4.4. Uma atenção especial aos jovens mais pobres e em situação de risco como característica de
toda presença e obra salesiana
Reconheço com alegria que cresceram a sensibilidade e a preocupação, a reflexão e o trabalho pelo
mundo da marginalização e da insatisfação juvenil. Essa realidade não representa mais um setor
particular, identificado com alguma obra especial ou animado apenas por algum irmão particularmente
motivado. A atenção aos últimos, aos mais pobres, aos mais atribular vai se tornando uma "sensibilidade
institucional" que, aos poucos, envolve muitas obras das Inspetorias.
Ainda existe, entretanto, certa resistência a requalificar a mentalidade e a metodologia educativa, para
que todas as nossas presenças estejam realmente a serviço dos jovens mais carentes.50 Fiéis às
orientações do CG26, devemos continuar essa caminhada e concentrar os nossos esforços no
desenvolvimento de alguns processos que envolvem o conjunto da nossa pastoral juvenil:
1.º. A atenção aos jovens em situação de risco como característica e empenho de todas as presenças
salesianas e de todos os projetos educativos. Não basta ter na Inspetoria algumas obras ou serviços
explicitamente dedicados aos jovens mais pobres; é preciso que a abertura e a atenção às situações
de pobreza, exclusão e marginalização sejam assumidas por todas as presenças, até ser uma
característica da sua significatividade. É importante que toda comunidade educativa individualize os
elementos do ambiente, da dinâmica e da metodologia da obra, ou determinados critérios de
avaliação mais ou menos explícitos, que, de fato, produzem seleção e exclusão, e se empenhe por
transformá-los; que toda comunidade educativa favoreça a presença, a participação e o
protagonismo dos jovens mais carentes e em situação de risco nas atividades, nos grupos, nas
responsabilidades...; e individualize com atenção especial os elementos da pedagogia salesiana mais
adequados a esses jovens e se empenhe em pô-los em prática.
2.º. Mirar à transformação da mentalidade e das tendências culturais não só para responder às
expectativas imediatas, promovendo a cultura da solidariedade segundo o critério de "dar mais a
quem recebeu menos". A pobreza e a marginalização em nossas sociedades não são apenas
fenômenos econômicos ou sociais, mas também são, e creio que sobretudo, fenômenos culturais; há
um modo individualista, competitivo, hedonista e consumista de conceber a vida que gera exclusão
dos mais fracos; não se pode contentar-se, portanto, em ajudar os mais pobres a superar as suas
situações de marginalização, mas a nossa intervenção deve mirar à transformação da sua
mentalidade e da mentalidade do conjunto da sociedade. Neste sentido, cada comunidade educativo-
pastoral deve estar muito atenta aos valores e estilos de vida que promove com a sua ação educativa
de todos os dias.
3.º. Desenvolver com atenção particular a dimensão religiosa da pessoa, considerada como fator
fundamental de humanização e de prevenção. Na visão antropológica do Sistema Preventivo de Dom
Bosco, a dimensão religiosa é um elemento fundamental da pessoa e da sociedade; por isso, o seu
desenvolvimento, até o anúncio de Jesus Cristo, é uma exigência indispensável da proposta
educativa salesiana. Cremos que nessa relação pessoal com Deus, através dos caminhos
misteriosos do Espírito que age no coração de cada pessoa e de modo especial dos mais pobres e
carentes, encontrem-se energias insuspeitadas para a construção da personalidade e para o seu
crescimento integral,51 e cremos que é um elemento importante para dar esperança aos jovens que
sofrem de modo especial as consequências dramáticas da pobreza e da exclusão social.
Portanto, toda comunidade educativa deve propor, no projeto educativo-pastoral para esses jovens,
experiências e itinerários que despertem neles a dimensão religiosa da vida e os ajudem a descobrir
Jesus como Salvador.52 Esta proposta de evangelização deve inserir-se plenamente no processo
educativo de prevenção e de recuperação e articular-se em itinerários simples, muito aderentes à
vida cotidiana e segundo a lógica das pequenas sementes.
O testemunho dos educadores e da comunidade educativa, o ambiente de alegria, de acolhida e de
família, a defesa e a promoção da dignidade pessoal, constituem o primeiro anúncio e a primeira
realização da salvação de Cristo e a oferta de libertação e de plenitude de vida.
50 CG26, "Pobreza evangélica". Cf. n. 82. "Novas fronteiras", cf. n. 101.
51 J. E. VECCHI, "Teve compaixão deles". ACG 359, pag. 33.
52 CG26, "Novas fronteiras". Linha de ação 15. Cf. nn. 105-107.
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