Carta do Reitor-Mor


Carta do Reitor-Mor



1 “Dou graças ao meu Deus, cada vez que me lembro de vós.” (Fl 1,3)

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1.1 Apresentação da Região Europa Oeste

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Dom Bosco na França, Espanha, Portugal e Bélgica Sul Nas origens, uma boa implantação do carisma Um desenvolvimento espetacular Situação Cultural, Social e Religiosa hoje Situação salesiana na Região Uma palavra sobre as diversas Obras A Pastoral Juvenil A Comunicação Social A dimensão missionária A Família Salesiana A formação inicial e a formação contínua A formação permanente Os grandes desafios da região Linhas de ação1. Promover uma animação vocacional específica que seja expressão do testemunho da vida comunitária e da fecundidade da missão ● 1.1. Garantir as condições para que cada comunidade viva uma verdadeira experiência espiritual e seja testemunho de fé, visível e legível pelos jovens ● 1.2. Criar um novo modo de presença salesiana verdadeirame1nte significativa, que seja atraente e propositiva para os jovens e que ponha a evangelização como objetivo prioritário ● 2. Assegurar as mudanças conseqüentes na vida e na organização das inspetorias e da Região



Roma, 8 de setembro de 2004.

Natividade da bem-aventurada Virgem Maria



Queridos irmãos,

Eu vos escrevo, dando graças a Deus cada vez que me lembro de vós (Fl 1,3). Esse o título que quis dar a esta carta sobre a Região Europa Oeste. Ainda que seja válido para todas as Regiões, porque expressa a intensa comunhão que há entre nós e o reconhecimento do trabalho feito para a expansão da Congregação e a difusão do carisma de Dom Bosco, não há dúvida que se aplica de modo especial a essa Região. A Espanha Salesiana conheceu um grande crescimento, o maior e mais consistente depois da Itália e antes que viesse o da Índia. A França destacou-se por seu amor a Dom Bosco, à sua espiritualidade, à sua pedagogia. Portugal teve uma admirável extensão missionária em todos os países das antigas colônias lusitanas. A Bélgica do Sul colaborou sempre generosamente nas presenças missionárias.

Durante estes últimos meses, desde minha última carta sobre a Palavra de Deus e vida salesiana, passei a maior parte do tempo na Casa Geral, numa laboriosa sessão de Conselho, na qual examinamos e aprovamos dois terços dos documentos elaborados pelos Capítulos Inspetoriais. Há todavia algumas notícias que merecem um pequeno comentário.

Em primeiro lugar os Exercícios Espirituais que fizemos juntamente com o Conselho Geral das Filhas de Maria Auxiliadora, em Santa Fosca de Cadore, no começo de julho. Além do fato de ser a primeira vez de tal acontecimento na história dos nossos institutos, com todo o significado carismático que ele pode ter, queríamos fazer uma experiência de procura em conjunto da passagem do Espírito no hoje da Igreja e do mundo, para conhecer melhor o que Deus espera de nós, quais são suas expectativas, qual a sua vontade. Sob esse perfil, seja o cenário natural, deveras espetacular, seja o clima agradável, seja a convivência familiar, seja a partilha espiritual, seja a reflexão oferecida e celebrada, foram iluminadores e propositivos. Faltaram Madre Antônia Colombo e duas conselheiras, que por motivos de saúde, não puderam participar.

Agosto caracterizou-se pelo Campobosco dos jovens da Espanha e pelo Confronto Europeu, que reuniu centenas de jovens, por ocasião do jubileu da canonização de São Domingos Sávio e do centenário da morte de Laura Vicuña. As duas reuniões foram cuidadosamente preparadas e realizadas com grande empenho de todos, a começar pelos próprios jovens, verdadeiros protagonistas dos eventos. Como é natural, esses eventos são tanto mais fecundos quanto mais visam a uma meta e a um ponto de relançamento dentro de um processo de maturação humana e cristã e de espiritualidade salesiana.

Não posso, neste contexto de comunicação fraterna, deixar de dizer uma palavra sobre a recente campanha que se fez contra nós por parte de alguns meios de comunicação americanos, acusando a Congregação de praticar uma política de transferência de um país para outro dos irmãos acusados de abusos contra menores, visando de modo particular à Inspetoria da Austrália. Os inspetores dos Estados Unidos e, depois, o inspetor da Austrália publicaram um comunicado na imprensa, negando semelhante política como instituição, pedindo perdão dos possíveis erros e de uma gestão nem sempre adequada dos casos, mostrando solidariedade com as vítimas, recalcando as orientações dados pelo Reitor-Mor e pelo seu Conselho, e deixando claro que cada inspetoria é responsável pela gestão desses casos. Ao mesmo tempo em que acolhemos essa prova como um momento de purificação por aquilo que no passado não tenha estado à altura de quanto se espera de nós, renovamos o nosso compromisso de fazer dos jovens a razão da nossa vocação e missão, e ser para eles “sinais e portadores do amor de Deus”.



1.2 Dom Bosco na França, Espanha, Portugal e Bélgica Sul

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Com a carta “Sereis as minhas testemunhas... até os extremos confins da terra” (AGC 385) dava início à apresentação da realidade da Congregação em cada uma das suas Regiões geográficas e já vos anunciava a apresentação da Região Europa Oeste. Com esta carta, “Dou graças a Deus cada vez que me lembro de vós” (Fl 1,3), tento aproximá-los da história dessa Região, que é gloriosa, e da riqueza da sua realidade presente, e ao mesmo tempo procuro tornar-vos participantes dos esforços que está realizando para responder com criatividade aos ingentes e urgentes desafios que interpelam o carisma salesiano no Ocidente.

A Região Europa Oeste foi constituída no CG24. Geograficamente é a menor da Congregação. Compreende a Bélgica, a França, a Espanha e Portugal, com algumas presenças que, por razões histórico-políticas ou por generosidade apostólica, permaneceram unidas a alguma das inspetorias. Portugal mantém sua presença nas ilhas de Cabo Verde, a França tem uma comunidade em Marrocos e uma na Suíça, a Inspetoria de Barcelona dirige um centro escolar na República de Andorra. A Delegação de Moçambique, conquanto dependente da Inspetoria de Portugal, a partir do CG24 faz parte da Região África. Após a unificação das inspetorias da França (1999), a Região compreende 10 inspetorias. Algumas casas dessas inspetorias já celebraram o centenário de fundação.

Sem dúvida, a presença salesiana na Região sofre o impacto do acelerado e profundo processo de transformação da Europa, a começar pela unificação da moeda. Durante estes últimos decênios, com efeito, avançou-se decididamente uma definição do rosto europeu nas diversas dimensões da vida. Como em outros lugares, também aqui os aspectos econômicos já se impuseram, ao passo que em outros campos se encontram dificuldades. Lamentáveis foram as experiências das guerras nos Bálcãs, da guerra contra o Iraque e da reconstrução desse país, e as duras tratativas no momento de subscrever a Constituição européia. Tudo isso faz emergir os diversos interesses e as diferentes sensibilidades. A Europa não é uniforme, nem na cultura, nem na sua história, nem da teologia, nem nas expressões da suas religiosidade. E nem mesmo a realidade salesiana, sempre tão ligada aos contextos, é a mesma nessa Região da Congregação. Durante estes últimos anos, a Região quis ser um espaço de abertura, de diálogo, de conhecimento recíproco e partilha. Pode-se garantir que já se caminhou, mas as próprias vicissitudes históricas e culturais, vividas ao longo da história de cada um desses países, deixaram sua marca também na vida salesiana e nas suas múltiplas expressões. O processo de unificação é forte e inarredável, e há fatores que incidem na mesma medida na Região, mas a história tem o seu peso, o que explica a diversidade da própria realidade salesiana dentro dela.



1.3 Nas origens, uma boa implantação do carisma

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Em dezembro de 1874, quase um ano antes de dar início à sua aventura americana, Dom Bosco é “recebido em Nice (França) de forma apoteótica”.1 Um ano depois, dia 20 de novembro de 1875, retorna para cuidar de um pequeno “patronage”. Acompanhavam-no o padre Ronchail (sobrenome francês), que será o diretor, o coadjutor Filipe Cappellaro e o noviço Jean-Batiste Perret. Dom Bosco queria repetir em Nice a experiência de trinta anos antes na casa Pinardi. A nova casa tem “todas [as] bases de Turim”, escrevia a Dom Rua.2 Durante o ano 1876-1877 foram preparadas as primeiras oficinas para sapateiros, alfaiates e carpinteiros. No dia 12 de março de 1877, foi inaugurada com solenidade a nova sede da obra. “Para lembrar o acontecimento, Dom Bosco mandou imprimir um fascículo bilíngüe, no qual aparece pela primeira vez o seu ‘pequeno tratado’ sobre o sistema preventivo”.3 As fundações se multiplicam rapidamente na França: o Oratório de San León em Marselha, as obras de Cannes e Challonges, de breve duração, La Navarre, a casa sonhada por Dom Bosco, onde pela primeira vez os salesianos assumem a direção de uma colônia agrícola, na qual os jovens órfãos são encaminhados aos trabalhos do campo. Nesses anos, Dom Bosco visita várias vezes o Sul da França. Em 1883, chega a Paris. Desse momento em diante, entre Dom Bosco e a França, estabelecem-se tais relações de admiração, apreço e amizade de um lado, e de generosa ajuda de outro, que um século depois podem mesmo surpreender. Em 1884 os salesianos chegam a Paris, guiados pelo padre Charles Bellamy, sacerdote diocesano que um ano antes se fizera salesiano.

Pouco depois do início da obra na França, em 24 de janeiro de 1880, numa pitoresca viagem de trem, maravilhosamente narrada numa carta escrita ao padre Rua, o padre Cagliero juntamente com o coadjutor José Rossi, chega a Sevilha (Espanha) num trabalho de exploração: Cagliero com “teja – telha” ou chapéu eclesiástico espanhol e Rossi com o “cilindro de su chistera”. Dois dias depois, o arcebispo de Sevilha, muito bem impressionado pelos dois ilustres visitantes, escrevia a Dom Bosco “os melhores cumprimentos aos novos operários”.4 A profecia se realizará logo, e em grau eminente.

Cagliero e Rossi deixaram em Sevilha um halo de grande simpatia e de entusiasmo pelas obras de Dom Bosco. João Cagliero “tinha conquistado os vivazes andaluzes com a sua grande simplicidade, o seu constante bom humor e a sua maneira de tratar o povo, a sua franqueza e cordialidade”.5 Não obstante a viagem ter sido muito gratificante, a promessa de ter uma comunidade salesiana na Espanha não se realizaria até 16 de fevereiro do ano seguinte, 1881, dia em que chegaram a Utrera os primeiro salesianos que Dom Bosco mandava para a fundação na Espanha.

Se a viagem de exploração, feita de trem por Cagliero e Rossi, foi pitoresca, por mar e sempre com tempestade foi a da primeira comunidade: ventos, tempestades, ondas gigantes, nevoeiro e enjôo de mar. Havia de tudo, não faltava nada. Em Gibraltar dão o último abraço aos irmãos que continuam a viagem para a América, ao passo que a nova comunidade faz a última escala em Cádiz. Dessa cidade, agora em terra firme e de trem, prossegue para Utrera. Às seis e meia da noite os peregrinos avistam as agudas torres da cidade, o padre Cagliero, emocionado, grita: “Eis Utrera”. “Todos os salesianos, com as mãos juntas, rezaram uma Ave-Maria à Auxiliadora. Começava a obra de Dom Bosco na Península Ibérica”.6

Visitando as casas salesianas na Andaluzia, tem-se a impressão de que os salesianos não deixaram de rezar e cantar essa Ave-Maria em meio ao povo. Quando Dom Bosco enviou à América os primeiros salesianos em 1875, despediu-se deles no Santuário de Maria Auxiliadora e, por escrito, deu-lhes vinte lembranças, que são um verdadeiro breviário de pastoral prática e conservam ainda hoje sua plena validez.

1.4 Procurai almas e não dinheiro, honras, dignidades...

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Amai-vos, aconselhai-vos e corrigi-vos mutuamente...

Inculcai a devoção ao Santíssimo Sacramento e a Maria Auxiliadora...

O bem de um seja o bem de todos...

Nas fadigas e sofrimentos não nos esqueçamos de que nos aguarda um grande prêmio no céu.
(MB XI, 389-390)



Partiram da Itália aqueles primeiros salesianos e puseram em prática os conselhos do Pai também na Península Ibérica: “O povo os acolhe e venera porque são homens de Deus: ajudam os jovens em suas necessidades, procuram recursos na luta contra infortúnios ou tentam diminuí-los, são infatigáveis e desinteressados trabalhadores”.7 O espírito salesiano, manifestado na preocupação de educar os jovens mais pobres e abandonados, no oratório festivo, na sua simplicidade e estilo popular, e, sobretudo, na propagação da devoção a Maria Auxiliadora, se apossa imediatamente do coração dos andaluzes e abre a porta de todos, inclusive uma parte da nobreza e da burguesia “conservadora” da Espanha, que via com preocupação as desastrosas conseqüências que a falta de instrução e de educação cristã produzia entre os filhos dos operários e das classes populares.

Graças à eficiente intervenção de Dona Dorotea de Chopitea, que desejava poder fazer alguma coisa pela juventude pobre de Barcelona, em 1884 os salesianos chegam a Sarriá. O desenvolvimento das suas oficinas e a sua influência na Espanha salesiana é “quase um milagre”. A ida de Dom Bosco a Barcelona em 1886 despertou ondas de entusiasmo e generosidade de todos os lados, a ponto de presentearem a colina do Tibidabo para que nele se construísse um templo ao Sagrado Coração.

Os primeiros pedidos para uma obra em Portugal remontam a 1877,8 mas as primeiras tratativas para conseguir uma presença dos filhos de Dom Bosco no país começaram em 1882, por obra de dom Sebastião Vasconcelos, que se pôs em contato direto com Dom Bosco e, em 1883, animado pelo mesmo espírito do santo, fundou as Oficinas São José do Porto, para a educação e qualificação profissional “dos rapazes da rua”, dando a essas oficinas a fisionomia de uma típica casa salesiana.9 Mas os salesianos chegaram a Portugal somente em 1894, sendo superior geral padre Rua. A cidade de Braga, embora não tenha sido a primeira a pedir a presença dos filhos de Dom Bosco, foi a primeira a tê-los. A primeira comunidade – dois padres e um estudante – cuidará do Colégio dos Órfãos de São Caetano. A ela seguir-se-ão as fundações: Lisboa (1896), Angra do Heroísmo (1903), Viana do Castelo (1904) e Porto (1909). São bem conhecidos os grandes empreendimentos marítimos dos portugueses. Não é de admirar, pois, se de Lisboa os salesianos vão imediatamente a Macau (1906), a Tanjor (1906) e Maliapor (1909) na Índia, e fundam uma escola de artes e ofícios na ilha de Moçambique (1907). O carisma salesiano em Portugal desenvolveu-se tanto, que em 1899 foi ereta como inspetoria autônoma, separando-se de Barcelona, primeira sede inspetorial na Península Ibérica.10

Podemos também considerar miraculosos os inícios da obra salesiana na Bélgica. Em 7 de dezembro de 1887, o bispo de Liege, dom Doutreloux, ia a Turim para convencer Dom Bosco a abrir uma escola profissional na sua cidade. Os superiores, de acordo com Dom Bosco, pensavam em temporizar antes de aceitar. Mas na manhã do dia seguinte, “com grande maravilha do padre Celestino Durando (encarregado dos procedimentos para os novas fundações), Dom Bosco disse sim ao bispo, como se já não existissem as dificuldades surgidas no dia anterior”.11

Que havia acontecido? No dia da Imaculada, o padre Carlos Viglietti foi ao quarto de Dom Bosco e ouviu-o dizer: “Pega a caneta, tinta e papel, e escreve o que eu vou ditar. Palavras textuais da Virgem Imaculada que me apareceu esta noite e me disse: ‘Agrada ao Senhor e à bem-aventurada Virgem Maria que os Filhos de São Francisco de Sales abram uma casa em Liege, em honra do Santíssimo Sacramento...’”.12 Pouco depois chega dom Cagliero e o padre Viglietti lhe lê o manuscrito. Cagliero, maravilhado, diz: “Também eu ontem me opus, mas agora chegou o decreto. Nada há mais o que dizer!”.13 Foi nessa ocasião que Dom Bosco pronunciou a famosa sentença: “Até agora caminhamos com segurança, não podemos errar. É Maria que nos guia”.14 A forma com que se adquiriram os terrenos e como se realizou a obra em Liege não tardaram a demonstrar que justamente Maria queria aquela casa naquela cidade do “Corpus Christi”. A Liege seguiram-se Tournai, uma casa de noviciado em Hechtel e outras obras, até as casas da Bélgica passarem a formar inspetoria autônoma em 1902.



1.5 Um desenvolvimento espetacular

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Poderia definir-se como realmente espetacular o desenvolvimento da Congregação Salesiana nos países da Região. Quando em 1892 o padre Albera, primeiro inspetor na França voltou à Itália para ser nomeado catequista geral, deixava treze florescentes fundações. Até os adversários, à sua maneira, davam testemunho à vitalidade dos filhos de Dom Bosco, os quais, segundo o relator de uma comissão do Senado francês, formavam “um grupo de criação recente, mas que hoje se irradia pelo mundo inteiro”.15 Em 1896, já eram duas as inspetorias na França e “por ocasião da Exposição Universal de Paris (1900), os salesianos ganharam duas medalhas por suas realizações sociais”.16

Na Espanha, “o trabalho dos salesianos era apreciado, também pelo governo. Um decreto de 1893 os elogiava, destacando a contribuição dada por eles à solução da questão operária. Elogios idênticos ouviram-se no ano seguinte, no quarto congresso internacional católico de Tarragona”.17

Como na Argentina, também na Espanha foi o padre Cagliero, o fundador da obra salesiana. Todavia, foram os padres Filipe Rinaldi, Pedro Ricaldone, Juan Branda e Ernesto Oberti que realmente implantaram o carisma salesiano na Península Ibérica.

Em 1889 chegou à Espanha o padre Filipe Rinaldi como diretor da Casa de Sarriá. Pela sua amabilidade, grandeza de coração e intuição psicológica, conquistou logo o afeto de todos. Três anos mais tarde foi nomeado “primeiro inspetor da Espanha e de Portugal”, com sede em Barcelona. Nove anos depois voltava para a Itália, a fim de tomar parte no então chamado Capítulo Superior. Deixava vinte comunidades de salesianos na Espanha e três em Portugal. É nesse momento que entra em cena, com grande dinamismo e carisma, o padre Pedro Ricaldone.

Ele também tinha tido a ocasião de conhecer e conversar com Dom Bosco. Fez o noviciado em Valsalice, “onde teve como companheiros o príncipe padre Augusto Czartoryski e o padre André Beltrami”.18 Chega à Espanha aos 19 anos de idade. De Utrera funda com sucesso o oratório festivo no difícil subúrbio de Sevilha-Trindade. Em 1889 é consagrado sacerdote e, um ano depois, é nomeado diretor da mesma casa de Sevilha-Trindade. Tinha 24 anos, mas, como disse o padre Filipe Rinaldi ao padre Rua, “é realmente um homem e é muito amado”.19 Em Sevilha, o padre Pedro faz-se espanhol e andaluz. Em 1901 é nomeado “primeiro inspetor da província Bética”. A esse ponto – apenas vinte anos após a chegada dos primeiros salesianos – criam-se quatro inspetorias na Península Ibérica: três na Espanha e uma em Portugal.

Os primeiros anos do século XX não são ao certo muito promissores para as congregações religiosas na Europa. Leis de governos liberais e abertamente anticlericais abatem-se como violento furacão sobre elas. O golpe revolucionário (1910) sufocava bruscamente o desenvolvimento dos salesianos em Portugal. A Inspetoria Norte da França foi suprimida.

Outra dura prova para a Congregação foi a primeira Guerra Mundial. Quase a metade dos salesianos foi chamada a pegar as armas. Muitos colégios foram requisitados para serem transformados em quartéis ou hospitais. Mas, precisamente na França e na Bélgica, a obra salesiana renasceria após a primeira Guerra Mundial, e com uma força extraordinária. Em 1959 as presenças salesianas da Bélgica distribuíam-se em três inspetorias: Bélgica Norte, Bélgica Sul e África Central. As duas inspetorias da França (duas de novo desde 1925) iniciaram sua presença na África (Congo, 1959).

Por sua vez, a Espanha – e nela a Família Salesiana – viu-se ensangüentada pela guerra civil (1936-1939). Foram momentos de prova e de purificação. Os mártires da Família Salesiana, noventa e cinco ao todo, são disso um bom testemunho, mas, como diz Tertuliano, “o sangue dos mártires é sempre semente de novos cristãos”, e, também nesse caso, foi de muitas vocações. Nos fins dos anos 50 e início dos anos 60, o crescimento vocacional leva a Espanha a sete inspetorias, e os seus missionários difundem o carisma salesiano até os mais distantes confins do mundo. Ao mesmo tempo, a Inspetoria de Portugal se torna responsável pelas casas de Macau, Cabo Verde e Moçambique.



1.6 Situação cultural, social e religiosa hoje

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A Região compreende hoje uma área com cerca de 120 milhões de habitantes e uma densidade que vai dos 80 habitantes por quilômetro quadrado na Espanha aos 334 na Bélgica. A mortalidade infantil nunca supera o 0,9%, e a expectativa de vida chega a 74 anos para os homens e 80 anos para as mulheres. O analfabetismo praticamente desapareceu, exceto entre as pequenas minorias ou classes étnicas. Os núcleos familiares formados por uma só pessoa aumentaram em todos os países da união européia, superando 28%.

Em nível sociológico, não se pode descuidar a presença maciça dos imigrantes como um fator social de relevo que preocupa os governos e a Igreja e nos apresenta desafios não indiferentes. Por uma parte, a Europa tem necessidade dos imigrantes, mas por outra preocupa a condição de ilegalidade em que chegam, e muitíssimos permanecem. Isso favorece a exploração, o desenvolvimento das máfias, a marginalização, o viver em condições desumanas e/ou o recorrer à delinqüência para sobreviver. A Bélgica é o país da Região com a porcentagem mais alta de imigrantes: passa de 10%.

Por meio das escolas, os colégios, os centros juvenis, as diversas plataformas sociais e “casas de acolhida”, a Congregação Salesiana da Região tenta colaborar, oferecendo respostas ágeis e criativas a esse preocupante problema.

De modo particular constata-se o crescimento dos muçulmanos (cerca de 7.500.000 na Região, o que faz do Islã a segunda religião), com a natural exigência dos seus direitos e do seu reconhecimento político e religioso, mas também com a sua cultura, que muitas vezes entra em conflito com a européia e até com os direitos humanos (sobretudo os que se referem à mulher). Outro fenômeno sério é a invasão das seitas, que desafiam a nossa capacidade de evangelização.

O fenômeno da mundialização e da globalização tem – como todas as realidades históricas – aspectos positivos, sobretudo se consegue dar-lhe um rosto humano e fazer prevalecer o valor das pessoas sobre outros interesses. Mas nos damos conta de que nem sempre são os valores evangélicos que regem este mundo. Basta ver como nem mesmo as raízes cristãs foram reconhecidas na Constituição Européia.

A secularização, que em si mesma é um valor, transformou-se em secularismo, o qual prescinde da referência a Deus na organização da vida pessoal e social. Do mesmo modo, o valor da laicidade converteu-se em laicismo, com a pretensão de uma autonomia absoluta do fato civil, pelo que alguns países se reafirmam “aconfeccionais e leigos”, mas sem garantir o que devia ser a laicidade, isto é, “um lugar de comunicação entre as diversas tradições espirituais e a nação”.20 De certo, nas Constituições dos diversos Estados europeus a liberdade religiosa está garantida, assegurando a igualdade dos cidadãos, “sem distinções de origem, raça ou religião”. Mas na realidade nem sempre é assim. Aqui e ali aparecem expressões claramente anticlericais e um laicismo agressivo, que afunda suas raízes no Iluminismo e na Revolução Francesa, e que não permanece com pura atitude cultural, mas atinge as próprias instituições civis.

A sociedade dos costumes tenta satisfazer as necessidades do ser humano reduzindo o seu campo ao material e transformando a própria pessoa num perfeito consumidor de produtos, de sensações, de experiências, enquanto o profissionalismo – conquanto positivo e necessário – limita muitas vezes o espaço da missão para muitos carismas. Evidentemente, a auto-suficiência e maturidade da sociedade do bem-estar é um bem em si mesmo, do momento em que a sociedade atinge a capacidade de satisfazer as necessidades principais da população: educação, saúde, trabalho, casa, atenção à marginalização, tudo isso desenvolvido em centros administrados com verdadeiro profissionalismo pelas instituições públicas, mas é também um fato incontrastável que esse tipo de organização circunscreve sempre mais o espaço da gratuidade, elemento característico da vida religiosa. Por outro lado, a fragmentação social confina a dimensão religiosa e transcendente no âmbito do privado.



A diminuição drástica da mortalidade nesse modelo social não é lida tanto como dado estatístico, mas como aspecto que evidencia a mentalidade da sociedade do “bem-estar”. É evidente um certo hedonismo e egoísmo que aponta o prazer como um dos objetivos primordiais da vida, sem garantir o respeito dos outros ou da lei moral. Gravíssimas são as repercussões sobre a família: divórcios, entrega da educação dos filhos a outras pessoas, dificuldades ou manipulações nas relações interpessoais.

Fruto desses fenômenos é a difusão de uma cultura delineada por certo relativismo cético e pelo desencanto, que desafiam fortemente a Igreja, a vida religiosa e o carisma salesiano.

Falar da religião ou das religiões na Europa Oeste é verdadeiramente complicado. Diante das cifras de pertença oficial, encontram-se a práxis pessoal e a prática social (batismos, matrimônios, assistência na missa dominical, funerais), as crenças mais profundas, toda uma tipologia da vivência da experiência religiosa, que vai do crente convicto e coerente ao ateu prático ou ao diagnóstico mais radical. Isso se traduz de fato na crescente desafeição da Igreja, sobretudo por parte dos jovens. São muitos os artigos e os ensaios publicados nesses anos sobre o fato religioso. Em geral, são pessimistas. Basta ouvir os títulos: “Deve-se crer no futuro do cristianismo?”;21 “O cristianismo tem um futuro?”;22 “O cristianismo já viveu o seu tempo?”;23 “Os últimos Moicanos?”;24 “Catholicisme la fin d´un monde?”.25

Esse fenômeno social interessa a nós salesianos, sobretudo pela repercussão que tem sobre os jovens. “Trata-se de uma camada da população mais sensível às modas culturais e certamente mais atingida pela secularização ambiental”.26 A evangelização se torna cada vez mais difícil por causa dessa secularização dos ambientes. Acho que se pode afirmar que existe um verdadeiro divórcio entre as novas gerações de jovens e a Igreja. A ignorância religiosa e os preconceitos alimentados por certos meios de comunicação forjaram neles a imagem de uma Igreja-instituição, conservadora, que caminha contra a cultura moderna, sobretudo no campo da moral sexual.

A mudança religiosa na Espanha foi tão veloz, que o horizonte cultural em que vivem os jovens pode resultar para nós inteiramente desconhecido. “Em particular, nota-se o aumento dos índices que falam da secularização nessa faixa de população, e sobretudo o afastamento da Igreja como instituição, que perde prestígio o valor aos olhos dos jovens.”27 Os estudos da Fundación Santa Maria chegam à conclusão de que a Igreja na Espanha perdeu o monopólio religioso. Isto significa que já não se trata de escolher entre diversos absolutos, mas que todas as ofertas religiosas são automaticamente desvalorizadas, relativizadas. Cada um pode fazer as próprias opções entre as diversas ofertas, todas colocadas no mesmo nível, e viver a sua religião a la carte, self-made.

O drama é a ruptura existente dos anéis na cadeia de transmissão da fé. Os espaços naturais e tradicionais (família, escola, paróquia) revelam-se por vezes ineficazes para transmitir a fé. Então cresce a ignorância religiosa entre as novas gerações.

Um dos analistas da sociologia religiosa espanhola afirma que continua entre os jovens a “emigração silenciosa extra muros da Igreja”. Num artigo, “Una Iglesia irrilevante para la juventud actual?” (Uma Igreja irrelevante para a juventude dos nossos dias?), o estudioso sustenta que “os jovens continuam a crer em Deus, continuam a declarar-se católico praticante, mas vão sempre menos à igreja”.28 Com todas as reservas que merecem as pesquisas, é justo todavia reconhecer que todas fazem ressaltar o aumento, na nossa sociedade ocidental, do número daqueles que se declaram crentes de alguma maneira, mas sem uma pertença a uma determinada religião. “As crenças religiosas se pluralizam e seguem cada vez menos um cânon eclesial. Por isso, lentamente diminuem os níveis de prática religiosa: sacramentos e oração.”29

Se vamos um pouco mais fundo, notamos a ausência do senso de pecado. Segundo as estatísticas, mais de 50% dos jovens dessa Região declaram-se alheios ao sentido do pecado e se caracterizam por uma acentuada tendência a maior permissividade e relativismo moral.

Embora seja verdade que a religião e a política são os valores menos apreciados pelos jovens de hoje, é também verdadeiro que o fenômeno religioso está fortemente presente na sociedade européia. Existem tantos aspectos positivos nesse contexto social e cultural que se pode falar com razão de uma época de intenso trabalho do espírito. A juventude continua a surpreender pela sua generosidade, pela capacidade de admiração e de respostas diante de algumas figuras eclesiásticas (o Papa por exemplo, pelo seu empenho diante de causas nobres). O quadro acima descrito poderia ser considerado negativo e levar-nos ao pessimismo. Absolutamente! Devemos também dizer com decisão que, embora “o novo” nos deixe atônitos, as mudanças profundas jamais respondem ao capricho de alguns, mas às necessidades dos tempos. Isso significa que existe neles o dinamismo do Espírito e a energia do Ressuscitado, que estão trabalhando na história purificando e renovando, fazendo em pedaços a inércia da sociedade e rejuvenescendo a Igreja, dando espaço a uma organização social mais de acordo com o plano salvífico do Pai. Quer dizer que a situação presente está cheia de oportunidades novas, que estão atuando as forças da salvação que levam para a mudança. O futuro do Cristianismo e da vida religiosa dependem, em primeiro lugar, não do homem mas de Deus, que pode desmentir todas as estatísticas e as mais infaustas predições. Ousaria dizer que a hora atual da Europa é uma hora nitidamente salesiana, porque a juventude hoje, mais do que nunca, tem necessidade do carisma salesiano. Um novo contexto social e cultural é um desafio e ao mesmo tempo uma oportunidade.

As estatísticas e as sondagens, para nós, nunca são a última palavra. É importante, porém, conhecer esses estudos, porque eles são reveladores da situação em que estamos vivendo e desenvolvendo a missão que nos foi confiada, ajudam-nos a compreendê-la e interpretá-la, e, sobretudo, podem servir como base para o nosso compromisso educativo e evangelizador. Convido-vos, por isso, a estudar e aprofundar os estudos sobre a realidade dos nossos jovens. É uma primeira manifestação do nosso amor por eles.

Vem-me à mente a expressão de Höldering: “Onde cresce o perigo, crescem também as possibilidades de salvação”. A nossa esperança e a nossa força residem no Espírito do Ressuscitado. Não há portas fechadas para a sua energia transformadora. As suas palavras são tranqüilizadoras e encorajadoras: “Tereis tribulações no mundo, mas tende confiança. Eu venci o mundo” (Jo 16,33b). Temos somente necessidade de docilidade ao seu Espírito, que nos cure e nos regenere. Quem sabe se não é este o tempo em que o Espírito nos leva ao deserto, à purificação e à espera. Quem sabe se não é este o momento de romper os vínculos que nos ligam muito aos modos passados de ver e de viver. Quem sabe se o Espírito não está colocando em movimento dinamismos históricos para a transformação da história, que nos pedem que estejamos preparados. Uma coisa é certa: não estamos sós, Ele é fiel e nos acompanha.



1.7 Situação salesiana na Região

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Encontramo-nos diante de um paradoxo e de uma constatação interpelante: enquanto a situação juvenil (ignorância religiosa, descrença, novas pobrezas sociais, familiares, emigração e exploração ou abandono dos menores, culturas da noite – tema atual que preocupa os governantes) invoca verdadeiros e empreendedores apóstolos, as vocações à vida religiosa e ao ministério sacerdotal em geral, e à vida salesiana em particular, encontram-se em situação de forte queda numérica.

Antes de oferecer alguns dados, gostaria de chamar atenção sobre os próprios dados e sua finalidade. Eles como foi dito acima, iluminam a realidade e convidam a refletir sobre as nossas presenças e a agir em conseqüência, de modo a projetar bem o futuro, assumindo com audácia os desafios do presente. Eis pois a ótica em que me coloco.

Os salesianos na região são 1.795. Deve-se notar que nos últimos 25 anos houve uma diminuição de cerca de dois mil irmãos. Alguns deles fizeram a escolha de ficar nas novas circunscrições da África Salesiana, outros foram para diversos países de missão, outros deixaram a Congregação, outros morreram. A isto se acrescenta, por um lado, a drástica diminuição vocacional em todos esses países – Bélgica, França, Portugal e Espanha –, e, de outro, o envelhecimento dos irmãos ativos e a complexidade das obras. O conjunto desses fatores faz com que se gastem as melhores energias na gestão das estruturas e na organização, e se coloque em risco a qualidade das relações interpessoais e da animação pastoral. De certo a competência educativa e a identidade salesiana dos leigos, juntamente com o trabalho dos irmãos, contribuem para tornar salesiana as obras e as diversas atividades. Todavia a comunidade salesiana perde visibilidade e significatividade.



1.8 Uma palavra sobre as diversas obras

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Devemos dizer que a escola é a presença salesiana mais consistente da região. Há 217 escolas, com um total de 105.800 alunos. Em geral, a escola é subvencionada pelo Estado ou pelas regiões políticas. Profissionalmente é bem organizada, muitas vezes administrada por leigos ou pelo menos com uma forte presença e colaboração deles. Quereria sublinhar aqui o esforço feito pela Inspetoria da França que, através da associação Maisons Don Bosco, a Tutelle e os seus diversos organismos, tenta com criatividade garantir a identidade do projeto salesiano nas diferentes obras administradas completamente pelos leigos. O mesmo se pode afirmar da Réseau Don Bosco, na Bélgica, e da presença dos salesianos nas diversas associações ASBL (Associações Sem Fim Lucrativos).

Os centros escolares elaboraram o seu Projeto Educativo-Pastoral, no qual se definem como centros católicos e salesianos. Em geral, é garantida a liberdade de organizar a vida acadêmica de acordo com esse caráter próprio. Nem em todos os lugares, porém, está garantida a mesma liberdade no momento de escolher os professores, e continua certa luta entre escola pública e privada. Existem as associações dos pais, e de diversos modos, se faz um interessante trabalho de formação para eles.

Com generosa responsabilidade e de modos diversos cuida-se da formação profissional, cristã e salesiana dos professores e, especialmente, dos quadros diretivos.

As escolas de formação técnica e profissional da Região merecem uma lembrança especial. São 78, e cuidam de 30.000 alunos aproximadamente.

Das oficinas de Nice às modernas escolas técnicas e agrícolas na França, da escola de Arte e Ofícios de Sarriá às Universidades Laborales ou Escolas de Engenharia na Espanha, a Congregação Salesiana escreveu gloriosas páginas de história na promoção do jovem trabalhador. Os ex-alunos espalharam-se pelas empresas e fábricas da Europa como trabalhadores qualificados, como técnicos e profissionais competentes, como cidadãos honestos e responsáveis.

Os liceus técnicos profissionais de agricultura e de horticultura (13 centros com 8.000 estudantes aproximadamente), na França, prestam à sociedade um serviço social de enorme qualidade. O mesmo podemos afirmar das obras da Bélgica. O rosto da Congregação nessa Região é fortemente marcado por traços de promoção social, de preparação para a profissão, de acesso ao mundo do trabalho. As boas relações com as empresas garantem muitas vezes o empenho a uma boa parte dos alunos que completam sua formação profissional nas escolas salesianas.

Se Dona Dorotea de Chopitea foi a fundadora das oficinas salesianas na Espanha,30 o padre Rinaldi e o padre Ricaldone foram os indiscutíveis promotores de um lento, mas progressivo crescimento delas. A coragem dos salesianos caminhava pari passu com a generosidade dos Cooperadores e Bem-feitores. A fidelidade à vocação e a vontade e iniciativa do espírito de Dom Bosco criaram o verdadeiro modelo salesiano de “escolas profissionais”.

Digno de todo elogio foi, até 1974, o trabalho social feito pelas escolas profissionais em Portugal. As Oficinas de São José, em Lisboa, a escola técnica de Estoril, o Colégio dos Òrfãos do Porto, a Escola de Artes e ofícios de Funchal, a Escola Profissional de Izeda, Santa Clara de Vila do Conde, proporcionaram à sociedade bons profissionais e homens responsáveis no momento em que Portugal começava o caminho do desenvolvimento industrial. Lamentavelmente, com a mudança política (25 de abril de 1974), o ensino industrial, comercial profissional desaparece completamente.

Como apoio à educação, a Região conta 38 internatos, alguns muito numerosos, como os da França (600 alunos). Vale a pena lembrar a importância que teve o internato na história salesiana. Hoje é oportuno dotá-los de um bom Projeto Educativo-Pastoral, em coordenação e complementaridade com o Projeto global da obra, e aproveitar, ao mesmo tempo, as originais oportunidades educativas que os internatos e os pensionatos oferecem. Devemos ter presente a responsabilidade que temos diante desses jovens, para os quais infelizmente, mesmo na família, as dificuldades se multiplicam.

Existem 111 paróquias sob a responsabilidade pastoral direta dos salesianos. Na França e na Bélgica, além disso, diversos irmãos trabalham em paróquias diocesanas. Em toda parte são atendidas muitíssimas capelanias. A Conferência Ibérica elaborou, há anos, a Proposta educativo-pastoral da paróquia salesiana, que serve de modelo para elaboração do Projeto Pastoral de cada paróquia. Normalmente, existe uma comissão que anima esse setor, que é coordenado dentro da paróquia juvenil. Convém renovar sempre a vontade de garantir a identidade própria das nossas paróquias, fazendo funcionar características que as fazem ser deveras salesianas, isto é, populares, juvenis, educativas, missionárias e comunitárias. Nas circunstâncias atuais da nossa cultura, as paróquias devem fazer um esforço sério para serem plataformas de formação, evangelização e transmissão da fé.

As estatísticas falam de 81 oratórios e de 110 centros juvenis dos salesianos na Região, com cerca de quinze mil oratorianos e cerca de trinta mil adolescentes e jovens pertencentes como sócios aos centros juvenis. Os destinatários dos programas e atividades chegariam a cerca de 75 mil adolescentes e jovens

No território do Estado espanhol existe uma Confederação que reúne a maioria dos Centros Juvenis de inspetorias dos salesianos e de FMA (cerca de duzentos) e que é um apoio do MJS. Atualmente é composta de dez Federações, que correspondem a outras tantas “Regiões autônomas” do Estado espanhol.

Um dos frutos mais evidentes da pastoral juvenil na Espanha e em Portugal é a quantidade e a qualidade dos animadores juvenis. A identidade salesiana e a competência profissional deles compara-se à sua generosidade e dedicação. O desafio para os salesianos é de garantir-lhes o adequado acompanhamento pessoal.

Manifestamente, a preocupação social e a sensibilidade pelos jovens pobres foi sempre um traço característico da Congregação Salesiana. O fato de os países da Região se encontrarem dentro da chamada sociedade ocidental do “bem-estar” não nos permite fechar os olhos às “novas pobrezas” e às “novas formas de marginalização” que esta sociedade gera. Os salesianos dessa Região estão dando prova de grande sensibilidade e compromisso social. A imigração, os fracassos escolares e todos os problemas que giram em torno da família (divórcio, separações ...) desafiam a criatividade e o coração dos salesianos, que fazem de tudo para encontrar novas soluções para os novos problemas. Na Região há 65 presenças, que se dedicam à assistência de jovens em particulares dificuldades.

Faz-se um belo trabalho no campo social por parte das escolas e em particular das escolas de formação profissional, com programas adequados para introduzir os jovens menos dotados no mundo do trabalho. Há outras iniciativas realizadas que tornam significativa a orientação social da Congregação: casas para os meninos de famílias desfeitas, oficinas de recuperação e ocupacionais, “centros de dia”, unidade de escolarização externa, programas de intervenção educativa na periferia das cidades, pensionatos para meninos problemáticos ou condenados pela justiça, iniciativas de acompanhamento e promoção social para grupos minoritários ou étnicos. Cresceu a sensibilidade social em todas as inspetorias e, sobretudo, o sentido de coordenação, de sistema, de trabalhar com projetos completos nesse campo. Assim foi criada a rede salesiana de établissements d´action sociale na França ou as diversas fundações em outras inspetorias.

No dia 30 de janeiro de 2002, foi concedida pelo Governo espanhol a Medalha de prata da Solidariedade à Confederação Nacional dos Centros Juvenis salesianos. Um merecido reconhecimento ao trabalho social realizado.

A opção pelos mais pobres deve caracterizar a vida e a ação educativo-pastoral de todas as nossas comunidades e obras, pois é um dos critérios preferenciais de significatividade. Portanto, continua válida a reflexão feita na última Visita de Conjunto realizada em Santiago de Compostela: “Promover em todas as Comunidades salesianas e CEP um opção mais sistemática e mais empenhativa pelos jovens pobres”.31 Evidentemente o nosso trabalho, também nesse setor, deve ser feito sob a ótica educadora e evangelizadora, por isso cito também uma outra conclusão da Visita: “desenvolver entre os jovens mais pobres o itinerário da educação da fé proposto pelo CG23”,32 cuidando de modo particular de uma presença de testemunho evangélico explícito, que seja para esses jovens ponto de referência e de estímulo que os ajude a abrir-se à fé. Devem-se, pois, desenvolver e aprofundar as motivações vocacionais e de fé dos educadores.



1.9 A Pastoral Juvenil

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“Evangelizar educando e educar evangelizando”, eis um dos clássicos binômios do padre Egídio Viganó para sintetizar toda a nossa missão. Com ele se quer afirmar com clareza e convicção que toda a presença salesiana deve ser, ao mesmo tempo, educativa e evangelizadora, e que qualquer tipo de obra ou atividade deve ser plataforma de educação e evangelização. Tendo isso presente, creio que o que foi dito até agora e dentro do campo da pastoral juvenil, que abraça todas as dimensões da pessoa e todos os setores próprios da missão salesiana (escolas, paróquias, oratórios, centros juvenis, plataformas de marginalização, esporte, tempo livre).

Na Região, cada inspetoria tem o seu delegado para a Pastoral Juvenil em tempo pleno. Chegou-se a assumir e pôr em prática o novo modelo educativo pastoral de co-responsabilidade entre salesianos e leigos. Já faz tempo que cada obra prepara o seu Projeto Educativo-Pastoral e a atualização na formação e aplicação do Sistema Preventivo, de modo que venha a ser ponto de referência para todos os membros da CEP. Foram feitos programas de formação sistemática e orgânica para educadores e animadores, a fim de qualificar sua vocação educativa e pastoral, recuperar a alegria e a originalidade da presença salesiana entre os jovens, o zelo e o frescor do trabalho pastoral e missionário, e garantir a identidade salesiana das nossas obras.

O associacionismo é uma das colunas da Pastoral Juvenil na Região, especialmente no seio da Conferência Ibérica. É considerado como plataforma ideal para acompanhar os jovens no seu caminho de aprofundamento e maturação na fé, como veículo para transmitir a espiritualidade salesiana, como clima em que se podem propor e amadurecer opções vocacionais. Seria bom intensificar a abertura das associações, estruturas e itinerários juvenis de formação, na realidade de toda a Família Salesiana, procurando os momentos oportunos para fazer a adequada apresentação e proposta vocacional ao carisma salesiano e a cada um dos diversos grupos.

A educação dos filhos hoje é incompreensível sem o esforço de levar em consideração cada um dos ambientes em que vivem. O principal é – ou deveria ser – a família. Enfrenta-se, mas deve-se fazer ainda com mais decisão, o trabalho em favor das associações de pais mediante as escolas de pais.

A Delegação da Conferência Ibérica e o Centro Nacional de Pastoral Juvenil de Madri fizeram um belo trabalho de reflexão, de proposta e de acompanhamento em todo o campo da Pastoral Juvenil. Foi notável sua contribuição para pôr em prática os últimos Capítulos Gerais. Também a comissão para as escolas, a secretaria técnica da formação profissional, a coordinadora de las plataformas sociales, a comissão para a marginalização, a comissão dos centros juvenis com a confederação e a comissão para o esporte fazem seu trabalho de coordenação e apoio da Conferência Ibérica. Um fruto foi a elaboração da Proposta Educativo-Pastoral de cada setor (Escola, Paróquia, Oratórios-Centros Juvenis, Esporte e tempo livre, Plataforma e atividades de caráter social) e, sobretudo, o Itinerário de educação na fé, plano de formação humana e cristã para meninos, adolescentes e jovens, que permite o acompanhamento pessoal até ao momento de assumir a opção vocacional na Igreja e na sociedade.

Em cada inspetoria ou em nível da Conferência Ibérica, se organizam atividades interessantes (Páscoa, Campobosco, Exercícios Espirituais para os animadores em Turim...), que têm sentido pleno na medida em que sejam integradas nesse plano geral de formação dos Itinerários, onde se consideram os ritmos diários (bom-dia), semanais (tutorias, aula de religião, reuniões de grupos), mensais (24 do mês, comemoração mensal de Dom Bosco), trimestrais (celebrações, retiros, campanhas), anuais (convivências, exercícios espirituais, Páscoa, Campobosco, encontros de verão, acampamentos).

Pode-se afirmar que em algum momento a Pastoral Juvenil na Conferência Ibérica foi um pouco o laboratório onde se experimetavam as novas propostas da Pastoral da Congregação. Definiram-se as grandes linhas, conseguiu-se colocá-las em prática com uma organização coerente nos principais setores de atividades e, especialmente, mediante o associacionismo, no qual os processos pessoais têm prioridade em relação às atividades.

Talvez o sucesso da Pastoral Juvenil foi justamente este: por um lado, considerar a centralidade da pessoa do menino que se deve acompanhar no crescimento de todas as suas dimensões, intelectual, associativa, espiritual, vocacional, e, por outro lado, o sentido de unidade, globalidade e, pois, de coordenação dos diversos projetos. Justamente a centralidade da pessoa do jovem exige que se trabalhe em equipe, em rede, procurando as sinergias entre os diferentes setores de atividade: escola, paróquia, centro juvenil: o próprio sujeito educativo-pastoral, os mesmos objetivos fundamentais, diversos contextos que se potenciam mutuamente.

Mas nesse campo nada se conquista definitivamente. Por isso, deve-se com criatividade buscar linguagens inteligíveis para os jovens, que mudam constantemente, e tornar todas as nossas obras lugares e plataformas de evangelização. E se deve garantir, ainda melhor, o acompanhamento das pessoas no seu processo de crescimento e no seu discernimento vocacional, com clara referência à espiritualidade juvenil salesiana.



1.10 A Comunicação Social

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Há na Região 29 casas com atividades de comunicação social, compreendendo as dezessete livrarias e seis editoras.

Cada inspetoria tem o seu delegado inspetorial para a Comunicação Social: na Espanha existe o delegado nacional, que é o diretor do Boletim Salesiano e o correspondente de ANS.

Em Marselha existe um centro multimídia de reflexão e produção.

Publica-se o Boletim em três línguas: português, bimensal, com uma tiragem de cem mil exemplares, francês, bimensal, com 36 mil exemplares para a França e para a Bélgica, espanhol, mensal, com 75 mil exemplares.

Muito notável e interessante é o trabalho das editoras: Éditions Don Bosco, em Paris, especializada na história, na pedagogia e espiritualidade salesiana, Edições Salesianas, no Porto, especializada em salesianidade, pastoral juvenil e catequese. A Central Catequística Salesiana(CCS), em Madri, fundada pelo padre Ricaldone e especializada em salesianidade, catequese, educação, formação de agentes para a educação e a pastoral. A EDEBE, da Inspetoria de Barcelona, que publica textos escolares nas diversas línguas que se falam no Estado espanhol, e tem convênios com Argentina, Chile e México.



1.11 A dimensão missionária

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Todas as inspetorias da Região foram animadas por um forte espírito missionário. Em 1959 constituía-se a primeira inspetoria africana com as obras até então pertencentes à Bélgica; no mesmo ano, a França começava a trabalhar no Congo. Para pôr em evidência o zelo apostólico da Inspetoria de Portugal, basta lembrar Macau, Timor, Moçambique, Cabo Verde. E os missionários espanhóis estão espalhados pelo mundo inteiro, logo após os italianos. No momento da constituição das novas visitadorias africanas AFO e ATE, permaneceram nelas 101 salesianos da Região, e atualmente restam ainda mais de seiscentos missionários no mundo que pertencem à Região.

Merece também ressaltar a realidade da Procuradoria das Missões em Madri, que tem uma função muito mais ampla do que a de apenas recolher dinheiro para as Missões. É organizada em quatro setores, conforme os serviços que presta: a animação missionária na Espanha, por meio da Revista Juventud Misionera e das exposições missionárias; a hospedagem e apoio logístico aos missionários que passam por Madri; a coleta de fundos que, cada seis meses, põe à disposição do Reitor-Mor; e a ONG Jovens para o Terceiro Mundo, com duas dimensões, a de apoiar e acompanhar projetos e a de promover e cuidar da formação e a experiência dos voluntários.

Aproveito a ocasião para agradecer, em nome meu pessoal e de toda a Congregação, o precioso serviço desenvolvido por essa Procuradoria, juntamente com a generosidade de tantos benfeitores.



1.12 A Família Salesiana

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A Família Salesiana é realidade consoladora na Região. Os cooperadores fizeram um trabalho notável de atualização e grande esforço para reencontrar a própria identidade. O número de cooperadores com promessa chega na Região a cerca de 1.940 e conta com 600 aspirantes. Funcionam 140 centros de ex-alunos organizados em federações inspetoriais. Apresenta-se a vocação à Família Salesiana no processo de maturação da fé no itinerário da pastoral juvenil, e o envolvimento na missão salesiana por parte dos cooperadores, ex-alunos e Amigos de Dom Bosco é notável. Por seu desenvolvimento e entusiasmo merecem destaque as Associações de Maria Auxiliadora, que na Espanha contam cerca de 100.000 associados; os grupos têm superado os aspectos meramente de devoção, para empenhar-se na própria formação e também na catequese, em centros juvenis, acompanhamento e atenção aos doentes, colaboração com a “caritas” e com toda a Família Salesiana no empenho social em favor dos mais pobres ou marginalizados; mas onde se põe mais empenho é certamente na propagação da devoção a Maria Auxiliadora.

Há também diversos grupos de Voluntárias de Dom Bosco e quatrocentos de Damas Salesianas. Como movimento original da Espanha e coligados aos Cooperadores, há Los Hogares Don Bosco, pequenos grupos de casais que querem viver o Sistema Preventivo e a Espiritualidade Salesiana no seio da família. O grupo é numeroso e entusiasta, especialmente nas inspetorias do Sul. Estão associados 1.150 casais.

Talvez seja oportuno sublinhar que, além dos mártires da guerra civil espanhola já beatificados (esperamos em breve a leitura do decreto de martírio dos 63 que faltam), a Família Salesiana da Região tem dado outros admiráveis frutos de santidade: irmã Eusébio Palomino (FMA), Alexandrina Maria da Costa (cooperadora), o príncipe Augusto Czartoryski com nascimento e sangue da Europa Oeste. E outros, cuja causa está em curso: Dona Dorotea de Chopitea (Espanha) e o padre Auguste Arriobat (França).

Deve-se lembrar aqui o papel que a Congregação tem no interior do conjunto da Família Salesiana, à qual deve assegurar, especialmente pelos co-respectivos delegados ou assistentes a animação e a formação.

Mesmo não pertencendo todos à Família Salesiana, os leigos que trabalham nas nossas obras estão muito perto de nós, justamente pelo fato de partilhar conosco missão e espírito. Na Região pode-se dizer que 95% dos agentes educativos e pastorais são leigos que, em geral, assumem com competência a responsabilidade nos diversos campos educativos, pastorais e diretivos.

As inspetorias elaboraram o Projeto Leigos, que regula as relações com os colaboradores, as suas responsabilidades e a sua formação. Há anos que os professores, os animadores juvenis, os catequistas desenvolvem atividades de formação, seja no campo profissional, seja no pedagógico, salesiano e cristão, seja nos programas realizados nos diversos centros, seja nas atividades ou cursos organizados pelas inspetorias ou em outros níveis. Há iniciativas interessantes e essa formação é cada vez mais recebida, com diversas modalidades, juntamente por salesianos e leigos. Merece destaque especial a construção do Centro Jean Bosco de Lião, inaugurado pela Madre Antonia Colombo e por mim, em 13 de fevereiro passado, como expressão do esforço e da vontade de colaboração de SDB e FMA, na formação de religiosos/as e leigos no campo da história, pedagogia e espiritualidade salesiana. Na mesma linha foi criada a rede salesiana Réseau Don Bosco, na Bélgica.

Infelizmente em algum lugar não desapareceu de todo entre os salesianos certa mentalidade de proprietários, avessos a assumir as grandes opções do CG24, que nos convidavam a passar a um novo paradigma de relações SDB/leigos, não somente de colaboração, mas de autêntica co-responsabilidade nas tarefas diretivas. E nem sempre está garantido “o acompanhamento salesiano” pessoal dos leigos, chamados a maior identificação com Dom Bosco e o seu carisma, a sua pedagogia, a sua espiritualidade, justamente para o seu envolvimento na missão.



1.13 A formação inicial e a formação contínua

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Uma presença salesiana tão consistente e conceituada pressupõe uma pastoral vocacional e uma formação inicial e permanente de qualidade. São bem conhecidos os tempos em que cada inspetoria da Região tinha suas casas de formação cheias. Os nomes de Lião, Salamanca, Barcelona, Sanlúcar, para citar somente os estudantados teológicos, estão vivos na mente e no coração de tantos irmãos da Região e de outras partes da Congregação, que aí aprenderam modelar a própria vida pela de Dom Bosco a fim de se tornar como ele “padres para os jovens”. Naturalmente, depois de quanto dissemos antes, hoje a realidade é outra. A crise de vocações na Região não tem comparação com nenhuma outra parte da Congregação. Basta pensar que, no último 16 de agosto, somente três noviços em toda a Região fizeram sua primeira profissão. As causas podem encontrar-se justamente no conjunto de fatores que constituem a cultura de hoje nessa parte do mundo.

Também aqui, mais que em qualquer outro campo da vida da Igreja e da Congregação, é preciso fé no Deus da História, que tem os seus ritmos. Isso não significa ceder à resignação. Cabe a nós continuar a trabalhar com uma pastoral juvenil de qualidade, altamente propositiva e competente no acompanhamento espiritual, de modo que ajude a amadurecer opções de vida. E devemos rezar ao Senhor para que mande operários também a essa parte da sua messe. Quereria convidar-vos a reler a carta do padre Vecchi, “Eis o tempo favorável” (ACG 373). Isso deveria levar cada um de nós e cada uma das nossas comunidades a ser promotores vocacionais.

A formação tem a bela tarefa de transmitir às novas gerações a identidade carismática salesiana, com uma bagagem e uma preparação intelectual e cultural que as qualifique para viver como apóstolos consagrados e desenvolver a missão. Deve-se garantir a identidade carismática, mas também a qualificação profissional como educadores-pastores dos jovens. Tudo isso exige tempo, serenidade, estruturas, meios e, sobretudo, formadores competentes, programas adequados e um número suficiente de formandos que tornem possível a aplicação dos programas e dos meios.

Na Região cada inspetoria tem o seu delegado para a Formação. Juntos e coordenados formam a Delegação de Formação de cada Conferência. É bonito constatar que, em cada etapa da formação inicial, a Região procura ter a máxima “colaboração internacional” possível.

Falando de formação temos somente um caminho: evitar soluções de emergência. Devemos procurar a qualidade. Esta tem algumas exigências que são impostas pela nossa condição de religiosos e pela missão que deve desenvolver-se num contexto histórico e cultural muito concreto.

  • Equipe de formadores consistente seja quantitativamente, seja qualitativamente: homens preparados na doutrina e na reflexão para esse trabalho, entendidos na cultura atual dos jovens, dos seus problemas; com sabedoria no acompanhamento e na direção espiritual; com capacidade de transmitir entusiasmo pela vida religiosa e salesiana.

  • Programas adequados: a Congregação publicou, 4 anos faz, a sua nova edição da Ratio. Agora, pede-se que seja conhecida por todos, especialmente pelo inspetor e pelo seu Conselho, por diretores e formadores, e posta em prática. Trata-se de programas, conteúdos e processos para garantir qualidade e identidade no amadurecimento da vocação salesiana. Se a missão não é genérica, não deve sê-lo nem mesmo a formação.

A Região destacou-se sempre pelo cuidado das casas de formação, sem economia de pessoal e investimentos. Um muito obrigado do fundo do coração pela vontade e pelos esforços que se estão fazendo nesse momento, não obstante o número reduzido de formandos.

A Congregação deve investir generosa e responsavelmente em pessoas, tempo e meios para alcançar a identidade carismática e a competência profissional de cada irmão, para garantir a fecundidade da missão do futuro. O tempo subtraído à reflexão, à oração, ao estudo durante o tempo de formação é tempo perdido, em detrimento da qualidade da vocação e da missão futura, que depois se revelará na superficialidade e na falta de entusiasmo e zelo pastoral. A paixão educativa do “Da mihi animas” é fruto de uma vida totalmente consagrada a Deus e inteiramente voltada aos jovens, e devem ser cultivadas com dedicação, sistematicidade e generosidade na escola de Dom Bosco. Para isso, é muito importante saber colocar no seu lugar, acompanhar e avaliar as práticas pastorais em cada etapa da formação.

Quereria também dizer uma palavra sobre a vocação e formação dos coadjutores. Na Região encontramo-nos diante de situações muito diversas: de inspetorias com 4 coadjutores, até a de Madri, que é a segunda no mundo salesiano em número de irmãos coadjutores – depois a ICP – ou a de León, que tem a percentual mais alta de coadjutores como inspetoria. O salesiano leigo teve uma importância especial no rosto salesiano da Região. É preciso honrar a história e preparar um plano adequado de animação para a vocação do coadjutor hoje, cuidando ao mesmo tempo a devida formação. Para isso, não resta outra solução que a de dirigir-se à colaboração interinspetorial, como se fez em outros momentos e com resultados satisfatórios. Basta pensar na experiência de La Almunia ou de Utrera.



1.14 A formação permanente

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A formação permanente geralmente se estrutura em cada Comunidade em torno de um encontro comunitário semanal. O “dia da Comunidade” encontra-se na maior parte das programações, com resultados satisfatórios. Para esses encontros, os diretores se servem do material que lhes é oferecido pelas sedes inspetoriais ou pela Conferência Ibérica no caso da Espanha (Cadernos de Formação Permanente Ventall). Vi que as cartas do Reitor-mor se imprimem em edição separada e se entregam a cada irmão, e se faz um estudo adequado dos documentos da Congregação.

A França e a Bélgica (SDB e FMA) coordenam-se na organização de várias atividades formativas para aos jovens salesianos durante o ano. A Conferência Ibérica organiza encontros de formadores, por etapas, mediante a Delegação Nacional para a Formação. Há outras iniciativas de formação permanente: um curso em setembro, cursos de preparação para a profissão perpétua, curso para sacerdotes e coadjutores jovens, cursos para a terceira idade, viagens à Terra Santa e a Turim, cursos de formação permanente em Campello (40/55 anos), nos quais costumeiramente tomam parte também irmãos da América Latina.

A Conferência Ibérica organiza cada dois anos um curso de uma semana, com a participação de vários conselheiros gerais, para os novos diretores de comunidade.

A Região Europa Oeste compreendeu muito bem que a formação permanente é uma exigência prioritária da nossa vocação e da nossa missão e procurou agir em conseqüência. O contexto cultural especialmente entre os jovens, muda rapidamente. A nossa missão de educadores/pastores obriga-nos a estar atualizados. Os grandes desafios da cultura de hoje e da sociedade de consumo devem ser enfrentados com coragem e competência mediante ofertas de qualidade da educação e da evangelização das novas gerações juvenis, e através da animação e da formação dos leigos, dos animadores juvenis, dos professores, dos responsáveis pelas comunidades e pelos grupos de Família Salesiana.

Continua, todavia, o fato de que o lugar e o tempo privilegiado para a formação permanente são a comunidade e a vida cotidiana, pelo que se deve estabelecer um ritmo que favoreça a qualidade da oração, da convivência, da programação, do trabalho, do estudo, da reflexão, da avaliação. Devemos considerar a vida cotidiana como plataforma privilegiada de formação. Trata-se de “manter-se em forma” profissional, pedagógica e espiritualmente. Portanto, não basta conhecer os últimos princípios pedagógicos ou os progressos da técnica; é, outrossim, necessário garantir a atitude positiva do nosso coração diante da cultura juvenil e diante dos desafios educativos e pastorais que temos pela frente. É bonito pensar toda a vida como vocação e missão. É igualmente entusiasmante querer e poder estar sempre preparados para ela.



1.15 Os grandes desafios da região

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A apresentação da Região Europa Oeste nos faz ver uma região salesianamente bem identificada e organizada, com obras e atividades consistentes: centros acadêmicos de prestígio profissionalmente administrados; uma orientação e um alcance social forte; uma atenção crescente e com iniciativas generosas e interessantes em relação ao mundo da marginalização; um movimento juvenil salesiano robusto e comprometido, organizado – pelo menos no caso da Espanha – através da confederação dos centros juvenis; um plano formativo claro e exigente (“Itinerários da educação na fé”) para acompanhar os jovens da primeira comunhão até ao momento de assumir a opção vocacional; projetos bem elaborados e partilhados para as escolas, para as paróquias, para os centros juvenis, para o tempo livre, para o setor social; uma animação com espírito missionário, que se expressa bem entre outras coisas no voluntariado; uma Família Salesiana com vitalidade; leigos competentes profissional e salesianamente, bem identificados, envolvidos co-responsavelmente na missão salesiana; um alto nível de estudo, de conhecimento e de assimilação dos documentos salesianos (Capítulos gerais, cartas do Reitor-Mor, estréias...); um notável investimento na formação dos leigos (professores, animadores, catequistas, Família Salesiana); empreendimentos e realizações importantes no campo da Comunicação Social.

Causa maravilha que, com tudo isso, os resultados pastorais e vocacionais não correspondam ao esforço realizado. Mas numa sociedade sempre mais secularizada, pluralista e de alto bem-estar isso parece normal. Cabe a nós semear, ao Senhor dar fecundidade espiritual, pastoral e vocacional. Já aludi ao fato de que, aqui, o Estado tem possibilidade de satisfazer as necessidades principais da sociedade. Sob esse aspecto, o Ocidente não tem necessidade da vida religiosa, considerada como mão-de-obra econômica nos campos da educação, da saúde e da promoção social, e nem mesmo para atenção aos mais necessitados e marginalizados como os imigrados. Qual é, pois, a nossa missão em tal contexto? Qual é o espaço nele para a vida religiosa? Como salesianos, que oferecer então aos jovens? Ou ainda mais, o carisma salesiano é útil, necessário e tem futuro na sociedade ocidental?

Digo imediatamente que sim. Antes, a Europa é o lugar onde aparece mais necessária e urgente a missão salesiana. A sociedade européia moderna, do ponto de vista econômico, é auto-suficiente, mas um grande número de jovens estão perdidos, insatisfeitos. Malgrado todos os recursos materiais de que dispõem, não encontram o sentido de sua vida e seu horizonte se torna oprimente e asfixiante. Esses jovens na Europa desafiam frontalmente o carisma salesiano, colocam-nos à prova e questionam a verdade e capacidade da missão, da pedagogia e da espiritualidade de Dom Bosco. É um desafio imponente para saber se somos capazes ou não de acompanhar os jovens que procuram o sentido de sua vida, se conseguimos tornar-nos sinais e portadores do amor de Deus aos jovens marcados pelas novas pobrezas, se conseguimos aproximá-los da pessoa de Cristo como o único que pode satisfazer os anseios mais profundos do seu coração e garantir a plenitude da vida.

Os jovens europeus nos obrigam a aprofundar o coração da nossa identidade carismática: é preciso convencê-los de que Deus os ama, que Deus os encheu de energias de bem para libertar e de potencialidade para desenvolver, que Deus crê neles como protagonistas e agentes de mudança para a construção de um mundo mais humano. Não podemos agir de outra forma! Seria enganar os jovens e tornar-nos inúteis para Deus. A missão salesiana está perfeitamente definida nas Constituições: “Ser sinais e portadores do amor de Deus” (C 2), vale dizer ser presença visível, legível e eficaz do Deus amor entre eles. Sem essa sacramentalidade, a presença salesiana entre os jovens perde seu caráter de missão e se torna trabalho, profissão, filantropia.

Pergunto-me se poderia haver tarefa que desperte mais entusiasmo. A Europa pode prestar grande serviço à Congregação: abrir a reflexão e descobrir caminhos para evangelizar os jovens num mundo pós-moderno e pós-cristão. Iniciativas corajosas e audazes são postas em prática, mas devemos reconhecer que as fórmulas tradicionais servem pouco para jovens culturalmente novos e diversos. Portanto, é preciso inventar quase tudo: a vida religiosa como profecia e parábola que fala de Deus, e a missão salesiana como abertura ao sentido e à plenitude da vida.

E isso pode ser compatível com a idade avançada e com as doenças dos irmãos, porque não depende tanto do número e das atividades realizadas quanto da fidelidade a Deus e do fogo que cada um traz no coração para irradiar e tornar-se luz.



1.16 Linhas de ação

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Eis, pois, as linhas de ação que proponho para responder a esse grande desafio da realidade juvenil hoje. Sabemos que, sem salesianos, o carisma de Dom Bosco não sobreviverá. O grande problema na Europa é justamente a falta de vocações. Portanto, os desafios fundamentais serão de cultivar vocações, garantir uma organização na vida das inspetorias e uma reestruturação da Região que permita apostar em comunidades carismaticamente mais significativas e, pastoral e vocacionalmente, mais fecundas.



1. Promover uma animação vocacional específica que seja expressão do testemunho da vida comunitária e da fecundidade da missão

As tendências vocacionais na Região são preocupantes e todos os indicadores manifestam que a situação está destinada a permanecer tal, se não houver intervenções fortes. É preciso, pois, intervir decididamente. Mas sabemos que as vocações não são tanto o fruto de técnicas e estratégias puramente humanas quanto dom de Deus que pede a nossa colaboração, na oração incansável ao Senhor da messe, na aceitação da própria vida como vocação, na fidelidade carismática e na generosa dedicação à missão entre os destinatários preferenciais.

Por isso, falar da pastoral vocacional implica:



1.1. garantir as condições para que cada comunidade viva uma verdadeira experiência espiritual e seja testemunho de fé, visível e legível pelos jovens.

A atmosfera de secularização e de sincretismo religioso leva as comunidades religiosas a sublinhar seu caráter de sinal e profecia mediante a organização do cotidiano, no qual se deve manifestar o primado da vida espiritual. Uma vida religiosa que ofereça ao mundo a sua santidade, isto é, que ajude a “procurar e contemplar a Deus”, a ler, decifrar, contar e interpretar a constante intervenção de Deus na história: eis o primeiro e o melhor serviço da vida religiosa em favor do homem contemporâneo. Por conseguinte, a família religiosa que não for escola e proposta de espiritualidade não tem muito que dizer na sociedade. Mas a profundidade espiritual não nos é concedida de modo automático. É fruto da graça e do esforço pessoal. É necessário cuidar, com amorosa fidelidade, das simples práticas de cada dia: a meditação, a leitura, os retiros, a prática do sacramento da Reconciliação. O primeiro conteúdo da missão é revelar aos jovens a nossa vida, como vivemos a nossa aliança com o Senhor, como nos amamos, como a vida radical da obediência, da pobreza e da castidade nos torna mais livres e disponíveis para a generosa dedicação à missão entre eles. Isso exige garantir a cada comunidade as condições concretas de consistência quantitativa e complementaridade para torná-la testemunho de vida e alma da comunidade educativa. Deve-se investir na comunidade para qualificar a comunicação e as relações interpessoais, para criar uma intensa experiência de família. Assim, a comunidade será testemunho e profecia de comunhão entre os destinatários. O funcionamento de todos os dinamismos comunitários (conselhos, assembléias) e a recuperação da função carismática do diretor nos levará a ultrapassar os papéis administrativos e a gozar as riquezas da vida religiosa, salesiana e comunitária.

Se quisermos garantir a eficácia dos bons propósitos e dos objetivos indicado, é conveniente estabelecer tempos, modalidades e critérios no seio das comunidades para verificar seu testemunho de vida e seu zelo apostólico entre os jovens;



1.2. criar um novo modo de presença salesiana verdadeiramente significativa, que seja atraente e propositiva para os jovens e que ponha a evangelização como objetivo prioritário.

Isso implica em primeiro lugar “estar salesianamente presentes” entre os jovens e manifesta praticamente que os últimos, os mais necessitados, serão sempre os preferidos nas obras e nas atividades salesianas... Devemos reivindicar a evangelização dos jovens como o objetivo prioritário dos salesianos: somos missionários dos jovens. Verificamos que nas novas gerações cresce a ignorância religiosa, que os espaços naturais e tradicionais (família, escola, centro juvenil, paróquia) encontram sempre mais dificuldades para transmitir a fé. A nova evangelização é o desafio para a Igreja e para os salesianos na Europa. Nem o êxito acadêmico, nem a promoção social em si mesma, justificam hoje uma presença salesiana na Europa, se não tem, ao mesmo tempo, a possibilidade prática e a vontade bem determinada de propor a fé aos jovens.

A elaboração e a atuação de um plano de pastoral orgânico, sistemático e unitário, com itinerários concretos, como já nos pedia o CG23, que vão do primeiro anúncio ao acompanhamento pessoal e vocacional para os mais disponíveis, nos ajudará a tornar cada setor (escola, tempo livre, paróquia) uma plataforma de evangelização.

Queridos irmãos, exorto-vos a oferecer aos jovens, com respeito, liberdade e pedagogia, autênticas experiências de fé: escolas de oração, percursos educativos personalizados de vida sacramental, experiências de gratuidade, valorizando e promovendo os diversos modos de voluntariado. Neste momento em que os canais de transmissão da fé parecem quebrados, devemos favorecer os grupos, as associações, o MJS como veículo de transmissão da espiritualidade salesiana e como oportunidade de propor o carisma de Dom Bosco vivido na vida consagrada. Sublinho a importância de garantir aos jovens uma sólida formação cristã mediante os cursos sistemáticos de religião e mediante a catequese. É preciso cuidar dos conteúdos, porque sobre a ignorância religiosa não se pode construir a fé.

Graças a Deus, a Região conta com recursos materiais e estruturais extraordinários, e sobretudo com um número de leigos de qualidade em cada nível, mesmo no campo da salesianidade. É preciso dar-lhes confiança, envolvendo-os nas tarefas pastorais e garantindo-lhes a formação adequada. É preciso desenhar junto com eles, com criatividade e imaginação, uma resposta às questões e aos desafios da cultura e da evangelização dos jovens de hoje.

É verdade que a idade média começa a ser alta, mas os jovens nos pedem acompanhamento pessoal e vocacional. Trata-se, pois, de reavivar nos nossos corações a chama do “Da mihi animas” do nosso amado Dom Bosco, que não é outro senão a paixão por Deus e a paixão pelos jovens.



2. Assegurar as mudanças conseqüentes na vida e na organização das Inspetorias e da Região

É fácil constatar alguns riscos que hoje nos ameaçam: o desequilíbrio entre o número de salesianos e a vastidão e complexidade das obras, que nos obriga a investir melhores recursos pessoais na organização, na gestão e manutenção das estruturas, enfraquecendo-a por vezes a presença e o acompanhamento educativo e pastoral das pessoas (jovens, animadores, professores, pais); a quantidade de trabalho que se realiza e que nem sempre deixa ver a comunidade, a pessoa de cada salesiano, as suas motivações mais profundas, e o seu papel animador na CEP; o ativismo, que de um lado subtrai significatividade à missão salesiana e rouba frescor e satisfação na vida vocacional dos irmãos, e, de outro, bloqueia a reflexão e impede a mudança porque não permite a escuta da reflexão congregacional, dos sinais dos tempos, das moções do Espírito e nem mesmo da cultura juvenil.



O número dos salesianos, o fenômeno do envelhecimento que se agravará durante os próximos anos, a queda vocacional e a necessidade de tornar mais significativas as comunidades e a missão requerem, com certa urgência, uma nova organização dentro de cada comunidade e inspetorias, mas também uma reestruturação na Região, porque não podemos permitir que a rotina ou o peso da organização freie a vitalidade do carisma e empobreça o serviço aos jovens.

A Região compreendeu a urgência do tema e já começou a dar os primeiros passos. A França realizou a unificação das duas inspetorias, e a Bélgica, Portugal e a Espanha encaminharam a reflexão com vista a uma nova reestruturação.

Se falamos de reestruturação, é somente em vista de um serviço mais ágil e melhor à missão e de uma colocação mais significativa do carisma. Tanto dentro de cada inspetoria, como em nível da Região, é preciso entrar na dinâmica da sinergia e partir para um reagrupamento das forças, para que sejam comunitariamente mais significativas e pastoral e vocacionalmente mais fecundas, pensando que, neste momento, o objetivo prioritário para a Região é o de promover uma animação vocacional específica que seja expressão da fecundidade da vida da comunidade e da missão.

Há riscos: não ser capazes de superar a inércia que nos é imposta pela gestão das grandes estruturas e não ter a coragem de fazer opções corajosas e com clara identidade carismática. Se a superficialidade espiritual é o grave perigo que pode privar de sentido a vida religiosa no Ocidente, o “genericismo” é o primeiro inimigo da missão.

Parece-me que as palavras mais importantes da Congregação em favor da juventude européia não foram ainda pronunciadas. A missão salesiana neste nosso mundo secularizado é tão importante e grande que, mesmo pedagogicamente, é necessária uma crise para nos prepararmos adequadamente para uma tarefa tão extraordinária e cativante.

Odres novos para vinho novo, assim eu me expressava no discurso de encerramento do CG25. Não permaneçamos ancorados no passado. A uma cultura, pobreza e necessidade novas, temos de dar respostas novas, como fez Dom Bosco, que criou as suas respostas para ir ao encontro das necessidades dos jovens. Com efeito, não são as estruturas que farão uma obra salesiana, mas os educadores carismaticamente identificados, os destinatários preferenciais e os programas de educação e de evangelização que colocamos à disposição deles. E, sem dúvida, a primeira coisa que devemos colocar à disposição dos jovens é o nosso coração bem unificado pela caridade pastoral e pela paixão educativa de Dom Bosco.



***

Queridos irmãos, a Região vive um momento desafiador, que nos entusiasma: uma encruzilhada, um profundo êxodo cultural, um kairós, e não há estratégias especiais para obter os resultados desejados. Valem aqui somente a coerência na vida pessoal, o testemunho comunitário e a coragem evangelizadora na missão.

Após esta apresentação da Região Europa Oeste, no decorrer da qual tive também uma lembrança reconhecida e feliz de todos e cada um dos irmãos que escreveram ou continuam a escrever páginas de ouro nesses países da Europa, termino agradecendo ao meu Deus, que leva adiante seu maravilhoso plano de salvação dos jovens por meio de nós.

Maria Auxiliadora, a Madonna de Dom Bosco, cuja devoção foi tão bem difundida e acolhida nessa Região, particularmente na Espanha, como talvez em nenhuma outra parte da Congregação, continue a abençoar as nossas comunidades e a acompanhar o nosso trabalho apostólico. A Ela confio todos e cada um de vós.



Pe. Pascual Chávez V.

Reitor-Mor

[assinatura]

1 FRANCIS DESRAMAUT. “Don Bosco em son temps”, 943

2 Epistolario IV, lett. 2225, 24/11/1875

3 MORAND WIRTH. “Da Don Bosco ai nostri giorni”, pág. 175, nota 14

4 A. MARTIN GONZALEZ. “Los salesianos de Utrera en España, 87

5 A. MARTIN GONZALEZ. “Los salesianos de Utrera en España, 100

6 Ibidem, 165

7 Ibidem, 103

8 Em 1877, Dom Lacerda escreveu a Dom Bosco desejando uma presença de seus filhos em Portugal (Annali I, 345). Em 1888 registra-se uma repetida correspondência com Dom Bosco desde Portugal (Ib). Em 1881envia o padre Cagliero de Utrera a Porto para uma visita de conhecimento (Annali I, 453. 612)

9 cfr. AMADOR ANJOS: “Centenário da obra salesiana em Portugal”, 27

10 cfr. AMADOR ANJOS: “Centenário da obra salesiana em Portugal”, 27. 28

11 MB. XVIII, p.437

12 MB. XVIII, p.438

13 MB. XVIII, p.439

14 Ibidem

15 MORAND WIRTH. “Da Don Bosco ai nostri giorni”, 275 – Citato: Annali III, 135

16 MORAND WIRTH. “Da Don Bosco ai nostri giorni”, 283

17 MORAND WIRTH. “Da Don Bosco ai nostri giorni”, 282

18 “Don Bosco, cien anõs en España...” 40

19 J. M. ESPINOSA. “Cara e Cruz de Don Pedro Ricaldone”, 103

20 JOÃO PAULO II ao corpo diplomático acreditado junto a Santa Sé, 12 de janeiro de 2004 (OR, 12-13 janeiro de 2004, p. 3-7)

21 OUEST-FRANCE, 26 de novembro de 1999

22 PHILIPPE BAUD, Livro coletivo

23 BRUNO CHENU, La Croix, 20 de outubro de 2000

24 CHARLES DELHEZ, Sur lê catholiques em Belgique, 1998

25 HERVIEU-LEGER (Bayar) 2003

26 LLUIS OVIEDO TORRÓ “La religiosidad de los jóvenes”. Razón y fe. Junho de 2004, p. 447

27 LLUIS OVIEDO TORRÓ “La religiosidad de los jóvenes”. Razón y fe. Junho de 2004, p. 449

28 GONZALES ANLEO: Una iglesia irrelevante para la juventud actual”, Sal Térrea. Setembro de 1999, p. 310

29 LLUIS OVIEDO TORRÓ “La religiosidad de los jóvenes”. Razón y fe. Junho de 2004, p. 449

30 Cfr. RAMÓN ALBERDI. “Don Bosco: cien años en España”. Pág. 114

31 Conclusões – significatividade 1-1. Visita de conjunto Europa Oeste. Santiago de Compostela 1999.

32 Ibidem, significatividade 1-2