Faith and Inculturation-pt


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COMISSÃO TEOLÓGICA INTERNACIONAL
FÉ E INCULTURAÇÃO (*)
(1988)
INTRODUÇÃO
1. A Comissão Teológica Internacional teve várias vezes ocasião de
reflectir sobre as relações entre fé e cultural. Em 1984, falou directamente
de inculturação da fé, no estudo sobre o mistério da Igreja que elaborou
para o Sínodo extraordinário de 19852. Por seu lado, a Comissão Bíblica
Pontifícia teve a sua sessão plenária de 1979 sobre o tema A inculturação
da fé à luz da Escritura3.
2. Hoje, a Comissão Teológica Internacional pretende fazer esta reflexão
de modo mais aprofundado e sistemático, devido à importância que este
tema da inculturação da fé adquiriu em todo o mundo cristão e à
insistência com que o Magistério da Igreja abordou o mesmo tema, após o
segundo concílio do Vaticano.
3. A base é fornecida pelos documentos conciliares e pelos textos dos
Sínodos que os prolongaram. Assim, na Constituição Gaudium et spes, o
concílio designou as lições e directivas que a Igreja colheu das suas
primeiras experiências de inculturação no mundo greco-romano4. Um
capítulo inteiro deste documento foi dedicado à promoção da cultura (De
culturae progressu rite promovendo)5. Depois de ter descrito a cultura
como um esforço para mais humanidade e para um melhor ordenamento
do universo, o concílio considerou longamente as relações entre a cultura
e a mensagem da salvação. Enunciou, ainda, alguns dos mais urgentes
deveres dos cristãos em relação à cultura: defesa do direito de todos à
cultura, promoção de uma cultura integral, harmonização das relações
entre cultura e cristianismo. O Decreto sobre a actividade missionária da
Igreja e a Declaração sobre as religiões não cristãs, retomam algumas
destas orientações. Dois Sínodos ordinários trataram expressamente da
evangelização das culturas: o de 1974, dedicado à evangelização6; e o de
1976, sobre a formação catequética7. O Sínodo de 1985, que celebrava o
vigésimo aniversário do encerramento do concílio Vaticano II, falou da
inculturação como «uma íntima transformação dos autênticos valores
culturais mediante a sua integração no cristianismo e a encarnação do
cristianismo nas várias culturas humanas.» 8
4. O Papa João Paulo II acolheu de maneira especial a evangelização das
culturas: a seus olhos, o diálogo da Igreja e das culturas reveste-se de vital
importância para o futuro da Igreja e do mundo. Para o ajudar nesta
grande obra, o Santo Padre criou um organismo especializado: o Conselho
Pontifício para a Cultura9. É, aliás, com este dicastério que a Comissão
Teológica Internacional se alegra de poder reflectir hoje sobre a

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inculturação da fé.
5. Apoiando-se na convicção de que «a Incarnação do Verbo foi também
uma incarnação cultural», o Papa afirma que as culturas, analogicamente
comparáveis à humanidade de Cristo naquilo que têm de bom, podem
desempenhar uma função positiva de mediação para a expressão e
irradiação da fé cristã10.
6. Dois temas essenciais estão ligados a estas perspectivas. Em primeiro
lugar, o da transcendência da Revelação em relação às culturas em que ela
se exprime. Com efeito, a Palavra de Deus não poderia identificar-se ou
ligar-se de maneira exclusiva aos elementos da cultura que a transmite. O
Evangelho, onde se enraiza, impõe muitas vezes uma conversão das
mentalidades e uma modificação dos costumes; o mesmo acontece com as
culturas que devem ser purificadas e restauradas em Cristo.
7. O segundo grande tema do ensinamento de João Paulo II incide sobre a
urgência da evangelização das culturas. Esta empresa supõe que se
compreendam e penetrem com simpatia crítica as identidades culturais
particulares e que, numa preocupação de universalidade em consonância
com a realidade propriamente humana das culturas, se favoreça, entre elas,
a troca de experiências. Assim, o Santo Padre fundamenta a evangelização
das culturas numa concepção antropológica fortemente enraizada no
pensamento cristão, na sequência dos Padres da Igreja. Se a cultura,
quando é recta, revela e fortifica a natureza do homem, a impregnação
cristã da cultura supõe a ultrapassagem de todo o historicismo e de todo o
relativismo na concepção do humano. A evangelização das culturas deve,
então, inspirar-se no amor do homem em si mesmo e por si mesmo,
especialmente naqueles aspectos do seu ser e da sua cultura que são
atacados ou ameaçados11.
8. À luz deste ensinamento e da reflexão que o tema da inculturação da fé
suscitou na Igreja, proporemos, em primeiro lugar, uma antropologia
cristã que situe em mútua relação a natureza, a cultura e a graça. Veremos,
em seguida, o processo de inculturação na obra da história da salvação: o
Israel antigo, a vida e obra de Jesus, a Igreja das origens. Uma última
secção abordará os problemas que presentemente se põem à fé pelo seu
encontro com a piedade popular, as religiões não-cristãs, a tradição
cultural nas jovens Igrejas e, enfim, os diversos aspectos da modernidade.
I. NATUREZA, CULTURA E GRAÇA
1. Para descrever ou definir a cultura, os antropólogos recorrem de bom
grado à distinção, que por vezes aparece como oposição, entre natureza e
cultura. Com efeito, a significação desta palavra natureza varia segundo as
diferentes concepções das ciências experimentais, da filosofia e da
teologia. O Magistério entende esta palavra num sentido bem preciso: a
natureza de um ser é aquilo que o constitui como tal, com o dinamismo
das suas tendências a caminho das suas próprias finalidades. As naturezas
receberam de Deus o seu ser e os seus fins próprios e, desde esse instante,
estão impregnadas de uma significação, em que o homem, enquanto

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imagem de Deus, é capaz de ler a «intenção criadora de Deus»1.
2. As inclinações fundamentais da natureza humana, expressas pela lei
natural, surgem assim como uma expressão da vontade do Criador. Esta lei
natural declara as exigências específicas da natureza humana, exigências
que são significativas do desígnio de Deus sobre a sua criatura racional e
livre. Deste modo, fica afastado qualquer mal-entendido que,
interpretando a natureza em sentido unívoco, reduziria o homem à sua
natureza material.
3. Simultaneamente, deve considerar-se a natureza humana segundo o seu
desenvolvimento concreto no tempo da história. Dotado de uma liberdade
falível e, tantas vezes, escrava das paixões, que fez o homem da sua
humanidade? Esta herança transmitida às novas gerações comporta, a par
de tesouros imensos de sabedoria, arte e generosidade, uma parte
considerável de desvios e perversões. A atenção vai, então, centrar-se
conjuntamente sobre a natureza humana e sobre a condição humana,
expressão esta que integra dados existenciais, entre os quais alguns, como
o pecado e a graça, se encontram ligados à história da salvação. Assim, se
utilizamos a palavra cultura, em primeiro lugar, num sentido positivo —
enquanto sinónimo de desenvolvimento, por exemplo — (como o fizeram
o Vaticano II e os papas recentes), não esquecemos também que as
culturas podem perpetuar e favorecer opções do orgulho e do egoísmo.
4. A cultura insere-se no prolongamento das exigências da natureza
humana, como realização das suas finalidades; é o ensinamento da
Constituição Gaudium et spes. «É próprio da pessoa humana não ter
acesso verdadeiro e pleno à humanidade, senão pela cultura, isto é,
cultivando os bens e valores da natureza... A palavra cultura, no sentido
lato, designa tudo aquilo com que o homem apura e desenvolve os
inúmeros dotes do corpo e do espírito.»2 Surgem-nos, assim, diversos
campos da cultura: pelo conhecimento e pelo trabalho, o homem aplica-se
a submeter o universo; humaniza a vida social pelo progresso dos
costumes e das instituições; por fim, traduz, comunica e conserva pelas
suas obras e no decurso dos tempos, as grandes experiências espirituais e
as maiores aspirações do homem, a fim de que sirvam para o progresso de
um grande número e mesmo de todo o género humano.
5. O sujeito primordial da cultura é a pessoa humana, considerada em
todas as dimensões do seu ser. O homem cultiva-se — aqui reside a
finalidade primeira da cultura —, mas fá-lo graças às obras de cultura e
graças a uma memória cultural. A cultura designa ainda o meio no qual, e
graças ao qual, as pessoas podem crescer.
6. A pessoa humana é um ser de comunhão; ela realiza-se dando e
recebendo. É, portanto, em solidariedade com os outros e através dos laços
sociais que a pessoa progride. Também estas realidades sociais que são a
nação, o povo, a sociedade — com o seu património cultural —
constituem para o desenvolvimento da pessoa «um determinado meio
histórico, no qual todo o homem se insere e do qual tira os valores que lhe
permitem promover a civilização»3.

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7. A cultura, que é sempre uma cultura concreta e particular, é uma
abertura aos valores superiores, comuns a todos os homens. A
originalidade de uma cultura não é caracterizada por uma inclinação sobre
si mesma, mas pela contribuição para uma riqueza que é o bem de todos
os homens. O pluralismo cultural não deverá, assim, interpretar-se como a
justaposição de universos fechados, mas como a participação no conjunto
de realidades orientadas para os valores universais da humanidade. Os
fenómenos de penetração recíproca das culturas, frequentes na história,
ilustram esta abertura fundamental das culturas particulares aos valores
comuns de todos os homens e, consequentemente, a sua abertura mútua.
8. O homem é um ser naturalmente religioso. A orientação para o Absoluto
está inscrita no mais profundo do seu ser. A religião, em sentido lato, é
parte integrante da cultura, onde se radica e desenvolve. As grandes
culturas possuem, como complemento do edifício que constituem, a
dimensão religiosa, inspiradora das grandes realizações que marcaram a
história milenária das civilizações.
9. Na origem das grandes religiões está o movimento ascendente do
homem à procura de Deus. Este movimento deve ser objecto de um
respeito sincero (uma vez purificado dos seus desvios), pois é nele que se
virá a manifestar o dom da fé cristã. E o que distingue a fé cristã é o facto
de ela ser livre adesão à proposta de amor gratuito de Deus que se revelou
a nós, que nos deu o seu Filho único para nos libertar do pecado e que
difundiu o seu Espírito nos nossos corações. É neste dom que Deus faz de
si mesmo à humanidade, que reside, face a todas as aspirações, anseios,
conquistas e aquisições da natureza, a radical originalidade cristã.
10. Porque transcende toda a ordem da natureza e da cultura, a fé cristã é,
por um lado, compatível com todas as culturas na medida em que estas se
conformam com a recta razão e a vontade honesta; e, por outro lado, é um
privilegiado factor dinamizante de cultura. Há um princípio que clarifica o
conjunto das relações da fé e da cultura: a graça respeita a natureza, ela
cura-a das feridas do pecado, conforta-a e eleva-a. A elevação à vida
divina é a finalidade específica da graça, mas ela não se poderá realizar
sem que a natureza esteja sarada e sem que a elevação à ordem
sobrenatural conduza a natureza, no seu próprio domínio, a uma plenitude
de perfeição.
11. O processo de inculturação pode ser definido como o esforço da Igreja
para fazer penetrar da mensagem de Cristo um determinado meio sócio-
cultural, convidando-o a crescer segundo os seus próprios valores, desde
que estes sejam conciliáveis com o Evangelho. O termo inculturação
inclui a ideia de crescimento e de enriquecimento mútuo das pessoas e dos
grupos, pelo facto do encontro do Evangelho com um meio social. «A
inculturação é a incarnação do Evangelho nas culturas autóctones e,
simultaneamente, a introdução destas culturas na vida da Igreja.»4
II. A INCULTURAÇÃO NA HISTÓRIA DA SALVAÇÃO

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YAHVÉ E O POVO DA ALIANÇA
JESUS CRISTO, SENHOR E SALVADOR DO MUNDO
O ESPÍRITO SANTO E A IGREJA DOS APÓSTOLOS
1. Consideremos as relações da natureza, da cultura e da graça na história
concreta da aliança de Deus com a humanidade. Iniciada com um povo
particular e culminando num filho deste povo que é também Filho de
Deus, esta história prolonga-se, a partir dele, a todas as nações da terra e
mostra «a admirável 'condescendência' da eterna Sabedoria.»1
Israel, o povo da Aliança
2. Israel compreendeu-se a si próprio como um povo formado de maneira
imediata por Deus. Também o Antigo Testamento, a Bíblia do Israel
antigo, é testemunha permanente da revelação do Deus vivo aos membros
de um povo escolhido. Na sua forma escrita, esta revelação contém ainda
a marca das experiências culturais e sociais do milénio em que este povo e
as civilizações circundantes se encontraram na história. O Israel antigo,
que nasceu num mundo onde se haviam já manifestado grandes culturas,
cresceu em ligação com elas.
3. As mais antigas instituições de Israel (por exemplo, a circuncisão, o
sacrifício da primavera, o repouso do sabbat) não lhe são específicas —
adquiriu-as dos povos vizinhos. Uma grande parte da cultura de Israel tem
origem semelhante. No entanto, o povo da Bíblia introduziu profundas
mudanças nestas aquisições quando as incorporou na sua fé e na sua
prática religiosa. Passou-as ao crivo da fé no Deus pessoal de Abraão
(livre criador, e sábio ordenador do universo, no qual o pecado e a morte
não poderiam encontrar a sua origem). É o encontro deste Deus, encontro
vivida na Aliança, que permite compreender o homem e a mulher como
seres pessoais, e assim rejeitar comportamentos inumanos inerentes a
outras culturas.
4. Os autores bíblicos utilizaram e, simultaneamente, transformaram as
culturas do seu tempo não só para divulgar, através da história de um
povo, a acção salvífica que Deus fará culminar em Jesus Cristo, mas
também para unir os povos de todas as culturas, chamados a formar um só
corpo, de que Cristo é a cabeça.
5. No Antigo Testamento, culturas absorvidas e transformadas são postas
ao serviço da revelação do Deus de Abraão, vivida na Aliança e
consignada na Escritura. No plano cultural e religioso, foi uma preparação
única para a vinda de Jesus Cristo. No Novo Testamento, o Deus de
Abraão, de Isaac e de Jacob, mais profundamente revelado e manifestado
na plenitude do Espírito, convida todas as culturas a deixarem-se
transformar pela vida, pela palavra, pela morte e pela ressurreição de Jesus
Cristo.
6. Se os pagãos estão «enxertados em Israel»2, deve sublinhar-se que o
plano original de Deus incide sobre toda a criação3. Com efeito, é
concluída uma aliança, por intermédio de Noé, com todos os povos da

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terra que aceitem viver na justiça4. Esta aliança é anterior às realizadas
com Abraão e Moisés. De notar, enfim, o facto de Israel, a partir de
Abraão, ter sido convidado a partilhar com todas as famílias da terra, as
bênçãos que ele próprio havia recebido.
7. Assinalemos, por outro lado, que, dos diversos aspectos da cultura de
Israel, nem todos mantiveram as mesmas relações com a revelação divina.
Muitos deles atestam mesmo uma resistência à Palavra de Deus, enquanto
outros exprimem a sua aceitação. Destes últimos, é necessário ainda
distinguir o provisório (prescrições rituais e judiciais) e o permanente, de
incidência universal. Certos elementos na «Lei de Moisés, os profetas e os
salmos»6, têm como significação o serem precisamente a pré-história de
Jesus.
Jesus Cristo, Senhor e Salvador do mundo
I. A transcendência de Jesus Cristo perante as culturas
8. Uma convicção domina a pregação de Jesus: nele, Jesus, na sua palavra
e na sua pessoa, Deus completa os dons que havia já feito a Israel e ao
conjunto das nações, superando-os7. Jesus é a luz soberana e a verdadeira
sabedoria para todas as nações e todas as culturas8. Na sua própria
actividade, Jesus mostra que o Deus de Abraão, previamente reconhecido
por Israel como criador e senhor9, não só se dispõe a reinar sobre todos os
que hão-de crer no Evangelho, como efectivamente, e por Jesus, já reina.
9. O ensinamento de Jesus, principalmente nas parábolas, não se priva de
corrigir ou mesmo de contestar várias ideias, que a história, a religião
efectivamente praticada e a cultura inspiraram aos seus contemporâneos
sobre a natureza de Deus e o seu agir11.
10. A intimidade filial de Jesus com Deus e a obediência amorosa que o
levou a oferecer ao Pai a sua vida e morte 12, comprovam que, nele, o
desígnio original de Deus sobre a criação, viciada pelo pecado, foi
restaurado13. Estamos perante uma nova criação, a do novo Adão14. As
relações com Deus são, em muitos aspectos, profundamente
modificadas15. A novidade é tal, que a maldição que atinge o Messias
crucificado se transforma em bênção para todos os povosl6 e o regime da
Lei é substituído pela fé em Jesus Salvador17.
11. A morte e a ressurreição de Jesus, pelas quais o Espírito foi infundido
no coração dos homens, mostraram as insuficiências da sabedoria e da
moral puramente humanas, e mesmo da própria Lei, embora dada por
Deus a Moisés, porque se limitavam a dar o conhecimento do bem sem
oferecer a força para o praticar, e o conhecimento do pecado sem o poder
para, a ele, se subtrair18.
II. A presença de Cristo na cultura e nas culturas
A. A particularidade de Cristo, Senhor e Salvador universal

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12. A incarnação do Filho de Deus, porque integral e concreta, foi uma
incarnação cultural. «Cristo aceitou, pela sua incarnação, as condições
sociais e culturais dos homens com quem conviveu.»19
13. O Filho de Deus quis ser um judeu de Nazaré, na Galileia, falando
aramaico, obedecendo a pais piedosos de Israel, acompanhando-os ao
Templo de Jerusalém, onde o encontraram «sentado no meio dos doutores,
escutando-os e interrogando-os.»20 Jesus cresceu entre os costumes e
instituições da Palestina do primeiro século e iniciou-se nos ofícios
próprios da sua época, observando o comportamento dos pescadores, dos
camponeses e dos comerciantes. As cenas e as paisagens que alimentaram
a imaginação do futuro rabi são as de um determinado país e de uma
determinada época.
14. Alimentado pela piedade de Israel, formado pelo ensinamento da Lei e
dos profetas, Jesus, a quem uma singular experiência de Deus como Pai
confere profundidade insondável, situa-se numa tradição espiritual bem
determinada — a do profetismo judaico. Como os profetas de antanho, ele
é a boca de Deus que apela à conversão. Os modos de expressão são
igualmente típicos — o vocabulário, os géneros literários, os processos de
estilo — e recordam a linhagem de Elias e Eliseu no paralelismo bíblico,
nos provérbios, paradoxos, admonições, bem-aventuranças e até nas
acções simbólicas.
15. Jesus está de tal modo ligado à vida de Israel que o povo e a tradição
religiosa onde se situa, possuem, por este facto, algo de singular na
história da salvação dos homens; o povo eleito e a tradição que nos deixou
por herança têm um significado permanente para toda a humanidade.
16. É que a Incarnação nada tem de improvisado. O Verbo de Deus entra
numa história que o prepara, o anuncia e o prefigura. Em primeiro lugar,
pode dizer-se que Cristo se incorpora no povo que Deus formou para si,
tendo precisamente em vista o dom que havia de fazer do seu Filho. Todas
as palavras proferidas pelos profetas anunciam a Palavra subsistente que é
o Filho de Deus.
17. Também a história da aliança concluída com Abraão e, por Moisés,
com o povo de Israel, e os livros que contam e iluminam esta história, têm
a função de uma indispensável e insubstituível pedagogia para os fiéis de
Jesus. Aliás, a eleição deste povo donde saiu Jesus nunca viria a ser
revogada. «Os que são do mesmo sangue que eu, segundo a carne, que são
israelitas» — diz S. Paulo —, a esses «pertencem a filiação adoptiva, a
glória, as alianças, a legislação, o culto, as promessas; dos quais são os
patriarcas e dos quais nasceu Cristo, segundo a carne, o qual está sobre
todas as coisas, Deus bendito por todos os séculos! Amen.»21 A boa
oliveira não perdeu os seus privilégios em favor da oliveira brava que foi
enxertada sobre ela22.
B. A catolicidade do Único
18. Por muito particular que seja a condição do Verbo feito carne — e,

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consequentemente, a cultura que o acolhe, o forma e o prolonga —, não
foi a esta particularidade que o Filho de Deus se uniu em primeiro lugar.
Foi porque se fez homem que Deus assumiu, de certa maneira, uma raça,
um país, uma época. «Porque n'Ele a natureza humana foi assumida, não
absorvida, por isso mesmo esta natureza foi elevada, também em nós, a
uma dignidade sem par. Com efeito, pela Sua Incarnação, o Filho de Deus
uniu-se de algum modo a todo o homem.»23
19. Portanto a transcendência de Cristo não o isola acima da família
humana, antes o torna presente a todo o homem, para além de todo e
qualquer particularismo. «Não pode ser considerado estranho a ninguém
nem em nenhuma parte.»24 «Não há judeu nem grego; não há servo nem
livre; não há homem nem mulher, pois todos vós sois um em
Cristo.»25 Cristo vem ao nosso encontro, tanto na unidade que formamos,
como na multiplicidade e diversidade dos indivíduos em que se realiza a
nossa natureza comum.
20. E, no entanto, Cristo não viria ao nosso encontro na verdade da nossa
humanidade concreta, se não nos atingisse na diversidade e na
complementaridade das nossas culturas. Porque são as culturas — língua,
história, atitude perante a vida, instituições diversas — que, para o melhor
ou para o pior, nos acolhem na vida, nos formam, nos acompanham e nos
prolongam. Se a totalidade do cosmos é, misteriosamente, o lugar da graça
e do pecado, como o não serão também as nossas culturas que são os
frutos e os germes da actividade propriamente humana?
21. No Corpo de Cristo, as culturas, animadas e renovadas pela graça e
pela fé, são complementares. Elas permitem ver a fecundidade multiforme
que possuem os ensinamentos e energias do mesmo Evangelho, e que são
os mesmos princípios de verdade, de justiça, de amor e liberdade, quando
revestidos pelo Espírito de Cristo.
22. Por último, devemos lembrar que não é por qualquer estratégia de
interesses que a Igreja, esposa do Verbo incarnado, se preocupa com as
culturas da humanidade. A Igreja quer animar interiormente, proteger,
libertar do erro e do pecado com que os corrompemos, estes recursos de
verdade e de amor que Deus dispôs, como semina Verbi, na sua criação. O
Verbo de Deus não vem a uma criação que lhe fosse estranha. «Tudo foi
criado por Ele e para Ele; Ele existe antes de todas as coisas e todas têm
n'Ele a sua subsistência.»26
A Igreja dos Apóstolos e o Espírito Santo
I. De Jerusalém às Nações: os começos típicos da inculturação da fé
23. No dia de Pentecostes, a irrupção do Espírito Santo inaugura a relação
da fé cristã e das culturas, como acontecimento de perfeita realização e de
plenitude: a promessa da salvação, realizada por Cristo ressuscitado,
enche o coração dos crentes pela efusão do próprio Espírito Santo. As
«maravilhas de Deus» serão, daqui em diante, «publicadas» a todos os
homens de todas as línguas e de todas as culturas27. Quando a humanidade

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vive sob o signo da divisão de Babel, o dom do Espírito Santo é-lhe
oferecido como a graça, transcendente e tão humana, da sinfonia dos
corações. A Comunhão divina (koinonia)28 recria uma nova Comunidade
entre os homens, penetrando, sem o destruir, esse sinal da sua divisão: as
línguas.
24. O Espírito Santo não instaura uma super-cultura, mas constitui o
princípio pessoal e vital que vivificará a nova Comunidade em sinergia
com os seus membros. O dom do Espírito Santo não é da ordem das
estruturas, mas a Igreja de Jerusalém que ele forma é koinonia de fé e de
ágape, que se comunica na pluralidade sem se dividir; é Corpo de Cristo
cujos membros estão unidos sem uniformidade. A primeira prova de
catolicidade surge quando as diferenças ligadas à cultura (conflito entre
helenos e hebreus) ameaçam a Comunhão29. Os Apóstolos não suprimem
as diferenças, mas darão desenvolvimento a uma função essencial ao
Corpo eclesial: a diaconia ao serviço da koinonia.
25. Para que a Boa Nova seja anunciada às nações, o Espírito Santo
suscita um novo discernimento em Pedro e na Comunidade de Jerusalém
30: a fé em Cristo não exige dos novos crentes o abandono da sua cultura
para adoptar a Lei do povo judeu; todos os povos são chamados a
beneficiar da Promessa e a partilhar da herança confiada para eles ao Povo
da Aliança31. Portanto, «nada para além do necessário», segundo a decisão
da assembleia apostólica32.
26. Mas, sendo escândalo para os Judeus, o mistério da Cruz é loucura
para os pagãos. Aqui, a inculturação da fé opõe-se ao pecado radical que
retém «cativa»33 a verdade de uma cultura que não é assumida por Cristo:
a idolatria. Enquanto o homem estiver «privado da Glória de Deus»34,
tudo o que ele «cultiva» é imagem opaca de si próprio. O kerigma paulino
parte, assim, da Criação e da vocação à Aliança, denuncia as perversões
morais da humanidade e anuncia a salvação em Cristo crucificado e
ressuscitado.
27. Depois da prova de catolicidade entre comunidades cristãs
culturalmente diferentes, depois das resistências do legalismo judaico e da
idolatria, a fé enfeuda-se à cultura no gnosticismo. O fenómeno surge na
época das últimas cartas de Paulo e João, e alimentará a maior parte das
crises doutrinais dos séculos seguintes. Aqui, a razão humana, ferida pelo
pecado, recusa a loucura da Incarnação do Filho de Deus e procura
recuperar o Mistério acomodando-o à cultura reinante. Ora «a fé não se
apoia na sabedoria dos homens, mas no poder de Deus.»35
II. A Tradição Apostólica: inculturação da fé e salvação da cultura
28. Nos «últimos tempos», inaugurados com o Pentecostes, Cristo
ressuscitado, Alfa e Omega, entra na história dos povos: a partir daí, o
sentido da história, e portanto também o da cultura, é desselado 36; o
Espírito Santo revela-o, actualizando-o e comunicando-o a todos. A Igreja
é o sacramento desta Comunhão; recentra toda a cultura em que Cristo é
acolhido, colocando-a no eixo do «mundo que vem», e restaura a

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Comunhão destruída pelo «príncipe deste mundo». A cultura está, assim,
em situação escatológica porque tende para a sua realização em Cristo,
mas não pode ser salva senão associando-se ao repúdio do mal.
29. Cada Igreja local ou particular é chamada a ser, no Espírito Santo, o
sacramento que manifesta Cristo, crucificado e ressuscitado, na carne de
uma cultura particular:
a) A cultura de uma Igreja local — jovem ou antiga — participa no
dinamismo das culturas e nas suas vicissitudes; mesmo em situação
escatológica, permanece submetida a provações e a tentações37.
b) A «novidade cristã» gera, nas Igrejas locais, expressões culturalmente
tipificadas (modalidades de formulações doutrinais, simbolismos
litúrgicos, tipos de santidade, directivas canónicas, etc.). Mas a Comunhão
entre as Igrejas exige constantemente que a «carne» cultural de cada uma
não impeça o reconhecimento mútuo na fé apostólica, e a solidariedade no
amor.
c) Qualquer Igreja enviada às nações só testemunha o seu Senhor quando,
nas suas ligações culturais, se conforma a Ele na kenose primeira da sua
Incarnação e na humilhação última da sua Paixão vivificante. A
inculturação da fé é uma das expressões da Tradição apostólica, cujo
carácter dramático Paulo sublinha por várias vezes38.
30. Os escritos apostólicos e os testemunhos patrísticos não limitam a sua
visão da cultura ao serviço da evangelização, integram-na na totalidade do
Mistério de Cristo. Para eles, a criação é o reflexo da Glória de Deus, o
homem é o seu ícone vivo, e é em Cristo que nos é feito o dom da
semelhança de Deus. A cultura é o lugar em que o homem e o mundo são
chamados a encontrar-se na Glória de Deus. Na medida em que o homem
é pecador, o encontro, ou não se realiza, ou é obscurecido. No interior da
criação cativa vive-se a gestação do «novo universo»39; a Igreja está «em
trabalho de parto»40. Nela e por ela, as criaturas deste mundo podem viver
a sua redenção e a sua transfiguração.
III. PROBLEMAS GERAIS DA INCULTURAÇÃO
A PIEDADE POPULAR
O ENCONTRO COM AS IGREJAS NÃO-CRISTÃS
JOVENS IGREJAS, PASSADO CRISTÃO E CULTURA ANCESTRAL
A FÉ CRISTÃ E A MODERNIDADE
1. A inculturação da fé, que primeiro considerámos de um ponto de vista
filosófico (natureza, cultura e graça) e, depois, do ponto de vista da
história e do dogma (a inculturação na história da salvação), põe ainda
problemas consideráveis à reflexão teológica e à acção pastoral. No século
XVI, a descoberta de novos mundos levantou interrogações que
continuam a preocupar-nos. Como conciliar a fé com as expressões
espontâneas da religiosidade dos povos? Que atitude adoptar perante as
religiões não-cristãs, principalmente as que estão «ligadas ao progresso da

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2.1 Page 11

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cultura»?1 Novas questões surgem também no nosso tempo. Como é que
as «jovens Igrejas», nascidas da indigenização de comunidades cristãs já
existentes, devem considerar o seu passado cristão e a história cultural dos
seus respectivos povos? Finalmente, como é que o Evangelho deve
animar, purificar e fortificar o mundo novo que nos trouxe a
industrialização e a urbanização? Estas quatro questões parecem impor-se
a quem reflecte nas condições actuais da inculturação da fé.
A Piedade popular
2. Por piedade popular, nos países que foram tocados pelo Evangelho,
entende-se a união da fé e piedade cristãs, por um lado, com a cultura
profunda e as formas da religião anterior das populações, por outro. Trata-
se daquelas inúmeras devoções pelas quais os cristãos exprimem o seu
sentimento religioso em formas simples de linguagem, como as da festa e
da romaria, da dança e dos cantares. Para falar desta piedade que une «o
corpo e o espírito, a comunhão eclesial e a instituição, o indivíduo e a
comunidade, a fé cristã e o amor à pátria, a inteligência e a afectividade»,
usou-se a expressão de síntese vital2. A qualidade da síntese advém não só
da antiguidade e profundidade da evangelização, mas ainda da
compatibilidade dos antecedentes religiosos e culturais com a fé cristã.
3. Na exortação apostólica Evangelii nuntiandi, Paulo VI ratificou e
encorajou uma nova apreciação da piedade popular. «Estas expressões
(particulares da procura de Deus e da fé), consideradas durante muito
tempo como menos puras e que foram, por vezes, até desdenhadas, são
hoje, um pouco por toda a parte, objecto de uma nova descoberta.»3
4. «Se é bem orientada, principalmente por uma pedagogia de
evangelização, continuava Paulo VI, (a piedade popular) é rica em valores.
Ela traduz uma sede de Deus que só os simples e os pobres podem
conhecer; quando se trata de manifestar a fé, é capaz de generosidade e
sacrifício até ao heroísmo; possui apurado sentido dos atributos profundos
de Deus, como a paternidade, a providência, a presença amável e
constante; gera atitudes interiores raramente observadas, com tal
intensidade, fora deste domínio — paciência, sentido da cruz na vida
quotidiana, desprendimento, abertura aos outros, devoção.»4
5. A força e a profundidade das raízes da piedade popular manifestaram-
se, claramente, neste longo período de descrédito de que falava Paulo VI.
As expressões da piedade popular sobreviveram às numerosas predições
de desaparecimento que a modernidade e os progressos do secularismo
pareciam caucionar, e conservaram a atracção que exercem sobre as
multidões, desenvolvendo-a mesmo em muitas regiões do globo.
6. Denunciaram-se, várias vezes, os limites da piedade popular por causa
de certo simplismo, fonte de diversas deformações da religião e até de
superstições. Fica-se, neste caso, ao nível das manifestações culturais, sem
que haja um comprometimento na verdadeira adesão de fé e na expressão
dessa fé no serviço do próximo. Mal orientada, a piedade popular pode
mesmo conduzir à formação de seitas e pôr em perigo a verdadeira

2.2 Page 12

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comunidade eclesial; corre ainda o risco de ser manipulada, quer pelos
poderes políticos, quer por forças religiosas estranhas à fé cristã.
7. A consciência destes perigos convida à prática de uma catequese
inteligente, rendida aos méritos de uma piedade popular autêntica e,
simultaneamente, capaz de discernimento. A integração de uma fé muito
pura e das formas tradicionais da vida religiosa dos povos requere ainda
uma liturgia viva e adaptada. A piedade popular pode, sem qualquer
dúvida, trazer insubstituível contribuição para uma antropologia cultural
cristã que permita reduzir a distância, por vezes trágica, entre a fé dos
cristãos e certas instituições sócio-económicas, de orientação bem
diferente, que regem a sua vida quotidiana.
Inculturação da fé e Religiões não cristãs
8. AS RELIGIÕES NÃO-CRISTÃS — Desde as suas origens, a Igreja
defrontou-se, a muitos níveis, com a questão da pluralidade de religiões.
Ainda hoje, os cristãos constituem apenas um terço da população mundial,
pelo que terão de viver num mundo que manifesta uma crescente simpatia
pelo pluralismo em matéria religiosa.
9. Tendo em conta o lugar importante da religião na cultura, uma Igreja
local ou particular implantada num meio sócio-cultural não cristão, deve
ter seriamente em conta os elementos religiosos desse meio, avaliando-
lhes a profundidade e a vitalidade.
10. Se for permitido tomar como exemplo um continente, falaremos da
Ásia que viu nascer algumas das grandes correntes religiosas do mundo: o
hinduísmo, o budismo, o Islão, o confucionismo, o taoísmo e o xintoísmo.
Estes sistemas religiosos, ainda que em diferentes partes do continente,
estão profundamente enraizados nos povos e demonstram muito vigor. A
vida pessoal e a actividade social e comunitária foram marcadas, de forma
decisiva, por estas tradições religiosas e espirituais. As Igrejas da Ásia
consideram da maior importância e urgência a questão das religiões não-
cristãs, tomando-a como objecto daquela forma privilegiada de relação
que é o diálogo.
11. O DIÁLOGO DAS RELIGIÕES — O diálogo com as outras religiões
é parte integrante da vida dos cristãos. Quer se processe pela troca de
impressões, pelo estudo, ou pelo trabalho em comum, este diálogo, além
de fomentar o crescimento na piedade, contribui para uma melhor
inteligência da religião do outro.
12. Para a fé cristã, a unidade de todos os cristãos na sua origem e no seu
destino, ou seja, na criação e na comunhão com Deus em Jesus Cristo, é
assistida pela presença e acção universais do Espírito Santo. A Igreja em
diálogo escuta e aprende. «A Igreja Católica não rejeita absolutamente
nada daquilo que há de verdadeiro e santo nessas religiões. Considera com
sincero respeito esses modos de agir e de viver, esses preceitos e doutrinas
que, embora em muitos pontos estejam em discordância com aquilo que
ela afirma e ensina, muitas vezes reflectem um raio daquela Verdade que
ilumina todos os homens.»5

2.3 Page 13

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13. Este diálogo tem qualquer coisa de original, visto que — a história das
religiões o atesta — a pluralidade das religiões gerou muitas vezes
descriminação e ciúme, fanatismo e despotismo, tudo coisas que valeram à
religião a acusação de ser fonte de divisão na família humana. A Igreja,
«sacramento universal da salvação», ou seja, «sinal e instrumento da união
íntima com Deus e da unidade de todo género humano»6, é chamada por
Deus a ministrar e veicular a unidade em Jesus Cristo, para todos os
homens e para todos os povos.
14. A TRANSCENDÊNCIA DO EVANGELHO EM RELAÇÃO À
CULTURA — Não podemos, no entanto, esquecer a transcendência do
Evangelho em relação a todas as culturas humanas, em que a fé cristã está
vocacionada a enraizar-se e a desenvolver-se com todas as suas
virtualidades. Por muito grande que deva ser o respeito por tudo o que é
verdadeiro e santo na herança cultural de um povo, esta atitude não vai até
à exigência de conferir um carácter absoluto a essa herança cultural.
Ninguém pode esquecer que, desde a origem, o Evangelho foi «escândalo
para os Judeus e loucura para os pagãos»7. A inculturação que busca a via
do diálogo entre as religiões nunca poderá apadrinhar o sincretismo.
As Igrejas jovens e o seu passado cristão
15. A Igreja prolonga e actualiza o mistério do Servo de Yahvé, a quem foi
prometido que seria «luz das nações para que a salvação atinja os limites
da terra»8, e que seria «a Aliança do povo»9. Esta profecia realiza-se na
última Ceia, quando, na véspera da sua Paixão, Cristo, rodeado pelos
Doze, lhes deu o seu corpo e o seu sangue em alimento e bebida da Nova
Aliança, assimilando-os assim ao seu próprio corpo. Nascia então a Igreja,
povo da Nova Aliança. No Pentecostes receberá o Espírito de Cristo, o
Espírito do Cordeiro imolado desde as origens, e que actuava já para
acolher este voto tão profundamente enraizado nos seres humanos: a união
mais radical, no mais radical respeito pela diversidade.
16. Em virtude da comunhão católica que une todas as Igrejas particulares
numa mesma história, as jovens Igrejas consideram o passado das Igrejas
que lhes deram origem como parte da sua própria história. Mas o acto
interpretativo que sobretudo assinala a sua maturidade espiritual, consiste
no reconhecimento desta anterioridade como originária e não apenas como
histórica. Isto significa que, ao acolher na fé o Evangelho que lhes foi
transmitido pelos seus antepassados, as jovens Igrejas acolheram «o
próprio iniciador da fé»10, toda a Tradição onde a fé foi testemunhada,
assim como a capacidade de produzir formas originais em que se afirmará
a fé única e comum. Iguais em dignidade, vivendo do mesmo mistério,
autênticas Igrejas irmãs, as jovens Igrejas manifestam, de harmonia com
os seus antepassados, a plenitude do mistério de Cristo.
17. Como povo da Nova Aliança, evocando a memória do mistério pascal
e anunciando sem cessar a volta do Senhor, pode dizer-se que a Igreja é a
escatologia iniciada das tradições culturais dos povos, se, como é
evidente, estas tradições tiverem sido submetidas à lei purificadora da
morte e ressurreição de Jesus Cristo.

2.4 Page 14

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18. Como S. Paulo no areópago de Atenas, a jovem Igreja faz uma leitura
nova e criativa da cultura ancestral; quando esta cultura passa a pertencer
a Cristo, «o véu cai»11. No tempo de incubação da fé, esta Igreja tinha já
descoberto Cristo como «exegeta e exegese» do Pai, no Espírito 12; e não
cessa, aliás, de o contemplar como tal. Agora descobre-o também como
«exegeta e exegese» do homem, fonte e destinatário da cultura. Ao Deus
desconhecido revelado na cruz, corresponde o homem desconhecido que a
jovem Igreja anuncia, na sua qualidade de mistério vivo pascal,
inaugurado pela graça na antiga cultura.
19. A jovem Igreja esforça-se por descobrir, ao tornar presente a salvação,
todos os vestígios da solicitude de Deus por um grupo humano particular
— os semina Verbi. O que diz o prólogo da Epístola aos Hebreus sobre os
Pais e os Profetas, pode afirmar-se também em relação a Jesus Cristo; e é
ainda válido, analogicamente, para toda a cultura humana no que possui
de recto e verdadeiro e no que contém de sabedoria.
A Fé cristã e a modernidade
20. As mutações técnicas que provocaram a revolução industrial e, mais
tarde, a revolução urbana, afectaram a alma profunda das populações,
beneficiárias, mas quantas vezes igualmente vítimas, dessas
transformações. Do mesmo modo, se impõe aos crentes a urgente e difícil
tarefa de compreender a cultura moderna nos seus traços característicos,
mas também nas suas expectativas e necessidades em relação à salvação
trazida por Jesus Cristo.
21. A revolução industrial foi também uma revolução cultural. Valores até
aí assegurados — como o sentido do trabalho pessoal e comunitário, a
relação directa do homem com a natureza, a pertença a uma família de
apoio (na coabitação como no trabalho), o enraizamento em comunidades
locais e religiosas de dimensão humana, a participação em tradições, ritos,
cerimónias e celebrações que dão sentido aos grandes momentos da
existência — foram postos em causa. A industrialização, provocando uma
acumulação desordenada das populações, atingiu gravemente estes valores
seculares, sem suscitar comunidades capazes de integrar novas culturas.
No momento em que os povos mais desfavorecidos buscam um modelo de
desenvolvimento apropriado, as vantagens, mas também os riscos e os
custos humanos da industrialização, são melhor apreendidos.
22. Realizaram-se grandes progressos em muitos domínios da vida:
alimentação, saúde, educação, transportes, acesso a bens de consumo de
toda a espécie. No entanto, surgem inquietações profundas no inconsciente
colectivo. Em muitos países, a ideia de progresso deu lugar ao desencanto,
sobretudo depois da segunda guerra mundial. A racionalidade, em matéria
da produção e administração, quando esquece o bem das pessoas, trabalha
contra a razão. A emancipação das comunidades de pertença lançou o
homem na multidão solitária. Os novos meios de comunicação tanto
quebram estruturas como podem unir. A ciência, através das suas criações
técnicas, revela-se simultaneamente criadora e homicida. Muitos
desesperam da modernidade e falam de uma nova barbárie. Apesar de
tantos erros e insucessos, é necessário ter esperança num sobressalto

2.5 Page 15

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moral qualitativo de todas as nações, ricas e pobres. Se o Evangelho for
pregado e ouvido, é possível uma conversão cultural e espiritual que apele
à solidariedade, à preocupação pelo bem integral da pessoa, à promoção
da justiça e da paz, à adoração do Pai de quem procede todo o bem.
23. A inculturação do Evangelho nas sociedades modernas exigirá um
esforço metódico de pesquisa e acção concertadas. Este esforço há-de
requerer dos responsáveis pela evangelização: 1) uma atitude de
acolhimento e de discernimento crítico, 2) a capacidade de captar os
anseios espirituais e as aspirações humanas das novas culturas, 3) a
aptidão para a análise cultural em vista de um encontro efectivo com o
mundo moderno.
24. Com efeito, é necessária uma atitude de acolhimento para quem quiser
compreender e evangelizar o mundo deste tempo. A modernidade surge
acompanhada de progressos inegáveis em vários domínios materiais e
culturais: bem-estar, mobilidade humana, ciência, investigação, educação,
novo sentido da solidariedade. Além disso, a Igreja do Vaticano II tomou
consciência das novas condições em que deve exercer a sua missão,
porque é nas culturas da modernidade que se construirá a Igreja de
amanhã. A propósito do discernimento, aplica-se a recomendação
tradicional, retomada por Pio XII: «É preciso compreender mais
profundamente a civilização e as instituições dos diversos povos, e
cultivar as suas melhores qualidades e os seus melhores dons. Tudo aquilo
que, nos costumes dos povos, não estiver ligado indissoluvelmente a
superstições e a erros, deve ser examinado com benevolência e, se
possível, conservado intacto.»13
25. O Evangelho suscita questões fundamentais a quem reflecte sobre o
comportamento do homem moderno. Como fazer compreender a este
homem a radicalidade da mensagem de Cristo: a caridade incondicional, a
pobreza evangélica, a adoração do Pai e o consentimento constante à sua
Vontade? Como educar no sentido cristão do sofrimento e da morte?
Como suscitar a fé e a esperança na obra de ressurreição realizada por
Jesus Cristo?
26. É necessário desenvolver uma capacidade de analisar as culturas e de
lhes captar as incidências morais e espirituais. Impõe-se uma mobilização
de toda a Igreja para que a tarefa extremamente complexa da inculturação
do Evangelho no mundo moderno, seja empreendida com sucesso. Nesta
linha, é necessário que partilhemos a preocupação de João Paulo II:
«Desde o início do meu pontificado, considerei que o diálogo da Igreja
com as culturas do nosso tempo era um domínio vital onde se joga o
destino do mundo neste fim do século XX.»14
CONCLUSÃO
1. Depois de afirmar que «importava atingir e remodelar, pela força do
Evangelho, os critérios de apreciação, os valores determinantes, os centros
de interesse, as linhas de pensamento, as fontes de inspiração e os modelos
de vida que não estão de acordo com a palavra de Deus e os desígnios da
salvação», Paulo VI pedia «para se evangelizar — não de forma

2.6 Page 16

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decorativa, como verniz superficial, mas de modo vital, em profundidade,
e até às raízes — a cultura e as culturas do homem, no sentido rico e
amplo que estes termos possuem na Gaudium et spes... O Reino que o
Evangelho anuncia é vivido por homens profundamente ligados a uma
cultura; a construção do Reino não pode dispensar os elementos da cultura
e das culturas humanas.»1
2. «Neste final do século XX — dizia, por seu lado, João Paulo II — a
Igreja deve fazer-se tudo para todos, acolhendo com simpatia as culturas
hodiernas. Existem ainda meios e mentalidades, assim como países e
regiões inteiras por evangelizar, o que supõe um longo e corajoso
processo de inculturação, a fim de que o Evangelho penetre a alma das
culturas vivas, respondendo aos seus mais elevados anseios, e as faça
crescer até à própria dimensão da fé, da esperança e da caridade cristãs...
Por vezes, as culturas só foram atingidas superficialmente; e, de qualquer
modo, como se encontram em incessante transformação, exigem uma
aproximação renovada... E sempre aparecem novos sectores de cultura,
com objectivos, métodos e linguagens diversos.»2
ANEXO
Relação das diferentes comunicações preparatórias
Foi a partir destes trabalhos (que permanecem propriedade dos seus
autores, que os escreveram sob a sua única responsabilidade), que Gilles
Langevin, SJ, presidente da subcomissão e redactor principal, compôs a
síntese que a Comissão Teológica Internacional aprovou em três votações
sucessivas, depois de as duas primeiras versões terem sofrido as
necessárias melhorias.
Elenco dos assuntos tratados:
I — Diversos aspectos da reflexão e da acção da Igreja sobre o problema
da inculturação:
1. Estado da questão no que respeita ao Magistério
1.1. O Concílio Vaticano II e os Sínodos (Philippe Delhaye)
1.2. As alocuções pontifícias (André-Jean Léonard)
2. A Teologia e a acção pastoral:
2.1. na Ásia (Peter Miyakawa)
2.2. na África (James Okoye)
2.3. na América Latina (José Miguel Ibánez Langlois)
2.4. no Mundo Atlântico (Giuseppe Colombo)
II — Sagrada Escritura e Teologia

2.7 Page 17

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1. O Pai: Antigo Testamento e Judaísmo (Hans Urs von Balthasar)
2. Jesus Cristo:
2.1. A assunção da natureza humana (Gilles Langevin)
2.2. A salvação e a divinização (Francis Moloney)
3. O Espírito Santo e a Igreja (Jean Corbon)
III — Antropologia
A natureza criada, decaída e resgatada (Georges Cottier)
IV — Eclesiologia
1. As religiões não-cristãs (Félix Wilfred)
2. As relações das jovens Igrejas com as antigas tradições eclesiásticas
(Barthélemy Adoukonou)
Documento em forma de Conclusão pastoral: A modernidade (Hervé
Carrier).
* Documento preparado pela Comissão Teológica Internacional no
decurso da sessão plenária de Dezembro de 1987, largamente aprovado in
forma specifica na sessão plenária de Outubro de 1988, e publicado com o
placet do Cardeal Joseph Ratzinger, Presidente da Comissão. Em Anexo,
encontrar-se-á o nome dos membros que, mais particularmente,
contribuíram para a elaboração deste texto.
NOTAS
INTRODUÇÃO:
1 O pluralismo teológico (1972), A promoção humana e a salvação cristã
(1976), A doutrina católica sobre o sacramento do matrimónio (1977),
Questões escolhidas de cristologia (1979). Estes textos poderão ser
consultados na sua edição oficial (em latim e tradução italiana):
Commissio Theologica Internationalis — Comissione Teologica
Internazionale, Documenta — Documenti (1969-1985), Libreria Editrice
Vaticana, 1988; ou na publicação francesa: Commission Théologique
Internationale, Textes et Documents (1969-1985), Paris, Cerf, 1988. Está a
ser feita a tradução portuguesa que constituirá o volume I da presente
obra.
2 Temas escolhidos de eclesiologia por ocasião do vigésimo aniversário
do Concílio Vaticano II (1984). Cf. nota anterior.

2.8 Page 18

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3 Comissão Bíblica Pontifícia, Fede e cultura alla luce della Bibbia. Foi
et culture à la lumière da la Bible, Torino, Editrice Elle Di Ci, 1981.
4 Vaticano II, Constituição pastoral «Gaudium et Spes» sobre a Igreja no
mundo contemporâneo, n. 44 (Caminhos da Justiça e da Paz. Doutrina
Social da Igreja, Lisboa, Rei dos Livros, 21989, p. 323 s).
5 Ibidem, n. 53-62 (Caminhos, p. 332-340).
6 Paulo VI, Exortação apostólica «Evangelii nuntiandi» sobre a
evangelização
no mundo moderno, n. 18-20 (Caminhos, p. 458 s).
7 João Paulo II, Exortação apostólica «Catechesi tradendae» sobre a
catequese no nosso tempo, n. 53 (Trad. port., Lisboa, União Gráfica 1979,
p. 72 ss).
8 Sínodo Extraordinário por ocasião do 20.° aniversário do encerramento
do Concílio Vaticano II, Relatório final votado pelos Padres, 7 de
Dezembro de 1985; Edição do Secretariado Geral do Episcopado, Braga,
Editorial A.O., 1986, p. 53.
9 João Paulo II, Carta autografa de fundação do Conselho Pontifício para
a Cultura, 20 de Maio de 1982, em Acta Apostolicae Sedis, 74 (1983)
683-688; La Documentation Catholique, 79, 20 juin 1982, p. 604-606.
10 João Paulo II, Mensagem aos intelectuais proferida na Universidade de
Coimbra, 15 de Maio de 1982, em Discursos do Papa João Paulo II em
Portugal, Lisboa, Rei dos Livros, 1982, p. 169-178.
11 João Paulo II, Discurso aos membros do Conselho Pontifício para a
Cultura, 18 de Janeiro de 1983, em La Documentation Catholique, 80, 6
février 1983, p. 147.
CAPÍTULO I:
1 Paulo VI, Encíclica «Humanae vitae» sobre a regulação dos
nascimentos, n. 10 (Trad. port., Lisboa, União Gráfica, 1968, p. 13).
2 Vaticano II, Constituição Pastoral «Gaudium et Spes» sobre a Igreja no
mundo contemporâneo, n. 53 (Caminhos, p. 332 s).
3 Ibidem.
4 João Paulo II, Encíclica «Slavorum Apostoli» por ocasião do 11.°
centenário da obra de evangelização dos santos Cirilo e Metódio, 2 de
Junho 1985, n. 21 (Edição do Secretariado Geral do Episcopado, Braga,
Editorial A.O., 1985, p. 27).
CAPÍTULO II:

2.9 Page 19

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1 Vaticano II, Constituição dogmática «Dei Verbum» sobre a revelação
divina, n. 13 (Vaticano II, Braga, SNAO, 71976, p. 228).
2 Cf. Rom 11, 11-24.
3 Gn 1, 1-2. 4a.
4 Cf. Gn 9,1-17; Ecli 44, 17-18.
5 Gn 12, 1-5; Jer 4, 2; Ecli 44, 21.
6 Lc 24, 27. 44.
7 Mc 13, 10; Mt 12, 21; Lc 2, 32.
8 Mt 11, 19; Lc 7, 35.
9 Sl 93, 1-4; Is 6, 1.
10 Mc 1, 15; Mt 12, 29; Lc 11, 20; 17, 21.
11 Mt 20, 1-16; Lc 15, 11-32; 18, 9-14.
12 Mc 14, 36.
13 Mc 1, 14-45; 10, 2-9; Mt 5, 21-48.
14 Rom 5, 12-19; 1 Cor 15, 20-22.
15 Mc 8, 27-33; 1 Cor 1, 18-25.
16 Gal 3, 13; Dt 21, 22-23.
17 Gal 3,12-14.
18 Rom 7, 16 ss; 3, 20; 7, 7; 1 Tim 1, 8.
19 Vaticano II, Decreto «Ad Gentes» sobre a actividade missionária da
Igreja, n. 10 (Vaticano II, p. 287).
20 Lc 2, 46.
21 Rom 9, 3-5.
22 Rom 11, 24.
23 Vaticano II, Constituição pastoral «Gaudium et Spes» sobre a Igreja no
mundo contemporâneo, n. 22 (Caminhos p. 305).

2.10 Page 20

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24 Vaticano II, Decreto «Ad Gentes» sobre a actividade missionária da
Igreja, n. 8 (Vaticano II, p. 285).
25 Gal 3, 28.
26 Col 1, 16-17.
27 Act 2, 11.
28 Act 2, 42.
29 Act 6, 1 ss.
30 Act 10 e 11.
31 Ef 2, 14-15.
32 Act 15, 28.
33 Rom 1, 18.
34 Rom 3,23.
35 1 Cor 2, 4 ss.
36 Ap 5, 1-5.
37 Cf. Ap 2 e 3.
38 1 e 2 Cor passim.
39 Ap 21, 5.
40 Cf. Rom 8, 18-25.
CAPÍTULO III:
1 Vaticano II, Declaração «Nostra Aetate» sobre as relações da Igreja
com as religiões não-cristãs, n. 2 (Vaticano II, p. 215).
2 Terceira conferência geral dos bispos da América Latina, A
Evangelização no presente e no futuro da América Latina, n. 448
(Puebla..., Petrópolis, Vozes, 21979, p. 153 s).
3 Paulo VI, Exortação apostólica «Evangelii nuntiandi» sobre a
evangelização no mundo moderno, 8 de Dezembro de 1975, n. 48
(Caminhos, p. 473).

3 Pages 21-30

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3.1 Page 21

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4 Ibidem.
5 Vaticano II, Declaração «Nostra Aetate» sobre as relações da Igreja
com as religiões não-cristãs, n. 2 (Vaticano II, p. 216).
6 Vaticano II, Constituição dogmática «Lumen Gentium» sobre a Igreja, n.
1 (Vaticano II, p. 59).
7 1 Cor 1, 23.
8 Is 49, 6.
9 Is 49, 8.
10 Heb 12, 2.
11 2 Cor 3,16.
12 Cf. Henri de Lubac, Exegese médievale, t. I, Collection Théologie, n.
41, Paris, Aubier, 1959, p. 322-324.
13 Pio XII, Encíclica «Summi Pontificatus» sob o signo de Cristo-Rei, 20
de Outubro de 1939, em La Documentation catholique, 40, 5 décembre
1939, c. 1261.
14 João Paulo II, Carta autografa de fundação do Conselho Pontifício
para a Cultura, 20 de Maio de 1982, em la Documentation catholique, 79,
20 Juin 1982, p. 604.
CONCLUSÃO:
1 Paulo VI, Exortação apostólica «Evangelii nuntiandi» sobre a
evangelização no mundo moderno, n. 19-20 (Caminhos, p. 459).
2 João Paulo II, Discurso aos membros do Conselho Pontifício para a
Cultura, 18 de Janeiro de 1983, em La Documentation Catholique, 80, 6
Février 1983, p. 147.