“Quando o viram, seus pais ficaram comovidos, e sua mãe lhe disse: ‘Filho, por que agiste assim conosco? Olha, teu pai e eu estávamos, angustiados, à tua procura!’. Ele respondeu: ‘Por que me procuráveis? Não sabíeis que eu devo estar naquilo que é de meu pai?’. Eles, porém, não compreenderam a palavra que ele lhes falou. Jesus desceu, então, com seus pais para Nazaré e era obediente a eles. Sua mãe guardava todas estas coisas no coração. E Jesus ia crescendo em sabedoria, tamanho e graça diante de Deus e dos homens” (Lc 2,48-52).
Caríssimas Irmãs Filhas de Maria Auxiliadora,
caríssimos Irmãos Salesianos,
Membros da Família Salesiana
e Amigos de Dom Bosco;
caríssimos Jovens,
alegria e motivo da nossa vida.
A vós todos uma afetuosa saudação na passagem de 2005 a 2006. A todos e a cada um desejo um ano repleto das bênçãos que Deus, Pai de ternura e misericórdia, quis derramar sobre nós, quando decidiu enviar seu Filho ao mundo para que tivéssemos vida em abundância.
“O desafio da vida – dizia o Papa João Paulo II, de venerada memória, na sua última intervenção diante do Corpo Diplomático em janeiro de 2005 – realiza-se ao mesmo tempo naquele que é propriamente o sacrário da vida: a família. Ela é hoje muitas vezes ameaçada por fatores sociais e culturais que fazem pressão sobre ela, tornando difícil sua estabilidade. Mas em alguns países ela é ameaçada também por uma legislação, que lhe corrompe – por vezes mesmo diretamente – a estrutura natural, a qual é e pode ser exclusivamente a de uma união entre um homem e uma mulher fundada sobre o matrimônio. Não se deixe – prosseguia o Papa – que a família, fonte fecunda da vida e pressuposto primordial e imprescindível da felicidade individual dos esposos, da formação dos filhos e do bem-estar social, seja minada por leis ditadas por uma visão restritiva e inatural do homem. Prevaleça um sentir justo e alto e puro do amor humano, que na família encontra uma sua expressão fundamental e exemplar.”1
Acatando o convite do Papa de defender a vida através da família, e na oportunidade dos 150 anos da morte de Mamãe Margarida, mãe da família educativa criada por Dom Bosco em Valdocco, pensei em convidar a Família Salesiana a renovar o empenho para
dar especial atenção à
família,
berço da vida e do amor
e lugar primeiro de
humanização.
Se o homem é o caminho da Igreja, a família é o “caminho do homem”, o âmbito natural em que o homem se abre à vida e à existência social. Ela é o lugar de um forte envolvimento afetivo, o contexto em que se realiza o reconhecimento pessoal. Lugar privilegiado de humanização e meio de socialização religiosa, garante a estabilidade necessária ao crescimento harmônico dos filhos e à missão educativa dos pais em relação a eles.
Crendo na sua importância estratégica para o futuro da humanidade e da Igreja, João Paulo II fez da família um dos pontos prioritários do seu programa pastoral para a Igreja nos inícios do terceiro milênio:
“Deve ser assegurada também uma especial atenção à pastoral da família, ainda mais necessária na época atual, que registra uma crise generalizada e radical dessa instituição fundamental... É preciso fazer com que, por meio de uma educação evangélica sempre mais completa, as famílias cristãs ofereçam um exemplo persuasivo da possibilidade de um matrimônio vivido de forma plenamente congruente com o desígnio de Deus e com as verdadeiras exigências da pessoa humana: a pessoa dos esposos e sobretudo a pessoa mais frágil dos filhos”.2
Riscos e ameaças que pesam sobre a família hoje
O pensamento de João Paulo II foi retomado pelo Papa Bento XVI que, em suas intervenções, falou da família como de uma
“questão nevrálgica, que requer a nossa maior atenção pastoral”, (ela) “está profundamente radicada no coração das jovens gerações e sobrecarregada de multíplices problemas, oferecendo apoio e remédio a situações de outra forma desesperadas. E todavia... a família está exposta, no atual clima cultural, a muitos riscos e ameaças que todos conhecemos. À fragilidade e instabilidade interna acresce a tendência, disseminada na sociedade e na cultura, a contestar o caráter único e a missão própria da família fundada no matrimônio”.3
Um ambiente cultural contrário à família
Hoje, com certa facilidade e superficialidade propõem-se e apresentam-se presumidas “alternativas” à família, qualificada como “tradicional”. Dessa maneira, a atenção se volta do problema do divórcio ao dos “amigados”, do tratamento da infertilidade feminina à procriação medicamente assistida, do aborto à procura e manipulação das células estaminais retiradas dos embriões, do problema da pílula anticoncepcional ao da pílula do dia seguinte, que também é abortiva. A legalização do aborto praticamente espalhou-se por quase todo o mundo. Acontece também que se confira aos casais efêmeros, que não querem comprometer-se formalmente no matrimônio nem mesmo civil, os direitos e as vantagens de uma verdadeira família. Tal é o caso da oficialização das “uniões de fato”, incluindo os casais homossexuais, que algumas vezes pretendem até o direito à adoção, despertando dessa maneira problemas muito graves de ordem psicológica, social e jurídica.
Destarte, o rosto – a realidade – da família está mudado. A quanto anteriormente dissemos deve acrescentar-se a marcada preferência por uma forma de crescente “privatização” e a tendência a uma redução das dimensões da família que, passando do modelo de família plurigeneracional ao de “família nuclear”, reduz esta à realidade de pai, mãe e um filho só. Mais grave ainda é o fato que boa parte da opinião pública já não reconhece na família, fundada no matrimônio, a célula fundamental da sociedade e um bem de que não se pode dispensar.
Uma solução fácil: o divórcio
Tendo em conta esse clima cultural, presente sobretudo nas sociedades ocidentais, parece-me oportuno lembrar um trecho do Evangelho no qual Jesus fala do matrimônio:
“Aproximaram-se então alguns fariseus e, para experimentá-lo, perguntaram se era permitido ao homem despedir sua mulher. Jesus perguntou: ‘Qual é o preceito de Moisés a respeito?’ Os fariseus responderam: ‘Moisés permitiu escrever um atestado de divórcio e despedi-la’. Jesus então disse: ‘Foi por causa da dureza do vosso coração que Moisés escreveu este preceito. No entanto, desde o princípio da criação Deus os fez homem e mulher. Por isso, o homem deixará pai e mãe e se unirá à sua mulher, e os dois formarão uma só carne; assim, já não são dois, mas uma só carne. Portanto, o que Deus uniu o homem não separe!’” (Mc 10,2-9).
Trata-se, a meu ver, de um texto muito iluminador, porque se refere ao tema do matrimônio enquanto origem e base da família, mas sobretudo porque nos faz ver a forma de argumentar de Jesus. Ele não se deixa apanhar nas redes do legalismo, sobre o que é permitido e o que é proibido, mas se coloca diante do projeto originário do Criador, e ninguém melhor do que Ele conhecia qual era o plano original de Deus. É neste projeto que encontramos a “Boa Nova” da família.
Reconhecendo embora que existem também muitas famílias que vivem o valor de uma união firme e fiel, devemos não obstante observar que a precariedade do laço conjugal é uma das características do mundo contemporâneo. Ela não poupa nenhum continente e pode ser constatada em qualquer nível social. Muitas vezes essa práxis torna frágil a família e compromete a missão educativa dos pais. Tal precariedade não cuidada, antes aceita como “um dado de fato”, leva muitas vezes à escolha da separação e do divórcio, que são considerados como o único caminho de saída diante das crises que se verificam.
Tal mentalidade enfraquece os esposos e torna mais arriscada sua fragilidade pessoal. O “ceder” sem lutar é muito freqüente. Uma justa compreensão do valor do matrimônio e uma fé firme poderiam ao invés ajudar a superar com coragem e dignidade também dificuldades mais sérias.
Com efeito, pode-se dizer do divórcio que não é apenas uma questão de tipo jurídico. Não é uma “crise” que passa. Ele incide profundamente na experiência humana. É um problema de relação, e de relação destruída. Ele marca para sempre cada membro da comunidade familiar. É causa de empobrecimento econômico, afetivo e humano. E esse empobrecimento toca particularmente a mulher e os filhos. Somam-se a isso também os custos sociais, que são sempre particularmente elevados.
Gostaria de observar que são diversos os elementos que concorrem para o incremento atual dos divórcios, mesmo com matizes e componentes diversos conforme os vários países. Deve-se ter presente antes de tudo a cultura do ambiente, cada vez mais secularizada, na qual emergem, como elementos caracterizadores, uma falsa concepção da liberdade, o medo do compromisso, a prática da coabitação, a “banalização do sexo”, segundo a expressão de João Paulo II, e ainda os apertos econômicos, que algumas vezes são uma concausa de tais separações. Estilos de vida, modas, espetáculos, novelas, pondo em dúvida o valor do matrimônio e difundindo a idéia que o dom recíproco dos esposos até à morte seja algo impossível, tornam frágil a instituição familiar, fazem com que percam a estima e possivelmente chegam ao ponto de desqualificá-la em vantagem de outros “modelos” de pseudofamília.
Privatização do matrimônio
Entre os fenômenos a que assistimos deve-se destacar, ainda, o afirmar-se de um individualismo radical, que se manifesta em numerosas esferas da atividade humana: na vida econômica, na concorrência desapiedada, na competição social, no desprezo dos marginalizados e em muitos outros campos. Este individualismo não favorece decerto o dom de si generoso, fiel e permanente. E, seguramente, não é um hábito cultural que possa favorecer a solução das crises no matrimônio.
Sucede que as autoridades estatais, responsáveis pelo bem comum e pela coesão social, elas próprias alimentam esse individualismo, permitindo-lhe uma plena expressão mediante leis feitas expressamente (como, por exemplo, no caso dos “pactos civis de solidariedade”/PACS), que se apresentam como alternativas, pelo menos implícitas, ao matrimônio. Pior quando se trata de uniões homossexuais, e mais ainda pretendendo o direito de adotar crianças. Fazendo assim, tais legisladores e tais governos tornam precária na mentalidade comum a instituição do matrimônio e além disso contribuem para criar problemas que são incapazes de resolver. Desse modo acontece que o matrimônio, muitas vezes, já não é considerado como um bem para a sociedade, e sua “privatização” contribui para reduzir ou até mesmo eliminar seu valor público.
Esta ideologia social de pseudoliberdade leva o indivíduo a agir em primeiro lugar segundo os seus interesses, a sua utilidade. O compromisso assumido pelos cônjuges vem a ser um simples contrato, que se pode indefinidamente rever. A palavra dada tem apenas um valor limitado no tempo; não se responde pelos próprios atos, a não ser diante de si mesmos.
Falsas expectativas sobre o matrimônio
É mister outrossim constatar que muitos jovens formam um conceito idealista ou mesmo errôneo do casal, como lugar de uma felicidade sem nuvens, da satisfação dos próprios desejos sem preço por pagar. Podem chegar assim a um conflito latente entre o desejo de fusão com o outro e o de proteger a própria liberdade.
Um desconhecimento crescente da beleza do casal humano autêntico, da riqueza da diferença e da complementaridade homem/mulher leva a uma acrescida confusão sobre a identidade sexual, confusão levada ao auge na ideologia feminista. Por outro lado, as condições atuais da atividade profissional dos dois cônjuges reduzem os tempos vividos em comum e a comunicação na família. Tudo isso empobrece a capacidade de diálogo entre os esposos.
Muitas vezes, quando sobrevém a crise, os casais se encontram sós para resolvê-la. Não têm ninguém que possa ouvi-los e iluminá-los, coisa que talvez poderia evitar uma decisão irreversível. Essa falta de ajuda faz com que o casal permaneça fechado no seu problema, não vendo senão a separação ou mesmo o divórcio como solução para o próprio desconforto. Como não pensar, ao invés, que muitas dessas crises têm um caráter transitório e poderiam ser facilmente superadas, se o casal tivesse o apoio de uma comunidade humana e eclesial?
Fatores econômicos e consumistas na vida familiar
Os fatores econômicos, em sua grande complexidade, também influem acentuadamente na configuração do modelo familiar, na determinação dos seus valores, na organização do seu funcionamento, na definição do próprio projeto familiar. As entradas que se quer garantir, as despesas que se consideram indispensáveis para atender às necessidades ou os níveis de bem-estar que se pretende atingir ou manter, a falta de recursos ou até a falta de trabalho que atingem tanto os pais como os filhos, condicionam e, de certa maneira, determinam grande parte da vida das famílias. Bastaria pensar nos chamados “amigados”, que não são propriamente conviventes, mas pobres sem recursos para a celebração de um matrimônio. Outra situação preocupante é a dos emigrados, forçados a deixar a própria terra e a família em busca de trabalho e de meios para o sustento, situação que não raramente pela prolongada distância ou outras motivações causa o abandono e o desmancho da família que se deixou.
Têm igualmente origem econômica os mecanismos que criam o clima de consumismo no qual se encontram submersas as famílias. Dessa perspectiva se definem muitas vezes os parâmetros de felicidade, gerando frustração e marginalização. São outrossim econômicos os fatores que determinam uma realidade tão importante como a do espaço familiar, vale dizer o tamanho as casas e a possibilidade de acesso a elas. São enfim os fatores econômicos que condicionam as possibilidades educativas e as perspectivas de futuro dos filhos.
Diante de tal realidade não se pode deixar de ter um profundo sentido de compaixão pelo que é ou deveria ser o berço da vida e do amor e a escola de humanização.
A família, caminho de humanização do Filho de Deus
A encarnação do Filho de Deus, nascido de mulher, nascido sob a lei para resgatar os que estavam sob a lei e dar-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus (cf. Gl 4,4-5), não foi um evento ligado apenas ao momento do nascimento, mas abraçou todo o período da vida humana de Jesus, até à morte de cruz, como confessa o apóstolo Paulo (cf. Fl 2,8). O Concílio Vaticano II se expressava dizendo que o Filho de Deus trabalhou com mãos de homem e amou com coração de homem (cf. GS 22). Sua humanidade não foi, pois, um obstáculo para revelar sua divindade, foi, antes, o sacramento que lhe serviu para manifestar Deus e torná-lo visível e atingível. É bonito contemplar um Deus que quis tanto bem ao homem que o fez tornar-se o caminho para chegar a Ele. Justamente por isso o caminho da Igreja é o homem, que ela deve amar, servir e ajudar a atingir sua plenitude de vida.
Mas, justamente por que queria encarnar-se, Deus teve antes de procurar uma família, uma mãe (cf. Lc 1,26-38). Se no seio virginal de Maria Deus se fez homem, no seio da família de Nazaré o Deus encarnado aprendeu a tornar-se homem. Para nascer, Deus teve necessidade de uma mãe, para crescer e tornar-se homem, Deus teve necessidade de uma família. Maria não foi somente Aquela que deu à luz Jesus; qual verdadeira mãe, ao lado de José, conseguiu fazer da casa de Nazaré um lar de “humanização” do Filho de Deus (cf. Lc 2,51-52).
A encarnação do Filho de Deus, justamente porque autêntica, assumiu plenamente as modalidades do desenvolvimento natural de toda criatura humana, que tem necessidade de uma família que a acolhe, que a acompanha, que a ama e colabora com ela no desenvolvimento de todas as suas dimensões humanas, as que a tornam verdadeiramente “pessoa” humana. Tudo isso na descoberta de um projeto de vida, que permite compreender como desenvolver os próprios recursos e encontrar sentido e sucesso na vida.
Esta função educadora, necessária e imprescindível, que toda família deve oferecer aos seus membros, no caso da família de Nazaré encontra o seu testemunho numa página do evangelho de Lucas. É o episódio que se refere ao encontro de Jesus no templo:
“Quando o viram, seus pais ficaram comovidos, e sua mãe lhe disse: ‘Filho, por que agiste assim conosco? Olha, teu pai e eu estávamos, angustiados, à tua procura’. Ele respondeu: ‘Por que me procuráveis? Não sabíeis que eu devo estar naquilo que é de meu pai?’. Eles, porém, não compreenderam a palavra que ele lhes falou. Jesus desceu, então, com seus pais para Nazaré e era obediente a eles. Sua mãe guardava todas estas coisas no coração. E Jesus ia crescendo em sabedoria, tamanho e graça diante de Deus e dos homens” (Lc 2,48-52).
Encontramos nessa página três indicações preciosas sobre quanto a família é chamada a fazer com os filhos, a fim de que se tornem “verdadeiros cidadãos e bons cristãos”. Neste sentido, esta poderia considerar-se uma adivinhada releitura salesiana do princípio da encarnação num projeto educativo.
Antes de tudo, não é indiferente o fato de José e Maria levarem Jesus ao templo na idade em que o filho deve aprender a inserir-se plenamente na vida do seu povo, fazendo próprias as tradições que alimentaram e sustentaram a fé dos pais: a família de Jesus o introduziu na obediência à lei e à prática da fé, mesmo que seus pais soubessem que seu filho era Filho de Deus. A origem divina de Jesus não o eximiu da obrigação, universal em Israel, de observar a Lei de Deus. O Filho de Deus aprendeu a ser homem aprendendo a obedecer aos homens.
Deve-se ressaltar, ainda, a atitude respeitosa dos pais diante do filho que, sozinho, procura a vontade de Deus relativamente à própria vida. A resposta de Jesus tem quase um tom de maravilha, como a dizer: “Mas, como? Vós me ensinastes a chamar a Deus de Aba, Papai, e a procurar sempre a sua vontade, e justamente hoje e aqui, em sua Casa, no dia do ‘Bar Mitzvá’, quando me tornei de direito ‘filho da Lei’ para viver de ora em diante cumprindo o plano do Pai, me perguntais onde me encontrava, por que fiz assim?” (cf. Lc 2,49). Antes ainda de atingir a maioridade, Jesus lembra aos pais que foram eles que lhe ensinaram que Deus e suas coisas precedem também a família e seu cuidado.
Enfim, notamos que a incompreensão dos pais não é obstáculo à obediência do filho, que volta com ele para Nazaré. Jesus submete-se à autoridade dos pais, que já não conseguem compreendê-lo. E assim, conclui o evangelista, enquanto Maria “conservava todas essas coisas no seu coração” (Lc 2,51), Jesus “crescia em idade, tamanho e graça diante de Deus e dos homens” (Lc 2,52). Eis o maior elogio da capacidade educativa de José e Maria. Eis o que significa na prática fazer de uma família, casa e escola, “berço da vida e do amor e lugar primeiro de humanização”.
Foi na família que Jesus aprendeu a obediência à lei e imergiu na cultura de um povo. Foi na família que Jesus mostrou querer dar a Deus o primeiro lugar e ocupar-se em primeiro lugar nas coisas de Deus. Foi na vida de família que Jesus, consciente de ser o Filho de Deus, voltou para crescer, como homem, diante dos homens, “em tamanho, sabedoria e graça”. O filho de Deus pôde vir à vida nascendo de uma mãe virgem, sem contar para isso com uma família, mas sem ela não pôde crescer e amadurecer como homem! Uma virgem concebeu o filho de Deus; uma família o humanizou.
Vida de família e carisma salesiano
Para nós, filhos de Dom Bosco, a família não pode parecer um tema estranho à nossa vida e à nossa missão. Como educadores conhecemos bem a importância de criar um clima de família para a educação de crianças e meninos, de adolescentes e de jovens. Para tal escopo o melhor ambiente é precisamente o que reproduz “a experiência da casa”, onde os sentimentos, as atitudes, os ideais, os valores são comunicados vitalmente, muitas vezes com uma linguagem não-verbal e sobretudo não-sistemática, mas não menos eficaz e constante. A célebre expressão de Dom Bosco “a educação é coisa de coração”4 tem a sua tradução operativa na tarefa de abrir as portas do coração dos nossos meninos para que possam acolher e guardar as nossas propostas educativas.
Para nós, Família Salesiana, viver em família não é simplesmente uma opção pastoral estratégica, hoje muito urgente, mas uma modalidade de realizar o nosso carisma e um objetivo que deve ser privilegiado na nossa missão apostólica. Como traço carismático característico, nós Salesianos e Membros da Família Salesiana vivemos o espírito de família. Como missão prioritária, partilhamos com as famílias que nos confiam os filhos a tarefa de educá-los e evangelizá-los; como opção metodológica educativa trabalhamos recriando nos nossos ambientes o espírito de família.
“No princípio era a mãe” 5
Margarida Occhiena foi “a primeira educadora e mestra de ‘pedagogia’”6 de Dom Bosco.
“Todos conhecem – dizia João Paulo II aos educadores empenhados no mundo da escola reunidos em Turim em 1988 – a importância de Mamãe Margarida na vida de São João Bosco. Não somente deixou no Oratório de Valdocco aquele característico ‘sentido de família’ que ainda hoje subsiste, mas soube forjar o coração de Joãozinho naquela bondade e naquela amorevolezza que o tornarão o amigo e o pai dos seus pobres jovens.”7
Breve exposição biográfica
Convencido eu também do papel decisivo desempenhado por Mamãe Margarida na formação humana e cristã de Dom Bosco, como também na criação do ambiente educativo, “familiar”, de Valdocco, parece-me obrigatório lembrar aqui, embora brevemente, sua vida e delinear seu perfil espiritual.
Até à transferência para Valdocco (de 1788 a1846)
Nascida em Serra de Capriglio, distrito do pequeno povoado da província de Asti, em 1º de abril de 1788, de Melchior Occhiena e Domingas Bassone, Margarida foi batizada no mesmo dia do seu nascimento. Seus pais eram camponeses um tanto abastados, proprietários de sua casa e dos terrenos adjacentes.
Capriglio não tinha escola, por isso Margarida não aprendeu a ler e a escrever. Iletrada, porém, não significa ignorante: soube adquirir uma sabedoria eminente ouvindo com coração desperto na igreja paroquial as pregações, os catecismos e, mais ainda, conformando a isso sua experiência cotidiana, que não foi sempre bela e serena. Escreve o Pe. Lemoyne, autor em 1886 da primeira “biografia” escrita de Mamãe Margarida:
“Pela natureza tinha sido dotada de uma força de vontade que, ajudada por apurado bom senso e pela graça divina, devia torná-la vencedora de todos os obstáculos espirituais e materiais que haveria de encontrar no decorrer da vida... Reta em sua consciência, nos seus afetos, nos seus pensamentos, segura nos seus juízos acerca dos homens e das coisas, desenvolta em suas maneiras, franca no seu falar, não sabia o que significava hesitar... Tal franqueza foi uma salvaguarda da sua virtude, porque unida a uma prudência que não a deixava pisar em falso”.8
A dois quilômetros de Capriglio, na colina fronteira, nos Becchi, distrito de Morialdo e de Castelnuovo d’Asti, vivia Francisco Bosco, jovem camponês de 27 anos, viúvo, que criava Antônio, uma criança de 3 anos, pediu-a em casamento. Casando-se em 6 de junho de 1812, Margarida Bosco mudou-se para a cascina Biglione. A pequena família não tardou a crescer. Em 8 de abril de 1813 nasceu um primeiro filho, que foi chamado José, e dois anos depois, em 16 de agosto de 1815, um segundo, que foi chamado João Melchior: o futuro São João Bosco.
Quando Francisco morreu improvisamente aos 33 anos, Margarida, que contava apenas 29, tornou-se chefe da família – três filhos e a avó paterna – e responsável pelo trabalho do campo. Pouco depois de haver ficado viúva, recebeu a proposta de um casamento muito vantajoso: as crianças seriam confiadas a um tutor. Recusou categoricamente:
“Deus me deu um marido e o tirou. Morrendo ele me confiou três filhos, e eu seria mãe cruel se os abandonasse no momento em que mais precisam de mim”.
Agora é sobretudo a esses filhos que ela se dedicará para desempenhar sua missão de educadora. Nessa tarefa, Margarida manifestará seus dotes excepcionais: sua fé, sua virtude, seu saber fazer, sua sabedoria de camponesa piemontesa e de verdadeira cristã cheia de Espírito Santo.
Sabia adaptar-se a cada um de seus filhos. Antônio tinha perdido a mãe aos 3 anos de idade e o pai aos 9; adolescente irritável, jovem resmungão, a partir dos 18 anos tornou-se intratável, chegando até à violência. Margarida ouviu-o algumas vezes chamá-la de “madrasta”, ao passo que ela o tratava sempre como um filho, com infinita paciência. Mas sabia também ser justa e forte para a paz em casa, para o bem de José e de João, tomou as decisões dolorosas que se impunham. No fim de 1830 procedeu à divisão dos bens, casa e terrenos. Antônio, ficando só, não demorou em casar-se e teve sete filhos. Plenamente reconciliado com os seus, será um bom pai de família, muito estimado e um cristão fiel.
José, cinco anos mais jovem, era doce, conciliador e tranqüilo. Inseparável do irmão João, aceitava sem nenhum ressentimento seu ascendente. Adorava a mãe, e durante os longos anos de estudo de João será o filho obediente e laborioso no qual ela poderá se apoiar. Também ele casará jovem, aos 20 anos, com uma moça do povoado, Maria Colosso, com quem terá dez filhos.
João queria estudar. Mamãe Margarida, que procurou favorecê-lo neste desejo, encontrou a oposição decidida de Antônio. Coração partido, mandou-o trabalhar por vinte meses como empregadinho na herdade da família Moglia (1828-1829). Só depois que Antônio adquiriu sua autonomia, Mamãe Margarida teve a possibilidade de mandar João à escola pública em Castelnuovo (1831) e depois em Chieri, onde passará dez anos (1831-1841): quatro na escola pública e seis no seminário maior. Foi para Margarida um período finalmente tranqüilo, feliz, cheio de esperança, no qual ela se tornava avó dos filhos de Antônio e de José.
Dom Bosco, aos 70 e mais anos, lembrará o tom imperioso com o qual Mamãe Margarida, quando em 1834 teve de decidir concretamente o seu futuro, lhe dissera:
“Ouve, João. Nada tenho a dizer-te no que diz respeito à tua vocação, a não ser que a sigas como Deus te inspira. Não te preocupes comigo. De ti nada espero. E lembra bem isto: nasci na pobreza, vivi na pobreza, quero morrer na pobreza. Antes eu afirmo: se por desventura te tornares um padre rico, jamais irei fazer-te uma única visita”.9
Dia 26 de outubro de 1835, com 20 anos de idade, João vestiu o hábito clerical em Castelnuovo na igreja paroquial. Desde esse dia, conta-nos Dom Bosco,
“minha mãe tinha os olhos fixos em mim. Na noite anterior à partida, chamou-me para perto de si e me fez este admirável discurso: ‘Meu Joãozinho, acabas de receber a batina. Sinto toda a consolação que uma mãe pode sentir pela alegria do seu filho. Lembra-te, porém, que não é o hábito que honra o teu estado, mas as virtudes que praticares. Se por desgraça chegares um dia a duvidar da tua vocação, ah! por caridade! não desonres a batina. Larga-a imediatamente. Prefiro ter como filho um pobre camponês a um padre negligente nos seus deveres!’”.10
João foi ordenado sacerdote em Turim no dia 5 de junho de 1841. No dia seguinte, após haver celebrado a Missa solene na igreja paroquial de Castelnuovo, subiu aos Becchi: ao rever os lugares do primeiro sonho e de tantas recordações, o neo-sacerdote comoveu-se até às lágrimas. No silêncio da noite encontrou-se a sós com sua mãe.
“João – disse-lhe a mãe –, és padre, rezas a Missa, e assim a partir de agora estás mais perto de Jesus Cristo. Lembra-te, porém, que começar a dizer Missa quer dizer começar a sofrer. Não perceberás logo isso, mas pouco a pouco verás que tua mãe te disse a verdade. Estou certa de que todos os dias rezarás por mim, esteja eu viva ou morta: isso me basta. De ora em diante pensa somente na salvação das almas, e não tenhas nenhuma preocupação comigo!”11
Em 3 de novembro de 1841, Dom Bosco, jovem sacerdote, despedia-se da mãe e dos irmãos e partia para Turim. Entrando no Colégio eclesiástico a conselho do Pe. José Cafasso, deu logo início ao seu apostolado entre os meninos da rua e nos cárceres. Dia 8 de dezembro inaugurou sua catequese com Bartolomeu Garelli: era o início da grande aventura salesiana.
O jovem padre começou a reunir um batalhão cada vez mais numeroso de meninos no Colégio eclesiástico, depois na obra da marquesa Barolo, em seguida nos prados do entorno da cidade, até que, na Páscoa de 1846, entrou finalmente no Telheiro Pinardi, em Valdocco. Durante esse tempo, Margarida vivia tranqüila nos Becchi, avó feliz de um bando de netinhos, com idade entre poucos meses e os 13 anos.
Em julho de 1846, João, esgotado pelo seu trabalho apostólico, encontra-se às portas da morte. Recuperando-se subiu aos Becchi para uma longa convalescença: mãe e filho reencontram-se na intimidade. O coração de João Bosco sacerdote ficou em Turim: tantos jovens o esperam! Mas há um problema para resolver: jovem sacerdote de 30 anos, não pode morar sozinho nos locais que havia pouco alugara na casa Pinardi, naquele bairro de má fama de Valdocco. “Leva tua mãe contigo!”, diz-lhe o pároco de Castelnuovo. Dom Bosco contou assim a generosa reação de sua mãe: “Se achas que essa é a vontade de Deus, estou disposta a partir agora mesmo”.12 Dia 3 de novembro, mãe e filho partiam, a pé, para Turim.
Dez anos com Dom Bosco (de 1846 a 1856)
Para Mamãe Margarida começava o último período, em que sua vida se confundirá com a de seu filho e com a fundação da própria obra salesiana.
Ajudando Dom Bosco, Margarida queria, é claro, servir os meninos aos quais o filho havia dedicado a vida. Primeiramente teve de habituar-se aos gritos e à algazarra dos dias de oratório, às horas altas das escolas noturnas. Depois veio o acolhimento em casa dos primeiros órfãos vagabundos. Quantos eram esses meninos que constituirão a grande família de mamãe Margarida? Uns quinze em 1848, trinta em 1849, cinqüenta em 1850. A construção de uma casa de dois andares permitiu acolher cerca de setenta em 1853, e cerca de cem em 1854: dois terços aprendizes, um terço estudantes ou seminaristas da diocese, que iam trabalhar ou estudar na cidade. Uns trinta pelo menos estavam inteiramente aos cuidados de Dom Bosco.
Uma noite de 1850, Margarida teve sua hora de Getsêmani. Quatro anos dessa vida bastavam. Desabafou com o filho: “Não agüento mais! Todos os dias os meninos inventam alguma novidade... Deixa-me ir embora. Deixa-me voltar aos Becchi. Lá terminarei tranqüilamente os meus dias”. Abalado, Dom Bosco fixa os olhos em sua mãe, depois seus olhos se voltam para o Crucifixo suspenso à parede. Margarida acompanha esse olhar. “Tens razão, disse, tens razão.” E retomou o avental. “Desde esse momento, atestam as Memórias, jamais escapou-lhe dos lábios uma palavra de insatisfação.”13 Quem poderá medir tal sacrifício pessoal no desenvolvimento da obra salesiana?
Certamente Mamãe Margarida esteve presente, também ativamente, no primeiro desenvolvimento “espiritual” da obra: os primeiros momentos de formação do método e do clima salesiano, a presença e o acompanhamento dos primeiros discípulos: Cagliero (1851), Rua (1852), Pe. Alasonatti e Domingos Sávio (1854); as primeiras Companhias, os primeiros frutos de santidade, os primeiros clérigos e a preparação da Sociedade Salesiana, que será fundada somente três anos depois de sua morte. Tão longa presença feminina e materna é um fato único na história dos Fundadores de Congregações educativas. “A Congregação Salesiana foi embalada nos joelhos de Mamãe Margarida”, escreveu um biógrafo de Dom Bosco.14
Entretanto, a mais bela tarefa de Margarida foi aquela em que empregava não somente os braços, mas o coração, o talento inato de educadora. Todos aqueles órfãos chamavam-na “Mamãe”: era bem claro que não se limitava a ser a cozinheira e lavadeira. Tinham para com ela total confiança, afeto de órfãos que se sentiam amados. Ao longo do dia, ela travava preciosos diálogos para corrigir, exortar, consolar, oferecer o conselho oportuno, para formar o caráter deles e o coração de quem crê, para lembrar a presença de Deus, convidar a confessar-se com Dom Bosco e recomendar a devoção a Maria.
Conhecia, pois, um por um, todos esses meninos, e sabia julgá-los. Por dois anos pôde observar um adolescente singular vindo de Mondonio: sua conduta a impressionava. Disse um dia a Dom Bosco:
“Tens muitos jovens bons, mas nenhum supera a beleza do coração e da alma de Domingos Sávio... Vejo-o sempre a rezar. Fica na igreja como um anjo do paraíso”.15
Naqueles anos, os únicos momentos de calma e de descanso de Mamãe Margarida, foram as poucas semanas das férias de outono nos Becchi. Repouso, por outra parte, relativo, porque Dom Bosco levava para lá todos os meninos sem família. Voltando das férias de 1856, em meados de novembro, sentiu-se mal e pôs-se na cama. O médico diagnosticou uma pneumonia. Morreu dia 25 de novembro às 3 horas; na noite anterior, o Pe. Borel, seu confessor, havia-lhe administrado os últimos sacramentos.
“Deus – disse a Dom Bosco – sabe quanto te amei; mas lá de cima será melhor ainda. Fiz tudo o que pude. Se alguma vez pareci severa, era para o vosso bem. Diz aos meninos que trabalhei por eles, como uma mãe. Rezem e ofereçam uma santa comunhão por mim.”16
Mamãe Margarida viveu pobre e pobre morreu: levada à vala comum, nunca teve seu nome escrito sobre uma laje tumular.
Perfil espiritual de Mamãe Margarida
A morte da mãe
“evidenciou ainda mais o forte vínculo entre Dom Bosco e a mãe, a relação primária que lhe tinha plasmado os traços fundamentais da personalidade”.17
Amada por salesianos e jovens, logo após a morte, surgiu uma convicção comum: “era uma santa!”. No entanto a Causa de Beatificação e de Canonização de Mamãe Margarida foi introduzida somente em 8 de setembro de 1994. Concluído em 1996 o Processo diocesano em Turim, a Positio (isto é, a documentação sobre a fama de santidade e sobre a heroicidade da vida e das virtudes) foi entregue oficialmente à Congregação para as Causas dos Santos em 25 de janeiro de 2000.18
Não resisto ao desejo de traçar aqui seu perfil espiritual, como emerge justamente da Positio.
Mulher forte
Em toda a sua existência jamais se descobrem momentos de fácil abandono às inclinações naturais. Manifesta um equilíbrio extraordinário ao harmonizar tensões complicadas na vida de família. Sua atitude revela-se sempre vigilante e como que guiada por uma preocupação superior: a de que discerne qual seja o comportamento melhor para o bem dos seus filhos diante de Deus. Apresenta-se assim terna e firme, compreensiva e irremovível, paciente e decidida.
Para levar Margarida à harmonia dos contrários havia o fato de ter de fazer também de pai para seus filhos. Mamãe Margarida, que também teria tido a possibilidade de evitar a condição problemática de viúva, casando-se novamente, soube atingir e conservar sempre o justo equilíbrio entre esses dois papéis: uma maternidade suficientemente forte para compensar a ausência do pai, e uma “paternidade” suave para não comprometer o indispensável calor materno. Portanto, não com carícias vazias, nem gritos agastados, mas com firmeza e serenidade.
De sua aparência transparecia sempre a calma, a serenidade, o domínio de si, a verdadeira doçura. Não batia nos filhos, mas nunca cedia a eles. Ameaçava castigos severos, mas perdoava-os ao primeiro sinal de arrependimento. Num canto da cozinha – lembrava Dom Bosco – encostava-se uma pequena vara. Nunca a usou, mas deixou-a sempre naquele lugar. Era uma mãe dulcíssima, mas enérgica e forte.
Conseguiu administrar duas presenças que em geral resultam problemáticas numa família: a presença de uma sogra doente e a de um enteado particularmente difícil. Educadora sábia, conseguiu transformar uma condição familiar, rica de dificuldades, num ambiente educativo incisivo e fecundo.
Com o exemplo e a palavra ensinou aos filhos as grandes virtudes do humanismo piemontês daquele tempo: o sentido do dever e do trabalho, a coragem cotidiana de uma vida dura, a franqueza e a honestidade, o bom humor. Eles aprenderam também a respeitar os idosos e a abrir-se de boa mente ao serviço do próximo. Por outro lado, calma e forte, não receava dizer duas verdades àqueles cujas palavras ou atos provocavam escândalo. Tais exemplos desciam ao mais profundo da consciência dos três meninos.
A dimensão da fé dava também sabor sapiencial e incisividade a cada lição que esta mestra analfabeta dava a seus filhos.
Educadora “salesiana”
Foi essa arte educativa que permitiu a Mamãe Margarida individuar as energias escondidas em seus filhos, esclarecê-las, desenvolvê-las e depositá-las quase visivelmente nas mãos deles. Isto deve dizer-se, sobretudo, de seu fruto mais rico: João. Quão impressionante é notar em Mamãe Margarida um consciente e claro sentido de “responsabilidade materna” ao seguir cristãmente e de perto o próprio filho, embora deixando-o na sua autonomia vocacional, mas acompanhando-o ininterruptamente em todas as etapas da sua vida até à própria morte!
O sonho de Joãozinho Bosco aos 9 anos, se para ele foi revelador, foi decerto também (se não antes) para Mamãe Margarida. Foi ela que teve e expôs a interpretação: “Quem sabe não serás padre!”. Alguns anos depois, quando compreendeu que o ambiente de casa era negativo para João por causa da hostilidade do meio-irmão Antônio, ela fez o sacrifício de enviá-lo como empregadinho à propriedade Moglia de Moncucco. Uma mãe que se priva de um filho tão novo para mandá-lo trabalhar como lavrador longe de casa, faz um verdadeiro sacrifício, mas ela o fez para, além de eliminar um dissídio familiar, encaminhar João pela estrada que lhe (lhes) havia revelado o sonho.
Pode-se afirmar que se deve atribuir a Mamãe Margarida o mérito de ter inoculado em Dom Bosco as sementes do célebre trinômio: razão, religião, bondade [amorevolezza], que ela viveu simplesmente na sua calma, afabilidade e autoridade. A divina Providência concedeu-lhe a graça de ser uma educadora “salesiana” animada de um amor preventivo que sabia compreender, exigir, corrigir, ter paciência e sorrir.
Seus filhos eram vigiados, controlados e guiados, mas não oprimidos. Tinham de obedecer e pedir licença, mas a Mãe deixava-os tranqüilamente entregar-se à alegria e seus brinquedos. Jamais cedia aos caprichos, e corrigia amorosamente... O Pe. Lemoyne atesta:
“Queria a todo custo que a correção não provocasse zangas, desconfianças, desamor. Sua máxima relativamente a este ponto era precisa: levar os filhos a tudo fazerem por amor e para o agrado do Senhor. Por isso era uma mãe adorada”.19
Dom Bosco dirá mais tarde que a educação é coisa do coração: disso fizera feliz experiência no lar doméstico dos Becchi.
Catequista eficaz
Mamãe Margarida tinha a rara capacidade de tirar de tudo o que acontecia na vida uma ocasião para catequizar. Julgou-se a primeira responsável pelo ensinamento da fé aos filhos, e soube propor-lhes valores simples e fortes na sua escola de família. O que transmitiu em primeiro lugar aos filhos, com paciência, nos anos do crescimento, foi a sua fé adamantina, o sentido de um Deus de amor sempre presente, uma devoção terna a Maria.
Ficou célebre o catecismo de Mamãe Margarida. Ela, que não sabia ler nem escrever e que tinha aprendido de cor, na sua infância, as fórmulas necessárias, agora as transmitia aos filhos, e também as sintetizava e interpretava segundo o seu infalível instinto materno.
As grandes verdades da fé eram transmitidas da maneira mais simples e elementar, todas expressas em fórmulas brevíssimas:
•Deus te vê: era a verdade de cada momento, que não se destinava a incutir medo, mas a convencer os meninos de que Deus cuidava deles e de que a própria bondade de Deus pedia-lhes que retribuíssem com uma vida boa.
•Como Deus é bom!, exclamava toda vez que algo impressionava a fantasia dos meninos e despertava neles admiração.
•Com Deus não se brinca!, afirmava convicta quando se tratava de inculcar o horror do mal e do pecado.
•Temos pouco tempo para fazer o bem!, explicava quando queria estimulá-los a serem mais diligentes e generosos.
•Que adianta ter boas roupas, se depois a alma é feia?, observava quando queria educá-los a uma pobreza digna, e ao cuidado da beleza interior da alma.
Havia depois o catecismo dos sacramentos. Sabemos, pelo que conta o próprio Dom Bosco, como ela se interessou pelo pequeno João. Quando se aproximou o tempo da Primeira Comunhão, ela começou a apontar-lhe a cada dia alguma oração e alguma leitura especial, depois preparou o menino para uma boa confissão (e fê-la repetir três vezes durante o tempo da quaresma). Depois, ao chegar o grande dia (Páscoa de 1826), fez com que o menino fizesse deveras uma experiência de comunhão com Deus.
“Estou certa – dirá ao filho naquele dia – de que Deus tomou realmente posse do teu coração. Promete-lhe agora que farás o que puderes para te conservares bom até o fim da vida.”20
E havia, por fim, o catecismo da caridade: tanto nos anos de relativo conforto como nos da fome, a casa de Margarida ficou sempre aberta aos pobres, aos viandantes, aos ambulantes, aos guardas de perlustração que pediam um copo de vinho, às meninas em dificuldades morais, assim como ficou a casa à qual se dirigiam as vizinhas quando havia uma desgraça para aliviar, algum doente para assistir ou um moribundo para acompanhar à derradeira viagem.
Primeira cooperadora
Existem modalidades, acentos, tons no sistema preventivo praticado por Dom Bosco que têm um quê de materno, de doce, de assegurador, que autorizam a ver em Margarida não apenas uma figura feminina que exerce influência de longe, mas também a partir do interior como inspiradora e modelo, como colaboradora e, certamente, primeira cooperadora.
Foi precisamente a presença de Mamãe Margarida em Valdocco durante o último decênio da sua vida que influiu não marginalmente nesse “espírito de família” que todos consideramos como o coração do carisma salesiano. Pois não foi um decênio qualquer, mas o primeiro, aquele em que foram postas as bases de um clima que passará à história como clima de Valdocco. Dom Bosco tinha convidado a Mãe motivado por necessidades práticas. Na realidade nos planos de Deus essa presença destinava-se a transcender os limites de uma necessidade contingente, para se inscrever no quadro de uma colaboração providencial para um carisma ainda em estado nascente.
Mamãe Margarida teve consciência desta sua nova vocação. Aceitou-a com humildade e lucidez. Assim se explica a coragem demonstrada nas circunstâncias mais duras. É só pensar na epidemia da cólera. É só pensar em gestos e palavras que têm algo de profético, como usar as toalhas do altar para fazer faixas para os doentes. Valha, sobretudo, o exemplo da célebre “boa-noite”, uma nota original da tradição salesiana. Era um ponto a que Dom Bosco dava muita importância; foi inaugurado justamente pela Mãe com um pequeno sermão dirigido ao primeiro jovem abrigado.21 Dom Bosco depois continuaria este uso não na igreja à maneira de pregação, mas no pátio, nos corredores, ou nos pórticos, de um modo paterno e familiar.
A estatura interior desta mãe é tal que o filho, mesmo quando já experiente educador, terá sempre de aprender dela. Para resumir o que foi dito, valha o juízo do Pe. Lemoyne: “Nela podia dizer-se personificado o Oratório”.22
Valdocco, “uma família que educa”23
Apesar de Valdocco ter sido a primeira – e a única – instituição assistencial e educativa fundada e dirigida pessoalmente por Dom Bosco, a fisionomia típica da obra e sobretudo o sistema educativo de prevenção aí empregado apenas podem ser bem compreendidos em conexão não somente com Dom Bosco, com a sua experiência e o seu temperamento, mas também com os dos seus ajudantes. Desde o início o Oratório foi uma empresa comunitária, construída e levada avante em interação entre o fundador e os seus colaboradores.24
Dentre eles destaca-se um bom grupo de mulheres. Mamãe Margarida não foi, certamente, a única colaboradora de Dom Bosco no Oratório; “outras mães viveram em Valdocco, deixando sempre a marca familiar que necessariamente provinha da sua natureza e da sua experiência”. Morta Mamãe Margarida, Mariana, a irmã maior, ainda ficou no Oratório por quase um ano até sua morte. Depois “estabeleceu-se no Oratório a mãe do Pe. Rua, que era ajudada pela mãe do clérigo Bellia, pela mãe do cônego Gastaldi e outras. Viveu no Oratório também Mariana Magone, mãe do conhecido aluno de Dom Bosco”.25 Após sua morte, em 1872, desaparece a presença e a influência das mães no Oratório.26
Deve-se todavia ressaltar que a Mãe de Dom Bosco, durante o decênio 1846-1856, foi a principal companheira e cooperadora de Dom Bosco, partilhando com ele “pão, trabalho, cansaço, preocupações e missão juvenil”.27 “Mamãe Margarida” – esse já é seu nome definitivo em Valdocco – estará ativamente presente ao primeiro desenvolvimento “exterior” da obra: primeiro oratório, “casa anexa” ou pensionato para os primeiros aprendizes e estudantes, primeiras escolas e primeiras oficinas, igrejinha dedicada a São Francisco de Sales, lançamento das Leituras Católicas, num clima de revoluções e de ameaças a Dom Bosco (1853).
Naqueles dias, vivia-se no Oratório uma vida de família despreocupadamente, falta de recursos e cheia de sonhos; muitas vezes Dom Bosco devia sair de casa ou para buscar fundos para administrar, mesmo se com simplicidade, um pensionato cada vez mais numeroso, ou para encontrar um pouco de paz e escrever os seus livros na biblioteca do Convitto ou em outro lugar. Mamãe Margarida o substituía na assistência dos meninos, além de atender aos trabalhos domésticos ordinários, na cozinha de dia e remendando as roupas à noite. São fatos totalmente ordinários, “pequenos particulares” certamente, mas que “tiveram seu peso sob muitos aspectos da vida de Dom Bosco e dos jovens, e [que] nos ajudam a ver na sua concretude a ‘família’ do Oratório”:28 o Oratório, com efeito, na intenção de Dom Bosco “tinha de ser uma casa, isto é, uma família, e não queria ser um Colégio”.29
Pois bem, tempos atrás, o Pe. Egídio Viganó destacou com ênfase a volta da presença materna de Mamãe Margarida a Valdocco, e a sua contribuição para tornar “familiar” o clima do Oratório:
“A heróica mudança para Valdocco de Mamãe Margarida serviu para impregnar o ambiente daqueles pobres jovens do mesmo estilo familiar do qual brotou a substância do Sistema Preventivo e tantas modalidades tradicionais a ele ligadas. Dom Bosco tinha experimentado que a formação da sua personalidade estava vitalmente radicada no extraordinário clima de dedicação e bondade (dom de si) da sua família nos Becchi e quis reproduzir as qualidades mais significativas no Oratório de Valdocco entre aqueles jovens pobres e abandonados”.30
Torna-se óbvio, assim, que os componentes da “família educativa”31 que Dom Bosco quis se tornasse o seu Oratório não foram
“todos tomados somente por idealizações pedagógicas e teológicas, mas também do cotidiano da vida rústica piemontesa”.32
As presenças femininas das mães que foram a Valdocco e, antes de tudo, a de Mamãe Margarida, deram essa peculiar contribuição de fé e simplicidade, de concretude e sabedoria educativa.
A família como missão
Estas reflexões sobre Mamãe Margarida e a sua família nos fazem compreender que a família, além de ser parte, mesmo que indireta, da nossa missão, é, antes de mais e por sua natureza, uma instituição social cujos membros se encontram unidos intimamente por relações interpessoais de vários gêneros, mas todas elas animadas por um clima afetivo, comunicativo e normativo que as caracteriza de uma particular vitalidade carismática. Os nossos destinatários são os jovens, o nosso campo de trabalho, é a educação e a evangelização deles. Ambos, porém, jovens e educação, são inseparáveis da família.
Lembrava-o o Pe. Egídio Viganó em seu comentário ao Sínodo dos Bispos de 1980 sobre a família, após o qual foi publicada a Exortação apostólica Familiaris Consortio de João Paulo II:
“O compromisso da nossa vocação salesiana – escrevia o Pe. Viganó – deverá ser cumprido de maneira caracterizada com os humildes e os pobres. São eles que têm necessidade, primeiramente, da família e por eles Dom Bosco chegou – como escreve Pietro Braido – à sua invenção mais genial: o ‘carinho’ [amorevolezza] que educa no clima de uma família alegremente unida”.33
“Família, torna-te o que és!”
“Família, torna-te o que és!”: com este apelo João Paulo II convidava as famílias de todo o mundo a reencontrar em si mesma a própria verdade e a realizá-la em meio ao mundo. Hoje, num mundo minado pelo ceticismo, não pode deixar de ressoar ainda forte a exortação do Santo Padre que encorajava as famílias a descobrir esta verdade sobre si mesmas, acrescentando, “Família, crê no que és!”.
“Arquitetura de Deus”, plano de Deus inviolável, a família é também “arquitetura do homem”, compromisso do homem no plano divino.
Célula da sociedade
A família é fundamento e apoio da sociedade pela sua tarefa essencial de serviço à vida: em família nascem os cidadãos e na família eles encontram a primeira escola das virtudes que são a alma da vida e do desenvolvimento da própria sociedade.
Qual comunidade interpessoal de amor, a família encontra no dom de si a lei que a guia e a faz crescer. O dom de si inspira o amor dos cônjuges entre si e se coloca como modelo e norma de realizar-se nas relações entre irmãos e irmãs, e entre as diversas gerações que convivem em família. A comunhão e a participação vividas cotidianamente na casa, nos momentos de alegria e nos de dificuldade, representam para os filhos a mais concreta e eficaz pedagogia no mais amplo horizonte da sociedade. Cada criança é um dom aos irmãos, às irmãs, aos pais, para toda a família. Sua vida torna-se dom para os próprios doadores da vida, que não poderão deixar de sentir a presença do filho, sua participação na sua existência, sua contribuição para o bem na comunidade familiar e de toda a sociedade.
A mesma experiência de comunhão e de participação, que deve caracterizar a vida cotidiana em família, representa a sua primeira e fundamental contribuição à sociedade. As relações entre os membros da comunidade familiar são inspiradas e guiadas pela lei da “gratuidade” que, respeitando e favorecendo em todos e em cada um a dignidade pessoal como único título de valor, torna-se acolhida cordial, encontro e diálogo, disponibilidade desinteressada, serviço generoso, solidariedade profunda.
Assim, a promoção de uma autêntica e madura comunhão de pessoas na família se torna a primeira e insubstituível escola de socialidade. Ela representa um exemplo e um estímulo para as mais amplas relações interpessoais, evidenciando respeito, justiça, diálogo e amor, lugar nativo e instrumento eficaz de humanização e de personalização da sociedade.34
Tudo isso é importante de modo especial hoje se se quiser enfrentar eficazmente os dois modelos familiares redutivos e limitadores que são fruto da sociedade consumista hodierna: o da família-fortaleza, centrada egoisticamente em si mesma, e o da família-albergue, privada de identidade e de relacionalidade. Por conseguinte, diante de uma sociedade que corre o risco de ser cada vez mais despersonalizada e massificada, e, pois, desumana e desumanizadora com os efeitos negativos de tantas formas de “evasão”, a família possui e liberta ainda hoje energias formidáveis, capazes de arrancar o homem do anonimato, de mantê-lo consciente da sua dignidade pessoal, de enriquecê-lo de profunda humanidade e de inseri-lo ativamente com a sua unicidade e irrepetibilidade no tecido da sociedade.
Quando serve a vida, quando forma os cidadãos de amanhã, quando comunica-lhes os valores humanos que são fundamentais para a nação, quando introduz os filhos na sociedade, a família desempenha um papel essencial: ela é patrimônio comum da humanidade. A razão natural bem como a Revelação divina contêm esta verdade. Como dizia o Concílio Vaticano II, a família constitui então “a primeira e vital célula da sociedade”.35
Santuário da vida
A primeira e fundamental tarefa da família é o serviço à vida, que realiza ao longo da história a bênção originária do Criador, e transmite assim a imagem divina de homem a homem (cf. Gn 5,1ss). Esta responsabilidade brota de sua própria natureza – ser comunidade de vida e de amor, fundada sobre o matrimônio – e da sua missão de preservar, revelar e comunicar o amor. Está em jogo o próprio amor de Deus, do qual os pais são constituídos colaboradores e como que intérpretes ao transmitir a vida e educá-la segundo o seu projeto de Pai. Na família o amor continua, ao longo do tempo, a comunicar vida: faz-se gratuidade, acolhida, doação. Na família cada um é reconhecido, respeitado e honrado por ser pessoa e, se alguém tem mais necessidade, mais intensa e mais vigilante é o cuidado por ele.
A família é, pois, chamada em causa em todo o período de existência dos seus membros, do nascimento à morte. Ela é verdadeiramente o santuário da vida, o lugar em que a vida, dom de Deus, pode ser adequadamente acolhida e protegida contra os múltiplos ataques a que se acha exposta e pode desenvolver-se segundo as exigências de um autêntico crescimento humano.
Como Igreja doméstica, a família é chamada a anunciar, celebrar e servir o Evangelho da vida. Na procriação de uma nova vida, os pais advertem que o filho, se é fruto de sua recíproca doação de amor, é, por sua vez, um dom para ambos, um dom que jorra do “Dom”.
Anunciadora do evangelho da vida
É sobretudo por intermédio da educação dos filhos que a família cumpre sua missão de anunciar o Evangelho da vida. Com a palavra e com o exemplo, na cotidianidade das relações e também das opções com gestos e sinais concretos, os pais introduzem seus filhos na liberdade autêntica que se realiza no dom sincero de si, e desenvolvem neles o respeito do outro, o sentido da justiça, a acolhida cordial, o diálogo, o serviço generoso, a solidariedade e qualquer outro valor que ajude a compreender a vida como vocação e como missão de amor.
Assim, mesmo em meio às dificuldades da ação educativa, os pais devem com confiança e coragem formar os filhos nos valores essenciais da vida humana. E os filhos devem crescer numa justa liberdade ante os bens materiais, adotando um estilo de vida simples e austero, bem convencidos de que o homem vale mais por aquilo que é do que por aquilo que tem.
A ação educativa dos pais cristãos torna-se destarte serviço à fé dos filhos e ajuda para que correspondam à vocação recebida de Deus. Integra a missão educativa dos pais ensinar e testemunhar aos filhos o verdadeiro sentido do sofrer e do morrer: poderão fazê-lo se souberem estar atentos a qualquer sofrimento que encontram em torno de si e, antes ainda, se souberem desenvolver atitudes de vizinhança, de assistência e partilha com os pequenos, doentes e idosos no âmbito familiar.
Estamos todos conscientes de que crianças, meninos e jovens têm necessidade de uma educação humana e afetiva, que lhes estimule a personalidade. Têm necessidade de uma educação de sua sexualidade, que, para ser válida e plenamente humana, deve caminhar pari passu com a descoberta da capacidade de amar, inscrita por Deus no coração do homem. Trata-se de uma formação harmônica do amor co-responsável, guiada ao mesmo tempo pela Palavra de Deus e pela razão.
Escola de empenho social
Outra tarefa da família é a de formar os próprios filhos no amor e de praticar o amor em todo relacionamento interpessoal, de modo que a família não se feche no próprio âmbito, mas permaneça aberta à comunidade, inspirada pelo sentido da justiça, da solidariedade e da solicitude para com os outros, além do dever da própria responsabilidade para com a sociedade inteira.
Assim o serviço ao Evangelho da vida se expressa na concretização da solidariedade. A tarefa social da família não pode limitar-se à obra procriadora da geração biológica e à educação dos filhos. As famílias cristãmente inspiradas sentem um contínuo chamado a abrir-se às necessidades do próximo. Portanto, particularmente ou de forma associada, elas podem e devem dedicar-se a múltiplas obras de serviço social, especialmente a favor dos pobres. Tal obra se torna particularmente importante para socorrer todas as pessoas e situações que a organização previdencial e assistencial das autoridades públicas não consegue atingir.
Animada e apoiada pelo mandamento novo do amor, a família cristã vive a acolhida, o respeito, o serviço a qualquer outro homem, considerado sempre na sua dignidade de pessoa e de filho de Deus. A caridade vai além dos próprios irmãos de fé, porque “todo homem é meu irmão”; em cada um, sobretudo se pobre, fraco, sofredor e injustamente tratado, a caridade sabe descobrir o rosto de Cristo e um irmão para amar e servir. A família cristã se põe a serviço do homem e do mundo, realizando de fato uma autêntica “promoção humana”.
Sabemos todos que a distribuição injusta dos bens entre o mundo desenvolvido e o em via de desenvolvimento, entre ricos e pobres do mesmo país, o uso dos recursos naturais somente em benefício de poucos, o analfabetismo de massa, a permanência e ressurreição do racismo, o florescimento de conflitos étnicos e os conflitos armados têm sempre produzido um efeito devastador na família. E, por outro lado, deve-se ressaltar que a família é o primeiro e principal ambiente educativo no qual podem florescer valores diversos, inspirados na comunhão e no amor.
A título de exemplo, gostaria de destacar a importância cada vez maior que na nossa sociedade assume a hospitalidade, em todas as suas formas: do abrir a porta da própria casa e ainda mais do próprio coração aos apelos dos irmãos, ao compromisso concreto de garantir a cada família uma casa própria, como ambiente natural que a conserva e faz crescer. Sobretudo a família cristã é chamada a ouvir e a fazer-se testemunha da recomendação do Apóstolo: “Prossegui firmes na prática da hospitalidade” (Rm 12,13). Realizará assim, imitando o exemplo e partilhando a caridade de Cristo, a acolhida do irmão necessitado: “Quem der, ainda que seja um copo de água fresca a um destes pequenos, por ser meu discípulo, em verdade eu vos digo: não ficará sem receber sua recompensa” (Mt 10,42).
Outra expressão particularmente significativa de solidariedade para com as famílias é a disponibilidade para adotar ou confiar meninos abandonados pelos pais ou de algum modo em situações de grave desconforto. O verdadeiro amor paterno e materno sabe ir além dos laços da carne e do sangue e acolher também filhos de outras famílias, oferecendo a eles o necessário para a sua vida e seu pleno desenvolvimento.
Os Padres da Igreja falaram muitas vezes da família como de “igreja doméstica”, de “pequena igreja”. “Estar juntos” como família, traduz-se no ser uns para os outros e no criar um espaço comunitário para a afirmação de todo homem e de toda mulher. Por vezes se trata de pessoas com deficiências físicas ou psíquicas, das quais a sociedade, chamada “progressista”, prefere livrar-se. Alguma vez também alguma família que se diz cristã pode comportar-se segundo estes cânones. É muito triste quando as pessoas se desembaraçam de quem é idoso ou apresenta deformações ou é atingido por doenças. Age-se dessa maneira porque falta a fé naquele Deus pelo qual “todos vivem” (Lc 20,38) e pelo qual todos são chamados à plenitude da Vida.
“Família, crê no que és!”
A família não é o produto de uma cultura, o resultado de uma evolução, um modo de vida comunitário ligado a determinada organização social: ela é uma instituição natural, anterior a toda organização política ou jurídica. Tem a própria consistência de uma verdade por ela não produzida, porque querida diretamente por Deus. Numa fidelidade sem reservas, o homem e a mulher se dão um ao outro e se amam com um amor aberto à vida.
O que até agora vos comuniquei está expresso de maneira autorizada no quarto dever que a Familiaris Consortio confia à família: a formação de uma comunidade de pessoas, o serviço à vida, a participação no desenvolvimento da sociedade, a missão evangelizadora.
Mas para que tais tarefas se realizem e, então se cumpra o apelo dirigido às famílias pelo Papa João Paulo II: “Família, crê no que és!”, é necessário antes de mais que a família – os cônjuges, os filhos e todos os componentes do núcleo familiar – se convença de tais tarefas, que provêm da própria natureza e da missão da instituição familiar e fazem parte do plano de Deus para a família e cada uma das pessoas que a compõem.
Trata-se de uma convicção que, para os crentes, não é apenas de ordem racional ou social, mas se apóia na fé em Deus que criou a célula familiar como comunidade de amor e de vida, e mediante o seu Filho santificou com a graça do sacramento, para que seja para todos sinal e instrumento de comunhão.
Aplicações pastorais e pedagógicas
Como de costume, a Estréia, e de modo particular esta de 2006, nos dá a oportunidade de oferecer a toda a Família Salesiana algumas sugestões pastorais e aplicações pedagógicas.
Vi e apreciei o esforço bem produtivo de algumas Inspetorias Salesianas para traduzir em programas educativos a Proposta Pastoral com a qual quis acompanhar esta Estréia, como já havia feito em 2004. A revista Note di Pastorale Giovanile também dedicou um número monográfico para aprofundar o tema e oferecer oportunos e preciosos subsídios. Convido-vos a ter presentes todos esses materiais, que podem ser muito úteis, ao mesmo tempo que pessoalmente vos torno a propor as grandes linhas inspiradoras da proposta pastoral.
Eis as minhas indicações
Garantir uma atenção especial à família na nossa proposta educativa e evangelizadora exige, ente outras coisas:
•Garantir um especial empenho de educar para o amor no âmbito da ação educativa salesiana e no itinerário de educação na fé proposto aos jovens. O CG23 apresentava a educação para o amor como um dos nós em que se manifesta a incidência da fé sobre a vida ou a sua irrelevância prática. A experiência típica de Dom Bosco e o conteúdo educativo e espiritual do Sistema Preventivo nos orientam a:
–dar especial importância ao empenho de criar em torno dos jovens um clima educativo rico de intercâmbios comunicativo-afetivos;
–apreciar os valores autênticos da castidade;
–promover as relações entre rapazes e moças no respeito de si e dos outros, na reciprocidade e no enriquecimento mútuo, na alegria de uma doação gratuita;
–garantir no ambiente educativo a presença de testemunhos límpidos e felizes de amor, de modo especial mediante a doação na castidade.
•Acompanhar e apoiar os pais em suas responsabilidades educativas, envolvendo-os plenamente na realização do Projeto educativo-pastoral salesiano.
O CG24, falando do envolvimento dos leigos na missão salesiana, reconhecia o compromisso dos pais e o papel das famílias nas nossas presenças, mas exigia também que se intensificasse a colaboração com a família, como primeira educadora dos seus filhos e das suas filhas (cf. CG24, 20 e 177). Para isso propunha que se valorizasse a relação insubstituível dos pais e das famílias dos jovens, favorecendo a constituição de comissões e associações que podem garantir e enriquecer com sua participação a missão educativa de Dom Bosco (cf. CG24, 115).
•Promover e qualificar o estilo salesiano de família: na própria família, na comunidade salesiana, na comunidade educativo-pastoral.
O espírito salesiano de família constitui uma característica da nossa espiritualidade (cf. CG24, 91-93) e se expressa:
–na escuta incondicional do outro;
–na acolhida gratuita das pessoas;
–na presença animadora do educador entre os jovens;
–no diálogo e na comunicação interpessoal e insubstituível;
–na co-responsabilidade num projeto educativo partilhado.
•Crescer no espírito e na experiência de Família Salesiana a serviço do compromisso educativo e pastoral entre os jovens.
A Família Salesiana nos pede de modo especial um empenho convergente para oferecer a cada jovem uma proposta e um acompanhamento vocacional adequado e exigente (cf. CG25, 41 e 48). Para isso é preciso crescer como Família mediante:
–o bom funcionamento da Consultoria da Família Salesiana;
–a inserção de jovens nela;
–iniciativas e atividades que levem a Família Salesiana a operar sempre mais como “movimento espiritual apostólico”.
Algumas sugestões práticas
•Preparar, no itinerário de formação dos jovens, um caminho gradual e sistemático de educação no amor, que ajude os adolescentes e os jovens:
–a captar o valor humano e cristão da sexualidade;
–a amadurecer um relacionamento positivo e aberto entre rapazes e moças;
–a enfrentar, à luz da dignidade da pessoa humana, valores da vida e critérios do Evangelho, as diversas questões modernas sobre a vida e sobre a sexualidade humana;
–a abrir-se ao projeto de Deus como caminho concreto para viver a própria vocação para o amor.
Dever-se-á dar especial importância a este aspecto nos percursos formativos propostos nas associações e nos grupos do Movimento Juvenil Salesiano e no acompanhamento pessoal dos jovens.
•Promover entre os jovens adultos dos nossos ambientes (animadores, voluntários, colaboradores jovens...) percursos concretos de formação, acompanhamento e discernimento da vocação para o matrimônio cristão. Nesse empenho se procurará suscitar a colaboração de casais cristãos já inseridos nos grupos laicais da Família Salesiana.
•Suscitar nas nossas presenças grupos, movimentos e associações de casais e de famílias que as possam ajudar a viver e a aprofundar a própria vocação matrimonial e a assumir com empenho as próprias responsabilidades educativas. Na Família Salesiana existem os grupos de “Famiglie Don Bosco”, “Hogares Don Bosco”, promovidos e animados pelos Cooperadores Salesianos. Mas existem também várias outras associações familiares como “Movimento Familiar Cristão”, “Encontros de Casais” etc.
•Apoiar os pais dos rapazes/moças das nossas obras em sua responsabilidade educativa, mediante a criação de associações de pais, escolas de pais etc. com uma proposta concreta e sistemática de formação e partilha sobre temáticas educativas.
•Revigorar em cada presença salesiana a comunidade educativo-pastoral, com particular atenção às relações pessoais e ao clima de família, à participação mais ampla possível e à partilha dos valores salesianos e dos objetivos do projeto educativo-pastoral. Desta maneira, a obra salesiana se tornará uma casa para os meninos e também um apoio para as famílias envolvidas.
•Envolver as famílias no caminho de educação e de evangelização que propomos e animamos entre os jovens, através de iniciativas como encontros de partilha entre pais e filhos, catequese familiar, envolvimento de pais na animação dos grupos do MJS, celebrações e encontros juntos, comunidades cristãs familiares como ponto de referência para o caminho de fé proposto aos jovens etc.
•Encorajar, preparar e acompanhar os nossos leigos para que promovam e defendam na sociedade os direitos da família, diante de leis e situações que a prejudicam.
•Aprofundar o sentido de Família Salesiana entre os diversos grupos presentes num mesmo território, mediante o conhecimento e a partilha da Carta da comunhão e da Carta da missão e a atuação da “Consultoria da Família Salesiana” nos diversos níveis.
Conclusão: uma lenda de sabor sapiencial
E agora, para concluir, como fiz em anteriores comentários da Estréia, apresento-vos uma lenda que pode representar uma síntese de quanto expressei neste comentário.
Uma família
No coração de um grande vale coberto de campos, prados e bosques, numa pequena casa de dois andares, vivia uma família feliz. Compunha-se, então, de mãe, pai e um menino loiro, de seis anos. O pai trabalhava numa fábrica de torneiras, a mãe cultivava a horta atrás da casa e governava com autoridade doze galinhas tagarelas e um galo prepotente. O menino ia à escola feliz e ufano de seus progressos: já tinha aprendido a escrever o próprio nome e sabia o significado da palavra “efervescente”.
No centro do vale corria um regato alegre e tortuoso.
A casucha ficava um pouco isolada do povoado e assim, no domingo, a pequena família comprimia-se num pequeno auto e ia à missa na igreja paroquial. Depois, conforme a estação, comiam um sorvete ou bebiam chocolate quente.
À noite, havia sempre em casa um pouco de balbúrdia, porque o menino, antes de ir para a cama, sempre encontrava uma desculpa, como contar as estrelas ou os vaga-lumes ou os quadradinhos da toalha.
Antes de dormir, todos rezavam juntos. Um anjo de Deus recolhia todas as noites as orações e as levava para o céu.
Num outono, choveu por muitos dias. O regato tornou-se uma torrente de água escura. Em determinado ponto, troncos e lama formaram um dique que criou lago lamacento. À noitinha, sob a pressão da água, o dique rompeu-se. O vale começou a submergir-se na água.
O pai, então, acordou a mãe e o menino. Assustados, estreitaram-se num abraço, porque a água havia invadido o andar térreo. E continuava a subir. Cada vez mais escura, cada vez mais veloz.
“Vamos subir ao telhado!”, disse o pai. Tomou o menino, que, olhos apavorados, se lhe pendurava silencioso ao pescoço, subiu ao forro e daí ao telhado. A mãe os seguiu.
No teto sentaram-se quais náufragos numa ilhota que se tornava cada vez mais pequenas. Porque a água continuava a subir e chegou implacável aos joelhos do pai.
O bom homem firmou-se bem no telhado, abraçou a mãe e lhe disse: “Pega o menino nos braços e sobe em meus ombros!”.
Mãe e filho subiram nos ombros do pai, que continuou: “Põe-te de pé sobre meus ombros e ergue o menino sobre os teus. Não tenhas medo. Aconteça o que acontecer, eu não te largarei!”.
A mãe beijou o menino e disse: “Estás sobre meus ombros e não tenhas medo. Aconteça o que acontecer, eu não te largarei!”.
A água continuava a subir. Submergiu o pai, e seus braços estendidos seguravam a mãe, depois engoliu a mãe e seus braços estendidos seguravam o menino. Mas o pai não largou a presa nem a mãe. A água continuou a subir. Chegou à boca do menino, aos olhos, à fronte.
O anjo do Senhor, que costumava recolher as orações da noite, viu apenas um cabelinho loiro despontar da água turva.
Com leve movimento pegou a madeixa loira e puxou. Preso aos cabelos loiros subiu o menino, e presa ao menino veio a mãe e preso à mãe veio para tona o pai. Nenhum havia largado a presa.
O anjo alçou vôo e pousou docemente a original cadeia na colina mais alta, onde a água jamais haveria de chegar. Pai, mãe e menino rolavam sobre a erva. Depois se abraçaram chorando e rindo.
Em vez das orações, naquela noite o anjo levou ao céu o amor. As legiões celestes vibraram num fragoroso aplauso.
Eis, meus caros, trata-se de uma “parábola” muito salesiana, porque a mensagem é que começando dos pequenos levamos para o alto o resto da família.
Renovando votos de um Bom Ano de 2006, que iniciamos sob a proteção de Maria, a Mãe de Deus. Que ela nos ensine a contemplar a família que conseguiu criar em Nazaré para compreender-lhe o segredo e imitá-la.
Com afeto, em Dom Bosco,
Pe. Pascual Chávez V.
Reitor-Mor
Solenidade da Maternidade divina de Maria
Roma, 1° de janeiro de 2006.
Notas
1L’Osservatore Romano, 10-11 de janeiro de 2005, p. 5.
2Novo millennio ineunte, n. 47.
3Audiência com os participantes da LIV Assembléia Geral da Conferência Episcopal Italiana, OR 30-31 de maio de 2005, p. 5.
4“Lettera circolare di Don Bosco sui castighi... 1883”, Epistolario di San Giovanni Bosco (a cura di E. Ceria), Vol. IV. SEI, Turim, p. 209.
5Assim começava sua biografia de Dom Bosco J. Joergensen, Don Bosco (ed. italiana aos cuidados de A. Cojazzi). SEI, Turim, 1929, p. 19.
6P. Braido, Prevenir não reprimir: o sistema educativo de Dom Bosco. Editora Salesiana, São Paulo, 2004, p. 130.
7“Discurso aos agentes da escola”. Texto citado na carta circular do Pe. Egídio Viganó, O Papa nos fala de Dom Bosco, ACG 328, p. 20.
8Mais que uma biografia, a obra de Lemoyne deveria ser lida como uma narração exemplar, de caráter edificante. O mesmo autor tinha consciência disso quando intitulou o pequeno volume Scene morali di famiglia esposte nella vita di Margherita Bosco. Racconto edificante ed ameno. Turim, Tip. Salesiana, 1886, 192 páginas.
9Cf. Memorie Biografiche, I, p. 296.
10Memórias do Oratório (edição aos cuidados de A. da Silva Ferreira). Editora Salesiana, São Paulo, 2005, p. 91.
11Memorie Biografiche, I, p. 522.
12Memórias do Oratório, p. 190.
13Memorie Biografiche, IV, p. 233.
14Terésio Bosco, Dom Bosco: uma biografia nova. 6ª ed. Editora Salesiana, São Paulo, 2002.
15Memorie Biografiche, V, p. 207.
16Memorie Biografiche, V, p. 563.
17Pietro Braido, Don Bosco, prete dei giovani nel secolo delle libertà. Vol. 1. LAS, Roma, 2003, p. 317.
18Nesse trabalho teve grande mérito a Comissão Histórica que se ocupou da Causa. Era composta pela irmã P. Cavaglià e pelos padres F. Desramaut, R. Farina, G. Milone, F. Moto e G. Tuninetti.
19G. B. Lemoyne, Scene morali di famiglia esposte nella vita di Margherita Bosco. Turim, Tip. Salesiana, 1886, p. 39.
20Memórias do Oratório, p. 39.
21Dom Bosco narra este episódio nas Memórias do Oratório, p. 196-197.
22Memorie Biografiche, III, p. 376.
23A fórmula é tirada do testemunho do próprio Dom Bosco: “Esta Congregação em 1841 não passava de um catecismo, um jardim de recreio festivo, ao qual em 1846 se acrescentou um Abrigo para artesãos pobres, formando um Instituto privado à semelhança de numerosa família” (G. Bosco, “Brevi notizie sulla Congregazione di S. Francesco di Sales dall’anno 1841 a 1879”, in: Esposizione alla S. Sede sullo stato morale e materiale della Pia Società di S. Francesco di Sales. S. Pier d’Arena, Tip. Salesiana, 1879 (OE Vol. XXXI, p. 240).
24Cf. Prevenir não reprimir, p. 147.
25Cf. P. Stella, Don Bosco nella storia della religiosità cattolica, Vol. I: Vita e Opere. LAS, Roma, 1997, p. 115.
26“Eram tempos em que o Colégio já estava bem organizado, a vida religiosa da Congregação já não comportava a presença de mulheres em casa e Dom Bosco já pensava nas Filhas de Maria Auxiliadora” (P. Stella, idem, p. 115).
27P. Braido, Don Bosco, prete dei giovani nel secolo delle libertà, p. 213.
28P. Stella, op. cit., p. 115. Cf. José M. Prellezo, “Don Bosco, fundador de comunidad. Aproximación a la comunidad de Valdocco”, Cuadernos de Formación Permanente 7 (2001), p. 166.
29A. Caviglia, “Il Magone Michele”, in: Opere e scritti editi e inediti di Don Bosco, Vol. V. SEI, Turim, 1965, p. 141.
30E. Viganó, No ano da família. ACG 349, junho de 1994, p. 29.
31Tomo a expressão do P. Braido, L’esperienza pedagogica di Don Bosco. LAS, Roma, 1988, p. 138.
32Cf. P. Braido, L’esperienza pedagogica di Don Bosco. Para a reconstrução histórica é interessante todo o capítulo 4.
33E. Viganó, Apelos do Sínodo de 1980. ACG 299, dezembro de 1980, p. 29.
34Francesco di Felice, Radici umane e valori cristiani della famiglia. Libreria Editrice Vaticana, 2005, p. 138s.
35Apostolicam Actuositatem, n. 11.