proibia sem dúvida aos Diretores de confessarem os irmãos de sua casa, mas nada mais além disso. Por isso, lembrava com insistência que a administração e a frequência deste sacramento faz parte viva do clima de família de Dom Bosco.
Também aqui é confortador transcrever uma página bem significativa das circulares do Pe. Rinaldi.
“O exercício exterior da paternidade é novamente transmitido ao diretor da casa... e Dom Bosco a transmitiu aos seus diretores quase unida ao ato e à realidade mais sublime da regeneração espiritual no exercício do poder divino de perdoar os pecados. Dom Bosco exerceu ininterruptamente por toda a vida e com especial predileção este poder divino em favor dos seus jovens. Confessá-los era sua tarefa preferida e não a trocava com nenhuma outra. Confessava-os logo que se levantava, durante o dia, em todas as horas, sempre; e de noite continuava muitas vezes até meia-noite.
Logo que conquistava a confiança de um jovem, convidava-o a se confessar, e sabia fazê-lo com tanta paternidade sobrenatural que o jovem, não só não sabia recusar, mas experimentava um grande prazer e abria-lhe naturalmente todo o coração. Eu mesmo experimentei isso...
Dom Bosco com a sua palavra fazia amar a confissão... nela era o grande conquistador dos corações; experimentava os frutos maravilhosos e parecia estar seguro que poderiam fazer igualmente os seus sucessores e diretores das suas casas...
O Pe. Rua, recebida a ordem da S. Sé, dócil e obediente, promulgou logo as ordens claras para a atuação das novas disposições nas nossas casas. Assim os Superiores e os Diretores interromperam o exercício da sua paternidade espiritual sobre os súditos. Mas com o pretexto de evitar qualquer inconveniente, num primeiro tempo passou-se além daquilo que pedia o dispositivo do decreto: os Diretores retraíram-se até de confessar os jovens, coisa que não é proibida a nenhum sacerdote aprovado, qualquer que seja o cargo que ocupa no Instituto...
Meus queridos Inspetores e Diretores, esconjuro-vos pelas entranhas da caridade de N. S. Jesus Cristo que façais reviver em vós e ao redor de vós esta tradição da paternidade espiritual, que infelizmente vai-se apagando, com grande prejuízo para as almas juvenis e para a nossa fisionomia salesiana. Recomeçai a obra que, na mente e no coração de Dom Bosco, deve ser a primeira e a mais importante para o Diretor pai. Sede verdadeiramente pais da alma dos vossos jovens. Não abdiqueis de vossa paternidade espiritual, mas exercitai-a”.68
Nesta página, sente-se vibrar claramente a convicção do Pe. Rinaldi!
Hoje é preciso refletir bastante sobre este aspecto que foi, entre nós, a fonte da paternidade e o meio que assegurava a bondade pastoral que deveria distinguir-nos na Igreja. Quanta responsabilidade têm os Salesianos padres no crescimento ou não do estilo de bondade em toda a nossa Família; e quanta, todos os outros, em criar um clima favorável para a frequência do sacramento da Reconciliação. É urgente que devolvam a importância a este sacramento todos aqueles que querem viver a bondade salesiana, aplicando integralmente o Sistema Preventivo.
— Um terceiro aspecto que assegura, defende e incrementa a bondade pastoral é o “espírito de família” vivido em casa entre irmãos e irmãs. É fruto do comum “da mihi animas”, é natural exigência do nosso método educativo e é tarefa privilegiada e constante do exercício das responsabilidades próprias de quem dirige a casa.
O estilo salesiano comporta constitutivamente a formação de um ambiente de família com “um só coração e uma só alma”. Pensando depois que a comunidade salesiana local é sujeito da missão, como poderá ela irradiar bondade pastoral se não vive em alegre comunhão fraterna?
O Pe. Rinaldi como superior distinguiu-se sempre pela preocupação de criar uma família em casa. Dele, jovem diretor em Sarriá (com 33 anos e, apesar de ser jovem) os irmãos diziam que demonstrava mais afeto de pai do que autoridade de superior. Nomeado Inspetor da Espanha, formulou vários propósitos que podem ser resumidos nesta frase lapidar: “serei pai!”.69
Como Reitor-Mor escrevia aos irmãos: “Dom Bosco, mais do que uma sociedade, entendia formar uma família, apoiada quase unicamente sobre a paternidade suave, amável, vigilante do superior, e sobre o afeto filial, fraterno dos súditos, aliás, apesar de manter o princípio da autoridade e respectiva submissão, não desejava distinções, mas igualdade em todos e em tudo”.70
O espírito de família faz florescer a comunhão fraterna para alcançar os objetivos pastorais, sem comodismo de burgueses e sem desvios individualistas: “nunca falta o bem que os filhos de Dom Bosco devem realizar. Na quase totalidade, cada um, além do trabalho principal entregue a ele pela obediência sempre terá outros secundários que sozinhos seriam suficientes para ocupar um outro irmão.
Este sobretrabalho é quase uma característica da vida salesiana, e é aceito com generosidade..., mas não é possível ser membro da nossa Sociedade sem ter principalmente a peito o bem da própria Sociedade; se seus membros forem puramente individualistas, seria o fim para a Sociedade, e os seus membros não seriam outra coisa que uma massa sem a própria razão de vida”.71
Portanto uma bondade partilhada em clima de família unida, toda voltada aos destinatários e incansavelmente laboriosa na missão comum.
— Finalmente, outro aspecto que contribui para assegurar a bondade pastoral de cada um de nós é a constante ascese do domínio de si, ou seja, o cuidado com a virtude cardeal da “temperança”, no sentido explicado pelo Pe. Rinaldi nos seus comentários ao sonho dos dez diamantes. Falando do diamante da “temperança” (em sentido mais amplo do que “mortificação”, indicada pelo diamante do “jejum”), dizia: “o Salesiano deve saber dominar-se, não anda com os olhos fechados: abre-os, mas não vai além; se isto não está bem, para. Dono de si também nas brincadeiras; senhor da situação com o garoto que o deixa desesperado; capaz de calar, de saber esconder, de falar no devido tempo, de ser esperto!”.72
Nesta visão da temperança, como participação pessoal e cotidiana na realeza batismal, dominando a si mesmo, ocupa um lugar privilegiado, além da paciência, a fundamental virtude da “humildade” porque ajuda a cultivar a “mansidão” seja no seu aspecto de benignidade como naquele de moderação; ela assegura ao salesiano aquela atitude pedagógico-pastoral do “fazer-se amar” tão recomendado por Dom Bosco e não muito fácil.
Em relação à “humildade” amável e atraente do Pe. Rinaldi, o seu imediato sucessor Pe. Pedro Ricaldone afirmou nos Processos: “Vimo-lo sempre humilde no porte, no falar e no agir. Como já disse, tinha um conceito muito diminuto de si mesmo, e não me lembro de tê-lo ouvido falar de si. Considerava-se indigno toda vez que foi promovido a qualquer cargo. Nos últimos anos, quando sentia diminuírem as forças, teve o pensamento de renunciar ao cargo e apresentar as demissões à S. Sé. A sua humildade era sempre revestida de bondade e de doçura. Foi sempre acolhedor e, pela sua maneira de agir, compreendia-se que se considerava o servo de todos. Acrescento que a sua humildade era entendida corretamente, e não lhe impedia de ocupar o seu lugar, seja como Diretor, como Inspetor, Prefeito geral e Reitor-Mor, com o devido decoro. E enquanto praticava ele mesmo a humildade, e todas as outras virtudes de que falei, não deixava de inculcá-las com carinhosa e forte insistência aos irmãos”.73
A uma noviça das Filhas de Maria Auxiliadora que lhe pedia conselhos para a sua formação, o Pe. Rinaldi respondia: “Presta atenção à formação do espírito; sobretudo ao amor próprio. Humilha-o dentro de ti. Deves imitar a humildade do Coração de Jesus. O resto é vaidade e estultice. Não percas um dia do teu noviciado sem progredir no espírito de Deus, isto é: na piedade, na caridade, na humildade de coração, no sacrifício, no esquecimento de ti mesma. Faze desaparecer a Maria (assim se chamava a noviça) para que fique só Nosso Senhor, que te quer santa de mente e de coração, de alma e de corpo”.74
O Pe. Rinaldi, portanto, ilumina-nos, através da sua incomparável paternidade sacerdotal, a individualizar na bondade salesiana quatro aspectos verdadeiramente indispensáveis: o amor de predileção pela juventude na prática constante do Sistema Preventivo, o lugar privilegiado a ser dado na educação à celebração viva e amada do sacramento da Penitência, o fraterno espírito de família na comunidade, e o constante domínio de si para “fazer-se amar”.
Se unimos estes aspectos aos três anteriores que sublinhamos ao tratar da interioridade apostólica, temos um interessante quadro descritivo das qualidades que caracterizam, no pensamento do Pe. Rinaldi, o espírito salesiano de Dom Bosco.
Intercessor e guia para toda a Família
O fato da beatificação assegura a todos que do céu o Pe. Rinaldi ainda nos acompanha. A comunhão com a Igreja celeste reforça de esperança o nosso coração: também o novo Bem-aventurado é intercessor e guia!
Na circular escrita após a beatificação de Dom Bosco com o triunfal translado de seus restos mortais de Valsálice a Valdocco, ele expressou a sua emoção e alegria com palavras vibrantes: parecia-lhe iniciasse uma nova era para a vida salesiana, caracterizada, de um lado, pela novidade dos tempos, mas, de outro, já vinculada — com certeza eclesial — à santidade do Fundador.
Considerava este fato uma certeza de futuro para a nossa Família: “compreendi — escreve — quem Dom Bosco se tornava para nós. Sem deixar de ser o que sempre foi para nós... naquele instante tornou-se o modelo seguro da nossa vida:
a luz colocada sobre o candelabro para iluminar o mundo;
o ministro fiel escolhido pelo seu e nosso Senhor Jesus Cristo para distribuir seus bens aos necessitados;
o nosso particular intercessor junto da Virgem Auxiliadora ...
Compreendi qual devia ser o nosso espírito, qual a vida do nosso corpo individual e social... Na basílica, o seu amor tornara-se realmente inseparável daquele da sua poderosa Auxiliadora... e pareceu-me que uma voz, suave e paterna, já ouvida em outros tempos, descesse da glória para dizer-me: ‘Dei-vos o exemplo. Sede meus imitadores!’ Fazei como fiz eu e então a minha querida Congregação será sempre próspera, como me apareceu quando vivia nesse mundo, na visão tida em S. Benigno (— trata-se do sonho dos diamantes —): ‘a caridade compreende tudo, suporta tudo, vence tudo: falemos dela com palavras e com fatos... Sereis espetáculo para o mundo e os anjos e, então, será vossa glória a glória de Deus’...
Se a nova época da nossa vida salesiana, há pouco iniciada, tiver sempre por norma os exemplos de Dom Bosco; se a nossa missão educadora se desenvolver ininterruptamente sob sua proteção, então aumentaremos e multiplicaremos ao infinito... o imenso tesouro da educação cristã como o nosso Fundador a entendia”.75
Algo de semelhante (embora de passagem e no contexto da herança guardada e feita frutificar) podemos repetir nós hoje em relação à próxima beatificação do Pe. Rinaldi. Hoje, pensamos que estamos no início de uma nova época da nossa vida salesiana, repensada laboriosa e comunitariamente durante vinte anos na fidelidade às origens, na órbita do Concílio Vaticano II como resposta às interpelações dos novos tempos. Por isso, a figura do Pe. Rinaldi “Bem-aventurado” nos aproxima extraordinariamente e com atraente atualidade ao Fundador; ilumina e desenvolve os conteúdos do seu carisma com sentimentos filiais, fixos no mais indiscutível conhecimento do seu espírito e do seu coração; sua capacidade empreendedora e sábia de desenvolver as sementes ainda escondidas lembra-nos que todo dinamismo criativo deve brotar da plena sintonia com o seu mais genuíno espírito.
A santidade do novo Bem-aventurado é garantia de fidelidade dinâmica. Faz-nos compreender que o Espírito Santo uniu nele o passado ao futuro no crescimento homogêneo do mesmo carisma sem impulsos arbitrários e desviantes, sem recuos estáticos, acima de tantas fugazes miragens ideológicas.
É sugestivo pensar que o Pe. Rinaldi tornou-se santo dedicando-se totalmente — e pode-se dizer exclusivamente — a fazer viver e crescer o espírito de Dom Bosco. É este, penso, o mais bonito significado da sua vida de “superior salesiano”, ou seja, de testemunha, de anunciador e de propulsor do patrimônio recebido em herança.
A chegada da sua beatificação assegura-nos que ele continua como “intercessor” a mesma ação que exerceu durante a sua vida, embora de maneira diferente; agora o faz ao lado de Dom Bosco santo, do bem-aventurado Pe. Rua, de Santa Maria Domingas Mazzarello e de tantos irmãos glorificados.
Esta sua atividade, porém, nós a devemos interpretar refletindo sobre o que ele nos deixou como ensinamento em vida. Neste sentido olhamos para ele como “guia” seguro que nos ensina a enfrentar com autenticidade salesiana as exigências próprias do progredir dos tempos.
Considerando a figura e a importância histórica do Pe. Rinaldi, poderíamos ter focalizado muitos outros aspectos dos quais não tratamos; alguns, apesar de importantes e até mesmo essenciais, mas em certo sentido ‘quentes’, são: a centralidade de vida no Cristo, o sentido da cruz e a oblatividade (que poderia ser aprofundada especialmente por alguns Grupos da nossa Família), a devoção mariana, a sincera e forte adesão ao Sucessor de Pedro, a doutrina sobre a vida consagrada, o conceito de pobreza e de administração dos bens temporais, a visão dinâmica e social do oratório, o extraordinário ardor organizativo pelas Missões etc.
Nós, porém, preferimos fazer aflorar nesta carta o seu dinamismo que ficou sempre um pouco escondido, para depois focalizar a atenção sobre aquilo que constitui a mensagem mais original que nos deixou.
Acreditamos encontrar nisso a sua atualidade. Focalizamos aí a nossa atenção, sem pretender esgotar os conteúdos, mas com a alegria de poder constatar que a sua atividade abraça o horizonte de toda a Família Salesiana, fazendo-nos admirar nele o autorizado precursor que ilumina e assegura um dos atuais grandes caminhos76 da nossa renovação pós-conciliar.
E deixem-me acrescentar, seguindo as pegadas do Pe. Rinaldi — que são aquelas de Dom Bosco — que insisti muito sobre a “interioridade apostólica” como elemento vital para animar, alimentar, levar ao mais alto grau possível de amadurecimento pessoal e comunitário; fiz isso porque a tentação de colocar o pé no acelerador da ação deixando de lado o “da mihi animas”, ou seja, uma contínua interioridade de união com Deus Salvador, é real entre nós e traz graves danos à atitude orante da caridade pastoral. A graça de unidade deste ardor pelas almas incentiva sempre simultaneamente à oração e ao trabalho, que são os dois pulmões com que o salesiano respira, na perfeita adesão à vontade de Deus.
O testemunho do Pe. Rinaldi é um hino a esta “graça de unidade”, em que a intensidade dos tempos dedicados à oração impulsiona preponderantemente para a ação pastoral enquanto o trabalho apostólico incansavelmente impulsiona também constitutivamente para a oração.
De fato, lê-se no documento Vaticano sobre a “Dimensão contemplativa de toda vida religiosa” que a verdadeira ação apostólica (portanto não qualquer ação) está unida intrinsecamente à atitude orante: “a própria natureza da ação apostólica e caritativa — cito — contém uma própria riqueza que alimenta a união com Deus: é preciso cuidar cotidianamente de sua consciência e de seu aprofundamento. Tomando consciência disso, os religiosos e as religiosas santificarão de tal maneira as atividades a ponto de transformá-las em fonte de comunhão com Deus, a serviço do qual são dedicados por novo e especial título (LG 44)”.77
Queridos irmãos, os meus insistentes pedidos a vencer a praga da superficialidade seriam palavras vazias para cada salesiano, à escola do Pe. Rinaldi, se não ele desse ao “ardor pelas almas” a intensidade e os espaços indispensáveis para garantir a autêntica “graça de unidade” da caridade pastoral.
Testemunha da mensagem vital de “Dom Bosco modelo”
Antes de concluir, desejo convidar a todos a se prepararem, em sintonia de coração, com sincero reconhecimento e com reflexão de fé a esta bem significativa beatificação. É um especial dom de Deus pelo crescimento sadio e vigoroso do nosso carisma às vésperas do Terceiro milênio.
O Pe. Rinaldi interceda e guie o nosso itinerário de educação à fé de inúmeros jovens no mundo.
Também eu, que escutei — ainda adolescente — a sua voz, poderia sugerir a vocês algo de semelhante ao que ele escreveu por ocasião da beatificação de Dom Bosco. Imagino ver o Pe. Rinaldi, Bem-aventurado, segurando na mão o novo texto das Constituições; admira-o como a “cópia passada a limpo”, preanunciada por Dom Bosco. Abrindo-o, indica-nos uma paginazinha da qual deve gostar muito, porque descreve sinteticamente o esforço que caracterizou toda a sua vida: trata-se do artigo que propõe Dom Bosco como nosso modelo. Ouçamo-lo como se ele o estivesse lendo: “O Senhor nos deu Dom Bosco como pai e mestre. Nós o estudamos e imitamos, admirando nele esplêndida harmonia de natureza e graça. Profundamente homem, rico das virtudes do seu povo, era aberto às realidades terrenas; profundamente homem de Deus, cheio dos dons do Espírito Santo, vivia ‘como se visse o invisível’. Esses dois aspectos fundiram-se num projeto de vida fortemente unitário: o serviço dos jovens. Realizou-o com firmeza e constância, por entre obstáculos e canseiras, com a sensibilidade de um coração generoso. ‘Não deu passo, não pronunciou palavra, nada empreendeu que não visasse à salvação da juventude... Realmente tinha a peito tão somente as almas’”.78
Penso seja sobretudo isto que nos recomendará o Pe. Rinaldi no dia da sua beatificação.
Peçamos-lhe desde já que, juntamente com Dom Bosco e Madre Mazzarello, interceda para o desenvolvimento dos próximos Capítulos Gerais, para que o clima respirado pelos Capítulos seja aquele de uma forte interioridade apostólica como nas origens, de modo que as orientações e as diretrizes finais resultem um precioso estímulo para relançar, em Família, a verdadeira mística salesiana do “da mini animas” num projeto de vida fortemente unitário.
Meditemos e rezemos: que cada um faça tesouro do magnífico testemunho do Pe. Rinaldi e que os conteúdos desta carta circular sejam argumento de reflexão nos retiros espirituais!
Apresento a todos a minha cordial saudação com os melhores votos de Natal e Ano novo.
Afeiçoadíssimo no Senhor,
1 Summarium da Positio super virtutibus, 1985 (em seguida, citar-se-á: Summariumi, p. 266, n. 927.
2 E. Ceria, Vita del Servo di Dio sac. Filippo Rinaldi, SEI, Torino, p. 38.
3 E. Ceria, o.c., p. 24.
4 Summarium, p. 548, doc. XIV.
5 Cf. E. Ceria, o.c., p. 23.
6 Ib., p. 46.
7 ACS 9, 132.
8 ACS, 26 de abril de 1931, 56, p. 933.
9 Cf. 1Jo 1,1.
10 ACS, 24 de fevereiro de 1925, n. 28, p. 344-345.
11 ACS, abril-junho, 1981, n. 300.
12 Cf. ACS, 24 de janeiro de 1924, n. 23; e 24 de outubro de 1924, n. 26.
13 Cf. ACS, 24 de abril de 1925, n. 29.
14 E. Ceria, o.c., Premessa, p. 5.
15 ACS, 24 de janeiro de 1924, n. 23, p. 177-187.
16 ACS, 6 de janeiro de 1923, p. 41ss.
17 ACS, 24 de julho de 1927, n. 40, p. 573.
18 ACS, 6 de janeiro de 1923, n. 17, p. 45.
19 D. T. Donadone, La bontà si è fatta uomo, LDC, Torino 1963, p. 46.
20 Summarium, p. 365, n. 1238.
21 R. Fierro, El Siervo de Dios Don Filipe Rinaldi, 2ª ed., SEI, Madri, 1960, p. 76.
22 L. Castano, Don Rinaldi, LDC, Torino 1980, p. 78-79.
23 E. Fierro, o.c., p. 5.
24 E. Ceria, o.c., p. 35.
25 ACG, abril-junho 1987, n. 321.
26 E. Ceria, o.c., p. 213ss.
27 Cf. L. Castano, o.c., p. 118.
28 L. Castano, o.c., p. 118.
29 Ib., p. 127.
30 Cf. E. Ceria, o.c., p. 331ss.
31 Progetto periodico femminile (Arquivo 2971, I ms. do Pe. Rinaldi 1909).
Característica da Revista:
Unir as forças internas e externas das FMA para a formação da mulher especialmente do povo.
Seja um meio para as professoras treinarem para tratar argumentos sociais, educar quem lê e formar quem escreve. Deve insistir sobre a orientação que deve hoje seguir a mulher influente (moral, intelectual e materialmente) para treinar um apostolado da educação cristã, social entre as filhas do povo.
Como atuar esse conceito com a programação da Revista:
1. artigo de fundo, 2. perfis modernos de mulheres ativas, 3. economia doméstica, 4. trabalhos femininos, 5. crônica do movimento feminino social internacional, 6. variedades, 7. legislação do trabalho das mulheres, 8. o que dizem as revistas afins, 9. higiene do trabalho, 10. oportunamente apresentar os pontos de doutrina cristã que afastam os erros mais comuns.
32 Summarium, p. 218-219, n. 756ss.
33 Summarium, p. 113, n. 338.
34 Carta à M. Catarina Daghero, 28 de dezembro de 1915, ACS 9, 31.
35 Cf. E. Ceria, o.c., p. 341ss.
36 Pe. Rinaldi, Sospinto dall’amore, LDC, Torino 1979, pp. 90-91.
37 Cf. E. Ceria, o.c., p. 43.
38 Cf. E. Valentini, Don Rinaldi maestro di pedagogia e di spiritualità salesiana, Torino-Crocetta, ristampa 1965.
39 Ib. Pp. 4-5.
40 ACS, 24 de outubro de 1929, n. 50, p. 800.
41 La vita religiosa negli insegnamenti di San Francesco di Sales, cf. ACS, 24 de abril de 1926, n. 34, p. 445.
42 E. Ceria, o.c., p. 422.
43 Ib., p. 439.
44 Pe. Rinaldi, o.c, p. 91.
45 ACS, 6 de abril de 1929, n. 48, p. 733-734.
46 Ib., p. 735.
47 IB., p. 734-735.
48 ACS, 6 de janeiro de 1929, n. 47, p. 714.
49 ACS, 24 de outubro de 1929, n. 50, p. 798.
50 Discurso de trigésimo dia, em Cópia publicada e anexada ao processo ordinário de Turim, vol. IV, folhas 1173ss.
51 ACS, 24 de fevereiro de 1927, n. 38: Discurso do S. Padre, p. 555.
52 ACS, 24 de junho de 1922, n. 15, p. 16-19. A indulgência do trabalho foi estendida pelo Papa Paulo VI (Constituição apostólica Indulgentiarum doctrina de 1º de janeiro de 1967) a todos os fiéis que o realizam em espírito de união com Deus. Desta extensão nós deveríamos saber utilizá-la no atual relançamento do laicato.
Lê-se no Enchiridion Indulgentiarum: “Concede-se indulgência parcial aos fiéis que, na realização dos seus deveres, em suportar as dificuldades da vida, elevam com humilde confiança sua alma a Deus, também só mentalmente com alguma piedosa invocação” (cf. Enchiridion Indulgentiarum, 3. ed. Livraria Editora Vaticana 1986, p. 33).
53 Cf. ACS, 6 de janeiro de 1923, n. 17, p. 36.
54 Summarium, p. 462, n. 1597.
55 Summarium, p. 441, n. 1524.
56 Summárium, p. 242, n. 842.
57 Summarium, p. 286, n. 1001.
58 E. Ceria, o.c., p. 437-442.
59 L. Larese-Cella, II cuore di don Rinaldi, LICE-R. Berruti & C, Torino, 1952.
60 Ef. 3,15.
61 ACS, 26 de abril de 1931, n. 56, p. 939-940, p. 933.
62 Summarium, p. 363, n. 1230.
63 Rinaldi, o.c., p. 95.
64 ACS, 24 de setembro de 1926, n. 36, p. 497-498.
65 Regulamento para as casas da Sociedade de S. Francisco de Sales, Tipografia Salesiana, Turim 1877, p. 3-13.
66 Valentini, o.c., passim.
67 Ib., p. 39.
68 ACS, 26 de abril de 1931, n. 56, p. 940-942.
69 Cf. E. Ceria, o.c., p. 93ss.
70 ACS, 24 de janeiro de 1924, n. 23, p. 179.
71 ACS, 6 de janeiro de 1929, n. 47, p. 710.
72 ACG, abril-junho de 1981, n. 300, p. 17-18; cf. p. 11-12.
73 Summarium, p. 293-294, n. 1032-1033.
74 Carta à Ir. Maria Lanzio, 24 de março de 1924, ACS, 9.31.
75 ACS, 9 de junho de 1929, n. 49, p. 767-771.
76 Cf. CGE XX, 1972, p. XVIII-XX.
77 SCRIS, Vida religiosa: a sua dimensão contemplativa, 12 de agosto de 1980, n. 6.
78 Const. 21.