SOCIETÀ DI SAN FRANCESCO DI SALES
casa generalizia salesiana
Via della Pisana 1111 - 00163 Roma
Il Rettor Maggiore
Roma, 19 de março de 2017
Solenidade de São José
Carta do Reitor-Mor, P. Ángel Fernández Artime, por ocasião da Venerabilidade do SdeD Octavio Ortiz Arrieta Coya, Bispo de Chachapoyas (Peru) e primeiro salesiano peruano.
Meus queridos Irmãos Salesianos,
Meus caros irmãos e irmãs da Família Salesiana,
Depois de alegrar-nos pela Venerabilidade do P. Francisco Convertini e do P. Josè Vandor, à distância de apenas um mês, no dia 27 de fevereiro de 2017, o Papa Francisco autorizou a Congregação das Causas dos Santos a promulgar o Decreto relativo às virtudes heroicas do Servo de Deus (SdeD) Octavio Ortiz Arrieta, da Sociedade Salesiana de São João Bosco, Bispo de Chachapoyas, nascido em Lima, Peru, no dia 19 de abril de 1878 e falecido em Chachapoyas, Peru, em 1° de março de 1958. É um novo presente à nossa Família e uma confirmação do caminho de santidade florescido do carisma doado por Deus à Igreja através do nosso Pai, Dom Bosco.
O Venerável Dom Octavio Ortiz Arrieta Coya transcorreu a primeira parte da vida como oratoriano, aluno e, depois, ele mesmo salesiano, empenhado nas obras dos Filhos de Dom Bosco, no Peru. Foi o primeiro salesiano formado na primeira Casa salesiana desse País, fundada em Rimac, bairro pobre em que aprendeu a levar uma vida austera, de sacrifício. Com os primeiros Salesianos, que chegaram àquela Nação em 1891, conheceu o espírito de Dom Bosco e o Sistema Preventivo. Como salesiano da primeira geração, aprendeu que o serviço e o dom de si iriam ser o horizonte da sua própria vida; nessa perspectiva, assumiu desde jovem salesiano importantes responsabilidades, como a abertura de novas obras e a direção de outras, com simplicidade e sacrifício, e total dedicação aos pobres.
A segunda parte da vida, desde o início dos Anos ’20, viveu-a como Bispo da imensa Diocese de Chachapoyas, vacante havia anos, na qual as proibitivas condições do território se somavam a um certo fechamento, sobretudo nos vilarejos mais distantes. Ali o campo e desafios do apostolado eram imensos. Ortiz Arrieta era de temperamento vivaz, habituado à vida de comunidade. Era além disso delicadíssimo de ânimo, a ponto de ser chamado "pecadito" (pecadinho) nos seus verdes anos, por sua exatidão no relevar as faltas e em ajudar a si mesmo e aos demais a se emendarem. Dispunha, mais, de um inato sentido do rigor e do dever moral. As condições em que teve de desempenhar o ministério episcopal se lhe depararam ao invés diametralmente opostas: solidão e substancial impossibilidade de partilhar uma vida salesiana e sacerdotal, apesar dos reiterados e quase suplicantes pedidos à própria Congregação; necessidade de temperar o próprio rigor moral com uma firmeza cada vez mais dócil e quase desarmada; fina consciência moral constantemente posta à prova pela rudeza nas opções e tibieza na sequela por parte de alguns colaboradores menos heroicos do que ele, e de um povo de Deus que ‘sabia’ opor-se ao Bispo quando sua palavra se tornava denúncia da injustiça e diagnose dos males espirituais. O caminho do Venerável rumo à plenitude da santidade, no exercício das virtudes, foi portanto marcado por canseiras, dificuldades e contínua necessidade de converter o próprio olhar e coração, sob a ação do Espírito de Deus.
Se com absoluta certeza achamos em sua vida episódios definíveis como heroicos em sentido estrito, é preciso entretanto realçar em seu virtuoso caminhar também e, talvez, sobretudo, aqueles momentos em que ele teria podido agir diversamente e não o fez; em que em vez de ceder ao humano desespero, renovou a esperança; quando poderia ter-se contentado com uma caridade grande, em vez de dar plena disponibilidade ao exercício daquela caridade heroica que, ao invés, praticou com exemplar fidelidade por diversos decênios. Quando, por duas vezes lhe foi proposto mudar de Sede, e na segunda foi-lhe oferecida a Sede Primacial de Lima, ele optou por ficar entre os seus pobres, entre aqueles que ninguém queria, sitos realmente na periferia do mundo, ficando na Diocese que havia desposado para sempre e amado como era, empenhando-se, com tudo o que era, por torná-La, ainda que por um pouco, melhor. Foi pastor “moderno” no seu estilo de presença e em recorrer a meios de ação como o associacionismo e a imprensa. Homem de temperamento decidido e de rijas convicções de fé, Dom Ortiz Arrieta usou certamente em seu comando desse «dom de governo», sempre unido entretanto ao respeito e à caridade às pessoas, expressos com extremos de coerência.
Embora tivesse vivido antes do Concílio Vaticano II, foi atual o modo pelo qual planejou e desempenhou os encargos pastorais a ele confiados: da pastoral vocacional ao concreto apoio aos seus seminaristas e sacerdotes; da formação catequética e humana aos mais jovens àquela pastoral familiar através da qual foi ao encontro de casais em crise, ou de casais de conviventes, contumazes em não regularizar as suas uniões. Dom Ortiz Arrieta de resto educou não só com sua concreta ação pastoral mas também com o seu comportamento: com a capacidade de discernir, antes de tudo, para si mesmo, o que signifique e o que comporte renovar a fidelidade ao caminho empreendido. Ele realmente perseverou na pobreza heróica, na fortaleza através das numerosas provas da vida e na radical fidelidade à Diocese a que fora designado. Humilde, simples, sempre sereno, entre sério e gentil: a doçura do seu olhar fazia transparecer toda a tranquilidade do seu espírito. E este foi o caminho de santidade que percorreu.
As belas características que os seus Superiores salesianos nele encontraram antes da Ordenação sacerdotal – quando o definem uma «pérola de salesiano» e lhe valorizam o espírito de sacrifício – refluem constantemente ao longo de toda a sua vida, também episcopal. Pode-se de fato dizer que Ortiz Arrieta se ‘fez tudo para todos, para, a todo custo, salvar alguém» (v. 1Cor 9, 22), sendo autorizado com as Autoridades, simples com as crianças, pobre entre os pobres; sereno com quem o insultava ou tentava, por rancor, desacreditá-lo; sempre pronto a não devolver mal por mal, mas a vencer o mal com o bem (cf. Rm 12, 21). Toda a sua vida foi dominada pelo primado da salvação das almas: uma salvação a que desejava ver engajados também os seus sacerdotes, nos quais experimenta contrastar a tentação de fechar-se em fáceis seguridades ou entrincheirar-se por trás de encargos de maior prestígio, para empenhar-se ao invés no serviço pastoral. Pode-se realmente dizer que ele se tenha postado naquela medida “alta” de vida cristã em que se eleva um pastor que encarna de modo original a caridade pastoral, buscando a comunhão no povo de Deus, indo aos mais necessitados e testemunhando uma vida evangelicamente pobre.
Concluindo desejo expressar a minha vizinhança à Igreja de Chachapoyas que o teve por 36 anos como pastor, à Família Salesiana do Peru que o venera como primeiro salesiano do país. Além disso desejo entregar mais uma vez a nossa Família Salesiana à proteção materna de Maria Auxiliadora, da Qual o Vem. Dom Octavio Ortiz Arrieta foi filho devotado. Convido-os a conhecer-lhe o testemunho e a pedir, por sua intercessão, a graça do milagre que abra o caminho à Beatificação.
P. Ángel Fernández A.,SDB
Reitor-Mor