A opção pelos pobres será então a versão mais evangélica do nosso voto de pobreza, e nos
ajudará certamente a superar a inclinação tão natural que nós humanos, pessoas e instituições,
temos de associar-nos com o poder e os poderosos, de ter e possuir em excesso, inclinação
totalmente contrária ao Evangelho e à práxis de Jesus.
Irmãos, quando o nosso recente Capítulo Geral afirma que queremos ser uma Congregação de
pobres e para os pobres, porque cremos como Dom Bosco que este deve ser o nosso modo de
viver o Evangelho com radicalidade e a maneira de viver mais disponíveis às exigências dos jovens,
não está pensando que seja apenas uma sugestão para os salesianos mais sensíveis ou um pouco
mais generosos, mas projeta-o como a realização de um autêntico êxodo em nossa vida.28 Deve
ser algo essencial para o nosso ser Salesianos de Dom Bosco, e aquilo que deve estar a peito para
todo salesiano. A exceção deverá ser a dos irmãos que não se sentem capazes – porque algo não
está bem em suas vidas – e então poderão contar com a nossa fraternidade e a nossa ajuda, mas
jamais deveria ser uma opção pela indiferença, pela mediocridade na entrega, pelo subtrair-se à
opção pelos mais pobres, e menos ainda deveria dar-se o caso de um jovem, uma jovem, um
adolescente ter que deixar a casa de Dom Bosco porque não dispõe de recursos econômicos para
pagar isto ou aquilo.
Haverá, talvez, quem pense que se trate de algo bonito, mas irrealizável; alguém dirá que
devemos sustentar escolas, despesas, e eu lhes digo que com a generosidade, com a clareza da
opção, com a busca de ajuda, com recursos para bolsas de estudo, com a capacidade que
certamente temos de gerar solidariedade quando se trata de ajudar os que menos possuem,
poderemos tornar realidade que a casa salesiana jamais seja inacessível para aqueles que menos
possuem (seja uma escola, um oratório, uma casa-família, um centro juvenil...). Gostaria de
recordar o que já disse nas palavras conclusivas do Capítulo Geral: São os jovens, especialmente
os mais pobres, que nos salvarão. Eles são um dom para nós salesianos, eles são realmente “a
nossa sarça ardente” diante da qual devemos tirar as sandálias.29 Esta é a chave da nossa
paternidade como educadores, doadores de vida, até dar a nossa vida, entregá-la pelos últimos,
porque, respondendo ao chamado do Senhor, decidimos doá-la. Tendo sido capazes do mais (o
‘sim’ por toda a vida) não é para permanecermos no menos, deixando de ser alternativa para
alguém, sendo um sinal de coisa nenhuma.
Estou convencido – sem ainda conhecer toda a Congregação – que é muita a dedicação e a
generosidade existentes, mas aquilo que já está bem centrado em Deus e nos últimos não nos
pode tranquilizar e compensar as realidades nas quais não estamos respondendo ao que Dom
Bosco faria hoje. É neste sentido que, como nos pede o CG27, encorajo a todos os irmãos a nos
colocarmos numa verdadeira atitude de conversão a Deus, aos irmãos e aos jovens.
Somos para os jovens verdadeiros pais e irmãos, como o foi Dom Bosco e como no-lo
recordou, no seu tempo, João Paulo II, quando nos disse no CG23: “Portanto, no centro das vossas
atenções estejam sempre os jovens, esperança da Igreja e do mundo, para os quais todos olham
com confiança e trepidação. Nas nações mais ricas, como nos países mais pobres, permanecei
sempre ao serviço deles; ficai especialmente atentos àqueles que são mais fracos e marginalizados.
Levai a cada um deles a esperança do Evangelho, para que os ajude a enfrentarem a vida com
28 Cf. CG27, n. 55. O negrito é opção minha.
29 CG27, n. 52, citando Ex 3,2 e “Evangelii Gaudium”, n. 169.
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