ACG 361-vecchi-Por-vos-estudo


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«Por vós estudo...» (C 14)
A preparação adequada dos irmãos
e a qualidade do nosso trabalho educativo
P. Juan Edmundo Vecchi
Atos do Conselho Geral n. 361
1. Um tema que retorna. 2. «Por vós estudo»: elemento indispensável à missão juvenil. - 3. Porque
uma nova insistência hoje. 3.1. Uma vida consagrada inculturada e profética. 3.2. A nova evangeliza -
ção. 3.3. A significatividade da missão educativa. 3.4. O papel dos salesianos nas comunidades edu -
cativas e pastorais. 3.5. A expansão da demanda de pessoal qualificado. - 4. Prioridade à qualificação
dos irmãos. - 5. O principal investimento hoje. - 6. Algumas opções para investir na qualidade. 7. As
pessoas. 7.1. Uma palavra a cada irmão: “Attende tibi”, 7.2. Um apelo às comunidades: cuidar da
qualidade da vida e do trabalho. 7.3. Um apelo às Inspetorias: criar um plano de qualificação dos
irmãos. 7.4. Ponto de partida: a dimensão cultural na formação inicial. - 8. As estruturas. 8.1. A uni -
versidade Pontifícia Salesiana. 8.2. Outras Universidades salesianas. 8.3. Centros de estudo e de re-
flexão. - 9. Conclusão.
Roma, 15 de setembro de 1997
Memória de Nossa Senhora das Dores
Queridos Irmãos,
vivemos em agosto passado a XII Jornada Mundial da Juventude, realizada em Paris,
com uma imponente participação juvenil. Impressionou-nos a sede de Evangelho que
os jovens têm, a atenção que prestaram ao Santo Padre e a todos os que lhes ofere-
ceram um sentido e uma orientação para a vida na comunicação da Palavra de Deus.
Fez-nos pensar no desejo que eles têm de escutar as testemunhas da fé e o seu entusi-
asmo diante da pessoa de Jesus, apresentado realisticamente como “Caminho, Ver-
dade e Vida”.
A essa imagem, sobrepõe-se em mim a que trago de Cuba, onde estive ultimamente
em visita aos nossos irmãos. Vi uma Igreja «sem as possibilidades, hoje comuns, de
comunicar-se com o povo, pobre no que se refere ao número de sacerdotes, mas rica
de experiências de amor, de serviço, de paciência, de humildade e de perseverança».1
Nela trabalham os nossos irmãos e irmãs, na serena espera dos próximos desenvolvi-
mentos que se anunciam grávidos de oportunidades.
As duas imagens sugeriram-me apresentar-lhes por extenso um tema já meditado
no Conselho Geral e relacionado à programação do sexênio: a nossa preparação para
1 Homilia do Card. Jaime Ortega Alamino, Arcebispo de La Habana, na festividade dos Santos Pedro e
Paulo (de uma cópia datilografada)
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os compromissos que se vão perfilando em todas as partes na nova evangelização dos
jovens.
1. Um tema que retorna
Reafirma-se em nós, sempre que nos confrontamos com a nossa missão, a con-
vicção da sua validade, emergindo ao mesmo tempo, a consciência de que devemos
tornar-nos mais idôneos para realizá-la conforme todas as nossas possibilidades. As
frentes fazem-se sempre mais numerosas, multiplicam-se os pedidos, as urgências tor-
nam-se imperiosas. Gostaríamos de ser mais numerosos para atingir um maior número
de jovens; gostaríamos de estar mais preparados para oferecer-lhes, nas diversas con-
dições em que se encontram, a orientação e o apoio de que precisam.
Foi também essa a experiência que fiz no primeiro ano e meio de serviço como Re-
itor-Mor. O contato com as Inspetorias nas diversas partes do mundo fez-me tocar com
as mãos a vastidão do campo juvenil, a premência das expectativas, a resposta pronta
dos jovens aos nossos esforços, a atualidade do nosso carisma para a sociedade e para
a Igreja.
Admirei a obra incansável das comunidades, muitas vezes numericamente inad-
equadas, em contextos de avançada fronteira social, educativa e pastoral, ocupadas
em atender à missão com projetos corajosos e em animar inúmeras colaborações.
A messe é grande! Maior do que a desproporção quantitativa entre trabalho e
braços, impressionam os desafios apresentados pela situação atual: propor um sentido
de vida, educar a consciência, acompanhar os jovens no caminho da fé, construir
amplas solidariedades, lançar-se com eficácia nas pobrezas, exprimir com proximidade
o Evangelho, fazer com que a Palavra encontre a vida em seus interrogativos e possibil-
idades.
Percebemos que não basta ser mais numerosos ou dispor de meios mais poderosos
para incidir mais; é preciso, sobretudo, ser mais discípulos de Cristo, entrar mais pro-
fundamente no Evangelho, qualificar a vida das comunidades, centrar melhor, do ponto
de vista pastoral, os projetos e intervenções. Com uma palavra que pode parecer “sec-
ular”, trata-se do problema da qualidade; em linguagem evangélica, é a genuinidade e
a força transformadora do fermento.
A qualidade emerge como exigência em todos os setores da vida, da cultura e da
ação. Fala-se dela em termos de “excelência” a perseguir, de “competência” a cultivar,
de “qualidade total” a realizar.
A boa vontade e a disponibilidade generosa são indispensáveis, mas não suficientes,
se com elas não se fazem acompanhar os conhecimentos e as técnicas próprias de um
campo de ação, a compreensão dos fenômenos culturais que hoje marcam a vida e,
para nós, a capacidade de confrontar esses fenômenos com o mistério de Cristo con-
tinuamente aprofundado.
O problema não se refere só aos Salesianos. É uma situação comum a quem, sem
desanimar, deseja viver a atual passagem cultural em que, para ser educadores,
pastores ou simples cristãos, deve-se discernir e optar. Algumas expressões já famili-
ares, como pluralismo, sociedade eticamente neutra, secularização, direito à diferença,
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liberdade de pensamento e expressão, cultura multimidial, subjetividade, no-lo recor-
dam quase no mesmo ritmo veloz da publicidade.
Trata-se do mesmo desafio que está à base da nova evangelização: a capacidade de
viver conscientemente a fé cristã, de testemunhá-la com alegria e também de tomar a
palavra nos areópagos modernos e anunciar Jesus Cristo com toda a sua riqueza.
O nosso CG24 sentiu-o como um impulso. Da análise da situação da Congregação,
resultou que viver, hoje, com maturidade serena o projeto de vida consagrada
salesiana e enfrentar adequadamente as tarefas da nossa missão exige de cada irmão
uma maior robustez espiritual,2 um salto de qualidade no que se refere à preparação
geral e específica de educador-pastor,3 novas competências culturais, profissionais e
pastorais.4
Fazendo meu esse filão capitular, insisti no discurso final sobre a prioridade de uma
formação que esteja particularmente atenta à dimensão cultural como parte irrenun-
ciável da competência educativa e da espiritualidade do pastor.
Colocamo-lo na programação do sexênio como um dos pontos centrais para os quais
devem convergir todos os setores. Pareceu-nos importante manter vivos em cada
irmão o propósito e a tensão pelo crescimento na própria vocação, estimular as
comunidades a criarem um ambiente que favoreça o amadurecimento de cada um,
pedir às Inspetorias que apostem na preparação do pessoal e na qualidade dos projetos
educativo-pastorais.
O meu discurso retoma agora o que vinha sendo recomendado sobre a formação
permanente completa; mas, particularmente, quer insistir na necessidade de recuperar
o amor ao trabalho cultural e a consequente capacidade de estudo.
É claro que para nós, como afirma o CG23, renovação espiritual, tensão pastoral,
preparação cultural e competência educativa não podem estar separados entre si, de-
vendo o Salesiano inserir-se no contexto juvenil com capacidade de diálogo e de pro-
posta.5 Juntos, eles nos mostram o perfil da nossa santidade e constituem o nosso cam-
inho para ela. Isso quer dizer que a urgência da qualificação legítima e necessária não
deve ser confundida com a exagerada busca de eficiência.6 A nossa esperança está
sempre na graça que o Pai efunde com abundância nos corações, na Cruz que é sinal e
caminho de salvação e na Palavra que ilumina. O não deixar ociosos os talentos rece-
bidos, porém, faz parte da resposta generosa à vocação, como indivíduos e como Con-
gregação.
2. “Por vós estudo”: elemento indispensável à missão juvenil
A Exortação Apostólica Vita Consecrata recomenda a todos os religiosos, como parte
integrante da experiência de vida no Espírito e condição da eficácia apostólica, um ren-
ovado amor pelo empenho cultural e dedicação ao estudo. Trata-se de aplicar a totalid-
2 Cf. CG24, 239
3 Cf. CG24, 242
4 Cf. CG24, 242-243; VC 98
5 Cf. CG23, 225
6 Cf. VC 38
3

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ade do ser e acolher o mistério de Deus e de ler, com inteligência e objetividade, à luz
da fé, os seus sinais na natureza e a sua presença na história humana.
O texto foi muito citado, mas convém ouvi-lo de novo: «Para além do serviço
prestado aos outros, também no interior da vida consagrada há necessidade de um
renovado amor pelo empenho cultural, de dedicação ao estudo como meio para a
formação integral e como percurso ascético, extraordinariamente atual, frente à diver-
sidade das culturas. A diminuição do empenho pelo estudo pode ter pesadas con-
sequências mesmo no apostolado, gerando um sentido de marginalização e de inferior-
idade ou favorecendo superficialidade e imprudência nas iniciativas».7
A recomendação não faz outra coisa que retomar a tradição dos Institutos de vida
consagrada, cujas comunidades sempre se constituíram como proposta de vida espir-
itual, humanamente cheia de significado, e também como lugares de educação e cul-
tura segundo os próprios carismas. A experiência de Deus foi sempre pensada como
sabedoria que ilumina a vida de cada um e da humanidade, não só com o exemplo
moral, mas também com um olhar sobre o mundo, um pensamento e uma palavra
ainda que simples.
Pode parecer a alguém que o tema não se espose facilmente com a operosidade in-
cansável e a prontidão de iniciativa que caracterizam o nosso espírito; tema um tanto
novo em relação a certa imagem de Salesiano e de comunidade sempre disponíveis,
constantemente às voltas com novos projetos. Trata-se, entretanto, de um traço carac-
terístico da figura de Dom Bosco, que impulsionado pelo Da mihi animas oferece a vida
no serviço aos jovens, à Igreja, à sociedade, mas demonstra-se atento à situação ju-
venil, social e eclesial do seu tempo, aberto a horizontes sempre mais amplos, capaz de
perceber o peso dos fenômenos que influem na vida individual e coletiva (imprensa,
emigração, novas leis, difusão da cultura, ressurgimento e unificação da Itália, etc.).
Há um artigo, no capítulo constitucional sobre o espírito salesiano, que caracteriza o
tipo da nossa caridade pastoral. «Nossa vocação - diz - é marcada por um dom especial
de Deus, a predição pelos jovens... Pelo bem deles oferecemos generosamente tempo,
dotes pessoais e saúde»8. A afirmação é logo iluminada com uma expressão de Dom
Bosco: «Por vós estudo, por vós trabalho, por vós eu vivo, por vós estou disposto até a
dar a vida».9
O crescendo dos verbos e das ações acentua a totalidade da vida colocada à dis-
posição dos jovens. É evidente, porém, que o estudo não caiu por acaso na sucessão de
expressões. Uma série de elementos biográficos de nosso Pai leva-nos a dar um valor
específico ao estudo: o relevo que o amor ao estudo teve em sua formação coroada
com os três anos do Colégio Eclesiástico após a ordenação sacerdotal para um conheci-
mento mais atualizado da moral e da direção das almas; o espaço que o estudo tem em
seu programa educativo, estando sempre presente em suas formulações sintéticas
(“santidade, estudo, piedade”); a sua idéia de educador e de sacerdote, que sempre
une à amabilidade, a capacidade de iluminar, ensinar e guiar; os frequentes acenos à
sabedoria em suas máximas e ainda o papel iluminante atribuído à fé e à razão.
Dita num contexto de cordialidade e afeto pelos seus jovens, num “intercâmbio de
dons”, a expressão refere-se a alguns de seus gostos e atitudes que, sem serem morti-
7 VC 98
8 Const. 14
9 Ib.
4

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ficados, convergem na experiência central de sua vida: viver totalmente para os jovens.
O estudo, que não deve ser reduzido só “aos estudos”, é, para Dom Bosco, parte indis-
pensável da nossa dedicação aos jovens, da nossa preocupação paterna para entendê-
los e comunicar-lhes a fé, os conhecimentos e as experiências de vida.
Alguns fatos revelam o conteúdo real que a expressão teve em sua vida.
Pensemos em sua capacidade de contemplar a realidade, a juvenil em primeiro
lugar, mas também as vicissitudes da Igreja e a situação do País, sem perturbar-se nem
se deixar condicionar, atento à avaliação de conjunto com chaves educativas e pasto-
rais de leitura próprias de sua vocação. Pensemos em sua audácia em buscar respostas
adequadas aos problemas; deixar mensagens compreensíveis, servindo-se de todos os
meios à sua disposição; empenhar-se na difusão da história sagrada, da história itali-
ana, da verdade cristã e de uma forma de literatura popular, impondo-se o trabalho de
pesquisar, ordenar e redigir.
“Por vós estudo”, refere-se ao esforço paciente da elaboração de um “sistema edu-
cativo original”, com materiais de sempre, intuições próprias, contribuições de contem-
porâneos e sínteses originais. Faz pensar também na ativação de um “projeto de
obras” correspondente aos tempos. Ele acompanha o funcionamento delas e traça com
inteligência e solidez orientações e normas, atento ao estilo que nelas queria inserir e à
consecução dos fins. Demonstra-se capaz de compartilhar, de confrontar-se, de entrar
em diálogo com pessoas das mais diversas experiências e competências, com protag-
onistas do pensamento, da política, da vida social.
A formulação pensada de uma experiência vivida no Espírito, com caminhos espir-
ituais para jovens e adultos, apresentada à viva voz e colocada por escrito, também
comportou a aplicação da mente expressa no “por vós estudo”. Era um aprender da
vida, um refletir sobre a experiência educativa, um caminhar aberto à revisão, sem con-
tentar-se com aquilo que sempre fez, nem cair na repetição. Era o desejo e a aquisição
paciente da “sabedoria” (“Sapientiam dedit illi...”), indicada no primeiro sonho como
característica de sua vida, que se aprende na escola do Bom Pastor e de Maria Mestra,
na disponibilidade ao Espírito, na sintonia com a Igreja; e exprime-se no discernimento
dos acontecimentos, na avaliação das experiências espirituais diante de Deus, na com-
preensão das situações e no serviço de orientação e guia dos outros.
“Por vós estudo”, faz-nos pensar também num Dom Bosco capaz de buscar tempos
e lugares que favoreçam a solidão ativa, o recolhimento e o projeto. São os seus tem-
pos de oração, os exercícios espirituais anuais, algumas pausas que lhe permitem maior
concentração, mas também o seu trabalho de escritório de onde provém a abundante
correspondência, as concepções de novos projetos e a produção de escritos, tudo mais
que insignificante.
Caridade e competência, estudo e trabalho, ação e reflexão fundem-se pela graça de
unidade para “o bem” dos jovens.10 Trata-se de uma integração não fácil, ameaçada
muitas vezes pela esquizofrenia na práxis ou na mentalidade a que se expõe quem
caminha com um estilo de vida e de trabalho em que “não há tempo” para a reflexão
ou para o confronto; ele corre o risco de apartar-se da finalidade pastoral, acabando
por ter como linha de princípio que não cabe ao Salesiano uma atividade ordenada de
estudo e aprofundamento.
10 Cf. Const. 14
5

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Diria, portanto, que assim como o nosso trabalho sem oração arrisca-se a não ser
missão (“trabalho e oração”), também o nosso agir sem “estudo”, sem sabedoria e
competência, dificilmente atingirá as metas estabelecidas para o serviço educativo pas-
toral.
«O estudo e a piedade farão de ti um verdadeiro Salesiano», escrevia Dom Bosco a
um irmão. A frase foi colocada no início do Motu Próprio Magisterium Vitae, com que o
Papa Paulo VI em 1973, conferiu o título de Universidade Pontifícia ao Pontifício Ateneu
Salesiano,11 quase a repetir no mais alto nível: “Cultura e espiritualidade farão de ti um
autêntico e competente educador-pastor dos jovens”. Ambas são, de fato, necessárias
para traduzir a caridade pastoral salesiana em experiência de vida e em projetos de
missão. Não é, pois, um aspecto marginal, que toca apenas alguns momentos da nossa
vida ou interessa a quem está empenhado em algumas fronteiras particulares da mis-
são. Pode assumir formas e expressões diversas, segundo as aptidões e dons pessoais,
mas será sempre uma das condições para encarnar o amor pelos jovens, que dá signi-
ficado a toda a nossa existência.
3. Porque uma nova insistência hoje
Surge, quase espontânea, a pergunta sobre os motivos que levam a retomar esta in-
sistência após os esforços dos anos anteriores e uma avaliação, apesar de tudo, posit-
iva de nossos caminhos formativos.
A revisão feita pelo CG24 levou à constatação de que «a participação dos leigos no
espírito e na missão salesiana constitui para as comunidades SDB um desafio ao qual se
dará resposta mediante uma formação adequada às novas exigências».12 Quando em
seguida motiva-se a conclusão, em relação ao momento que vivemos, afirma-se: «A
formação visa tornar as pessoas capazes de viver hoje a experiência da própria vida
com maturidade e alegria, de cumprir a missão educativa com competência profis-
sional, de tornar-se educadores-pastores, de ser solidariamente animadores de nu-
merosas forças apostólicas».13
É evidente, portanto, que o novo nível de formação não é motivado por limites ou
ausências, mas pelo atual significado da nossa presença de consagrados na sociedade,
pelo modo como está se configurando a missão educativa e pastoral e pelos serviços
que nos são pedidos nas comunidades educativas.
Detenhamo-nos em comentar brevemente cada um desses motivos.
Uma vida consagrada inculturada e profética
Percebia-se, nas respostas recebidas durante a preparação do Sínodo que, para mui-
tos «a vida consagrada é apreciada pela sua ação, mas com frequência ela não é enten-
dida no seu ser; muitas vezes ela é louvada pelo seu empenho no mundo, mas em de-
terminados ambientes, como facilmente acontece através dos meios de comunicação,
11 Cf. ACS 272, p. 72-75
12 CG24, 138
13 Ib.
6

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a sua imagem é deformada, a ponto de torná-la, aos olhos da gente, uma realidade
sem sentido».14
Lá onde a secularização penetrou na vida pública e privada, não está tanto em
questão a sua utilidade, sobretudo em certas áreas de serviço (somos apreciados como
educadores!), quanto o seu significado, a legibilidade do testemunho que dá de Deus, a
capacidade de comunicar a mensagem que entende passar.
De outro lado, «o estilo de vida evangélico é uma fonte importante para a proposta
de um novo modelo cultural. Quantos fundadores e fundadoras, tendo individualizado
algumas exigências do seu tempo, procuraram, com todas as limitações por eles mes-
mos reconhecidas, dar-lhes remédio com uma resposta que se tornou proposta cultural
inovadora... O modo de pensar e agir de quem segue Cristo mais de perto dá origem a
uma verdadeira e própria cultura de referência».15
Estar consciente e testemunhar o valor e o sentido da presença de Deus na vida,
num contexto cultural que não vai além do horizonte temporal e privilegia a funcional-
idade e a utilidade imediata, implica uma profunda compreensão da própria identidade
consagrada e do seu valor educativo, assim como uma renovada capacidade de inserir-
se no ambiente como profecia e fermento.
Contudo, justamente por isso, precisamos estar conscientes, pessoal e comunitaria-
mente, através do discernimento, da criatividade e da coerência como, quando e onde
aplicar alguns critérios que levem a uma expressão eficaz da opção feita: tomar do am-
biente o que for legítimo, introduzir nele a novidade que vem de Cristo, dar ou tornar a
dar significado àquilo que ainda é ambíguo, contestar o que conjura contra a pessoa.
A vida consagrada não pode deixar-se esmagar pela mentalidade “corrente”. Ela ex-
ige vigilância de espírito e de mente em primeiro lugar, e capacidade de interagir e re-
agir, de propor e desafiar.
A nova evangelização
A “nova evangelização” é a grande tarefa a que desejamos responder e a exigência
que nos envolve nesta vigília de final de milênio. Num momento de transformações
epocais em que se vão elaborando novas concepções de vida, frequentemente sem
referência a Deus e ao Evangelho, a Igreja quer renovar o encontro entre cultura e
Evangelho, despertar o sentido da fé na existência e exprimir o valor da presença cristã
na realidade social.
Quem quiser empenhar-se na nova evangelização deve tornar-se capaz de um con-
fronto aberto, inteligente e de propostas em relação aos novos fenômenos, entender
as tendências culturais, tentar o anúncio no coração da vida, interpretar as novas lin-
guagens e códigos de significado.
A perspectiva da nova evangelização apresenta um desafio radical ao ser cristão, um
interrogativo sobre a identidade de crentes, e leva a um diálogo convicto com os de-
mais em clima de liberdade. De outro lado, a nossa mesma fé e as razões da nossa es-
perança precisam ser novamente compreendidas e vividas com fundamento e trans-
14 Instrumentum laboris, 15
15 VC 80
7

1.8 Page 8

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parência. Jesus Cristo, ontem, hoje e sempre é uma confissão de fé, não um slogan; tem
a ver com a salvação de cada um, para que tenha a vida em abundância, e com a sal -
vação do mundo, que se vai construindo, para que os seus projetos não o levem à
autodestruição.
O esforço de abordagem e compreensão do mundo recopia o caminho da en-
carnação e inspira-se no mesmo amor que orientava o agir de Cristo.
A significatividade da missão educativa
Sentimos de maneira premente a exigência de melhores níveis formativos na área
preferida da nossa missão: a educação. Devemos, de fato, enfrentar a complexidade e
multiplicidade em que os jovens se encontram imersos e os problemas que o ambiente
coloca ao crescimento humano e à fé, sabendo ao mesmo tempo fazer frutificar as suas
inúmeras possibilidades.
A nossa função educativa exige, por isso, uma abordagem reflexa da cultura que
permita atualizar conteúdos e metodologias para ir ao encontro das questões de sen-
tido e de vida dos jovens.16
De outra parte, competências adequadas e reconhecidas são hoje exigidas também
pela diversificação e complexidade das intervenções educativas, que comportam con-
hecimentos mais completos e práticas mais consolidadas.17 Uma fraca qualidade profis-
sional empobrece a proposta educativa, diminui a incidência do nosso trabalho e,
agravando-se, poderia tirar-nos fora do campo da educação. Advertimos esse risco
sobretudo em alguns âmbitos onde as novidades aparecem mais evidentes, como a
comunicação social, o mundo universitário, as áreas da “insatisfação juvenil”.
Sente-se, também, a urgência nos novos contextos, em que vamos nos inserindo
com espírito e critério missionário e que poderiam parecer mais simples do ponto de
vista educativo, de criar programas adequados à situação e inculturar a nossa metodo-
logia pedagógica, superando a simples transposição de conteúdos e métodos pensados
para outras áreas. Inculturação e qualidade empenham as comunidades educativas loc-
ais, os organismos inspetoriais, os Centros de reflexão e estudo. O aumento de com-
petência parece indispensável em todas as frentes.18
Embora sabendo que, às vezes, devemos responder às urgências com realismo, e
que sempre estejamos dispostos a fazê-lo, deve-se afirmar que as nossas possibilidades
futuras no campo educativo serão jogadas na qualidade.19 Por isso, se é verdade que às
vezes “o ótimo pode ser inimigo do bom” (“melhor um pouco do que nada”), é também
verdade que não nos podemos expor a uma forma geral de pastoral e educação que
corra o risco de desqualificar-se e não atingir as finalidades do nosso serviço.20
Isso vale também na área mais estritamente pastoral. Ela comporta um controle
maior dos conhecimentos específicos, adquiridos de forma suficiente, revisitados e
ampliados continuamente, e uma realização mais profissional dos compromissos minis-
16 Cf. Relação ao CG24 sobre o estado da Congregação, 263
17 Ib.
18 Ib.
19 Ib.
20 Cf. Relação ao CG24 sobre o estado da Congregação, 267
8

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teriais. Dirigir consciências, animar cristãmente comunidades, oferecer a Palavra de
Deus conforme o que ela diz e as situações humanas que se vivem, iluminar as inter-
rogações éticas, propor o Evangelho, formar à oração e à celebração, orientar à exper-
iência de Deus são coisas que exigem fervor e alma, mas também sabedoria adquirida
através da reflexão e do estudo.
Acrescentem-se ainda as novas dimensões da pastoral, que se tornaram pratica-
mente universais: ecumenismo, diálogo inter-religioso e com os não crentes, uso da
comunicação social que se torna púlpito à mão da maioria, participação no debate
público sobre tantas questões.
A pastoral compreende não só a organização e a ação imediata, como também a re-
flexão sobre as opções a fazer como comunidade cristã e as orientações a serem sug-
eridas a cada um na complexidade da vida e, portanto, a capacidade de discernimento,
de iluminação, de anúncio.
Parece, pois, indispensável uma formação cultural e profissional sólida, como com-
ponente da espiritualidade. O Sínodo sobre a formação sacerdotal insistiu com vigor
nesse ponto, além daquilo que foi apresentado acima sobre a vida consagrada.21 É o
caso de ouvir de novo alguma expressão da Pastores dabo vobis, porque nos assegura
que estamos realmente na onda da Igreja. «Se já cada cristão - escrevem os Padres
sinodais - deve estar pronto a defender a fé e a “dar a razão da esperança que vive em
nós” (cf. 1Pd 3, 15), com muito maior razão os candidatos ao sacerdócio e os pres-
bíteros devem manifestar um diligente cuidado pelo valor da formação intelectual na
educação e na atividade pastoral, dado que, para a salvação dos irmãos e irmãs, devem
procurar um conhecimento cada vez mais profundo dos mistérios divinos. Além disso, a
situação atual, profundamente marcada pela indiferença religiosa e ao mesmo tempo
por uma difusa desconfiança relativamente às reais capacidades da razão para atingir a
verdade objetiva e universal, e pelos problemas e questões inéditos provocados pelas
descobertas científicas e tecnológicas, exige prementemente um nível excelente de
formação intelectual, que torne os sacerdotes capazes de anunciar, exatamente num
tal contexto, o imutável Evangelho de Cristo, e torná-lo digno de credibilidade diante
das legítimas exigências da razão humana».22
O papel dos Salesianos nas comunidades educativas e pastorais
O CG24 sanciona oficialmente a mudança de modelo na forma de agir dos
Salesianos: da responsabilidade exclusiva da comunidade religiosa à de uma comunid-
ade eclesial corresponsável, onde intervêm consagrados e seculares, presbíteros e lei-
gos, católicos e membros de outras confissões, crentes conscientes e outros em cam-
inho, cristãos e não. Se esse modelo podia ser pensado antes como opcional ou altern-
ativo, hoje está claro que ele constitui a nossa forma normal de presença e de ação.
Devemos aprender a fazê-lo funcionar segundo o que foi enunciado ou quem sabe son-
hado.
Exigências de qualificação provêm, então, do papel a que são destinados os
Salesianos nesse novo modelo operativo: o de orientadores pastorais, primeiros re-
21 Cf. Relação ao CG24 sobre o estado da Congregação, 292; VC 98; ChL 58
22 PDV 51, que retoma a Propositio 26 dos Padres sinodais
9

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sponsáveis da identidade salesiana das iniciativas e das obras, animadores de outros
educadores (“núcleo que arrasta”), formadores de adultos corresponsáveis no trabalho
educativo; numa palavra, Salesianos capazes de levar avante uma missão ao lado de
leigos competentes.
Prevê-se um aumento de responsabilidade para todos. E não é difícil prognosticar
que a incidência do esforço de animação dependerá em grande parte da formação es-
piritual, da visão cultural e da preparação profissional dos Salesianos.
Eles não só deverão possuir um conhecimento maior, teórico e prático, dos prob-
lemas juvenis e da educação. Deverão desenvolver também a capacidade de interagir
com os adultos, além da simples amizade, quanto aos problemas de vida e de fé, de
comunicar e orientar, de propor com autoridade metas e itinerários educativos. Isso
exigirá ainda a vivência mais convicta do espírito salesiano, o conhecimento reflexo e
orgânico do Sistema Preventivo e uma maior consciência da própria identidade.23
Ser e permanecer capazes de animar um ambiente educativo amplo, de acompan-
har com outros educadores processos de amadurecimento e crescimento, de orientar
as pessoas, de interagir no contexto social comporta ter sempre atualizadas as com-
petências e reservar-se tempo para meditar novamente sobre propostas e métodos.
A aplicação dos irmãos e das comunidades a essa forma de autêntico serviço da Pa-
lavra vai-se alargando, mas ainda não foi assumida por todos. Ameaça em algum lugar
o risco de permanecermos muito emaranhados na predisposição de estruturas e na or-
ganização de meios, descuidando de repensar e aprofundar comunitariamente a
mensagem e traduzi-la em formas adequadas à compreensão dos destinatários.24 Em
algum caso resulta evidente a disparidade entre equipamentos e projeção cultural,
entre instrumentos e incidência evangelizadora, entre edifícios e propostas educativas;
a preocupação pela preparação cultural e profissional do pessoal religioso e leigo
parece não ter prioridade25 e as finalidades do conjunto ficam como que anuladas pelo
peso das mediações. E será, talvez, a falta de competência no trabalho de animação e
de orientação a causa dessa disparidade.
A expansão da demanda de pessoal qualificado
Enquanto os assim chamados campos tradicionais (oratórios, escolas, paróquias...)
exigem capacidade de pensamento e reflexão, além de espírito empreendedor inteli-
gente, por causa da mudança cultural e da complexidade das questões que cada
pessoa e comunidade deve enfrentar, vemos que para o crescimento de algumas
presenças alarga-se a exigência regular de pessoal preparado. Quando examinamos os
pedidos e as disponibilidades vemo-nos em déficit, já em nível de simples números,
sem considerar ainda outros elementos que limitarão o serviço das pessoas como id-
ade, saúde, compromissos aos quais não podem renunciar.
Pensemos nos centros de estudos teológicos, onde qualquer economia indevida terá
o seu contragolpe no futuro, ou nos centros de estudos do pós-noviciado com exigên-
cias idênticas. Coloquemos no mesmo nível as comunidades formadoras, sempre ne-
23 Cf. Relação ao CG24 sobre o estado da Congregação, 293
24 Cf. Relação ao CG24 sobre o estado da Congregação, 266
25 Cf. Relação ao CG24 sobre o estado da Congregação, 269. 259. 261
10

2 Pages 11-20

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2.1 Page 11

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cessitadas de especialistas em processos vocacionais, formação salesiana e espiritualid-
ade.
Acrescento numa lista rápida as já numerosas instituições universitárias, os centros
editoriais nos quais não basta administrar a estrutura se não se dispuser de pessoas
capazes de elaborar linhas culturais, os vários Institutos criados nos últimos anos como
resposta a solicitações e necessidades da Congregação, as contribuições de competên-
cia que nos são requeridas por diversas instâncias, em consideração à experiência ad-
quirida e a reconhecida capacidade de inserção popular.
4. Prioridade à qualificação dos irmãos
Eu concluía com as seguintes afirmações a parte dedicada à “Preparação dos
irmãos”, na Relação sobre o Estado da Congregação: «O estado de nossos recursos, a
dimensão de nossos compromissos e o crescimento do mundo pedem-nos em todos os
lugares um passo à frente na preparação cultural e na robustez dos irmãos e das
comunidades. A perspectiva é, pois, de consolidar..., dar-se um tempo extraordinário
para requalificar o pessoal, particularmente o pessoal dirigente, orientar para especial-
izações o maior número possível de irmãos, melhorar, de acordo com a experiência
feita, a práxis da formação inicial».26
Era uma avaliação que eu sentia trabalhosa, suscetível de interpretações nem
sempre compreendidas, mas amadurecida sofridamente na oração. Surgia, de fato,
como uma orientação de consequências fundamentais para o sexênio.
Hoje estou convencido de que devemos apostar nesse investimento prioritário e
traduzi-lo em alguns esforços concretos, assumindo também as suas consequências
aparentemente limitadoras. Impõe-se uma opção consciente da Congregação e das In-
spetorias, que torne possível um salto de qualidade na forma de vida de cada irmão, na
mentalidade e na práxis das comunidades e, como conseqüência, uma forma de ori-
entar os objetivos inspetoriais. Não se trata de um leve retoque, mas de algo mais rad-
ical, embora não totalmente novo porque em muitas partes já se adentrou por esse
caminho.
Sei que não é fácil viver em nível pessoal e traduzir em ação de governo o equilíbrio
salesiano entre o «por vós estudo» e o «por vós trabalho», entre caridade e busca de
qualidade pedagógica e pastoral. As urgências da missão, a escassez de pessoal, as
novas oportunidades oferecidas a nós, o multiplicar-se de projetos, elementos con-
stantes na experiência salesiana e fruto positivo do Da mihi animas, levam-nos à audá-
cia. E isso não deverá deixar de existir. Cuide-se, porém, que o trabalho não leve ao es-
gotamento, à repetitividade, à estagnação cultural, à dispersão mental, à improvisação.
Não é a primeira vez na história da nossa Congregação que se pensa em opções de-
cisivas para uma mudança de práxis, em vista de exigências sentidas e em previsão de
novas florescências, que parecem possíveis só em determinadas condições. Elas
acontecem em fases de desenvolvimento necessariamente veloz e, prevenindo o es-
gotamento, preparam outras igualmente fecundas.
26 Cf. Relação ao CG24 sobre o estado da Congregação, 294
11

2.2 Page 12

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Quero recordar três intervenções, feitas em momentos históricos diversos, mas que
no conjunto evidenciam a nossa mesma preocupação de hoje. As três estabelecem um
critério e uma linha de ação para garantir a preparação dos irmãos e a qualidade na
realização da missão educativa.
O Padre Rua, nos anos 1905-1906, propõe-se organizar e garantir a regularidade dos
estudos dos jovens irmãos. São muitas as frentes de trabalho; o pessoal, embora em
aumento, não é suficiente; os critérios do seu emprego nas obras remontam ao
Fundador, mas a expansão da Congregação, como também as exigências da Igreja, tor-
nam evidente a necessidade de uma mudança. Corre-se de fato o risco de sacrificar a
formação às urgências das obras, abreviando o curso filosófico e o teológico.
É necessário, escreve o Padre Rua, «que regularizemos sempre mais as nossas coisas
e que, para isso, coloquemos acima de qualquer aspiração, embora nobilíssima, a form-
ação intelectual e moral dos nossos clérigos». Na prática, continua o Padre Rua, total-
mente consciente das dificuldades que a opção causará, «propõe-se duas coisas:
1º Não propor ao Capítulo Superior, pelo menos por um quinquênio, a abertura de
novas casas ou fundações, nem a ampliação das já existentes. Não podemos: eis tudo.
2º Passar atentamente em revista cada uma de vossas Casas e, vendo se e quais po-
dem ser suprimidas para melhor regularizar as que ficarem na Inspetoria, fazer uma
proposta a respeito ao Capítulo Superior. A nossa preocupação não deve ser o seu
número, mas o seu funcionamento reto e regular».27 Ele retorna decididamente sobre a
norma dada em uma carta de 1906.
Em 1928, intervém o Padre Rinaldi. As vocações aumentam de modo consolador
(perto de 1.000 noviços); as obras salesianas, especialmente as missões, desenvolvem-
se num ritmo impressionante e se está constantemente diante de novos pedidos; os In-
spetores não dispõem de pessoal para tantas obras e não poucas vezes se sacrificam os
estudos, e com eles a formação dos jovens irmãos.
Diante da situação, consciente de que a missão não pode ser realizada sem a devida
preparação, o Padre Rinaldi escreve nos Atos do Capítulo Superior de setembro de
1928: «Decidi, por isso, com a total aprovação do Capítulo Superior, que, durante o
quadriênio 1929, 1930, 1931 e 1932, não se aceitem mais novas fundações nem de ca-
sas, nem de missões. A trégua, bem entendida pelos Inspetores e pelos Diretores, será
um bem para as Inspetorias; trará tranquilidade às Casas e tranquilidade a todos os
Irmãos; marcará um verdadeiro progresso para a nossa Sociedade, em vez de uma
parada danosa, porque servirá para cultivar melhor as vocações e preparar a Con-
gregação a desenvolver-se de modo mais sólido no futuro».28
Completo a referência à nossa história, trazendo algumas expressões escritas pelo
Padre Ricceri em 1966 na apresentação oficial dos documentos do CG XIX. Com-
preende-se facilmente o seu contexto. Apenas concluído o Concílio Vaticano Segundo,
estava-se nos inícios da descoberta de novos horizontes e exigências pastorais, determ-
inados pela estimulante visão da Igreja, da sua missão, da sua relação com o mundo.
«Relacionada a essa exigência formativa - escreve o Padre Ricceri - há uma outra não
menos importante, da qualificação de cada Irmão para as várias tarefas para as quais
27 Lettere circolari di don Rua ai Salesiani, p. 400-402: carta de 22.11.1905 in “Formazione intellettuale
e morale dei chierici”
28 ACS setembro de 1928, p. 693
12

2.3 Page 13

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será chamado pela obediência. A sociedade recusa-se a inserir hoje em suas estruturas
os genéricos, os homens sem especialização cultural, técnica, profissional... As pessoas,
a Igreja, primeira entre todos, tem-nos por autênticos especialistas de pedagogia e de
apostolado... Devemos o mais possível, responder a essa expectativa... Já não basta
certa prática... Cada manifestação de nossa atividade está reclamando gente quali-
ficada... Não se diz aqui para fazer coleção de títulos acadêmicos, de altas especializa-
ções, muito menos deseja-se encorajar uma corrida egoísta ou ambiciosa aos estudos
para satisfação própria, mas estéril para o apostolado; pede-se apenas uma preparação
verdadeiramente adequada para trabalhar com fruto em algum dos inumeráveis cam-
pos de ação aos quais a Providência nos chama. Entreveem-se logo quais e quantas
consequências provêm destas orientações para Superiores e Irmãos».29 «Será preciso
fazer mais - escreve alguns meses depois nos Atos do Conselho - para dar a todas as
atividades dos Salesianos a qualificação que não é um luxo, mas uma necessidade
sempre mais evidente, caso se deseje responder às exigências irrenunciáveis da nossa
missão».30
O período imediatamente anterior ao nosso, de outra parte, orientado pelo Padre
Egídio Viganò, sublinhou a mesma emergência e deu passos eficazes para resolvê-la
com a reorganização dos processos formativos, reformulados na Ratio, com a atualiza-
ção dos programas de estudo, de acordo com a evolução de quase todos os ramos da
teologia e do saber, com o início e a difusão da formação permanente e com a
fundação de novos Institutos correspondentes a competências atuais (pastoral, comu-
nicação social).
5. O principal investimento hoje
Os momentos históricos aos quais me referi são diversos entre si e do nosso. Não os
trouxe para moderar o impulso da missão ou a criatividade apostólica, e menos ainda
para tornar a propor materialmente as medidas então indicadas. Os nossos tempos
apelam mais à renovação e à organização da vida do que às pausas e às paradas.
As várias intervenções sublinham, porém, a necessidade de fazer algumas opções,
estabelecer algumas prioridades, enfrentando com visão de futuro a tensão perman-
ente entre as urgências e as exigências da missão, entre a generosidade e a qualidade
do serviço. Além disso, faz-nos ver que o crescimento da Congregação é algo contínuo
onde às vezes prevalece a expansão, outras vezes é necessário dar importância à con-
sistência e à consolidação que precisam de paixão e podem também provocar entusi-
asmo. Por último, ensinam-nos que devemos não só administrar bem os recursos her-
dados, mas que devemos estar atentos em os suscitar, multiplicar e desenvolver.
As situações são múltiplas na Congregação, também da perspectiva que estamos
considerando. Existem zonas em expansão e outras em redimensionamento, Inspetor-
ias com idade média inferior a 40 anos e outras com idade média superior aos 60 anos,
áreas pastorais complexas e outras mais simples, contextos educativos muito institu-
cionalizados e determinados a partir do exterior e outros em que podemos agir com
maior liberdade de iniciativa; Inspetorias consolidadas com comunidades formativas e
29 ACS 244, janeiro de 1966, p. 4-5
30 ACS 246, setembro de 1966, p. 13
13

2.4 Page 14

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equipes qualificadas, e outras que estão dando os primeiros passos em alguns desses
setores. Para todas, a valorização máxima dos recursos humanos é uma obrigação!
A missão salesiana, como notávamos acima, entrou, em todos os lugares, em fron-
teiras novas, geográficas ou culturais, e esse movimento não cessará num futuro imedi-
ato. Antes, a mundialidade, as urgências pastorais e a possibilidade de presenças influ-
entes em raio amplo ainda modificarão o nosso modo de agir. Uma sábia visão das
coisas leva a prover às necessidades locais, mas também a considerar a contribuição a
ser dada a algumas iniciativas que superam os horizontes inspetoriais e exprimem a
missão salesiana em nível regional, nacional e internacional.
Por isso tudo a qualificação das pessoas, a consolidação dos centros e das equipes, a
promoção de certa sensibilidade cultural na Inspetoria, não podem ser fruto de breves
períodos, limitar-se ao tempo de um sexênio ou fechar-se em cálculos restritos. É indis-
pensável uma ação continuada de governo e uma visão de clarividência. O Inspetor
que puser em ação um plano de qualificação do pessoal já sabe que não gozará de seus
frutos durante o seu período. Seria triste, porém, dispersar o “capital” de competências
acumulado com sacrifício porque não se valoriza o investimento feito anteriormente ou
não se lhe dá continuidade.
Durante a elaboração da programação para o sexênio o Conselho Geral perguntou-
se como organizar a ação na Congregação, que torne real o investimento prioritário
pela formação; como orientar um processo que recupere o valor da nossa consagração
religiosa na missão educativa e nos torne portadores de uma espiritualidade vivida e
comunicada; como habilitar-nos a oferecer uma proposta educativa que corresponda
em estilo e conteúdos ao Sistema Preventivo inculturado no hoje; como qualificar o
caminho de educação à fé e favorecer uma comunicação que torne eficaz o nosso an-
úncio em clima de nova evangelização.
Emergiu como critério fundamental a potenciação da “qualidade” do Salesiano, da
comunidade e da missão. É uma atenção que deverá ser assumida de forma conver-
gente pelos divers
os níveis de governo. Dela dependem em grande parte as relações entre SDB e lei-
gos, a significatividade da experiência religiosa, a incidência da comunidade SDB como
núcleo animador. Condensamos esse empenho na expressão “governar formando”.
Conscientes de que o governo compreende outros aspectos específicos que não devem
ser descuidados, consideramos o esforço da formação-qualificação dos irmãos e partic-
ularmente dos responsáveis nos diversos campos de ação um caminho privilegiado de
orientação e animação porque multiplica os resultados e cria unidade.
6. Algumas opções concretas para investir na qualidade.
Especifiquei no discurso conclusivo do CG24 a dimensão concreta do investimento
preferencial para a formação. «Investir quer dizer estabelecer e manter prioridades,
garantir condições, operar segundo um programa que coloque em primeiro lugar as
pessoas, as comunidades, a missão. Investir em tempo, em pessoal, em iniciativas, em
recursos econômicos para a formação é tarefa e interesse de todos».31
31 CG24, 248
14

2.5 Page 15

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Proponho-lhes agora alguns esforços a serem privilegiados. Refiro-me sucessiva-
mente à área das pessoas e a das estruturas (obras), partindo de algumas constatações
já comuns e compartilhadas.
A primeira: os irmãos são o principal recurso da Congregação. Condição indis-
pensável para a significatividade da missão é, pois, a preparação deles. Alguns aspectos
«acham-se mais expostos em nossa vida ao desgaste ou à esclerose, e exigem atenção
especial. A cultura evolui rapidamente, difundem-se os conhecimentos, as informações
chegam com extraordinária velocidade, ao passo que a mentalidade relativa aos
valores e às concepções da vida levantam sempre novas interrogações. A cultural, é
uma dimensão que requer esforço paciente e contínuo».32
Uma segunda constatação: as iniciativas extraordinárias serviriam a pouco se, ao
mesmo tempo, não se cuidasse da qualidade da vida quotidiana e da continuidade do
trabalho. Pouca incidência teriam as oportunidades oferecidas a cada pessoa, se não
fosse dada importância ao estilo de vida comunitária e ao modo de levar avante o tra-
balho apostólico.
Consequentemente, o olhar deve dirigir-se às pessoas e às estruturas; o convite a
tornar-se responsável pela qualidade deve ser endereçado ao mesmo tempo a cada
irmão, a cada comunidade e a cada Inspetoria.
7. As pessoas.
7.1. Uma palavra a cada irmão: “Attende tibi”33
A mística do trabalho aparece como uma característica nossa; admira-se um pouco
em todos os lugares a nossa disponibilidade e audácia. Devemos agradecer ao Senhor
por essa capacidade de entrega total, que o Espírito formou em Dom Bosco e que
vemos todos os dias em tantos irmãos. Ela não é impedimento ao crescimento, antes, é
um dos caminhos fecundos em nossa espiritualidade. Exige, porém, adequações que
marcam hoje o trabalho, no qual a qualidade manual e o esforço físico são um aspecto
menor. Às vezes o estilo de vida que assumimos e o ritmo de movimento podem des-
gastar a nossa experiência espiritual, desfocar a nossa imagem diante de jovens e adul-
tos, minar a nossa capacidade de influir, por causa da dispersão e multiplicidade.
Admiramos em nosso Fundador a harmonia constante entre dedicação e profundid-
ade, entre iniciativas múltiplas e unidade de vida. Dom Bosco consumiu-se fisicamente,
mas cultivou o olhar de sabedoria, a inteligência das coisas à luz do Espírito e a união
com Deus, que deram à sua experiência pessoal um perfil original - chamamo-lo san-
tidade salesiana.
Pensando na diversidade de situações e condições de vida de cada um e evocando
algumas afirmações de Vita Consecrata sobre o significado e o valor da nossa vocação,
ouso dirigir algumas perguntas de reflexão: Concedemo-nos um tempo para retomar
com maior profundidade a nossa vida no Espírito? Alimentamos o gosto de um maior
conhecimento do que se refere ao mistério cristão e às questões que se referem ao
32 CG24, 242
33 Cf. 1Tm 4,16
15

2.6 Page 16

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homem? Quanto ao enriquecimento cultural, no sentido dado nestas páginas, qual é o
nosso programa em termos de áreas, objetivos e tempo? Como realiza-se em nós o por
vós estudo de Dom Bosco?
Pode existir o perigo que se forme certo hábito segundo o qual trabalho e reflexão
parecem colocar-se em concorrência, especialmente quando o ritmo premente leva ao
imediato e parece não deixar espaço para outra coisa. Pode abrir caminho a convicção
de que a cultura pessoal como reflexão sobre a realidade à luz da fé tenha pouco a ver
com o trabalho caridoso em favor dos jovens pobres.
Quando o CG23 afirma que a interioridade apostólica é ao mesmo tempo caridade
pastoral e capacidade pedagógica, convida-nos justamente a unir criatividade e com-
petência, ação e reflexão como necessários, ambos, na vida salesiana.
A nossa Regra de vida, em rápida sucessão, acumula uma série de indicações das
quais é preciso perceber a única intenção. Ela fala do Salesiano que procura «responder
às exigências sempre novas da condição juvenil e popular»,34 habilita-se «a desenvolver
com maior competência o seu trabalho»;35 cultiva «a capacidade de aprender da vida»,
especialmente no relacionamento com os jovens e os ambientes populares e valoriza a
eficácia formativa das diversas situações e propostas.36 «Mediante iniciativas pessoais
e comunitárias» cultiva a vida salesiana, provê à própria atualização teológica, mantém
a competência profissional e a criatividade pastoral.37 «Cada irmão, dizem os Regula-
mentos, melhore a capacidade de comunicação e diálogo; forme uma mentalidade
aberta e crítica e desenvolva o espírito de iniciativa para renovar oportunamente o
próprio projeto de vida. Cada um cultive o hábito da leitura e do estudo das ciências
necessárias à missão»;38 «procure com os superiores o campo de qualificação... con-
serve a disponibilidade característica do nosso espirito e esteja disposto a requali-
ficações periódicas».39 É quanto basta para dizer que existe um dom a ser cultivado
com paciência a fim de poder oferecê-lo sempre fresco e em plenitude. E nisso fun-
ciona sempre o programa ascético: trabalho e temperança, que comporta medir-se
sobre o menos importante e até mesmo inútil e dispersivo e entregar-se com ardor ao
essencial.
Multiplicaram-se nestes anos as iniciativas de qualificação, requalificação e atualiza-
ção. Existem em não poucas Inspetorias propostas bem articuladas e orgânicas. Cabe a
cada um tirar delas o máximo proveito.
Mas é preciso, também, um empenho quotidiano pessoal. A mentalidade comum,
os jornais, os modelos da publicidade constituem quase uma escola que nos comunica
uma cultura estranha e muitas vezes contrária à nossa “cultura de referência”. Se não
frequentamos uma escola alternativa (meditação, revisão de vida, leituras, inform-
ações, estudo, partilha, discernimento, etc.) seremos insensivelmente orientados a
uma visão da vida, a um projeto de existência que não se encaixam mais naquilo que
professamos. Haverá sempre que se perguntar quais os canais que nutrem o nosso
34 Const. 118
35 Const. 119
36 Cf. ib.
37 Cf. Const. 118
38 Reg. 99
39 Reg. 100
16

2.7 Page 17

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pensamento e a nossa sensibilidade, como construímos e iluminamos em nós a relação
fé-cultura, sentido pastoral-questões emergentes.
Demo-nos um tempo para cultivar o nosso projeto de vida, para degustar a nossa
experiência de consagrados, verificar o nosso caminho de crescimento, prevenir o
cansaço e dominar a fadiga, testemunhar e compartilhar a fonte profunda do nosso
agir.
Demo-nos um tempo para “habilitar-nos a desenvolver com maior competência o
nosso trabalho”, trabalho de educadores, de animadores, de pastores. Acompanhar
pessoas, orientar comunidades é um trabalho exigente e não fácil. Existem alguns âm-
bitos que no atual contexto cultural e religioso revestem particular dificuldade e im-
portância, como por exemplo: o campo ético-moral, os problemas da vida, a pedagogia
espiritual e sacramental, os temas relativos à relação fé-cultura, a dimensão social e de
solidariedade.
O “dar-se um tempo” será uma mensagem aos leigos e um estímulo aos jovens que
se sentem chamados à vida salesiana. Hoje, à imagem do religioso trabalhador e
empreendedor, socialmente útil, é preciso unir a profecia de quem faz uma experiência
pessoal portadora de sentido, guiada pela sabedoria do Evangelho.
7.2. Uma orientação para as comunidades: cuidar da qualidade da vida e do tra-
balho
A “qualidade cultural e pastoral” encontra um estímulo, um ambiente e como que
uma escola no estilo de vida da comunidade. A experiência diz que, depois de algum
tempo num determinado tipo de comunidade, crescemos na visão do campo juvenil e
dos problemas educativos, na relação com os leigos, na capacidade de participação, no
discernimento. Enquanto que, em outras, somos tentados mais à dispersão, vivemos
mais “às pressas”, com o timbre da emergência, habituamo-nos a uma forma exces -
sivamente individualista, cedemos ao hábito, isolamo-nos mentalmente.
Torna-se determinante, então, a organização da vida e do trabalho na comunidade
local. E, como vivemos hoje em comunicação de amplo respiro, também na inspetor-
ial.40 Não são indiferentes - em ambas - o nível de interesse, a qualidade da informação,
a comunicação de experiências, o tipo de relação com os jovens, com os leigos, com o
contexto do território.
Nossas comunidades passaram por mudanças em sua composição e em sua vida.
Modificaram-se as relações com a obra educativa e as tarefas nela atribuídas aos
irmãos, o relacionamento com o ambiente externo social e eclesial, o modelo operativo
para realizar a missão. De outro lado, a insistência dos últimos anos trouxe resultados
positivos quanto à recepção das novas exigências; multiplicaram-se os momentos de
intercâmbio e o processo que favorecem a reflexão, a participação, o discernimento, a
oração, o trabalho “em comum”.
Hoje parece-nos claro que, desejando-se evitar o stress, o ativismo, a superficialid-
ade, seja necessário organizar um ritmo quotidiano e semanal que favoreça a recuper-
ação das forças e o relançamento da qualidade de vida, também no aspecto cultural,
40 Cf. CG24, 242
17

2.8 Page 18

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criando condições para oferecer aos irmãos um conteúdo atualizado de reflexão.41 A
qualidade da vida e do trabalho encontram apoio e alimento na programação anual
que pode pensar em ofertas particulares para a qualificação de cada um e da comunid-
ade.
Foram pensados nessa linha o dia da comunidade, válido instrumento de cresci-
mento comum, os momentos de reuniões dos Conselhos e das equipes, a participação
da comunidade em experiências formativas com os colaboradores leigos e com outros
círculos de pessoas (âmbito eclesial, da vida religiosa, educativo), a elaboração e re-
visão do PEPS a ser valorizado como momento formativo.
O diretor, oportunamente preparado e apoiado pelo Conselho e pelos irmãos, é cha-
mado a favorecer um ambiente e uma forma de relações internas e externas, que
“qualifiquem” os irmãos. Cabe-lhe em primeiro lugar fazer circular e valorizar alguns es-
tímulos privilegiados, como as orientações dos Pastores da Igreja, especialmente do
Papa, os documentos dos Capítulos, as cartas do Reitor-Mor; e também aproveitar com
inteligência outras ocasiões mais simples como as “boas-noites”, a leitura espiritual, a
informação salesiana e eclesial.
Ambiente indispensável para toda comunidade local, é a biblioteca e a correspond-
ente sala de leitura. O cuidado com ela e o material que nela se expõe são indicativos: a
biblioteca tem uma utilidade real e, como no caso da capela, também um valor sim-
bólico no conjunto da casa.
Mudou o uso comunitário que se faz dela. Multiplicaram-se de fato os canais pess-
oais de leitura (livros, revistas, CD, internet). A sua função, contudo, ainda é atual e ne-
cessária para oferecer, também aos leigos colaboradores e aos externos, o nosso pat-
rimônio específico de história, pedagogia e espiritualidade, assim como o pensamento
fundamental da Igreja e os “grandes livros” da reflexão cristã. Com as devidas pro-
porções, não deveria faltar nem mesmo nas residências missionárias, em que se deve
poder contar com um suficiente apoio para a atualização pastoral e recolher aquilo que
serve para um bom conhecimento da cultura local.
Seja encorajada, também, a iniciativa de ter na Inspetoria uma ou algumas bibli-
otecas, o mais completas possível sobre o carisma e a obra salesiana, em nível mundial
e local, e os escritos que possam dar uma idéia do contexto social e político em que
nasceram e se desenvolveram as obras da Inspetoria.42
7.3. Uma orientação para as Inspetorias: criar um “plano” para a qualificação dos
irmãos.
A qualificação do pessoal deve constituir neste período um empenho prioritário de
governo: procuramos governar formando aqueles que animam e dirigem, orientamos
preparando melhor os agentes nos diversos setores.
Uma indicação nessa direção vem-nos de todas as organizações. A qualificação dos
quadros dirigentes, dos responsáveis intermédios e a dos próprios operários está
41 Cf. CG24, 242. 237
42 Não me delongo sobre outros bens culturais, sobre os quais ultimamente a Pontifícia Comissão dos
bens culturais da Igreja deu algumas instruções.
18

2.9 Page 19

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sempre sob a atenção dos dirigentes. Em nosso caso, acrescenta-se à responsabilidade
pessoal e comunitária acima evidenciada também uma ação inspetorial programada e
constante.
Já demos alguns passos nesse sentido. Cito, como exemplo, a preparação e o acom-
panhamento dos diretores. Algumas Inspetorias estabeleceram encontros das equipes
inspetoriais com um momento formativo programado no início do ano pelo Conselho
Inspetorial; realizam a semana de reflexão espiritual ou pastoral, oferecida a todos os
irmãos, segundo um programa plurianual. Outras prepararam um plano de qualificação
dos quadros dirigentes e empenharam-se, muitas vezes com esforço econômico e de
pessoal, em oferecer todos os anos a alguns irmãos a possibilidade de se especializ-
arem. Há, ainda, aquelas que, com sacrifício, fornecem pessoal preparado para algum
centro de estudo. E outras que, reconhecendo a impossibilidade de fazê-lo sozinhas, es-
tabeleceram acordos de colaboração em nível interinspetorial, contribuindo com
irmãos qualificados.
Trata-se de uma amostragem que demonstra a urgência percebida e em parte as-
sumida. O panorama da Congregação é muito rico e variado e, consequentemente, ap-
resenta também algumas zonas de sombra. É o caso, portanto, de propor a todos uma
ação inspetorial mais decidida e orgânica.
Traduzir essa ação em medidas concretas implica, entre outras coisas:
Fazer um elenco completo das qualificações, ainda que parciais, de todos os
irmãos, em vista da sua maior valorização. Acontece com frequência que competências
adquiridas em anos de estudo não sejam colocadas a frutificar de forma continuada ou
comunitária; o mesmo se deverá fazer em nível de Congregação, recordando que já o
CGE convidada a programar intercâmbios de pessoal entre os centros de estudo.43
Individualizar as áreas em que a preparação cultural e a competência profis-
sional parecem ser mais urgentes segundo o próprio contexto, o estado do pessoal e a
colocação pastoral e educativa da Congregação em perspectiva de presente e de fu-
turo;
Qualificar o maior número possível de irmãos para os diversos campos e di-
mensões da missão salesiana, sobretudo as consideradas mais significativas hoje.44 Isso
é recomendado a todas as Inspetorias, mas particularmente àquelas que têm um
número consistente de vocações. Elas devem qualificar os irmãos, não só em função
das necessidades imediatas e dos projetos particulares da Inspetoria, mas segundo o
critério do desenvolvimento máximo dos recursos humanos para que estejam disponí-
veis em vista das necessidades e frentes de trabalho da Congregação. Acrescentem-se
hoje às iniciativas exemplares de tipo interinspetorial outras em força da mundialidade
e transversalidade que caracterizam a ação em cada campo. Estamos todos os dias às
voltas com a busca de pessoal preparado para comunidades de formação em zonas
emergentes, para projetos de grandes dimensões que a Igreja nos quer confiar em con-
textos de primeira evangelização, para a nossa Universidade, para o serviço qualificado
de reflexão e projeto na Direção Geral. Seria grave mortificar talentos apenas porque
não se calcula que se possa empregá-los no próprio âmbito restrito.
43 Cf. CGE, 704
44 Cf. CG24, 243
19

2.10 Page 20

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Empenhar os irmãos qualificados em tarefas específicas dentro do projeto da
Inspetoria e da Congregação. A melhor preparação de que falamos tende a melhorar o
nosso trabalho e é orientada para ele. Acontece às vezes, que irmãos enriquecidos de
uma competência, não veem outra forma de colocá-la a frutificar senão abrindo uma
frente própria ou inserindo-se em projetos externos à Congregação.
Insistir sobre a permanência dos irmãos no âmbito da própria qualificação.
Sobretudo nos centros de estudos, será preciso dar continuidade e consistência aos
corpos docentes e às equipes, para criar uma tradição de reflexão e pedagogia form-
ativa.
Tudo isso supõe a elaboração e a atuação de um plano inspetorial de qualificação
do pessoal, verificado anualmente, e uma administração astuta dos recursos. Pedia-o o
CG23 quando escrevia: «Cada Inspetoria elabore um plano orgânico de formação per-
manente dos irmãos em vista da sua renovação espiritual, da qualificação pastoral e da
competência educativa e profissional».45 E é isso que a programação do sexênio pro-
cura concretizar estabelecendo: «Exigir das Inspetorias um programa de qualificação do
pessoal, verificá-lo periodicamente e favorecer a sua realização».46
Queridos Inspetores, a vocês a responsabilidade e a esperança dessa orientação.
Conheço as dificuldades em que muitos se debatem todos os anos para cobrir os
lugares de trabalho e sinto com vocês o número reduzido de novas vocações. Deve-
mos, entretanto, não só gerir as crises, mas semear para o futuro. A exigência do pro-
grama de qualificação será um momento de comunicação fraterna para tomar con-
sciência de tantos recursos a serem ainda explorados e ajudar-nos a desenvolver todos
os dons que o Senhor manda à nossa caríssima Congregação. Escolham com prudência
o pessoal a ser preparado e sejam magnânimos em garantir à Inspetoria as condições
para um futuro que certamente oferecerá outros modelos de presença em vista dos
quais convém preparar-se.
Seja também considerado nesse plano o compromisso de garantir a memória
histórica salesiana, como comunicação da experiência refletida, que exprima concreta-
mente a identidade vivida em diversos contextos e culturas, em momentos históricos
ordinários e em situações excepcionais.
A Congregação quis a fundação do Instituto Histórico Salesiano. É a manifestação da
sua preocupação, que deve ter o correspondente em cada Inspetoria. Quem descuida
da memória perde as raízes. Encontramo-nos hoje diante da expansão salesiana de 150
anos, estendida em todos os continentes, que ainda deve ser contada. Não podemos
perder patrimônio tão precioso. Pensemos no valor que poderia ter para nós e para os
irmãos de amanhã a história da implantação e do crescimento da Congregação nos di-
versos contextos ou em algumas nações, que recuperaram de recente a liberdade. É
evidente que não basta ter criado a estrutura ou fundado um Instituto, se não existis-
sem depois os homens que nele trabalhem com paixão e amor.
Cada Inspetoria sinta a responsabilidade de conservar, estudar, comunicar a própria
história segundo critérios, que poderão ser oportunamente indicados. Para fazê-lo, são
indispensáveis as pesquisas especializadas, mas é também importante a atenção quo-
45 CG23, 223
46 ACG 358 suplemento, número especial sobre a programação do sexênio, p. 23
20

3 Pages 21-30

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3.1 Page 21

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tidiana, que se manifesta no cuidado pela crônica, na conservação dos arquivos, na
conservação da documentação significativa.
7.4. Ponto de partida: a dimensão cultural na formação inicial
A formação do salesiano não se limita aos estudos e não se mede apenas pela capa-
cidade intelectual. Não gostaria, portanto, que a insistência sobre o empenho cultural
fosse interpretada como um critério seletivo, em base a quocientes de inteligência es-
peculativa. Sabemos que toda capacidade, e particularmente as capacidades do cor-
ação e da doação, encontram lugar na comunidade e na missão salesiana. É singular,
porém, o relevo dado pela nossa Ratio à urgência da preparação cultural séria, inspir-
ando-se na história da Congregação e amplamente apoiada nas orientações mais re-
centes da Igreja.
Para o salesiano - e isso vale não só para os irmãos jovens - resulta indispensável
uma compreensão da vida que leve à opção vocacional solidamente motivada e ajude a
viver com consciência sempre mais madura, sem reducionismos nem complexos, a pró-
pria identidade e o seu significado humano. Não é irreal o risco de perder-se diante das
correntes de pensamento ou refugiar-se em modelos de comportamento e formas de
expressões já superados. A nossa vocação no caso, isolada da vida e da cultura, não se
tornaria fermento e desafio, mas seria relegada ao nível de opção subjetiva.
A qualificação de que falamos é determinada pelo “por vós estudo”; ou seja, ela re-
cebe uma caracterização original a partir da missão.47 Privilegia, por isso, alguns aspec-
tos particulares. Em primeiro lugar, o mundo juvenil e a capacidade de nele inserir-se
educativa e pastoralmente. Sabemos por experiência que isso exige atenção e reflexão
constantes. Exige, também, a capacidade prática de traduzir em projetos significativos
a missão educativa no contexto atual, marcado pela complexidade, pela liberdade, pelo
pluralismo, pela mundialidade. Tornam-se úteis a compreensão mais completa possível
do fato pastoral e a posse da competência pedagógica. E mais, um quadro de referên-
cia espiritual que, com a “graça de unidade” própria da consagração apostólica
salesiana, leve a traduzir o esforço de conhecimento e de ação em experiência de vida
no Espírito. Repetimos com frequência que é preciso unir na mente e na vida, espiritu-
alidade, pastoral, pedagogia, caminho de santidade, empenho pastoral, educação dos
jovens e do povo.
Hoje, a urgência dessa síntese não é menor. Antes, a tendência à fragmentação, ao
imediatamente compreensível e praticável expõe-nos a perigosos vazios e lacunas.
A necessidade de uma sólida cultura de base é fortemente sublinhada nos docu-
mentos eclesiais e em nossas reflexões destes anos sobre a formação. «É necessário
contrariar decididamente - afirma a Exortação Apostólica Pastores dabo vobis - a
tendência a reduzir a seriedade e exigência dos estudos, que se manifesta em alguns
contextos eclesiais, como conseqüência já de uma preparação de base insuficiente e la-
cunosa dos alunos que iniciam o currículo filosófico e teológico. É a própria situação
contemporânea a exigir que os mestres estejam cada vez mais à altura da complexid-
47 Cf. Reg. 82
21

3.2 Page 22

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ade dos tempos e em condições de enfrentar com competência, clareza e profundidade
de argumentação as carências de sentido dos homens de hoje, às quais apenas o Evan-
gelho de Jesus Cristo dá resposta cabal».48 «De muitas partes - afirma o Instrumentum
Laboris do Sínodo sobre a Vida Consagrada - sublinha-se a necessidade da formação in-
telectual, filosófica e cultural mais sólida e intensa, também em vista do estudo ad-
equado da teologia e da preparação para a nova evangelização».49
Será preciso, então, insistir sobre a importância da formação intelectual e onde for
necessário reconduzi-la aos níveis que correspondam ao momento atual. Com efeito,
«sem uma atualizada preparação cultural que habilite a viver conscientemente a vo-
cação, leve a uma adequada visão da realidade, crie hábitos de reflexão e ofereça os in-
strumentos para novos aprofundamentos»50 não podemos nem sequer esperar realizar
os objetivos internos à Congregação, como são os estabelecidos pelo CG24.
Guiados por essas avaliações, exprimimos na programação do Conselho Geral para o
sexênio, algumas orientações que tendem a «qualificar a preparação intelectual dur-
ante a formação inicial».51 Retomo três delas que confio de modo especial aos irmãos
jovens e aos responsáveis da formação.
A primeira tem em vista «tornar conscientes, os irmãos jovens, da necessidade de
uma sólida qualificação cultural e profissional e do empenho quanto à reflexão e ao
estudo».52 A ênfase é colocada na consciência. As fases iniciais da formação, além de
uma fundada síntese doutrinal sistemática, dilatável e modificável, deveriam deixar
gosto pela reflexão, método de estudo, propósito de formação contínua e convicção de
que um Bom Pastor para o exercício da Palavra deve ser sempre também um bom
“doutor”, conhecedor dos mistérios do Reino e da vida humana.
Gostaríamos, pois, de «rever e adequar a formação intelectual (organização, progra-
mas, metodologia, etc.) às exigências da nossa vocação e missão».53 O que com-
preende os conteúdos e as competências que se referem à experiência religiosa e
cristã, os problemas que mais atingem a consciência humana, as condições e percursos
de crescimento dos jovens segundo as diferenças com que se apresenta a sua vida.
Por último, interessa-nos na formação intelectual, «sublinhar a perspectiva
salesiana, o estudo da ‘salesianidade’ e as competências exigidas pelas orientações do
CG24».54 A sensibilidade salesiana, que é parte do carisma e dom do Espírito, constitui
o ponto de vista para sínteses originais. Não se deve cair no genericismo. A práxis sug-
ere o modo de organizar o pensamento e vice-versa. De outro lado, a matéria explicita-
mente salesiana tornou-se abundante: há a história a não ser esquecida, a espiritualid-
ade a ser compreendida, o patrimônio pedagógico geral e as linhas particulares de ped-
agogia prática, a evolução do pensamento testemunhada pela literatura salesiana.
Acrescento, no contexto, uma indicação, que julgo importante. A consciência da uni-
versalidade da Congregação, a composição das Regiões e dos grupos de Inspetorias, as
tendências do mundo sugerem um esforço para superar as barreiras linguísticas e criar
48 PDV 56
49 Instrumentum laboris, 90
50 CG24, 247
51 ACG 358, suplemento, número especial sobre a programação do sexênio, p. 23
52 Ib.
53 Ib.
54 Ib.
22

3.3 Page 23

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espaços de maior comunicação e colaboração. É oportuno, portanto, incluir na própria
bagagem cultural o aprendizado em níveis úteis de uma ou mais línguas, além da pró-
pria.
Aos irmãos jovens, que durante a formação inicial dedicam não pouco tempo ao
estudo e à reflexão, gostaria de repetir as palavras que dirigia há algum tempo à
comunidade do nosso estudantado de Turim-Crocetta: «Convenci-me de que a form-
ação intelectual robusta e completa é mais urgente hoje do que ontem. Em determina-
dos ambientes não basta a imediata capacidade prática e de contato. Após esse
primeiro passo entra a exigência de iluminar pessoas, grupos e grandes comunidades;
de intervir às vezes em áreas da vida e do pensamento, que exigem de quem fala ter
aprofundado o mistério de Deus, a vocação do homem e as condições atuais em que a
vida se está desenvolvendo. A superficialidade, digamos assim, na formação intelectual
não dá retorno em nenhum contexto e a proximidade pastoral, se dá algum fruto ime-
diato, exaure-se logo, também a médio prazo».
8. As estruturas.
A exigência de qualidade cultural não envolve só as pessoas; refere-se também aos
projetos e às obras através das quais encarnamos a missão. O processo de elaboração
do PEPS tem como primeiro objetivo a significatividade de nossas intervenções da per-
spectiva da evangelização, da educação e do influxo sobre a mentalidade coletiva. Isso
não se obtém apenas com a formulação dos escopos fundamentais. É indispensável o
aprofundamento atualizado dos conteúdos e a atenção metodológica que permitem
traçar percursos para atingir os objetivos, empregar bem os recursos, verificar os res-
ultados.
Dada a complexidade de certas obras quanto à estrutura e gestão, são necessárias
clareza de organização e capacidade adequada de orientação para ser fiéis à intenção
salesiana do projeto. Não é imaginário o risco de se ficar emaranhado no aspecto da or-
ganização, enfraquecendo a projeção cultural e a finalização pastoral, especialmente
quando se aceita ou se exige a nossa colaboração, mas não se está aberto à nossa pro-
posta cultural.
Zelo apostólico, atenção à orientação cultural e competência profissional são ne-
cessários em todas as obras salesianas; algumas, porém, parecem exigi-los com partic-
ular urgência. Refiro-me àquelas presenças que, por diversos motivos, devem ter uma
irradiação maior, comunicam uma mensagem de particular valor ou atualidade, entram
em diálogo cultural e pastoral mais vasto, têm a possibilidade de envolver outros sujei-
tos sociais ou eclesiais.
Detenho-me em algumas, como paradigma, enquanto estendo o olhar a todas as
outras.
8.1. A Universidade Pontifícia Salesiana.
23

3.4 Page 24

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A Universidade Pontifícia Salesiana prepara-se para comemorar 25 anos de vida
como Universidade, que se somam a outros trinta, não menos importantes, como Pon-
tifício Ateneu. O caminho percorrido nestes anos manifesta um desenvolvimento veri-
ficável através de vários elementos. O número de alunos passou dos 600 em 1973 aos
cerca de 1400 de hoje. A demanda não conheceu flexão; antes, deve ser contida e reg -
ulada, de acordo com as possibilidades das estruturas e do pessoal. Além dos
Salesianos, há 390 religiosos, 150 diocesanos, 590 leigos, provenientes de todos os con-
tinentes.
Afirmou-se com um perfil original entre as Universidades romanas pela orientação
educativa e pastoral e pelo estilo de família da comunidade universitária. Deu vida, ul-
timamente, a interessantes iniciativas pastorais a serviço dos estudantes. Além da obra
de ensino, pesquisa, extensão cultural e serviços à Igreja, presta assistência a variados
setores da missão salesiana, em nível regional e mundial, entre os primeiros o da form-
ação.
Deve-se reafirmar a sua função insubstituível «a serviço da Congregação e como ex-
pressão qualificada da sua missão na Igreja, com um próprio específico potencial cul-
tural e formativo».55 Exprime nos máximos níveis, o diálogo entre carisma salesiano e
instâncias culturais, e realiza nesse sentido uma missão de fronteira. Por isso afirmou-
se no CG24: «O desenvolvimento atual da Congregação e a sua expansão mundial, os
desafios da missão e a exigência de qualidade em sua expressão pedagógico-pastoral, a
perspectiva da nova evangelização e da inculturação, a preocupação com a comunhão
e a atenção às diversas expressões do nosso carisma tornam a função da UPS de
grande importância e atualidade no quadro da realidade salesiana».56
Deve-se apoiar a identidade da nossa Universidade e a qualidade da sua con-
tribuição no âmbito cultural, eclesial e salesiano, em respeito à natureza, aos critérios
de funcionamento e aos níveis de intervenção de uma instituição universitária, que é
pontifícia, eclesiástica e salesiana.
O seu desenvolvimento deve ser garantido de acordo com um projeto orgânico,
periodicamente revisto, ao qual corresponda a consciência numérica e qualitativa do
corpo acadêmico. A participação dos leigos já é calculada. Seria, entretanto, uma perda
fazê-lo apenas porque não se prepara um número suficiente de Salesianos para trabal-
har nesse nível.
Atenção à significatividade, caracterização salesiana, capacidade de diálogo cultural
e religioso, unidade e organicidade do projeto, promoção do estilo de comunidade
acadêmica são aspectos a ter-se presentes no centro máximo de estudo da Con-
gregação.
O Reitor-Mor com o seu Conselho e a própria Universidade estão empenhados na
revisão da situação e na formulação de um projeto operativo orgânico que trace as lin-
has de desenvolvimento para os próximos anos.
O que foi dito acima supõe um decidido investimento por parte da Congregação
quanto ao pessoal. A geografia hodierna da Congregação exige uma Universidade
sempre mais internacional. Deve-se considerar normal o pedido às Inspetorias de pess-
oal qualificado ou a ser qualificado para o serviço na UPS, e a disponibilidade dos
55 CG21, 346
56 Relação ao CG24 sobre o estado da Congregação, 229
24

3.5 Page 25

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irmãos que fossem solicitados para transferir-se a Roma. Esse critério, de outro lado, já
está amadurecendo na Congregação. Ele é percebido na generosidade com que Inspet-
orias e irmãos têm respondido aos últimos apelos.
Deve-se valorizar também o serviço da UPS para a qualificação do pessoal
salesiano.57 Oferecem-se nela competência e perspectiva salesiana, numa síntese sin-
gular, que provém do conjunto da experiência, além que da opção e organização dos
conteúdos. Por isso, para nós, ela não é “igual” a outras Universidades. Verificados de
novo os resultados observáveis na Congregação, repito a avaliação dada ao CG24: «À
parte pequenas reservas, tantas vezes excessivamente repetidas, o saldo da frequência
dos estudantes a estes Centros é altamente positivo para as pessoas, para as Inspetor-
ias e para a Congregação. Não vemos como substituí-los com vantagem».58
8.2. Outras Universidades “Salesianas”: uma presença significativa
Cresceu nestes anos o número de instituições universitárias salesianas. São diversas
entre si: variada é a sua estrutura jurídica, diverso o envolvimento das Inspetorias, as-
sim como a consistência das equipes salesianas que nelas trabalham. Algumas são
atendidas com um grupo solidário de irmãos com papéis articulados e definidos se-
gundo as exigências da instituição universitária e também as finalidades educativas,
pastorais e populares do nosso carisma. Outras caminham com um número variável de
irmãos conforme o pessoal qualificado que a Inspetoria ocasionalmente consegue lib-
erar.
É preciso reconhecer que não é fácil garantir neste campo as condições para uma
presença salesiana significativa em nível científico, educativo e pastoral. Talvez no iní-
cio em não poucos casos deu-se importância sobretudo à organização do serviço a fim
de criar oportunidades de educação superior no setor popular e ocupar espaços cul-
turais disponíveis. Agora não se pode mais pensar que, sem preparação específica e
equipe adequada, se possa exprimir o “critério oratoriano” nesse nível, integrando pre-
ocupação pela organização e atenção ao nível cultural, gestão administrativa e incidên-
cia pastoral. «Feito o primeiro esforço de organização, exigido por essas iniciativas, é o
momento de enfrentar, com decisão e comunitariamente, a qualificação cultural e pas-
toral, a partir da preparação de irmãos e de leigos»59.
É indispensável, em primeiro lugar, traçar com maior clareza a identidade e a ori-
entação desses centros. Embora reconhecendo que têm uma organização geral in-
spirada na mentalidade cristã, e que elas transmitem uma visão humanista e religiosa,
há sempre o risco de achatar-se na mentalidade dominante, mais do que constituir-se
como instâncias de diálogo e propostas alternativas.
Numerosos documentos apelam para o esforço de uma clara organização. A Igreja
está levando adiante, em contexto de nova evangelização, a pastoral da cultura que
tende a produzir mudanças na concepção econômico-social, na atitude diante da vida,
na elaboração da ética, na criação de relações novas, na proposta de um sentido que
57 Cf. CG24, 255
58 CG24. 255
59 Relação ao CG24 sobre o estado da Congregação, 261
25

3.6 Page 26

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ilumine natureza, história e tensões em ato. A luz para isso tudo vem do mistério de
Deus Criador, Salvador do homem, energia e meta de sua história no Espírito.
Nossas Universidades devem definir a sua orientação conforme o caráter “católico”
e a sua “filosofia educativa” em sintonia com os critérios salesianos, constituindo-se em
centros de formação de pessoas e elaboração de cultura de inspiração cristã.
Essa é uma frente de missão relativamente nova e, portanto, a ser acompanhada,
coordenada e clarificada. Será preciso elaborar um encaminhamento autorizado (o Pro-
jeto para as Universidades salesianas, como plataforma declarativa da inspiração fun-
damental), promover o diálogo e o intercâmbio entre essas instituições e acompanhar
o caminho das Inspetorias nessa nova experiência. A obtenção dos objetivos salesianos
deverá ser garantida também em nível de estatutos.
Além da orientação cultural, porém, dever-se-á pensar numa animação pastoral
eficaz dos ambientes universitários. Devem-se, nesse caso, acrescentar às estruturas
acadêmicas, as múltiplas atividades que desenvolvemos entre os universitários como
pensionatos, grupos, atenção religiosa e semelhantes.
Não se pode prescindir da CEP e, em primeiro lugar, do núcleo animador salesiano.
O que comporta a preparação e a dedicação do pessoal salesiano, a intensa colabor-
ação com os leigos, escolhidos e tornados conscientes do caráter e da finalidade de
nossas Universidades, a atitude de abertura e de relacionamento com outros sujeitos
culturais, a tradução do Sistema Preventivo e da espiritualidade em que ele se funda-
menta. Numa palavra: exigência de competência salesiana e de qualidade cultural e
profissional.
Assim como nos encontramos, muitas vezes, em Casas de Espiritualidade, na admin-
istração de estruturas sem poder dispor de pessoas e equipes capazes de uma pro-
posta espiritual, pode acontecer que também nos centros universitários e nos pension-
atos pensemos nas estruturas e organização, mas não em “propostas” de vida e acom-
panhamento no crescimento.
Queremos acompanhar a partir do Conselho Geral, com particular atenção, o desen-
volvimento da presença salesiana nesta fronteira, que apresenta desafios não indifer-
entes do ponto de vista institucional, dos destinatários, dos colaboradores, da eco-
nomia e, sobretudo, do projeto, mas que pode ser extraordinariamente fecunda para a
evangelização da cultura e para uma presença particular no mundo da educação. A ela
deve corresponder igual empenho por parte dos Inspetores e seus Conselhos.
8.3. Centros salesianos de estudo e reflexão
A Congregação empenha-se em outros Centros que, em alguns casos, têm uma in-
cidência direta sobre a formação dos irmãos e, em outros, colaboram em criar mental-
idade, acompanham jovens e adultos num caminho espiritual, difundem com os meios
modernos a mensagem evangélica, comunicam o espírito salesiano: estudantados,
equipes editoriais, centros pastorais e pedagógicos, casas de espiritualidade.
Os nossos Regulamentos estimulam as Inspetorias com capacidade de fazê-lo, a ter
«um centro próprio de estudos para a formação dos irmãos e para serviços qualificados
26

3.7 Page 27

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de animação» às mesmas Inspetorias e à Igreja local.60 De fato, não são poucas as Ins-
petorias que podem contar com esses centros. Eles são um empenho não leve, mas
dão uma contribuição válida à vida da Inspetoria e à sua missão. É preciso, por isso,
apoiá-los e reforçá-los, e quem sabe redimensioná-los em raio regional, mais do que
multiplicá-los sem acordos prévios.
A busca de qualidade cultural e formativa leva a rever a consistência, a incidência e a
capacidade de renovação desses Centros e sobretudo a garantir as condições para o
seu funcionamento adequado à demanda.
Particularmente, a respeito dos centros salesianos de estudo, é necessário assegurar
a constituição e o empenho do corpo docente, que não pode se limitar a garantir o
horário das aulas; e preocupar-se com a colaboração e a corresponsabilidade interins-
petorial, quando o centro presta o seu serviço a várias Inspetorias, o funcionamento
regular do “curatorium”, a afiliação ou agregação à nossa Universidade, a escolha cuid-
adosa dos colaboradores não salesianos.
Devemos considerar também nesse contexto a nossa participação em centros de
estudos conduzidos com outras instituições (Congregações, Dioceses, etc.), assim como
a orientação formativa dos estudos dos irmãos em formação inicial que frequentam
centros em cujas direções não temos corresponsabilidade. A incidência dos professores
sobre o desenvolvimento da personalidade é frequentemente mais decisiva daquela de
outros formadores; não se pode, então, simplesmente “delegar” a formação intelectual
dos jovens Salesianos.
Discursos semelhantes, quanto ao pessoal e ao projeto, podem ser feitos a respeito
de outros Centros que produzem e difundem cultura (Editoras, Rádios, etc.), dese-
jando-se garantir o seu rendimento máximo e um serviço adequado ao Evangelho e ao
povo.61
9. Conclusão
A busca da sabedoria atravessa a vida de Dom Bosco: amor e conhecimento a ser-
viços dos jovens. Trata-se de dom e de tarefa que lhe foram confiados no momento da
chamada, em resposta à sua pergunta sobre o “como” ter sucesso na realização da mis-
são. A fim de atingi-la foi-lhe indicada a Mestra.
Trata-se certamente da sabedoria que é “revelação do mistério de Deus”,62 do “con-
hecimento de Cristo” que São Paulo pedia para os fiéis,63 que em Cristo compreende a
totalidade da vida humana e o evoluir da história. Ela nos é dada com a fé como dom e,
para nós Salesianos, como orientação particular com o carisma da predileção pelos
jovens.
Maria Santíssima, que foi Mestra para Dom Bosco, seja-o também para nós.
São os votos que dirijo a cada um de vocês e às suas comunidades, juntamente com
a minha saudação fraterna.
60 Reg. 84
61 Relação ao CG24 sobre o estado da Congregação, 269
62 1 Cor 2,6ss
63 Cf. Ef 3,18-19
27

3.8 Page 28

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P. Juan E. Vecchi
Reitor-Mor
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