A_vida_como_oracao


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32ATOS DO CONSELHO GERAL
2.2. A VIDA COMO ORAÇÃO
P. Ivo COELHO
Conselheiro para a Formação
O Reitor-Mor, em sua Apresentação dos Documentos do CG27,
ao falar da “graça de unidade”, escreve: “é o caminho para responder
com generosidade e sermos nós mesmos: salesianos consagrados, ir-
mãos a serviço dos jovens. Acolhendo este dom encontraremos um tra-
ço característico da nossa espiritualidade que é a união com Deus; ela
favorece a unificação da vida: oração e trabalho, ação e contemplação,
reflexão e apostolado” (CG27, p. 10). O mesmo Capítulo escolheu o
ícone da videira e dos ramos como símbolo da unidade profunda entre
ser místicos no Espírito, profetas de fraternidade e servos dos jovens.
Queremos oferecer este subsídio em vista da unificação que nos faça
ser contemplativos na ação (C. 12), pessoas com “um projeto de vida
fortemente unitário”, como o do nosso pai Dom Bosco (C. 21).
Sem dúvida, a nossa vida caracteriza-se pelo trabalho incansá-
vel, na fidelidade ao lema “trabalho e temperança”, e principalmente
no exemplo do nosso Pai Dom Bosco. Entretanto, este trabalho não se
se torna muitas vezes um grande risco, um obstáculo à nossa oração?
Não nos referimos apenas “às” orações, entendidas como práticas de
piedade, mas, sobretudo, à união com Deus que deve caracterizar toda a
nossa vida. Recordando a bela frase de Santa Teresa de Jesus “que a ora-
ção mental não é outra coisa senão amizade, tratando-se frequentemente
de estar sozinhos com quem sabemos que nos ama”,2 a questão é esta:
como fazer da nossa vida uma experiência de Deus, um encontro de
amor com Ele? E como poderia a nossa missão dar a toda a nossa exis-
tência o seu tom concreto (C. 3), de modo que a vida se torne oração?
2 “Que no es otra cosa oración mental, a mi parecer, sino tratar de amistad, estando
muchas veces tratando a solas con quien sabemos que nos ama.” S. Teresa di Gesù,
Vida 8, 5.

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ORIENTAÇÕES E DIRETRIZES 33
A nossa Regra de Vida, na primeira sessão, em que se apresenta
a identidade fundamental do salesiano, afirma:
“Trabalhando pela salvação da juventude, o salesiano faz ex-
periência da paternidade de Deus e reaviva continuamente a
dimensão divina da própria atividade: ‘Sem mim nada podeis
fazer’ (Jo 15,5). Cultiva a união com Deus, consciente da ne-
cessidade de rezar sem interrupção em diálogo simples e cor-
dial com o Cristo vivo e com o Pai que sente perto de si. Atento
à presença do Espírito e tudo fazendo por amor de Deus, torna-
se, como Dom Bosco, contemplativo na ação” (C. 12).
Como poderemos transformar este ideal em realidade? Aqui,
convém fazer um esclarecimento necessário: não se trata de diminuir a
importância das práticas sacramentais e de piedade, através das quais
se torna concreto o nosso diálogo com o Senhor. Contudo, para além
delas, perguntamo-nos como a nossa vida e trabalho poderiam ser ex-
periência de Deus.
“A vida como oração”: identidade da oração salesiana
Parece-me que a esta questão, essencial para a nossa vida de
consagrados apóstolos, responde de maneira extraordinariamente rica
o artigo 95 das nossas Constituições, que traz, com efeito, como título,
“A vida como oração”:
“Imerso no mundo e nas preocupações da vida pastoral, o sa-
lesiano aprende a encontrar Deus naqueles a quem é mandado.
Descobrindo os frutos do Espírito1 na vida dos homens, espe-
cialmente dos jovens, dá graças em todas as coisas:2 partilhan-
do seus problemas e sofrimentos, invoca para eles a luz e a for-
ça de sua presença. Alimenta-se da caridade do Bom Pastor, de
quem quer ser testemunha, e participa das riquezas espirituais

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34ATOS DO CONSELHO GERAL
que a comunidade lhe oferece. A necessidade de Deus, senti-
da no trabalho apostólico, leva-o a celebrar a liturgia da vida,
até chegar à «operosidade incansável, santificada pela oração
e pela união com Deus, que deve ser a característica dos filhos
de Dom Bosco”.3
A fim de sublinhar alguns elementos deste belíssimo texto, gos-
taria de fazer uma comparação com a versão prévia nas Constituições
ad experimentum do Capítulo Geral Especial (1972). Então, o texto
expressava mais a problemática da síntese entre oração e trabalho:
“Ao salesiano, imerso no mundo e nas preocupações da vida apos-
tólica, encontrar-se com Deus na liberdade e espontaneidade de
filho pode, às vezes, ser difícil”. Era sem dúvida uma constatação
verdadeira e concreta, mas ao mesmo tempo envolvia certa dicotomia,
que novamente se fazia presente no final quando dizia: “a necessidade
interior de Deus leva-nos a viver n’Ele a liturgia da vida, oferecendo-
nos a nós mesmos no trabalho cotidiano ‘como hóstias vivas, santas e
agradáveis a Deus’ (Rm 12,1)” (C. 67, 1972). Também isso é verdade,
e reflete toda a tradição espiritual da Igreja, mas podemos nos pergun-
tar: não será muito genérico, de modo que possa ser aplicado a todo
trabalho e a todo tipo de espiritualidade?
Diferentemente, o artigo atual procura superar esta possível di-
cotomia, na sua mesma raiz, isto é, na maneira de entender salesiana-
mente a relação entre o nosso trabalho e a união com Deus. Podemos
acrescentar que não foi fácil; de fato, o processo de elaboração deste
artigo, verdadeira joia de espiritualidade salesiana, só encontrou uma
síntese bem-sucedida e iluminante na última redação no final do Ca-
3 Enquanto a união com Deus é o tema de C. 12, C. 95, sobre a vida como oração,
ocupa um lugar muito especial nas Constituições, indo justamente ao mesmo fim, não
só no cap. VI, “Em diálogo com o Senhor”, mas também na Segunda Parte das nossas
Constituições: Enviados aos jovens – em comunidades – no seguimento de Cristo. O
CG22 era extremamente sensível à estrutura das Constituições e a colocação de C.
95 faz uma espécie de síntese não só da nossa vida de oração, mas também de toda a
nossa vida. Ele trata precisamente da vida como oração.

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ORIENTAÇÕES E DIRETRIZES 35
pítulo. Isso se vê desde o início do artigo, que oferece um contraste
explícito com o texto anterior: “imerso no mundo e nas preocupações
da vida pastoral, o salesiano aprende a encontrar Deus naqueles a
quem é enviado”. E, no final, sublinha-se a mesma coisa: “a necessi-
dade de Deus, sentida no trabalho apostólico...”.
Gostaria de convidar-vos a uma leitura atenta e cuidadosa deste
artigo, para descobrir nele alguns elementos preciosos que constituem
uma criteriologia que nos ajuda a discernir se a nossa ação está se tor-
nando realmente oração, experiência de Deus. Ao mesmo tempo, esta
criteriologia oferece-nos as “condições possíveis” para realizá-lo.
1. Em primeiro lugar, encontramos um elemento essencial e in-
dispensável: estar entre os jovens e com eles. Esta “presença
ativa e amiga” (C. 39), que chamamos de “assistência”, não
tem nada a ver com aquela de um policial que se interessa
apenas em manter a ordem, mas não constitui também ape-
nas a “base” para depois fazer outras coisas, mais impor-
tantes. Somos chamados não a “fazer muitas coisas”, mas
a ser como Jesus epifania, revelação, Rosto do Pai; a nossa
missão consiste em ser sinais e portadores do seu amor (C.
2). A presença salesiana constitui uma mediação concreta da
presença do “Deus-conosco”; e, de alguma maneira, pode-
mos dizer que é uma antecipação daquilo que Jesus pediu ao
Pai para todos nós: “Pai, quero que também aqueles que me
deste estejam comigo onde eu estou” (Jo 17,24). Este “estar-
com” constitui o núcleo da vida eterna: estar com Deus e
com todos os nossos irmãos e irmãs.4 Não podemos ignorar
4 Vale a pena deter-se na presença salesiana como antecipação da vida eterna, e
essencialmente como um estar com Deus e com todos os nossos irmãos e irmãs. Sobre
o primeiro ponto, cf. J. Ratzinger, My Joy is to Be in Thy Presence: On the Christian
Belief in Eternal Life”, in J. Ratzinger, God is Near Us: The Eucharist, the Heart of
Life (San Francisco: Ignatius Press, 2003). Sobre o segundo ponto, cf. a fascinante
sugestão de J. Alison: “a alegria posta diante de [Jesus]” (cf. Hb 12,2) era precisamente
“a possibilidade de alegrar-se para sempre numa grande celebração, juntamente com

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36ATOS DO CONSELHO GERAL
que este é um dos aspectos nos quais todos somos chamados
a crescer: todos nós, e não só os jovens irmãos (significati-
vamente chamados, às vezes, de “assistentes”).
2. A nossa presença deve ter uma característica muito concre-
ta: a consciência de missão. O texto constitucional não diz
simplesmente “nas pessoas”, mas nem só “nos jovens”, mas
explicitamente: “naqueles a quem é enviado”. Apesar da
nossa boa vontade, não encontraremos o Senhor a não ser
que o procuremos naqueles aos quais Ele mesmo nos envia.
Este é um dos elementos essenciais da obediência salesiana,
entendida como busca constante e apaixonada da vontade de
Deus, a exemplo de Jesus: “O meu alimento é fazer a vonta-
de d’Aquele que me enviou” (Jo 4,34). O que nem sempre é
fácil, sobretudo quando o trabalho não é “gratificante”.
3. Neste movimento em direção aos jovens aos quais somos
enviados, encontramos uma dialética interessante: Deus nos
espera nos destinatários da nossa missão, mas, ao mesmo
tempo, somos chamados a levar-lhes o seu Amor salvífico;
uma dialética que, em certo sentido, encontramos também
nas palavras de Jesus, em Mt 25,31-46. O que me parece ser
o elemento central, se a vida salesiana deve tornar-se oração.
Isto pode ser sintetizado na frase, “deixar Deus por Deus”
desde que seja bem entendida e não simplesmente como
uma desculpa conveniente para abandonar a “oração” pelo
“trabalho” ou vice-versa.
uma multidão de pessoas: bons, maus, depressivos, mas seres humanos e, por isso,
amados”. Cf. J. Alison, Raising Abel: The Recovery of the Eschatological Imagination
(New York, Crossroad, 1996), 189. “Onde estiver o teu tesouro, ali também estará o
teu coração” (Mt 6, 21). O coração de Jesus está, sem mais, centrado no seu Pai e em
todos nós, seus irmãos e irmãs.

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ORIENTAÇÕES E DIRETRIZES 37
4. A ação educativa e pastoral em favor dos jovens pressupõe
uma análise da realidade com base na fé na missão salesia-
na: envolve olhar para a realidade juvenil com o olhar de
Jesus, Bom Pastor, segundo o estilo de Dom Bosco. Esta
“leitura” determinará se a ação é realmente salesiana ou se
nos reduzimos a ser, como repetidamente diz o Papa Fran-
cisco, uma simples ONG que trabalha pela promoção da ju-
ventude. Este “olhar pastoral” – com “serena atenção, que
sabe manter-se plenamente presente diante de uma pessoa
sem estar pensando no que virá depois” (Laudato Si’ 226) –
nos permitirá discernir as prioridades evangélicas em nosso
trabalho e, ao mesmo tempo, reconhecer “a ação do Espíri-
to” na vida dos jovens; caso contrário, corremos o risco de
trabalhar muito, mas descuidando da missão – um perigo
muito real, dada a complexidade da realidade juvenil.
5. Uma característica da oração salesiana, sublinhada desde o
início em nossa Regra de Vida, é a relação inseparável com a
vida, segundo o exemplo de Dom Bosco, que “viveu a expe-
riência de uma oração humilde, confiante e apostólica, que
unia espontaneamente a oração com a vida” (C. 86). O mes-
mo artigo termina afirmando que a oração salesiana “adere à
vida e nela se prolonga”: cume e fonte, como diz o Concílio
Vaticano II ao falar da Eucaristia.
Não se trata, portanto, de “deixar na porta da capela” as nos-
sas preocupações, os nossos projetos pastorais, os nossos
entusiasmos e as nossas decepções; neste caso, quem entra-
ria em diálogo com Deus? Alguém vazio, sem identidade,
sem história, sem motivos para encontrar o Senhor... Como
vimos, o artigo 95 fala explicitamente da “necessidade de
Deus, experimentada no trabalho apostólico”.

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38ATOS DO CONSELHO GERAL
6. Tentando tornar este ponto ainda mais concreto, o mesmo ar-
tigo indica, de maneira breve, mas muito importante, como
as diversas “formas” de oração brotam da situação vital dos
nossos jovens: “descobrindo os frutos do Espírito na vida
dos homens, especialmente dos jovens, [ele] dá graças em
todas as coisas:5 partilhando seus problemas e sofrimentos,
invoca para eles a luz e a força da sua presença”. A oração
de louvor e agradecimento nasce da contemplação da ação
do Espírito nos nossos jovens (aqui, de novo, é necessário
o olhar de fé do Bom Pastor: devemos recordar que Jesus
louva e agradece ao Pai mesmo depois do insucesso da sua
pregação nas cidades do lago (Mt 11,25-30). A oração de
invocação e de pedido surge da participação em seus proble-
mas e dificuldades; e gostaria de acrescentar uma forma de
oração típica do mediador-apóstolo, às vezes muito esqueci-
da: a oração de intercessão (“para que se realize em cada um
deles o desígnio do Pai” – C. 86) e até de reparação (no seu
sentido mais autêntico).
7. Enfim, entre muitos outros aspectos, gostaria de sublinhar
a dimensão comunitária da nossa oração: “(o salesiano)
participa das riquezas espirituais que a comunidade lhe ofe-
rece”. À luz de tudo o que dissemos anteriormente, não se
poderia entender esta dimensão também como uma partici-
pação comunitária da experiência de Deus de cada irmão?
Como seria belo se, na comunidade, pudéssemos exprimir
e partilhar a maneira com que cada um de nós “descobre
Deus” nos nossos destinatários! Penso no ícone de Emaús:
entre os que permaneceram em Jerusalém e os que retorna-
5 O artigo constitucional cita Ef 5, 20; eu acrescentaria Fl 4, 6 (o texto paulino da
Missa de Dom Bosco).

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ORIENTAÇÕES E DIRETRIZES 39
ram à própria aldeia, há um intercâmbio de “encontros com
Jesus ressuscitado”, que culmina com a presença do próprio
Senhor! (Cf. Lc 24,33-35).
Concretamente...
Sem dúvida, tudo isso é um ideal, uma meta que nem sempre
se alcança em nossa vida cotidiana. Por outro lado, trata-se de um
elemento-chave da nossa espiritualidade, um dos elementos funda-
mentais, como se dizia no início: a “graça de unidade’”, o apelo a
ser “místicos no Espírito” e “contemplativos na ação”. Parece-me que
este também é o horizonte da vida entendida em chave de formação
permanente e, por isso, gostaria de sublinhar uma palavra-chave, que
intencionalmente não mencionei até o momento: “o salesiano apren-
de a encontrar Deus...”. Este termo indica que é indispensável um
aprendizado, feito sem dúvida primeiramente de esforço pessoal, mas
também de tempo, acompanhamento, experiências que tornem possí-
vel este “aprender”. Não devemos dar por certo que todo encontro e
trabalho com os jovens se tornem automaticamente oração e encontro
com Deus. Em outras palavras, tendo refletido sobre o “que”, também
é necessário insistir sobre o “como”.
Antes de continuar, gostaria de notar que o “que” traçado acima
é eminentemente prático, e nesse sentido já é um “como”. “O nosso
ser depende do nosso modo de ver e da medida em que esta visão se
torna estável em nossa intencionalidade. Entretanto, não chegamos a
ver através do simples ato de olhar, mas através de um treinamento
da nossa visão com a ajuda das metáforas e dos símbolos que consti-
tuem as nossas convicções centrais”.6 Em qualquer esforço para mudar
a nossa vida, portanto para adquirir uma visão correta, é muito mais
6 “We are as we come to see and as that seeing becomes enduring in our intentionality.
We do not come to see, however, just by looking but by training our vision through the
metaphors and symbols that constitute our central convictions.” Stanley Hauerwas,
Vision and Virtue (Notre Dame: University of Notre Dame Press, 1981), 2.

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40ATOS DO CONSELHO GERAL
importante do que o exercício, embora diligente, da força de vontade.
Jesus, deveríamos recordar, fazia uso abundante das imagens. “A força
de vontade é um motor não confiável no qual acreditar pela energia in-
terior; uma imagem correta, contudo, silenciosa e inexoravelmente nos
leva ao campo da realidade, que é também um campo de energia”.7 O
caminho para a vida como encontro com Deus, ou melhor, a união com
Ele, comporta a formação da nossa visão que não pode ser desprezada.
Cabe a cada Inspetoria, e a cada comunidade local, encontrar os
meios mais adequados para caminhar para esta “identidade salesiana”.
Contudo, podemos também retornar à “criteriologia” proposta acima,
que também nos oferece ao mesmo tempo as “condições de possibili-
dade” para chegar a este horizonte.
O primeiro critério é uma condição necessária (mas não sufi-
ciente!): se não fizermos o esforço de estar com os jovens, não há
possibilidade de descobrir a ação da graça neles. Constatamos atual-
mente, em diversas partes da Congregação, certo “afastamento” em
relação aos jovens da parte dos nossos irmãos, jovens e não, e, sobre-
tudo, certa aversão pela assistência: como se tivéssemos “coisas mais
importantes a fazer”. Corremos o risco de perder o encontro com os
jovens reais (algumas vezes, muito difíceis de gerir) e nos refugiamos
no encontro virtual, mediante muitos meios modernos de comunica-
ção – embora alguma vez pudéssemos chegar ao ponto de “oferecê-los
a Deus”! Mas não é este o caminho, não é isto que nos faz ser “bons
pastores dos jovens” segundo o exemplo de Dom Bosco. É indispen-
sável, portanto, oferecer aos nossos jovens irmãos a experiência de
estarem com os jovens, educando-os (isto é indispensável!) no verda-
deiro sentido da assistência salesiana, o que não se faz apenas com as
palavras, mas com o exemplo.
7 “Willpower is a notoriously sputtery engine on which to rely for internal energy, but a
right image silently and inexorably pulls us into its field of reality, which is also a field
of energy.” Eugene H. Peterson, Under the Unpredictable Plant: An Exploration in
Vocational Holiness (Grand Rapids: William B. Eerdmans / Leominster: Gracewing,
1992), 6.

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ORIENTAÇÕES E DIRETRIZES 41
O segundo, o terceiro e o quarto critérios comportam, de fato,
uma reeducação da nossa visão: a consciência da missão, o conhe-
cimento da dialética entre Deus que nos espera nos jovens e a nossa
vocação como epifania, o “olhar pastoral”. Não basta “estar com os
jovens”; é preciso fazê-lo com o sentido de missão, que deriva direta-
mente da obediência entendida como busca e realização da vontade de
Deus. É preciso buscar estratégias e linhas de ação para reforçar este
sentido “de fé” no trabalho com eles, evitando todo tipo de individua-
lismo ou de “opções puramente pessoais” na ação educativa e pasto-
ral. Não basta fazer “coisas boas”, ou mesmo “descobrir Deus” em
todas as pessoas. Somos chamados a encontrar Deus precisamente nos
jovens “pobres, abandonados e em perigo” (C. 26), “com prioridade a
juventude masculina” (R. 3), e não em qualquer pessoa.
O quinto critério é a dialética entre “oração” e vida. Há uma
relação vital entre as “práticas de piedade” – comunitárias e pessoais
– e a vida. Jesus mesmo sentiu a necessidade de passar longos momen-
tos em oração. O amor é, antes de tudo, um estado, mais do que um
ato. Mas há necessidade de atos, de momentos especiais que o decla-
ram, afirmam, celebram, compartilham, reforçam. É importante supe-
rar uma atitude de dicotomia. O Deus que descobrimos naqueles aos
quais somos enviados é o mesmo Deus que invocamos e celebramos e
agradecemos nos nossos momentos formais e informais de oração. O
salesiano precisa de momentos de silêncio para rever e reviver a sua
jornada, para agradecer e para interceder. Não pode permitir-se des-
cuidar dos momentos de tranquilidade que se misturam na estrutura
da vida comunitária. Essas práticas e esses momentos são elementos
importantes na dialética do nosso itinerário para a união de amor que
é a vida como oração. A nossa vida e o nosso trabalho entram nestes
momentos, as nossas intenções se purificam, os nossos olhos se ilumi-
nam e a nossa visão se abre para ver a obra de Deus na vida daqueles
aos quais fomos enviados.

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42ATOS DO CONSELHO GERAL
É hora de dar atenção ao convite dos nossos Capítulos Gerais e
de cuidar particularmente da oração pessoal e da meditação, em que
cada um exprime o seu modo pessoal e profundo de ser filho de Deus,
dando graças ao Pai e confiando-lhe os desejos e as preocupações do
apostolado, recordando que para Dom Bosco a oração mental era “ga-
rantia de alegre perseverança na vocação”, enquanto reforça a nossa
intimidade com Deus, salva da rotina, conserva o coração livre, obtém
dinamismo e constância e alimenta a dedicação àqueles aos quais fo-
mos enviados (C. 93, 88).
Como comunidades inspetoriais e locais, precisamos dar uma
renovada atenção aos retiros mensais e aos exercícios espirituais
anuais, que são “ocasiões especiais de escuta da Palavra de Deus, de
discernimento de sua vontade e de purificação do coração”, e que “res-
tituem ao nosso espírito profunda unidade no Senhor Jesus e mantêm
viva a espera da sua volta” (C. 91).
Seria preciso acrescentar aqui também o acompanhamento es-
piritual que “treina” os nossos olhos, nos ajuda a desenvolver a inteli-
gência contemplativa e a capacidade de discernir a presença de Deus
e a ação da graça em nossos destinatários (ver CG27 67,2), como tam-
bém o acompanhamento pastoral nos primeiros anos de ministério – e
aqui os mestres dos noviços, os diretores e os guias espirituais dos
pós-noviços, dos tirocinantes e dos jovens irmãos em formação espe-
cífica têm uma responsabilidade toda especial. Sobretudo nos primei-
ros anos da formação, aprendemos e somos ajudados a reconhecer a
dimensão divina da nossa atividade. Percebemos “a necessidade de
rezar sem interrupção em diálogo simples e cordial com o Cristo vivo
e com o Pai”; aprendemos a viver atentos à presença do Espírito e a
realizar tudo por amor de Deus (C. 12).
Não há necessidade de elaborar ulteriormente a sexta condição.
Vale a pena, porém, nos determos na sétima, a dimensão comunitária,
porque responde à insistência dos nossos Capítulos Gerais recentes
sobre as formas comuns de oração, tanto antigas como novas. Uma

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ORIENTAÇÕES E DIRETRIZES 43
das dificuldades sobre a oração comunitária é a partilha fraterna, em
especial da nossa experiência de Deus. Não é fácil “reeducar-nos”
neste sentido. Sem dúvida, é mais fácil fazê-lo com os jovens irmãos
no início da vida salesiana, mas nem mesmo neste caso se pode dá-lo
por certo. É necessário encontrar momentos adequados de partilha co-
munitária (incluída a lectio divina), para educá-los (e a nós mesmos)
na oração em comum a partir das experiências do nosso trabalho edu-
cativo e pastoral: orações de agradecimento, de pedido, de intercessão,
de reparação... Estas experiências também reforçam e aprofundam de
maneira extraordinária a vida fraterna, quase como um termômetro:
onde não há comunicação em profundidade, o nível de vida comunitá-
ria é muito superficial, às vezes quase inexistente.
Peço que o Diretor de cada comunidade, depois de estudar e
meditar pessoalmente sobre esta minha reflexão, convide cada um dos
seus irmãos a fazer o mesmo, e torne possível um momento comunitá-
rio de intercâmbio e diálogo, utilizando estas ou outras perguntas se-
melhantes: Quais os aspectos que mais me impressionaram? Em quais
aspectos teria / teríamos necessidade de crescer? Quais passos poderia
/ poderíamos tomar nesta direção?
Convido, de modo especial, os mestres dos noviços, os dire-
tores e guias espirituais de todos os níveis de formação a encontrar
modos de acompanhar os jovens irmãos, como indivíduos e como co-
munidade, no seu caminho para a vida como oração.
Caros irmãos, invoquemos juntos a assistência de Nossa Senho-
ra, “modelo de oração e de caridade pastoral” (c. 92) e “mãe e mestra”
(C 98), de São José, “mestre da vida interior”, do nosso pai Dom Bos-
co, e de uma multidão de irmãos, grandes e pequenos, entre os quais
o B. Artêmides Zatti e o Ven. Simão Srugi, que viveram a graça de
unidade e agora intercedem por nós.