1. CARTA DO REITOR-MOR
Um passado que ilumina o nosso presente
EM DIÁLOGO COM O PADRE PAULO ALBERA
1. SALESIANO DA PRIMEIRA HORA. 1.1. De menino que respirou o “ar de Valdocco” a Sucessor de Dom Bosco. 1.2. O que significou para o P. Albera ser um dos primeiros Salesianos? Alguns aspectos da sua vida. Em Mirabello com o P. Rua – Novamente em Valdocco – Diretor em Sampierdarena (Gênova) – Inspetor na França (1881-1892): o “pequeno Dom Bosco” – Diretor espiritual da Congregação Salesiana (1892-1910) – A América de cima a baixo – Reitor-Mor (1910-1921). 2. UM PASSADO QUE ILUMINA O NOSSO PRESENTE. 2.1. Na escola de Dom Bosco. 2.2. «Como Dom Bosco nos amava». 2.3. O espírito de piedade. 2.4. O drama da guerra (1914-1918). 2.5. Sede todos missionários. 3. NOSSA SENHORA E DOM BOSCO. --- APÊNDICE: Bibliografia sobre o P. Paulo Albera – Escritos do P. Paulo Albera – Biografias – Artigos do “Bollettino Salesiano” – Estudos – Teses – Comemorações – Arquivo Salesiano Central: Alguns inéditos de relevo e Fontes no Arquivo – P. Albera no Epistolário de Dom Bosco [E(m)] – Outras referências.
Roma, 24 de junho de 2021
Natividade de São João Batista
Meus queridos Irmãos,
ocorre neste ano de 2021 o primeiro centenário da morte do Padre Paulo Albera (1845-1921), segundo sucessor de Dom Bosco na direção da Pia Sociedade de São Francisco de Sales.
O desejo de dirigir-me a cada um de vós para recordarmos juntos este importante aniversário, deu-me a oportunidade de estudar e conhecer melhor aquele grande Reitor-Mor, talvez um pouco ofuscado pela fama do seu predecessor (P. Miguel Rua) e do seu sucessor (P. Filipe Rinaldi).
Deixei-me questionar sobretudo pela luz do passado em que o P. Albera consumiu sua vida, irradiante de testemunho e força, oferecendo não poucas provocações para o nosso presente: o “hoje” da Congregação vivido à luz do Capítulo-Geral 28, o primeiro que não chegou à conclusão programada devido à pandemia de Covid-19, que ainda aflige o nosso mundo.
Como escrevi numa ocasião anterior, o tempo do reitorado do P. Paulo Albera foi o mais difícil e dramático vivido pela Congregação. Naquele período deu-se a primeira guerra mundial, que causou milhões de morte e viu mais de 2.000 Salesianos enviados à guerra, 80 dos quais perderam a vida.1 O terrível conflito impediu também a celebração do Capítulo-Geral previsto para aqueles anos.
Posso dizer-vos, queridos Irmãos, que a figura do P. Paulo Albera me entusiasmou. Creio ter encontrado mormente muitos elementos que estimulam o diálogo entre o nosso tempo e o dele, permitindo ao passado desafiar-nos com aquelas que, na época, foram deliberações corajosas e claras para a Congregação.
A bibliografia sobre o P. Albera é muito rica. Quis incluí-la no final desta carta, com outros estudos e textos sobre temas específicos, que ajudam a aprofundar o conhecimento e o espírito deste grande Reitor-Mor.2
1. SALESIANO DA “PRIMEIRA HORA”
1.1. De menino que respirou o “ar de Valdocco” a Sucessor de Dom Bosco
O P. Paulo Albera foi um dos “Salesianos da primeira hora”, um daqueles que puderam conhecer Dom Bosco pessoalmente e em profundidade, viver com ele, crescer com ele e amadurecer ao seu lado, além de vê-lo em ação. O P. Paulo Albera respirou o ar de Valdocco ao lado de Dom Bosco, com Miguel Rua, João Cagliero e outros Salesianos. Exportou o “ar de Valdocco” para Mirabello como assistente e estudante de filosofia e teologia; como primeiro diretor daquela casa fora enviado o P. Rua. Em seguida, com mais idade e depois de ter sido diretor em Gênova, também se tornou testemunha e protagonista do incremento da obra salesiana além dos limites do Piemonte, antes na Ligúria e depois na França.
Ao P. Albera foi confiada a responsabilidade de ser “diretor espiritual” da Congregação e, depois, Reitor-Mor, segundo sucessor de Dom Bosco. Nesse serviço de responsabilidade – viajando em navio, a cavalo, em coche, trem e automóvel – viu expandir-se o espírito de Dom Bosco: de Turim à América, à Terra Santa, ao Norte europeu, até as primeiras presenças na África. O P. Albera foi testemunha ocular da passagem do século XIX ao século XX, momento muito delicado para a Congregação Salesiana, a Igreja e o mundo. Tempo difícil, como já recordei, sobretudo pela primeira guerra mundial, que atingiu grande parte do mundo, uma tragédia da qual o P. Albera foi testemunha do início ao fim.
1.2. O que significou para o P. Albera ser um dos primeiros Salesianos? Alguns aspectos da sua vida
Tudo começou com a proposta de admissão em Valdocco. Corria o ano de 1858 e Paulo Albera tinha 13 anos. P. Abrate, seu pároco, que já conhecia Dom Bosco desde os inícios do Oratório na igreja de São Francisco de Assis, apresentou-o sem preâmbulos: «Aceita-o contigo». O jovem Miguel Rua, braço direito de Dom Bosco aos vinte e um anos, depois de conversar com Paulo, confirmou: «Podes recebê-lo sem problemas...».
Reinava no Oratório o clima sereno de uma animada comunidade juvenil ainda muito marcada pelo estilo de santidade deixado por Domingos Sávio, falecido em 9 de março de 1857. Nesse ambiente, o jovem Paulo Albera também encontrou Miguel Magone, de quem se tornou colega e amigo.
Fiquei profundamente comovido ao ler que, um ano e meio depois de sua chegada a Valdocco, Paulo foi admitido, por desejo explícito do próprio Dom Bosco, na nascente Congregação Salesiana, fundada em dezembro de 1859. O adolescente Albera ainda não completara 15 anos e era aluno do primeiro ano de retórica.
Anexo ao primeiro manuscrito das Constituições enviado ao arcebispo Luís Fransoni, há uma carta de acompanhamento, que traz os nomes dos que participaram do início daquela fundação: Dom Bosco, P. Vitório Alasonatti, o jovem P. Ângelo Sávio e o diácono Miguel Rua, com outros 19 jovens “clérigos”, dois coadjutores e o adolescente Paulo Albera. Sinto, pessoalmente, que essa “foto de grupo”, que podemos facilmente imaginar, chega ao coração de cada um de nós, Salesianos de hoje, porque estamos “tocando com as mãos” as nossas humildes origens. Nessa carta, os primeiros Salesianos diziam: «Nós, abaixo-assinados, movidos unicamente pelo desejo de assegurar a nossa salvação eterna, unimo-nos para viver vida comum a fim de poder atender com mais comodidade a tudo o que se refere à glória de Deus e à salvação das almas. Para conservar a unidade de espírito e de disciplina e pôr em prática os meios que são úteis para o objetivo proposto, formulamos algumas regras a modo de sociedade religiosa, que, excluindo qualquer assunto de ordem política, vise unicamente a santificar os seus membros, especialmente mediante o exercício da caridade para com o próximo... ».3 A partir desse momento, a vida de Paulo Albera estará inseparavelmente unida à de Dom Bosco.
Em Mirabello com o P. Rua
Paulo Albera continua a sua formação e os estudos em Valdocco e em 13 de outubro de 1863 é enviado com outros jovens irmãos a fundar a nova comunidade de Mirabello.
Não é irrelevante parar para analisar a composição daquela jovem comunidade que, sem dúvida, transmite a plena confiança e a coragem de Dom Bosco ao entregar às mãos daqueles irmãos uma nova e delicada missão. À frente da comunidade estava Miguel Rua, jovem Salesiano, sacerdote há apenas dois anos e único padre do grupo; tinha vinte e seis anos. Os demais eram chamados, na linguagem habitual do tempo, Salesianos “clérigos”: «o Prefeito, Francisco Provera (vinte e seis anos), o Diretor Espiritual, João Bonetti (vinte e cinco anos), os assistentes, Francisco Cerruti (dezenove anos), Paulo Albera e Francisco Dalmazzo (ambos com dezoito anos)».4 Havia, enfim, algo muito belo, desejado por Dom Bosco: aquela primeira e juveníssima comunidade era acompanhada também pela mãe de Miguel Rua, a Sra. Joana Maria. Pouco tempo depois, outros quatro jovens do Oratório de Valdocco uniram-se ao grupo inicial para ajudar na missão.
Para Paulo Albera, foram cinco anos de intensa vida salesiana; enquanto estudava filosofia e teologia no Seminário de Casale Monferrato, a 14 km de Mirabello, assumia ao mesmo tempo as tarefas e responsabilidades de educador entre os jovens. Como as novas leis sobre a instrução exigiam qualificação para o ensino, em outubro de 1864 Paulo submeteu-se aos exames necessários tornando-se professor do ensino médio. No mesmo ano outro jovem Salesiano entrou na comunidade; era Luís Lasagna, grande amigo de Paulo, que mais tarde seria missionário no Uruguai. Nomeado bispo para os indígenas do Brasil, morreria em 1895 em acidente ferroviário.
Chegou o momento de o jovem Albera e outros serem admitidos às “ordens menores”. Nessa ocorrência a rivalidade secular entre o clero diocesano e outras formas de serviço na Igreja (neste caso, outra jovem Congregação) ficou tristemente evidente. O novo arcebispo de Turim, sucessor de Dom Fransoni, não estava muito convencido de que os jovens de Dom Bosco que manifestavam os sinais da vocação devessem permanecer com ele. E, como havia carência de sacerdotes, o arcebispo pretendia que esses jovens passassem a fazer parte do clero diocesano. Dom Bosco precisou recordar, entre vários argumentos, que grande número de seminaristas diocesanos da época provinha dos institutos salesianos de Valdocco e de Lanzo Torinese. Esses argumentos permitiram, não sem dificuldade, que Paulo Albera, José Costamagna e Francisco Dalmazzo recebessem as ordens menores e, depois, o subdiaconato permanecendo com Dom Bosco.
Novamente em Valdocco
Eram tempos difíceis e tormentosos. Ainda em 1855 foram emanadas leis anticlericais. Nos anos sucessivos, o exército piemontês ocupara quase toda a Península até a unidade da Itália proclamada em 1861. O processo de unificação do País seria concluído em 20 de setembro de 1870 com a tomada de Roma, marcando o fim do Estado Pontifício e custando a suspensão do Concílio Vaticano I, iniciado no ano anterior. Nesse contexto, complexo e agitado, coloca-se a história que estamos percorrendo.
Em 1865, o Oratório de Valdocco era ao mesmo tempo “seminário”, colégio e uma série de oficinas enquanto o número dos jovens que o frequentavam (cerca de setecentos) crescia juntamente com as dívidas. Naquele ano morre o ecônomo, P. Alasonatti. A Basílica de Maria Auxiliadora está em construção. As Leituras Católicas contam com 12 mil assinantes e o trabalho exigido é enorme. Dom Bosco vai frequentemente a Roma para a aprovação da Congregação; tudo isso revela que o trabalho e a responsabilidade sobre os seus ombros são excessivos. Diante da situação, o P. Rua é chamado de Mirabello para auxiliar Dom Bosco.
O jovem Albera é ordenado sacerdote em Casale no dia 2 de agosto de 1868. Em 9 de junho do mesmo ano fora consagrada a Basílica de Maria Auxiliadora. Ainda no mesmo ano, Dom Bosco pede ao P. Albera que volte a Valdocco para ser o “prefeito dos externos”. Paulo retorna, então, a Turim para colaborar com o P. Rua, exausto e doente. Dom Bosco confia-lhe os seminaristas e as relações externas: aceitação dos alunos, relacionamento com suas famílias e outras pessoas até que, em 27 de agosto de 1871 chega ao P. Rua uma carta de Roma em que Dom Bosco escreve: «A casa de Gênova está pronta; que Albera arrume as malas!».
Sobre aquele período, o próprio P. Albera escreve: «No ano da consagração do Santuário de Maria Auxiliadora retornei a Turim, e por outros quatro anos pude gozar da intimidade de Dom Bosco e beber do seu grande coração aqueles preciosos ensinamentos que eram tanto mais eficazes sobre nós quanto mais os víamos já postos em prática por ele na sua conduta quotidiano».5
Diretor em Sampierdarena (Gênova)
Depois daqueles quatro anos, o P. Albera será fundador e diretor da casa de Marassi (1871-1872), que os Salesianos deixarão para transferir-se a Sampierdarena, a fim de terem um espaço maior à disposição (Marassi e Sampierdarena são bairros de Gênova). Permiti que vos narre esses acontecimentos de modo mais extenso.
A partir de 1858, os jovens do Oratório de Valdocco esperavam a cada ano os passeios outonais organizados por Dom Bosco. Em 1864, receberam uma grande promessa: haveriam de ver o mar em Gênova! Desde o final de 1856, Dom Bosco encontrara ali benfeitores e promotores das Leituras Católicas. Agora, para o nosso Pai, acolhido calorosamente pelo arcebispo Dom André Charvaz, realizava-se um sonho: os Salesianos haveriam de ter um lugar em Gênova.
A nova comunidade era composta por seis Salesianos: à frente, o P. Albera, 26 anos, com 2 seminaristas e 3 mestres de oficina. Ao despedir-se em 26 de outubro de 1871, Dom Bosco pergunta se precisam de alguma coisa. A Albera que tem 500 liras para o pagamento do aluguel, ele diz. «Meu caro Paulinho, não há necessidade de tanto dinheiro. A Divina Providência também vive em Gênova... Abre ali um internato para os jovens mais pobres e abandonados», e entrega-lhe o necessário para a viagem. À chegada não havia ninguém a esperá-los... e não havia nada na casa. A Providência, porém, não demorou a manifestar-se. Em fins de novembro abriram as oficinas de alfaiataria, sapataria e marcenaria para cerca de cinquenta jovens. Em 3 de dezembro chegou a tão suspirada visita: Dom Bosco em pessoa.
Os Salesianos permaneceram quase um ano em Marassi; ali o P. Albera era o responsável por um orfanato e, ao mesmo tempo, preparava os meninos para serem alfaiates, sapateiros e marceneiros. Em novembro de 1872 iniciou a presença em Sampierdarena continuando a formação profissional, que se alargou às especialidades de encadernadores, mecânicos, tipógrafos e compositores tipográficos.
O dia 14 de novembro de 1875 é particularmente significativo e comovedor. Como muitos de nós certamente recordam, deu-se a primeira expedição missionária preparada por Dom Bosco e dirigida à Argentina, aonde chegará tocando alguns dias antes a terra do Uruguai, segundo a rota estabelecida pela companhia de navegação. Três dias antes da partida, na Basílica de Maria Auxiliadora, dera-se a celebração litúrgica de despedida. O jovem diretor da casa de Gênova, P. Albera, acompanhou Dom Bosco até a ponte do navio para fazer a última despedida aos Salesianos que serão os primeiros missionários da nossa Congregação. Gosto de recordar que desde aquele tempo até nossos dias, enquanto estamos na preparação da 152ª expedição missionária, sem interrupção, mesmo em tempo de guerra, os missionários salesianos (e frequentemente as nossas irmãs Filhas de Maria Auxiliadora) foram pioneiros, levando o Evangelho aos lugares mais remotos. Alguns anos também contaram com dois envios de missionários.
Uma última anotação: na tipografia de Sampierdarena, enquanto o P. Albera era diretor, foi impresso em 10 de agosto de 1878 o primeiro número do Bollettino Salesiano. A impressão da revista continuou naquela sede até 1882.
Inspetor na França (1881-1892): o “pequeno Dom Bosco”
Foi nisso que se tornou o P. Albera a partir de outubro de 1881, quando Dom Bosco o enviou a Marselha como primeiro inspetor das casas salesianas da França. Encontrou ali uma situação difícil, pois no ano anterior fora promulgada a lei de expulsão das Congregações não autorizadas. Todavia, sem perder o ânimo, os Salesianos encontraram a maneira de não serem expulsos e permanecerem ali, declarando-se “sociedade beneficente”. Quando Albera chegou, havia quatro casas na França. Em dez anos fundou outras dez e prestou um admirável serviço fazendo-se apreciar tanto pelos Irmãos como por muitos leigos, que falaram admiravelmente dele. Sua gentileza e simplicidade de modos, seu sorriso, seu trato aberto e cordial, sua espiritualidade profunda conquistaram o coração dos jovens, como também a confiança e o afeto dos Salesianos e das Filhas de Maria Auxiliadora.
Em todo esse caminho, Dom Bosco sempre esteve muito presente na vida e no coração do P. Albera. O afeto que Dom Bosco nutria por ele era manifesto; numa carta, por exemplo, confidenciava-lhe: «Minha saúde há algum tempo diminui a cada dia, mas enquanto te escrevo, parece-me estar perfeitamente bem. Creio que seja o efeito do grande prazer com que te escrevo». Como testemunho dessa benevolência não há apenas as cartas. Dom Bosco, de fato, visitou muitas vezes o P. Albera para apoiá-lo na missão, encorajar os Salesianos e os jovens, fazer conferências e buscar ajudas financeiras em várias cidades.
Na visita de 1884, Dom Bosco estava enfermo e cheio de dores. O doutor Combal fez-lhe uma consulta completa: «Seu organismo é como uma roupa gasta pelo uso diário; o único remédio é o repouso». Em fevereiro de 1885 difundiu-se na França uma voz alarmante: dizia-se que Dom Bosco morrera. Era só um alarme falso; mas em janeiro de 1888 era certo que Dom Bosco estava gravemente doente. P. Albera, então, chega a Turim no dia 12 de janeiro. Não sabe se ficar ou partir... Dom Bosco ajuda-o a decidir: «Faze o teu dever partindo. Deus esteja contigo! Rezarei por ti. Abençoo-te com todo o meu coração». P. Cerruti promete mantê-lo informado. Alguns dias após o retorno à França, P. Albera recebeu um telegrama em que se dizia que Dom Bosco estava morrendo. Na verdade, quando o leu, Dom Bosco já havia morrido. Em todo caso, teve o tempo necessário para organizar a viagem, estar presente no funeral e dar adeus ao querido Pai.
O certo, em relação aos anos passados na França, é que no P. Albera se prolonga a presença de Dom Bosco: chamavam-no de “le petit Don Bosco”. Um ex-aluno do Oratório São Leão, de Marselha, testemunhou: «Suas maneiras simples e humildes, seu sorriso, seu modo gentil de nos tratar, davam-nos coragem». Não havia um momento em que não estivesse entre os meninos. Visitava-os no refeitório e na capela. Falava pouco, mas a sua presença bastava para suscitar respeito... Participava com frequência das reuniões semanais das Companhias de São Luís e do Santíssimo Sacramento e as suas palavras serviam de estímulo à piedade e à virtude.
Diretor espiritual da Congregação Salesiana (1892-1910)
Em 29 de agosto de 1892, durante o VI Capítulo-Geral, o P. Paulo Albera foi eleito por unanimidade “catequista-geral”, ou seja, diretor espiritual da Congregação, substituindo o P. João Bonetti, falecido improvisamente no ano anterior. Ocupará esse cargo por dezoito anos. Nesse período cuidará em especial da formação dos jovens Salesianos mediante encontros pessoais, exercícios espirituais e colóquios. No dia 12 de outubro de 1893 vai a Londres com Dom Cagliero, o Reitor-Mor, o P. Rua e o P. Barberis, para a consagração da igreja do Sagrado Coração. Um chiste interessante enquadra bem a sua personalidade: depois de um imprevisto que tiveram no trem, escreveu em seu diário: «É preciso aprender inglês».
Vale a pena recordar ainda que em 1895 o P. Albera acompanha o P. Rua em sua viagem à Terra Santa e participa em Bolonha, no mesmo ano, do 1º Congresso Internacional dos Cooperadores. É interessante mencionar esses dois fatos, porque no seu diário, com a sua magnífica e clássica grafia, P. Albera esboçou um autorretrato que me comove pessoalmente pela transparência e finura espiritual ao falar de si mesmo, dos seus sentimentos e dos seus defeitos. No manuscrito, com data de 31 de dezembro de 1895, lê-se: «O ano de 1895 desemboca na eternidade. Para mim foi rico de alegrias e dores. Pude rever a casa de Marselha, onde deixei grande parte do meu coração. De lá fui à Terra Santa e me edifiquei com a companhia do P. Rua. Que piedade, que espírito de sacrifício e de mortificação! Que zelo pela salvação das almas; e particularmente, que igualdade de humor! Vi Belém, Jerusalém, Nazaré; que doces recordações! Pude tomar parte no Congresso de Bolonha. Conservo dele uma recordação inesquecível... Pude pregar os exercícios às Irmãs na França. Isso fez bem à minha alma. Pude ocupar-me com os ordenandos e fiquei bem mais satisfeito do que nos anos anteriores... Escrevi algumas páginas sobre Dom Lasagna que, com bondade, foram apreciadas. Mas também o ano de 1895 termina sem que eu me tenha corrigido dos defeitos mais graves. O meu orgulho encontra-se ainda no grau mais elevado. Meu caráter é sempre difícil, também com o P. Rua. Minha piedade é sempre superficial e não exerce grande influxo no comportamento, nas minhas ações, que são ainda todas humanas e pouco dignas de um religioso. Minha caridade é caprichosa e repleta de parcialidade. Não sou mortificado nos olhos, no gosto, nas palavras... As enfermidades aumentaram bastante: não é uma ideia, é a realidade, tenho consciência disso. No novo ano quero começar a viver melhor, para morrer melhor. Recordo-me de ter dirigido dois meus Irmãos que fizeram o voto de escravidão a Maria. Edificaram-me com seu zelo, com sua devoção. Seu sangue selou seu compromisso, e eu assumi ares de ser seu mestre e Diretor em tudo isso, ao passo que não sou nada... Maria, minha mãe, não permitais que eu sofra a vergonha de reconhecer-me inferior em virtude aos meus subalternos: dai-me um grande amor por vós».6
Sinto prazer ao pensar que o leitor desta página entenderá muito sobre a fineza espiritual do P. Paulo Albera e de quanto fosse exigente consigo mesmo. Na verdade, os testemunhos sobre ele são muito mais elogiosos em relação ao que ele escreve sobre si, pois as suas qualidades eram evidentes. Sua fineza e delicadeza eram reconhecidas por todos.
A América de cima a baixo
Dom Bosco contou que em um de seus sonhos missionários atravessara a América desde Valparaíso e chegara a Pequim... Em 1900 celebrava-se o jubileu de prata do primeiro envio missionário e crescia a expectativa de que o P. Rua visitasse as inspetorias americanas; mas seria o P. Albera, com 55 anos na época, a ser enviado em seu nome.
«Em janeiro de 1900, o P. Rua anunciou o jubileu da chegada dos primeiros missionários salesianos à América e o grande bem que fora feito nesses 25 anos pelos Salesianos e pelas Filhas de Maria Auxiliadora no Novo Mundo. Nessa ocasião, não podendo ir pessoalmente à América para celebrar a festa com seus Irmãos missionários, decidiu enviar alguém para representá-lo. Como os dois primeiros nomes, P. Marenco e P. Barberis, não puderam aceitar esse compromisso por vários motivos, o P. Rua pediu ao P. Albera que os substituísse. Assim, de 7 de agosto de 1900 a 11 de abril de 1903, o P. Albera visitou as 215 presenças dos Salesianos e das Filhas de Maria Auxiliadora no Uruguai, Paraguai, Argentina, Brasil, Chile, Peru, Bolívia, Equador, Colômbia, Venezuela, América Central, México e Estados Unidos».7
Durante quase três anos o P. Albera foi de casa em casa: encontros pessoais e de grupo, celebrações litúrgicas, recepções alegres e atos formais, exercendo o ministério sacerdotal, pregando exercícios espirituais, fazendo conferências a comunidades e associações, especialmente nas casas de formação dos Salesianos e das Filhas de Maria Auxiliadora. Entusiasmou com Dom Bosco e levou conforto, como no Equador após a perseguição religiosa, ou após o exílio, a febre amarela e a guerrilha na Colômbia e na Venezuela. Viajando de trem, de barco, de coche, a cavalo, a pé..., ele cruzou cidades e florestas, nevascas, mares tempestuosos e chuvas torrenciais, adaptando-se aos diversos climas, frios ou quentes, em diversas altitudes; arriscou a já precária saúde, também em regime de quarentena na ilha de Flores. Passou de uma a outra República, de batina ou sem batina, como no México, constatando que o Oratório de Valdocco era o modelo reproduzido no fervor da vida espiritual, na proposta pedagógica, na atividade evangelizadora... Era esse o seu programa habitual, confortado pela cordialidade com que era recebido.
Naqueles anos, P. Albera encorajou novas fundações e acolheu vários pedidos de bispos para o envio de Salesianos. Presidiu eventos como o Iº Capítulo Sul-Americano dos diretores salesianos, que contou com a participação de 44 diretores, dois bispos e quatro inspetores. Concluiu a visita assistindo à ordenação de 15 sacerdotes, que celebraram a Missa à meia-noite entre 1900 e 1901, quando o P. Rua consagrou a Família Salesiana ao Sagrado Coração de Jesus.
Sua experiência pessoal pode resumir-se nestas palavras de uma de suas cartas: «Aqui sinto-me quase melhor, embora o modo de vida seja tão diferente do europeu. Estou sempre viajando e não tenho tempo para escrever... Os Irmãos enchem-me das mais delicadas atenções».
Uma característica permanente do P. Albera, evidente em todos os lugares – tanto em Sampierdarena, na França ou na visita de mais de dois anos e meio à América – foi sua maneira simples de “ser outro Dom Bosco”. Na longa visita de que falamos, o P. Albera dedicou-se a entusiasmar a Família Salesiana e, em particular, os Salesianos Cooperadores.
Sua preocupação era a mesma de Dom Bosco pelos seus jovens: a salvação de cada um. São muitos os testemunhos que declaram como sua presença, suas palavras e seu sorriso sereno e sóbrio deixaram a imagem de um pai que carregava em si a marca de Dom Bosco.
Em 18 de março de 1903, o P. Albera iniciou a viagem de volta a Valdocco, onde chegou em 11 de abril. Todo o Oratório agradeceu com o canto do Te Deum. Pode-se dizer que o sonho de Dom Bosco se tornara realidade.
Reitor-Mor (1910-1921)
E chegou o momento que ele jamais desejara e que teria evitado com prazer, se ao menos o pudesse. Em 16 de agosto de 1910, no XI Capítulo-Geral, o P. Paulo Albera foi eleito Reitor-Mor no primeiro escrutínio e por ampla maioria: «Explodiu um caloroso aplauso e todos se levantaram para prestar a primeira homenagem ao segundo sucessor de Dom Bosco, enquanto o novo eleito explodia em lágrimas... “Eu vos agradeço a demonstração de confiança e de estima que me destes, mas receio que em breve tenhais que fazer outra eleição!”».8 P. Albera, realmente não se sentia adequado. Naquela noite escreveu no seu caderninho de notas: «Este é um dia muito infeliz para mim. Fui eleito Reitor-Mor da Pia Sociedade de São Francisco de Sales. Que responsabilidade sobre meus ombros!... Chorei muito, especialmente diante do túmulo de Dom Bosco».9 Na primeira circular aos Salesianos ainda recordava: «Assim que me foi possível, corri a lançar-me aos pés do nosso Venerável Pai, lamentando-me intensamente com ele por ter deixado cair em tão míseras mãos o leme da nave salesiana».10
P. Eugênio Ceria, nos Anais da Sociedade Salesiana,11 revelou algumas passagens do diário íntimo do P. Albera. Poucos dias depois da morte do P. Rua, Albera escrevia: «Converso muito com o P. Rinaldi. Desejo com todo o coração que seja eleito Reitor-Mor da nossa Congregação. Rezarei ao Espírito Santo para que nos conceda esta graça». Referindo-se ao momento das votações, o P. Ceria anota que ressoavam na assembleia os nomes do P. Albera e do P. Rinaldi. E acrescenta que o primeiro parecia mais preocupado, enquanto o segundo parecia muito tranquilo. Ao final, o número de votos foi de 46 a favor do P. Albera e 19 a favor do P. Rinaldi. Este estava calmo porque tinha certeza que a “profecia” de Dom Bosco, feita em 22 de novembro de 1877, seria realizada. O P. Rinaldi, de fato, estava convencido de que naquele dia Dom Bosco tivesse profetizado a nomeação do P. Albera como seu segundo sucessor. Por isso, P. Rinaldi conservara aquela profecia num envelope sigilado, certo de que seria realizada. E, de fato, acabara de realizar-se.12
Concluído o Capítulo-Geral, o P. Albera iniciou o seu serviço com uma verdadeira animação da Congregação, continuando o modelo de governo inaugurado pelo P. Rua e aperfeiçoando-o gradualmente em vários aspectos.13 A primeira parte do seu reitorado foi a mais dinâmica, marcada por numerosas viagens, encontros e participação em eventos. Falaremos de muitas dessas realidades na segunda parte desta carta, fazendo referência a vários aspectos da sua animação e à relevância deles para nós hoje.
O P. Albera garantiu todos os anos as expedições missionárias na fidelidade a Dom Bosco e também como fez o P. Rua. Participou de muitos congressos, como por exemplo o Iº Congresso Internacional dos Ex-Alunos Salesianos em Valsalice (1911), com mais de mil participantes, ou o Vº Congresso dos Oratórios Festivos e Escolas Religiosas (1911). Deu muita atenção à jovem Família Salesiana e foi inovador com opções e decisões para as casas salesianas, em especial, com a opção preferencial pelos órfãos durante o período da guerra e ao menos pelo decênio sucessivo. Precisamente por ocasião da primeira guerra mundial a posição do P. Albera e da Congregação manifesta grande interesse. Ele cuidou com grande paternidade dos Salesianos chamados ao front, até o sereno final de sua vida.14 O P. Rinaldi escreveu um amplo necrológio do P. Albera no qual como balancete do seu reitorado recordou: «Deus lhe deu a consolação de ver abençoadas as suas fadigas no número dos sócios que durante seu Reitorado aumentou de 705 membros, apesar dos vazios causados pela guerra; e no número das casas, que aumentou de 103; nas novas missões abertas na África (no Congo Belga), na Ásia (na China e no Assão-Índia), no Chaco Paraguaio».15
2. UM PASSADO QUE ILUMINA O NOSSO PRESENTE
No início desta segunda parte, que se coloca em diálogo com a vida e o serviço do P. Paulo Albera como Reitor-Mor, desejo compartilhar convosco, queridos irmãos, o que me levou de modo especial a escrever esta carta.
Minha intenção não é, obviamente, a de um historiador: não o sou e, deste ponto de vista, não poderia acrescentar muito às excelentes publicações já existentes. A intenção que declaro é outra: à luz da vida do P. Albera e das suas cartas circulares, procurei descobrir os elementos – escolhendo apenas algumas entre as muitas contribuições que ele ofereceu nos onze anos de serviço como Reitor-Mor – que têm grande força para iluminar, orientar e provocar reflexões para o nosso momento atual.
Por mais impensável que possa parecer, o que o P. Albera viveu e decidiu estimula um rico diálogo com o nosso presente; a realidade em que viveu como também a animação e o governo que cumpriu há mais de um século fazem ricas analogias com o nosso presente e com algumas das linhas programáticas que indicamos para o atual sexênio após o Capítulo-Geral 28.
2.1. Na escola de Dom Bosco
«Salesiano de Dom Bosco para sempre. Um sexênio para crescer na identidade salesiana»
(CG28, Linhas programáticas 1)
Ao ler os escritos do P. Albera, impressiona o seu grande amor a Dom Bosco: «a única coisa necessária para se tornar seu digno filho era imitá-lo em tudo: por isso, seguindo o exemplo de numerosos irmãos idosos, os quais já tinham reproduzido em si mesmos o modo de pensar, de falar e de agir do Pai, esforcei-me para também eu fazer o mesmo. E hoje, à distância de mais de meio século, repito a todos vós que sois seus filhos como eu, e que a mim, filho mais idoso, fostes confiados por ele: imitemos Dom Bosco na aquisição da nossa perfeição religiosa, na educação e santificação da juventude, no tratar com o próximo, em fazer o bem a todos».16
Ele recorda, na carta circular Sobre a disciplina religiosa,17 como ele e um pequeno grupo de meninos tivessem estado “na escola de Dom Bosco”: «Assim, pouco a pouco fomos nos formando na sua escola, tanto mais que os seus ensinamentos exerciam uma atração irresistível sobre nossas almas admiradas pelo esplendor de suas virtudes».18 Nessa parte da carta, o P. Albera conta como aquele pequeno grupo se sentisse afortunado por ter acesso às confidências de Dom Bosco, como estivessem orgulhosos de ser escolhidos por ele para seguir os seus ideais, como fossem encorajados vendo que se tornavam sempre mais numerosos, e como toda essa mistura de sentimentos «tornava nossos propósitos mais generosos e mais estáveis a nossa vontade de ficar para sempre com ele e de segui-lo em todos os lugares».19
É muito significativo ler no seu texto que «já se passaram mais de cinquenta anos desde aqueles tempos afortunados, mas o tempo que passou não foi suficiente para apagar do nosso coração a impressão que a palavra de Dom Bosco deixava em nós».20 Muitos anos depois daquelas experiências, como Reitor-Mor, já homem maduro, o P. Albera continua e exprimir com o amor de uma criança ou de um adolescente uma profunda gratidão a Dom Bosco, que sentia como Pai e a quem acreditava tudo dever: «Quando penso no dia em que, quando menino de treze anos, fui caridosamente acolhido por Dom Bosco no Oratório, invade-me um frêmito de comoção, e uma por uma surgem na minha mente as graças praticamente inumeráveis que Deus reservou para mim na escola deste dulcíssimo Pai! Mas, comigo, quantos devem repetir: “De tudo somos devedores ao venerável Dom Bosco! A nossa educação, a nossa instrução, e, não poucos, a própria vocação ao sacerdócio, tudo devemos às paternas solicitudes daquele homem de Deus, que nutria pelos seus filhos espirituais santo e insuperável afeto”»21.
Poder-se-iam acrescentar muitos outros testemunhos sobre a fidelidade do P. Albera a Dom Bosco, mas, para não me alongar muito, limito-me a apresentar o magnífico retrato que, à sua morte, fez dele o P. Rinaldi: «Formou-se, antes de tudo mais e sempre, na escola de Dom Bosco, de quem estudava ciosamente todos os seus ensinamentos... A grandeza da figura moral do P. Albera como Reitor-Mor dos Salesianos sintetiza-se no firme propósito de pisar fielmente, sem restrições e nenhum tipo de desvio, as pegadas de Dom Bosco e do P. Rua. Esta é a verdadeira glória dos onze anos do seu Reitorado».22
Estes testemunhos mostram com quanta insistência e convicção, o P. Albera falava da necessidade de conhecer Dom Bosco, estudar com amor a sua vida e os seus escritos, torná-lo conhecido e falar dele aos jovens.
Com as palavras de hoje, diria que nisso “apostamos” a nossa fidelidade carismática e a nossa própria identidade de Salesianos de Dom Bosco. No recente Capítulo-Geral 28, fazendo referência ao fato de que temos à nossa frente um sexênio muito propício para crescer na identidade salesiana, escrevi algumas palavras de forte apelo, dizendo que «a nossa Galileia, para o encontro com o Senhor, como Salesianos de Dom Bosco, passa por Valdocco, pelos inícios de Valdocco, também frágeis, mas com a força e a paixão da frase que o jovem João Cagliero expressou com tanto ardor e entusiasmo juvenil: “frade ou não frade, eu fico com Dom Bosco”. Valdocco é, de fato, a atmosfera espiritual e apostólica em que cada um de nós respira o ar do Espírito, onde alimentamos e reforçamos a nossa identidade carismática. É o lugar da “transfiguração” para cada Salesiano que, dando atenção a todos os elementos da nossa espiritualidade, poderá contribuir para tornar cada uma de nossas casas um autêntico Valdocco, onde seja possível encontrar, face a face, na vida quotidiana, o nosso Senhor Jesus Cristo».23
Por esse motivo digo que ousamos muito nisso. Está em jogo a nossa identidade carismática. Ser impregnados do espírito de Dom Bosco ou ser mais ou menos indiferentes a ele, não é algo banal. É decisivo volver o olhar para Dom Bosco como garantia de fidelidade ao Senhor, inspirada pelo Espírito Santo, porque é na contemplação de Dom Bosco que descobrimos, salesianamente falando, o nosso “código genético”. E como o carisma cresceu nele, assim também há de crescer em nós, se escolhemos o caminho da fidelidade. O artigo 21 das nossas Constituições apresenta Dom Bosco como nosso modelo: «O Senhor nos deu Dom Bosco como pai e mestre. Nós o estudamos e imitamos, admirando nele esplêndida harmonia de natureza e graça». Estou certo de que o P. Paulo Albera, que tanto falou aos seus Salesianos do seu fascínio e da atração exercidos por Dom Bosco sobre ele, estaria em total acordo com estas belíssimas declarações das nossas Constituições.
O encontro com Dom Bosco, como foi para os jovens Rua, Francesia, Cagliero, Albera e muitos outros, também foi determinante na nossa vida até hoje; ao menos para muitos de nós. Sua figura e personalidade, sua fé em Deus e no Senhor Jesus Cristo, assim como o amor pelos seus jovens, foram e continuam a ser fonte de inspiração. Nosso encontro com ele certamente através das mediações mais inesperadas, foi uma graça, e conhecê-lo – às vezes um pouco, às vezes um pouco mais – até amá-lo marcou-nos profundamente. Para nós, como afirma o artigo das Constituições que citei há pouco, Dom Bosco é um “pai”: expressão que não só nos fala de amor, de afeto, de admiração, mas que orienta os nossos olhos a Dom Bosco como fundador; a Dom Bosco que iniciou esta fascinante experiência espiritual que é o carisma salesiano, que trazemos no coração e do qual fazemos parte. Ele mesmo dizia: «Chamai-me de pai e ficarei feliz».24 «Onde quer que vos encontreis, recordai que aqui em Turim tendes um Pai que vos ama no Senhor».25
Procuremos conhecer e admirar este Pai, enquanto vivemos o nosso ser Salesianos de Dom Bosco (SDB) numa relação vital com ele, sentindo-nos felizes, experimentando um crescente sentido de plenitude em nossa vida, fazendo com que a nossa vida, a vida de cada um, apesar dos limites e das pobrezas pessoais, nos torna “Dom Bosco hoje” para cada jovem que a Divina Providência coloca no caminho da nossa vida.
E empenhemo-nos no estudo do nosso Pai – que o P. Albera insistia apenas vinte e dois anos depois da morte de Dom Bosco –, porque não podemos ignorar nem subestimar a distância cronológica e cultural que nos separa dele.
A consciência desta exigência e o conhecimento da nossa Congregação levaram-me a afirmar, nas linhas programáticas do sexênio após o CG28, que esse tempo deverá ser caracterizado por «um profundo trabalho de crescimento na profundidade carismática, na identidade salesiana, em todas as fases da vida, com um empenho sério em todas as Inspetorias e em cada comunidade salesiana, para chegar a dizer como Dom Bosco: “Prometi a Deus que até meu último alento seria para meus pobres jovens”».26
2.2. «Como Dom Bosco nos amava»27
A pedagogia da bondade. «Viver o “sacramento salesiano” da presença»
(CG 28, Linha programática 3)
O P. Albera, na carta circular sobre os oratórios, as missões e as vocações, refere que o P. Rua disse certo dia a um Salesiano que estava enviando para abrir um oratório festivo: «Ali não há nada, nem mesmo o terreno e o espaço para acolher os jovens, mas o Oratório festivo está em ti: se fores um verdadeiro filho de Dom Bosco, tu o encontrarás bem ali onde o podes plantar e fazer crescer como uma magnífica árvore cheia de belos frutos». Prossegue o P. Albera: «E assim foi, porque em poucos meses o Oratório era belo e amplo, lotado de centenas de jovens, dos quais os mais velhos rapidamente se tornaram apóstolos dos mais pequenos».28
Começo com esta citação do P. Rua não tanto para me referir ao oratório salesiano – ainda que seja um tema maravilhosamente carismático, no qual Dom Bosco, o P. Rua, o P. Albera e outros, naturalmente, tanto acreditaram –, mas para mostrar o grande valor que tem o fato de trazer em nosso coração toda a força de um educador, toda a paixão educativa de um pastor, toda a pedagogia da bondade e da doçura, que nos permite viver a nossa presença entre as crianças e os jovens como verdadeiro “sacramento salesiano”.
São muitas as páginas em que o P. Albera conta como o nosso Pai Dom Bosco amava os seus meninos. Apresento algumas “pinceladas” entre as muitas que poderiam ser escolhidas: «O amor de Dom Bosco por nós foi algo singularmente superior a qualquer outro afeto: envolveu-nos a todos e inteiramente numa atmosfera de contentamento e felicidade, de que eram banidas dores, tristezas, melancolias... Oh! Era o seu amor que atraia, conquistava e transformava os nossos corações... Tudo nele tinha, para nós, uma forte atração: o seu olhar penetrante era por vezes mais eficaz que um sermão; o simples mover-se da cabeça; o sorriso que florescia perpetuamente de seus lábios, sempre novo e muito variado, mas sempre tranquilo; a flexão da boca, como quando se quer falar sem pronunciar palavras».29
Na carta que cito, o P. Albera indica aos Salesianos que é necessário amar os jovens e, como o faz muitas vezes e abundantemente em seus outros escritos, recorda a sua experiência pessoal de vida ao lado de Dom Bosco. Por exemplo, ele escreve: «Mesmo agora parece que sinto toda a doçura de sua predileção por mim quando jovenzinho: eu me sentia como se estivesse aprisionado por uma força afetiva que alimentava meus pensamentos, palavras e ações, mas não conseguia descrever melhor este meu estado de espírito, que era também o dos meus companheiros de então... sentia que era amado de uma forma que jamais experimentara antes, que nada tinha a ver nem com o amor mais profundo que tinha pelos meus inesquecíveis pais».30
Na carta XXVII Sobre a doçura, dirigida especialmente aos inspetores e diretores para incentivá-los a distinguir-se em suas relações com os outros não só pela caridade, mas também pela doçura, P. Albera não hesita em dizer que ela tem «uma importância capital, e é a nota característica do espírito de Dom Bosco».31 Nas páginas iniciais da carta, ele apresenta um longo caminho, referindo-se tanto ao esforço necessário para cultivar e dominar o próprio caráter, como aos exemplos da vida de alguns santos, até aquele que é nosso modelo, Dom Bosco. No sonho dos nove anos é pedido a João Bosco que pratique a doçura. A Senhora do sonho estaria ao seu lado e «haveria de ensinar-lhe o meio mais eficaz de corrigir e tornar melhores aqueles moleques». P. Albera comenta: «Nós todos sabemos que esse meio não fosse outro senão a doçura; e Dom Bosco esteve tão persuadido disso, que logo começou a praticá-la com ardor, e tornou-se o seu verdadeiro modelo».32 E conclui: «Disto estejamos bem convencidos: segundo as ideias do nosso Venerável, o verdadeiro segredo para ganhar os corações, a qualidade característica do Salesiano, está na prática da doçura».33
O Santo Padre, na mensagem enviada por escrito aos participantes do Capítulo-Geral 28 – comunicando no último momento a impossibilidade de estar presente, como gostaria, devido ao bloqueio territorial imposto pela pandemia de Covid-19 – entrega-nos palavras e expressões próprias de quem conhece bem aqueles aos quais está escrevendo e nos “provoca” a retornar sempre às nossas origens em Valdocco. O Papa nos falou da «opção Valdocco» e do «carisma da presença», que humildemente me permito chamar de sacramento salesiano da presença, porque – estou convencido disso – se trata para nós de um “lugar teológico” de encontro com Deus através da nossa presença entre os jovens. Pois bem, o Santo Padre diz-nos que «antes ainda de o que fazer, o Salesiano é memória viva de uma presença em que a disponibilidade, a escuta, a alegria e a dedicação são as notas essenciais para suscitar processos. A gratuidade da presença salva a Congregação de todas as obsessões ativistas e de todos os reducionismos técnico-funcionais. O primeiro chamamento é ser uma presença alegre e gratuita entre os jovens».34
Estamos certamente em sintonia com esta linguagem, feita de palavras que tocam o nosso coração de apóstolos e educadores, mas falam de uma realidade que é muito mais de uma predisposição natural para estar entre os jovens. Quando digo “sacramento salesiano da presença”, não me refiro apenas ao estar fisicamente presente – o que acredito seja, contudo, necessário – e nem mesmo em ter e exercer uma simpatia natural ou cultivada e elevada (que também é necessária), mas sobretudo ao fato de viver essa presença gentil e doce como elemento essencial da nossa espiritualidade. O afeto, a delicadeza, a gentileza, a amorevolezza – palavra italiana que resume tudo isso numa só expressão – é, sobretudo, um sinal do amor de Deus pelos jovens através de nós. É o fruto da caridade pastoral, é o amor autêntico e verdadeiro do educador que é amigo, irmão, pai, é o amor que se manifesta na presença em verdadeiro clima de família, na generosidade do serviço e do sacrifício em favor dos nossos meninos e jovens. É uma presença que se concretiza na escuta atenta e paciente, no domínio de nós mesmos e também nos nossos esforços para jamais arruinar num momento o que se está construindo com tanto esforço. É a expressão de uma verdadeira mística e espiritualidade salesiana: o conteúdo dessas duas palavras não deve assustar-nos. É certamente um meio e um caminho magnifico para a educação e a evangelização dos jovens.
A presença salesiana entre os jovens não é complexa, não é rígida. Concordamos em nos interessar pelo que lhes interessa; estamos felizes que eles possam se expressar espontaneamente, sendo eles mesmos. A nossa é uma presença afetiva e eficaz (e não só nas palavras), uma presença educadora e amiga, que sabe estar próxima, que sabe falar ao coração de forma pessoal e única. As palavras dos jovens que participaram do 28º Capítulo-Geral dirigidas a nós continuam a ressoar em mim com uma força que não me deixa indiferente sempre que as leio. Convido-vos, queridos Irmãos, a relê-las outras vezes: «Temos um desejo intenso de realização espiritual e pessoal. Queremos caminhar no crescimento espiritual e pessoal e queremos fazê-lo convosco, Salesianos... Gostaríamos que fosseis aqueles que nos orientam, no interior da nossa realidade, com amor... Salesianos, não vos esqueçais de nós jovens porque nós não nos esquecemos de vós e do Carisma que nos ensinastes... Tendes os nossos corações em vossas mãos. Cuidai desse vosso tesouro precioso».35 Certamente, queridos Irmãos, é um privilégio perceber e escutar o batimento do coração da vida dos nossos jovens, e sentir nascer e crescer dentro de nós, no nosso coração, aquele sentimento que nos faz dizer como Dom Bosco: «Aqui, entre vós, sinto-me bem».
O oratório, a escola, o grupo juvenil estão em ti, no coração de cada Salesiano, quando vivemos movidos interiormente por esta forte convicção: são a nossa herança; são eles, os jovens, que nos salvam. E, com a doçura de Francisco de Sales, não temos outra maneira de ajudá-los senão estando entre eles, presentes entre eles com verdadeiro coração de educadores e pastores. Assim, será realidade a expressão: «a educação é coisa do coração e só Deus é o seu dono».36
2.3. O espírito de piedade37
«Numa Congregação em que é urgente o “Da mihi animas cetera tolle”»
(CG28, Linha programática 2)
Creio ser muito significativo que a segunda carta circular do P. Paulo Albera como Reitor-Mor seja dedicada ao espírito de piedade. Escreveu-a em 15 de maio de 1911. Naqueles anos, a Congregação vivia um momento particularmente delicado da sua história. Os anos de reitorado do P. Rua foram de grande expansão geográfica e crescimento numérico. Eram tempos em que os Salesianos viviam com grande entusiasmo, realizavam grandes iniciativas e empenharam-se em atividades transbordantes, mas também expostas a riscos e perigos.
Nesta carta, o P. Albera oferece-nos um panorama do que entende por “espírito de piedade”: a sua natureza e a sua necessidade para a vida cristã e religiosa, para a fecundidade apostólica, para a resistência e a paciência nas provas, para a perseverança na vocação, para a prática do sistema preventivo, etc. Mas, em particular, com a grande sensibilidade de guia espiritual, o P. Albera alerta contra o ativismo descontrolado e seus perigos: «Falando-vos com o coração nas mãos, confesso-vos que não posso me defender do doloroso pensamento e do temor que a decantada atividade dos Salesianos, o zelo que até agora parecia inacessível a qualquer desânimo, o caloroso entusiasmo que até agora se alimentou de sucessos felizes e contínuos, venham a desaparecer um dia onde não forem fecundados, purificados e santificados por uma piedade verdadeira e sólida».38
O P. Albera reconhece que, ao lado da graça de Deus e da proteção de Maria Auxiliadora, foi o trabalho incansável e a admirável energia de Dom Bosco, do P. Rua, de Dom Cagliero e de «muitos outros de seus filhos» a levar à rápida difusão das obras salesianas na Europa e na América. Além disso, mostra apreço e gratidão pelo testemunho de tantos irmãos – padres, clérigos e coadjutores – verdadeiros modelos de espírito de piedade e admirados por todos; «contudo, infelizmente, devo acrescentar, et flens dico, que também há Salesianos que neste ponto deixam muito a desejar. Infelizmente, alguns que são dela desprovidos, quando eram noviços edificaram os companheiros com seu fervor. Alguns já não se diriam filhos de Dom Bosco, que, considerando as práticas religiosas como fardo insuportável, servem-se de todas as formas para se isentarem delas e dão em toda parte o triste espetáculo do seu relaxamento e indiferença [...]. Que estranha contradição! Vivem numa casa religiosa, seguem a comunidade em muitas coisas, talvez até trabalhem de acordo com nossos regulamentos, entretanto já não são religiosos».39
O Cardeal Agostinho Richelmy, na visita feita ao CG XI logo após a eleição do P. Albera como Reitor-Mor, advertiu: «O mundo admira a vossa prodigiosa laboriosidade, mas a Igreja e Deus admiram a vossa santidade».40 Não devemos esquecer que o «sagrado ardor da piedade» e a «união ininterrupta com Deus» foram «a nota característica de Dom Bosco».41
Confesso-vos, queridos irmãos, que fiquei profundamente impressionado ao ler esta carta de dezoito páginas de um Reitor-Mor que, no início do seu serviço, estava tão profundamente preocupado com a falta de autenticidade da vida de alguns Salesianos naquele momento. E não tenho dúvidas de que o P. Albera sabia bem do que falava, tendo sido o diretor espiritual da Congregação durante dezoito anos.
Creio que em toda a história da nossa Congregação (e, certamente, também na maior parte das congregações religiosas) seja uma constante a insistência para viver muito atentos à autenticidade da vida consagrada, para usar a linguagem de hoje. De fato, o desaparecimento desta autenticidade põe tudo em sério risco. Em vários de nossos Capítulos-Gerais42 e em muitíssimos escritos dos Reitores-Mores43 foi essa a grande insistência e, às vezes, uma preocupação semelhante àquela apresentada pelo P. Albera. Parece-me importante recordar que este lembrete persistente deve ajudar-nos a viver vigilantes para continuarmos a ser muito autênticos na vivência da nossa vida de pastores consagrados ao bem dos jovens, com aquela dedicação que também pedimos como fruto do CG28. Ao falar da identidade carismática, recordei que há muito em jogo. Não menos importante é o aspecto a que me refiro agora.
Discutimos e esforçamo-nos muito para conhecer os jovens e ser aceitos por eles com mil “indústrias e engenharias” de última geração; fazemos planos estratégicos de todos os tipos, falamos de projetos 4.0 semelhantes ao caminho feito pelas empresas de tecnologia. Não tiro o mínimo valor ao nosso esforço de viver com grande relevância e no ritmo dos jovens. No entanto, quero dizer com o P. Albera, que me acompanha nesta reflexão: nem mesmo a maior simpatia e os maiores dons naturais podem substituir a profundidade da vida, a interioridade, o ser homem de Deus que, quase sem pretendê-lo, alcançam profundamente o coração dos jovens. P. Albera diz isso referindo-se a Dom Bosco e à atração que despertou nele e nos primeiros Salesianos: «Desta singular atração brotava a ação que conquistava os nossos corações. A atração às vezes também pode ser exercida com simples qualidades naturais da mente e do coração, do estilo e do modo, que tornam simpáticos aqueles que as possuem; mas tal atração depois de algum tempo enfraquece até desaparecer completamente, mesmo não cedendo o lugar a inexplicáveis aversões e contrastes. Dom Bosco não nos atraia dessa forma: nele, os numerosos dons naturais tornaram-se sobrenaturais pela santidade de vida, e nesta santidade estava todo o segredo da sua atração que conquistava para sempre e transformava os corações».44
O fascínio exercido por Dom Bosco não decorre apenas do fato de ter sido certamente um “homem de Deus”, um grande carismático, suscitado pelo Espírito para o bem dos jovens na Igreja e no mundo, mas também pelo fato de ter vivido sempre como simples sacerdote, fundador de uma Congregação muito jovem e pobre; que começou a sua Obra com um pequeno grupo de jovens, sempre preservando e alimentando a paixão pelo bem dos seus meninos; e que, à medida que desenvolvia a sua Obra, reconhecia e reafirmava com certeza crescente que era a Providência a guiá-lo.
O mesmo e único Espírito de Deus que inspirou Dom Bosco continua presente hoje. Do ponto de vista da fé, não temos dúvidas de que esta presença do Espírito é o fundamento da nossa esperança e que é possível continuar a ser fiéis ao Senhor Jesus através da fidelidade a Dom Bosco e à sua missão. É o Espírito que nos une a Dom Bosco e, portanto, fundamenta a nossa comunhão na salesianidade. É ele quem quer ajudar-nos, sob o mesmo impulso, a estar «com Dom Bosco e com os tempos» (P. Albera) ou a estar «com Dom Bosco hoje».
Entretanto, a presença do Espírito não é algo de estático, estranho à nossa evolução. Pelo contrário, é um convite permanente, dirigido à nossa liberdade, a dar atenção e colaborar continuamente. É a docilidade ao seu chamado que torna eficaz a sua presença, porque, de outra forma, poderíamos facilmente «resistir ao Espírito» ou «extinguir o Espírito» (cf. At 7,51; 1Ts 5,19). Por isso, precisamos, como recordou o P. Albera, retornar ao Espírito. O nosso Da mihi animas cetera tolle leva-nos a percorrer o caminho que nos leva a ser homens profundamente espirituais ainda hoje, homens de fé profunda, que vibram em Deus com o que ele nos oferece todos os dias para sermos, cada um de nós, total e inteiramente para os jovens.
«Vivemos um tempo que ama o efêmero», escreveu P. Egídio Viganò em 1989 nas suas reflexões sobre a graça da unidade.45 Ao analisar atentamente o que aconteceu naqueles anos, quando se acentuaram as modas efêmeras, ideológicas, a miragem diante das maravilhas tecnológicas e o dinamismo da eficiência, o P. Viganò adverte-nos para a necessidade de profundidade e interioridade no Espírito. A linguagem do P. Albera é diferente, mas nos alerta para os mesmos riscos. E se era essa a situação há trinta e dois anos, podemos constatar que o nosso tempo presente aumentou ainda mais algumas dessas tendências.
Nossa vocação é fascinante se nos leva a nos apaixonarmos verdadeiramente pelo Senhor para o crescimento do Reino. Como discípulos e consagrados, devemos ser para os outros «sinais e portadores» não só do amor de Deus pelos jovens (Const. 2), mas sobretudo da força do Espírito do Senhor na nossa vida, na vida deles e na vida de todos. E isso, diz-nos o P. Viganò, só é possível se «nos exercitarmos a contemplar todos os dias em profundidade».46
Creio que podemos reconhecer, também pela experiência pessoal e comunitária, que a nossa espiritualidade de vida ativa não é fácil, no sentido de que não é algo adquirido de uma vez por todas, mas exige um laborioso e exigente crescimento na interioridade apostólica, que foi, é e será a garantia da nossa autenticidade espiritual. Os perigos reais, quotidianos, quase imperceptíveis, de nos deixarmos levar por uma visão horizontal, de nos vermos submersos na ação que por si só leva ao ativismo asfixiante, de nos esgotarmos em trabalhos e esforços organizativos e gerenciais e em muitas outras realidades que conhecemos: tudo isso é como um “atentado contra a vida no Espírito”. Ao recordar o P. Viganò, desejo reafirmar estas certezas: a interioridade apostólica é como a quintessência do nosso ser Salesianos de Dom Bosco para o mundo de hoje. O seu segredo é a graça de unidade. E só alimentando a unidade interior diminui o perigo de jazer presa da superficialidade espiritual.47
Não tenho dúvidas de que, no fundo, o apelo do P. Albera à piedade e o convite do P. Viganò à interioridade se referem à mesma coisa. Trata-se, hoje, de dar qualidade à autenticidade da nossa vida de Salesianos de Dom Bosco, para dar uma resposta concreta à urgente pergunta: «Quais Salesianos para os jovens de hoje»?
O Da mihi animas cetera tolle que levou o menino Domingos Sávio a entender que ali, com Dom Bosco, havia um “negócio” de almas e não de dinheiro, é a expressão que melhor revela o zelo e a caridade pastoral de Dom Bosco e também a nossa. Olhando para Dom Bosco, apreendemos a sua espiritualidade profunda, a sua fé sólida e confiante, a certeza de que Deus está presente entre os jovens e a necessidade de cultivar uma robusta vida interior. A raiz profunda da espiritualidade de Dom Bosco foi sempre a sua união com Deus, a sua vida interior e o seu diálogo com o Senhor. «Não resta dúvida de que em Dom Bosco a santidade refulge nas suas obras, mas é certamente verdade que as obras são apenas uma expressão da sua fé. Não são as obras realizadas que fazem de Dom Bosco um santo [...], mas é a fé reavivada pela caridade operante que o faz santo».48 Então, quando vivida desse modo, como aconteceu em Dom Bosco e como deve acontecer em nós hoje, a nossa presença entre os jovens, o nosso sair ao encontro deles, o nosso repetir hoje a promessa de que até o último suspiro da nossa vida será por eles, tudo, absolutamente tudo, estará embebido da pedagogia da graça, da alma e do sobrenatural que contém e que somos chamados a viver no Da mihi animas cetera tolle.
2.4. O drama da guerra (1914-1918)
A opção pelos meninos e jovens mais pobres: os órfãos
«Prioridade absoluta pelos jovens, os pobres e os mais abandonados e indefesos
(CG28, Linha programática 5)
Durante o reitorado do P. Albera, a prova mais difícil foi a Grande Guerra. A primeira guerra mundial causou a partida para o front de quase metade dos Irmãos, com muitas obras requisitadas e transformadas em quartéis e hospitais. Naquela situação de emergência, o P. Albera prodigalizou-se para acolher nas casas salesianas os órfãos de guerra e os refugiados, mesmo com grandes sacrifícios. De fato, havia nele a preocupação de continuar a qualquer custo a atividade das obras salesianas, antes, de aumentar algumas delas, como os oratórios e orfanatos. Convidava os seus Irmãos à austeridade e invocação a Maria com o título de Auxiliadora, segundo a tradição salesiana de recorrer a “Nossa Senhora dos tempos difíceis”. Dom Bosco, com efeito, sempre reconhecia a inspiração e o apoio da Auxiliadora; por isso, não se deixava desencorajar pelas oposições e dificuldades que encontrava.
Em 24 de maio de 1915, a Itália entra na guerra e o envolvimento da Congregação foi total, pois a maioria dos Irmãos era de nacionalidade italiana. Na carta mensal após este grave acontecimento, o Reitor-Mor convida a rezar pelos que estão no exército e fazer “três dias de rigoroso jejum”, «para garantir que sejam salvos de qualquer desgraça».49 Também pede que não seja antecipado o fim do ano letivo, como muitos desejavam, para não sobrecarregar as famílias que já se encontram em dificuldade com a saída de seus jovens para as fileiras do exército. O P. Albera refere-se intensamente, ainda, à austeridade como sinal de solidariedade para com os pobres e ao incentivo apostólico na acolhida de todos os meninos que fossem abandonados.
Quando o conflito se prolonga além do previsto, o P. Albera mantém como diretriz o convite a manter os olhos fixos em Dom Bosco («imitemos Dom Bosco na obtenção da nossa perfeição religiosa, na educação e na santificação dos jovens, no trato com o próximo, fazendo o bem a todos»50), e exorta aqueles que permaneceram nas obras ao espírito de sacrifício e zelo ardente, e espera que se inicie «uma sagrada competição para assumir os fardos e trabalhos, essenciais para preencher as lacunas deixadas sobretudo na escola e na assistência, por aqueles que a guerra removeu de nossos institutos».51
Convida os inspetores à criatividade: «O conhecimento da vossa Inspetoria irá sugerir algumas outras medidas práticas; pois bem, estudai-o, segundo o espírito de Dom Bosco, em relação às circunstâncias atuais e depois mandai-o para mim, o mais tardar até 20 de agosto. Os vossos projetos, bem detalhados, [...] serão cuidadosamente examinados pelo Capítulo Superior, que, tendo feito as devidas observações, os devolverá para sua execução».52 Como se vê, o governo da Congregação parece sempre mais prudente e centralizado segundo linhas claras de conduta e de salvaguarda do carisma. A meu ver, este “estilo à P. Albera” é antes de tudo expressão da confiabilidade de quem conhece a prioridade carismática da missão e deseja que todos sejam fiéis a ela.
Talvez seja justamente esse estímulo à perfeição e à ação o caráter mais típico e dinâmico da posição assumida pelo P. Albera e seu Conselho diante dos acontecimentos, o que mais inspira os Irmãos a atos heroicos, tanto no front como nas casas. Estas palavras de exortação são magníficas: «Levai a barca para o alto mar, isto é, lançai-vos com ardor no vasto campo da perfeição, não limitai os vossos esforços ao estritamente necessário, sede notáveis nas vossas aspirações, quando se tratar da glória de Deus e da salvação das almas; afastai-vos da margem que tanto restringe os vossos horizontes e vereis como será abundante a pesca de almas [...]. Nisto, o lema do apóstolo zeloso será o do soldado valente: coragem, avante!».53
Durante o difícil período da primeira guerra mundial, a paternidade espiritual do P. Albera expressou-se na afetuosa solicitude pelos Irmãos empenhados no front e pelos jovens ainda assistidos nas casas salesianas. Temos o testemunho disso nas cartas circulares que enviava mensalmente a todos os Irmãos em serviço militar54 e pelas respostas solícitas que enviava a cada Irmão que lhe escrevesse.55 Foi certamente um período de grande provação para o Reitor-Mor e para a jovem Congregação Salesiana, uma experiência de angústia e desconforto sem medida, que se tornou um divisor de águas na história de um grupo de convictos religiosos educadores, bem como em toda a história contemporânea.
Considero particularmente necessário recordar alguns traços da figura do P. Albera e do seu bom trabalho naqueles anos, porque expressa sua forma de agir numa “situação limite”. Além de ressaltar, como acabo de fazer, a sua atenção particular aos Irmãos que estavam no front, há outro aspecto que considero de grande força e importância carismática. Refiro-me ao fato de que, nas situações mais dramáticas e extremas, o P. Albera não hesitou um minuto sequer em fazer compreender que a Congregação tinha uma prioridade na missão salesiana do momento: a atenção às crianças e aos jovens órfãos, que eram os mais pobres dos pobres, tendo perdido pelo menos um dos pais, muitas vezes os dois.
O P. Albera não se contentava em continuar a realizar as atividades ordinárias. Não ficou à espera de que se dissipassem as nuvens negras daqueles anos, mas ativou com força excepcional as melhores energias das casas pobres e desfalcadas de Salesianos, que nelas continuaram sua missão. Destaco este fato porque tem muito a ver com a opção prioritária pelos pobres que também hoje pedimos à Congregação no mundo todo.
Uma primeira intervenção especial foi realizada poucos meses antes de a Itália entrar na guerra, após o terrível terremoto na região do Abruzzo em 13 de janeiro de 1915. O P. Albera escreveu aos Irmãos: «Inclinamos a nossa fronte diante das divinas disposições e rezamos também pelas muitas vítimas desse cataclismo. Mas o coração me diz que Dom Bosco e o P. Rua não ficariam contentes só com isso, por isso disponho-me a acolher, nos limites da caridade que o Senhor nos enviar, uma parte dos pequenos órfãos supérstites».56 Após este apelo, os Salesianos imediatamente se ocuparam na acolhida de centenas de órfãos em várias casas da Itália.
Como já mencionei, quando, em 24 de maio de 1915, também a Itália entrou em guerra, centenas de jovens Salesianos foram alistados. Como era de se esperar, o número de mortes de civis também se multiplicava e, ao mesmo tempo, o número de órfãos causado pela guerra aumentava. Com firme determinação, o P. Albera escreveu: «Confiando na Divina Providência, na caridade das almas generosas e no apoio das autoridades, decidi abrir um Instituto específico para rapazes de oito aos doze anos de idade, que se encontram abandonados, porque órfãos de mãe e com o pai na guerra, ou porque perderam o pai na guerra».57
Como já falamos da singularidade do oratório, é também necessário mencionar o orfanato como espaço educativo bem salesiano, especialmente naquele momento. O orfanato poderia ser considerado uma instituição educativa de outros tempos, mas revela o coração oratoriano de uma forma extraordinária. Os órfãos de todas as guerras, especialmente das nações derrotadas, são duas vezes vítimas: perderam os pais em circunstâncias violentas enquanto sua pátria não tem meios para cuidar deles.
O Papa Bento XV chamou a atenção de todos para este problema, tanto das nações vencedoras quanto das Igrejas locais e congregações, com respostas diversificadas. O P. Albera, em nome dos Salesianos e das Filhas de Maria Auxiliadora, compromete-se pessoalmente em aliviar esta chaga; abrem-se, então, orfanatos também na Europa Central devastada pela guerra. No último ano de guerra, comunica aos Salesianos chamados ao front: «logo determinei que no Oratório fossem hospedados quase cem meninos prófugos entre os 12 e 14 anos; ao mesmo tempo fiz um apelo a todos os Diretores das nossas casas da Itália para que acolhessem o maior número possível de jovens».58
Referi-me a este aspecto da vida do P. Paulo Albera e do seu serviço como Reitor-Mor porque toca diretamente um elemento essencial do nosso carisma, que é a opção pelos jovens e, entre eles, os mais pobres e abandonados (Const. 2). Como podeis imaginar, queridos Irmãos, percorrer novamente os nossos Capítulos-Gerais e o ensinamento dos Reitores-Mores sobre este tema exigiria muito tempo e uma longa carta.59 Penso que o que já disse é suficiente para mostrar que na Congregação a atenção aos jovens mais pobres e abandonados sempre existiu e coincide com a preocupação constante de ser fiel ao Senhor na fidelidade carismática a Dom Bosco. No entanto, a meu ver, a decisão e a firmeza com que o P. Albera abordou esta prioridade aparecem com força singular.
Pois bem, os órfãos da primeira guerra mundial são para nós hoje os órfãos de algumas das guerras atuais como na Síria, são as vítimas da guerrilha no continente africano e na América Latina. Os órfãos daquele tempo são para nós hoje os meninos de rua de muitas nações onde o carisma de Dom Bosco se enraizou. São também os menores imigrantes que chegam sozinhos a terras desconhecidas sem qualquer proteção. São todas as crianças e os jovens que, sem dúvida, como Salesianos, levamos em nosso coração e cuja condição nos machucam profundamente. Peço, queridos Irmãos, que continuem a nos machucar: Não nos habituemos às situações de orfandade do nosso século XXI. Por isso, na quinta linha programática da nossa Congregação para este sexênio após o CG28, pedi-vos que désseis prioridade absoluta aos jovens, aos pobres e aos mais abandonados e indefesos: «Estou convencido de que assumir esta perspectiva como irrenunciável será muito significativo em toda a Congregação e em todos os contextos, culturas e continentes. Hoje, existem muitas pobrezas juvenis que exigem da família humana, e sem dúvida de nós Salesianos de modo particular, uma atenção urgente. De fato, a história da nossa Congregação é marcada por apelos para ir ao encontro dos jovens mais pobres. “Como filhos de Dom Bosco, assumimos um compromisso histórico de servir os jovens pobres”».60
Precisamente por isso fiz um apelo a olhar para os nossos jovens, os jovens do mundo e das nossas presenças, os que conhecemos e os que devemos buscar, até conhecermos com muito respeito as suas histórias de vida, as suas angústias e as suas dores, as suas próprias vidas, tantas vezes cheias de tragédias. Estes são hoje “os nossos órfãos”, que têm muito em comum, ainda que não o saibam, com os das grandes guerras. Devemos estar presentes para eles.
2.5. Sede todos missionários61
A intensa solicitação do P. Albera é “irmã” do convite dirigido
a toda a Congregação depois do CG28 que nos recorda:
«É tempo de uma maior generosidade na Congregação.
Numa Congregação universal e missionária»
(CG28, Linha programática 7)
Uma das características do serviço do P. Albera como Reitor-Mor foi a sua grande preocupação, animação e empenho pelas missões, que considerava essenciais para o carisma de Dom Bosco.
É muito significativo o que ele escreve já na sua primeira carta à Congregação, datada de 25 de janeiro de 1911: «Surpreende-me o temor de que desapareça dentre nós o zelo ardente dos nossos primeiros missionários e que nós não correspondamos plenamente aos desígnios de Deus sobre a nossa humilde Congregação. Infelizmente, vejo diminuir a cada dia os pedidos para ir às missões e, por isso, repercutem em mim quase como golpes de martelo as palavras: tene quod habes».62 À sua grande sensibilidade na fidelidade a Dom Bosco e ao P. Rua, deve-se acrescentar que por ocasião da sua visita à América em nome do Reitor-Mor, ele pôde conhecer pessoalmente a bela e incipiente realidade das missões, sobretudo na Patagônia, na Terra do Fogo, no Mato Grosso e em Méndez e Gualaquiza.
Durante o reitorado do P. Albera mais de 450 Salesianos partiram para as missões. Apenas em 1915, devido à guerra, a expedição missionária foi suspensa.
Em 1913 completou-se a 47ª expedição. Em 31 de maio daquele ano, o P. Albera enviara uma carta circular a todos os Salesianos para incentivá-los a irem em ajuda das missões: «Portanto, não vos será difícil, queridos Irmãos, compreender o grande peso que recai sobre o vosso Reitor-Mor para dotar estas Missões de pessoal e meios materiais seguros e aprimorados. Pelo contrário, as necessidades, tanto de pessoal como de meios, tornam-se sempre mais sensíveis, e sinto, bons Irmãos, a necessidade de apelar por ajuda ao vosso coração. Sim, queirais também vós dividir comigo tão grande peso, levando a sério as nossas missões, primeiro com a oração e depois com a ação».63
O resultado foi que naquele ano mais de 70 Salesianos integraram a 47ª expedição. Também foram enviadas em missão com os Salesianos 52 Filhas de Maria Auxiliadora.
Repercorrendo a biografia do P. Albera, pode-se ver como ele se preocupasse muito, enquanto estava em Turim ou retornando de algumas de suas viagens, com os preparativos para a expedição missionária anual. Apresento como exemplo o relatório de alguns envios: «A despedida aconteceu no dia 11 de outubro de 1910 na igreja de Maria Auxiliadora. Abraçou um por um os cem missionários que partiam, deixando a cada um uma recordação especial».64 O mesmo aconteceu em 1911, quando, «em outubro, depois da celebração de despedida de cinquenta missionários destinados especialmente à China e ao Congo, o P. Albera partiu para a Áustria, a Polônia e a Ucrânia».65 Em outubro de 1912 despediu-se e abençoou a nova expedição missionária. Dela participava o jovem Inácio Canazei, que será, depois, o sucessor do bispo e mártir Luís Versiglia como vigário apostólico de Shiuchow (Shaoguan). Em 1929 o próprio Canazei narrou: «Antes de partir para a China, o P. Albera convidou-nos a assistir a Santa Missa que ele mesmo celebraria na capela de Dom Bosco. Depois, paternalmente, dirigiu-nos a palavra. Entre outras coisas, disse-nos: “Agora vós estais partindo para as missões. No princípio encontrareis muitas dificuldades, mas com o andar do tempo adquirireis prática na língua, nos costumes, conhecereis muita gente, e, depois de uns dez anos, o novo país se tornará para vós uma segunda pátria: nem mais querereis voltar para a própria pátria...”».66 Algo semelhante poderia ser referido de cada expedição missionária.
Tudo isso mostra como, por fidelidade a Dom Bosco, as missões foram para o P. Albera um elemento carismático essencial e indispensável. Assim – é a minha conclusão –, com o mesmo critério de fidelidade a Dom Bosco e ao seu carisma, devem continuar a ser hoje para nós.
Na citada circular de 31 de maio de 1913, intitulada Os Oratórios festivos – As Missões – As Vocações, o P. Albera dedica páginas esplêndidas para lembrar aos Salesianos o que significavam as missões para Dom Bosco, como as levasse na mente e no coração. Ao mesmo tempo, apela para «levar muito a sério as nossas missões, primeiro com a oração e depois com a ação» e convida a enriquecer-se «com as virtudes do missionário, que devem ser uma piedade profunda e um grande espírito de sacrifício por toda a vida e não só por alguns anos».67 Nessa carta, o P. Albera declara também que o Oratório festivo deve ser o coração e a vida da Congregação, porque o era para Dom Bosco: «As missões entre os povos selvagens foram sempre a aspiração mais ardente do coração de Dom Bosco, nem temo errar ao dizer que Maria SS. Auxiliadora desde as suas primeiras manifestações maternas, dera-lhe, ainda menino, uma clara intuição sobre elas... Ele falava continuamente delas, a nós seus primeiros filhos, que, cheios de admiração, nos sentíamos transportados por santo entusiasmo; descrevia, com a clara precisão de um explorador, regiões distantes, florestas imensas com flora e fauna misteriosas, rios majestosos, tribos guerreiras... e depois novas vilas e cidades, que nasciam como por encanto onde anteriormente reinavam a solidão e a morte».68 Para Dom Bosco, «as missões eram o tema predileto dos seus discursos, e sabia infundir nos corações tão vivo desejo de ser missionários que nos parecia a coisa mais natural do mundo».69
Queridos Irmãos, sublinhei intensamente nas linhas programáticas do nosso CG28 a dimensão missionária da nossa Congregação. Está claro que nos vemos num tempo que requer maior generosidade de todos nós, uma vez que «a realidade missionária da nossa Congregação continua a interpelar-nos e apresentar-nos alguns belos desafios; as missões impelem-nos e fazem-nos sonhar belos sonhos que se tornam realidade».70
Creio poder dizer que a animação missionária em nossa Congregação é uma das dimensões que todo Reitor-Mor, na nossa história até agora, assumiu com verdadeiro amor. Não houve um único ano – com exceção de 1915, a que já me referi – em que, na medida do amadurecimento de cada expedição missionária, não tenha havido um grande esforço para ajudar as várias Igrejas locais e Inspetorias com a presença de novos Salesianos que se ofereceram para dar o melhor de si aonde quer que fossem enviados. Não podemos esquecer que a Congregação está presente hoje em 134 nações porque missionários de muitas partes do mundo e por muitos decênios deram os primeiros passos para o enraizamento do carisma de Dom Bosco em cada nação e região.
Hoje como ontem, como fiz nestes sete anos e como fizeram os meus predecessores, continuo a convidar os meus Irmãos a serem generosos, especialmente aqueles que sentem um apelo particular do Senhor («Ide, pois, fazer discípulos todos os povos...», Mt 28,19) na vocação que todos vivemos como Salesianos de Dom Bosco. O P. Paulo Albera é um bom espelho em que contemplar a grandeza e o valor da dimensão missionária e das missões em nossa Congregação.
Creio poder afirmar, sem medo de errar, que a Congregação continua vigilante, atenta e sempre disposta a anunciar o Evangelho aos povos que não o conhecem (Const. 6), convencida de que «reconhecemos no trabalho missionário um traço essencial da nossa Congregação» (Const. 30). Justamente por isso, em plena harmonia e diálogo com o espírito que o P. Albera nos recordou, propus no final do Capítulo Geral 18: «[Peço à Congregação a] «concretização deste tempo de generosidade, assumindo, de modo natural, a disponibilidade de irmãos de todas as Inspetorias [...] para serviços internacionais, novas fundações, novas fronteiras que queiramos alcançar».71
3. NOSSA SENHORA E DOM BOSCO72
Não poderia concluir esta carta sem fazer uma referência, embora breve, a Nossa Senhora, o grande Amor de Dom Bosco, e à profunda devoção e convicção do P. Albera em relação ao grande dom que nós Salesianos e a Família Salesiana temos diante «nossa poderosa protetora».73 Na circular relativa ao cinquentenário da consagração do santuário de Maria Auxiliadora,74 o P. Albera escreve com a habitual humildade: «Sem dúvida outras penas, muito mais bem temperadas que a minha, cantarão louvores à Senhora de Dom Bosco em todas as línguas e em todos as métricas». Todavia, ele sabe que «não é permitido ao Reitor-Mor dos Salesianos ficar em silêncio» quando se trata de unir a própria voz à de tantos filhos de Dom Bosco no louvor reconhecido à Mãe de Deus». Por isso, conclui: «Queira Maria Santíssima Auxiliadora guiar a minha pena, para que eu escreva coisas menos indignas d’Ela».75
A carta é cheia da convicção de que a Auxiliadora é, antes de tudo, a Senhora de Dom Bosco e que, como Salesianos, temos um dever de gratidão «para com a nossa celeste Rainha, pelos grandes e inumeráveis benefícios que tão generosamente nos quis conceder».76
P. Albera evidencia que o desenrolar-se da vida de Dom Bosco, «filho de um humilde agricultor dos Becchi», permanece «um enigma inexplicável» se não for compreendido e apreciado na fé que sabe ver nele a mão onipotente da Divina Providência sempre atuante. E com toda segurança afirma: «Dom Bosco certamente não pôde ter qualquer dúvida quanto à contínua intervenção de Deus e da Santíssima Virgem Auxiliadora nos vários acontecimentos da sua operosíssima vida».77 Depois do sonho de nove anos, «foi a Mãe de Deus que o guiou em todos os acontecimentos mais importantes da sua carreira, que fez dele um sacerdote sábio e zeloso, que o preparou para ser o Pai dos órfãos, o Mestre de inúmeros ministros do altar, um dos maiores educadores da juventude e, enfim, o Fundador de uma nova Sociedade religiosa, que teria a missão de difundir em todos os lugares o seu espírito e a sua devoção sob o belo título de Maria Auxiliadora».78
Penso que se possa dizer, queridos Irmão, que a passagem apenas citada é uma síntese perfeita e completa da vida de Dom Bosco e do lugar que Nossa Senhora ocupou nela. Ela era o seu verdadeiro apoio, Ela o guiou ao longo de sua vida. Ao final, durante a Eucaristia celebrada em 1887 na igreja do Sagrado Coração de Roma, no dia seguinte à sua consagração, o ancião Dom Bosco, muito comprometido na saúde e cheio de emoção e lágrimas, compreende qual foi o fio condutor que o acompanhou ao longo da sua vida: «Foi Ela quem tudo fez».
Como filhos de Dom Bosco, expressamos o nosso amor e devoção a Nossa Senhora todos os dias na oração matinal de consagração a Maria Auxiliadora: uma oração desejada pelo P. Rua ainda em 1894 e que, como escreve o P. Albera, «se tornou sumamente agradável a todos, e que logo e com muita facilidade foi aprendida de memória».79 Assim também até os nossos dias.
Queridos Irmãos, concluo esta carta, escrita com referência ao P. Albera e em diálogo com ele, reafirmando com profunda convicção que o nosso amor e a nossa devoção à Mãe do Senhor, à Auxiliadora, não é algo opcional em nosso carisma.
Permito-me declarar com toda a franqueza e consciência: se algum de nós não ama Nossa Senhora e não sente nada em relação a ela, se não tem o desejo de viver todos os seus dias sob a proteção e a presença da Mãe do Céu, se não tem um ardor no coração que o leva a querer mostrar e transmitir este seu amor aos meninos, aos jovens e ao povo de Deus que encontra todos os dias, não será um Salesiano de Dom Bosco.
«Cremos que Maria está presente entre nós e continua a sua “missão de Mãe da Igreja e Auxiliadora dos Cristãos”. Confiamo-nos a Ela, a humilde serva na qual o Senhor operou coisas grandiosas, para nos tornarmos, entre os jovens, testemunhas do amor inexaurível do seu Filho» (Const. 8).
Peçamos ao Senhor que Nossa Senhora Auxiliadora, que sempre guiou e sustentou Dom Bosco, continue a acompanhar a nossa Congregação e a bela Família Salesiana para o bem da Igreja e continue a responder, na fidelidade ao chamado que o Espírito Santo nos fez em Dom Bosco, às necessidades da Igreja e do mundo inteiro. Cientes de que não nascemos de um projeto humano, mas da iniciativa de Deus, que nos confiou a porção mais preciosa da sociedade: os jovens e, entre eles, os mais pobres e abandonados.
Nossa devoção e nosso amor à Mãe do Senhor sejam a nossa garantia de uma vida bela, plena e feliz, na fidelidade, como discípulos do seu Filho Amado.
P. Ángel Fernández Artime
Reitor-Mor
APÊNDICE
Queridos Irmãos,
minha carta, como vistes, não é um trabalho de pesquisa acadêmica, como as produzidas por nossas universidades, mas uma carta de animação fraterna. Ela exprime o meu forte desejo de que a grande figura do P. Paulo Albera, os seus méritos na Congregação em favor da missão salesiana e da educação-evangelização dos jovens, e tudo o que ele nos transmite fiquem na memória de todos, também graças à atual leitura que podemos fazer da sua obra e do seu pensamento. De minha parte, procurei destacar e oferecer para sua reflexão apenas alguns aspectos, que se referem mais às linhas programáticas do sexênio.
Para estimular um maior conhecimento, acrescento à carta este apêndice com uma rica bibliografia sobre o P. Paulo Albera, editada por alguns de nossos especialistas, aos quais agradeço a colaboração. Faço isso porque o considero um “ato de justiça” para com o segundo sucessor de Dom Bosco. Não tenho dúvidas de que mais de um Irmão, vendo tudo o que foi escrito sobre ele, será encorajado a ler algo interessante para a própria vida.
BIBLIOGRAFIA SOBRE O P. PAULO ALBERA
(Preparada por Marco Bay, atualizada em 24.06.2021. Referências tiradas das contribuições de A. Park, A. Giraudo, J. Boenzi, S. Zimniak e outros)
ESCRITOS DO P. PAULO ALBERA
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Albera Paolo (a cura di), Pratiche di pietà in uso nelle case salesiane, Torino, SEI, 1921 (seconda edizione)
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Albera Paolo, Lettere circolari ai Salesiani militari [32 lettere circolari a stampa dal 19 marzo 1916 al 24 dicembre 1918], in Archivio Salesiano Centrale E223.
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Albera Paolo, Lettere circolari di Don Paolo Albera ai Salesiani, Torino, Direzione Generale Opere Don Bosco, 1965.
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Albera Paolo, Mons. Luigi Lasagna vescovo titolare di Tripoli, superiore delle missioni salesiane dell’Uruguay e del Brasile: discorso funebre detto nella chiesa di Maria Ausiliatrice il 4 dicembre 1895, Torino, Tipografia Salesiana, 1895.
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Gli oratori festivi e le scuole di religione. Eco del V Congresso tenutosi in Torino il 17-18 maggio 1911. Relazione, proposte e studi compilati d’ordine del presidente del V Congresso delle Opere omonime, il reverendissimo D. Paolo Albera, Rettor Maggiore della Pia Società Salesiana del Ven. D. Bosco, S.A.I.D. – Buona Stampa, Torino 1911.
BIOGRAFIAS
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ARTIGOS do “Bollettino Salesiano”
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Albera Paolo, Don Rua in Palestina, in “Bollettino Salesiano” 19 (giugno 1895) 151-157.
Albera Paolo, Il Missionario Cattolico!, in “Bollettino Salesiano” 48 (gennaio 1923), 18.
Gusmano Calogero, Il rappresentante del successore di Don Bosco in America, in “Bollettino Salesiano” (novembre 1900), 303-307; 24 (dicembre 1900), 336-339; 25 (gennaio 1901), 9-14; (febbraio 1901), 44-45; (marzo 1901), 66-68; (aprile 1901), 96-99; (maggio 1901), 123-124; (giugno 1901), 149-156; (agosto 1901), 216-219; (settembre 1901), 245-247; (ottobre 1901), 277-279; (dicembre 1901), 242-245; 26 (febbraio 1902), 42-44; (aprile 1902), 101-104; (maggio 1902), 150; (luglio 1902), 204-205; (agosto 1902), 230-233; (dicembre 1902), 361-263; 27 (febbraio 1903), 48-50; (marzo 1903), 71-81; (aprile 1903), 103-107; (maggio 1903), 136-140; (settembre 1903), 265-271; (ottobre 1903), 295-297; (novembre 1903), 329-334; (dicembre 1903), 357-359; 28 (gennaio 1904), 13-15; (febbraio 1904), 43-44; (marzo 1904), 76-79; (aprile 1904), 104-111; (maggio 1904), 138-141; (agosto 1904), 232-237; (settembre 1904), 267-270; (novembre 1904), 334-336; (dicembre 1904), 361-364; 29 (gennaio 1905), 17-20; (febbraio 1905), 43.46; (marzo 1905), 73-76; (maggio 1905), 137-141; (giugno 1905), 170-173; (luglio 1905), 198-202; (agosto 1905), 228-231.
Il “piccolo don Bosco” Don Albera, in “Bollettino Salesiano” 145 (gennaio 2021), 28-31.
Il secondo successore di D. Bosco. L’elezione, l´eletto, in “Bollettino Salesiano” 34 (dicembre 1910), 369-372.
In morte di don Albera, in “Bollettino Salesiano” 45 (dicembre 1921), 312-339.
La elección del segundo Rector Mayor de la Sociedad Salesiana del V.ble Don Bosco, in “Boletin Salesiano. Don Bosco en el Ecuador” (8 octubre 1910) ,619-626.
Lettera del Sac. Paolo Albera ai Cooperatori ed alle Cooperatrici, in “Bollettino Salesiano” 35 (gennaio 1911), 2-8; 36 (gennaio 1912), 2-9; 37 (gennaio 1913), 1-6; 38 (gennaio 1914), 1-6; 39 (gennaio 1915), 1-7; 40 (gennaio 1916), 1-7; 41 (gennaio 1917), 1-7; 42 (gennaio 1918) 1-6; 43 (gennaio 1919), 1-7; 44 (gennaio 1920), 1-7; 45 (gennaio 1921) 1-7.
Nel VI anniversario della morte di Don Albera 1921 – 29 ottobre – 1927, in “Bollettino Salesiano“ 52 (ottobre 1952), 301-303.
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ARQUIVO SALESIANO CENTRAL. ALGUNS INÉDITOS DE RELEVO e FONTES NO ARQUIVO
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B0320101-105, Notes confidentielles prises pour le bien de mon âme, ms autografo P. Albera 1893-1899.
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P. ALBERA NO EPISTOLÁRIO DE DOM BOSCO [E(m)]
E(m): Bosco Giovanni, Epistolario. Introduzione, testi critici e note a cura di Francesco Motto. Voll. I-IX, Roma, LAS 1991-2021.
Lett. N. 1164. Al vescovo di Casale Monferrato, Pietro Maria Ferrè Torino, 14 marzo [18]68 Problemi di dimissorie del chierico Paolo Albera – richiesta di commendatizia per ottenere la dispensa di età per l’ordinazione del chierico Secondo Merlone – trasmette documento legale di costituzione del patrimonio ecclesiastico per il chierico Fagnano, in E(m) II, 512.
Lett. N. 1616. Alla contessa Geronima De Camilli *Torino, Io marzo 1872 Ha ricevuto a Varazze la sua offerta, parte della quale ha consegnato a don Albera per l’Ospizio di Marassi – assicura preghiere secondo le sue intenzioni, in E(m) III, 403.
Lett. N. 1868. Alla contessa Carlotta Callori *Sampierdarena, 26 novembre [18]73 La informa che ha ricevuto la sua lettera con il sussidio in esso contenuto per il riscatto di un chierico dal servizio militare – la ringrazia assicurando preghiere e ricompensa dal Signore – saluti da don Albera – sarà presto di ritorno, in E(m) IV, 181.
Lett. N. 2462. A don Giovanni Battista Francesia Roma, 12 [gennaio 18]77 Racconta l’udienza avuta col S. Padre il quale manda l’apostolica benedizione a lui ed a – don Albera – importanza dei Figli di Maria per le missioni, in E(m) V, 294.
Lett. N. 3395. Alla signora Luigia Pavese Dufour [Sampierdarena], 14 aprile [18]81 Ringraziamento per l’offerta che consegnerà a don Albera che deve saldare debiti con il panettiere, in E(m) VI, 336.
Lett. N. 3522. A don Giuseppe Bologna Torino, 28 [ottobre 1881] Chiede notizie delle suore, dell’ospizio, del curato e del nuovo personale – attende una lettera da don Albera, in E(m) VII, 446.
Lett. N. 3576. A don Paolo Albera *Torino, 7 [gennaio 18]82 Chiede di scrivere a due benefattori per assicurarli di aver pregato per loro — comunica a don Bologna che tratterà di persona la proposta Pirondi — annuncia sua prossima visita, in E(m) VIII, 51.
Lett. N. 3761. A don Paolo Albera *Torino, 26 novembre [18]82 Invia lettere da leggere e distribuire — saluti a don Bologna, i confratelli e benefattori — riceverà da don Caglierò le nonne relative ad alcuni salesiani in partenza per la Spagna, in E(m) VIII, 220.
Lett. N. 3768. A don Paolo Albera Torino, 4 dicembre [18]82 Lo autorizza a ritenere la somma offerta da madame Fabre — chiede un aiuto per la casa di Saint-Cyr — prega di trasmettere ima letterina ad ima benefattrice e di ringraziare personalmente le altre benefattrici — saluti ai confratelli, in E(m) VIII, 226.
Lett. N. 3808. A don Giuseppe Bologna *Varazze, 5 febbraio 1883 Prega di avvisare la signorina Abatucci del suo viaggio al Torrione e a Menthon — avvisi don Albera di preparare visite e denaro, in E(m) VIII, 266.
Lett. N. 3822. A don Paolo Albera *Lione, 16 apr[ile 18]83 Comunica la sua partenza per Parigi con il relativo indirizzo presso la contessa Combaud, in E(m) VIII, 279.
Lett. N. 4117. A don Paolo Albera *Torino, 15 nov[embre 18]84 Comunica di aver scritto ad alcune persone secondo l’accordo preso – saluta confratelli ed allievi – temendo lo scoppio del colera anche per l’anno successivo chiede loro un comportamento virtuoso e la frequenza dei sacramenti, in E(m) IX, 222.
OUTRAS REFERÊNCIAS
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Il sacerdote Paolo Albera eletto successore di don Rua in La Stampa (Torino, 17 Agosto 1910), 3.
Il salesiano sotto le armi, Torino, Scuola Tipografica Salesiana, 1939.
La morte di don Paolo Albera superiore dei Salesiani in La Stampa (Torino, 30 Ottobre 1921), 3.
Lemoyne Giovanni Battista, L’Arcivescovo vuole in Seminario il ch. Paolo Albera (MB VIII, cap. LXXXIII, 1002-1008).
Lemoyne Giovanni Battista, Uno spiacevole incontro di Don Albera coll’Arcivescovo (MB IX, cap. XLIX, 623-629).
Un grandioso funerale a Torino. Il trasporto e la tumulazione della salma di Don Albera secondo successore di Don Bosco in La Stampa (Torino, 1 Novembre 1921), 2.
1 A segunda guerra mundial foi certamente mais dolorosa, por ter destruído grande parte da Europa e atingido de modo violentíssimo também o Japão. Uma guerra que, de acordo com as estimativas mais realistas, deixou um rastro de cerca de 60 milhões de mortes.
2 Faço referência ao recente livro de Aldo Giraudo, Padre Paulo Albera mestre de vida espiritual (Editora Edebê, Brasília 2021), como também à tese doutoral do Sr. Paolo Vaschetto, Salesiano coadjutor. Faço referência também ao texto de Jesús Graciliano González Miguel, Los once primeros capítulos generales de la Congregación Salesiana (CCS, Madri 2021) e a Stanisław Zimniak, Don Paolo Albera (1845-1921) secondo successore di don Giovanni Bosco. Cenno biografico, in «Ricerche storiche salesiane», Anno XL, 1 (76), 2021, 137-144. Enfim, compartilho sobre o P. Albera a mesma visão do P. Manuel Pérez, Salesiano do Centro Salesiano de Formação Permanente de Quito, Equador.
3 Giovanni Bosco, Epistolario, I 406 citado in Giraudo, Padre Paulo Albera mestre de vida espiritual, 22.
4 Giraudo, Padre Paulo Albera mestre de vida espiritual, 27.
5 Ver a carta XXXV de 18 de outubro de 1920 in Lettere circolari di Don Albera, Direzione Generale delle Opere Salesiane, Turim 1965, 362-363.
6 Cf. ASC B0320101, Notes confidentielles prises pour le bien de mon âme, ms autografo P. Albera 1893-1899 del 31.12.1895 citado in Giraudo, Padre Paulo Albera mestre de vida espiritual, 64.
7 Jesús Graciliano González, Los once primeros capítulos generales de la Congregación Salesiana, CCS, Madri 2021, 337.
8 Giraudo, Padre Paulo Albera mestre de vida espiritual, 101.
9 Ibid., 102.
10 Lettere circolari di Don Paolo Albera ai Salesiani, 13.
11 Eugenio Ceria, Annali della Società Salesiana, vol. IV. Il rettorato di don Paolo Albera 1910-1921, 2-3, citado in González, Los once primeros capítulos generales, 350.
12 BS 1910, 267-268, citado in Giraudo, Padre Paulo Albera mestre de vida espiritual, 102 e também in Morand Wirth, Da Don Bosco ai nostri giorni, LAS, Roma 2000, 311.
13 Cf. Giraudo, Padre Paulo Albera mestre de vida espiritual, 103.
14 Cf. Giraudo, Padre Paulo Albera mestre de vida espiritual, 105ss.
15 ACS 9, 310-311 citado in Giraudo, Padre Paulo Albera mestre de vida espiritual, 139.
16 Giraudo, Padre Paulo Albera mestre de vida espiritual, 144.
17 Lettere circolari di Don Paolo Albera ai salesiani, 57ss.
18 Ibid., 59.
19 Ibidem.
20 Ibidem.
21 BS 1921, 1, citado in Giraudo, Padre Paulo Albera mestre de vida espiritual, 134.
22 Citado in Giraudo, Padre Paulo Albera mestre de vida espiritual, 139.
23 CG28, 14.
24 MB XVIII, 175.
25 MB XI, 387.
26 CG28, 14.
27 Lettere circolari di Don Paolo Albera ai salesiani (carta “Dom Bosco nosso modelo…”), 373.
28 Lettere circolari di Don Paolo Albera ai salesiani (carta “Os Oratórios festivos – As missões – As vocações”), 129.
29 Lettere circolari di Don Paolo Albera ai salesiani (carta “Dom Bosco nosso modelo…”), 373.
30 Ibidem.
31 Ibid., 307.
32 Ibid., 316.
33 Ibid., 317.
34 CG28, 19.
35 CG28, 123-125.
36 MB XVI, 447. Cf. Pietro Braido, Don Bosco educatore. Scritti e testimonianze, LAS, Roma 1992, 340.
37 Lettere circolari di Don Paolo Albera ai salesiani, (segunda carta, ‘Sobre o espírito de piedade’), 26 ss.
38 Ibid., 29.
39 Ibid., 32-33.
40 Jesús Graciliano González, XI Capitolo Generale della Pia Società Salesiana presieduto da don Paolo Albera (1910), CCS, Madri 2020, 25, n. 182.
41 Lettere circolari di Don Paolo Albera ai salesiani, 36.
42 Cf. CG20 (1972). Sobre o “espírito de piedade” dos SDB e em don Bosco, ver os números 103, 134, 521, 532, 546 etc. Cf. CG23, Educar os jovens à fé, Roma 1990. Sobre a piedade e Deus na vida do Salesiano, ver os números 7, 139, 176, 219, 220. Cf. CG26, “Da mihi animas cetera tolle”, Roma 2008. Sobre a identidade carismática e a paixão apostólica, ver os números 3, 6, 19-22.
43 Cf. Egídio Viganò, Interioridad apostólica, CCS, Madri 1990, 169 (primeira edição pela Ediciones Don Bosco Argentina, Buenos Aires 1989). Cf. Egidio Viganò, Non secondo la carne ma nello spirito, Ed. FMA, Roma 1978. Sobre a interioridade, p. 41; 66; 152. Cf. Exortação «Vita Consecrata»: estímulos para o nosso caminho pós-capitular, in Juan Edmundo Vecchi, Educatori appassionati esperti e consacrati per i giovani. Lettere circolari ai salesiani di don Juan E. Vecchi, LAS, Roma 2013, 114-122. Ver a espiritualidade como exigência prioritária; cf. Pascual Chávez Villanueva, Lettere circolari ai salesiani, LAS, Roma 2021, 54.
44 Lettere circolari di Don Paolo Albera ai salesiani, 374.
45 Egidio Viganò, Interioridad apostólica, CCS, Madri 1990, 169.
46 Egidio Viganò, Interioridad apostólica, 12.
47 Ibidem.
48 Chávez, Lettere circolari ai salesiani, 1299.
49 ASC, E212, n. 117 (24 de maio de 1915), citado in Leonardo Tullini, Esperienza bellica e identità salesiana nella Grande Guerra: tratti di spiritualità nella corrispondenza dei Salesiani militari con D. Paolo Albera e altri superiori (1915-1918) [doutorado], UPS, Roma 2007, 117.
50 Lettere circolari di Don Paolo Albera ai salesiani, 360.
51 Ibid., 183-184.
52 Ibid., 212.
53 Ibid., 239.
54 As cartas circulares aos Salesianos soldados enviadas pelo Reitor-Mor P. Paulo Albera entre 19 de março de 1916 e 24 de dezembro de 1918 foram 32.
55 O Arquivo Salesiano Central conserva cerca de 3.390 entre cartas e cartões postais militares endereçados ao P. Paulo Albera ou outros membros do Capítulo Superior por 791 Salesianos soldados.
56 Lettere circolari di Don Paolo Albera ai salesiani, 171 citado in Giraudo, Padre Paulo Albera mestre de vida espiritual, 118.
57 BS 1916, 131 citado in Giraudo, Padre Paulo Albera mestre de vida espiritual, 124.
58 Lm n. 22… cf. ASC E444, Lettere mensili ai salesiani soldati (1916-1918), citado in Giraudo, Padre Paulo Albera mestre de vida espiritual, 125.
59 P. Pascual Chávez V. refere-se várias vezes em suas cartas à predileção pelos mais pobres: cf. Chávez, Lettere circolari ai salesiani, 156, 349, 503, 609-613, 614, 735, 987, 1106. Veja-se também "Teve compaixão deles". Novas pobrezas, missão salesiana e significatividade in Vecchi, Educatori appassionati… Lettere circolari ai Salesiani, 166-192.
60 CG28, p. 28.
61 Lettere circolari di Don Paolo Albera ai salesiani, 135.
62 Ibidem.
63 Ibidem.
64 Giraudo, Padre Paulo Albera mestre de vida espiritual, 104
65 Ibid., 107.
66 Ibid., 109.
67 Lettere circolari di Don Paolo Albera ai salesiani, 135.
68 Ibid., 132-133.
69 Ibid., 133.
70 CG28, 38.
71 Ibidem.
72 Lettere circolari di Don Paolo Albera ai salesiani, 283.
73 Ibidem.
74 Ibid. Trata-se da carta número XXIV intitulada “Sobre o cinquentenário da Consagração do Santuário de Maria Auxiliadora”, 282-299.
75 Ibid., 283.
76 Ibidem.
77 Ibid., 284.
78 Ibidem.
79 Ibid., 289-290.