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1. CARTA DO REITOR-MOR
PERTENCER MAIS A DEUS, MAIS AOS IRMÃOS, MAIS AOS JOVENS
Roma, 16 de agosto de 2014.
Início do Bicentenário do Nascimento de Dom Bosco
1. NOS PASSOS DOS MEUS PREDECESSORES. 2. UM PRESENTE A SER VIVIDO NA FÉ, COM ESPERANÇA, COM
REALISMO E CAMINHANDO JUNTOS. 3. PERTENCENDO MAIS A DEUS. 4. FAÇAMOS COM A UTOPIADA
FRATERNIDADE SEGUNDO O EVANGELHO SEJA UMA REALIDADE. 5. COM OS JOVENS, PELOS JOVENS NOSSOS
PATRÕES”. 6. CONGREGAÇÃO MISSIONÁRIA: QUANDO A DIVERSIDADE É RIQUEZA. 6.1. Porque existem campos
de missão pastoral aonde somos muito necessários neste momento… - 6.2. ...E porque a
diversidade é riqueza. 7. CELEBRANDO O CENTENÁRIO DO NASCIMENTO DE DOM BOSCO. 8. “LEVEMOS NOSSA
SENHORA PARA CASA”: “E DESDE AQUELE MOMENTO O DISCÍPULO LEVOU-A CONSIGO” (JO 19,27).
Meus caros Irmãos,
Já se passaram três meses e meio desde o final do CG27 e, mesmo que me tenha comunicado
convosco por escrito ou com uma mensagem audiovisual, a carta do Reitor-Mor publicada nos
Atos do Conselho Geral é um momento especial.
Escolhi como título desta primeira carta o mesmo da minha intervenção no encerramento do
CG27, porque acredito que há no conteúdo do Capítulo um programa de reflexão e de ação para o
sexênio, que devemos aprofundar em momentos e modos diversos. Entendo referir-me a alguns
núcleos do Capítulo Geral, mas em primeiro lugar e, sobretudo, gostaria de expressar a todos e a
cada um de vós, meus Irmãos salesianos, todo o afeto e o desejo de, algum dia, em algum lugar do
nosso ‘mundo salesiano’, podermos nos encontrar. Será um verdadeiro presente e uma alegria
para mim.
Quero dizer também que, ao pensar na maneira de manifestar-vos o que representa para mim
este momento em que vos escrevo e este serviço que me foi solicitado, pensei em procurar e ler
como foi a primeira comunicação de cada um dos Reitores-Mores que me precederam. Devo
dizer-vos que foi um verdadeiro prazer e um presente para a alma encontrar-me com estes
testemunhos, e não posso deixar de compartilhar convosco o que percebi, e que fala por si só.
1. NOS PASSOS DOS MEUS PREDECESSORES
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Devo confessar-vos que só o fato de escrever este relato me comove, pensando justamente
nos Reitores-Mores que tivemos. Percebe-se em todos eles que o início do seu serviço foi
realmente algo muito especial.
Padre Miguel RUA (Beato) escreve sua primeira carta como Reitor-Mor em 19 de março de
1888, após o reconhecimento e o decreto da Santa Sé que o confirmava como Reitor-Mor, e se
expressa dizendo que, depois da carta enviada pelo Capítulo Superior, ele, pela primeira vez,
escreve em sua nova qualidade de Reitor-Mor e que, “apesar da minha indignidade, fui conduzido
pela Divina Providência na maneira como foi manifestada a todos vós”.1 Dito isto, Padre Rua
comunica que, depois da audiência pessoal com o Papa Leão XIII, o Cardeal-Vigário lhe disse como
últimas palavras: “Recomendo-lhe a causa de Dom Bosco; recomendo-lhe a causa de Dom Bosco”.2
Em seguida, expressa a sua profunda convicção de que os Salesianos devem ser dignos filhos de
um Pai tão grande com foi Dom Bosco, de modo que o empenho principal deve ser apoiar e ao
mesmo tempo desenvolver ainda mais as obras iniciadas por ele, seguindo fielmente os métodos
praticados e ensinados pelo próprio Dom Bosco. Depois, agradece por todas as cartas recebidas,
cheias de sentimentos de respeito e de afeto, e reconhece que tudo isso serve de conforto para a
sua dor (entende-se, pela perda de Dom Bosco) e infunde no seu coração a confiança de que seja
menos difícil o seu caminho: “Não obstante não posso esconder nem a mim nem a vós a grande
necessidade que tenho das vossas orações. Recomendo-me, pois, à vossa caridade para que todos
vós me sustenteis com vossas válidas orações. De minha parte, asseguro-vos que, tendo a todos no
meu coração, vos recomendarei todos os dias na S. Missa ao Senhor, para que vos assista com a
sua santa graça, vos defenda de todos os perigos e, sobretudo, nos conceda encontrar-nos um dia
todos juntos, sem excluir ninguém, a cantar os seus louvores no Paraíso, onde nos espera, como
no-lo escreveu o nosso amantíssimo Pai Dom Bosco”.3
Padre Paulo ALBERA escreve a sua primeira carta em Turim no dia 25 de janeiro de 1911. O
Capítulo Geral XI terminara em 31 de agosto de 1910. Nessa carta, com toda a sua simplicidade,
Padre Albera começa dizendo estar ciente de que se esperava com certa impaciência a primeira
circular do novo Reitor-Mor e reconhece que, tão logo concluído o Capítulo Geral, deveria ter
informado sobre as eleições dos Superiores e outras coisas importantes.4
Com a simplicidade que reconhecemos no Padre Albera, ele manifesta na carta que escreve
numa data próxima ao aniversário da morte do Venerável Dom Bosco, data que o Padre Rua
escolhia com frequência para escrever alguma de suas ‘admiráveis circulares’, e está convencido
de que “a partir desta memorável data mais do que de outra coisa, brotará autoridade e eficácia à
minha pobre e desordenada palavra. Eis, portanto, que eu me apresento a vós não com a
linguagem de um superior e de um mestre, mas com a simplicidade e com o afeto de um irmão e
de um amigo. Pretendo revelar-vos os meus pensamentos, com o coração na mão e certo de que a
minha voz encontrará eco fiel em todos os Salesianos e servirá a todos de estímulo para vos
1 Lettere Circolari di Don Michele Rua ai Salesiani, Direzione Generale Opere Don Bosco, Turim, 1965, p. 25.
2 Ibidem, p. 26.
3 Ibidem, p. 27.
4 Lettere Circolari di Don Paolo Albera ai Salesiani, Direzione Generale Opere Don Bosco, Turim, 1965, p. 6.
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demonstrardes sempre mais dignos filhos do nosso Venerável Fundador e Pai”.5 Dito isto, mais
adiante, na mesma carta, intitulada “...Sob o peso da responsabilidade”, Padre Albera escreve uma
belíssima página, em que expressa sentir-se sob um grande peso e que gostaria de subtrair-se a
“um encargo que eu sabia muito além das minhas fragilíssimas forças físicas, intelectuais e
morais”.6
Via-se rodeado – são palavras suas – por muitos outros mais bem preparados para assumir o
governo da nossa Pia Sociedade, mais bem dotados de virtude e de sabedoria... Logo que pôde,
correu a Valsálice para lançar-se aos pés de Dom Bosco, lamentando-se por ter deixado cair em
suas mãos o timão da nave salesiana... expondo-lhe, mais com o pranto do que com as palavras, as
suas ansiedades, os seus temores, a sua fragilidade.7
Padre Felipe RINALDI (Beato) escreve sua primeira carta, publicada nos Atos do Capítulo
Superior, ‘Atos’ que, com o Padre Albera, surgiram três anos antes e dos quais tinham sido
publicados 13 números. Na primeira frase desta carta, ele escreve: “É a primeira vez que vos
escrevo como Reitor-Mor, e gostaria de poder manifestar-vos em toda a sua plenitude os
sentimentos e os afetos que a nova grande responsabilidade suscitou no meu coração nestes dias
memorandos. Mas é fácil entender não ser isso possível: em nossa vida acontecem, às vezes,
acontecimentos tão imprevistos e imponentes, que as palavras não conseguem exprimir e colorir
de modo adequado o que despertam em nós. Deixo, por isso, à vossa experiência e bondade
interpretar estes meus sentimentos e afetos”.8
Em seguida, Padre Rinaldi escreve que, não podendo agradecer individualmente a cada
salesiano, nem mesmo com uma simples palavra, confia o próprio agradecimento às poucas linhas
que escreve a todos, acrescentando que no anterior dia 24 de abril, acompanhado pelos
Inspetores e Delegados do Capítulo Geral, e rodeado por irmãos e jovens do Oratório, prostrara-
se, comovido, diante da sorridente imagem da nossa Auxiliadora no seu belo Santuário, sentindo
que todos eram confiados ao seu coração, como filhos amados.9
Padre Pedro RICALDONE escreve sua primeira carta, com uma saudação, em 24 de junho de
1932, iniciando assim: “A minha primeira saudação é um pedido. A nossa Sociedade não está mais
nas mãos competentes e santas do Beato Dom Bosco, do Padre Rua, do Padre Albera, do Padre
Rinaldi: ajudai-me a obter do Senhor que, nas mãos do vosso novo Reitor-Mor, não se atenue o
fervor do seu zelo e o ritmo da sua expansão”.10
Padre Ricaldone pede desculpas por não ter podido escrever imediatamente a sua afetuosa e
paterna saudação, embora o seu pensamento tenha corrido logo a todos eles, mas fora impedido
pelo Capítulo Geral e os assuntos urgentes a tratar com os Inspetores, além da viagem a Roma.
Agradece pelas adesões tão cordiais recebidas e acompanhadas da promessa de tê-lo presente
5 Ibidem, p. 8.
6 Ibidem, p. 13.
7 Ibidem, p. 13.
8 Atti del Capitolo Superiore della Pia Società Salesiana, Anno III, n. 14, 1922, p. 4.
9 Ibidem, p. 4-5
10 Atti del Capitolo Superiore della Società Salesiana, Anno XIII, n. 58, 1932, p. 2.
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diante de Deus e de se manterem fiéis à observância das Constituições e apegados intensamente
ao espírito do Beato Dom Bosco.
Em 24 de agosto de 1952, o Padre Renato ZIGGIOTTI escreve sua primeira carta dizendo ter
esperado a conclusão do Capítulo Geral XVII e que fossem festejadas as datas de 15 e 16 de agosto
com as novas profissões na memória do nascimento do nosso amado Pai e Fundador, “antes de
vos enviar esta minha primeira carta, que coloco sob a proteção especial da nossa Mãe Maria SS.
Auxiliadora, no dia consagrado à sua comemoração mensal”.11
O Reitor-Mor agradece, em seguida, pelos cumprimentos que lhe foram enviados por ocasião
da sua nomeação e garante a sua lembrança na oração por todos e cada um, particularmente no
caso de, entre a grande quantidade de cartas recebidas, não tivesse chegado a alguém a devida
resposta.
Mais adiante conta aos irmãos como foi o momento da sua eleição em 1º de agosto. “E foi
pelas 13 horas daquele dia que, completados os longos preparativos necessários, o juramento dos
eleitores e o solene escrutínio, coube ao pobre abaixo-assinado a honra incomparável para um
Salesiano e ao mesmo tempo a gravíssima responsabilidade de ser o quinto sucessor de São João
Bosco. Caríssimos Irmãos, não vos falo da minha confusão e, ao mesmo tempo, da minha alegria
ao ver-me aplaudido, festejado, abraçado com visível comoção por todos os Membros do Capítulo
Geral e, de modo particular, por vários dos meus antigos Superiores e companheiros, pelos anciãos
e pelos jovens, que viam encerrado o período de luto e iniciado o novo Reitorado”.12
Padre Luís RICCERI escreve as suas primeiras palavras como Reitor-Mor, datando-as naquele
que ele chama de ‘glorioso aniversário’, 16 de agosto de 1965, dizendo: “Apresento-me pela
primeira vez a vós num dia tão caro ao nosso coração de filhos. Ocorre hoje o 150º aniversário do
nascimento do nosso dulcíssimo Pai”.13
Em seguida, ele fala da emoção vivida ao celebrar a Santa Missa na igreja inferior do Templo
do Colle, rodeado pelos Superiores, com o Padre Ziggiotti, o Padre Antal, as Madres do Conselho
Geral das Filhas de Maria Auxiliadora, os irmãos, noviços, irmãs, cooperadores, ex-alunos, devotos
e amigos de Dom Bosco, Missa transmitida para milhões de pessoas em onze nações, por meio da
televisão, em ‘Eurovisão’. O seu pensamento corria ao contraste com aquele humilíssimo e
desconhecido natal do nosso pai há 150 anos. A sua mente voava a pensar na Providência e a
entoar com o coração o Magnificat.
Mais adiante, sob o título de ‘motivos de confiança’, afirma: “Certamente, olhando para Dom
Bosco, e também para os seus Sucessores, sinto toda a minha pequenez e o quanto seja
inadequado colocar-me nos seus passos”.14 Padre Ricceri manifesta que lhe é dado certo conforto
diante da sensação de pequenez ao pensar que foi chamado àquele posto na Congregação através
do voto expresso pelos Capitulares. E que o Senhor, que trilha caminhos diversos daqueles dos
homens, dispôs que fosse chamado a governar a Congregação. “Façamos juntos a sua vontade; a
11 Atti del Capitolo Superiore della Società Salesiana, Anno XXXII, n. 169, 1952, p. 2.
12 Ibidem, p. 3.
13 Atti del Capitolo Superiore della Società Salesiana, Anno XLVI, n. 262, p. 2.
14 Ibidem, p. 4.
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mim não resta senão ser sempre mais dócil, porquanto modesto, instrumento nas mãos do bom
Deus”.15
Outro motivo de conforto para ele é a afetuosa e sincera caridade e a grande confiança
daqueles que estão ao lado do novo Reitor-Mor para ajudá-lo, confortá-lo e serem, como
verdadeiros filhos e irmãos, seus cordiais e ativos colaboradores.
Enfim, manifesta o seu Coração de Pai dizendo: “De minha parte, abrindo-vos todo o meu
coração, desejo dizer-vos que me sinto a serviço de cada um de vós, com o coração de um pai. A
autoridade, estou profundamente convencido disso, especialmente hoje, não é exercício de poder,
mas exercício daquela caridade que se torna serviço, como o que um pai e uma mãe prestam aos
seus filhos. (...) Gostaria, numa palavra, de fazer com que cada um de vós sentisse o meu vivíssimo
desejo, a minha vontade, de ser e demonstrar-me sempre pai; por isso, rezo insistentemente a
Dom Bosco e ao Padre Rinaldi, que me deem algo do seu coração”.16
Na solenidade da Anunciação, 25 de março de 1978, o Padre Egídio Viganò escreve a sua
primeira carta aos Irmãos, dizendo-lhes: “Cumprimento-vos com alegria e esperança, e desejo
partilhar fraternalmente convosco alguns pensamentos que trago no coração. (...) A Providência
transtornou há alguns meses a minha existência designando-me para vosso Reitor-Mor. Já se está
tornando um hábito para mim a consciência das graves responsabilidades inerentes a este ‘serviço
de família’, que exige verdadeira paternidade espiritual em profunda sintonia com Dom Bosco”.17
Padre Viganò sublinha em seguida a certeza de que, entretanto, o Senhor o ajuda a perceber a
beleza e a abundância de graça deste serviço e, em particular, a ajuda materna de Maria que
acompanha tal ministério, com a alegria de poder entrar em comunhão com cada um dos irmãos e
com cada comunidade, para refletirem e crescerem juntos na gratidão e na fidelidade.
E, referindo-se a si mesmo, exprime o que segue: “Queria que o estilo claro e penetrante de
Dom Bosco e a facilidade de comunhão que possuíam os outros sucessores, mas à míngua de
afabilidade e simplicidade, supra ao menos sinceridade e solidez”.18
Coube ao Padre Juan Edmundo VECCHI, na sua função de Vigário, transmitir a mensagem de
esperança em memória do Padre Egídio Viganò, depois da sua morte acontecida em 23 de junho
de 1995. Após a serena despedida do sétimo sucessor de Dom Bosco, ele orientou a Congregação
para a celebração do CG24, que inaugurou em 18 de fevereiro de 1996 com a sessão de abertura e
com o encerramento em 20 de abril, agora como Reitor-Mor.
É compreensível, então, que, tendo assumido o governo da Congregação previamente ao
Capítulo, a sua primeira carta, de 8 de setembro de 1996, sobre a Exortação Apostólica “Vita
consecrata”, não tenha qualquer referência ao início do seu serviço como Reitor-Mor. Neste
sentido há uma diferença em relação a todas as situações anteriores.
15 Ibidem, p. 5.
16 Ibidem, p. 5.
17 Atos do Conselho Superior da Sociedade Salesiana, Ano LVII, 1978, n. 289, p. 1.
18 Ibidem, p. 2.
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Enfim, o Padre Pascual CHÁVEZ, eleito Reitor-Mor no CG25, inicia a sua primeira carta a todos
os irmãos depois de um período de tempo após o encerramento do Capítulo, que ele qualifica
como forte experiência espiritual salesiana. Os documentos capitulares já tinham chegado
naquele momento às Inspetorias e deseja – escreve – colocar-se “em contato convosco por meio
desta minha primeira carta circular. Escrever cartas foi a forma apostólica empregada por São
Paulo, para superar a distância geográfica e a impossibilidade de estar presente nas suas
comunidades, para acompanhar-lhes a vida. Com as devidas diferenças, também as cartas do
Reitor-Mor entendem criar proximidade com as inspetorias mediante a comunicação, partilhando
o que acontece na Congregação e iluminando a vida e a práxis educativo-pastoral das
comunidades”.19
A carta traz a data da vigília da Assunção de Maria e a dois dias da data que recorda o
nascimento de Dom Bosco. Nela, o P. Pascual deseja exprimir o seu desejo de estar próximo de
todos: “Não vos escondo que muito me agradaria estar perto de vós e partilhar os vossos trabalhos
atuais e os vossos melhores sonhos. De modo particular, sinto no profundo do coração o desejo de
rezar por cada um de vós. O Senhor vos encha de seu Dom por excelência, o Espírito Santo, para
que vos renove e santifique à imagem do nosso Fundador”.20
Depois de expressar este desejo, Padre Pascual manifesta a sua intenção de, nesta primeira
carta, querer falar à Congregação sobre a santidade, não tanto como um pequeno tratado, quanto
apresentá-la como dom de Deus e urgência apostólica.
2. UM PRESENTE A VIVER NA FÉ, COM ESPERANÇA, COM REALISMO, E CAMINHANDO JUNTOS
Posso dizer-vos com plena sinceridade, caros Irmãos, que, ao fazer este percurso através da
nossa História de Congregação me comovi em diversos momentos. Este percurso, após aquele 31
de janeiro de 1888, quando Dom Bosco nos deixou, convida-me (creio que nos convida) a um
profundo agradecimento por tudo o que foi a nossa história. Uma história que seria superficial
contemplar com triunfalismo e que, todavia, devemos ler com um olhar de Fé, que nos fala de
como o Senhor quis escrever belas páginas a favor dos jovens por meio de tantos irmãos que nos
precederam.
Pensando na minha pobre pessoa, posso dizer-vos que gostaria para mim mesmo – para
melhor servir a Congregação e a Família Salesiana da qual fazemos parte – todos e cada um dos
traços mais característicos que distinguiram cada um dos Reitores-Mores anteriores, no âmbito do
seu contexto teológico, social e de desenvolvimento da Congregação.
Não se pode exprimir em poucas linhas o caminho que fizemos em nossa Congregação. Seria
preciso uma inteira publicação histórica muito cuidadosa; em todo caso, também os estudiosos da
história da nossa Congregação admitirão ser possível falar de momentos tão característicos: de
Fundação, de Consolidação e Estruturação (com forte crescimento e expansão), de Revisão Pós-
Conciliar e Definição Teológica, de Projeção Pastoral da Missão, e a etapa da Identidade Salesiana
e Radicalidade Evangélica da nossa vida de Consagrados. Tudo isso, entende-se, enriquecido pelos
19 Atos do Conselho Geral da Sociedade Salesiana, Ano LXXXIII, n. 379, p. 3.
20 Ibidem, p. 4.
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muitos destaques e opções feitos pelos Capítulos Gerais que, em seguida, os diversos Reitores-
Mores tornam próprios.
É belo e muito rico o patrimônio recebido, e torna maior a nossa responsabilidade diante do
Senhor, diante de Dom Bosco e também diante daqueles que em épocas anteriores deram o
melhor de si mesmos.
Perguntareis como me sinto diante desta realidade e qual o programa de animação e governo
que se entrevê. Pois bem, pessoalmente posso compartilhar convosco o que disse em 25 de
março. Sinto que estou a viver assim:
Do ponto de vista da Fé, abandono-me ao Senhor.
Porque sei que não estou sozinho, pois verdadeiramente se experimenta a vivência da
‘força interior’ que vem do Espírito (“Basta-te a minha graça”), que é presença da Mãe
(“Filho, eis tua mãe”...). E não só porque se experimenta a comunhão fraterna e de ajuda
da parte dos Irmãos Salesianos (de vós que estais ao meu lado no cotidiano e de vós que
estais em tantas partes do mundo como outros tantos ‘Dom Bosco hoje’ para os jovens que
vos esperam). E não estou sozinho porque também experimento o calor afetivo e as
atenções que recebo da nossa Família Salesiana.
E vivo trazendo os jovens no coração. Sinto-o muito vivamente, e de modo especial os
mais pobres, os mais carentes, os últimos.
Quanto ao Programa de Animação e Governo do sexênio, ele está esplendidamente definido
no CG27, e não duvido que tudo o que podemos querer, de alguma maneira, está contido nele.
Será programa do sexênio:
Continuar a cuidar da nossa Identidade Carismática em plena fidelidade a Dom Bosco, uma
identidade nova nas formas e nas expressões 200 anos depois do seu nascimento, mas
idêntica na pureza e essencialidade do seu carisma, que recebemos em herança.
Garantir em todas as partes da nossa Congregação a nossa condição de Consagrados, como
homens que escolhemos realmente viver na Trama de Deus, sendo místicos na nossa
cotidianidade.
Cuidar da realidade humana, afetiva e vocacional de cada irmão e das nossas
Comunidades. Queremos realmente sonhar a Utopia de uma Fraternidade irresistível a
partir do Evangelho.
Testemunhar de modo muito eloquente e evidente a nossa sobriedade e austeridade de
Vida, a nossa Pobreza que é Trabalho e Temperança.
Viver a opção pelos jovens mais pobres, até as últimas consequências que se apresentam.
Com humildade, sem qualquer triunfalismo, mas, como nos tempos de Dom Bosco,
devemos distinguir-nos principalmente por estas opções, decisões e ações.
Tudo isso, porém, não o fazemos sozinhos. Participamos da grande Família Salesiana que
deve, ela também, crescer em identidade e pertença, e dispomos da grande força de um
laicato bem formado e empenhado na Missão Compartilhada. Traduzo numa expressão
pessoal o que foi expresso pelo CG24 há dezoito anos: Tendo chegado este momento, a
missão compartilhada com os leigos não é mais opcional, é uma exigência carismática.
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3. PERTENCENDO MAIS A DEUS
Devo confessar-vos, caros Irmãos, que algumas expressões, como Primado de Deus, Místicos
no Espírito, Trama de Deus, Proximidade de Deus, União com Deus, Buscadores de Deus... são
expressões que tocam profundamente o meu coração, dizendo-me que há aqui algo importante,
que esta é a chave, que tudo o mais em que gastamos tantas energias ‘foi-nos dado por
acréscimo’, ou ‘cai como fruto maduro’, ou seja, é uma consequência, é garantido.
Confesso-vos, ao mesmo tempo, com grande sinceridade, um temor que experimentei
igualmente nos meus anos de serviço como Inspetor: sinto que ao falar disso haja irmãos que
simplesmente se afastem, que o qualifiquem ‘a priori’ como teologia ultrapassada, como
paradigma que ‘já não serve’, que ‘já está fora de uso’... Contudo, encontram-se estas mesmas
expressões nos mais diversos lugares, em textos teológicos e em revistas de atualidade nas quais
se sente a pulsação da vida religiosa.
Em nosso CG27, recolhendo a experiência de toda a Congregação, a diagnose entre nós era
coincidente e com leituras variadas.
Creio realmente, irmãos, que a vida espiritual deve vir em primeiro lugar,21 uma vida espiritual
que é antes de tudo busca de Deus no cotidiano, no meio das coisas que fazemos, das nossas
ocupações. E o digo por que para nós, como foi para Dom Bosco na busca do melhor para os seus
jovens, para a salvação deles, e para toda a vida religiosa de hoje, o seu elemento fundamental foi,
continua a ser e será a pessoa do Senhor Jesus e a sua mensagem. Decisivamente, a centralidade
de Jesus Cristo em nossa vida. Pode acontecer também que isso jamais tenha sido posto em
dúvida, mas não é a mesma coisa que torná-lo vida e critério da própria vida.
Nossa vida religiosa – porque não devemos nos esquecer de que a nossa vida não é só vida
salesiana, mas vida religiosa como consagrados Salesianos – não encontra sua razão de ser no que
fazemos, nem nos modos de nos organizarmos, nem na eficiência dos nossos projetos e
planejamentos. Ou a nossa vida religiosa de consagrados nos faz ser sinais (comunidade de
homens crentes ao serviço do Reino) ou corremos o risco de nos preocuparmos mais com a nossa
força (caso a tivéssemos) do que com a mensagem de Deus.
O perigo natural em toda vida religiosa é perder o frescor carismático. É possível que nos
envolvamos tanto nos trabalhos, nas atividades, nas tarefas (pastorais ou não)... e possamos
perder o valor simbólico da nossa vida. Por exemplo, quando sinto, como me aconteceu
recentemente, que num determinado país com grande presença de obras salesianas, obtemos um
grande reconhecimento pelas nossas obras sociais, e, diversamente, a nossa condição de
salesianos como pessoas crentes de vida consagrada é pouco valorizada, devo confessar-vos que
me preocupo e me pergunto: o que é que não fazemos bem? O que é que não conseguimos
testemunhar?
Por isso... quando nos perguntamos o que é o essencial na nossa vida, o caminho é o do
retorno ao encontro com Aquele que dá significado a cada instante, perguntando-nos o por que, o
21 CG27, Introdução, p. 21, in Giovanni Paolo II, ’Vita consecrata’, n. 93: “A vida espiritual deve estar sempre no
primeiro lugar… Desta opção prioritária, desenvolvida no compromisso pessoal e comunitário, depende a fecundidade
apostólica, a generosidade no amor pelos pobres, a própria atração vocacional sobre as novas gerações”.
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para o quê, e o para quem fazemos as coisas, com base em qual critério realizamos as nossas
opções e vivemos como vivemos.
Por isso tudo, podemos dizer que o núcleo da nossa identidade e a razão de ser da nossa vida
religiosa é, decisivamente, a experiência de Deus. E a questão sobre a qualidade de vida na vida
religiosa torna-se de modo determinante a questão sobre a qualidade desta experiência de fé.22 E
é neste quadro e neste contexto que o nosso Capítulo, no número 32, sublinha que assim como
para Dom Bosco, também para nós o primado de Deus é o fundamento que dá razão da nossa
presença na Igreja e no mundo. Este primado dá significado à nossa vida consagrada, evita o
perigo de nos deixarmos absorver pela atividade, esquecendo que somos essencialmente
‘buscadores de Deus’ e testemunhas do seu amor entre os jovens e os mais pobres.
Por isso, novamente, precisamos ajudar-nos uns aos outros a crermos realmente que esta é a
experiência-base da nossa vida, a experiência de Deus em nós ou, dito de outro modo teológico,
vivendo toda a nossa existência ‘em Deus’. Caros Irmãos, quaisquer que sejam as palavras com
que quisermos exprimi-lo, a raiz da nossa vida salesiana, como de toda a vida consagrada, é
mística, porque se o que nos sustenta, que nos move, não for uma experiência real e nutritiva do
Senhor, tudo o mais não nos levará muito longe. E, todos os dias, o cansaço, as personalidades aos
pedaços, os vazios existenciais – mesmo se acreditávamos viver tudo por Deus – etc., que tão
frequentemente vemos em alguns irmãos nossos, são uma prova dolorosa, mas irrefutável, de que
isso realmente acontece.
Queira o Senhor conceder-nos o Dom de sermos realmente mais ‘buscadores d’Ele’, dando
plenitude de sentido, antes de tudo, ao nosso ser, e, depois, ao nosso viver e fazer.
4. FAÇAMOS COM QUE A ‘UTOPIA’ DA FRATERNIDADE SEGUNDO O EVANGELHO SEJA UMA
REALIDADE
‘Casa’ e ‘família’ – lemos no número 48 do nosso CG27 – são duas palavras frequentemente
usadas por Dom Bosco para descrever o ‘espírito de Valdocco’, que deve resplandecer em nossas
comunidades.
A assembleia capitular fez uma leitura aberta à esperança, mas também realista da nossa vida
comunitária (com suas luzes e sombras), dimensão da nossa vida que, embora podendo ter a
maior força profética, é seguramente a que tem a ‘saúde mais frágil’ no mapa da nossa
Congregação.
Diz-se, no documento capitular, que a partir do CG25 cresce o empenho de viver de forma mais
autêntica a nossa vida comunitária (n. 8) embora se constatem, por trás do ‘respeito’ e da
‘tolerância’, indiferenças e falta de cuidado em relação ao irmão (n. 9). O comodismo e o ativismo
levam a ver o tempo dedicado à comunidade como tempo ‘roubado’ tanto ao âmbito da ‘esfera
22 A citação textual é como segue: “O núcleo da identidade e a razão de ser da vida religiosa e de toda vida cristã é a
experiência de Deus. Pode-se falar de experiência de Deus, de fé radical, de prioridade absoluta do Reino de Deus e da
sua justiça, de viver a vida em chave escatológica... Pouco importa os nomes. O importante é ter bem presente que é
esta experiência nuclear o que dá significado a todo este gênero de vida, é o que dá qualidade de vida aos seus
membros e faz com que se trate realmente de vocação e não de simples profissão. A questão sobre a qualidade da
vida religiosa é a questão sobre a qualidade desta experiência de fé” (cf. FERNANDO PRADO (ed.), Adonde el Senhor
nos lleve, Publicaciones Claretianas, Madri, 2004, 31).
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pessoal’ quanto à missão (n. 9). Se, com dificuldade, respondemos ao chamado de Deus de modo
radical, isso se deve em parte a uma fraca convicção... na realização da comunhão em comunidade
(n. 36).
Ao mesmo tempo, e com olhar positivo e esperançoso, reconhecemos que a vida de
comunidade é um dos modos de fazer experiência de Deus. Viver a “mística da fraternidade” é um
elemento essencial da nossa consagração apostólica (n. 40).
Viver a espiritualidade da comunhão... e construir a comunidade, supõe passar da vida em
comum à comunhão de vida (n. 45).
Encontramos estas e outras constatações na reflexão capitular que, sem dúvida, estamos lendo
e meditando. Não me detenho mais longamente sobre este ponto. Não é necessário recolher
outras citações para demonstrar todo um mosaico de luzes e sombras. A questão, à luz do nosso
CG27, é: do que devemos cuidar, o que precisamos mudar, o que devemos continuar a fazer ou
não, para que realmente a nossa vida comunitária tenha toda a força de atração que tem a
Fraternidade vivida segundo o Evangelho, a ponto de ser ‘irresistível’ na sua atração?
A vida comunitária tem certamente, como escreveu um autor, “todo o encanto do que é difícil
e do que é possível, da graça e da fragilidade. Somente com a graça de Deus é possível
permanecer em comunidade e aprofundar esta experiência... E é uma penitência e uma ascese
que purifica e exercita na colaboração, na participação e na comunhão. Mas é também e,
sobretudo, um encanto. Vive-se em comunidade para se ser feliz e são muitos os que o
conseguem (...) e se quisermos falar do encanto da vida comunitária é preciso dizer uma palavra
sobre as distâncias curtas do amor fraterno. Ele supõe presença, afeto recíproco e correção
fraterna, interessar-se uns pelos outros, ajudar-se reciprocamente; em última análise, o amor
fraterno em todo o seu desdobramento. O coração pede e exige. A vida comunitária do futuro será
fraterna ou não o será realmente.23 Este é um dos ingredientes mais buscados pelos candidatos de
hoje, e nem sempre é o que encontram em medida grande”.24
Esta dimensão da vida religiosa é hoje, sem dúvida, uma grande força testemunhal. Como em
grande parte dos nossos contextos sociais, há, ao lado de realidades positivas, uma crescente
incomunicabilidade, um isolamento, um individualismo que vai aumentando e uma solidão que,
em muitas culturas, é a grande doença do nosso tempo, assim como a sua irmã gêmea, a
depressão. O testemunho das comunidades religiosas, também das nossas, deveria ser um
verdadeiro anúncio evangélico, uma boa notícia, autêntica provocação ou questionamento.
Por isso, confesso-vos que uma das minhas maiores inquietudes é pensar, ver, imaginar,
comunicar-nos sobre o modo de caminhar na direção adequada, diante desta realidade frágil de
não poucas de nossas presenças. Irmãos, a nossa comunhão de vida é muitas vezes sacrificada por
outras coisas! Pergunto-me, por exemplo, por que nós, que deveríamos ser especialistas em
humanismo, sobretudo pela nossa condição de educadores dos jovens, temos ao nosso lado em
nossas comunidades, às vezes no refeitório ou em ambientes próximos, irmãos que vivem feridos
no seu coração, dilacerados pela solidão ou pela desilusão, irmãos que quiseram ser felizes como
salesianos e não o são. É verdade que esta não é toda a realidade da nossa Congregação, pelo
23 Esta frase em cursivo é uma opção pessoal minha, devido à importância que lhe atribuo. O autor não a evidenciou
de modo particular.
24 J. M. ARNAIZ, ! Que ardan nuestros corazones. Devolver el encanto a la vida consagrada!, Publicaciones Claretianas,
Madri, 2007, 95.
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2 Pages 11-20

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2.1 Page 11

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contrário, mas é também uma realidade presente e deveria bastar-nos um único caso, um único
irmão ferido para que sangrasse um pouco o coração de todos. Em nosso caso, creio que se
poderia qualificar como pecado se respondêssemos, com palavras ou com fatos ou com silêncios,
como Caim diante da pergunta do Senhor “Onde está o teu irmão”. “Não sei” – respondeu – “Serei
eu por acaso guarda do meu irmão?” (Gn 4,9). Sim, nós o somos! Não guardas, mas seus
cuidadores.
Nosso grande desafio, caros Irmãos, para cada Inspetor, Conselho, Diretor e para cada um dos
nossos irmãos em cada uma das comunidades do mundo salesiano é este: Fazer da nossa
Comunidade um verdadeiro espaço de vida de comunhão. Como passar de uma vida em comum
com momentos estabelecidos, regulamentos, planejamentos – que certamente podem ser de
ajuda – a uma vida de comunhão? Isso, sem dúvida, haverá de supor conversão pessoal e,
portanto, comunitária, será preciso um empenho afetivo e efetivo para levar adiante este intento;
trata-se de um processo que exige de nós admitir que cada uma das etapas da nossa vida é uma
oportunidade para crescer, para abrir-se à novidade de um encontro mais autêntico com os
Irmãos com a força dada por Deus, para tornar mais visível a sua presença entre nós.
5. COM OS JOVENS, PARA OS JOVENS “NOSSOS PATRÕES”
A expressão não é minha, é de Dom Bosco, muito frequente nele: “Os jovens são os nossos
patrões”;25 e em suas abordagens, ele sempre manteve uma atitude de autêntico servidor.
É fascinante, caros Irmãos, tudo o que possuímos de textos no patrimônio da nossa
Congregação, desde o próprio Dom Bosco até hoje, em relação à nossa prioridade: os jovens, e
especialmente os mais pobres. Isso se deve ao fato de termos essa prioridade realmente no nosso
coração, no nosso DNA, como eu disse várias vezes. E se deve também ao fato de, às vezes,
precisarmos reconhecê-lo para que seja mais evidente esta nossa predileção, recordar-nos e
recordá-lo a outros para não esquecê-lo.
Dom Bosco, recorda-nos o CGE XX, deu uma prescrição muito particular entre as lembranças
aos primeiros missionários, que conserva a sua plena atualidade para todos nós: “Fazei com que o
mundo veja que sois pobres nas roupas, na alimentação, na moradia, e sereis ricos perante Deus e
vos tornareis senhores do coração dos homens”.26
Tendo sido assim ao longo de toda a nossa história de Congregação, à luz do CG27, caros
Irmãos, e com a decidida opção de ser servidores dos jovens, esta opção pelos jovens, e
especialmente pelos mais pobres, é, deve ser de modo imperativo, o maior esforço e o traço
distintivo da Congregação neste sexênio, com um profundo sentido de Deus e verdadeira profecia
de fraternidade, em que a nossa opção pelos mais carentes seja tão evidente a ponto de não
serem necessárias palavras para explicá-lo. “O mundo nos receberá sempre com prazer, enquanto
nossas solicitudes forem orientadas para os jovens mais pobres, mais em perigo. Esta é a nossa
verdadeira riqueza, que ninguém nos quererá arrebatar”.27
25 Capítulo Geral Especial Salesiano, Roma, 1971, Atos, n. 351.
26 Ibidem, n. 597, citando MB XI, 389-390.
27 Ibidem, n. 597, citando MB XVII, 272.
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A opção pelos pobres será então a versão mais evangélica do nosso voto de pobreza, e nos
ajudará certamente a superar a inclinação tão natural que nós humanos, pessoas e instituições,
temos de associar-nos com o poder e os poderosos, de ter e possuir em excesso, inclinação
totalmente contrária ao Evangelho e à práxis de Jesus.
Irmãos, quando o nosso recente Capítulo Geral afirma que queremos ser uma Congregação de
pobres e para os pobres, porque cremos como Dom Bosco que este deve ser o nosso modo de
viver o Evangelho com radicalidade e a maneira de viver mais disponíveis às exigências dos jovens,
não está pensando que seja apenas uma sugestão para os salesianos mais sensíveis ou um pouco
mais generosos, mas projeta-o como a realização de um autêntico êxodo em nossa vida.28 Deve
ser algo essencial para o nosso ser Salesianos de Dom Bosco, e aquilo que deve estar a peito para
todo salesiano. A exceção deverá ser a dos irmãos que não se sentem capazes – porque algo não
está bem em suas vidas – e então poderão contar com a nossa fraternidade e a nossa ajuda, mas
jamais deveria ser uma opção pela indiferença, pela mediocridade na entrega, pelo subtrair-se à
opção pelos mais pobres, e menos ainda deveria dar-se o caso de um jovem, uma jovem, um
adolescente ter que deixar a casa de Dom Bosco porque não dispõe de recursos econômicos para
pagar isto ou aquilo.
Haverá, talvez, quem pense que se trate de algo bonito, mas irrealizável; alguém dirá que
devemos sustentar escolas, despesas, e eu lhes digo que com a generosidade, com a clareza da
opção, com a busca de ajuda, com recursos para bolsas de estudo, com a capacidade que
certamente temos de gerar solidariedade quando se trata de ajudar os que menos possuem,
poderemos tornar realidade que a casa salesiana jamais seja inacessível para aqueles que menos
possuem (seja uma escola, um oratório, uma casa-família, um centro juvenil...). Gostaria de
recordar o que já disse nas palavras conclusivas do Capítulo Geral: São os jovens, especialmente
os mais pobres, que nos salvarão. Eles são um dom para nós salesianos, eles são realmente “a
nossa sarça ardente” diante da qual devemos tirar as sandálias.29 Esta é a chave da nossa
paternidade como educadores, doadores de vida, até dar a nossa vida, entregá-la pelos últimos,
porque, respondendo ao chamado do Senhor, decidimos doá-la. Tendo sido capazes do mais (o
‘sim’ por toda a vida) não é para permanecermos no menos, deixando de ser alternativa para
alguém, sendo um sinal de coisa nenhuma.
Estou convencido – sem ainda conhecer toda a Congregação – que é muita a dedicação e a
generosidade existentes, mas aquilo que já está bem centrado em Deus e nos últimos não nos
pode tranquilizar e compensar as realidades nas quais não estamos respondendo ao que Dom
Bosco faria hoje. É neste sentido que, como nos pede o CG27, encorajo a todos os irmãos a nos
colocarmos numa verdadeira atitude de conversão a Deus, aos irmãos e aos jovens.
Somos para os jovens verdadeiros pais e irmãos, como o foi Dom Bosco e como no-lo
recordou, no seu tempo, João Paulo II, quando nos disse no CG23: “Portanto, no centro das vossas
atenções estejam sempre os jovens, esperança da Igreja e do mundo, para os quais todos olham
com confiança e trepidação. Nas nações mais ricas, como nos países mais pobres, permanecei
sempre ao serviço deles; ficai especialmente atentos àqueles que são mais fracos e marginalizados.
Levai a cada um deles a esperança do Evangelho, para que os ajude a enfrentarem a vida com
28 Cf. CG27, n. 55. O negrito é opção minha.
29 CG27, n. 52, citando Ex 3,2 e “Evangelii Gaudium”, n. 169.
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coragem, resistindo às tentações do egoísmo e do desânimo. Sede para eles pais e irmãos, como
Dom Bosco vos ensinou”.30
6. CONGREGAÇÃO MISSIONÁRIA: QUANDO A DIVERSIDADE É RIQUEZA
Sob este título ou epígrafe quero dizer alguma coisa simples e clara: A dimensão missionária
faz parte da nossa IDENTIDADE e a diversidade cultural, a multiculturalidade e a interculturalidade
são uma riqueza para a qual caminhar neste sexênio.
Segundo a ‘Evangelii Gaudium’,31 o anúncio do Evangelho é missão de todo o povo de Deus e é
anúncio para todos, onde “não há nem judeu nem grego... porque todos vós sois um em Cristo
Jesus” (Gl 3,28). Envolve ser fermento de Deus em meio à humanidade, uma humanidade e um
Povo de Deus com muitas faces, com muitos desenvolvimentos históricos e culturas diversas, onde
todos somos discípulos missionários.
O Papa faz um apelo à Evangelização de todos os povos e, sempre para nos reconhecermos na
nossa identidade, dirigimos o olhar para o caráter missionário da nossa Congregação. Dom Bosco
quis que a Sociedade Salesiana fosse decididamente missionária. Em 1875, dentre o pequeno
grupo dos primeiros salesianos, escolheu dez deles para que fossem à América; antes da sua
morte já tinha enviado 10 expedições missionárias, e 153 salesianos estavam na América no
momento da sua morte, quase 20% dos salesianos do momento, segundo o catálogo da
Congregação de 1888.
Esta identidade missionária, conservada e cuidada com o passar dos anos, levou o Capitulo
Geral Especial a fazer um apelo especial que eu gostaria de renovar hoje, às portas do
Bicentenário do nascimento de Dom Bosco e como homenagem viva a ele: “O Capítulo Geral
Especial lança um apelo a todas as Inspetorias, mesmo às mais pobres de pessoal, para que, em
obediência ao convite do Concílio e consoante com o ousado exemplo de nosso Fundador,
contribuam com pessoal próprio definitiva ou temporariamente, para o anúncio do Reino de
Deus”.32
Creio com sinceridade, caros Irmãos, que este apelo tenha hoje plena atualidade na realidade
da nossa Congregação. Quando falo de homenagem a Dom Bosco na celebração do Bicentenário
do seu nascimento, não o digo num contexto celebrativo vazio ou para fazer estatísticas, mas
porque creio realmente – e esta foi a sensibilidade do CG27 – que uma grande riqueza da nossa
Congregação é justamente a sua capacidade missionária, a possibilidade de estar aonde se tem
maior necessidade de nós na Evangelização, embora todas as forças sejam muito válidas em
qualquer lugar em que vivemos. Neste sentido, sirvo-me desta ocasião para convidar todos os
salesianos SDB – e estendo de coração o meu convite a toda a Família Salesiana – para que, no
momento oportuno, a ‘Evangelii Gaudium’ seja lida, meditada e compartilhada. Certamente nos
fará muito bem; em muitos lugares, ela ainda não é conhecida.
30 JOÃO PAULOI II, Discurso aos Capitulares, in CG23, n. 331.
31 Cf. Evangelii Gaudium, n.111, 115 e 120.
32 CGE, n. 477
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6.1. PORQUE EXISTEM CAMPOS DE MISSÃO PASTORAL NOS QUAIS SOMOS MUITO NECESSÁRIOS
NESTE MOMENTO…
Neste sentido, e não só para o ano 2015, mas para todo o sexênio, queremos que se traduza
em realidade a ajuda real em algumas áreas de missão que apresentam maior fragilidade neste
momento, por exemplo, entre outras:
- O trabalho missionário na Amazônia, especialmente em Manaus, em Campo Grande, e na
Venezuela.
- O trabalho missionário no Chaco Paraguaio.
- O trabalho missionário em algumas regiões dos Pampas e da Patagônia Argentina.
- A presença missionária entre as comunidades de imigrantes nos Estados Unidos.
- A presença missionária no Oriente Médio, tremendamente castigada, sobretudo pelos
diversos conflitos bélicos, como bem conhecemos.
- A presença missionária entre os muçulmanos, desde a África do Norte até os países do
Golfo Arábico ou o Paquistão...
- A nova presença missionária exigida pelo Projeto Europa e que tem muito a ver com os
últimos, atraídos pelas diversas migrações.
- Reforçar as jovens presenças missionárias de primeira Evangelização na Ásia e Oceania:
Mongólia, Camboja, Bangladesh, Laos...
6.2. …E PORQUE A DIVERSIDADE É RIQUEZA
Em minha vida salesiana, em mais de uma ocasião, ouvi alguém dizer que havia mais vocações
no próprio país ou Inspetoria do que em outros, e que não havia necessidade de ajuda, pois havia
um número suficiente de vocações. Mas, justamente por isso, e porque a diferença, a diversidade,
a multiculturalidade e a interculturalidade é uma riqueza, torna-se sempre mais necessária essa
ajuda, também para garantir a identidade do carisma salesiano, para que não seja
monocromático, para favorecer o intercâmbio de irmãos entre as Inspetorias por alguns anos,
para oferecer temporariamente irmãos às Inspetorias mais carentes, além dos que se oferecem
como missionários ‘ad gentes’, em resposta a este apelo e a outros que virão; e, dessa forma,
também preparar os irmãos, em todas as partes do mundo, com visão global e universal. Nós
Salesianos de Dom Bosco, embora tenhamos uma organização jurídica que se concretiza nas
Inspetorias, não fazemos profissão religiosa para um determinado lugar, uma terra ou uma
pertença. Somos Salesianos de Dom Bosco na Congregação e para a Missão, aonde haja
necessidade de nós e aonde o nosso serviço seja possível.
Estou ciente de que esta mensagem possa ser surpreendente, mas devemos ser corajosos no
sonhar, caros Irmãos, e não ter medo da novidade, porquanto exigente seja, se for boa em si
mesma. Uma concretização simples, mas imediata daquilo que digo é, por exemplo, a necessidade
de preparar os jovens salesianos na aprendizagem das línguas; quanto mais línguas, tanto melhor.
Passou o tempo, vivido pessoalmente por mim, em que aprender uma língua estrangeira era algo
supérfluo e ir ao país vizinho, mesmo se a fronteira distasse apenas cinquenta quilômetros, era ‘ir
ao exterior’ e era muito difícil obter as licenças no interior da Congregação. Devemos preparar as
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nossas novas gerações, portanto, na aprendizagem dos idiomas e, entre eles, o aprendizado da
língua italiana para que, com o tempo, não aconteça que o acesso às fontes e aos escritos originais
do nosso Fundador e da Congregação, devido à ignorância, seja algo proibitivo.
Quero sublinhar, também, que não devemos ter medo e criar resistência para os nossos jovens
irmãos estudarem fora da própria Inspetoria. Não se ama menos a própria terra, as próprias raízes
e as próprias origens pelo fato de não se estudar no próprio lugar. Não é verdade, e não há
qualquer perigo de perder o sentido da realidade. Pelo contrário, alarga-se muito a visão e a
capacidade de entender a diversidade e a diferença, algo essencial no nosso mundo de hoje e de
amanhã.
7. CELEBRANDO O BICENTENÁRIO DO NASCIMENTO DE DOM BOSCO
Quando esta minha carta estiver sendo lida por vós, já teremos inaugurado o ano do
Bicentenário do nascimento de Dom Bosco, no dia 15 de agosto em Castelnuovo Don Bosco e, no
dia 16 de agosto, no Colle Don Bosco. Sob a guia do nosso Reitor-Mor Emérito, Padre Pascual
Chávez, vivemos um intenso triênio de preparação em toda a Congregação, aprofundando a
realidade histórica, a pedagogia e a espiritualidade do nosso Fundador.
Parece-me oportuno dizer que o ano de celebração que iniciamos tem uma dupla face. Uma
exterior, mais pública e oficial, e outra interior, mais íntima.
Duzentos anos desde o nascimento de Dom Bosco, suscitado pelo Espírito Santo com a
intervenção de Maria (cf. Const. 1), é um tempo suficiente para ver e compreender o que
herdamos. Primeiramente, a vida de um homem de Deus, um Santo que com coração de pai viveu
o que prometera: “Prometi a Deus que até meu último alento seria para meus pobres jovens”.33 E
herdamos a responsabilidade de viver e de fazer com que seja realidade, a autenticidade de um
carisma que nasceu não de projeto humano, mas da iniciativa de Deus para colaborar na salvação
da juventude (cf. Const. 1).
Celebrar o Bicentenário do nascimento de Dom Bosco na sociedade, nas cidades, com o povo
de Deus, permite-nos reconhecer o que significa para nós ter Dom Bosco como Pai.
É a oportunidade de nos sentirmos agradecidos ao Senhor porque, duzentos anos depois
do nascimento de Dom Bosco, estamos aqui, como dom de Deus para os jovens.
Oportunidade de reconhecer Deus presente em nossa história, pois constatamos que Ele
(o Deus da Vida), sempre nos precedeu.
É o momento de nos comprometermos mais com a força do Evangelho que deve chegar
de modo especial aos jovens e, entre eles, aos mais humildes, àqueles que, sem terem
feito nada para isso, foram excluídos da festa da vida.
É o momento oportuno de propor novamente a atualidade de um carisma que se coloca
no centro dos problemas do mundo de hoje, de modo especial do mundo dos jovens.
Porque Dom Bosco continua a ter hoje palavras e propostas para os jovens do mundo,
pois, embora tenham sido alteradas as situações e os contextos, o coração dos jovens, de
cada jovem, continua a ter as mesmas palpitações de entusiasmo e de abertura à Vida.
33 Const. 1, cf. MO, 16
15

2.6 Page 16

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O carisma salesiano foi e é o dom que o nosso Deus faz ao mundo, tendo escolhido Dom
Bosco para isso. Portanto, insistamos muito, com convicção, no fato de Dom Bosco ser um
bem da Igreja e de toda a Humanidade.34 Ele formou-se ao longo dos anos, dos primeiros
momentos da existência nos braços de Mamãe Margarida à amizade com bons mestres de
vida e, sobretudo, na vida cotidiana com os jovens que, plasmando no cotidiano o seu
coração, ajudaram-no a ser mais de Deus, mais dos homens e mais para os próprios
jovens.
Celebrar o Bicentenário na interioridade da nossa Congregação e da nossa Família Salesiana,
significa viver aquilo que São Paulo recomendava a Timóteo pedindo-lhe que ‘reavivasse o Dom
recebido’. Por isso, sempre que um salesiano, um membro da nossa Família Salesiana, vive em
plenitude a própria vocação, é, por sua vez, um presente de Deus para o mundo.
Celebrar o Bicentenário na intimidade do lar (como devem ser todas e cada uma das nossas
comunidades) significa deixar-nos interpelar no nosso ser e no nosso viver, até podermos dizer,
com olhar límpido e transparente, que “a santidade dos filhos seja prova da santidade do Pai”.35
Esta celebração significa também reevocar duzentos anos da história de homens e mulheres
que deram a vida por este ideal, muitas vezes de maneira heroica, em condições difíceis, às vezes
também extremas. Este é um tesouro inestimável que só Deus pode valorizar na justa medida e a
Ele o confiamos.
Nós estamos entre os que acreditam que 1815, com o chamado de Joãozinho Bosco à vida e a
sua eleição da parte do Senhor, foi apenas o início de uma longa corrente de testemunhas e que
também nós, como Dom Bosco, queremos esforçar-nos para ajudar a escrever o futuro da vida, e
vida de crentes, dos jovens e, entre eles, dos mais carentes, com as cores da esperança.
Enfim, e brevemente para não me prolongar muito, desejo sublinhar a singularidade do
carisma salesiano em nossa peculiaridade conhecida como Sistema Preventivo, que é muito mais
do que um método educativo. É uma verdadeira e rica forma de espiritualidade, um modo
extraordinário de conceber o sentido da vida na ótica de Deus, sendo um grande dom da nossa
Congregação e Família à Igreja. Contudo, sobre isso escreverei mais amplamente na carta sobre a
Estreia no final do ano.
8. “LEVEMOS NOSSA SENHORA PARA CASA”: “E desde aquele momento o discípulo levou-a
consigo” (Jo 19,27).
34 Como diz o Papa Francisco na ‘Evangelii Gaudium’, n. 130: “O Espírito Santo enriquece toda a Igreja evangelizadora
também com diferentes carismas. São dons para renovar e edificar a Igreja. Não se trata de um patrimônio fechado,
entregue a um grupo para que o guarde; mas são presentes do Espírito integrados no corpo eclesial, atraídos para o
centro que é Cristo, donde são canalizados num impulso evangelizador. Um sinal claro da autenticidade dum carisma
é a sua eclesialidade, a sua capacidade de se integrar harmoniosamente na vida do povo santo de Deus para o bem de
todos”.
35 Conselho dado por um piedoso e benévolo cooperador e que o Padre Rua cita e põe como palavra de ordem na
carta de 8 de fevereiro de 1888, oito dias depois da morte de Dom Bosco, na carta dirigida aos diretores das casas
salesianas comunicando os sufrágios para Dom Bosco. Cf. Lettere circolari di Don Michele Rua ai salesiani, Direz.
Generale Opere Don Bosco, Turim, 1965, p.14.
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2.7 Page 17

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Quis concluir esta minha primeira carta circular com as mesmas palavras usadas pelo Padre
Egídio Viganò em sua primeira carta sobre Maria que renova a Família Salesiana de Dom Bosco. 36
Conta-nos o Padre Viganò que enquanto ouvia na noite da Sexta-feira Santa daquele ano a
narração evangélica da morte do Senhor segundo João, com Maria e o Discípulo aos pés da cruz,
ficou particularmente impressionado, com uma convicção que o leva a dizer: Sim! Precisamos
repetir uns para os outros como programa da nossa renovação a afirmação do evangelista:
“Levemos Nossa Senhora para casa”.
Dom Bosco teve uma vivíssima consciência da presença pessoal de Maria na própria vida, na
sua vocação e na sua missão apostólica. “Maria Santíssima é a fundadora e será o sustento das
nossas obras”,37 e nós Salesianos, como parte da nossa Família Salesiana, estamos convencidos do
papel indiscutivelmente especial que Maria teve na vida de Dom Bosco e da Congregação. Maria
foi para Dom Bosco a Mãe atenta dos seus jovens e a educadora interior deles. E sempre foi para
ele a Mãe por quem teve uma devoção terna e viril, simples e verdadeira.
Ao mesmo tempo, Dom Bosco, como verdadeiro educador e catequista, conseguiu fazer de
maneira excepcional que em casa, na casa dos seus jovens, Valdocco, o clima de família fosse
sempre envolvido por uma presença materna: Maria.
Hoje, duzentos anos depois do nascimento de Dom Bosco, podemos dizer que a devoção a
Maria, sobretudo para nós como Auxiliadora, é de fato um elemento constitutivo do ‘fenômeno
salesiano’ na Igreja, e faz parte imprescindível do nosso carisma: permeia a sua fisionomia e lhe dá
vitalidade.
Maria, que é a Mulher da Escuta, Mãe da nova comunidade e Serva dos pobres acompanhe-
nos e abençoe-nos. A Ela nos dirijamos com a mesma oração do Papa Francisco:38
Estrela da nova evangelização,
ajudai-nos a refulgir com o testemunho da comunhão,
do serviço, da fé ardente e generosa,
da justiça e do amor aos pobres,
para que a alegria do Evangelho
chegue até aos confins da terra
e nenhuma periferia fique privada da sua luz.
Mãe do Evangelho vivente,
manancial de alegria para os pequeninos,
rogai por nós.
Amém. Aleluia!
Cumprimento-vos fraternamente, com afeto,
36 Atos do Conselho Geral da Sociedade Salesiana, Ano LVII, n. 289, p. 4.
37 Sistema Preventivo. Regulamentos, n.92
38 ‘Evangelii Gaudium’, n. 288
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2.8 Page 18

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ÁNGEL FERNÁNDEZ ARTIME, sdb
Reitor-Mor
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