ACG431_Viver_o_sacerdocio


ACG431_Viver_o_sacerdocio

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2. ORIENTAÇÕES E DIRETRIZES
2.1. Viver o sacerdócio como salesianos
P. Ivo COELHO,
Conselheiro geral para a Formação
Depois de dedicar uma carta à reflexão sobre a vocação do salesia-
no leigo: “Uma renovada atenção ao salesiano coadjutor” (ACG 424),
é adequado concentrar o olhar sobre a vocação do salesiano padre.
Não se deve esquecer que o primeiro objetivo a alcançar na seção
‘formação’ do projeto do Reitor-Mor e seu conselho para o período
2014-2020 foi “Promover uma maior compreensão da vocação con-
sagrada salesiana nas suas duas formas”, “aprofundando alguns temas
como a vida consagrada, o salesiano sacerdote e o salesiano coadjutor”
(ACG 419 49). Esta é uma resposta ao convite do CG27 a explorar em
profundidade a nossa identidade carismática, crescer no conhecimen-
to da nossa vocação e viver fielmente o projeto apostólico de Dom
Bosco, focalizando a atenção sobre quatro áreas temáticas: “Viver na
graça de unidade e na alegria a vocação consagrada salesiana, que é
dom de Deus e projeto pessoal de vida; fazer uma intensa experiência
espiritual, assumindo o modo de ser e agir de Jesus obediente, pobre
e casto, e sendo buscadores de Deus; construir a fraternidade nas nos-
sas comunidades de vida e ação; dedicar-se generosamente à missão,
caminhando com os jovens para dar esperança ao mundo” (GC27 p.
20). O GC26 já pedira aos salesianos para “dar prioridade e visibilida-
de à unidade da consagração apostólica, embora realizando-a de duas
formas diferentes” e “aprofundar a originalidade salesiana do minis-
tério ordenado e promover mais intensamente a vocação do Salesiano
Coadjutor” (CG26 55).

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ORIENTAÇÕES E DIRETRIZES 57
Podemos fazê-lo ao reforçar o primado de Deus e a sequela radi-
cal de Cristo como fundamento da nossa vida.
Apresentamos estas reflexões e orientações sobre o salesiano
presbítero quando já nos aproximamos do início do CG28, na esperan-
ça de servirem como contribuição para a reflexão que nasce da grande
pergunta que fazemos a nós mesmos e que está no centro do mesmo
Capítulo: “Quais salesianos para os jovens de hoje?”.
1. Algumas considerações gerais
A nossa vocação consagrada salesiana é um dom
O primeiro passo é reconhecer que a nossa vocação é um dom de
Deus. O padre Juan Vecchi, oitavo sucessor de Dom Bosco, recordou-
-nos que a nossa categoria de “dom” é fundamental para compreen-
der a verdadeira natureza da vida consagrada. É, realmente, um termo
que ocorre muito frequentemente em Vita consecrata “em referência
à totalidade da Vida Consagrada, a cada uma de suas manifestações
históricas ou carismas, a muitos de seus componentes ou aspectos par-
ticulares: os votos, a comunidade, o serviço da caridade” (ACG 357,
seção O dom da nossa Vida Consagrada). Os muitos santos que vive-
ram a própria vida consagrada religiosa como sacerdotes ou que foram
sacerdotes fundadores de famílias religiosas, são, eles mesmos, dons
maravilhosos à Igreja: Basílio, Bento, Domingos, Inácio de Loiola,
Francisco Xavier, João da Cruz, José Vaz, Francisco de Sales, Vicente
de Paulo, Dom Bosco, José Bento Cottolengo, apenas para citar al-
guns. Em nosso tempo fomos abençoados com o Papa Francisco, que
traz à Igreja o dom do seu sacerdócio vivido como religioso.
A nossa vocação consagrada salesiana é um dom de Deus a nós,
aos jovens, à Igreja, ao mundo, e somos chamados a ser profundamen-
te gratos por ela e alegrar-nos com a sua beleza.

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58 ATOS DO CONSELHO-GERAL
A consagração religiosa é a nossa identidade fundamental
na Igreja
A nossa consagração religiosa é a nossa identidade fundamental
na Igreja. O direito canônico ilustra a natureza do povo de Deus, cons-
tituído por fiéis leigos, ministros ordenados e membros da hierarquia,
e membros de institutos de vida consagrada e sociedades de vida apos-
tólica. Como religiosos, todos nós, salesianos sacerdotes e salesianos
leigos, pertencemos à vida consagrada no povo de Deus. Essa é a fonte
da nossa vocação e missão. É aqui que a Igreja nos coloca e onde de-
seja ver-nos florescer e produzir fruto.
Estranhamente, não foi dada na Igreja uma atenção suficiente
ao tema do sacerdócio religioso. O padre Viganò, sétimo sucessor de
Dom Bosco, comenta duas vezes esse fato; a primeira vez em sua carta
de 1991, “O que vivamente nos interessa é o sacerdote do ano 2000”
(ACG 335), e, depois, em “O Sínodo sobre a Vida consagrada” (ACG
351). “É uma pena, porém, afirma o padre Viganò, que no Sínodo nem
sequer se tenha acenado à delicada e complexa problemática do reli-
gioso-padre. Quem sabe, os tempos ainda não sejam maduros e haja
necessidade, antes, de ulteriores pesquisas doutrinais.56  Ainda hoje,
a situação parece ser a mesma. A nova Ratio para a Igreja, O dom da
vocação presbiteral (2016), não contém nenhuma consideração espe-
cial sobre o sacerdote religioso, apesar de, em 2016, serem 134.495 os
sacerdotes religiosos ou 32,3%, quase um terço, do número total de
sacerdotes na Igreja católica.
Para nós, contudo, é urgente refletir sobre a identidade do salesia-
no padre. Uma identidade clara e sadia traz alegria e unidade à vida e
dá uma direção estável ao trabalho apostólico. Nesta carta, procurare-
mos evidenciar o que está na raiz do ser salesiano presbítero no inte-
rior da nossa única vocação consagrada, chegando a uma compreensão
56 ACG 351 = Lettere circolari di don Egidio Viganò ai Salesiani (Roma 1996) 1535.

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ORIENTAÇÕES E DIRETRIZES 59
renovada da vida religiosa e do sacerdócio. A vida fraterna, os conse-
lhos evangélicos e a missão não são elementos existentes ao lado do
ministério dos salesianos padres. Mais que isso, são a matriz funda-
mental e a raiz vital da nossa vocação. Nas palavras da nossa Ratio: “O
salesiano sacerdote [ou diácono] reúne em si os dons da consagração
salesiana e os do ministério pastoral, mas de maneira tal que é a consa-
gração salesiana que determina as modalidades originais do seu ser
sacerdote e do exercício do seu ministério (FSDB 39).
Salesianos presbíteros e salesianos leigos participam do
mesmo sacerdócio de Cristo
A reflexão teológica no período pós-conciliar é caracterizada pela
intensa tomada de consciência da ligação entre o sacerdócio ministe-
rial e o sacerdócio comum dos fiéis. Todos nós, salesianos clérigos e
coadjutores, participamos do sacerdócio de Cristo.
O sacerdócio de Cristo é único e absolutamente original. Nas
demais religiões, e até mesmo no hebraísmo, o sacerdote pertence
à esfera do sagrado. No Novo Testamento, porém, longe de ser uma
expressão religiosa peculiar do sagrado, o sacerdócio de Jesus de-
riva diretamente da sua vida e dos eventos salvíficos da sua Páscoa
e envolve toda a realidade humana. O sacrifício de Jesus é um sa-
crifício de obediência: consiste na oferta de si mesmo completa e
inteiramente ao Pai, até a entrega total de si na cruz. Sua vida e sua
morte transformam as nossas resistências e o mal que trazemos em
nós, abrindo caminho ao arrependimento e ao perdão, à nova vida de
Zaqueu, de Pedro, de Maria de Magdala, à vida da ressurreição, “Pois
com uma única oblação ele tornou perfeitos para sempre os que são
santificados” (Hb 10,14).
Para nós, então, há somente um sacerdote e um sacrifício, levan-
do em conta que, do ponto de vista hebraico, Jesus era um leigo e o
seu sacrifício não foi realizado no templo, mas no Calvário, e num

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60 ATOS DO CONSELHO-GERAL
contexto que não era certamente “sagrado”. “Este modo de ser sumo
sacerdote é diametralmente oposto em relação ao antigo: em vez de
uma separação ritual, encontramos uma solidariedade existencial; em
vez de uma elevação acima dos outros, encontramos um rebaixamento
extremo; em vez de uma proibição de todo contato com a morte, en-
contramos a exigência de aceitar o sofrimento e a morte”.57
Com efeito, todos os batizados em Cristo são chamados a unir-se
a ele, oferecendo seus corpos como sacrifício vivo, santo e agradável
a Deus (Rm 12,1). Este é o “sacerdócio comum” dos fiéis, e todos
nós, salesianos coadjutores e clérigos, participamos desse sacerdócio.
O sacerdócio comum com base no batismo é a “expressão suprema
da dignidade humana... a modalidade histórica para sentir-nos envol-
vidos na redenção e na salvação” (ACG 335, seção A consagração
batismal e o ministério ordenado). Não há dignidade mais elevada do
que a que nos foi conferida com o batismo. Para quem entre nós está
habituado a ouvir falar do sacerdote como alter Christus, estas pala-
vras de São João Paulo II podem surpreender e fazer-nos bem.
“Ainda no tempo dos Padres, afirmava-se com frequência:
“Christianus alter Christus” (O cristão é um segundo Cristo),
entendendo evidenciar com isso a dignidade do batizado e a
sua vocação, em Cristo, à santidade... Santo Agostinho... cos-
tumava repetir “Vobis sum episcopus, vobiscum christianus”
(“Para vós sou bispo, convosco sou cristão”). Refletindo bem,
significa bem mais christianus que não episcopus, embora se
trate do Bispo de Roma”.58
57 Albert Vanhoye, “La novità del sacerdozio di Cristo,” in La Civiltà Cattolica
n. 3541, n. 1 (1998) 16-27.
58 João Paulo II, Varcare le soglie della speranza, Mondadori, Milão 1994, 11-12.

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ORIENTAÇÕES E DIRETRIZES 61
O sacerdócio ministerial existe somente para servir
O sacerdócio ministerial existe totalmente a serviço do sacerdócio
comum dos fiéis. Sua única finalidade é ajudar os discípulos de Cristo
a participar do seu sacerdócio, superar o mal com o amor e o perdão e
oferecer-se totalmente ao Pai (ACG 335, seção A consagração batis-
mal e o ministério ordenado). Inserindo o ministro no coração da sua
comunidade, a ordenação consagra-o para o serviço daquela comuni-
dade. É uma graça não de separação, mas de comunhão. O sacerdote é
chamado a ter o coração do Bom Pastor e ter “uma consciência e um
sentimento interior que o ligam inseparavelmente” àqueles aos quais é
enviado. A caridade pastoral leva a uma constante imersão na vida do
povo de Deus, na contínua auto-entrega do serviço.59
“Esta caridade pastoral”, recorda-nos o Concílio Vaticano II, “flui
sobretudo do sacrifício eucarístico, que permanece o centro e a raiz de
toda a vida do presbítero” (PO 14). Se todo batizado é chamado, na
Eucaristia, a unir-se à oferta que Jesus fez de si mesmo ao Pai, com
maior razão, aqueles que são chamados ao sacerdócio ministerial são
chamados a aplicar a si mesmo “o que é realizado sobre o altar” (PO
14), tomando e oferecendo a si mesmos ao Pai, partindo-se como o
pão e entregando-se aos seus irmãos e irmãs, transformando suas vi-
das em Eucaristia.
A caridade pastoral não é um elemento novo que vem após a or-
denação, identificada com determinadas “atividades pastorais” reser-
vadas ao sacerdote, mas está na raiz mesma da vocação dos salesianos
chamados a serem presbíteros. A caridade pastoral está no centro do
nosso espírito, como força estimuladora e motivação que dá energia a
tudo o que somos e fazemos.
59 Severino Dianich, Teología del ministerio ordenado. Una interpretación eclesioló-
gica, Ed. Paulinas, Madri 1988, 324.

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62 ATOS DO CONSELHO-GERAL
“Dom Bosco, sob a inspiração de Deus, viveu e nos transmitiu
um estilo original de vida e de ação: o espírito salesiano.
Centro e síntese desse espírito é a caridade pastoral, carac-
terizada por aquele dinamismo juvenil que tão fortemente se
revelava em nosso Fundador e nas origens da nossa Sociedade:
é um ardor apostólico que nos faz buscar as almas e servir so-
mente a Deus” (C 10).
O salesiano padre é um homem que se deixa guiar pela caridade,
“ordenado” para servir. Compreende-se logo porque o clericalismo
não pode e não deve ter lugar em nossa vida. O padre Egídio Viganò
antecipa de modo surpreendente os intensos apelos do Papa Francisco
contra o clericalismo.
“Se existe um mal verdadeiramente pernicioso a ser eliminado no
ministro ordenado é o de uma eventual modalidade “clericalista”
(da qual não faltam exemplos na história) que o leve a ser o ‘dono’
do Povo de Deus. Ela em nada se coaduna com o Cristo Bom Pas-
tor, que é o ‘Servo de Javé’. O padre que a assumisse demonstra-
ria não ter entendido o sacerdócio da Nova Aliança” (ACG 335,
seção A consagração batismal e o ministério ordenado).
Faz-nos bem acolher o convite do Papa Francisco a meditar sobre
a “incomensurável grandeza do dom” e a nossa pequenez.
“A grandeza incomensurável do dom que nos é dado para o mi-
nistério relega-nos entre os menores dos homens. O sacerdote é o
mais pobre dos homens – é verdade, o sacerdote é o mais pobre
dos homens –, se Jesus não o enriquece com a sua pobreza; é o
servo mais inútil, se Jesus não o trata como amigo; é o mais louco
dos homens, se Jesus não o instrui pacientemente como fez com
Pedro; o mais indefeso dos cristãos, se o Bom Pastor não o forti-
fica no meio do rebanho”.

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ORIENTAÇÕES E DIRETRIZES 63
Lendo em contraste o anúncio a Zacarias no Santo dos Santos,
no interior do templo de Jerusalém, e o anúncio a Maria numa aldeia
escondida da Galileia, num tempo marcado por conflitos e misérias, o
Papa continua apresentando um apelo paterno aos sacerdotes.
“Nenhum de nós foi chamado para um lugar importante, nenhum.
Às vezes sem querer, sem culpa moral, habituamo-nos a identificar
a nossa atividade quotidiana de sacerdotes, religiosos, consagra-
dos, leigos, catequistas com certos ritos, com reuniões e colóquios,
onde o lugar que ocupamos na reunião, na mesa ou na aula é de
hierarquia; parecemo-nos mais com Zacarias do que com Maria”.
Em seguida, o Papa convida os sacerdotes a voltarem a Nazaré:
“talvez tenhamos que sair dos lugares importantes e solenes; temos
de voltar aos lugares onde fomos chamados, onde era evidente que
a iniciativa e o poder eram de Deus”. O segredo é “voltar a Nazaré”
para renovar-nos como pastores que são, ao mesmo tempo, discípulos
e missionários. Devemos rezar sem jamais nos cansarmos com as pa-
lavras da nossa Mãe: “Sou sacerdote, porque Ele olhou com bondade
para a minha pequenez (cfr. Lc 1,48)”.60
2. O salesiano presbítero
Falamos do sacerdócio batismal como a nossa maior e insuperá-
vel dignidade (também para o bispo de Roma!), e como o sacerdócio
ministerial é em tudo e por tudo um ministério inteiramente realizado
a serviço do sacerdócio batismal. O salesiano sacerdote assume
60 Francisco, Encontro com os bispos, padres, religiosos e religiosas, consagrados
e seminaristas, catequistas e animadores durante a viagem apostólica a
Moçambique, Madagascar e Ilhas Maurício, 5 de setembro de 2019: https://
w2.vatican.va/content/francesco/pt/speeches/2019/september/documents/papa-
francesco_20190905_consacrati-mozambico.html (02.11.2019).

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64 ATOS DO CONSELHO-GERAL
completamente o sacerdócio ministerial e o vive “a partir de dentro”
da sua consagração salesiana.
Encontramos a mesma verdade básica sobre a nossa identidade
expressa no artigo 3 das nossas Constituições, que é uma senha para
todo o texto constitucional: “A missão dá a toda a nossa existência o
seu tom concreto, especifica a tarefa que temos na Igreja e determina
o lugar que ocupamos entre as famílias religiosas”. O que define a di-
mensão missionária da nossa vida não é aquilo que fazemos na grande
variedade das nossas obras, mas, sim, a nossa mesma existência como
salesianos consagrados. Ou melhor, “somos uma missão”, como afir-
ma o Papa Francisco: “É algo que não posso arrancar do meu ser, se
não me quero destruir. Eu sou uma missão nesta terra, e para isso estou
neste mundo. É preciso considerar-nos como que marcados a fogo
por esta missão de iluminar, abençoar, vivificar, elevar, curar, libertar”
(EG 273). Se isso é verdade para todos os cristãos, o é certamente para
os chamados a fazer da sua consagração batismal a razão de ser da sua
vida através da consagração religiosa e sacerdotal.
Se a missão que eu herdei com o carisma de Dom Bosco não
“der o tom concreto” a toda a minha vida, não sou nem salesiano nem
padre, porque a única modalidade de viver o sacerdócio que a Igreja
reconhece em mim quando fui escolhido para receber as ordens sa-
cras é aquela contida nas nossas Constituições, do primeiro ao último
artigo. Isso também é expresso claramente no rito de ordenação: é a
Congregação na pessoa do Inspetor que apresenta as “credenciais” de
quem está para ser ordenado, e é, na união entre o Bispo ordenante e
o Inspetor, que representam o conjunto da Igreja e da Congregação,
que se faz promessa de obediência. De fato, é sempre e somente na
autoridade da Igreja e da Congregação que a potestas de um salesiano
padre encontra sua fonte e sua plena justificativa.61
61 Potestas o termo usado no direito canônico para expressar o que é conferido
pela ordenação (diaconal, sacerdotal, episcopal). Curiosamente, o termo potesta
é encontrado 155 vezes – na tradução oficial italiana do código –, enquanto o
termo poder é usado apenas duas vezes, em referência ao poder civil (cân. 285 e

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ORIENTAÇÕES E DIRETRIZES 65
Como diremos novamente a seguir, a missão nunca é genérica.
Ela é realizada no campo que nos é indicado especificadamente e de
modo salesianamente original, com raízes que vêm do alto, como pro-
fessamos no primeiro artigo das Constituições.
“Com sentimento de humilde gratidão, cremos que a Sociedade
de São Francisco de Sales não nasceu de simples projeto huma-
no, mas por iniciativa de Deus. Para colaborar na salvação da
juventude, ‘a porção mais delicada e preciosa da sociedade hu-
mana’, o Espírito Santo, com a maternal intervenção de Maria,
suscitou São João Bosco.
Formou nele um coração de pai e mestre, capaz de doação total:
“Prometi a Deus que até meu último alento seria para meus po-
bres jovens”.
Passemos agora a alguns pontos sobre a identidade-missão do
salesiano presbítero, embora não se trate de um estudo sistemático
e exaustivo.62
1254). O poder sempre se refere à fonte de onde vem, em última análise, ao “poder
concedido por Cristo a seus apóstolos e seus legítimos sucessores, para reger e
governar os fiéis e direcioná-los à vida eterna” (https://www.simone.it/newdiz/
newdiz.php?action=view&dizionario=9 – 26.11.19). A potestas conferida com a
ordenação não é um poder privado que posso exercer segundo o meu gosto como e
onde desejar, e que posso investir, como se fosse um patrimônio pessoal, ora numa
congregação religiosa ora em alguma diocese, conforme a conveniência. É, mais
claramente, o que a Igreja me confia segundo o seu projeto, que no nosso caso é
expresso nas Constituições que a mesma Igreja aprovou.
62 Muitos destes pontos podem ser encontrados em ACG 335. Depois de observar
que o Sínodo sobre a formação sacerdotal não tratava do tema do sacerdócio dos
religiosos, o padre Viganò continuou dizendo que na Congregação Salesiana já
havíamos elaborado algumas reflexões, principalmente quando refletimos sobre
a qualidade pastoral de nossa missão, provavelmente referindo-se à CG23 sobre a
educação para a fé (ver ACG 335 = Lettere 1091-98).

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66 ATOS DO CONSELHO-GERAL
2.1 A comunidade
Como insiste a nova Ratio da Igreja, a comunidade tem um lu-
gar absolutamente essencial para a vida de um sacerdote, tanto nas
fases da sua preparação (discipulado, configuração, síntese vocacio-
nal), quanto no ministério vivido como formação permanente.63 A
vida fraterna em comunidade é essencial para a maturidade humana
e espiritual, para crescer no amor. Como seres humanos, só cresce-
mos através de relações baseadas no amor. Nossos irmãos e irmãs
crescem na sua capacidade de amar e ser amados no seio de suas
famílias; para nós, salesianos sacerdotes e salesianos leigos, isso
acontece no seio da comunidade religiosa e, com os leigos, na comu-
nidade educativo-pastoral.
Como religioso, o ministério do salesiano sacerdote é sempre
mediado pela comunidade, o que é dito explicitamente pelo título do
artigo 44 das Constituições: “missão comunitária”.
“O mandato apostólico que a Igreja nos confia é assumido e
cumprido em primeiro lugar pelas comunidades inspetoriais e
locais, cujos membros têm funções complementares, com incum-
bências todas elas importantes. Disso eles tomam consciência;
a coesão e a corresponsabilidade fraterna permitem alcançar os
objetivos pastorais”.
Isso significa que para o salesiano padre não há espaço ao indi-
vidualismo apostólico: suas opções apostólicas devem ser mediadas
pela comunidade; simplesmente, elas não podem ser identificadas
com suas opções individuais segundo as simpatias, antipatias ou po-
sições pessoais.
Devemos ter ainda em mente que a comunidade salesiana se ca-
racteriza pela complementaridade essencial entre salesianos padres e
salesianos leigos.
63 Congregação para o clero, O dom da vocação presbiteral (2016) 51.

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ORIENTAÇÕES E DIRETRIZES 67
“A presença significativa e complementar de salesianos clérigos
e leigos na comunidade constitui um elemento essencial de sua
fisionomia e completeza apostólica” (C 45).
“O Salesiano sacerdote deve sentir-se espontaneamente relacio-
nado, pela força de comunhão na mesma salesianidade, com o Coad-
jutor; e o Salesiano-leigo deve experimentar o mesmo em relação ao
irmão Sacerdote. A nossa vocação, radicalmente comunitária, exige
uma comunhão efetiva não só de fraternidade entre as pessoas”.64
A dimensão sacerdotal não é exclusiva dos irmãos sacerdotes e a
dimensão laical não pertence exclusivamente aos irmãos coadjutores.
A comunidade salesiana não é uma agremiação artificial de dois tipos
de membros que se esforçam de algum modo para viverem juntos. No
coração de cada irmão estão presentes as duas dimensões, evidencia-
das de modos diversos, mas sempre intimamente relacionadas, de modo
que o salesiano sacerdote cultiva também a dimensão laical da missão
comum, enquanto o salesiano coadjutor cultiva também a dimensão sa-
cerdotal da mesma missão. “Sem a dimensão laical perderíamos aquele
aspecto positivo de sadia ‘secularidade’ que nos caracteriza na escolha
das mediações educativas. E sem a dimensão sacerdotal correríamos o
risco de perder a qualidade pastoral de todo o projeto. Desestruturando
a complementaridade poderíamos cair, por um lado, numa espécie de
ativismo social pragmático e, por outro, num tipo de trabalho pastoral
muito genérico que não seria mais a autêntica missão de Dom Bosco”.65
O padre Viganò evidencia, como é natural, que a intensidade da
caridade pastoral e o grau de santidade não dependem do ministério
ordenado ou dos vários serviços que prestamos aos outros, por faze-
rem parte da nossa responsabilidade apostólica compartilhada; mas
tão somente da nossa vitalidade interior, ou seja, do modo com que
64 ACG 335 = Lettere 1093-94.
65 ACG 335 = Lettere 1094. Ver também ACG 424 66-77: “Uma atenção renovada ao
salesiano coadjutor”.

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68 ATOS DO CONSELHO-GERAL
vivemos o sacerdócio comum; dito com outras palavras, da vida de fé,
esperança e caridade. O padre Egídio Viganò continua, depois, com
algumas afirmações surpreendentes ainda hoje.
“A vida de graça, ou seja, de caridade pastoral, possui — como
disse S. Tomás de Aquino — um valor que é por si mesmo maior do
que todas as coisas criadas. Seremos todos julgados sobre o amor.
Na Jerusalém celeste não haverá necessidade nem da Bíblia, nem
de Bispos e Padres, nem de Magistério, nem de Sacramentos, nem
de Coordenação, nem de tantos serviços mútuos que são indispen-
sáveis aqui na história. Por isso já e agora, na comunidade eclesial,
a ordem das realidades institucionais, hierárquicas e operacionais
passa em segundo plano (se assim se pode falar; é suficiente pensar
onde foi colocado na Lumen Gentium o capítulo sobre o Povo de
Deus!), diante do Mistério a que elas servem e revelam para quem
vive a fé. A santidade afunda suas raízes no grau de participação
e comunhão com a vida trinitária. Vemos a intensidade da santida-
de representada em Maria; e em Pedro a autenticidade ministerial.
Ambos grandes santos, mas vê-se neles que o grau de santidade não
se identifica com o hierárquico e ministerial”.66
O sacerdócio ministerial não é privilégio especial, mas serviço
destinado a acabar, e que desde agora ocupa o segundo lugar. A sua
glória consiste em colocar-se a serviço do povo de Deus para que to-
dos, compreendidos os sacerdotes, possam alcançar as “vertiginosas
alturas” da santidade.
2.2 O carisma
Sendo salesiano na sua essência, como vimos, o ministério do ir-
mão sacerdote é sempre mediado pelo seu carisma. Eis porque o termo
66 ACG 335 = Lettere 1095. Ver também Catecismo da Igreja Católica 773.

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ORIENTAÇÕES E DIRETRIZES 69
salesiano precede a qualificação sucessiva de coadjutor ou sacerdote:
“salesiano” é entendido como primeiro indicador da identidade. O ca-
risma salesiano dá o tom a tudo.67
Visto como modalidade da sequela de Cristo, o sacerdócio re-
ligioso é muito diferente do sacerdócio diocesano. Para o sacerdote
salesiano o ministério é central e determinante, e a ele dedica intei-
ramente a sua vida. O sacerdote religioso, diferentemente, tem a sua
regra de vida num fundador e no seu modo original (e originante) de
seguir o Senhor. A existência do salesiano sacerdote é, pois, marcada
em tudo e por tudo pelo carisma que tem origem em Dom Bosco.68
Dom Bosco não pensava primeiramente no tipo de ministério que lhe
seria confiado na Igreja, como a maior parte dos jovens seminaristas,
que normalmente têm como perspectiva animar e presidir uma comu-
nidade paroquial. Ele não se sentia chamado a exercer um ministério
já existente; sentia mais que fora chamado para concretizar e traduzir
em obras aquela nova pedagogia da graça que era uma só coisa com o
seu modo de viver presente entre os jovens.69
67 Ibid. 21: “Sabemos que a consagração própria da nossa profissão religiosa está fun-
damentada na dignidade batismal e nos faz crescer na fé e no seguimento de Cristo
com um particular ‘espírito salesiano’ para sermos sinais e portadores do amor de
Deus aos jovens. Temos apresentado justamente esta característica espiritual colo-
cando a palavra ‘Salesiano’ como elemento básico; cada irmão é ‘Salesiano-padre’
ou ‘Salesiano-leigo’”. Nesta carta, foram utilizados os termos presbítero, padre,
sacerdote, como também leigo e coadjutor, referidos aos irmãos salesianos, da ma-
neira como eles já estão presentes nos documentos da Congregação, sem desejar
dar ênfase ou diferenciação de significado a cada um deles.
68 Ver A. Bozzolo, Salesiano prete e salesiano coadiutore: spunti per un’interpretazio-
ne teologica, in Sapientiam dedit illi. Studi su don Bosco e sul carisma salesiano,
ed. A. Bozzolo, LAS, Roma 2015, 340.
69 Ibid. 347: “Nesse sentido, Balthasar reconhece em Pedro a fisionomia típica do
clero diocesano, enquanto identifica em João o modelo do clero religioso. De fato,
nesses dois discípulos, a presença simultânea de ofício e amor segue «um movi-
mento que vai em direções opostas. Pedro obtém um ofício e, para o ofício, a fim de
exercitá-lo melhor, vem-lhe acrescentado o amor. João originalmente personifica o
amor, e [...] a partir do aspecto pessoal, ele recebe o ofício de sacerdote» (H. U. von
Balthasar, Gli stati di vita del cristiano, Jaca Book, Milão 1984, 247). Não é sem
significado, nessa perspectiva, que, embora Pedro certamente tivesse se casado,

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70 ATOS DO CONSELHO-GERAL
O sacerdócio assumido no horizonte de um carisma particular
confere ao ministério do sacerdote religioso um lugar específico na
Igreja, que não é igual ao do clero diocesano. Tanto é verdade que o
sacerdote diocesano se enraíza num determinado território, enquanto
o sacerdote religioso se caracteriza pela abertura universal. Ao pri-
meiro é confiada a atenção pastoral ordinária de uma paróquia e de
uma diocese, enquanto o segundo participa de uma missão especial
que é transversal em relação aos limites territoriais eclesiásticos.70 O
sacerdote diocesano é chamado a um ministério geral que se realiza
no inteiro arco da vida humana, da concepção à morte. O sacerdote
religioso, por sua vez, tem uma vocação dirigida essencialmente a um
determinado serviço, a uma fase ou dimensão da vida, assim como
se manifestou e, depois, se codificou no seu carisma. Bento, Antonio
de Pádua, Camilo de Lellis e, em tempos mais próximos de nós, Ma-
ximiliano Kolbe, Alberto Hurtado e muitos outros foram tão grandes
dons para a Igreja e para o mundo graças à sua fidelidade ao carisma
particular a que foram chamados, e com que estava perfeitamente sin-
tonizado o dom do seu sacerdócio.
Eis porque as opções apostólicas de um salesiano sacerdote são
sempre mediadas pelo nosso carisma educativo-pastoral dirigido aos
jovens, sobretudo aqueles em maiores dificuldades. Às vezes, ouço jo-
vens diáconos ou sacerdotes salesianos lamentar-se porque não tiveram
a oportunidade de celebrar um batizado ou presidir um matrimônio e
João permaneceu virgem: “Como virgem, ele é o representante dos ‘sacerdotes re-
gulares’ em relação ao casado ‘padre secular’, Pedro”. A presença de João ao pé da
cruz com Maria ilumina, depois, o vínculo mariano particular da vida consagrada e
dos presbíteros que a assumem. Neles, de fato, o sacerdócio ministerial e objetivo
parece particularmente associado ao sacerdócio subjetivo e existencial da entrega
de si, assim como o exigem os votos de castidade, pobreza e obediência. Nos pres-
bíteros religiosos, portanto, a graça da ordenação é colocada no interior do espaço
mariano da obediência a Deus, próprio de sua Ordem, no interior de uma forma
característica de atuação do amor joanino que Maria sempre ensina de novo aos
grandes fundadores e seus filhos espirituais.
70 Ibid. 352.

2.6 Page 16

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ORIENTAÇÕES E DIRETRIZES 71
me pergunto: quantos batizados Dom Bosco celebrou ou quantos matri-
mônios presidiu? E, por isso, era menos padre? Jamais devemos perder
de vista a particularidade muito concreta da fisionomia do salesiano sa-
cerdote, assim como Dom Bosco a modelou. Juntamente com o irmão
salesiano leigo, o salesiano padre é enviado a uma missão imersa no
mundo dos jovens e da classe popular, dedicada inteiramente a trabalhos
de caráter educativo-pastoral, e se dirige a pessoas que vivem frequente-
mente distantes da Igreja ou pertencem a outras religiões.
A consagração apostólica do salesiano presbítero é concretizada e
expressa nos três munera do sacerdócio ministerial.
Mediante o ministério da Palavra (munus docendi) o salesia-
no sacerdote semeia a palavra de Cristo numa ampla variedade de si-
tuações e mediante diversas formas de pregação, apoio e conselho,
iluminando a experiência dos jovens, ajudando a orientar suas vidas,
acompanhando-os na transformação e transfiguração da sua existência
(FSDB 39).
A identidade carismática emerge também do fato de o ministério
da Palavra adaptar-se a uma ampla variedade de situações e contextos.
O salesiano padre está pronto a fazer uso das mais variadas aborda-
gens e sabe como encontrar os jovens no ponto em que se encontra a
liberdade deles (C 38). A primeira e fundamental forma de incultura-
ção salesiana é adaptar-nos aos jovens e à experiência deles, mais do
que esperar que eles se conformem com os nossos modelos.
A figura do salesiano catequista, que fazia parte da vida de muitas
de nossas casas, oferece-nos uma ideia da variedade de formas com que
o munus docendi pode ser realizado no interior do ambiente salesiano.
O catequista era, normalmente, um salesiano padre, jovem e di-
nâmico, que se ocupava de tudo que se referisse de modos variados
à evangelização, catequese e vida cristã no interior da casa salesiana.
Cuidava das celebrações litúrgicas e das práticas de piedade, da vida
dos grupos, em especial dos que se reuniam por algum interesse apos-
tólico explícito (como, por exemplo, o grupo missionário); cuidava da

2.7 Page 17

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72 ATOS DO CONSELHO-GERAL
animação vocacional e do acompanhamento pessoal dos jovens. Essa
figura, encontrável na história não remota das nossas casas, ajuda-nos
a perceber como o carisma salesiano possa fundir-se harmoniosamen-
te com o munus docendi do ministério sacerdotal, no interior da mis-
são confiada à comunidade.
É igualmente significativo que o ministério da Palavra, e não a
santificação, ocupe o primeiro lugar. Seria uma pena, portanto, se os
nossos jovens salesianos chegassem ao final da própria formação es-
pecífica com uma preocupação excessiva e exclusiva pelo munus cele-
brandi, mais do que ter no coração uma paixão vibrante pelo primeiro
anúncio, no qual insiste com força a Christus Vivit.71
O ministério da santificação (munus sanctificandi) pode ter mui-
tas expressões em chave salesiana, mas a mais significativa consiste
em pôr-se a serviço dos jovens acompanhando-os na iniciação à vida
em Cristo, na oração litúrgica e na celebração dos sacramentos, em
especial os da Reconciliação e da Eucaristia (FSDB 39). O salesiano
padre é um especialista na iniciação à vida sacramental dos Garelli e
dos Magone de hoje. Também neste campo, aprende a encontrar os
jovens no ponto em que se encontra a liberdade deles e a experiência
de vida a que foram expostos (cf. C 38). Sabe que é chamado a ser es-
pecialista dessa arte, com a capacidade de criar símbolos e linguagens
que tenham sentido para os jovens de hoje.
O Sínodo sobre Os Jovens, a Fé e o Discernimento vocacional
é um forte apelo à Igreja, para que nos renovemos na capacidade de
chegar às novas gerações, aos nativos do mundo digital que vivem
no interior das mídias sociais, com grandes riscos, mas também com
o imenso potencial que tudo isso comporta. A Igreja tem o direito de
esperar dos filhos de Dom Bosco que estejam na primeira linha para
encontrar novos caminhos de iniciação ao mistério de Cristo neste
novo terreno digital. “Já não se trata apenas de ‘usar’ instrumentos
71 CV 214, com referência a EG 165.

2.8 Page 18

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ORIENTAÇÕES E DIRETRIZES 73
de comunicação, mas de viver numa cultura amplamente digitalizada
que tem impactos muito profundos na noção de tempo e espaço, na
percepção de si mesmo, dos outros e do mundo, na maneira de comu-
nicar, aprender, obter informações, entrar em relação com os outros”
(CV 86). O munus sanctificandi prevê o acompanhamento desses e de
outros jovens no seu encontro com Cristo com uma criatividade que
brota das profundezas da nossa vida de fé, esperança e caridade.
Precisamos insistir, então, que o serviço a prestar é “iniciar” na
vida do Espírito, e não só administrar os sacramentos. Preparar os jo-
vens salesianos para viverem com paixão e competência neste campo
apostólico é certamente um dos grandes desafios que a formação ini-
cial deve enfrentar, porque requer muito mais do que a inserção de
algum curso suplementar de catequese ou teologia sacramental num
plano de estudos já repleto de exames.
O sacramento da Reconciliação ocupa um lugar especial na vida
do salesiano sacerdote, como o foi na vida de Dom Bosco. Para o nosso
pai, esse sacramento foi, talvez, o maior meio de iniciação à vida no Es-
pírito. Dedicou-lhe muito tempo e energias, alcançando os seus jovens
individualmente, encontrando aquele “ponto acessível ao bem... a corda
sensível do coração”72 de onde podia florescer uma nova vida. Essa arte
espiritual não brotou do nada. Repensando sobre o adolescente João
Bosco que aprendeu a amar esse sacramento durante os anos no sítio Mo-
glia e, depois, na escola do bom padre Calosso. Vamos com a memória
72 As Memórias Biográficas, depois de narrar o modo de viver esse sacramento no
Oratório de Valdocco, oferecem um breve resumo de como Dom Bosco “costu-
mava raciocinar”: “Como não há terreno ingrato e estéril que não possa finalmente
frutificar por meio de longa paciência, o mesmo ocorre com o homem; verdadeira
terra moral, que por mais estéril e relutante que seja, produz, mais cedo ou mais
tarde, pensamentos honestos e, em seguida, atos virtuosos, quando um diretor com
orações ardentes acrescenta seus esforços à mão de Deus para cultivá-la e torná-la
fecunda e bonita. Em todo jovem, mesmo o mais miserável, tem um ponto acessível
ao bem e o primeiro dever do educador é procurar esse ponto, essa corda sensível
do coração e tirar proveito dela” (MB V 367).

2.9 Page 19

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74 ATOS DO CONSELHO-GERAL
até o jovem sacerdote que se prepara para o “exame de confissão” no
Colégio Eclesiástico sob a sábia orientação do padre Cafasso. Pergunte-
mo-nos qual é o lugar desse sacramento, primeiramente em nossa vida
pessoal e, depois, em nosso ministério. Que tipo de sacerdotes salesia-
nos seremos se não formos frequentadores assíduos desse sacramento e
raramente disponíveis para esse ministério?
O ministério de animação da comunidade salesiana (munus
pascendi) é totalmente orientado a serviço da unidade nas diversas co-
munidades: a comunidade religiosa, a comunidade educativo-pastoral,
a Família Salesiana, o movimento salesiano e a comunidade humana
e social em sentido amplo (FSDB 39). Animação, com sua raiz latina
anima, consiste em dar vida e promover unidade. Não se trata, então,
de uma dinâmica verticalista. A alma está presente em toda parte e tra-
balha a partir de dentro. A Igreja convida aqueles a quem foi confiado
o munus pascendi a adotar um novo modo de exercer a autoridade, que
dê luz e força à dinâmica da fraternidade (VN 41).
Sobre isso é interessante ver como é entendida a autoridade nas
novas orientações para o diretor e a comunidade salesiana aprovadas
pelo Reitor-Mor e seu Conselho em junho de 2019.
“O Sistema Preventivo promove um estilo de liderança no qual
a confiança e a familiaridade são fundamentais na relação entre
educador e jovem, e o mesmo se dá com os irmãos no interior da
comunidade salesiana. O papel de guia e animação a quem é con-
fiado um ‘serviço de autoridade’ não fica, por isso, de modo algum
diminuído. Ao contrário, quando esse papel e serviço são vividos
segundo o espírito salesiano, eles adquirem maior autoridade,
muito mais eficácia do que se consegue obter apenas recorrendo à
‘frieza de um regulamento’ (Carta de Roma 1884).
É interessante encontrar o mesmo apelo à autoridade no
documento final da assembleia sinodal sobre os jovens, a fé e o
discernimento vocacional: “Para percorrer um verdadeiro caminho
de amadurecimento, os jovens têm necessidade de adultos com

2.10 Page 20

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ORIENTAÇÕES E DIRETRIZES 75
autoridade. No seu significado etimológico, a auctoritas indica a
capacidade de fazer crescer; expressa a ideia, não dum poder dire-
tivo, mas duma autêntica força geradora” (Documento final, Síno-
do sobre os jovens, 71).
Para permitir que o salesiano amadureça neste tipo de auctori-
tas, como educador com os jovens e, também, no seu serviço de
liderança, deve-se dar muita atenção e dedicação ao seu cresci-
mento humano e espiritual”. 73
Como consequência, são necessárias uma clara formação e qualifica-
ção nos objetivos e eficazes nos itinerários a seguir, a fim de habilitar para
uma grande capacidade de relações humanas significativas, para ser livres
e premunidos contra toda forma de clericalismo, com uma boa teologia
do laicato na base e experiências que tornem especialistas de formação
conjunta com os leigos que compartilham a nossa mesma missão. A vida
fraterna em comunidade deve ser elemento claro e critério inevitável para
o discernimento vocacional e a admissão à profissão perpétua.
Insistamos neste ponto: nenhum padre, muito menos o salesiano
padre, pode acreditar-se isento ou encontrar modos para diluir e dimi-
nuir o serviço da comunhão. Jesus morreu para poder reunir em unidade
todos os filhos dispersos de Deus (Jo 11, 52). Existem limites que pode-
mos colocar para aqueles que Deus considera e quer como seus filhos?
“Quem é o meu próximo” não deve ser, talvez, sempre e sem exceções
“quem é meu irmão e minha irmã”? Podemos nós que somos discípulos
apaixonados no seguimento do Senhor permitir-nos colocar limites à
comunhão, excluindo, quem sabe, primeiro os samaritanos, mas depois
também os judeus e, enfim, as pessoas de outras religiões, primeiramen-
te os que julgamos como pecadores, e, depois, também os refugiados,
os migrantes e todos os que sentimos como intrusos e perturbadores
do conforto a que nos habituamos? Somos chamados a ser profetas da
73 O diretor salesiano: um ministério para a animação e o governo da comunidade
local (2019) n. 40.

3 Pages 21-30

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3.1 Page 21

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76 ATOS DO CONSELHO-GERAL
fraternidade e não existem limites para a comunhão fraterna: ela se ex-
pande em círculos concêntricos para abranger toda a criação de Deus,
que é Pai de todos nós e faz brilhar o seu sol sobre bons e maus. E seria
bom recordar que a comunhão na Igreja é uma realidade teológica antes
de ser nossa preocupação pastoral. “Deus pôs tudo debaixo de seus pés
e o constituiu acima de tudo... que se plenifica em todas as coisas (to
plērōma tou ta panta en pasin plēromenou)” (Ef 1,22-23).
O serviço da autoridade encontra o seu significado e a sua justi-
ficação no contexto desse amor pelo Corpo de Cristo, na sua totalida-
de e na sua concretude como comunidade onde somos inseridos. O
ministério do Papa Francisco é um constante pró-memória do modo
evangélico de “servir os servos de Deus” confiados aos nossos cuida-
dos. O novo Manual do Diretor oferece pontos válidos de meditação
e encorajamento aos irmãos chamados ao serviço da autoridade, uma
responsabilidade que em diversas áreas da Congregação pode exigir
hoje grande sacrifício pessoal.
2.3 O sinal
Como consagrado, o salesiano presbítero é um sinal escatológi-
co, um memorial vivo do modo de viver de Jesus. No seu celibato por
amor do Reino, ele se torna um sinal da vida da ressurreição que Jesus
oferece a todos.74 A insistência de Dom Bosco sobre as últimas coisas
74 ACG 342 = Lettere 1293: “A vida consagrada exprime de modo eminente a na-
tureza sacramental da Igreja. De modo particular proclama abertamente a índole
escatológica do Povo de Deus”. “Os consagrados, com sua doação total pela prá-
tica dos conselhos evangélicos, tornam-se sinal visível da força da ressurreição,
esforçam-se por ser capazes de discernir a ação de Cristo ressuscitado na história e
testemunham os empenhos e a alegria da esperança na preparação da volta do Se-
nhor aguardando ‘novos céus e nova terra’”. ACG 347 = Lettere 1437: “Pensando
na ‘sacramentalidade’ de toda a Igreja, muito sublinhada pelo Concílio, falou-se
da função simbólico-transformadora da Vida consagrada, em suas variadas formas
carismáticas, como se fosse uma ‘parábola escatológica’ para a fé de todo o Povo de
Deus. A sua ‘significatividade’, segundo este papel simbólico-profético, não a eleva
acima dos demais membros da Igreja como se possuísse uma dignidade maior, mas

3.2 Page 22

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ORIENTAÇÕES E DIRETRIZES 77
(os novíssimos) pode ser entendida como uma profecia relacionada
com a nossa identidade: somos na Igreja, em especial para os jovens,
sinais da ressurreição. O salesiano sacerdote é sempre e em todos os
lugares um educador-pastor, sempre orientado ao bem total, à salva-
ção daqueles a quem é enviado, “totalidade” compreendida e definida
pela missão e pessoa do Senhor Jesus.
Pois bem, como todas as pessoas consagradas, a vida do salesiano
sacerdote é marcada por uma verdadeira paixão pelo Senhor, que se
traduz e se exprime numa alegria que facilmente se torna contagiosa e
visível (a alegria salesiana! Ver C 17), “enquanto, vivendo a esperan-
ça, aguardamos a vinda de Cristo salvador” (Ordinário da Missa, rito
da comunhão).
Quando preside a celebração dos sacramentos, o irmão sacerdote
sabe que age in persona Christi e que as suas ações têm uma eficácia
(ex opere operato) que não depende de ser virtuoso ou do seu valor
como pessoa. Mas está igualmente consciente de que é chamado a unir
a sua oferta à de Cristo, como todos os cristãos, e que, como pessoa
consagrada, é chamado a viver de tal modo que a oferta do seu próprio
corpo e da sua vida se torne uma profecia e um sinal.75
Como todas as pessoas consagradas, também o salesiano sacer-
dote tem o seu lugar no coração mariano da Igreja. Maria é a mulher
distingue-a e a faz subsidiária, porque destinada a um serviço peculiar. Ela procla-
ma alguns aspectos do multiforme mistério de Cristo, tornando perceptíveis aos
contemporâneos os seus ricos conteúdos de salvação”.
75 “Espero que ‘desperteis o mundo’, porque a nota característica da vida consagrada
é a profecia. Como disse aos Superiores Gerais, «a radicalidade evangélica não é
própria só dos religiosos: é pedida a todos. Mas os religiosos seguem o Senhor de
uma maneira especial, de modo profético»”, Carta Apostólica do Santo Padre Fran-
cisco às pessoas consagradas por ocasião do Ano da Vida Consagrada, 28.11.2014.
Ver também Bozzolo, op. cit., 335: “Diferentemente do ministério ordenado que
tem uma consistência institucional supra pessoal, graças à qual o ministério de um
sacerdote indigno também permanece válido, a vida consagrada consiste inteira-
mente na qualidade da resposta amorosa daqueles que a vivem. Não há castidade
para aqueles que não são castos, pobreza para aqueles que não são pobres, obediên-
cia para aqueles que não obedecem”.

3.3 Page 23

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78 ATOS DO CONSELHO-GERAL
que é a Igreja. A vocação de todo membro da Igreja é ser, como Maria,
um ‘sim’ total a Deus. Somos a esposa que espera com ansiedade a
chegada do Esposo, e com o Espírito dizemos: “Vem, Senhor Jesus!”
(Ap 22,17). A vocação de Maria é a vocação de todos nós. A vida
consagrada tem seu lugar no coração mariano da Igreja, porque o seu
papel e tarefa é ser profecia desse ‘sim’ e da comunhão final de todos
os seres humanos com Deus na vida da ressurreição.
Ao mesmo tempo, Maria é também uma pessoa concreta com quem
temos um relacionamento muito especial. Foi o que aconteceu na vida
de Dom Bosco, para quem a Igreja tinha não só um rosto mariano, mas
também o rosto de sua mãe, aquela mulher sábia que enquanto intuía
as exigências da sua vocação sacerdotal, de quem se prepara para ser
padre, também soube entregar seu filho inteiramente a Maria.76
A maturidade afetiva do salesiano sacerdote, vivida numa iden-
tidade sexual esclarecida, é expressão límpida do seu celibato que as-
sume uma importância especial no contexto da tutela e salvaguarda
dos menores. Aqui se percebe a validade permanente e a forte rele-
vância da insistência de Dom Bosco sobre a virtude da pureza. Como
salesiano, o irmão sacerdote é chamado a uma especial imitação da
pureza de Jesus. Jesus é o puro de coração em cuja presença mulhe-
res, crianças e homens se sentiam acolhidos e em segurança. É, dessa
forma, plenamente Filho do Pai, capaz de apresentar-se a todo homem
e toda mulher exclusivamente como irmão. “Apenas como irmão ele
se ofereceu à atenção, à amizade, à ternura afetiva de suas irmãs e
seus irmãos. Sua liberdade nesse ponto é total, límpida e divina. Seu
celibato, longe de ser renúncia e limitação, é consequência da sua con-
dição exclusivamente filial e fraterna”.77 Entretanto, o salesiano sabe
que é chamado não só a ser uma presença sem dúvida confiável para
os jovens, mas também sinal que resplende e irradia, que empolga os
jovens, permitindo-lhe educar ao amor e à pureza (C 81).
76 Bozzolo, op. cit., 347-349.
77 F. Rossi de Gasperis, Sentieri di vita, Paoline, Milão 2007, vol. 2.2:242.

3.4 Page 24

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ORIENTAÇÕES E DIRETRIZES 79
Como sacerdote, o salesiano é chamado a exercer a paternidade
espiritual com aquela delicadeza de maturidade humana e espiritual
que o ajuda a ser realmente paterno, sem cair, todavia, no paternalis-
mo. O risco de um paternalismo sufocante que beira o clericalismo e o
abuso de autoridade, pode se tornar mais forte pelo modo com que as
figuras paternas podem ser vividas e compreendidas em determinados
contextos culturais. Nestas situações devemos fazer maiores esforços
para imitar a paternidade de Dom Bosco. Por mais exigente que esse
esforço possa ser, não podemos, contudo, rebaixar o modelo e descer
a compromissos quando esse objetivo está em jogo. A paternidade de
Dom Bosco é como que o sinal distintivo do seu espírito e do seu ca-
risma. “Recorda-se do nosso Pai, sobretudo a preocupação pelo bem
espiritual, a bondade que inspiravam os seus relacionamentos e a sa-
bedoria na orientação de indivíduos e grupos: um trinômio que carac-
teriza a sua paternidade. Ela, depois, exprimia-se em múltiplos gestos
e atitudes”. 78
A amorevolezza está no coração do Sistema Preventivo. É o modo
único de Dom Bosco relacionar-se com os jovens; a mesma palavra,
nascida da esplêndida união de amor materno e força paterna de quem
no-la transmitiu, perde o seu significado fora do nosso contexto e da
nossa história. Esse modelo de amor puro ou pureza amável que está
no centro do nosso carisma só pode ser compreendido e absorvido por
‘contágio’. Amadurece lentamente ao longo dos anos, até chegar ao
sincero e transparente dom de si, que não só contemplamos na vida
de Dom Bosco, como também em muitos dos seus filhos, como Srugi,
Variara, Zatti, Cimatti e Sándor, para citar apenas alguns.
Há outro campo em que hoje o nosso ser “sinal escatológico” e
“memorial vivo do modo de viver de Jesus” se torna um dom precioso
para os jovens, para a Igreja e para o mundo. A consciência ecológica
está amadurecendo e se desenvolvendo com o crescimento em escala
78 J. E. Vecchi, ACG 365 = Educatori appassionati esperti e consacrati per i giovani.
Lettere circolari ai Salesiani di Juan E. Vecchi, LAS, Roma, 358.

3.5 Page 25

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80 ATOS DO CONSELHO-GERAL
geométrica do risco ecológico sem precedentes, que estamos todos
correndo como família humana, e que atinge primeiramente as jovens
gerações. Sendo sinais da ressurreição mediante o dom da nossa con-
sagração, somos também sinais do valor da criação e do chamado à
conversão eco-espiritual pedida pela Laudato Si’. A ressurreição lança
uma luz nova sobre a vida, iluminando a nossa profundíssima interco-
nexão com toda a criação.
“Se nós reduzirmos o homem exclusivamente à sua dimensão ho-
rizontal, àquilo que se pode sentir de forma empírica, a própria
vida perde o seu profundo sentido. O homem tem necessidade de
eternidade, e para ele qualquer outra esperança é demasiado
breve, é demasiado limitada. O homem só é explicável, se exis-
tir um Amor que supere todo o isolamento, também o da morte,
numa totalidade que transcenda até o espaço e o tempo. O ho-
mem só é explicável, só encontra o seu sentido mais profundo, se
Deus existir... somos convidados, mais uma vez, a renovar com
coragem e com força a nossa fé na vida eterna, aliás, a viver
com esta grande esperança e testemunhá-la ao mundo: por de-
trás do presente não existe o nada. E é precisamente a fé na vida
eterna que confere ao cristão a coragem de amar ainda mais
intensamente esta nossa terra e de trabalhar para lhe construir
um futuro, para lhe dar uma esperança verdadeira e segura”.79
Quanto mais crescemos na consciência do destino eterno incorpo-
rado em cada rosto humano, tanto mais redescobrimos outro aspecto
da vida no seu imenso valor, partícipe do único desígnio divino, em
que universo criado e liberdade criada de todo “nascido de mulher” se
refletem reciprocamente, ambos mistérios com o mesmo nível infinito.
Como pessoas consagradas somos chamados, sem dúvida, também a
79 Bento XVI, Audiência geral, 2 de novembro de 2011.

3.6 Page 26

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ORIENTAÇÕES E DIRETRIZES 81
testemunhar a admirável interconexão de tudo o que Deus criou, e do
seu crescimento e caminho (uni-verso) para o eschaton, a recapitula-
ção de todas as coisas em Cristo.
3. Animação, vocação e formação
À luz do que compartilhamos, proponho algumas sugestões que
poderiam ajudar-nos a aprofundar a identidade consagrada salesiana
em sua forma sacerdotal neste nosso tempo.
O primeiro ponto é aprofundar a nossa consciência sobre a be-
leza da vida consagrada. A animação vocacional e a formação ini-
cial são processos que funcionam substancialmente “por contágio”:
uma pessoa consagrada que vive a sua vocação com alegria e paixão
é atraente e profética. Nesse contexto, seria bom recordar os livretos
publicados pela CIVCSVA durante o ano dedicado à vida consagrada,
todos centrados na espera da vinda do Senhor, que está no centro da
vocação consagrada (Scrutate), na beleza e no esplendor do Senhor
(Contemplate), no ser testemunhas do Senhor Ressuscitado entre to-
dos os povos (Annuciate).80
O segundo ponto é aprofundar a nossa compreensão do mesmo
sacerdócio. O problema não advém de ser muito sacerdote, mas de
sê-lo muito pouco: tendemos a concentrar-nos em “ser padre”, mais
do que em sê-lo realmente. O problema na Congregação é que temos
“muitos sacerdotes, mas pouco sacerdócio”.81 Tendemos a ser fascina-
dos por aquilo que fazemos como padres, e, talvez, também pelo retor-
no imediato que daí deriva, com o “estímulo social” ligado ao status
80 CIVCSVA, Alegrai-vos. Aos consagrados e às consagradas, do magistério do Papa
Francisco (fevereiro de 2014); Perscrutai. Aos consagrados e às consagradas em
caminho pelos sinais de Deus (fevereiro de 2014); Contemplai. Aos consagrados e às
consagradas sobre as marcas da Beleza (novembro de 2015); Anunciai. Aos consa-
grados e às consagradas testemunhas do Evangelho entre o povo (agosto de 2016).
81 ACG 335 = Lettere 1080.

3.7 Page 27

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82 ATOS DO CONSELHO-GERAL
e o apreço dos fiéis, mais do que pelo viver o sacerdócio de Cristo em
sua verdadeira profundidade. Existe um verdadeiro tesouro escondido
a redescobrir e fazer nosso no empenho renovado de compreender a
beleza do sacerdócio de Cristo.
Em terceiro lugar, o salesiano presbítero deve ser formado para
viver muito atento ao contexto sociocultural e às mudanças rá-
pidas em ato, que são, de fato, a realidade em que os jovens vivem.
Isso envolve, ao mesmo tempo, o retorno constante à inspiração ca-
rismática em que se alimenta a nossa identidade e missão salesiana.
Nós nascemos da experiência de Dom Bosco com os jovens margina-
lizados de Valdocco, pelos quais ele consumiu toda a sua vida, até o
último alento. Nossas Constituições são a encarnação dessa vocação
e missão, e a Igreja pede-nos somente e sempre para sermos fiéis a
esse patrimônio e mandato específicos. Longe de ser uma proprieda-
de privada da Congregação, as Constituições pertencem à Igreja, e é
pela autoridade de Pedro que somos chamados pela Igreja a vivê-las.
A experiência carismática de Dom Bosco continua o nosso centro de
gravidade na variedade dos contextos e nas contínuas alterações que
condicionam a cultura e a vida das pessoas de hoje. Este é o critério
permanente não só para as variadas atividades que vão adiante, mas
também, e com maior razão, para o nosso empenho pessoal na missão
entre os jovens, como salesianos padres e coadjutores.
“Dom Bosco viveu uma típica experiência pastoral no seu pri-
meiro Oratório, que foi para os jovens casa que acolhe, paró-
quia que evangeliza, escola que encaminha para a vida, e pátio
para se encontrarem como amigos e viverem com alegria.
Ao realizarmos hoje nossa missão, a experiência de Valdocco
continua critério permanente de discernimento e renovação de
cada atividade e obra” (C 40).

3.8 Page 28

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ORIENTAÇÕES E DIRETRIZES 83
Quarto ponto: o carisma salesiano deve caracterizar a nossa ação
no campo da animação vocacional em todas as suas expressões.
Enquanto acompanhamos todos os jovens na descoberta da própria
vocação, devemos propor também o que é típico do nosso carisma,
envolvendo-os na nossa missão, na vida de comunidade e na experiên-
cia dos valores típicos do nosso espírito.82 No interior da apresenta-
ção do carisma, devemos aprender a promover uma boa percepção da
vocação consagrada salesiana, antes de tudo no testemunho alegre do
nosso modo de vivê-la, e, ainda, também com a sua proposta explíci-
ta. Sempre haverá aqueles que virão até nós com a intenção primária
de serem sacerdotes. Eles devem ser ajudados a discernir se, de todo
coração, se sentem e são realmente chamados a abraçar o carisma sa-
lesiano. A “conversão” ao carisma é condição indispensável para ou-
tros passos do caminho. De aqui a grande tarefa para todas as nossas
Inspetorias de migrar de vez do recrutamento de candidatos a uma
verdadeira cultura vocacional.83
Em relação à vocação para ser salesiano padre, alguns critérios de
discernimento devem estar presentes com muita atenção: a consagra-
ção salesiana (capítulo 2 das Constituições); a capacidade de ser um
verdadeiro construtor (e não destruidor!) de comunidade; o zelo pela
salvação dos jovens... limitando-nos a apresentar o essencial, do que,
depois, derivam muitos outros elementos típicos da nossa vida.
O quinto ponto refere-se à melhora e consolidação dos proces-
sos de acompanhamento durante o pré-noviciado, o noviciado e o
pós-noviciado. Essas três fases formam uma unidade entre si e são
de vital importância para o crescimento da identidade consagrada sa-
lesiana nas suas duas formas. Se é verdade que, como revela o nosso
recente estudo sobre o acompanhamento pessoal salesiano, cerca de
80% dos nossos candidatos falam de uma verdadeira descoberta do
82 Critérios e normas de discernimento vocacional salesiano, 3a edição, Roma
2000, 39.
83 CG27 75,1.

3.9 Page 29

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84 ATOS DO CONSELHO-GERAL
acompanhamento espiritual pessoal só no pré-noviciado, estas fases
se tornam ainda mais cruciais.84
O acompanhamento espiritual pessoal no contexto do acom-
panhamento da comunidade é um instrumento indispensável para
a aceitação pessoal dos valores da nossa vocação. Toda Inspetoria
é chamada a investir com coragem na preparação dos formadores,
individualmente e como equipe, de modo a se tornarem guias capazes
de conquistar a confiança (Procura fazer-te amar) e de chegar ao co-
ração dos salesianos em formação inicial. Não nos podemos permitir
situações em que a autoridade mal administrada gera dinâmicas de
medo e suspeição, que acabam por arruinar o processo de acompa-
nhamento e formação em seu conjunto.85 Além disso, os formadores,
especialmente os que oferecem o serviço de acompanhamento espiri-
tual pessoal, devem ser capazes de ajudar a aprofundar sobretudo as
dimensões carismática e comunitária no interior do caminho de con-
figuração a Cristo, que é o horizonte último em que qualquer outro
passo encontra a sua razão de ser.
O sexto ponto refere-se à melhora e consolidação dos processos
de acompanhamento e discernimento durante o tirocínio e a prepa-
ração para a profissão perpétua. Nossas Constituições descrevem o
tirocínio como uma fase de intensa experiência de vida, feita de ação
educativa e pastoral salesiana.86 Dada a sua proximidade da profissão
perpétua, essa fase da formação inicial torna-se ainda mais importan-
te tanto da parte do indivíduo como da comunidade. Não se deveria
84 M. Bay, Giovani salesiani e accompagnamento. Risultati di una ricerca interna-
zionale, LAS, Roma 2018, 472-473. Ver também Jovens salesianos e acompanha-
mento. Orientações e diretrizes, Roma 2019, n. 46. Tenha-se presente que 54,42%
também dizem que foram acompanhados de algum modo por ‘um amigo da alma’
nos anos antes do pré-noviciado.
85 M. Bay, op. cit., 482-483: 8. Elementi di disagio o difficoltà nell’esperienza di
accompagnamento spirituale personalizzato. Vedi anche Giovani salesiani e ac-
compagnamento. Orientamenti e direttive, Roma 2019, n. 53-59.
86 C 115: “confronto vital e intenso com a ação salesiana numa experiência
educativo-pastoral”.

3.10 Page 30

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ORIENTAÇÕES E DIRETRIZES 85
investir em formas melhores e mais eficazes de acompanhamento du-
rante esta fase tão preciosa e delicada para a nossa vida de salesia-
nos para ela ser realmente uma “experiência dos valores da vocação
salesiana” (C 98)? O Reitor-Mor insistiu que os inspetores enviem
tirocinantes somente às comunidades com comprovada capacidade de
acompanhá-los. Também poderia ser útil encorajar uma renovada re-
flexão sobre os critérios para a admissão à profissão perpétua.
A passagem do tirocínio à fase sucessiva da formação inicial, que
normalmente se dá a breve distância de tempo da preparação para a
profissão perpétua, pode oferecer boa oportunidade de discernimento
tanto para o irmão como para a comunidade. Ativar um processo de
avaliação que abranja o conjunto da experiência salesiana do irmão a
partir do noviciado, com atenção especial ao tirocínio, oferece boas
oportunidades para explorar em profundidade as próprias motivações.
A opção de iniciar uma formação específica para ser salesiano presbíte-
ro precisa de raízes sólidas e “critérios positivos”87 que se manifestam
na experiência salesiana vivida realmente. Nessa linha, a Ratio convi-
da-nos a fazer uma avaliação geral da experiência do tirocínio.
É oportuno que à conclusão do tirocínio haja uma avaliação
global de toda a experiência e do caminho vocacional trilhado,
quer por parte do Inspetor e da comunidade, quer pelo
interessado” (FSDB 439).
“Ao fim do tirocínio faça-se uma avaliação global da experiência
por parte do Inspetor, da comunidade e do irmão” (FSDB 444).
Nada nos impede de ampliar o horizonte dessa avaliação, até com-
pletar todo o arco de vida salesiana do noviciado ao momento presente,
de onde olhar adiante em vista de um programa de vida que se proje-
ta corajosamente para o futuro. Algumas Inspetorias sintonizam essa
87 Ver Critérios e normas 39; 42-43.

4 Pages 31-40

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4.1 Page 31

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86 ATOS DO CONSELHO-GERAL
avaliação geral com a “declaração de intenção” necessária para iniciar
a formação específica para o sacerdócio.
“A formação específica do irmão clérigo exige de cada candida-
to a orientação clara para a vida sacerdotal. Por isso, no mo-
mento da sua aceitação para essa fase formativa, exige-se do ir-
mão uma declaração de intenção nesse sentido. As modalidades
para tal declaração podem ser várias: por exemplo, pelo pedido
ao Inspetor para iniciar os estudos teológicos ou o pedido para
iniciar a preparação da profissão perpétua na linha do presbite-
rado salesiano” (FSDB 482).
Boas práticas como estas podem contribuir para dar maior valor
à passagem crucial do tirocínio à formação específica e à profissão
perpétua. Evidentemente, exigem-se as melhores disposições e o en-
volvimento convicto tanto do irmão interessado como daqueles que o
acompanham nesse momento da sua vida.
O sétimo ponto refere-se à formação específica em preparação
ao sacerdócio salesiano. Esta fase, também pela sua duração, tem um
impacto extraordinário sobre a identidade consagrada salesiana na sua
forma sacerdotal. A Ratio não poderia ser mais clara ao formular os
objetivos próprios dessa fase:
“ ‘A nossa regra viva é Jesus Cristo… que descobrimos presente
em Dom Bosco, o qual deu a sua vida aos jovens’ (C 196). Esta
afirmação das Constituições exprime sinteticamente a vocação
do salesiano: conformar-se a Jesus Cristo e como Dom Bosco
dar a vida pelos jovens. Toda a formação, inicial e permanen-
te, consiste em assumir e realizar nas pessoas e na comunidade
essa identidade. Para o seu cumprimento orienta-se o empenho
de cada candidato e de cada irmão, a ação dos animadores, o
inteiro projeto de formação.

4.2 Page 32

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ORIENTAÇÕES E DIRETRIZES 87
A identidade salesiana é, portanto, fundamento de unidade e de
pertença à Congregação no mundo inteiro. É o coração de toda
a formação: dela parte o processo formativo e a ela faz constan-
te referência. E é critério determinante de discernimento voca-
cional” (FSDB 25).
“O salesiano sacerdote [ou diácono] reúne em si os dons da con-
sagração salesiana e os do ministério pastoral, mas de maneira
tal que é a consagração salesiana que determina as modalidades
originais do seu ser-sacerdote e do exercício do seu ministério.
Como sinal sacramental de Cristo Bom Pastor do qual aufere
sua caridade pastoral, procura “salvar” os jovens, trabalhando
no contexto de sua comunidade” (FSDB 39).
É tempo de repensar todo o processo de formação específica a
fim de dar à nossa identidade consagrada salesiana a centralidade que
lhe pertence. Não é realmente suficiente garantir que o plano de es-
tudos corresponda aos requisitos acadêmicos em vista da ordenação
sacerdotal. Devemos identificar e promover os métodos que melhor
favoreçam a obtenção contínua da síntese carismática que é o núcleo
da vocação do salesiano presbítero. Como o cardeal J. J. Hamer sus-
tentara vivamente durante o Sínodo sobre A formação dos sacerdotes
nas circunstâncias atuais, os superiores maiores têm a responsabili-
dade de garantir uma perfeita harmonia entre a formação ao sacer-
dócio e a formação à vida religiosa, de acordo com a identidade e o
carisma particulares de cada Instituto.88 Durante o estudo da teologia,
deveríamos unir esforços para melhorar os itinerários formativos e os
percursos acadêmicos que ajudem a ler os tratados teológicos à luz do
nosso carisma.
88 Citado em ACG 335 = Lettere 1084. Jean Jérôme Hamer, OP, STD (1916-1996) era
um cardeal belga, Prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e
as Sociedades de Vida Apostólica (1985-1992).

4.3 Page 33

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88 ATOS DO CONSELHO-GERAL
Existem, em especial, dois tipos de relações com um impacto
realmente forte sobre o futuro ministério e que devem ser, portanto,
objeto de atenção particular. A primeira é a experiência vivida pela
comunidade religiosa: um sentido claro de pertença e a capacidade de
doar-se num serviço generoso são sinais positivos extremamente im-
portantes. Os problemas na vida da comunidade depois da ordenação
têm frequentemente suas raízes numa frágil experiência de comuni-
dade durante a formação inicial. A segunda é a capacidade de viver o
espírito e a missão salesiana compartilhados com os leigos. A consis-
tência dessas convicções, competências e habilidades não surgem por
si só depois da ordenação, como se fossem automáticas; requer-se,
porém, uma deliberada e sistemática atenção a esse campo durante os
processos de formação inicial.
Precisamos garantir que a formação específica não se reduza em
seu conjunto à sua dimensão intelectual, embora sempre necessária,
e muito menos à “mera superação dos exames”. Os aspirantes ao sa-
cerdócio salesiano devem ser ajudados a entrar mais profundamente
em sua identidade específica de irmãos chamados a viver o sacerdócio
na vocação e missão salesiana. O que exigiria, como dissemos, uma
revisão profunda dos processos e instrumentos de formação (projeto
formativo comunitário e projeto pessoal de vida; acompanhamento
pessoal, de grupo e de comunidade), o alargamento da equipe com
pessoas envolvidas na formação, incluindo homens e mulheres leigos
e casais, e favorecendo a preparação mais adequada dos formadores.
Tudo isso deverá ser realizado com abordagem participativa, para ga-
rantir que os jovens irmãos sejam envolvidos ativamente, como pri-
meiros responsáveis da própria formação.
Oitavo ponto: o período do quinquênio. Não há nada que possa
comprovar a importância desta fase de modo mais convincente do que
tenha sido a experiência direta de Dom Bosco. A missão salesiana nas-
ceu nos primeiros cinco anos do seu sacerdócio, coincidentes com o
tempo passado entre a sua ordenação sacerdotal e o início do oratório

4.4 Page 34

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ORIENTAÇÕES E DIRETRIZES 89
com residência estável em Valdocco. A experiência pessoal do nosso
Fundador oferece ao mesmo tempo um testemunho extraordinário da
importância de ser acompanhados durante o período crucial da plena
inserção no ministério educativo-pastoral: sem Cafasso ao seu lado
não podemos nem sequer imaginar o São João Bosco que conhecemos
e procuramos seguir.
É responsabilidade primária do Inspetor indicar irmãos a
comunidades em que possam ser seguidos e acompanhados, como
também cabe, sem dúvida, aos irmãos interessados reconhecerem que
há necessidade de tal proximidade, acolhendo de bom-grado o fato de
serem acompanhados e apoiados. Não menos importante neste mo-
mento é o apoio dos colegas de quinquênio. Atualmente acontecem
experiências muito válidas de encontros entre salesianos do quinquê-
nio para apoio recíproco, em nível inspetorial e interinspetorial; vale a
pena compartilhar essas boas práticas.
Há, ainda, o estudo, que Cafasso definia como o oitavo sacra-
mento do padre. Seria uma tragédia se após a ordenação os salesia-
nos sacerdotes deixassem de ler, refletir e estudar. Se queremos ser
educadores e pastores e não funcionários ou mercenários, certamente
devemos dar atenção à dimensão reflexiva e contemplativa da nossa
vocação. O melhor exemplo aqui é o do próprio Dom Bosco: o Dom
Bosco que tinha um quarto reservado para ele no Colégio Eclesiástico
aonde se retirava todos os dias para ler e escrever nos seus primeiros
anos de sacerdócio. 89
Nono ponto. Dado o grande número de paróquias na Congre-
gação e o forte impacto formativo dessa forma especial de serviço
pastoral sobre a nossa vida salesiana e o nosso modo de perceber e
viver o ministério sacerdotal, seria importante promover no próxi-
mo sexênio processos de escuta, estudo e reflexão sobre esse tema, a
89 Ver G. Buccellato, Appunti per una “Storia Spirituale” del sacerdote Gio’ Bosco,
LDC, Turim 2008, 67. Ver também a vastíssima série de publicações do próprio
Dom Bosco, agora facilmente acessível em: http://www.donboscosanto.eu/.

4.5 Page 35

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90 ATOS DO CONSELHO-GERAL
realizar conjuntamente pelos Dicastérios da Pastoral Juvenil, das
Missões e da Formação envolvendo irmãos e comunidades direta-
mente empenhados no ministério paroquial salesiano.
Enfim, como decimo ponto, o salesiano sacerdote é chamado,
com o salesiano coadjutor, a promover ativamente a eclesiologia de
comunhão, que se expande em círculos concêntricos até abraçar toda
a humanidade. Isso significa ir além dos limites das nossas comuni-
dades religiosas e educativo-pastorais, para criar rede com outros reli-
giosos, com a comunidade diocesana, com a comunidade humana em
que nos situamos e com todos os que se interessam em cuidar da nossa
casa comum e promover a vida e o futuro dos jovens, sobretudo dos
mais marginalizados. O sacerdócio de Cristo abrange a família huma-
na inteira, e, na verdade, toda forma de vida no interior do esplendor
da criação, obra de Deus.
Aos poucos, aprenderemos a dar maior atenção à identidade dos
nossos irmãos sacerdotes, vendo ao mesmo tempo a melhora na quali-
dade pastoral, na espiritualidade e na responsabilidade compartilhadas
do primeiro protagonista da missão, que é a comunidade. O cresci-
mento permanente nos aspectos apresentados até aqui é um desafio
permanente para a vida religiosa salesiana em suas duas formas, com
o objetivo último de crescer juntos, salesianos leigos e salesianos pres-
bíteros, em fé e humanidade, a fim de prestar um serviço mais fecundo
aos jovens e a todos a quem somos enviados, pondo nisso todo o cora-
ção, todas as energias e todos os recursos a nossa disposição.