301-350|pt|304 - A Família Salesiana


Egídio Viganò



A FAMÍLIA SALESIANA



Atos do Conselho Superior



Ano LXIII – ABRIL-JUNHO, 1982



N. 304



Introdução. — Preciosa herança que exige fidelidade. — Eclesialidade do Fundador — Dom Bosco como construtor de uma “Família espiritual”. — A energia unificadora do seu “carisma”. — Relançamento capitular. — “Para a frente”, “juntos”! —Problemas e perspectivas. — Conclusão.



Roma, 24 de fevereiro de 1982.



Queridos Irmãos,



hoje começa a Quaresma. Estamo-nos pre­parando para a celebração do mistério pascal. O amor e seguimento de Cristo, Amigo e Salva­dor dos jovens, é a alma da nossa vocação. Desde o sacramento eucarístico, Nosso Senhor nos incita quotidianamente a renovar a alegre doação e nossa industriosa operosidade na missão juvenil e popular.

Os meus contatos destes anos convosco, em várias regiões do mundo, fizeram-me constatar sempre mais claramente a enorme exigência que há em toda a parte de uma presença mais numerosa e mais eficaz, mais autêntica e gene­rosa da Vocação salesiana. Quanta juventude, em todos os continentes, tem fome e sede de verdade e de amor e procura inquieta amigos como Dom Bosco.

Estou chegando de minha terceira viagem à África; desta vez nas suas regiões ocidentais. Pude dialogar com os nossos primeiros missio­nários do Senegal e dos países vizinhos. Há nas missões urgente necessidade de uma presença salesiana “completa”: não só de Irmãos, mas também de Filhas de Maria Auxiliadora, de Cooperadores, de colaboradores que se inspirem no projeto juvenil e popular do nosso querido Fundador.

As necessidades e urgências dos nossos des­tinatários nos abalam e fazem compreender que a missão de Dom Bosco exige não só a nossa presença de consagrados, mas a de toda a Família Salesiana com os diversos grupos que a compõem.

Em janeiro, antes de partir para Dacar, pude assistir, aqui na Casa Geral, à Semana de Espiritualidade sobre o tema: “As Vocações na Família Salesiana”. Ao voltar, pude acompanhar um encontro de reflexão, cuidadosa e antecipa­damente preparado com nossos estudiosos, sobre o argumento específico da “Família Sale­siana”, na sua realidade histórico-carismática.1

No encerramento do Capítulo Geral das Filhas de Maria Auxiliadora, pude ler com grande prazer um artigo de suas Constituições renovadas, que trata justamente deste aspecto especial. O artigo está colocado no início das Constituições, no capítulo primeiro, que descre­ve a identidade do Instituto. Ei-lo: “O nosso Instituto é parte viva da Família Salesiana, que atualiza na história, de formas diversas, o espí­rito e a missão de Dom Bosco, exprimindo-lhe a novidade perene. O Reitor-Mor da Sociedade de S. Francisco de Sales — como sucessor de Dom Bosco — é seu animador e centro de unidade. Na Família Salesiana partilhamos a herança espiritual do Fundador e oferecemos, como aconteceu em Mornese, a contribuição original da nossa vocação”.2

Além disso, depois de minhas cartas às Voluntárias de Dom Bosco3 e às Filhas de Maria Auxiliadora4 e a aceitação, por parte de todos os grupos, do Reitor-Mor — sucessor de Dom Bosco — como centro de unidade e de anima­ção da mútua comunhão, e depois de verificar a ação do Conselheiro para a Família Salesiana no fim do quarto ano da sua instituição, parecia-me oportuno refletirmos juntos sobre o tema da nossa Família Salesiana. Tudo isso e o desejo várias vezes demonstrado pelo Conse­lheiro, P. João Raineri, de que eu escrevesse uma circular para lembrar aos Irmãos a impor­tância e a urgência de assumir com mais cons­ciência e competência as responsabilidades que temos neste campo, levam-me a convidar-vos a meditar sobre um argumento tão atual e fecundo da nossa comum Vocação.

Falamos da Família Salesiana com base, é claro, em quanto afirma o artigo 5º das Cons­tituições e o texto correspondente do Capítulo Geral Especial.5

Seja ela objeto de meditação, de intercâm­bios comunitários e de oração.



Preciosa herança que exige fidelidade



A “Família Salesiana” de Dom Bosco é um fato eclesial.

Indica a coparticipação no espírito de Dom Bosco e na sua missão com os consequentes laços que intercorrem entre os vários grupos de congregados: Salesianos, Filhas de Maria Auxiliadora, Cooperadores, e outros grupos ins­tituídos posteriormente.

Todos juntos constituímos na Igreja uma espécie de “etnia espiritual”. Essa comunhão “começa a aparecer a partir de um dado histó­rico complexo. Dom Bosco, para realizar a sua vocação de salvação da juventude pobre e aban­donada, procurou uma ampla união de forças apostólicas na unidade articulada e vária de uma ‘Família’”.6

Ela já está comprovada por uma experiên­cia vivida em comum por mais de um século.

Depois do Concílio, as tarefas de reflexão e de renovação exigidas para esclarecer a identi­dade e relançar a atualidade dos vários carismas do Povo de Deus despertaram um renovado empenho para promover uma cons­ciência mais explícita, maior união e mais estreita colaboração entre quantos participam num mesmo carisma.

Falar da “Família Salesiana” não significa, pois, arrazoar num sentido de inovação com fantasia utopista; trata-se de um dado concreto, de um fato espiritual, que tem uma dimensão histórica e vigor de verdade que interpelam seriamente a nossa fidelidade a Dom Bosco e aos tempos.

A Família Salesiana — afirma o Capítulo Geral Especial — é uma realidade eclesial que se torna sinal e testemunho da vocação de seus membros para uma missão particular, segundo o espírito de Dom Bosco;

a Família Salesiana exprime — na linha de quanto a Igreja disse de si mesma — a comu­nhão entre os diversos ministérios a serviço do povo de Deus; e completa as vocações parti­culares para que se manifeste a riqueza do carisma do Fundador;

a Família Salesiana desenvolve uma espiri­tualidade original, de natureza carismática, que enriquece todo o Corpo da Igreja e se torna modelo pedagógico cristão todo particular”.7

Nem todos ainda, talvez, entre nós, empenharam-se em examinar com olhar agudo e objetivo o processo histórico providencial pelo qual Dom Bosco foi, na Igreja, um “Fundador” e, em consequência, toda a realidade eclesial da Famí­lia Salesiana por ele iniciada. Devemos saber captar melhor a dimensão verdadeiramente grande da paternidade de Dom Bosco e da pers­pectiva apostólica do seu carisma, e encontrar a maneira de honrá-lo e reconhecê-lo deveras como um dos grandes Fundadores na Igreja.

Nosso Pai sentiu-se investido pelo Alto de uma vasta missão juvenil e teve clara consciên­cia de ter sido chamado, para isso, a tornar-se Fundador não simplesmente de um Instituto religioso, mas de todo um movimento espiritual e apostólico de vastas proporções. A amplidão de horizontes do seu plano fundacional jorrava de um impulso superior e da vastidão e com­plexidade das urgências dos destinatários con­fiados à sua vocação.

Sentiu-se chamado a iniciar um peculiar trabalho de salvação que se devia traduzir em amplo e concreto “projeto operativo”, com o envolvimento de todas as forças disponíveis. Ele mesmo dizia: “Tempo houve em que podia bastar estarmos unidos na oração; mas hoje em dia são tantos os meios de perversão, sobretudo para dano da juventude de ambos os sexos, que é preciso unir-nos no campo da ação e agir”.8

Temos em andamento — exclamava em outra ocasião — uma série de projetos que diante do mundo parecem fábulas ou coisa de louco; mas assim que se tornam manifestos, Deus os abençoa de modo que tudo vai de velas enfuna­das. Motivo para rezar, agradecer, esperar e vigiar”.9

Dom Bosco foi magnânimo e corajoso; pôs a serviço da sua vocação peculiar todos os dotes de inteligência, criatividade e coragem com que fora enriquecido, movido também por múltiplos dons e moções do Espírito do Senhor.

Por um lado, ele parece às vezes persuadi­do de possuir uma espécie de investidura uni­versal da juventude abandonada, por outro, tem bem presente que o problema dos jovens supera em muito o âmbito das suas obras e cria especí­ficas responsabilidades eclesiais e civis. Em ambos os casos, o convite para cuidar dos jovens é feito também a pessoas não oficial­mente enquadradas nas suas instituições, tra­balhando nas respectivas paróquias, cidades, países, famílias”.10

Pois bem: se pensamos que no nosso século o problema das massas de jovens necessitados “é uma realidade que, em relação a Dom Bosco, atinge hoje dimensões quase incomensuráveis”, havemos de considerar muito mais urgente a necessidade de um alargamento de perspectivas na interpretação e promoção da Vocação salesiana.

Já o Capítulo Geral Especial havia escolhi­do o tema da Família Salesiana como uma das linhas mestras da nossa renovação: “Os Sale­sianos — está escrito no documento 1, nº 151 — não podem repensar integralmente a sua vocação na Igreja sem se referirem àqueles que juntamente com eles são depositários da vontade do Fundador. Por isso procuram maior ‘unidade de todos, embora na autêntica diversidade de cada um’”.11

Eis uma verdade sobre a qual devemos refletir seriamente: a nossa vocação salesiana, na sua integralidade concreta, faz-nos participar vitalmente numa “experiência de Espírito San­to” vivida e coparticipada por tantos outros para permutar entre si suas riquezas12 e assumir com mais consciência de conjunto as suas tare­fas.13 Todo Irmão deve pensar que a sua pro­fissão religiosa o incorpora simultaneamente na Congregação e na Família Salesiana, na qual lhe oferece vasta área de estímulos para a san­tidade e de colaboração apostólica, ao mesmo tempo que lhe abre à frente um horizonte operativo quase temerário e de verdadeiro pro­tagonismo eclesial e civil.

Por isso, queridos Irmãos, devemos olhar para a “Família Salesiana” como para uma rea­lidade objetiva e uma esperança de crescimento, com uma verdade própria a ser conhecida e amada e com múltiplas exigências que nos farão progredir na fidelidade a Dom Bosco.







Eclesialidade do Fundador



Para melhor compreender a densidade e riqueza da herança viva recebida de Dom Bosco e para individuar mais a fundo as responsabili­dades que dela derivam, convém que reflitamos um pouco sobre a dimensão eclesial que, por dom de Deus, tem um Fundador.

Talvez estejamos habituados a considerar Dom Bosco como uma espécie de “propriedade privada” da nossa Congregação, e assim não percebemos que estamos a manipular a sua figura e reduzir-lhe a função e transcendência histórica. Temos por certo a capacidade peculiar de achegar-nos a ele com um “conhecimento de conaturalidade”, que nos facilita a compreen­são e mais justo e mais objetivo aprofundamento; mas essa capacidade deve incitar-nos a estudá-lo na sua “eclesialidade”, sem reducionismos que lhe ofusquem os horizontes. Um Fundador é o portador de um determi­nado carisma, e dele todo o Povo de Deus, a Igreja, toma consciência, alegra-se e sente-se enriquecida pela sua contribuição espiritual e apostólica, abençoa os seus valores, promove e sustém a índole própria do seu carisma, exige que seja salvaguardada a sua identidade, e zela para que seja defendida sua integridade.14

Os Fundadores, lembrou-nos Paulo VI, foram “suscitados por Deus na Igreja”; por isso os seus discípulos têm a obrigação de ser fiéis “às suas intenções evangélicas”.15

O Fundador é um verdadeiro “centro ecle­sial de referência”, que não deve ser diminuído por uma visão apenas doméstica, bem intencio­nada é certo, mas talvez um tanto mesquinha e mesmo carola, que lhe altera os lineamentos e mutila a sua missão histórica objetiva.

O Concílio fala dos Fundadores como de uma expressão qualificada da realidade vital da Igreja.16 A Teologia, é pena, não estudou ainda de maneira adequada o alcance específico deles, enquanto expressão de eclesialidade. A função histórica de um Fundador insere-se no próprio mistério da Igreja em seu devir histórico: nela e por ela foi suscitado, com uma das expres­sões características da sua “vida e santidade”.17

Cada um dos Fundadores tem na Igreja uma espécie de unicidade, enquanto iniciador e modelo.

Justamente no ano passado, escrevendo às Filhas de Maria Auxiliadora, eu indicava três aspectos dessa singularidade do nosso Pai:

“— Antes de tudo, uma originalidade espe­cial: Dom Bosco não encontra outro caminho para realizar a sua vocação senão o de Funda­dor; vê-se quase forçado a iniciar uma experiên­cia inédita de santificação e de apostolado, isto é, uma releitura do Evangelho e do mistério de Cristo em chave própria e pessoal, com especial maleabilidade frente aos sinais dos tempos. Essa originalidade comporta essencialmente uma ‘síntese nova’, equilibrada, harmônica e, à sua maneira, orgânica dos elementos comuns à santidade cristã, onde as virtudes e os meios de santificação têm uma colocação própria, uma dosagem, uma simetria e uma beleza que os caracterizam.

  • Além disso, uma forma extraordinária de santidade. É difícil estabelecer seu nível, mas não se pode identificar com a santidade do ca­nonizado não-fundador (por exemplo, com a de um São José Cafasso). Tal extraordinariedade, que traz consigo novidades precursoras, atrai para a pessoa do Fundador, coloca-a no centro de consensos e de contrastes, faz dele um ‘patriarca’ e um ‘profeta’; jamais um solitá­rio, mas, sim, um catalizador e um portador de futuro.

  • Enfim, um dinamismo gerador de poste­ridade espiritual: se a experiência de Espírito Santo não for transmitida, recebida e depois vivida, conservada, aprofundada e desenvolvida pelos discípulos diretos do Fundador e dos seus seguidores, não se terá o carisma de fundação. Esse relevo é fundamental: Dom Bosco recebeu dons pessoais, que o acompanharam até a morte e fizeram da sua pessoa, por disposição divina, um centro fecundo de atração e irradia­ção, um ‘gigante do espírito’ (Pio XI), que deixou em herança um rico e bem definido patrimônio espiritual”.18



As notas específicas de Dom Bosco-Fundador traduziram-se, no plano dos fatos e da realidade efetiva, na elaboração do seu projeto operativo global, “substancialmente unitário e com características próprias, às quais se podem reconduzir as multiplicidades das intenções e das ações da sua existência dinâmica”.19

Com seu projeto operativo, nosso Pai deu à Igreja um método educativo verdadeiramente genial, fonte de uma criteriologia pedagógico-pastoral amplamente partilhada, que responde às exigências da juventude e das classes popu­lares e já deu frutos de santidade nos destina­tários e nos operadores do seu “Sistema Pre­ventivo”.

O projeto global de Dom Bosco concentra-se, do ponto de vista dos “operadores”, na convocação e organização de uma complexa associação de numerosos e diferenciados cola­boradores: uma “Família” que evangeliza a juventude com o Sistema Preventivo.

Se verdadeiramente quisermos ser fiéis a Dom Bosco-Fundador, devemos saber olhar para ele “eclesialmente”!



Dom Bosco construtor de uma “Família espiritual”



No princípio havia, no coração de Dom Bosco, a caridade pastoral com o dom de predileção pelos jovens. A primeira centelha da vocação salesiana é o amor: um amor intenso, bem definido e apostólico, historicamente em­penhado com a juventude pobre e abandonada.

Nesse coração de padre é que se encontra a fonte primeira e cristalina de toda a Família Salesiana.

Trata-se de uma paixão sobrenatural, que centra a totalidade da pessoa no mistério de Deus Salvador; de uma caridade que encontra a sua realização numa radicalidade de sequela do Cristo, contemplado no seu anseio salvador da juventude, sobretudo da mais humilde e indigente. Olhando para Dom Bosco-Fundador, descobrimos a fonte e o ponto de partida da caracterização do carisma salesiano num amor de caridade que sublinha nos seus dois polos indissolúveis (o Pai e o Próximo) o aspecto de doação total de si a Deus numa missão juvenil.

Ele concretizou historicamente os conteú­dos dinâmicos dessa primeira centelha na “Obra dos Oratórios”. Para ele o “Oratório” significa­va, em última análise, o que hoje chamamos de “pastoral juvenil”, comprometida de maneira realista na educação evangelizadora da juven­tude desorientada e marginalizada, numa hora socialmente explosiva, por causa de rápidas mudanças estruturais e culturais.

No princípio havia, pois, um “coração oratoriano”! Ou seja, um padre da Igreja local de Turim, possuído de incontida paixão apostólica pelos meninos pobres e abandonados. Este ardor apostólico não se explica sem a iniciativa de Cristo Salvador e a solicitude materna de Maria, os dois Ressuscitados que guiam a his­tória da salvação. E a sua realização definitiva acha-se historicamente ligada às orientações do Papa Pio IX, que orientou Dom Bosco na obra de fundação.

O Espírito do Senhor leva gradualmente esse padre, abundantemente fornecido de dotes naturais, luzes e dons especiais, a perceber a urgência e a vastidão da tarefa a ser realiza­da, e a industriar-se, com realismo e eficácia, por reunir, animar e organizar o maior número de colaboradores possível. Nasceu assim em Turim a “Obra dos Oratórios”. Nele trabalha­vam padres, mães, leigos de confortável ou modesta situação, jovens e adultos, sob a guia e a direção de Dom Bosco. Ele procurava muitos e por toda a parte, mas queria-os unidos.

A este grupo orgânico de variados colabo­radores deu ele o nome de “Congregação de S. Francisco de Sales”; preocupou-se em assegurar a sua estabilidade; obteve a aceitação oficial do arcebispo Dom Fransoni (1850), conseguiu seu reconhecimento canônico (1852), explicitando, em particular, a responsabilidade do Superior “para conservar a unidade de espírito, de dis­ciplina e de comando”.20

A propósito deste primeiro embrião de “Congregação para a juventude”, convém fazer algumas observações.

Antes de mais nada, o termo “congregação” é usado no seu sentido geral e etimológico (do verbo latino “congregare”) de grupo de pessoas reunidas para colaborarem juntas num mesmo escopo espiritual e apostólico. Existia então, um pouco por toda parte, a Congregação da Doutrina Cristã, criada pelo Concílio de Trento, como também existiam outras Congregações e Companhias de leigos e de sacerdotes. É interessante sublinhar que os nomes com que Dom Bosco indicava os “congregados” eram: opera­dores, cooperadores, colaboradores, benfeitores (no sentido de gente que faz o bem); ou seja, de pessoas empenhadas operativamente no campo apostólico. Com efeito, a qualidade dos seus “congregados” deduz-se da referência prática à “Obra dos Oratórios”, segundo o estilo de vida cristã e de atividade educativa realiza­do concretamente no Oratório-tipo de Valdocco.

A especificação “de S. Francisco de Sales” quer indicar as características do espírito com que os colaboradores vivem e trabalham entre os jovens: um sistema de bondade, mansidão e confiança, uma visão gozosa de são humanismo, uma criteriologia apostólica de diálogo e de amizade, uma metodologia de educação inte­gral.21

Isso tudo é também uma realidade “dioce­sana”, que deverá florescer, pouco a pouco, em universalidade eclesial, por entre graves sofri­mentos e contrastes.

No fim dos anos 1850 e seguintes, o Espí­rito do Senhor irá construindo lenta e cuidado­samente em Dom Bosco o “Fundador” da sua Família Salesiana definitiva.

Ele não teve logo uma ideia clara, bem planificada e juridicamente estruturada, do tipo de fundação que sua vocação pessoal exi­gia dele. O conhecimento do “dom” de Deus, mesmo num Fundador, é normalmente paulatino, não imediato, e nem sempre atingido de modo linear. Deus manda profetas à sua Igreja, mas quer que encontrem seu caminho fadigosa e progressivamente. Dom Bosco, entretanto, sentia-se intimamente seguro de que a Providência o conduzia gradualmente a ser “Fundador”. Ele próprio, pessoalmente, preocupou-se em “tornar conhecido como Deus mesmo guiou todas as coisas em todos os tempos;22 por isso dizia aos diretores (2 de fevereiro de 1876): “A Congregação não deu um passo, sem que um fato sobrenatural não o aconselhasse; não houve mudança, aperfeiçoamento ou ampliação que não tenha sido precedido por uma ordem de Nosso Senhor”.23

Bem logo, pelo menos desde 1854, viu a necessidade de distinguir organicamente duas categorias entre os colaboradores: “Os que estavam livres de si mesmos e sentiam vocação reuniram-se em vida comum, morando no edifício que sempre foi tido como casa-mãe e centro da pia associação, que o Sumo Pontífice acon­selhou se chamasse Pia Sociedade de S. Fran­cisco de Sales, como ainda hoje se chama. Os outros ou os externos continuaram a viver no século, no seio das próprias famílias, mas con­tinuaram a promover a Obra dos Oratórios, conservando ainda hoje o nome de União ou Congregação de S. Francisco de Sales, de pro­motores ou cooperadores; mas sempre depen­dentes dos sócios, e unidos a eles para traba­lhar pela juventude pobre”.24

Em dezembro de 1859 deu início e forma à “parte central e diferenciada” da Associação para a Obra dos Oratórios, como núcleo pro­motor e vínculo seguro e estável de união. Com tal escopo redigiu um Regulamento ou Consti­tuições para esse grupo de “internos”, mas com vistas a todos os colaboradores; os outros seriam “agregados” à Pia Sociedade (seja a título de “membros externos”, seja inseridos plenamente no século) e se inspirariam no mesmo Regulamento.

Até aqui, tudo tinha em vista a juventude masculina.

Mas a Providência foi-lhe sugerindo que devia fazer algo semelhante para a juventude feminina. Aconselhado por Pio IX, preocupou-se em organizar as “cooperadoras”. Além disso, Nossa Senhora lhe havia preparado admiravelmente em Mornese, diocese de Acqui, um grupo seleto de jovens apostólicas, animadas por Maria Domingas Mazzarello e guiadas pelo P. Pestarino. Com elas pôde fundar, em 1872, o Instituto das Filhas de Maria Auxiliadora, “agre­gadas” também elas à Pia Sociedade. O título de suas primeiras Constituições era “Regras para as Filhas de Maria Auxiliadora agregadas à Sociedade Salesiana”. Viviam em comunhão de espírito e de missão, sob a guia e direção de Dom Bosco e dos seus filhos, para realizar entre a juventude feminina quanto se fazia em Valdocco para a masculina.

A estatura supradiocesana que o havia leva­do a alcançar da Santa Sé, em 1864, o decreto de louvor para a Pia Sociedade e mais tarde, a 3 de abril de 1874, a aprovação das suas Constituições, trouxe-lhe graves dificuldades e, além disso, a necessidade de um repensamento para o estatuto dos “membros externos”.

Preocupou-se, então, em dar-lhes uma forma jurídica nova, na “União dos Cooperadores Sa­lesianos”, a 12 de julho de 1876. Para tal fim redigiu para eles um Regulamento apropriado, nele garantindo cuidadosamente a comunhão de espírito e de missão; e associou também os Cooperadores à Sociedade Salesiana.

E assim um dado de fato, historicamente documentado, que Dom Bosco se sentiu chama­do pelo Espírito do Senhor a dedicar-se incan­savelmente à salvação da juventude, empenhando-se para tal fim em fundar uma numerosa associação apostólica, uma Família espiritual, composta de diferentes grupos e categorias, mas intimamente unida e estruturalmente orgânica. Os três grupos fundamentais da Família Sale­siana, instituídos pessoalmente por Dom Bosco, são, pois, os Salesianos, as Filhas de Maria Auxiliadora e os Cooperadores e Cooperadoras. Quando os Ex-alunos começaram a reunir-se em torno dele, para a sua festa onomástica, exortava-os a serem apóstolos engajados e a fazerem-se Cooperadores.25

Após a morte do nosso bom Pai (1888), sobreveio um doloroso entrave com relação ao aspecto jurídico da agregação das Filhas de Maria Auxiliadora à Pia Sociedade. Um decreto da Santa Sé, “Normae secundum quas”, de 1901, exigia a separação jurídica dos Institutos femininos de votos simples das respectivas Con­gregações masculinas. A separação foi dolorosa, mas não diminuiu o sentido de fraternidade e colaboração entre o Instituto das Filhas de Maria Auxiliadora e a Congregação Salesiana.

Somente em 1917, por interesse do Card. Cagliero, obteve-se uma forma temporária de nova união jurídica, que depois encontrou uma formulação estável no decreto de 24 de abril de 1940, com base no qual o Reitor-Mor era no­meado “Delegado Apostólico” para o Instituto das Filhas de Maria Auxiliadora.

Essas dolorosas peripécias, primeiro sobre a agregação à Pia Sociedade dos “membros externos”, e depois das Filhas de Maria Auxilia­dora, serviram na prática para não confundir certas estruturas eclesiásticas de união, variá­veis e a serem adaptadas aos tempos, com a substância carismática de inspiração comum juvenil e popular. A comunhão de intentos e de corresponsabilidade nunca diminuiu de fato; hoje, depois do Vaticano II, foi retomada com maior clareza e vigor.

Posteriormente o Espírito do Senhor enri­queceu a Família Salesiana com outros grupos, fazendo-os brotar da sua vitalidade, em conso­nância com novas exigências e situações. Trata-se sempre, evidentemente, de grupos de “parti­cipantes na missão” e não de “destinatários” da ação salesiana.

Assim, para lembrar somente alguns grupos que surgiram na Família:

a Associação dos Ex-alunos, “a título da educação recebida”;

as Voluntárias de Dom Bosco por obra do P. Felipe Rinaldi, em Turim, num contexto comum de Salesianos, Filhas de Maria Auxilia­dora, Cooperadores e Ex-alunas (o P. Rinaldi manifestava a convicção de com isto realizar o projeto de Dom Bosco sobre os “membros externos”, criando um instrumento particular­mente apto para a penetração do seu espírito no mundo);

as Filhas dos SS. Corações de Jesus e Maria, por obra do P. Luís Variara, na Colômbia;

as Irmãs da Caridade de Miyazaki, por obra de Mons. Vicente Cimatti e do P. Antônio Cavoli, no Japão;

as Salesianas Oblatas do S. Coração, por obra de Dom José Cognata, na Calábria etc.26

Cada um desses grupos, sobretudo os três primeiros, instituídos pelo próprio Dom Bosco como fundamento e centro vital da sua Obra, não podem ser pensados historicamente como independentes e separados; nasceram e viveram em mútuo e contínuo intercâmbio de valores espirituais e apostólicos, usufruindo assim reciprocamente de imensas vantagens. A todos, “juntos”, como se constituíssem uma só Famí­lia, é confiada a preciosa herança de Dom Bosco.



A energia unificadora do seu “carisma”



A Família Salesiana de Dom Bosco é, pois, uma realidade “carismática”: ou seja, um dom eclesial do Espírito Santo destinado a crescer e prolongar-se no Povo de Deus, para além das circunstâncias mutáveis de lugar e de tempo, segundo uma determinada orientação perma­nente.27

O segredo íntimo da sua força de existência e da sua vitalidade aglutinadora é o “carisma do Fundador”, manifestação sobrenatural (que não nasceu da carne nem do sangue!) e criada (por­tanto, existencialmente humana) do próprio Dom incriado, que é o Espírito Santo na Igreja.

A expressão “carisma do Fundador” assu­miu um significado cheio de singular, rica e, de algum modo, transmissível “experiência de Espí­rito Santo”.28

Nos documentos do Vaticano II não se havia usado ainda o termo “carisma do Fundador”; falava-se, antes, de “espírito do Fundador” no sentido global da sua originalidade espiritual e apostólica; ou também de “inspiração pri­mitiva”, “vocação peculiar”, “índole própria”, “finalidade peculiar”.29 De aí o uso um pouco elástico de vários termos para indicar o patri­mônio comum.



Para entender a originalidade do carisma de Dom Bosco-Fundador, podemos alinhar tal carisma entre os outros carismas fundacionais que deram origem na Igreja a Famílias espiri­tuais: agostiniana, beneditina, franciscana, dominicana, carmelita, inaciana etc.

A Família espiritual de Dom Bosco, embo­ra se inspirando na corrente do humanismo positivo de S. Francisco de Sales, tem uma modalidade própria e uma caracterização pe­culiar.

Nesse sentido ele aparece como um verda­deiro “mestre-escola”, de uma experiência caris­mática original, ponto de referência obrigatório para quantos, sob particular impulso do Espíri­to, se sentem chamados a partilhar, no hoje da história, o seu destino e a sua missão nos vários estados de vida, cada um no seu grau e no seu nível.

O que une entre si os vários membros de uma Família carismática é um laço vivo, comum a todos, que gera em cada um uma espécie de consanguinidade e parentesco espiritual em re­lação aos outros, torna-se a alma do seu estilo de vida, a ótica de sua atividade e a fonte da mútua comunhão.

Dom Bosco, gênio de concretude e pacien­te organizador, empenhou-se com metodologia constante e prática a fazer com que a sua “experiência de Espírito Santo” (o seu “caris­ma” ou o seu “espírito de Fundador”) se trans­fundisse e se perpetuasse numa “comunhão orgânica”, mesmo com estruturas de estabilidade e de harmonia operativa; para tanto teve que procurar com intuição e atualização, experimentar de maneira realista e adaptar-se às sugestões e possibilidades dos tempos. Hoje, para não trair o seu “carisma”, é necessário situar-se mais além das modalidades jurídico-eclesiásticas de associação que, como dizíamos, são suscetíveis de mudanças, por dependerem das exigências sociais e das disposições eclesiásticas. Mas não se pode deixar de considerar como aspecto integrante do seu projeto de fundação a preocupação concreta de uma organicidade de comunhão e operatividade. Esta preocupa­ção, com efeito, emerge constantemente no longo processo fundacional com o qual se dedi­cou a encarnar a sua “experiência de Espírito Santo”.

Mas reflitamos, antes de tudo, sobre a natureza íntima do “carisma do Fundador”.



O início e o dinamismo propulsor desse carisma é a caridade, que constitui no mistério da Igreja “o dom primeiro e mais necessário”30 da sua vida e santidade.

O centro do coração de um Fundador é a caridade que nele dirige tudo: os ideais, os anseios, os projetos, os compromissos e a busca dos meios; dá-lhes forma, guia-os e conduz retamente para o fim. É a projeção da sua caridade que convoca as pessoas a seu redor, coordena e harmoniza as várias funções, os múltiplos dons, os diferentes estados e ministé­rios; sublima as diferenças numa riqueza orgâ­nica de unidade.

Mas a caridade é especificada por determi­nadas características próprias, para ser diferen­te e original nos vários Fundadores. Ou seja, a energia vitalizadora do carisma de um Funda­dor é, em última análise, “um tipo de caridade”, que do seu coração se derrama num vasto ambiente sintonizado.

Todo Fundador, ao viver a dinâmica inte­gral da caridade, privilegia alguns de seus aspectos, dando origem a estilos e fisionomias espirituais diferentes. Assim, os Fundadores fazem aparecer na Igreja modalidades originais de caridade, que servem para proclamar a densidade inefável da sua essência e contribuem “para que a Igreja, ornamentada com os vários dons de seus filhos, apareça como uma esposa adornada para o seu esposo (cf. Ap 21,2) e por meio dela se mani­feste a multiforme sabedoria de Deus (cf. Ef 3,10).31



Interessa-nos aqui sublinhar a energia unificadora que traz em si o tipo de caridade vivido por um Fundador. Ela possui vitalidade de realização, fascínio de atração e poder de convocação, que dão origem a uma verdadei­ra consanguinidade ou parentesco místico. Ela não se pode identificar com os traços espirituais próprios de uma função ministerial (sacerdócio, diaconato, ministérios vários) nem de um esta­do de vida (celibato, matrimônio, viuvez).

É um vigor divino que impregna a síntese viva da existência, infundindo a capacidade fecunda de assumir e unificar as diferenças de caráter, de função e de situação.

Como na Igreja o “Espírito Santo” (que é Caridade “incriada”) une, vivifica e anima todas as diferenças orgânicas e funcionais do Corpo de Cristo, de modo análogo, ainda que à distân­cia infinita, o “carisma” ou a caridade especí­fica de um Fundador (dom “criado” do mesmo Espírito Santo) reúne, faz crescer e orienta as pessoas e os diferentes valores que convergem juntamente para a constituição de uma mesma “Família espiritual”.

Fundem-se aí em comunhão não só os diver­sos temperamentos e gostos, os variados dotes e os dons pessoais, mas também as diferentes espiritualidades que acompanham as multifor­mes situações eclesiais de ministério ou de estado de vida ou de inspiração subordinada à pertença substancial à mesma Família.

Com efeito, “carisma” e “espiritualidade” não coincidem: na síntese existencial de um mesmo “carisma” podem convergir harmonica­mente várias “espiritualidades” de tipo ministe­rial ou de estados de vida diferentes. Por isso, numa “Família espiritual” podem ser assumidas juntas e mutuamente harmonizadas, com di­versa dosagem, a espiritualidade sacerdotal, a laical, a religiosa (nas suas diversas modalida­des), a conjugal ou a não-conjugal (p. ex., de viuvez), a oblativa ou vitimai etc.32



Por isso é belo e enriquecedor sentir-se membro de uma “Família espiritual”, onde as variegadas diferenças trazem esclarecimento de identidade e beleza de harmonia: não por con­fusão ou compressão dos indivíduos, mas por emulação de cada um na própria identidade.



Pois bem: o tipo de caridade que vivifica o carisma de Dom Bosco é o da caridade “pas­toral”, especificada por uma peculiar coloração que qualificamos de “salesiana”. Isto significa que devemos buscar a energia unificadora da nossa Família naquele tipo de amor sacerdotal que caracterizou Dom Bosco com uma paixão avassaladora de apostolado entre os jovens, com sua maneira de sentir, de viver, de comu­nicar os valores do Evangelho e de traduzi-los num projeto operativo. Ele próprio sintetizava esse tipo de caridade, como num lema, com a expressão salesiana: Da mihi animas, coetera tolle!

E aqui, queridos Irmãos, é bom esclarecer logo um equívoco que pode causar desvios espirituais.

Em toda vida verdadeiramente apostólica, a “caridade pastoral” permeia a própria existên­cia da pessoa. Antes de traduzir-se num “agir”, é um “modo de ser”: é uma participação no próprio amor de Deus, é unir-se a Ele, é dar-se e perder-se a si mesmo, para pertencer totalmente a Ele na disponibilidade de trabalhar pelo seu Reino. A “caridade pastoral” não deve ser superficialmente identificada com uma tarefa altruísta a ser desempenhada: antes e mais ainda, é uma modificação intrínseca da própria existência, pela qual se vive em íntima união com Deus-Salvador, sentindo-se plenamente à sua disposição para agir.

Essa afirmação deve ser meditada! É assaz profunda; atinge a própria raiz de um espírito genuinamente apostólico. Refletindo sobre ela, percebe-se também que o famoso princípio agere sequitur esse (o agir acompanha o ser!) jamais deveria significar qualquer espécie de dualismo ou uma posposição do agir ao ser. “A ação — escreveu agudamente Sertillanges — não é senão uma forma de ser. Quando ajo, eu “sou” agente..., ou seja, exerço uma forma de atividade que é, por esse fato, uma forma de ser. As condições do meu ser são também as condições da minha ação”.33

A atividade da “caridade pastoral” não é separada de seu ser ou posterior a ele: mas o acompanha, revela, faz refulgir, plenifica, exprime-lhe a genuína verdade. Não vem “depois”, mas está “dentro”, como constitutivo da sua identidade dinâmica; é radicalmente interior, enquanto participação do amor de Deus.

Assim, na profundidade de uma experiência apostólica de Espírito Santo, o assim chamado “êxtase da ação” (do qual fala S. Francisco de Sales) resulta, em última análise, uma forma de interioridade!

Quão iluminante é para nós essa reflexão! Faz-nos entender com maior clareza por que a caridade pastoral é o verdadeiro “centro” do carisma e do espírito de Dom Bosco.34 Dele jorra a energia sobrenatural e íntima que nos reúne, imprime em nós uma fisionomia própria, alimenta-nos e dá-nos entusiasmo, une-nos em comunhão, convida-nos à doação de nós mes­mos e à santidade, impele-nos como um instinto espiritual à operosidade, à inventiva, ao sacrifí­cio.



Deste “centro”, ou fonte-primeira, fluem os traços especificamente “salesianos” da caridade pastoral de Dom Bosco como componentes do seu carisma. Já conhecemos os seus vários elementos, mas vale a pena recordá-los mais uma vez, ainda que de maneira sucinta; eles nos fazem perceber melhor a natureza da energia unificadora que nos reúne numa Família espi­ritual.35

Os traços da “comunhão salesiana”, que juntos partilham todos os filhos e filhas de Dom Bosco, são os seguintes:

Antes de tudo, como fonte viva, a aliança especial com Deus, segundo o tipo de caridade pastoral que acabamos de descrever: íntima união com Deus contemplado na sua bondade de Pai, preocupado em realizar um misericor­diosíssimo e pedagógico plano de salvação; e um amor ao Próximo, considerado nas suas situações de pobreza e de indigência, através da ótica da predileção pelos jovens.

Depois, o “espírito salesiano”, como estilo de pensamento, conduta, atitudes, gostos, prefe­rências, prioridades, de modalidade própria na leitura do Evangelho.

A seguir, a “missão juvenil”, como par­ticipação específica nas múltiplas tarefas da Igreja para a salvação do mundo.

Além disso, o “Sistema Preventivo”, como uma praxe concreta e original de ação pastoral, que encarna entre os jovens a carida­de, o espírito salesiano e a sua missão salvífica.

Enfim, um projeto concreto de conver­gência no estilo de vida e de atividade, suscetível de diferenciada estruturação comunitária nos vários grupos e que se deve traduzir numa como “comunhão orgânica” de toda a Família Salesiana.

Estes componentes do “carisma de Dom Bosco” aparelham a Família Salesiana para uma ação especializada, tornando-a “pronta” para participar e “capaz” de colaborar na pastoral concreta da “Obra dos Oratórios”.

Com a energia do seu carisma, Dom Bosco unifica na harmonia de uma única Família apostólica o padre, o leigo, o solteiro, o casado, o viúvo e o religioso na sua variedade de teste­munho das bem-aventuranças. Não tira a nin­guém sua específica espiritualidade sacerdotal ou leiga ou religiosa. O “carisma de Dom Bosco” é uma energia superior e global de ordem exis­tencial que assume, hierarquiza e tipifica, sem diminuir ou adulterar as diversas espiritualida­des situacionais e funcionais, antes robustece-as e embeleza-as com uma caracterização própria.



Como na comunhão da Igreja todos têm tudo, mas cada um a seu modo, assim na nossa Família Salesiana todos têm todo o carisma do Fundador, mas cada um nele participa e o exprime a seu modo, segundo a vocação à qual foi chamado, e na medida do dom recebido. A riqueza da vida de uma Família espiritual, que nasce da energia unificadora do carisma do Fundador, atinge tais níveis que não permite a cada um dos seus membros viver em grau máximo todos os seus elementos. Embora de alguma maneira realizando-os todos, cada um se concentra preferencialmente sobre alguns deles, para si e para o serviço dos outros. Todos juntos, os membros fazem com que a Família possa viver a totalidade dos seus valores em nível máximo.

Assim na Família Salesiana podemos com­partilhar e permutar ricos valores e numerosos estímulos e testemunhos que tornam mais estável e entusiasmante a vocação de cada um. Podemos ver, por exemplo, como os grupos consagrados sublinham o vigor e o dinamismo da radicalidade evangélica; os grupos não-consagrados proclamam a centralidade da história humana, a importância dos valores temporais e a indispensabilidade de um nexo íntimo entre vida de consagração e compromisso de trans­formação do mundo.36 Nos membros padres é posto em relevo um modo específico de viver a caridade pastoral no exercício do ministério sacerdotal;37 nos outros, um multíplice tipo de vida e de empenho laical (em seus diferentes níveis), que se caracteriza particularmente por uma capacidade de serviço especializado na vasta e complexa missão juvenil. Nos vários grupos, ainda, veem-se acentuados policrômicos aspectos espirituais, que não devem faltar em nenhum coração salesiano, mas que são mais bem, ou de maneira mais característica, eviden­ciados em algum dos grupos e que a comunhão da Família coloca com satisfação à disposição de todos.

Pensemos, por exemplo, sem absolutamente querermos ser completos:

Nos Salesianos, com a sua bondade alegre, a inventiva pedagógica, a incansabilidade de animação, o aprofundamento do patrimônio espiritual comum e a coragem missionária.

Nas Filhas de Maria Auxiliadora, com a delicadeza e a perspectiva salesiana feminina, a solicitude mariana de fidelidade e sacrifício, o instinto esponsal, materno e fraterno, de serviço e a intimidade da oração.

Nos Cooperadores, com o realismo do sen­tido da vida, a capacidade de envolver o quoti­diano e o profissionalismo no engajamento apostólico, a presença ativa na sociedade e na história.

Nas Voluntárias de Dom Bosco, com o aprofundamento da secularidade, a importância dos valores da criatura, a silenciosa eficácia do fermento na massa, o testemunho que vem de dentro.

Nos Ex-alunos, com a força vinculante da educação salesiana, a centralidade para nós da área cultural, o relançamento de uma pedagogia atualizada e adequada numa época de transição, a urgência de um cuidado especial da família cristã.

Em alguns outros Institutos de religiosas salesianas, como as Filhas dos SS. Corações de Jesus e Maria do P. Variara e as Oblatas do S. Coração de Dom Cognata, com um peculiar filão de espiritualidade vitimal e oblativa, já eminentemente testemunhada pelo P. André Beltrami; elas lembram aos demais membros da Família que a oblação de si e a paciência de “hóstia pura e agradável” são indispensáveis para todos nas peripécias da existência, nas in­compreensões, doenças, inatividade forçada e velhice.

E assim, nos outros Grupos, com sua carac­terização específica.



A energia unificadora do “carisma de Dom Bosco” fez, pois, surgir uma “Família espiritual” original, articulada e variada; ela constitui uma espécie de “ambiente” de clima espiritual de alcance universal, onde ninguém é excluído, nem a multiplicidade das raças e das nacionali­dades, nem o pluralismo das culturas, nem a pátria dos continentes. Cada um, com seu temperamento, com seus dotes, com sua voca­ção cristã, pode exclamar: eis que, aqui, nesta Família espiritual, sinto-me em minha casa!

Toda qualidade particular, toda espirituali­dade de situação eclesial e todo ministério é respeitado e promovido; o espírito do Fundador não muda nem suprime as diferenças, mas as assume e promove para serem vividas, com mais vigor e com peculiar estilo de santificação e ação, na unidade harmônica de um mes­mo tipo de caridade.

Podemos, pois, louvar a Nosso Senhor e a Nossa Senhora porque, suscitando o carisma de Dom Bosco, deram à Igreja um grande e bonito presente, do qual todos nós, os vários grupos da Família Salesiana, nos sentimos herdeiros e portadores.









Relançamento capitular



O Vaticano II veio trazer para a Igreja uma rajada de ar fresco. Ela repensou em profundidade o seu mistério: relançou em con­formidade com os tempos a sua missão; desempoeirou toda a doutrina dos carismas e convidou as Famílias espirituais a reatualizar o dom recebido, relendo a “memória” das origens para aí sorver a água cristalina da própria vocação a ser renovada em resposta aos tempos.

Os Capítulos Gerais e as Assembleias dos vários grupos da nossa Família dedicaram-se, já há vários anos, a esta delicada tarefa, com pre­paração séria, com estudada e sofrida elabora­ção. Por vocação e responsabilidade histórica,38 cabia prioritariamente a nós Salesianos reler Dom Bosco e perscrutar a experiência comum do primeiro século da nossa existência.

Como já lembrei, dois Capítulos Gerais, o Especial 20 e o 21, trataram diretamente da nossa vocação no seu aspecto de Família Sale­siana. O Capítulo Geral Especial nos deu no seu 1º documento,39 no capítulo 6º,40 a orientação e doutrina fundamental para poder orientar a c renovação.

O Capítulo Geral 21 instituiu uma estrutura de serviço na nossa Sociedade de S. Francisco de Sales, o “Conselheiro para a Família Sale­siana”, formulando o seguinte artigo nas Cons­tituições: “O Conselheiro para a Família Sale­siana tem a tarefa de sensibilizar e animar a Congregação quanto ao papel a ela confiado na Família Salesiana, segundo a norma do art. 5”.41

Com a instituição desse Conselheiro especial, a Congregação renovou, para corroborá-la, a von­tade característica de Dom Bosco de fazer pene­trar no mundo, da maneira mais ampla possível, o espírito salesiano. Fê-lo com meios concretos — a comunicação social — e sobretudo com a união das pessoas empenhadas e simpatizantes com a sua missão juvenil e popular, que for­mam justamente a Família Salesiana.

Será conveniente, caros Irmãos, retomar pessoalmente e em comunidade o referido capí­tulo 6º do Capítulo Geral Especial; ele perma­nece ainda hoje o texto orientador e fundamen­tal do relançamento da nossa Família Salesiana.

Com uma leitura meditada do documento capitular, poder-se-ão perceber dois movimentos complementares a serem cuidados no relança­mento: um esclarecimento progressivo da iden­tidade de cada grupo, e o crescimento do pro­cesso de integração e comunhão com algum suporte de unidade institucional.

O primeiro movimento envolve a capacida­de em cada um dos grupos de individuar melhor a própria caracterização original no seio comum de uma Família que não nos torna “uniformes”, mas nos harmoniza e coordena com um único “espírito”. Isso esclarecerá quer a consciência de uma justa harmonia própria,42 quer a indispensabilidade de um quadro de referência comum.43

O segundo, ao invés, comporta a urgência de maior intercomunicação e colaboração44 e, além disso, o reconhecimento, a defesa e a reno­vação de uma estrutura de base comum, regula­da por um estatuto institucional concreto, ainda que reduzido ao mínimo indispensável, para garantir, servir e promover adequadamente a unidade da comunhão carismática.

Numa cultura na qual se multiplicam de dia para dia as relações entre os homens e cresce, em todos os níveis, a exigência da comu­nicação e da união das forças, parece-me mais do que nunca urgente conclamar todos os filhos e filhas de Dom Bosco juntos a relançar a Família Salesiana, a fim de que “as riquezas de cada grupo possam tornar-se riquezas de todos” e, sobretudo, para que esteja mais presente e seja mais eficaz a nossa comum missão juvenil: “seremos todos mais iluminados sobre a verda­de atual e sobre a autenticidade do dom feito a Dom Bosco e dos dons que, em consonância com aquele, o Espírito nos confere também a nós; perceberemos melhor a força e a fecundidade apostólica da nossa missão e o método a ser adotado; chegaremos a viver a experiência evangélica de que, quando nos comunicamos e colaboramos na ação, ‘nos’ enriquecemos reci­procamente. A fidelidade dinâmica a Dom Bosco na intercomunicação e na colaboração fará dilatar o espaço de sua intuição pastoral e paternidade, que resplandecerá mais luminosa, porque todo aumento de sentimentos fraternos, de união e de empenho, entre os que se reco­nhecem seus ‘filhos’, exaltará a sua dimensão”.45

Quem percorrer o caminho dos quase vinte anos nos quais nasceu e se desenvolveu o que poderíamos chamar “o Projeto de renovação da Família Salesiana”, da preparação do Capítulo Geral Especial até os desenvolvimentos hodier­nos, fica impressionado com a evidente assis­tência de Nosso Senhor. O “projeto” nasce quando os Salesianos põem mãos à obra para realizar a renovação e a atualização queridas pelo Concílio Vaticano II, partindo da explora­ção da vontade do Fundador. Nesse clima vem à tona, mais viva e atual do que nunca, a memória dos esforços de Dom Bosco, a fim de unir as forças dos bons para o bem da Igreja e da sociedade. E evidencia-se também que, se a mudança de cultura e a evolução histórica modificaram o modo e mudaram algumas estru­turas com as quais ele havia realizado a união entre Salesianos, Filhas de Maria Auxiliadora e Cooperadores, a eclesiologia que privilegia a comunhão, as necessidades da evangelização, as novas situações históricas dos jovens e das classes populares tornaram ainda mais atual a necessidade de realizar aquela união, cujos valores profundos permaneceram sem mudança. Foi assim que, através dos dois turnos de Capítulos Inspetoriais Especiais, chegou às Comis­sões pré-capitulares, sugerida pela base, isto é, pelos Irmãos e pelas comunidades, a proposta de renovação da Família Salesiana, que se tor­nará um dos projetos capitulares.

O Capítulo Geral Especial discutiu longa­mente o projeto nos seus verdadeiros aspectos, chegando finalmente, como dizia, à formulação de todos conhecida.

Entre o Capítulo Geral Especial e o Capí­tulo Geral 21, deu-se o fenômeno da adesão espontânea de alguns Institutos à Família Sale­siana; sinal de que, longe de considerar o proje­to como uma possível intromissão em sua vida, e o papel reconhecido pela Congregação uma diminuição da própria autonomia, consideravam um e outro como uma graça dada também a eles para uma maior fidelidade a Dom Bosco. E não foram sentimentos puramente platônicos, por­que a adesão incorporou-se oficialmente em muitas Constituições e Regulamentos, e multiplicaram-se os pedidos de reconhecimento e as reuniões em todos os níveis, e surgiram órgãos de ligação e comunicação. Houve entusiasmo e indubitável fervor espiritual um pouco por toda a parte. Alguma sombra deveu-se antes à falta de estruturas e à novidade da coisa; mas de qualquer maneira foi muito tênue e não com­parável aos aspectos positivos.

Nesse clima amadureceu o tempo do Capí­tulo Geral 21, cujo programa oficial não previa nenhuma alusão à Família Salesiana. O argu­mento impôs-se por si mesmo, primeiramente como verificação de quanto se havia feito das orientações do Capítulo Geral Especial, e depois pelo pedido preciso de uns quinze Capítulos Inspetoriais. Fato novo foi a intervenção de vários grupos aos quais o Capítulo Geral Espe­cial havia reconhecido a pertença, que fizeram ouvir sua voz com mensagens que tinham, como denominador comum, acima de tudo o pedido à Congregação de que se pusesse em condições de cumprir seu papel animador e pastoral para com eles, a fim de desenvolver sua tarefa de ligação e, posteriormente, criar os instrumentos necessários para tudo isso. Houve, enfim, a presença e a colaboração dos seus representan­tes em alguma comissão e na assembleia capi­tular.

O Capítulo Geral 21 tomou, pois, algumas decisões de suma importância para a Família Salesiana, como: a instituição de um Conselhei­ro para animar a nível mundial a Congregação nas suas tarefas e ligar os vários grupos; a reafirmação da validade do projeto feito pelo Capítulo Geral Especial; a indicação de uma pastoral vocacional para a Família Salesiana; a inserção nos programas formativos da dimen­são “Família Salesiana”; a reafirmação da preferência pela escolha dos colaboradores leigos devidamente formados; o compromisso toma­do diante de todos os grupos de preparar bons animadores, inculcado como tarefa prioritária aos Inspetores no discurso de encerramento do Capítulo.46

Durante estes últimos quatro anos, nos encontros ou visitas de conjunto do Reitor-Mor com os Inspetores das várias áreas culturais, o tema da Família Salesiana foi tratado sempre como um dos argumentos essenciais da anima­ção salesiana.

Há provas de que, a nível de convicção e de aceitação, já não existem zonas de sombra na Congregação, e que foram dados grandes passos também no campo da atuação. Nasceram iniciativas de estudo, de animação e colabora­ções de comunhão e de comunicação. Aumenta­ram os grandes momentos de “Família Salesia­na”: o Centenário das Missões Salesianas, o Centenário do Instituto das Filhas de Maria Auxiliadora, o Centenário da morte de Santa Maria Mazzarello, as celebrações de aniversários e de datas em torno do Reitor-Mor, a sua dire­ção espiritual sempre mais partilhada e solici­tada. Multiplicou-se a colaboração a nível de estudo e de aprofundamento da vocação sale­siana, de procura de empenhos comuns como o “Projeto-África”. Tudo isso demonstra que ver­dadeiramente não faltam à Família Salesiana, que já tem um grande passado, lisonjeiras pro­messas no futuro.

Somos, portanto, chamados a trabalhar animadamente para um verdadeiro e criativo relan­çamento da Família Salesiana na Igreja, sobre­tudo nós, queridos Irmãos.

Com efeito, “visto como, por vontade e desejo de Dom Bosco, são os Salesianos o vín­culo, a estabilidade e o elemento propulsor da Família”, devemos empenhar-nos seriamente “em promover, em espírito de serviço, inter­câmbios fraternos... e em estudar juntos, na aceitação corresponsável da pastoral da Igreja local, as condições concretas para uma evange­lização eficaz e para a catequese...”.47

Esse empenho deverá ser assumido e diri­gido sobretudo a nível dos responsáveis mun­diais, das conferências inspetoriais e particular­mente dos Inspetores com os seus Conselhos; eles, com efeito, têm, mais que os outros, “a capacidade de evidenciar a unidade da missão e do espírito salesiano na pluralidade das for­mas e das expressões, a criatividade e a inventiva próprias de cada grupo para vantagem dos outros”. Elementos indispensáveis que “nos tornarão mais dignos de fé na Igreja, comunhão de salvação, mais eficazes no trabalho apostó­lico concreto, mais ricos nas realizações pessoais”.48

Para garantir o crescimento adequado e progres­sivo de tal relançamento será preciso, porém, que continuemos a cuidar infatigavelmente, com objetividade histórica e com intuito de conaturalidade, a “memória” das origens da nossa Vocação.



Avante”, “juntos”!



Escolhi esses dois advérbios estimulantes para qualificar dinamicamente o nosso empenho no relançamento da Família Salesiana.

A comunhão e a missão nos interpelam.

Avante”, orienta-nos especialmente para a missão; “juntos”, lembra-nos a comunhão.

Antes, “avante e juntos”, simultanea­mente na comunhão para uma maior eficácia de missão.

A nossa missão entre a juventude necessi­tada das classes populares deve expandir-se em iniciativas, em presenças novas, em inventiva apostólica.

A comunhão, na Família, deve crescer em autenticidade e em organicidade. Por certo, cada grupo tem a identidade e justa autonomia que lhe corresponde. Mas para nós hoje o acento se coloca na comunhão: há uma memó­ria a ser salva para incrementar, renovando-a, a união que Dom Bosco havia desejado.

O meu contato com os vários grupos nos diversos continentes sugere-me propor-vos qua­tro objetivos concretos que “juntos” devemos atingir e levar mais “avante”.



  • Primeiro objetivo: Revigorar o conhecimen­to de Dom Bosco e, consequentemente, a nossa caridade pastoral.



É, este, um objetivo de verdade e de santi­dade, porque se trata de promover, juntamente com toda a Família Salesiana, melhor visão do carisma comum e maior intensificação, em cada pessoa e em cada grupo, daquele tipo de cari­dade praticada em sumo grau por Dom Bosco, que caracteriza e define o “coração oratoriano”.

Ora, é bom considerar que a caridade nunca é antiquada nem arbitrária; é uma realidade viva e eclesial.

Viva, porque é dom atual do Espírito do Senhor em vista do presente e do futuro. Ela é em si mesma criativa, como o Espírito Santo que a infunde; ama e serve as pessoas de hoje, as eternas do Deus trino amorosamente debruçadas sobre o resto do século em que vivemos, e as dos jovens de hoje lançados para o advento do ano 2000.

Eclesial, porque participação e expressão da vida e da santidade, da Igreja como Corpo de Cristo em unidade orgânica, sob o influxo vital do Espírito Santo que nela habita para fazê-la crescer harmonicamente como organismo vivo.

É, pois, uma caridade não só atual, mas também orientada pela Igreja através do mi­nistério da sua Hierarquia e à luz da eclesiali­dade de Dom Bosco: uma caridade vitalmente unida a dois centros eclesiais de referência, os Pastores e o Fundador!

Revigorar a nossa caridade pastoral não é simplesmente repetir e lembrar, mas amar pro­curando, sob a guia do Papa e dos Bispos e dos sucessores de Dom Bosco, criando e responden­do às interpelações das pessoas e dos tempos, justamente como fez o nosso Pai no século pas­sado. Mas isso só é possível com a condição de alimentarmos intensamente a nossa santidade, privilegiando, como escrevia na última circular,49 a profundidade quotidiana do encontro com Cristo e o empenho ascético.

Queridos Irmãos, lembremo-lo bem: revigo­rar em nós o carisma de Dom Bosco não pode significar outra coisa senão “projetarmos novamente, juntos, a santidade salesiana”: “Ou santos sale­sianos — dizia uma vez Dom Bosco — ou nada salesianos”.50

Eis o primeiro objetivo de crescimento da Família Salesiana: “avante” e “juntos” na intensificação daquele tipo de caridade pas­toral que nos faz sentir com Dom Bosco a paixão avassaladora do “da mihi animas, coetera tolle”!



  • Segundo objetivo: A evangelização educado­ra da juventude!



A caridade salesiana traz consigo especial sensibilidade apostólica das necessidades juve­nis. Suas opções operativas devem surgir tam­bém hoje, como ontem em Valdocco, da leitura apaixonada, concreta e pedagógica, das necessi­dades da hora. Se a “caridade oratoriana” é uma resposta existencial a certos desafios da realidade juvenil, não haverá nunca, para uma Família apostólica evangelizadora da juventude, uma fixação definitiva e estável da sua obra educadora. Há necessidade de que a nossa capa­cidade de ação seja sempre como um canteiro na primavera, do qual desponte um rebento de fresca atualidade.

Eis um enorme empreendimento para toda a Família:

  • Repensar juntos o Evangelho para que apareça como a mais verdadeira e indispensável mensagem para a juventude de hoje.

  • Estudar juntos o modo de recolocar a fé no centro da cultura que procuramos elabo­rar junto com os jovens, para que redescubram o verdadeiro sentido da existência humana.

  • Ajudar-nos mutuamente a reinventar a nossa capacidade de comunicação através de uma estrutura linguística adequada e acessível.

  • Procurar juntos, com coragem e constân­cia, a renovação das nossas estruturas de me­diação, que entraram em crise, como bem sabe­mos, com a mudança cultural existente há anos.

Esse objetivo complexo e vasto já nos levou a reatualizar o Sistema Preventivo, procurando formular com paciente inteligência um renovado Projeto educativo-pastoral; levou-nos também a reformular e propor um esquema atualizado de Espiritualidade juvenil. Tornemo-lo objeto de intercâmbio entre os vários grupos da nossa Família; iremos avante e cresceremos juntos como especialistas na evan­gelização dos jovens.

Deve-se notar a respeito que, sendo a Famí­lia Salesiana uma realidade eclesial, a sua pas­toral juvenil deverá ser pensada e programada a partir de dentro da Igreja local (nacional, re­gional e diocesana). Ter aos próprios cuidados uma porção juvenil do rebanho e agir nela com um estilo próprio de ação, não pode significar prescindir ou ser insensíveis à coordenação e às metas apostólicas promovidas pelos Pastores de todo o rebanho. Infelizmente permanecem ainda entre nós, neste campo, dificuldades que se res­sentem de certo passado e devem ser superadas com coragem.





  • Terceiro objetivo: Privilegiar a formação específica de cada grupo e o envolvimento do laicato.



É fundamental para toda a Família que os grupos cuidem da própria identidade, da forma­ção específica e das iniciativas de relação. É esta uma tarefa decisiva para a boa saúde e o incremento da comunhão: ter consciência clara da própria identidade para saber levá-la à co­munhão e tornar-se operativa.

A unidade no “carisma de Dom Bosco” não suprime, como vimos, as diferenças, mas as assume, revigora e coloca em relação de fecundidade apostólica.

Além do cuidado da identidade de cada grupo, uma meta hoje particularmente impor­tante a ser atingida com o concurso de todos é a de fazer com que o maior número possível de “leigos” conheça e partilhe os valores salesia­nos. Falo aqui do laicato na acepção esclarecida pelo Concílio.

Há na Família Salesiana vasto espaço para os leigos, seja entre os Cooperadores, seja entre os Ex-alunos, seja (num âmbito mais amplo) entre os colaboradores das nossas obras e entre os diversos simpatizantes, que de bom grado se consideram “Amigos de Dom Bosco”.

Vale a pena não subestimar a importância de um “vasto movimento de Amigos de Dom Bosco”, que constituiria uma espécie de halo ou Família Salesiana em sentido largo; ele pode surgir da convergência de muitos fermentos, interesses, simpatias, colaborações e movimen­tos.

Nas associações dos Cooperadores e dos Ex-alunos existe a possibilidade de articulação em subgrupos, que pode dinamizar e apro­fundar sua pertença salesiana. Alguns desses subgrupos já existem; outros poderão multiplicar-se; por exemplo: os “Jovens Cooperadores” (um pouco por toda a parte), os “Casais Dom Bosco” (para grupos de casais na Espanha), grupos de Ex-alunos particularmente empenha­dos no âmbito cultural e da escola, várias Associações de tipo mariano etc. Além disso, no âmbito dos simpatizantes e dos Amigos de Dom Bosco, há grande possibilidade de iniciativas urgentes, como, por exemplo, através dos meios de comunicação social.

Em todo esse campo deve-se favorecer, antes de tudo, um cuidadoso empenho de formação do laicato enquanto tal, à luz da abundante doutrina do Vaticano II e dos documentos magisteriais posteriores, especifican­do tal formação com a visão própria do carisma de Dom Bosco, lembrados de que o nosso Pai insistia em orientá-los praticamente para inicia­tivas concretas de bem: ele muitas vezes repe­tia, a propósito, a necessidade de concretude num empenho de “obras de caridade”!

Esse trabalho de envolvimento laical ampli­fica os horizontes das atividades de cada grupo na Família e nos convida a convencer-nos a apressar uma melhor coordenação de trabalho e de conjunto.

Estamos numa Família de apóstolos não encerrados exclusivamente nas exigências imedia­tas de uma obra ou de um grupo!



  • Quarto objetivo: Uma pastoral vocacional unitária!



Lembremos, por fim, que a vocação salesia­na se caracteriza pelo tipo de caridade que se encontra no ponto mais alto de todo o patrimô­nio espiritual de Dom Bosco. Ela é fundamen­talmente comum a todos os membros da Famí­lia; realiza-se, porém, com modalidades diversas conforme os grupos, categorias e pessoas. Esta comunhão diferenciada oferece vantagens não indiferentes para uma colaboração prática, sobretudo nas iniciativas de pastoral vocacional.

Se pensarmos que Dom Bosco foi “um excepcional e fecundo suscitador de vocações na Igreja”, havemos de concluir naturalmente que a sua Família deverá caracterizar-se por um empenho particular em cultivar a dimensão vocacional de toda a pastoral juvenil. Não esqueçamos que o dever de educar e guiar os jovens ao discernimento da própria vocação “nasce do direito da juventude de ser orientada, antes que de uma particular situação das voca­ções na Igreja. Tal ação funda-se nos aspectos essenciais da realidade da vocação: é uma ini­ciativa divina, que solicita a adesão humana, um chamado que exige uma resposta ligada a dina­mismos psicológicos e religiosos, que requerem uma ação pedagógico-pastoral apropriada”.51

Mas é ainda urgente melhorar a mútua preocupação na Família Salesiana pelas vocações específicas de cada um dos grupos. Neste campo podemos fazer muito mais se trabalhar­mos juntos: encontros de oração, de estudo, de animação, de programação, de informação, de comunicação de experiências, de centros comuns de orientação, de movimentos juvenis etc.

Em particular, merece atenção especial o cuidado dos subgrupos de Jovens Cooperadores e de Jovens Ex-alunos; está comprovado que uma boa animação desses subgrupos é pressuposto para o crescimento das duas organizações e vocacionalmente fecunda também para os outros grupos. Nestes últimos sete anos, por exemplo, 70 Jovens Cooperadores entraram nos noviciados salesianos, 52 nos das Filhas de Maria Auxiliadora, 18 nos seminários diocesa­nos, e 20 em outras Congregações.

Convido-vos a levar em grande consideração as “Conclusões” a que se chegou, a propósito, na última, a 9ª, “Semana de Espiritualidade” da Família Salesiana, em janeiro passado. São re­produzidas neste número dos Atos, na seção Documentos.



Problemas e perspectivas



Evidentemente a existência da Família Sale­siana comporta também problemas, nem todos pequenos, nem todos de fácil e desenvolta solu­ção. Dom Bosco enfrentou diversos problemas com paciência, esperança e incrível constância, amparado continuamente pelo seu grande amor a Cristo Salvador da juventude e desafiado pelas inéditas e crescentes necessidades da realidade juvenil.

No Conselho Superior dedicamos várias reuniões de estudo e de diálogo, várias vezes e em sessões diferentes, a resolver o que era pos­sível e a procurar luzes de orientação sobre muitos aspectos de um processo evolutivo ainda em pleno desenvolvimento, que não pode pres­cindir das perspectivas do tempo. São proble­mas sentidos pelos Irmãos e pelas Irmãs, um pouco por toda a parte, e que ricochetearam em nós, especialmente através do Conselheiro para a Família Salesiana.

Antes, porém, de enumerar alguns verdadei­ros problemas, queria ressaltar que muitas difi­culdades das quais, por vezes, se fala, são tais somente porque não se aprofundou suficiente­mente o conceito genuíno de Família Salesiana; talvez seja justamente este o primeiro problema a ser resolvido mediante uma mentalização em todos os níveis de Congregação. O conhecimen­to dos conteúdos dos dois Capítulos Gerais 20 e 21 deve ser completado com a leitura do que outros grupos também disseram sobre a Famí­lia Salesiana e o modo como sentem de perten­cer a ela.

De qualquer maneira, pode ser útil acenar aqui rapidamente a alguns problemas mais sig­nificativos; provêm da vida concreta e podem estimular a reflexão e iluminar as perspectivas de crescimento.



  • O primeiro problema é: Como desenvolver mais e melhor na Congregação a consciência e a realização do papel que nos compete na Família.



Nela — com efeito — temos particulares responsabilidades: manter a unidade de espírito e promover intercâmbio fraterno com vistas a um enriquecimento mútuo e maior fecundidade apostólica”.52

Este papel comporta a tarefa, que não é fácil, de saber estimular adequadamente os vários grupos, seja na sua identidade e autono­mia específica, seja sobretudo na comunhão de conjunto num mesmo espírito e numa mesma missão.

Neste campo já se deram passos adiante, mas longa estrada resta ainda a percorrer.

Felizmente, já se iniciou um estudo mais aprofundado dos dados históricos sobre a Famí­lia Salesiana e do pensamento genuíno de Dom Bosco a respeito. O simpósio destes dias na Casa Geral é disso um exemplo válido e positi­vo.

Os principais grupos da Família Salesiana têm atrás de si um século de relações, atuações, intervenções da Santa Sé, diretrizes dos respon­sáveis dos vários grupos, de acontecimentos através dos quais passaram. Todo esse patrimô­nio de experiência deve ser estudado, como “memória” que ilumine a consciência dos irmãos e torne mais explícito e corajoso o nosso papel de animação.

Foi por isso que se procurou dar lugar de destaque ao tema da Família Salesiana na for­mação dos Irmãos, como podeis constatar na Ratio.53



  • Outro problema é o de estabelecer o grau de responsabilidade e o gênero de relações que a Congregação tem ou deve ter com cada um dos grupos.



Na comunhão de conjunto, cada grupo tem sua justa autonomia e seu tipo peculiar de vin­culação à Congregação. Nosso papel de anima­ção deverá adequar-se à especificidade de cada um, mesmo que permaneça aberto, como mais característico da Família enquanto tal, um vasto campo de animação comum.

Para insistir sobre a comunhão, será pre­ciso conhecer e saber respeitar a autonomia de cada grupo e a sua situação jurídica; conhecer as diferentes necessidades e as várias solicita­ções vinculadas com a animação da Congrega­ção, para tomar um serviço apropriado e em mais concreta consonância com as nossas pos­sibilidades.

Para isto é urgente criar, a nível inspetorial, estruturas de formação, de animação, de comu­nicação etc. para a Família Salesiana.



  • Problema particularmente delicado é o dos critérios de pertença à Família Salesiana.



O artigo 5 das Constituições considera his­toricamente incluídos por fundação na Família Salesiana os Salesianos, as Filhas de Maria Auxiliadora e os Cooperadores; além disso, os Ex-alunos “a título da educação recebida”.

Sabemos que dela fazem parte oficialmente também as Voluntárias de Dom Bosco.54 Tais grupos confirmaram esta pertença, quer com declarações oficiais, capítulos gerais, assem­bleias, estatutos, regulamentos, artigos consti­tucionais e regulamentares, quer com o seu com­portamento prático.

Outros grupos posteriores, que por funda­ção se referem aos Salesianos e às Filhas de Maria Auxiliadora e se consideram praticamente como fazendo parte da Família Salesiana, modificaram suas Constituições e documentos ofi­ciais, declarando quererem adequar-se, de um modo que lhes é específico, à comunhão no carisma de Dom Bosco.55

Era útil, pois, convir nos critérios de salesianidade e estabelecer um “procedimento” a fim de que o Reitor-Mor, com o seu Conselho e com o assentimento dos Responsáveis dos outros grupos, pudesse declarar oficialmente sua pertença.

O Conselheiro para a Família Salesiana reuniu, com a colaboração dos responsáveis dos grupos principais e de alguns peritos nossos, um conjunto de observações e critérios, estuda­dos depois e aprovados “ad experimentum” pelo Conselho Superior, que se terão presentes nesse procedimento. Mais adiante, na seção Documen­tos, encontrareis as “Orientações adotadas pelo Conselho Superior para o reconhecimento de pertença à Família Salesiana”.



  • Outro problema, já muitas vezes discutido, é o da “natureza” da pertença dos Ex-alunos.



O Capítulo Geral Especial iniciou a refle­xão, afirmando que “a ela pertencem a título da educação recebida, que pode exprimir-se em vários compromissos apostólicos”. Parece que, para compreender a sua natureza e esclarecer as suas dificuldades emergentes, é preciso dirigir-se quer aos empenhos apostólicos no âmbito da cultura, sobretudo no seu setor educativo (que é como a pátria da missão salesiana), quer aos valores do Sistema Preventivo, que é um dos componentes do “carisma de Dom Bosco”.

Entretanto, em muitas regiões a associação dos Ex-alunos é florescente e dinâmica e merece generosa animação de nossa parte.

Enfim, se considerarmos a profunda evolu­ção social e cultural que aconteceu sob o impul­so dos tempos, as contribuições eclesiológicas do Vaticano II, a renovação da Vida Religiosa, o relançamento do laicato no Povo de Jesus, a promoção da mulher na Sociedade e na Igreja, a novidade mutável da realidade juvenil, o salto de qualidade na consciência e no dinamismo dos povos, a situação problemática de alguns conti­nentes e das suas massas juvenis, o pluralismo ideológico e os esquemas políticos de muitos países, havemos de encontrar muitos outros elementos de desafio que nos interpelam tam­bém sobre a identidade, funcionamento, promo­ção e eficácia apostólica da Família Salesiana.

Quis lembrar-vos alguns problemas para fazer intuir melhor que nos encontramos ainda frente a um notável trabalho de estudo e de verificação, num processo evolutivo apenas ini­ciado.

Uma verdade, porém, permanece clara: a Família Salesiana, com o progredir do tempo, adquire sempre mais importância!



Eis, caros Irmãos, um tema de vital importância para o nosso futuro



O projeto embrional, inspirado pelo Alto a Dom Bosco nos anos 1840 e 1850, cresceu e foi evoluindo homogeneamente durante a própria vida do Fundador. Daquele embrião, iniciado por Dom Bosco como sacerdote diocesano na Igreja local de Turim com a união de muitas forças para ajudar a juventude pobre e abando­nada mediante a “Obra dos Oratórios”, desenvolveu-se e amadureceu, pouco a pouco e sem­pre de forma providencial, uma estruturação mais articulada e de maior estabilidade de ver­dadeira “Família espiritual” na Igreja universal. Na consciência de Dom Bosco foi emergindo e esclarecendo-se a sua vocação pessoal de Funda­dor na Igreja (1859: Salesianos; 1872: Filhas de Maria Auxiliadora; 1876: Cooperadores), fazen­do dele o iniciador de um novo carisma do Povo de Deus, como “mestre-escola” de um estilo peculiar de santificação e de apostolado.

Já em 1899 o Bollettino Salesiano, no edito­rial de fevereiro, descrevia assim a herança de Dom Bosco Fundador: “É-nos grato poder aproveitar todas as ocasiões para demonstrar aos nossos Cooperadores e Cooperadoras que, conosco e com as Irmãs de Dom Bosco, eles formam uma única grandiosa família, animada de um mesmo espírito nos vínculos suavíssimos da fraternidade cristã”.56

Esta Família, agora claramente articulada nos seus grupos fundamentais, foi-se depois desenvolvendo “em sintonia com o Corpo de Cristo em perene crescimento”.57 Depois do Vaticano II ela retomou mais clara consciência da sua natureza carismática.

Cabe hoje a todos os filhos e filhas de Dom Bosco, “juntos”, assegurar-lhe a identidade e a vitalidade. E nessa corresponsabilidade de todos, cabe a nós, queridos Irmãos, um papel vocacio­nal e histórico de específico serviço e de anima­ção com “particulares responsabilidades”.

Portanto, se quisermos amar verdadeira­mente a Dom Bosco, esforcemo-nos por conhe­cer melhor a Família Salesiana e dedicar-nos, com generoso sacrifício e inteligente coragem, a promover e revigorar a sua comunhão e a sua missão.

Recordemos suas origens históricas, para crescer em fidelidade e fecundidade.

Nossa Senhora Auxiliadora, que guiou Dom Bosco em tudo, nos ilumine e ajude!

Uma saudação fraterna a todos, na expecta­tiva da alegria pascal.

Com coração “oratoriano”,





1 Simpósio sobre a Família Salesiana, 19-22 de fevereiro de 1982.

2 Const. FMA, 3.

3 ACS 295.

4 ACS 301.

5 CGE, 151-177,

6 CGE, 152.

7 CGE, 159.

8 Conferência aos Cooperadores em Borgo S. Martino, 1º de julho de 1880.

9 Carta a João Cagliero, 27 de abril de 1876.

10 P. BRAIDO, Il progetto operativo di Don Bosco e l’utopia della società cristiana.

11 CGE, Apresentação do P. Luís Ricceri, p. XVIII e XIX.

12 CGE 159.

13 CGE 160.

14 Cf. MR, 11.

15 ET, 11. 12.

16 Cf. LG, 45. 46; PC, 2b; AG, 40.

17 LG, 44.

18 E. VIGANÒ, Redescobrir o espírito de Mornese, ACS 301, p. 23-24 (ed. Italiana).

19 P. BRAIDO, o.c. p. 4.

20 Cf. MB XI, 85; IV, 93.

21 Cf. MB II, 252-254.

22 J. BOSCO, Memórias do Oratório de S. Francisco de Sales, EDB, Brasília, p. 23.

23 MB XII, 69.

24 MB XI, 85-86.

25 MB XVIII, 169-161.

26 Para a lista dos vários grupos, ver Bollettino Salesiano, 1º de setembro de 1981, p. 11.

27 Cf. ET, 11. 12.

28 MR, 11.

29 Cf. LG, 45; PC, 2. 20. 22; CD, 33. 35,1. 35,2.

30 LG, 42.

31 PC, 1.

32 Cf. LG, 41.

33 A. G. SERTILLANGES, Il cristianismo e la filosofia.

34 Cf. Const. 40.

35 Cf. E. VIGANÒ, Non secondo la carne ma nello Spirito, 1978, p. 90-99.

36 Cf. LG, 31.

37 Cf. PO, 8.

38 Cf. Const. 5.

39 CGE, “Os Salesianos de Dom Bosco na Igreja, identidade e vocação atual da Sociedade Salesiana”.

40 CGE, “As perspectivas da ‘Família’ Salesiana hoje”.

41 CG21, 402-403.

42 CG21, 402-403.

43 Cf. “As diferenças”, CGE, 166-170.

44 Cf. “Razões, conteúdos e modos”, CGE, 174-176.

45 CGE, 174.

46 CG21, 588.

47 CGE, 189.

48 CGE, 177.

49 ACS 303.

50 MB X, 1078.

51 Cf. ACS 304, seção Documentos.

52 Const. 5; cf. CGE, 189; CG21, 75. 402. 403.

53 N. 54. 57. 182.234. 272. 368. 375. 399.

54 Cf. CGE, 156. 168.

55 As Filhas dos Sagrados Corações do P. Variara pediram a pertença oficial e, como podeis ver na seção Documentos, o seu pedido foi acolhido.

56 Bollettino Salesiano, fevereiro de 1899, p. 29.

57 MR, 11.