1990_AaVv_O_Salesiano_Coadjutor_Por


1990_AaVv_O_Salesiano_Coadjutor_Por

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o
SALESIANO
COADJUTOR
DICASTÉRIO PARA A FORMAÇÃO

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O SALESIANO
COADJUTOR
Historia,
Identidade,
Pastoral Vocacional
e Formação
São Paulo 1990

1.4 Page 4

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EDITORA SALESIANA DOM BOSCO
Tradução:
Pe. António Lages de Magalhães
Pe. Júlio Comba
Pe. Luiz Garcia de Oliveira
Capa:
Antonio Reis Quedas
Com autorzação da
Editrice S.D.B.
Edição extra comercial
Direzione Generale Opere Don Bosco
Via Della Pizana, 1111
00163 Homo Aurélio

1.5 Page 5

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APRESENTAÇÃO
Caros Irmãos,
apresento-vos este pequeno volume: O SALESIANO COADJUTOR,
que pretende aprofundar, por mandato do CG22 (cf. doc. n. 9), a
identidade vocacional do Salesiano leigo e o seu significado essencial
para a vida e missão da Congregação, tendo presente a atual reflexão
na Igreja, (ib)
Ele o faz, como se pediu, considerando as várias dimensões desta
identidade, a dimensão Iiistórica e teológico-espiritual, e a pastoral
vocacional e formativa, distintas entre si, mas unidas na experiência
da pessoa do Salesiano e da Congregação.
E o faz como ato de obediência à vontade da assembléia capitular
e unindo-se à estima e ao bem que manifestou por esta forma voca­
cional e pelos salesianos que são chamados a vivê-la.
Desejaria acrescentar às muitas reflexões que encontrareis, alguns
pensamentos meus. Ajudar-vos-ão, acredito, a compreender melhor a
natureza e o objetivo do texto e os sérios empenhos operativos que
derivam dele.
1. Aprofundar, de maneira atualizada, a identidade e, conse­
quentemente, empenhar-se nos setores operativos da pastoral voca­
cional e da formação significa:
insistir, antes de tudo, num problema tratado longamente
na Congregação, especialmente nos últimos tempos:
reevocar ainda o interesse pela finalidade viva e vital não de
uma espécie de “categoriade Salesianos, mas de toda a Congregação.
O livro é sobre oSalesiano coadjutor, não dosou sobre os
Salesianos coadjutores apenas. A vocação do Salesiano leigo toca em
seu significado essencial a vida e a missão da nossa Sociedade.
2. O tema supõe naturalmente o conhecimento de quanto a Con­
gregação e a Igreja, em suas várias e autorizadas experiências e comu­
3

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nicações pensaram, discutiram e optaram. O texto, naturalmente, em
vista do conteúdo e da linguagem, teve que ser orientado' segundo os
critérios bem determinados. Eles derivam da análise das expressões
com que o CG 22, confiando o trabalho ao dicastério para a formação,
indicou os intentos que se deviam obter.
3. O principal intento é o de fornecer um quadro de referência
atualizado para a compreensão autêntica e ao mesmo tempo aberta da
identidade do Salesiano Coadjutor, considera em si e em suas rela­
ções. O objetivo para o qual se voltou o CG22 não foi, parece-nos, tratar
o tema do Salesiano coadjutor propondo um material edificante pró­
prio para animação espiritual. Também isso, mas o CG22 quis sobre­
tudo que se aprofundasse a identidade do Salesiano leigo, levando em
conta a reflexão atual na Igreja.
O plano em que convida nos coloquemos é o histórico-teológico,
além do pastoral e formativo. Esta opção significa opção de conteúdo
e de problemas, de instrumentos e de método, por vezes nem sempre
fáceis em si mesmos, mas que devem ser estudados. E significa tam­
bém opção de destinatários. São eles primeiramente quantos tenham
encargos específicos e responsabilidades diretas em questões de pasto­
ral vocacional e de formação: inspetores, conselheiros inspetoriais,
componentes das várias comissões, diretores, formadores, agentes pas­
torais. Servindo-se deste subsídio, poderão dar-lhe a conhecer o con­
teúdo, método e meios que sugere para tornar salesianamente mais ilu­
minada e convicta a consciência das comunidades, para aumentar o
sentido de sua responsabilidade, para levá-las a iniciativas concretas de
pastoral vocacional e de formação.
4. Poderão parecer, aqui e alí, muito exigentes e altos os objetivos
aos quais convida, ou quem sabe, também, pelo menos em parte, pouco
diretamente referentes às condições reais do problema.
Diria que uma e outra coisa ao mesmo tempo. Explico-me. Mais
que considerar os ideais como um parecer sobre o que se é, somos
convidados a considerá-los como apelo para que se coloque a vida em
sincera tensão em vista do que se deve tornar. O ideal, então que dese­
jamos é mais expressão da riqueza da vocação, sentido de um dom pri­
vilegiado que Deus nos oferece e está disposto a tomar real e a desen­
volver pouco a pouco conosco, do que medida de um parecer sobre
uma vida, a nossa, que percebemos tão limitada e distante perfeição
almejada. Não desanimemos, portanto!
Caros irmãos, parecia-me urgente fazer convosco estas considera­
ções como ajuda à compreensão do texto que completa outros publi­
cados e voltados para figuras e papéis importantes no serviço da vida
e da missão salesiana. Vejamos o grande caminho que a Congregação
percorreu em questão de tomada de consciência e de comunicação, e
não é pouco, esperemos que seja semelhante a eficácia nos resultados
concretos.
4

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Parece-me de dever, por fim, agradecer a quantos contribuiram para
a última composição e redação do t*exto e desejar e pedir-vos quanto
desejava e pedia Dom Bosco aos 22 noviços coadjutores no discurso
programático que lhes fez em San Benigno: O número haverá de cres­
cer; mas especialmente é preciso que se cresça em bondade e energia.
Ponhamo-nos ao trabalho com paixão salesiana!
Cordiais saudações no Senhor.
Roma, 24 de maio de 1989
Pe. Egídio Viganó
Reitor Mor
* Pe. Barroero, Pe. Midali, Pe. Natali, Pe. Semeraro, Pe. Vecchi, coordenados
pelo Dicastério para a Formação.
5

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INTRODUÇÃO
O CG22 dedica aos Salesianos coadjutores, uma de suas pouquíssi­
mas orientações operativas, nascida, percebe-se, da reflexão comum e
de certo mal-estar que se experimenta quando um problema existe, preo­
cupa, é difícil e deve ser resolvido.
A assembléia quis:
que se aprofundasse nos vários níveis, a riqueza da identidade
vocacional do Salesiano leigo e o seu significado essencial para a vida
e missão da Congregação, tendo presente a atual reflexão na Igreja”;
que no âmbito da pastoral vocacional e da ação formativa, as
inspetorias sentissem sua urgência e intensificassem as iniciativas;
que se favorecesse maior inserção do Salesiano coadjutor nas
estruturas de animação e de responsabilidade.1
O Reitor-Mor, em agosto de 1980, dera início e impulso à refle­
xão sobre este tema vitalcom sua carta: O componente laical da
comunidade salesiana”. Nela exortava dizendo que não se tratava apenas
do Irmão coadjutor, mas de cada um e de todos juntos, da comuni­
dade e da sua originalidade salesiana, a Congregação e de suas dimen­
sões co-essenciais?
Aconteceram, desde então, vários encontros inspetoriais, interinspe-
toriais e regionais que, antes mesmo que fossem celebrados os Capítulos
inspetoriais, pela metade do sexênio, tomaram seriamente contato com
este problema. Desejava-se concluir o período de busca e de esclareci­
mento para dar vida a um esforço de atuação e de aplicação prática.
E realizou-se um bom trabalho, especialmente com referência à pasto­
ral vocacional e à formação. Tentou-se um exame dela e publicaram-se
seus resultados.3
Os Capítulos deram grande importância ao tema, mas faziam per­
ceber mais a linha propositiva do dever fazerdo que a operativa
concreta em atuação ou realizada. E sublinhavam algumas linhas
comum de formação.
Desejava-se
uma formação espiritual que levasse o irmão a ser um homem
de Deus, educador da no meio dos jovens e do povo, segundo
modos complementares aos do Salesianos presbíteros;
1 Cf. CG22, Doc. 9
2 Cf. ACS 298 p. 3
3 Cf. A formação do salesiano coadjutor; uma consciência e um empenho que
crescem, ACG 323, p. 26s.
7

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uma formação apostólica que fosse particularmente sensível ao
mundo do trabalho e atenta à dimensão missionária;
uma formação intelectual que, numa base comum, correspondes­
se ao caráter específico desta característica expressão vocacional.
A insistência sobre os vários aspectos era determinada pelas exigên­
cias da vida e da missão salesiana no lugar" e pelo número, aptidões
e disponibilidade das pessoas.
Enquanto se realiza este esforço, deseja-se com esta publicação:
O SALESIANO COADJUTOR, querida pelo CG22, responder à exigên­
cia de acompanhá-lo e de motivá-lo ainda mais.
Parece-nos o tempo certo. A reflexão sobre a experiência da Igreja
e da Congregação, atualizada até os últimos documentos, a informação
que os Atos dos vários encontros sobre os Salesianos coadjutores reco­
lheram e comunicaram sobre a organização e a caminhada das experiên­
cias em ato, pastorais e formativas, o diálogo direto sobre o tema
durante as Visitas de conjunto” fizeram crer que o material fosse
suficiente para esta publicação.
O texto compõem-se de quatro capítulos.
O primeiro é de aspecto histórico: O SALESIANO COADJUTOR.
ACENOS HISTÓRICOS. Depois de um breve aceno à gênese e à histó­
ria dos diversos tipos de religiosos leigos nas várias Congregações e
Ordens, detem-se a buscar as origens do Salesiano coadjutor e a seguir-
lhe o desenvolvimento no decurso da história e da tradição.
Esta identidade, na forma como vem indicada com precisão no
tempo, é aprofundada em sua perspectiva teológica e espiritual, tendo
presente, evidentemente, toda busca realizada em nível de Congregação
e de Igreja. É o capítulo segundo: A IDENTIDADE VOCACIONAL DO
SALESIANO COADJUTOR;
A pesquisa e seus resultados se abrem para uma maior compreen
são dos valores desta forma vocacional e os passam para a pastoral
afim de que dela se sirva no caminho da proposta e do acompanha­
mento que lhe é próprio. Trata-se do terceiro capítulo: A VOCAÇÃO
DO SALESIANO COADJUTOR NA PASTORAL SALESIANA.
No quarto, finalmente, estes mesmos valores são ulteriormente
assumidos no processo formativo; com eles se motivam as atitudes e se
sugere o método mais adequado para as assimilar pessoalmente:
LINHAS PARA UMA FORMAÇÃO DO SALESIANO COADJUTOR.
Compreendemos bem o quanto valem mais do que as palavras e
do livro, os modelos" de Salesianos leigos, que vivem e trabalham
com santidade, desenvoltura e alegria na simplicidade e laboriosidade
de cada dia. A leitura destas páginas poderá ser útil para também
motivar e alimentar sua vida e o apelo que ela encerra para os jovens.
Ainda mais o será para os irmãos aos quais a obediência confia a tarefa
da proposta e da formação vocacional.
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1. ACENOS HISTÓRICOS SOBRE O SALESIANO
COADJUTOR
1.1. BREVE NOTA HISTÓRICA
É conhecido que a história da vida religiosa é rica e complexa.
Pode ser estudada a partir de múltiplos pontos de vista: do carismático
ao institucional e ao relativo à sua origem.
O desenvolvimento das várias formas de vida religiosa ‘laicaldeve,
pois ser colocado no interior desta múltipla evolução, sob pena de fazer
dela uma leitura não objetiva e, por vezes, deformada.
Limitemo-nos, portanto, a antepor ao tema verdadeiro e próprio
deste capítulo, algumas linhas, remetendo eventualmente aos não mui­
tos trabalhos especializados existentes, com bibliografia anexa.1
11.1 No monaquismo
As origens do monaquismo, especialmente no Oriente, constituem
um fenômeno extremamente complexo. Pode-se, em todo caso, afirmar
que em geral, os primeiros monges eram simples leigos’ e o sacerdócio
era entre eles uma exceção.2
Nos primeiros séculos da idade média o monaquismo desenvolveu-
se no Ocidente e a evolução da sociedade cristã contribui para apro­
ximar os monges do estado clerical, enquanto, até àquela época, eles
eram mais próximos dos leigos. (...) O número dos monges-padres
aumenta nas comunidades, mas é difícil propor estatísticas precisas:
01 O material desta “nota histórica” foi tomado substancialmente de M.
SAUVAGE, art. Fratello in Dizionario degli Istituti di Perfezione, dir. G.
Pelliccia G. Rocca, voi. IV, Roma, 1977, col. 762-794. Ivi, bibliografia sobre
o tema específico, nas col. 792-794. Podem-se consultar com utilidade os
Atos dos vários congressos sobre a figura do religioso leigo realizados pelos
vários Institutos religiosos ou em diversas áreas geográfico-linguisticas, que
voltaram o olhar também para os séculos passados. Como por exemplo a
relação de T. TURRISI sobre La figura storico-giuridica del religioso fratello
dalle origini ao Vaticano II in II Fratello religioso nella comunità ecclesiale
oggi, Roma 1983 p. 25-49.
02 Cf. G. M. COLOMBAS, EL monacato primitivo, I, Madrid 1974 p. 64-68.
9

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fala-se de 20% de sacerdotes e diáconos no final do século VIII, de
60% no IX, e de 75% no X.3
No século XII, especialmente com os Certosinos e os Cistercienses,
os conversosleigos assumem a sua fisionomia característica e têm
um grande desenvolvimento. Diferentes são as opiniões dos especia­
listas sobre os motivos da instituição dos irmãos conversos. (...) O
primeiro cânon conciliar a falar deles é do Concílio ecumênico Latera-
nense II (1139): são citados entre os sujeitos inábeis para contrair
matrimônio válido. (...) A Igreja reconhecia por isso, aos conversos,
um estado religioso autêntico como o do monge.4
11.2 Nas Ordens Mendicantes
Os Dominicanos e Franciscanos têm em seus inicios uma configu­
ração diferente de vida e de missão; diferente também, pois, é também
o estilo e a figura do religioso leigo.
A ordem do “Frades Pregadores(Dominicanos) é clerical desde
suas origens, mas São Domingos agrega a eles os frades conversos,
confiando-lhes as responsabilidades materiais dos conventos. De início,
são os companheiros dos irmãos sacerdotes e as diferenças entre uns
e outros devem ser buscadas em nível de obrigações e não de estado
religioso.5
A maior parte dos primeiros companheiros de São Francisco, ao
contrário, eram leigos. Os textos franciscanos não falam, portanto de
frades conversos, mas de frade leigo. Entretanto, também entre os
Frades Menores verifica-se logo um processo acelerado de clericalização.
Um fenômeno análogo se deu na Ordem Carmelitana.
Com o Concílio de Trento (sessão XXII, De reformatione, c. 4)
todos os cargos de superiores, nas famílias religiosas clericais, foram
reservados aos sacerdotes, mas as famílias franciscanas protestaram
por esta decisão; em seguida, contudo, tiveram que se acomodar?
11.3 Nas Ordens e Congregações religiosas modernas
No século XVI surgem novas Ordens: Teatinos, Bamabitas, Somas-
cos. Jesuítas e outros ainda, compostas prevalentemente de ‘clérigos”.
Todas, porém, possuem também religiosos leigos que se juntam aos re­
ligiosos sacerdotes, com encargos diversificados.
Na maior parte das Congregações clericais, fundadas nos séculos
XVII-XIX, ao lado dos sacerdotes encontram-se irmãos leigos, que rece­
bem nomes diversos (coadjutores, cooperadores, auxiliares, etc.). Esses
03 M. SAUVAGE, o.c. col. 766
04 Ib. col. 766
05 Ib. col. 768
06 Ib. col. 769
10

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religiosos, em geral, assumem encargos materiais; em algumas Ordens,
sobretudo missionária, foram por vezes, empenhados em tarefas apos­
tólicas leigas (catequistas de modo particular), mas muitas vezes não
passou de simples desejo por causa de dificuldades.7
Podemos concluir com esta afirmação: A vicissitude dos membros
leigos das congregações religiosas não foi objeto de muitas pesquisas
históricas. Se foi dada certa atenção às ordens de antiga fundação, pouca
no conjunto mereceram as congregações surgidas no século décimo
nono..
Expondo em poucas linhas uma vivência tão longa e complexa, as
proporções entre os vários períodos e as formas aos poucos assumidas
permanecem, por isso, assinaladas aqui e alí também muito alteradas.
A realidade do religioso leigo poderá ser mais bem compreendida quan­
do inserida em seu justo contexto em alguma das histórias da vida
religiosadisponíveis hoje nas áreas de várias línguas. Por exemplo.
L. HOLTZ (1986) em língua alemã, A. LOPEZ AMAT (1987) e J. ALVA-
REZ GOMEZ (1989) em espanhol, J. LOZANO (1988) em inglês, AUGÉ-
SASTRE-BORRIELLO (1988) em italiano. A elas encaminhamos, reco­
mendando a sua leitura. Estes breves acenos queriam, entre outras
coisas, motivar esse convite.
1.2 . O RELIGIOSO LEIGO NA CONGREGAÇÃO SALESIANA
12.1 As origens. O tempo de Dom Bosco
Os primeiros passos da Sociedade Salesiana foram dados em
Turim, centro político das conhecidas medidas que suprimiam Ordens
e Congregações, depois de 1848, e ponto alto da economia na primeira
transformação pré-industrial italiana. O mesmo ambiente eclesial
mostrava, havia tempo sinais claros de um catolicismo em crise, em
busca de nova identidade. Particularmente, no âmbito das tradicionais
corporações religiosas, à grave erosão perpetrada pelo iluminismo acres­
centava-se muitas vezes o peso de não poucas tentativas de renovação e
de reforma que não tiveram êxito ou permaneceram letra morta.’
07 Ib. col. 770
08 P. STELLA, Cattolicesimo in Italia e laicato nelle Congregazioni religióse.
II caso dei coadiutori salesani (1854-1974), in Salesianum XXXVII (1975), 411.
09 A última tentativa, depois das realizadas por Pio VII logo após a sua volta
do exílio para Roma, e de Leão XII, limitadas às Ordens e Congregações
existentes no Estado Pontifício, era justamente a de Pio IX que em 1847
instituía uma Congregação sobre o estado dos Regulares e enviava a 07 de
agosto do mesmo ano a todos os bispos dos vários Estados italianos uma
carta circular em que convidava “a fornecer oportunas notícias sobre o
estado dos Regulares...; a especificar as causas dos abusos que se tivessem
introduzindo nestas Corporações religiosas, e a indicar os meios mais
convenientes e eficazes para removê-los. Toda a documentação que é
conservada no Arquivo Secreto Vaticano, atesta justamente p difundido
mal-estar e a necessidade de concreto repensamento das estruturas religiosas
em relação à nova exigências dos tempos.
11

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nos inícios do sec. 19, após a supressão napoleónica e por ocasião
da trabalhosa restauração das órdens e Congregações, não faltaram
vozes de homens sensíveis e atentos que procuravam uma equilibrada
inversão no caminho em sua composição e estrutura. Poderiam assim,
ser verdadeiramente úteis a Deus e à sociedade.
As numerosíssimas Congregações, nascidas neste período, não se
subtraíram às exigências exigidas pelo tempo e, embora com fortes
diferenças, oscilaram entre “o modelo tradicional e restauradoe o
modelo novo, ou seja, o de uma inicial associação privada católica
laical do papel desempenhado pela tradicional figura do oblatoou
do converso. Apresentava-se, com efeito, como quem atestava fun­
damental realidade evangélica: a possibilidade de santificar-se aberta a
todos, sem distinções de categorias e com plena paridade de direitos.
A teologia moral do tempo, estimulada também pelos nem sempre
sãos e desinteressados princípios afirmados pela Revolução francesa,
foi levada a reencontrar os núcleos de antigas verdades que deviam ser
tempestivamente revalorizadas. A literatura e a experiência histórica de
São Francisco de Sales constituiram para os eclesiásticos com cura de
almas, um substancioso ponto de referência para voltar a falar e crer
com direito pleno, na santidade dos leigos.
A formação humana e religiosa de Dom Bosco, sustentada por vir­
tudes e aptidões naturais, foi marcada pelos dados desse tempo e se
encontrou toda na idéia que teve na origem de Congregação aberta
poder-se-ia dizer naturalmenteaberta aos padres e aos leigos,
unidos pelo anseio comum da perfeição e da caridade cristã.
Não bastam então para explicar o aparecimento da figura do
coadjutoras razões históricas ou o oportunismo contingente, a
aquiescência à tradição ou interesses e razões organizativas. Volta ao
primeiro plano um motivo altissimamente sobrenatural: a vontade de
estender, quanto possível, uma experiência e uma perfeição cristã ele­
vada e nobre (ao maior número de almas, de todas as categorias).10
A. As raízes de uma exigência: o nascimento e as necessidades das
oficinas e das escolas de artes e ofícios no Oratório
A partir de uma necessidade comum, mas que a homens inteli­
gentes e corajosos acaba por sugerir os mais extraordinários empreendi­
mentos, Dom Bosco teve a idéia de fundar os seus colaboradores para
os aprendizes.
Outros o haviam precedido. Além da Restauração, é possível
encontrar por acaso escolas de artes e ofícios fundadas por autênticos
pioneiros. Joãozinho Bosco completa apenas seis anos quando o
empreendedor cônego bresciano Loudovico Pavoni abria o Instituto de
São Barnabé para jovens pobres, com uma série inicial de oficinas que,
10 P. BRAIDO, Religiosi nuovi per il mondo del lavoro, Roma 1961, p. 16--7.
12

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em dez anos, contavam com tipografia e calcografia, encadernação e
papelaria, prataria, marcenaria, ferreiros e sapateiros.11 Entre os garotos
formados nestas oficinas, o côn. Pavoni conseguia encontrar seus melho­
res colaboradores que, depois, se tomavam sacerdotes ou irmãos
coadjutorespara continuar a ensinar nas mesmas oficinas. Pavoni
morreu em 1849, e não se percebem, no estágio atual das pesquisas,
influxos diretos sobre o futuro organizador das oficinas de Valdocco.12
a) O nascimento das oficinas
Foi precisamente em 1853, num restrito local de Valdocco, que
Dom Bosco começou a realizar a iniciativa de oficinas.
Preocupado com as necessidades materiais, intelectuais e morais
de um discreto número de garotos e jovens trabalhadores, Dom Bosco
se apressara em encontrar para eles alguma ocupação junto a peque­
nas oficinas artesanais de Turim, chegando a celebrar muitas vezes
contratos especiais de aprendizagem. Conservam-se no Arquivo central
salesiano cópias desses acordos em favor dos jovens Giuseppe Bordone
(1851), Giuseppe Odasso (1852), Felice Paoletti (1855).
O fato, porém, de enviar todos os dias seus jovens a essas casas
e às oficinas revelou-se incômodo e cheio de riscos: Bem logo
escreve a respeito o historiador Danilo Veneruso João Bosco perce­
beu que esse tipo de intervenção não correspondia em nada às exigên­
cias das psicologia juvenil, às finalidades da educação cristã e muito
menos às exigências de produção da sociedade contemporânea. Diante
da realidade juvenil, uma intervenção de socorro, a breve e também
a médio prazo, podia enfrentar e resolver a necessidade urgente imedia­
ta, mas não o problema do futuro. A intervenção sobre o jovem, depois
de sucessivas experiências, configurou-se-lhe sempre mais de um lado
como uma síntese entre programação educativa, clara consciência das
finalidades por alcançar e de outro uma resposta ativa e consciente do
sujeito educativo, que era capaz, com um complexo tirocínio, como
pessoa livre, de auto-governar-se e de dar uma contribuição ao cresci­
mento pessoal e social.13
Foi o próprio Dom Bosco que, em várias oportunidades, motivou
as razões que o levaram a colocar junto de suas escolas dominiciais
11 Vejam-se os Atos do congresso de estudos Lodovico Pavoni e il suo tempo.
1784-1849, Brescia 30 de março de 1985.
12 Encontram-se duas orientações numa carta de Rosmini a Dom Bosco, de
1853 e a outra num aceno a uma ‘missão bresciana’ do amigo Pe. P. Ponte,
então diretor do Oratório São Luís em Porta Nuova, pelos fins de 1849.
É muito provável entretanto que Dom Bosco tenha tido ligações diretas,
pelo menos com a produção de livros da tipografia do Instituto de S.
Barnabé de onde veio entre outros, a Opera omnia de São Francisco de Sales.
13 Cf. D. VENERUSO, Dai laboratori agli istituti professionali, in P. BRAIDO,
Dom Bosco nella Chiesa a servizio dell’umanità. Studi e Testimonianze, LAS
Roma 1988, p. 133.
13

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e feriais, iniciadas em 1845, e da Sociedade de mútuo socorro, funda­
da em 1850, as oficinas internas: "Não se tendo ainda as oficinas no
instituto escreve ele os nossos alunos iam trabalhar e estudar em
Turim, com grande dano da moralidade, uma vez que os companheiros
que encontravam, as conversas que ouviam e o que viam, tomavam frus­
tado quanto se lhes fazia e dizia no Oratório”.14
Começou-se com as oficinas de sapateiros e alfaiates. Dom Bosco
apressou-se a escrever um Regulamento das oficinasapropriado aos
respectivos mestres de arte.15 Eles deveriam instruir os aprendizes e
fazer de modo que não faltasse trabalho”. No ano seguinte acrescentou-
se a oficina de encadernação que, no espaço de um ano, podia rece­
ber encomendas de trabalho.16 Pelos fins de 1856 inaugurou-se a oficina
de marcenaria. Para as oficinas de tipografia e dos ferreiros, embora
estando nos desejos e nos projetos de Dom Bosco, desde o início, dado
os custos e a complexidade das máquinas e dos equipamentos, e a
exigência de locais adequados, se deverão esperar pelos anos Sessenta.17
O Pe. Lemoyne acena também a locais destinados a tintureiros e chape­
leiros. 18
Um completo quadro das oficinas existentes no Oratório se pode
levantar de um “Resumo da Pia Sociedade de São Francisco de Sales”,
de 23 de fevereiro de 1874, redigido para a Sagrada Congregação dos
Bispos e Regulares, em vista da aprovação das Constituições: Os
artesãos está escrito em várias oficinas do Estabelecimento exer­
cem a profissão de sapateiro, alfaiate, ferreiro, marceneiro, ebanista,
restaurador, livreiro, encadernador, compositor tipográfico, tipógrafo,
chapeleiro, música, desenho, fundidor de tipos, estereotipista, calcó­
grafo e litógrafo.1
b) A experiência operária de João Bosco
As aptidões e a sensibilidade para um tão grande raio “artesanal
não foram certamente improvisadas. A experiência juvenil e pessoal de
Dom Bosco tiveram nisso importante papel.
De origem e mentalidade rural, tinha aprendido a realizar uma
forte integração entre as origens vividas, típicas do mundo agrícola, e
a experiência artesanal que as necessidades e as situações lhe iam
14 MO, 205; como também se veja em Invito una lotteria d’oggetti in Torino
a favore degli Oratori”, janeiro de 1862.
15 Cf. MB 4, 660. Sobre as razões e as modalidades da implantação das oficinas
internas em Valdocco, veja-se P. STELLA, Don Bosco nella storia economica
e sociale (1815-1870), Roma, 1980, p. 243-249. 383-386.
16 Encontram-se pedidos neste sentido em alguns números do jornal local o
Armonia daquele ano: cf. MB V, 540.
17 A tipografia terá início em 31 de dezembro de 1861 e a oficina para ferreiros
começará juntamente com os trabalhos do Santuário de Maria Auxiliadora
em 1862.
18 MB VII, 116.
19 MB X, 946.
14

2.7 Page 17

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apresentando. Com 15 anos, frequentando a escola pública em
Castelnuovo, teve a possibilidade de passar por um aprendizado de
música e de costura junto do honesto homemRoberto Giovanni, que
lhe dava pensão: Dediquei-me com muito entusiasmo à arte musical
escreverá nas 'Memórias’ ... Em muito pouco tempo tornei-me
capaz de pregar botões, coser bainhas, fazer costuras simples e duplas.
Aprendi também a cortar ceroulas, coletes, calças, paletós Tinha a
impressão de haver-me tornado excelente mestre de alfaiataria.20
Em Chieri, nos anos 1833-34, a fim de poder estudar pôs-se a tra­
balhar como garçom num café e em pouco tempo de tal modo identifi­
cou-se com o trabalho a ponto de fazer seus segredos os do patrão:
Pela metade daquele ano era capaz de preparar café, chocolate; conhe­
cer as regras e as proporções para fazer todo tipo de doces, licores,
sorvetes e refrescos”.21
Os deveres escolares o aconselharam, ao invés, trabalhos domés­
ticos e não excessivamente pesados. Mas tão logo chegavam as férias,
apesar da batina de seminarista, dedicava-se a atividades que exigissem
mais força e empenho. “Fazia fusos, cavilhas, piões, bochas ou bolas
no torno, fazia batinas; cortava, costurava sapatos; trabalhava o ferro,
a madeira. Ainda agora na minha casa de Murialdo uma escrivaninha,
uma mesa com algumas cadeiras que lembram as obras primas das
minhas férias. Ocupava-me também em capinar no prado, ceifar o trigo
no campo; em despampanar, desfilhar, vindimar, fazer vinho, espichar
e coisas semelhantes”.22
Com razão, o seu terceiro sucessor, Pe. Filipe Rinaldi, escreverá:
A Providência dispôs que Dom Bosco exercesse um pouco quase todas
as profissões: ele foi agricultor, alfaiate, sapateiro, marceneiro, ferreiro,
tipógrafo, a fim de que seus filhos coadjutores pudessem dizer com um
santo orgulho: Dom Bosco exerceu também este meu ofício! Por isso
o nosso venerável Fundador tomou-se modelo perfeito dos sacerdotes,
mas também dos coadjutores".23
A experiência de trabalho manual tomou Dom Bosco capaz de
compreender seu valor em vista de uma correta e completa formação
humana. Apesar de seus estudos de seminário, não desvalorizou jamais
as atividades profanas como se as devesse evitar para não compro­
meter a dignidade e o espírito eclesiástico.24
Dom Bosco, embora compartilhando esta preocupação (repetirá,
com efeito, aos salesianos coadjutores muitas vezes: Podeis fazer o que
20 MO, 45.
21 MO, 62s.
22 MO, 95s.
23 24 de julho de 1927.
24 As prescrições sinodais e a literatura formativa eclesiástica do Oitocentos
intervém continuamente na insistência sobre a inoportunidade para o sacer­
dote de ocupar-se ou praticar ele mesmo trabalhos “servis ou profanos:
veja-se A. GAMBASIN, Gerarchia e laicato in Italia nel secondo Ottocento,
Antenore Ed., Pàdua, 1969, 330p.
15

2.8 Page 18

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os sacerdotes não podem), tinha pelo trabalho, elevada estima, pelo seu
valor social e educativo. O trabalho desenvolve nos jovens o sentido
e solidariedade para com os companheiros, especialmente nos momen­
tos de perigo moral e de necessidade material, e os habituava ao conhe­
cimento e à responsabilidade do trabalho.
c) Oficinas e colaboradores
Com a criação das oficinas internas, a dificuldade mais delicada e
que devia superar era a pessoa, mestre e educador. O problema foi
resolvido com trabalhosa experiência. Com Bosco mesmo recapitulou
suas fases em 1885. Pôs-lhe a mão com o objeto de uma discussão
aberta no Capítulo Superior (14 de dezembro de 1885); refez, então,
a história de seus aprendizes no Oratório (...) e enumerou as várias
experiências tentadas antes de chegar a uma satisfatória sistematização:
(...) Enquanto não foi possível dispensar os mestres vindos de fora,
Dom Bosco, reduziu-se a dispensá-los de toda ingerência disciplinar e
econômica, confiando estes encargos a Coadjutores salesianos, os pri­
meiros dos quais foram Giuseppe Rossi, Giuseppe Buzzetti e o Cav.
Oreglia de S. Stefano. Mas, como prover-se de mestres de arte que
fossem seus? (Entre os artesãos do Oratório) jamais faltaram os que
se sentiam atraídos mais fortemente por ele e que ele vinha trabalhan­
do com cuidado especiais no intento de fazê-los seus. Eles acabavam
facilmente decidindo-se por ficar para sempre com Dom Bosco; o sen­
tido dessa expressão era bem conhecido no Oratório. (...) Eles volta­
vam como mestres para aquelas oficinas onde tinham sido aprendizes.25
Nos inícios, pois, fora o mesmo Dom Bosco a se fazer assistente
e primeiro mestrede artes e ofícios. Em seguida, de modo realista,
recorreu a especialistas no assunto, chamando para o Oratório verdadei­
ros mestres de arte contratados. A escolha destes mestres revelou-s?
bem logo exigente e seletiva: Para tê-los capazes de ensinar alunos é
preciso que sejam de moralidade, aptidões e ciência não ordinária, e
por isso bem pagos”.26
Era difícil encontrar nas pessoas a combinação requerida entre
perícia profissional e aptidões morais e educativas. Dom Bosco entreviu
a solução na escolha de colaboradores leigos, preferivelmente residentes
de forma estável no Oratório, de onde tinham vindo.
B. Coadjutor: do colaborador leigo ao religioso leigo
Com uma visão que não criava barreiras de monta no campo da
perfeição cristã e do apostolado. Dom Bosco teve de fato, desde o início
25 E. CERIA, Annali della Società Salesiana, Voi. I, Turim 1941, p. 651-652.
26 De um promemòria de Dom Bosco ao Presidente do Comitê Tipogràfico de
Turim em 1872: cf. Epist. II, p. 233-4 (data incompleta).
16

2.9 Page 19

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de sua obra, a concreta e operosa colaboração dos leigos. Isso lhe per­
mitiu constatar diretamente o valor e a eficácia educativa da presença
deles no meio dos jovens.
Certamente, dos testemunhos e dos documentos de que dispomos,
não nos é possível estabelecer se o Salesiano coadjutor, como se con­
figura hoje, tenha emergido da experiência e da genialidade de Dom
Bosco em concomitância com o próprio nascimento da Congregação.
Tende-se mais para um normal e progressivo amadurecimento dessa
forma vocacional, dirigida inicialmente por Dom Bosco segundo moda­
lidades que encontrava o seu tempo e ambiente, e sucessivamente modi­
ficadas e coordenadas em vista das exigências institucionais.
O termo ou a qualificação de “coadjutor, que se acha pela primeira
vez nos registros da matrícula dos jovensde Valdocco em dezembro
de 1854, junto ao nome de Alessio Peano, de trinta anos, não tem qual­
quer referência com sentido de natureza religiosa.27
Exprimia um traço de delicadeza e de respeito por parte de Dom
Bosco para com aqueles que outros chamavam simplesmente de
“empregados. Manifestava sobretudo a índole própria da presença
destes leigos junto dos jovens: não eram simplesmente dependentes,
mas parte em causa, colaboradores. O apelativo portanto, embora não
exprimindo a substância de quanto hoje entendemos, encerra a idéia
mestra do desenvolvimento que veio depois.
O Pe. Giuseppe Vespignani, em escrito ainda inédito: História do
coadjutor salesiano", redigido numa agenda de 1930, conservada no
Arquivo salesiano central, diz explícitamente que “o nome de Coadju­
tor foi o primeiro que Dom Bosco deu a todos os seus companheiros
e amigos, que compreenderam a importância da obra dos Oratórios, ou
seja, instruir, assistir e guiar a juventude pobre, abandonada, nos deve­
res da vida cristã”.
A qualificação coadjutorcontinuará, por longos anos, indicando
genericamente colaboradores leigos residentes em Valdocco, tivessem ou
não professado na Sociedade de São Francisco de Sales. Até os anos 80
realiza-se o que P. Stella chama de a condição fluída das origens:
coadjutores com votos e sem votos”.28 “As lacunas e reticências das
constituições (mesmas) de 1868 tendiam talvez a espelhar uma situação
desejadamente fluída, pela qual entre outras coisas na vida quotidiana
não existia tuna distinção formal entre clérigos de Dom Bosco e cléri­
gos diocesanos, entre coadjutores com votos e coadjutores que eram
simples hóspedes ou trabalhadores assalariados”.29 Foi necessário o
27 A. PEANO entrou no Oratório em dezembro de 1854; onde permaneceu,
menos de três meses, saindo em 23/02/1855. Cf. P. STELLA, Cattolicesimo...,
o.c., p. 413.
28 Ibidem.
29 Ivi, p. 412.
17

2.10 Page 20

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CG3 de 1883 para se estabelecer a distinção30 e reservar oficialmente o
apelativo aos Salesianos leigos.
As pessoas que nos primeiros vinte anos de vida do Oratorio são
denominadas coadjutoresgiram em torno de urnas vinte, com idade
entre os 14 e os 69 anos, e com uma média de mais de 34 anos. Vários
deles, embora pagando urna soma mínima, recebem uma retribuição
regular como verdadeiros e próprios familiares ou como trabalhadores
nas oficinas de artes e ofícios, dependentes de Dom Bosco. Sua presen­
ça em Valdocco é geralmente muito descontínua e normalmente de
breve duração. Pode-se tratar, verdadeiramente de uma parte da notá­
vel faixa de jovens que do interior vinham à capital atraídos pelas
fábricas que, em Turim, começavam a absorver mão-de-obra. Junto a
Dom Bosco encontravam o primeiro ponto de apoio, enquanto não
conseguiam trabalho, sem obrigações ou vínculos de natureza religiosa
que não os de um bom cristão.
Na geografia dos vários grupos ou categorias existentes (sacerdotes,
clérigos, salesianos, seminaristas, estudantes e aprendizes), os
“coadjutoresficaram inseridos, de forma familiar e indistinta, no teci­
do único de Valdocco, dominado pela presença de Dom Bosco, confessor
e pai espiritual, e empenhado nas suas mesmas características tempe­
ramentais e nos seus ideais. Tudo em clima de família e de participa­
ção ativa, apesar das diferenças de estado.
No setor dos aprendizes, o número e a qualidade dos leigos toma­
ram-se sempre mais exigidos e significativos. Justamente deste grupo
de colaboradores leigos, indispensável e bem assimilado, na substân­
cia e no estilo, ao modelo desejado por Dom Bosco, começou a tomar
corpo a realidade do Salesiano coadjutor. A passagem era apenas
interior e de substância, sem qualquer novidade de hábito ou de ocupa­
ção. Os trabalhadores leigos, que preferiam permanecer com Dom
Bosco e estabelecer-se em Valdocco eram quase todos de proveniência
rural e urbano popular, áreas notoriamente apegadas à religião, nas
quais era vivo o sentido da Providência, a pratica da religião, o pleno
respeito ao clero, uma grande devoção a Maria e a freqüência aos
sacramentos.
O elemento mais novo e notável que naquele tempo de certa mobi­
lidade social constituía uma incomensurável garantia de segurança para
estes primeiros colaboradores, era a certeza de poder ficar com Dom
Bosco, que assegurava trabalho, pão e paraíso.
O Pe. G. Vespignani, no inédito citado, confirma este dado: O
coadjutor de Dom Bosco geralmente ao fazer-se salesiano, não pensava
30 Na ata da reunião de 6, pela manhã, escrita pelo Pe. G. Marenco, lê-se esta
observação:: “Cria-se uma questão sobre se convenha ou não de deixar
o nome de coad. aos sócios seculares ou mudárlo para o de irmão. D.
Bosco e muitos opinam que não se deva mudar, somente se mostra a
conveniência de que não se o nome de coadjutores aos familiares. Roma,
Arch, Centr. Sa., Verbali de 1883; cf. também in BM XVI e XVII, 411s.
18

3 Pages 21-30

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3.1 Page 21

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propriamente em aceitar uma regra e fazer votos: ele entendia estar
com Dom Bosco para ajudá-lo a fazer o que ele quisesse: nisso colocava
a sua felicidade. O resto da regularidade, da perfeição religiosa, da
profissão dos votos, viria em seguida, segundo o que lhe indicasse
Dom Bosco.
C. Os primeiros Salesianos coadjutores
A figura característica do Salesiano Coadjutorfoi pois, defi­
nindo-se nos primeiros vinte anos de vida da Sociedade de São Francisco
de Sales. Nesta definição não (é) fácil estabelecer se os motivos esta­
vam todos presentes ao mesmo tempo, desde os inícios em Dom Bosco,
ou foram aparecendo gradualmente em tempos sucessivos, paralela­
mente ao amadurecimento progressivo da sua obra (...). O tempera­
mento particular de Dom Bosco, as modalidades e as cautelas com que
ele quis apresentar a nova Congregação tanto aos jovens candidatos e
aos hipotéticos membros, quanto ao público e às Autoridades, o carac­
terístico método da gradualidade adotado por ele na atuação de seus
empreendimentos, a precedência dada geralmente por ele aos fatos e
às realizações em relação às teorias e às codificações e, portanto, a
consequente penúria de documentos a respeito dos primeiros anos,
não facilitam a resposta”.21
a) Algumas datas e, com elas, algumas figuras fundamentais do
primeiro período podem servir de orientação geral, para ver como a
partir de 1860 começando pouco a pouco a se diferenciar os “Salesianos
coadjutores, verdadeiros e próprios, dos outros chamados “coadju­
toresleigos em geral.
Na assembléia de 18 de dezembro de 1859, ato formal do nasci­
mento da Sociedade de São Francisco de Sales, faltam os salesianos
coadjutores.32 Mas em 2 de fevereiro de 1860 deu-se a aceitação do
primeiro sócio leigo. Como se na ata do Capítulo da Sociedade, na­
quele dia o jovem Rossi Giuseppe di Matteo, de Mezzanabigli (...)
foi admitido à pratica das regras dessa Sociedade33 frase que, na
intenção de Dom Bosco, equivalia à prova do noviciado. Giuseppe Rossi
tinha 24 anos; emitiu os votos trienais quatro anos depois, em 19 de
setembro de 1864; fez os votos perpétuos em 1868 e morreu salesiano
em 29 de outubro de 1908. No registro da matrícula de Valdocco é
assinalado com a qualificação profissional de “provedor”.
Com o jovem Giuseppe Rossi o termo coadjutor, em uso, como
vimos, nas matrículas internas dos registros de Valdocco, passou a
integrar a terminologia corrente do vocabulário salesiano. Com efeito,
apenas três meses depois, na carta de 11 de junho de 1860, endereçada
a Dom Fransoni, arcebispo exilado de Turim e na qual se pedia a apro­
31 P. BRAIDO, Religiosi nuovi ..., o.c., p. 20-21.
32 Cf. MB VI, 335.
33 MB VI, 479.
19

3.2 Page 22

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vação do exemplar, anexo, das Regras, aparece o título de “coadjutor34
assinalado junto ao nome de G. Rossi e de Giuseppe Gaia, com o de
“sacerdote* e clérigodos outros elencados.
A estas primeiras duas adesões muito depressa se acrescentaram
outras. Seus nomes e emprendimentos bastam por si para carac­
terizar bem o intento de Dom Bosco e o significado da sua nascente
instituição: o cav. Federico Oreglia di S. Stefano, factótum adminis­
trativo, e Faia, cozinheiro, emitiram por primeiro os votos de 14 de
maio de 1862, data dos primeiros religiosos oficiais da Sociedade Sale-
siana. O citado Rossi, roupeiro, chefe-de-oficina e provedor geral,
professará dois anos depois; Andrea Pelazza, admitido em 1863 e depois
por quase quarenta anos legendário encarregado da tipografia e fábrica
de papel salesiana, morreu salesiano em 23 de setembro de 1905; e
depois Pietro Enria, também professo em 1878 e, desde adolescente,
Junto de Dom Bosco, de quem foi insubstituível enfermeiro; Giuseppe
Buzzetti, professo em 1877, mão-diieita e confidente de todas as primei­
ras realizações de vanguarda; Marcello Rossi, Giuseppe Dogliani, Dome-
nico Palestrino, ligados de modo personalíssimo a três instituições
fundamentais de Valdocco: portaria, música e sacristia do Santuário
de Maria Auxiliadora; Gioia, Scavini, Belmonte e Molinari, que fizeram
parte da primeira expedição missionária na Argentina. não existia
setor ou empreendimento de monta no crescente desenvolvimento da
Congregação que não contasse com a presença do Salesiano leigo junto
ao Salesiano presbítero ou clérigo.
Entre 1860 e 1870, os coadjutores salesianos viviam um pouco
mimetizados entre os aprendizes, chefes de arte e subalternos na famí­
lia do Oratório; assim como os padres e clérigos salesianos não tinham
vida distinta da dos clérigos diocesanos hospedados em Valdocco.
Sob certos aspectos esta situação era o reflexo da circunspeção
que caracterizava naqueles tempos, muitas das obras de Dom Bosco.
Depois das primeiras experiências missionárias, ele dirá aos salesianos,
o quanto fora arredio anteriormente em divulgar o apelativo, justamen­
te, de salesianos”. Se de uma parte podia temer nos seus colaboradores
reações de repulsa, como as que teve Giovanni Cagliero quando pela
primeira vez em 1854/55 se sentiu convidado a inscrever-se na congre­
gação salesiana, de outra parte Dom Bosco temia vexações fiscais.
Somente depois de 1871, após a lei das Garantias, em clima de garan­
tida separação e respeito, assiste-se ao multiplicar-se de iniciativas de
Dom Bosco em vista de uma inserção pública da Congregação Salesiana
na sociedade italiana e no mundo”35.
E, melhor ainda, será preciso esperar a primeira expedição missio­
nária de 1875, para assistir a uma notável mudança: Dom Bosco, ao
apresentar ao público externo a sua Pia Sociedade, substituiu a circuns-
34 E. CERTA, Annali ..., O.C., I, 36.
35 P. STELLA, Cattolicesimo .... o.c., p. 414-415.
20

3.3 Page 23

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peção e a reserva pela notoriedade e a propaganda em grande estilo36.
As cartas que chegavam da Argentina, nos primeiros meses de 1876
criaram um forte clima de entusiasmo e confirmaram Dom Bosco a
respeito da oportunidade da fórmula padres, clérigos, coadjutores,
assimilados, sem graus e distinções, na comum identidade de
Salesianos”. O Vigário geral de Buenos Aires bem expressou o seu
juízo sobre a situação, nova na história das órdens religiosas, referin­
do-o ao grupo dos primeiros salesianos instalados em S. Nicolás:
Fagnano é infatigável. Tomatis intrépido, Cassinis constante,
Allavena robusto, Molinari indefeso, Gioia invencível, Scavini imper­
turbável no trabalho científico, manual e religioso. O colégio caminha de
modo perfeito. Os padres salesianos portam-se muito bem e são
estimadíssimos na cidade, e seus nomes ressoam em toda a América
do Sul.37
A realidade efetiva experimentada em Valdocco nos anos 1858-1888,
o peso dos acontecimentos de natureza econômica (pense-se na pro­
vidência dos jovens do campo ou das regiões em decadência, com
a incipiente transformação industrial) e a progressiva consciência e
solidez do projeto salesiano no mundo ¿ixam gradualmente os traços
mais significativos da fisionomia do Salesiano coadjutor e do seu lugar
na Congregação. Os dados estatísticos espelham esta situação: em 1879
os salesianos coadjutores, professos e noviços, eram 23; os padres
eram 26.
b) Proveniência e ocupações
Parece também oportuno tomar consciência dos ambientes de onde
provinham os Salesianos leigos e da variedade de ocupações que lhes
eram confiadas.
As primeiríssimas vocações de Coadjutores vieram de fora. O caso
do cav. Federico Oreglia di S. Stefano o demonstra. Contudo o viveiro
natural e típico permaneceu em Valdocco e o mundo variado das ofici­
nas de artesão e de seus outros serviços. A análise sistemática dos dados
pessoais da primeira geração de Salesianos coadjutores confirma o que
afirmamos, salvas as situações características de alguns dentre eles,
um iter bastante comum pode ser proposto: encontro ou conhecimento
ocasional de Dom Bosco fora de Valdocco, transferência a Turim sem
36 Isto provavelmente explica como nos documentos mais reservados a men­
ção de coadjutor, como sócio leigo da Congregação, é claríssima (veja-se
por exemplo, a primeiríssima redação das Constituições, certamente ante­
rior a 1863). Enquanto não aparece ou entrará apenas tardíamente, pelos
anos ‘70, sem muitas distinções da categoria dos familiares, na documen­
tação às mãos de todos (vejam-se os Regolamenti per i giovani e per i
Superiori, como também os Ricordi confidenziali ai Direttori e semelhantes).
37 In Annali, o.c., I, p. 258. Vejam-se também as demais cartas chegadas a
Turim após a chegada da primeira expedição missionária de 1875: ressalta
logo a característica de assimilar as várias categorias de padres, clérigos
e coadjutores numa única realidade de “filhos de Dom Bosco.
21

3.4 Page 24

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qualquer intenção de se estabelecer, primeiros encargos em ritmo
crescente nas mais diversas ocupações segundo as necessidades e as
aptidões valorizadas pouco a pouco, vida em comunidade com caráter
de permanência, pedido e profissão religiosa.
Nota-se uma trajetória gradual de claro sinal educativo religioso,
que transformava estes colaboradores adventícios, amigos ou admirado­
res (jamais subalternos!) de Dom Bosco, em verdadeiros e correspon-
sáveis de verdade com dedicação exclusiva de vários setores, do logístico
ao administrativo. Nos inícios de 1870 encontramos os nomes de
Giuseppe Rossi e Andrea Pelazza como representantes legais de vários
bens imóveis perante o Estado; Giuseppe Rossi será chamado ao CG4
como consultor dos Salesianos coadjutores e encarregado das escolas
de artes e ofícios o chefe-de-alfaiataria Pietro Cenci, graças à sua publi­
cação Método de corte, que lhe valeu o título de cavaleiro da Coroa,
teve frequentemente a incumbência de representar legalmente o setor
alfaiataria em várias exposições e concursos estatais; Giuseppe Gambino,
após longo e brilhante período de gerência comercial das “Leituras
Católicas, da Biblioteca da Juventude Italianae do Boletim
Salesiano, tomou-se em 1891 gerente responsávelde toda a Livraria
editora salesiana.
Naturalmente, nem todos estavam adidos para sempre a um setor
especializado. Alguns faziam um pouco de tudo, como Pietro Enria ou
Pietro Nasi. Passavam tranquilamente da sala de música ao teatro, à
cozinha, barbearia, em busca de serviço para as oficinas e à enfermaria
a ponto de serem, como gostava de repetir-lhes Dom Bosco, não
úteis mas necessários. Outros cobriam até dois encargos, o de porteiro
e o de cozinheiro, importantes, porque, juntos com o diretor, garan­
tiam, dizia-se, o mesmo bom andamento de uma casa salesiana.
Marcello Rossi, por exemplo, foi porteiro por quarenta e oito anos,
enquanto Giuseppe Falco, Francisco Maascheroni e Giuseppe Ruffatto
foram cozinheiros de renomada dedicação.
Tanta habilidade e solicitude no trabalho não bastariam porém
para de per si, qualificarem a qualidade específica destes homens, seme­
lhantes em fim de contas, na frugalidade e na tenacidade, a toda uma
série de figuras piemontesas contemporâneas, pioneiros de empreen­
dimentos que se tomaram grandiosos. A chave de compreensão das
ocupações, humildes ou altamente profissionais, desenvolvidas pelos
Salesianos coadjutores possui sua especificidade na corresponsabilidade
apostólica e educativa, na ajuda direta ou indireta ao sacerdote pela
salvação das almas. Se não se considerasse permanentemente estas
perspectiva, arriscar-se-ia a esvaziar de alma e de finalidade, de tomar
vazias afirmações basilares e convicções de Dom Bosco, que via no
Coadjutor um apóstolo e um educador, antes um verdadeiro operário
evangélico: “Esta é a idéia do coadjutor salesiano explicará ele
mesmo no discurso programático de 1883 Tenho grande necessidade
de muitos que me venham ajudar desta forma.38
38 MB XVI, 313.
22

3.5 Page 25

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D. O pensamento de Dom Bosco, no último decênio de vida,
fonte e termo de confronto
Como se acenou, nos primeiros anos de vida da Congregação
existia a realidade do Salesiano coadjutor, vitalmente inserido, com
atribuições e encargos inéditos e certamente diversos das da figura
paralela do tradicional ‘converso. São, contudo, poucas e não explíci­
tas as referências dos textos formais de que dispomos. Recordamos
alguns fatores que explicam tanta reserva por parte de Dom Bosco.
Deve-se, além do mais, ter em conta o caráter ainda intuitivo” da figura
do Salesiano Coadjutor, como germe que contém em si desenvolvimen­
tos posteriores, e da mais acentuada explicável preocupação pelas voca­
ções sacerdotais.39 Além disso, a indiscutível prudência de Dom Bosco40
leva-o a precisar de algum tempo para se convencer da oportunidade
de recrutar jovens aprendizes, elementos de uma categoria bastante dis­
tinta e diversa da dos estudantes, aos quais tradicionalmente era aberto
o problema vocacional, embora não de forma exclusiva.
Doutra parte era um traço típico do nosso Pai a ponderação que
se exprime, por exemplo, nas palavras pronunciadas após ter lido a
carta do Reitor do Seminário de Montpellier, ansioso por conhecer os
segredos do seu projeto pastoral: Tenho ido sempre para a frente
como o Senhor me inspirava e as circunstâncias exigiam41. Certamente,
em tudo isso, Dom Bosco não se deixou levar pela pressa. Por muito
tempo evitou ou, de fato, não falou publicamente do assunto aos
alunos do Oratório. Limitava-se, segundo uma estratégia familiar, a
propor a alguns jovens ajudá-lo e, tendo eles concordado, introduzia-os
gradualmente no tirocínio de uma confiante colaboração e de uma
dedicação plena até à profissão religiosa.
a) O pensamento de Dom Bosco
Somente em 1876 pelos motivos a que acenamos, inicia-se um
tempo que traz novidades no modo de apresentar e motivar a vocação
do Salesiano Coadjutor.
39 A nossa análise compartilha a do Pe. Braido, que tem o mérito de abrir
o caminho para a reflexão sobre a documentação disponível sobre a figura
do salesiano coadjutor; ele acena explicitamente aos fatores que explica­
riam a “relutância de Dom Bosco em anunciar teorias mais explícitas a
respeito: Cf. P. BRAIDO, Religiosi nuovi..., o.c., p. 23.
40 Numa conferência em Valdocco a 30 de outubro de 1876 para 228 professores,
noviços e aspirantes, Dom Bosco forneceu diretamente este dado: E posso
garantir-vos em nome do Senhor que todos os que fizeram profissão são
absolutamente chamados, porque antes ãe aceitá-los os quis conhecer bem
(o sublinhado é nosso) e se os aceitei é sinal certo de que os julguei aptos
(sic) à grande empresa. Doutro lado o Superior é obrigado sob pena de
culpa grave a não aceitar aqueles que não crê serem chamados” (MB XII,
560s).
41 MB XVIII, 126s.
23

3.6 Page 26

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Quando em 31 de março de 1876, Dom Bosco fez, pela primeira
vez, a ‘revelaçãoexplicita aos seus aprendizes, a respeito da vocação
do coadjutor salesiano, sobretudo dois fatos muito eloqüentes haviam
preparado a sua necessária compreensão: 1) a realidade afetiva: apesar
da longa reserva observada por Dom Bosco em comentar publicamente
sobre o Coadjutor, o Catálogo daquele ano (1876) registrava 28 deles
professos perpétuos, 22 trienais, 28 noviços, 25 aspirantes(E. Ceria,
Annali I, 707); 2) a partida dos salesianos para a América do Sul, que
trouxe ao Oratório fermento de entusiasmo também para os leigos
colaboradores do Sacerdote na obra evangelizadora e civilizadora42.
A preparação e a partida da primeira expedição para a Argentina
puseram os pressupostos excelentes para esta mudança e representaram
a melhor das circunstânciasa que Dom Bosco acenara sobre a carta
de Montpellier. De fato, as notícias recebidas dos missionários chega­
dos ao destino, e de quantos os viam trabalhar, tiravam toda dificulda­
de, e davam oportunidade inigualável de fazer entender aos jovens,
quem eram aqueles coadjutores’, que haviam partido meses antes para
a Argentina, e porque também eles podiam ser chamados missionários
salesianos’, tanto quanto os demais que, de batina, tinha deixado Val-
docco para terras tão distantes.
Na noite de 19 de março de 1876, na conferência em que estavam
também presentes os aprendizes maiores, por ocasião da festa em honra
de S. José, celebradíssima por eles, Dom Bosco explicitava; Notai
bem que por operários entendem se aqui não só, como alguém poderia
crer, os Sacerdotes, Pregadores e Confessores... Operários são todos
os que, de alguma forma, concorrem para a salvação das almas; como
no campo não são operários apenas os que recolheram o trigo, mas
todos os outros. Olhai que variedade de operários num campo...
Assim também na Igreja a necessidade de toda sorte de operários,
certamente de todos os gêneros ... Oh, se pudéssemos ter tantos sacer­
dotes para serem enviados a todas as regiões da terra, a todas as
cidades, grandes e pequenas, vilas, campos, e converter o mundo! Mas
é impossível ter tantos sacerdotes; é, então preciso, que também exis­
tam outros. E, igualmente, como poderiam os sacerdotes estar dispo­
níveis para o ministério, se não houvesse quem lhes cozinhasse o pão
e os alimentos? se tivessem que fazer para si mesmos os sapatos e as
roupas? O sacerdote precisa ser coadjuvado; e eu creio não estar errado,
se afirmo que quantos estais aqui, padres e estudantes e aprendizes e
coadjutores, podeis ser verdadeiros operários evangélicos e fazer o bem
na vinha do Senhor (...). Alguém, agora, haverá de perguntar: Mas,
senhor Dom Bosco, o que o senhor quer dizer com isso? O que pre­
tende dizer-nos? Por que motivo nos disse isso nesta noite? Oh, meus
caros! O grito Operarii autem pauci" não se fazia ouvir apenas naque­
les tempos, mas se faz ouvir mais imperioso do que nunca a nós, nestes
nossos tempos. Diante da Congregação salesiana a messe cresce tão
42 P. BRAIDO, Religiosi nuovi ..., o.c., p. 24-25.
24

3.7 Page 27

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desmedidamente dia a dia que, diria, não se sabe mais por onde
começar... Temos noticias angustiantes do Pe. Cagliero, da República
Argentina... Certamente, eu desejaria ver-nos a todos lançados ao
trabalho como tantos Apostólos! Para isso é que se voltam todos os
meus pensamentos: todas as minhas preocupações, todos os meus
esforços”43.
Embora caindo em terreno predisposto para entender esta lin­
guagem, as afirmações de Dom Bosco, as nuâncias e o não-dito, consti­
tuem a preparação imediata para o que se pode chamar a primeira
epifaniado que fora longamente experimentado e vivido na intimidade
do núcleo religioso do Oratório. Apenas uns dez dias depois, a
31 do mesmo mês, de fato, Dom Bosco parece como que retomar o
fio suas palavras para detalhar os pontos essenciais. O Pe. Ceria, narran­
do o fato, não esconde a surpresa: “Jamais no passado escreve ele
o Beato Fundador falara tão claramente em público sobre este assun­
to. É provável que na conferência do dia de S. José, visasse abrir o
caminho; o certo é que, de qualquer forma, a impressão produzida
pelas suas palavras lhe tinha preparado o terreno, de modo excelente44.
No típico gênero literário da boa noite, dirigida particularmente aos
jovens aprendizes, internos em Valdocco, Dom Bosco falou explícita­
mente da vocação dos religiosos leigos e como esta devesse crescer na
Congregação. Creio que quase todos saibais o que seja a Congregação
de S. Francisco de Sales. Ela não é feita tão somente para os padres
ou para os estudantes, mas também para os aprendizes. É uma reunião
de padres, clérigos, leigos, especialmente aprendizes, que desejam viver
juntos, procurando realizar o bem entre si e também fazer o bem aos
outros. Recordai-vos, pois, que não podem tomar parte na Congre­
gação os que desejam ser padres, mas também, uma considerável parte,
aliás, de sócios, é composta de seculares45. Dela podem fazer parte
esclarece Dom Bosco, pondo logo em evidência a finalidade última
quem quer que tenha vontade de salvar a própria alma4é.
Esta opção passa através de duas características individualizado-
ras e específicas da obra salesiana: o apostolado, especialmente juvenil,
como se pode bem entender de todo o contexto, e a absoluta paridade
vivida num ambiente de convivência fraterna. O que Dom Bosco disse
sobre isso, é voluntariamente peremptório e claro: Notai também que
entre os sócios da Congregação não existe qualquer distinção: são todos
tratados da mesma forma, quer aprendizes, quer clérigos ou padres:
nós nos consideramos todos irmãos e o alimento que eu como, têm-no
também os demais, e a mesma comida, o mesmo vinho que serve para
43 MB XII, 625s: tratou-se de uma conferência na Igreja de S. Francisco de
Sales aos Salesianos de Valdocco, com a participação também dos noviços,
aspirantes e jovens aprendizes interessados, das classes superiores. Um
auditório de 205 pessoas (ibidem, 141).
44 MB XII, 149.
45 MB XII, 151.
46 Ibidem.
25

3.8 Page 28

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Dom Bosco, para o Pe. Lazero, para o Pe. Chiala, vosso Diretor, se
a quem faça parte da Congregação47.
Naturalmente não podia faltar uma significativa referência às cir­
cunstâncias de que falamos: e igualmente se houvesse alguém que
desejasse ir para a América, entrando na Congregação, teria a facilidade
de ir para lá... Vistes que no ano passado estavam aqui vários dos
vossos companheiros: agora são missionários e fazem muito bem.
Enquanto estiveram aqui, não eram diferentes de vós em nada. Agora
que estão lá, vivem mais do que contentes. Todos vós conhecíeis muito
bem o Gioia, que era sapateiro: pois bem, nestes dias chegaram notí­
cias de que se tornou um grande empreendedor: é cozinheiro, sapateiro,
catequista. Conhecíeis também o Scanini, marceneiro, que aqui era um
garotão, agora é chefe de oficina com cerca de vinte rapazes sob sua
orientação, e sabemos que no pouco que está fez muitíssimo. E
Belmonte? Parecia que não tivesse nada de particular quanto aos dotes
pessoais, quando estava entre nós, e agora sabemos tantas notícias belas
a respeito do que faz: também como sacristão, músico, catequista, e
podemos dizer que é o administrador da casa de Buenos Aires. E, se
quiserdes, acrescentai também Molinari, embora cultive a música.
Todos estes, no ano passado eram simples aprendizes entre vós, e
agora estão lá, modelos estimados e honrados”48
Excluídos os últimos dados, ligados às recentíssimas situações
americanas”, convém recordar que Dom Bosco nada acrescentava de
novo e de diferente a quanto os noviços salesianos, e particularmente
os Coadjutores, tinham aprendido a ouvir e a viver durante anos.
Com efeito, num apontamento do Pe. Cesare Chiala, que resumia uma
pequena fala do Santo feita aos noviços coadjutores, havia quatro anos,
em 1872, os conceitos expressos antecipam substancialmente os que
mencionamos acima: Finalidade da Sociedade é a salvação da nossa
alma e depois, também, a salvação dos outros, especialmente dos
jovens... Em nenhum lugar, como numa Congregação, se verifica
a verdade da Comunhão dos Santos, em que tudo aquilo que alguém
faz serve também de proveito para o outro. De fato, quem prega, quem
confessa, depois de um certo tempo, tem necessidade de comer e como
faria se não existisse cozinheiro; o douto professor tem também neces­
sidade de se vestir, calçar, e que faria se não houvesse alfaiate, sapa­
teiro? Acontece como no corpo; a cabeça vale mais do que a perna,
o olho mais do que o pé, mas tanto um como o outro são necessários
ao corpo: basta que entre um espinho no para que tão logo os olhos,
mãos e cabeça se ponham em movimento para cuidar do pobre pé.
Aqui também torna-se conveniente a comparação da fábrica de relógios:
todas as peças, feitas com qualidade e precisão, se combinam entre
si e daí surge um relógio perfeitíssimo49.
47 MB XII, 152.
48 Ibidem.
49 MB X, 1085s.
26

3.9 Page 29

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Identidade de visão, portanto, no essencial, mas também evidente
desenvolvimento com gradual adaptação aos acontecimentos e às exi­
gências concretas dos tempos. Embora, de tanto em tanto, o aceno
explícito à dimensão educativa e apostólica pareça deixada à sombra.
Confirma isso a “Circular para a busca de vocações de coadjutores50,
que Dom Bosco mandou escrever e enviar aos párocos, em janeiro de
1880. Além da adquirida possibilidade de falar livre e publicamente,
mesmo fora do Oratório, da ‘Pia Sociedade Salesiana fundada por Dom
Bosco Giovanni’, manifesta-se o desejo de mostrar a um círculo mais
vasto não a existência do componente laical da nova Congregação,
mas sobretudo a sua necessidade: A multiplicação das obras comen­
tava de fato Ceria, apresentando esta carta induzia a necessidade de
recrutar um número proporcionado de coadjutores51. O que, ao invés,
se acaba compreendendo e o papel confiado a esse componente, redu­
zido a simples colaboração material na condução dos institutos, sem
que se acene a eventuais empenhos de natureza apostólica e educativa.
São, de fato, pedidos jovens, dispostos a se ocuparem de qualquer
trabalho: por exemplo no campo, na horta, na cozinha, na padaria
cuidar de refeitórios, fazer a limpeza da casa; e, se forem suficientemen­
te instruídos, serão colocados nos escritórios, na qualidade de Secre­
tários. E quando fossem peritos numa arte ou ofício que se exercem
em nossos Institutos, poderiam continuar a própria arte nos respectivos
Laboratórios. A idade deles deveria estar entre os 20 completos aos
cerca de 35.
A carta, diversamente de quanto afirma Ceria52, poderia prestar-se
a interpretações redutivas, se não fosse corretamente colocada num
determinado contexto, e avaliada na ótica de Dom Bosco. Ao seu ver,
o Salesiano coadjutor podia e devia ser, como constatamos acima, um
operário evangélicoe, portanto, obviamente, a sua presença e o seu
serviço aos jovens não podiam exaurir-se numa pura e simples função
administrativa. Era de tal forma implícita a dimensão apostólica e edu­
cativa, que nem mesmo as autorizadas Deliberações do Terceiro e
Quarto Capítulo Geral da Pia Sociedade salesiana, realizados em Vai-
salice em setembro de 1883-188653, sentiram a necessidade de dedicar
a isso mais espaço do que o necessário. Um inciso aparece na IV deli­
beração do Regulamento para os Oratórios Festivosno decurso do
CG 3 de 1883:Todos os Sócios Salesianos, tanto eclesiáticos como
leigos, sintam-se afortunados por contribuir com seu trabalho, persua­
dindo-se de que isto é um apostolado de sua importância. Pareceria
ser coisa de pouco valor se não se examinasse o conjunto da documen­
tação de todo o Capítulo, que reserva bem dois Temasao Salesiano
50 MB XIV, 783s.
51 MB XIV, 394.
52 Ibidem; a carta deveria, segundo Ceria, dar a conhecer o ‘caráter’ dos Coad­
jutores ‘não confundível com o dos tradicionais conversos’, enquanto o con­
teúdo é precisamente de oposto teor.
53 Editorado pela Tipografia Salesiana, S. Benigno Canavese 1887.
54 Trazido in MB XVIII, 702-704.
27

3.10 Page 30

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coadjutor: o IV (Cultura dos Irmãos Coadjutores) e o VI (Encaminha­
mento a ser dado à parte operária nas Casas Salesianas e meios para
desenvolver a vocação dos jovens aprendizes), discutidos nas sessões de
6 de setembro, e das quais possuímos uma sintética transcrição verbal
que convém apresentar.
Manhã de 6 de setembro. Às 9:15. O Pe. Rua abre a conferência
com as orações de costume. O Relator Pe. Belmonte os estudos feitos
sobre o tema IV, que diz respeito à cultura dos irmãos coadjutores
Entra Dom Bosco e se a leitura do tema V, que fala do encaminha­
mento (a ser dado à parte operária nas Casas Salesianas), etc., como
tendo relação com a cultura (dos Irmãs Coadjutores), etc. Cria-se uma
questão sobre se convém ou não deixar o nome de coadjutor aos sócios
seculares ou mudá-lo para o de Irmão. Dom Bosco e muitos opinam
que não se deva mudar, apenas se mostra a conveniência de que não
se o nome de Coadjutor aos familiares. Em dependência desta ques­
tão acena-se ao Irmão Barale, sobre um pouco de negligência que se
verifica entre os antigos e os chegados de novo. Dom Bosco com muita
exatidão relê a este propósito: Todos os sócios olhar-se-ão como
irmãos, etc.(cap. e, art. 1). Em seguida, o Pe. Bonetti propõe um
cânon assim concebido: Todos os sócios, tanto sacerdotes como lei­
gos, tratem se... Dom Bosco observa que é conveniente conservar
totalmente os nomes dados pela Congregação dos Bispos e Regulares
“Frates Coadiutores".
6 de setembro à tarde questiona-se sobre se necessário abrir-se um
Noviciado somente para os noviços aprendizes. Dom Bosco opina por
melhorar a posição deles, separando-se dos demais Aprendizes. Quase
todos opinam por fundá-lo separadamente. Fica suspensa a deliberação
especial. Procurar-se-á depois fazer alguma coisa em S. Benigno55.
Como é possível notar, a preocupação da assembléia capitular não
se volta tanto sobre a atividade apostólica do Salesiano coadjutor, quan­
to sobre um melhor conhecimento de sua identidade e sobre sua posi­
ção dentro da Congregação. Indícios disso é a questão do nome, a
necessidade de uma bem clara distinção em relação aos familiares a
oportunidade de um noviciado separadodo resto dos aprendizes
(o que se fezde modo estranho ‘em referência aos clérigos!))56.
Trata-se, em definitivo, de problemas que seriam incompreensíveis
até 1874. Adquirem, porém, sentido e peso ao se ter presente os acon­
tecimentos e as mudanças que acompanharam a fase de adaptação da
Congregação após o longo itinerário da aprovação definitiva das Cons­
tituições por parte de Santa Sé. Apresentamos uma seleção dos fatos
mais significativos.
em 1875, com a missão da Argentina, teve-se a primeira expan­
são extra-européia, com notável ressonância externa e interna do modo
55 Transcrição do Pe. G. Marenco, secretário do CG 3, conservada no Archivio
Centrale Salesiano; veja-se também o que foi reproduzido in MB XVI, 411s.
56 Cf. in Annali, oe., I, 470 e in MB XVI, 413s.
28

4 Pages 31-40

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4.1 Page 31

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formativo na origem da Congregação, Tomou sempre mais consistência
e densidade de vida o primeiro embrião de Família Salesiana, com
o ramo feminino das Filhas de Maria Auxiliadora e com o ramo laical,
a associação dos Cooperadores. A partir de 1877, toda a vida salesiana
é como que medida e determinada de três em três anos, pelas orienta­
ções e deliberações dos Capítulo gerais presididos, somente até 1886,
pelo mesmo Dom Bosco.
Durante esse tempo, o grande crescimento da Congregação e o
aparecimento da clausura canônica para as Filhas de Maria Auixiadora,
exigiram um aumento do emprego de pessoal masculino pago ou de
Salesianos coadjutores. Foram eles encarregados de desenvolver ativi­
dades e serviços domésticos antes inexistentes ou cobertos pelo
voluntariado feminino, como acontecera, nas pegadas de Mamãe Mar­
garida e da mãe do Fe. Rua, por várias mães residentes em Valdocco,
até 1872.
Após a controvérsia com Dom Gastaldi, acrescentou-se mais um
problema aos não poucos existentes, o da formação dos candidatos
ao sacerdócio. Verificou-se por isso uma mudança na fisionomia origi­
nária do Oratório. Foi necessário estruturar a vida de modo a enfrentar
os rigores das visitas canônicas preocupadas com o correto espírito
eclesiástico dos jovens levitas. Foi também preciso estabelecer um
noviciado para eles e confiá-lo ao mestre Pe. Giulio Barberis.
Esta série de fatos: crescimento da Congregação, aumento dos
familiares, singular separação do ramo eclesiástico no noviciado, não
podia deixar de repercutir na figura e valor do Salesiano Coadjutor.
O processo de diversificação em relação aos clérigos e aos padres e a
sua marcada utilização no âmbito dos serviços reservados aos fami­
liares, aos quais se dava então normalmente, também, o nome de
coadjutor”, podia facilmente deteriorar-se num mecanismo que parecia
degradar a identidade do irmão leigo.
Os elementos da incômoda diversificação, com efeito, em parte e
em algumas comunidades, apareceram demais e tomaram força queixa
de que, embora salesiano em paridade com os demais, se sentia tratado
como 'familiar', senão até mesmo como empregado. Queixa insinuante
que, apesar do passar dos anos e a maior consciência adquirida, apare­
cerá muitas vezes na documentação salesiana57.
57 Bem conhecida a circular escrita pelo Pe. Rua aos Inspetores e Diretores
sobre este argumento em l.° de novembro de 1906: “Ainda uma palavra
para os nossos Irmãos Coadjutores (...) Quereria que também vós todos
lhes demonstrásseis um afeto verdadeiramente fraterno e que o manifes­
tásseis tratando-os com toda bondade, escutando-os quando vos revelam suas
penas, mostrando-vos preocupados pela sua saúde e provendo às suas
necessidades. Convém que com fatos e não com palavras demonstremos
que os consideraremos como verdadeiros irmãos. Cravou-me no fundo do
coração como uma flecha, a queixa ouvida certa vez dos coadjutores, que
eles não são considerados como irmãos, mas como empregados. Evitai, pois,
qualquer coisa que possa dar-lhes pretexto de pensar assim.
29

4.2 Page 32

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Certo mal-estar difundido ocorre em várias ocasiões nos lábios de
vários coadjutores, formados diretamente em contato vivo com Dom
Bosco, os quais haviam absorvido (como diz A. Pelazza) o seu mel”,
ou seja, o traço delicado, afetuoso, compreensivo. Compreendem-se
melhor muitas reações, quando se tem presente a tipologia sumamente
variada dos Salesianos leigos: ia-se de semi-analfabetos, embora ricos
de bom senso, a pessoas com uma certa profissionalização. A formação
específica era quase nula. Pelo que, quando diminuía a caridade, apre-
sentavam-se os problemas. Além disso, havia séculos o padre era consi­
derado uma espécie de super cristão e autoridade intocável pelos bons
cristãos. Esta cultura que doutra forma estava em rápido declínio
no fim do século, pelas causas que conhecemos tornava mais odioso
o comportamento de determinados padres salesianos que tratavam os
Coadjutores como pessoas de serviço. Basta ler algumas propostas apre­
sentadas ao CG3 (1883) por Coadjutores, para convencer-se de que o
clericalismo’ era uma realidade. De aqui as acaloradas palavras de
Dom Bosco em defesa dos Coadjutores. Doutra parte é mais que tudo
problema de pessoas. Onde a caridade era (e é) vivida em profundi­
dade, as comunidades viviam (e vivem) em harmônica serenidade.
Os documentos conservados, embora em sua concisão e sobriedade,
pareçam contudo tomar força e cor sobretudo quando trazem a pronta
a inequívoca reação de Dom Bosco. Ele, todas as vezes que teve a vaga
impressão deste risco, foi pronto em combater toda alteração e todo
eventual desprezo da identidade do Salesiano coadjutor na sua Con­
gregação.
Trata-se de tomadas de posição e intervenções que se fazem
sempre mais decisivas e lúcidas durante e após o CG3, nos últimos
cinco anos de sua vida, e particularmente por ocasião de sua primeira
visita ao neo-noviciado para Coadjutores e do último Capítulo geral
antes de sua morte.
Um acontecimento de monta histórica foi a instituição do noviciado
para noviços coadjutores em S. Benigno Canavese no outono de 1883,
Vinha-se desta forma favorecia-se assim o processo de diversificação
do Salesiano coadjutor. A fala de Dom Bosco a 22 noviços coadjutores
em 19 de outubro de 1883 em S. Benigno, tanto pelo contexto que
envolve como pelo conteúdo expresso, pode ser definido o marco no
percurso de esclarecimento da figura ideal do Salesiano coadjutor, uma
idéia do coadjutorque, antes disso, Dom Bosco mesmo declara
jamais ter tido tempo e comodidade para expor claramente58. Mais
de um estudioso entreviu acertadamente nesta breve e familiar interven­
ção de S. Benigno, o pensamento definitivo59, o exato conceito de
58 MB XVI, 312.
59 Wirth, referindo-se à intervenção de Dom Bosco no CG de 1886 e a esta
pequena fala de 19/10/1883, afirma textualmente: “Aí pelo que parece, é
preciso encontrar o pensamento definitivo de Dom Bosco”: Dom Bosco e
i Salesiani, LDC e., Turim 1969, p. 111.
30

4.3 Page 33

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coadjutor salesianoa fala, talvez, mais importantedirigida por
Dom Bosco aos Salesianos leigos61.
Torna-se, pois, útil e oportuno dar em seguida toda a transcrição
transmitida pelo Pe. Giulio Barberis, antes de esclarecer os pontos mais
significativos: O Evangelho desta manhã exortou Dom Bosco
dizia: não temais, pequeno rebanho. Vós também sois o pusillus grex”,
mas não temais, nolite timerepois crescereis. Estou muito contente
de que se tenha iniciado um ano de prova para os aprendizes com
regularidade. Esta é a primeira vez que venho a S. Benigno, desde que
estais aqui e, embora tenha vindo para a vestidura clerical, e não fique
senão um dia, não quis deixar-vos sem dizer-vos duas palavras em
particular. Expor-vos-ei dois pensamentos. O primeiro é manifestar vos
qual seja a minha idéia sobre o coadjutor salesiano. Jamais tive tempo
e comodidade para expô-la com clareza. Estais agora reunidos aqui
para aprender o ofício e exercitar-vos na religião e na piedade. Por
quê? Porque eu tenho necessidade de ajudantes. Existem coisas que
os padres e clérigos não podem fazer, e vós as fareis. Eu preciso tomar
alguém dentre vós e mandá-lo para a tipografia e dizer-vos: Tu cuida
dela e fá-la progredir. Enviar outro de vós para uma livraria e dizer-lhe:
Tu dirige-a de modo que tudo saia bem. Enviar outro para uma
casa e dizer-lhe: Terás o cuidado para que aquela oficina ou as
oficinas andem com ordem e não falte nada; providenciarás para que
os trabalhos saiam como devem sair. Eu tenho necessidade de ter em
casa alguém a quem se possam confiar as coisas de maior confiança,
o manejo do dinheiro. O contencioso; quem represente a casa externa­
mente, que tudo seja providenciado a tempo, que nada se desperdice,
que ninguém saia, etc. Preciso de pessoas às quais poder confiar estas
incumbências. E vós deveis ser estas pessoas. Numa palavra, vós não
deveis ser quem trabalha diretamente ou se canse, mas sim quem dirige.
Deveis ser como patrões sobre outros operários, não como empregados.
Tudo, porém, com regra e nos limites necessários; tudo, porém, deveis
fazer dirigindo, como patrões vós mesmos dos negócios das oficinas.
Esta é a idéia do coadjutor salesiano. Eu tenho muita necessidade
de ter muitos que me venham ajudar desta maneira! Por isso estou
contente de que tenhais roupas adequadas e limpas; que tenhais camas
e celas convenientes, porque não deveis ser empregados, mas patrões;
não súditos, mas superiores. Exponho-vos, agora, o segundo pensamento.
Devendo desta forma ajudar em grandes e delicadas obras, tendes de
adquirir muitas virtudes e devendo mandar a outrem, deveis, antes de
tudo, dar bom exemplo. É preciso que onde estiver um de vós, se
esteja certo que haverá ordem, moralidade, andamento. Mas se sal
infatuatum fuerit.... Concluamos, pois, como começamos: Nolite
timere, pusillux grex. Não temais, que o número crescerá; mas especial­
mente é preciso que se cresça em bondade e energia. Sereis então como
60 É o título dado pelo Pe. Braido ao texto de S. Benigno, reproduzido em
apêndice na seção ‘Documenti’ do seu estudo Religiosi nuovi ..o.c., p. 62.
61 É quanto afirma o Pe. P. STELLA, Cattolicesimo ..., o.c., p. 442.
31

4.4 Page 34

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leões invencíveis e podereis fazer muito bem. E depois, “complacuit
vobis dare regnum. Reino e não servidão, mas especialmente tereis o
reino eterno
Estas palavras na boca de Dom Bosco e no contexto do ambiente
que o envolvia não espantam nem trazem grandes novidades. São
marcadas pela insistência e pela firmeza de algumas idéias-mãe, primei­
ra entre todas a do coadjutor que responda adequadamente às necessi­
dades tipicamente 'profanas', sobretudo para os que certa teologia do
sacerdócio daqueles tempos não via com bons olhos nem nas casas
paroquiais, nem ainda menos nos seminários, quem faça o que o an*i-
clericalismo da época não permitia ao padre nas áreas populares. Esta
tarefa, porém, justamente porque diversa da dos clérigos e sacerdotes e,
portanto, sujeita a possíveis discriminações63, devia ser exercida com
plenitude de direitos e de autoridade.
O tríplice uso da qualificação patrõesquer insistir na plena
paridade e na plena participação dos Salesianos coadjutores das van­
tagens espirituais e temporais da Congregação. A ênfase proposital
dada por Dom Bosco visava, como dirá em seguida a testemunha reda­
torial do documento que examinamos, elevar o ânimo complexado
dos irmãos coadjutores64.
A segunda idéia bem sublinhada na conclusão da fala de San
Benigno repropõe uma realidade que é tida por certa no projeto sale-
siano, mas na qual era conveniente insistir, sob pena de exagerar o
conceito de “patrão”. Dom Bosco preocupa-se em recordar que tudo
tem um sentido em função educativa e apostólica. Fora contexto, os
termos utilizados não correspondem mais ao significado desejado.
Com efeito, menos de quarenta anos mais tarde, durante do CG12
(1922), alguém manifestará perplexidade sobre a exposição da confe­
rência de S. Benigno por ter notado nele expressões que poderiam
ser mal interpretadase colocará em dúvida sua autenticidade65. Os
62 MB XVI, 312s.
63 Trata-se de notar como Dom Bosco mesmo devia sabiamente sair-se bem
entre estas tensões contrapostas; de um lado não queria opor-se a precisas
orientações provindas da corrente concepção teológica, das leis canônicas,
dos Sínodos e autoridades locais, que queriam respeitado e salvaguardado
o decoro e o espírito eclesiástico (isto ele havia decidido ao separar os
noviciados, ou seja, admitir uma certa discriminação!); doutro lado não
desejava inserir no alvéolo de sua família religiosa uma incoercível raiz
de estratificação de categorias, porque se tomava contrária à concepção que
tinha dos leigos e era de fato, profundamente estranha à sua experiência.
64 Segundo o parecer do Pe. Stella, esta condição de incómodo provinha não
tanto do setor eclesiástico, mas sim da categoria dos mesmos coadjutores:
“os culturalmente mais preparados e mais conscientes do próprio valor
profissional. Estes talvez (tipógrafos, livreiros, alfaiates . . .) foram aqueles
aos quais Dom Bosco quis diretamente replicar” (Cattolicesimo ..., oc.,
p. 425).
65 O ‘caso” foi criado no decurso da décima reunião capitular de 28/04/ ,
logo que o relator P. Pedemonte, encarregado de falar sobre o tema 5.°
sobre os Coadjutores, fez servindo-se do resumo manuscrito da conferência
de Dom Bosco em S. Benigno, de que nos estamos ocupando, encontrado
32

4.5 Page 35

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testemunhos que foram dados de imediato e o tipo de reflexão que daí
surgiu fizeram chegar à conclusão oposta e colocaram em evidência
como dirá depois o Pe. Geria a este respeito (“Dom Bosco deve ser
aqui explicado com Dom Bosco)66 a importância de não tomar isola­
damente palavras e expressões utilizadas pelo Santo67.
Apenas três anos depois da visita a S. Benigno, em ambiente de
ressonância bem mais ampla e autorizada, Dom Bosco teve oportuni­
dade, durante o CG4, celebrado em Valsalice em setembro de 1886,
de retomar e acentuar os dados que punham em relevo a identidade
e função do salesiano leigo. O documento, intitulado justamente
Sobre os Coadjutores, devia constituir a resposta ao segundo tema
Encaminhamento a ser dado à parte operária nas casas salesianas e
meios de desenvolver a vocação dos jovens aprendizes.Os termos
usados e o gênero literário, com que o documento foi de fato redigido
e aprovado pelo Capítulo, ressentem muito da linguagem teológica
corrente e acentuam a perspectiva clerical. Particularmente, espelham
bem a situação histórica da Congregação, toda preocupada por um
crescente aparato institucional, e chamada a empenhos pastorais cada
vez mais vastos.
Os trabalhos deste último CG presidido por Dom Bosco parece-nos
mais nítidos e compreensíveis se lidos sobre o amplo panorama de
fundo dos acontecimentos salesianos dos anos 1880-1886.
b) Acontecimentos salesianos (1880-1886)
Os decretos contra as Congregações religiosas de 29 de março de
1880 na França68 levaram certamente os diretores das três casas fran­
cesas então existentes, o próprio Dom Bosco69 e todo a direção da Con-
no arquivo da mesma casa. Na décima-primeira sessão, de 29 de abril, o
capitular Pe. Costa avançou dúvidas e dificuldades sobre o que se falou,
provocando uma discussão viva a respeito da historicidade e autenticidade
do documento ‘incriminado’: intervieram como testemunhas da veracidade
do escrito o Pe. Nay, prefeito em S. Benigno em 1883, o Pe. Giulio Barberis,
redator, e o Pe. Faseie. O mesmo Reitor-Mór confirma quanto disse o Pe.
Nay, e acrescenta que no 3.“ Capítulo Geral, tendo sido propostos que
‘é preciso manter os coadjutores por baixo, formar deles uma categoria
distinta, etc.', Dom Bosco se opôs visivelmente comovido, exclamando
‘não, não, não; os irmãos coadjutores são como todos os demais’: in
Arquivo Central Salesiano, Verbali del XII Capitolo Generale (1922), As 4.
66 Annali, o.c., I, 704.
67 É conclusão que resulta verbalizada na décima-segunda assembléia capitular
(l.° de maio de 1922): “às 9 horas abre-se a sessão com as orações de rito.
Lida a ata observa-se que seria melhor dizer que as várias expressões usadas
por D. Bosco na conferência de S. Benigno em 1883, não devem ser tomadas
isoladamente, mas interpretadas no sentido de outras conferências de D.
Bosco em outras circunstâncias determinadas. AS 4.
68 Veja-se todo o cap. XXXII dos Annali, oo., I, 362-369.
69 São interessantes as orientações escritas por Dom Bosco ao diretor Pe.
Ronchail, entre as quais a última relativa ao setor de que nos estamos
interessando: “Tenha-se firme aconselhava Dom Bosco que nós exis­
33

4.6 Page 36

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gregação a uma estratégia atenta e preventiva. A onda anticlerical e
além-Alpes confirmava vivamente a vantagem e oportunidade de poder
dispor sempre mais de Salesianos leigos. Eles estariam em posição de
poder fazer de forma mais intensa e mais livre o bem" que não do-
deriam os clérigos e os padres embatinados.
Entretanto os mais estreitos contatos com a Santa Sé, devidos à
intensa correspondência por ocasião das primeiras “Relações Trienais,
e sobretudo pelo projeto, que retornou depois realidade providencial,
da primeira presença salesiana na mesma cidade de Roma, influiam
certamente para dar à Congregação uma fisionomia e alívio sempre
mais inserido no amplo quadro das obras católicas, do que se tratou
justamente no CG de 1886.
A expansão dos Salesianos, unida à das Filhas de Maria Auxiliadora
sob a guia da Madre Caterina Daghero, após a morte recente de S. Maria
Domingos Mazzarello (1881) interessava não o território italiano e
suas várias regiões, mas também a Europa com as primeiras fundações
na Espanha, e na América Latina com seu progresso na Argentina e
com o início das obras no Uruguai e Brasil.
Assumia, pois, relevo especial, justamente no alvorecer dos anos
oitenta, a primeira inserção dos Salesianos entre os “índios70,
empreendimento que o romantismo religioso do final do oitocentos
sustentará com o todo o fascínio que despertava. Parece ao arcebispo
de Buenos Aires, Dom Aneyros, que se beneficou do auxílio dos sale­
sianos em favor dos emigrados italianos de sua diocese, que chegou
a horade oferecer (a Dom Bosco) a toda a Patagônia, emprendimento
que lhe estava tanto ao coração71. A resposta de Turim foi proposital­
mente coerente com o empenho manifestado na conhecida frase profe­
rida pelo Santo por ocasião da primeira expedição missionária:
Estamos dando início a uma grande obra72.
timos para a agricultura e para as artes e ofícios... para formar vigilantes,
mestres de escola e especialmente tipógrafos, calcógrafos e fundidores de
tipos. Epistolario IV, Dom Bosco ao Pe. Ronchail, Roma, 23 de março de 1880.
70 Ceria, de fato, escrevia que “As Missões Salesianas da América, entendidas
no sentido estrito da palavra, tiveram um primeiro início em 1879; visto
que pertence a esse ano o primeiro contato dos Missionários Salesianos com
os índios dos Pampas e da Patagônia, terras imensas e em máxima parte
ainda inexploradas; Annali, o.c., I, 378.
71 “Esconjuro-vos escrevia, com expressões caras aos modos prelaticios do
tempo, o próprio Dom Aneyros, em 5 de agosto daquele ano pelas vís­
ceras misericordiosas de Nosso Senhor Jesus Cristo, que se apresse a vir
em meu auxílio para socorrer tantas pobres almas abandonadas.”
72 Com efeito, no giro de quatro anos o trabalho realizado na Patagônia foi
notável: na relação oficial enviada à Santa embora tomando com a
devida cautela a generosidade das cifras fala-se de bem 5000 batismos
de índios em 1883 e de um total de 5328 batismos de 1879 a 1883, de dois
colégios em Patagones com 69 rapazes um e 93 meninas o outro; de vastas
explorações da amplidão de 1137 km.
34

4.7 Page 37

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O sonho missionário de San Benigno de 1883 73 não fizera outra
coisa senão estimular o entusiasmo e adesão às iniciativas pelo “novo
mundo.
É do mesmo ano a vinda para Turim do card. Alimonda. No ano
seguinte realizou-se finalmente a esperada concessão dos privilégios,
enquanto em 1885 Leão XIII a Dom Bosco um Vigário com direito
de sucessão. Foi escolhido o Pe. Miguel Rua, de 48 anos completos, dos
quais bem 40 passados ao lado do Fundador. A nomeação foi comuni­
cada com uma circular encimada pela primeira vez com o brazão oficial
da congregação74.
C. O documento de 1886 (CG4)
É no contexto apenas traçado de acontecimentos de vida salesiana,
que deve ser inserido por sua vez no contexto mais amplo da vida da
Igreja e da sociedade do tempo, que se de ler e analisar o documento
A respeito dos Coadjutores” do CG4 (1886). Na visão que não mudou
de modo substancial a identidade do salesiano leigo, os capitulares de
Valsalice, usando uma linguagem ao mesmo tempo teológico-ascética,
jurídica e administrativa, parecem sublinhar a preocupação que tinham
de insistir nas "tarefasespecíficas do irmão coadjutor entre as cada vez
mais vastas, de apostolado e de estruturas salesiana: coadjuvar os
Sacerdotes nas obras de caridade cristã próprias da Congregação...
pela direção e administração dos vários empreendimentos de nossa
Pia Sociedade, tomando-se mestres de arte nas oficinas, ou catequistas
nos oratórios festivos, e especialmente em nossas missões estrangeiras".
O rol das atribuições, embora referindo-se à primeira e conhecida
idéia de Dom Bosco, que reconhecia no religioso leigo grande margem
de responsabilidade e autoridade, é logo relacionado com a índole e
natureza clerical da Congregação, uma exigência sobre a qual a S.
Congregação dos Bispos e Regulares não havia poupado exigências de
garantia antes e depois da aprovação das Regrais.
O noviciado apenas para Coadjutores, instituído quer pela proximi­
dade com uma oficina quer para reservar aos clérigos uma específica
formação quanto ao espírito eclesiástico, num atormentado clima de
reinvindicação social e de elevação da classe operária, como era o do
final do Oitocentos, podia representar um risco concrete-: nutrir nos
73 "Era a festa que antecedia a festa de S. Rosa de Lima (30 de agosto) e
eu tive um sonho...” assim Dom Bosco narrou o acontecido a 4 de setembro
daquele ano aos membros do 3.° Capítulo Geral. Ver em Annali, o.c., I,
423-434. O sonho adquiriu uma ressonância toda especial com a fundação
de Brasília.
74 Utilizou-se o desenho do brasão que havia sido feito pelo prof. Boidi para
a igreja do S. Coração de Roma. A circular impressa com a data “Todos os
Santos de 1885”, foi depois utilizada por Dom Bosco, que a releu, retocou-a
e a fez reimprimir com a data de 8 de dezembro, festa da Imaculada: cf.
Annali, o.c., I, 530s.
35

4.8 Page 38

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irmãos coadjutores uma mentalidade reinvidicatória ou o sentido de
uma posição subalterna em relação aos padres que podiam, somente
eles, chegar por norma constitucional, a cargos de superiores”75.
O documento capitular reserva então todo o espaço requerido pelo
problema, servindo-se de uma linguagem enfática (repare se o uso das
maiúsculas) proporcionada à importância do conteúdo.
1 . (Os Coadjutores) mostrarão em todo tempo e circunstâncias
respeito aos Superiores e aos Sacerdotes, vendo neles Pais e Irmãos,
aos quais devem viver unidos pelo vínculo de caridade fraterna para
formar um coração e uma alma. (Reg. Cap. II, 2).
2. Haverão de desempenhar com diligência a tarefa que lhes
será entregue qualquer que seja ela, recordando-se de que não é a
importância da obra que a torna agradável a Deus, mas sim o espírito
de sacrifício e de amor com que se desempenha.
3. Não assumirão nem trabalhos, nem incumbências extras, sem
expresso consentimento dos Superiores.
4. Em qualquer lugar e circunstâncias, em casa e fora, nas pala­
vras e nas ações, mostrem sempre que são bons religiosos; visto que
não é o hábito que faz o religioso, mas a prática das virtudes religiosas;
e, junto de Deus e dos homens, é mais estimado um religioso vestido
como leigo, mas exemplar e fervoroso, que não outro revestido de hábi­
to especial, mas tíbio e inobservante.76
12.2 O desenvolvimento da idéia nas pegadas das origens:
do Pe. Rua ao Vaticano II
A. Reitorado do Pe. Miguel Rua (1888-1910)
a) Das oficinas às escolas profissionais
As orientações do CG4 apresentam uma linha de conduta que
resume as várias experiências revistas e corrigidas pouco a pouco por
Dom Bosco. O nosso santo não pretendia na educação dos aprendizes
como faz observar o Pe. Ceria ficar nas oficinas, mas estas
eram no seu ideal verdadeiras escolas profissionais; esta foi a obra
de um tempo cuja aurora ele apenas pode ver77.
75 Da leitura, contudo, do ELENCO dos Salesianos deduz-se que na realidade
o único Noviciado apenas para noviços coadjutores foi o de S. Benigno.
Ele, além do mais, cessou praticamente de ser tal durante a 1.” guerra
mundial. Em 1919 tinha apenas 3 noviços coad. militares e em 1920 cessou
suas atividades como noviciado. Existiram nesse tempo outros noviciados
com preponderância de noviços coadjutores, mas com alguns noviços clérigos
entre eles.
76 Deliberações do terceiro e quatro Capítulo Geral da Pia Sociedade Salesiana
realizados em Valsalice em setembro de 1883-86, S. Benigno Canavese 1887,
p. 16-17.
77 E. CERIA, Annali, O.C., I, p. 653.
36

4.9 Page 39

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Durante o reitorado do Pe. Rua (1888-1910), é que começa a se
realizar esta transformação. As novas exigências neste campo, reper­
cutiram nos Capítulos Gerais, particularmente o 7.° (1895), 8.° (1898)
e 10.(1904).
A partir de 1898 as escolas profissionais salesianas passam a depen­
der do Pe. Giuseppe Bertello (1848-1910), que pode ser considerado o
seu grande organizador, não pelo impulso que deu à sua difusão,
mas sobretudo porque procurou codificar a sua organização técnica,
cultural e educativa.
Estas modificações acabaram sendo, entre irmãos coadjutores,
fonte de mudanças de relevo: as novas levas, de ordinario, não provi­
nham mais nem na maior parte, dos colaboradores jovens e não jovens
ou de famílias inseridas por vários títulos na atividade salesiana,
mas sempre mais do setor escolar” artesanal ou profissional.
b) Alguns dados estatísticos
Quanto ao número dos irmãos coadjutores, percebem-se dois
fenômenos de tipo diverso: um nos anos 1880-1900 e o outro nos vinte
anos seguintes. No período de 1880-1900 tem-se um incremento numé­
rico notável: de 182 passa-se ao bom número de 1001 professores
coadjutores. Ao contrário, no período 1900-1920 o aumento é muito
mais reduzido de 1061 passa-se a 1350. O percentual dos Coadjutores
sobre o total dos Salesianos, enquanto era de 30% em 1900, fica em
26,4% em 1920. também um nítido aumento do nível cultural médio
(desaparecem totalmente os analfabetos), um progressivo encaminha­
mento a títulos profissionais e uma notável mudança de papéis de pura
mão-de-obra78.
c) Os documentos
Os documentos voltam, de tanto em tanto, a se ocupar da figura
e das tarefas do Irmão coadjutor, insistindo nas orientações básicas
dadas pelo Fundador e pelos Capítulos Gerais. Partem da necessidade
de uma intensa obra de recrutamento vocacional e insistem em sua
particular posição de corresponsabilidade educativa, em seu insubs­
tituível papel apostólico e missionário.
A circular que o Pe. Rua escreve em 31 de janeiro de 1897, pelo
9.° aniversário da morte de Dom Bosco, toca precisamente nestes
argumentos: “Pelo caráter pois, que é próprio da nossa Pia Sociedade,
não somente é reservada abundantíssima messe para os eclesiásticos,
mas os nossos caríssimos irmãos coadjutores são também eles chama­
dos a exercer um verdadeiro apostolado em favor da juventude em
todas as nossas Casas, e especialmente em nossas escolas profissionais;
78 Cf. P. STELLA, Cattolicesimo..., o.c., p. 420.
37

4.10 Page 40

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por isso é necessário que se cultivem a vocações religiosas também
entre os nossos jovens aprendizes e coadjutores. É especialmente por
causa destas escolas profissionais que a Sociedade Salesiana é tão
desejada na América, Africa, Asia, em varias nações da Europa. Foi
justamente também para preparar entre os nossos operarios coadjuto­
res Salesianos exemplares que o IV Capítulo Geral traçou muitas regras
marcadas pelo zelo, caridade e prudência em vista do encaminhamento
moral, intelectual e profissional dos nossos alunos... Finalmente, insis­
tindo em que se cultivem as vocações, eu não proponho nada de novo,
nada peço de extraordinário ; peço-vos somente que imitem os exemplos
de Dom Bosco e observem as leis que nós mesmos, no desejo de maior
bem, nos impusemos em nossos Capítulos Gerais.”79
O Pe. Rua confirma a notável mudança que se verificou no setor
vocacional, quando enumera os detalhes concretos da estratégia que
se devia usar: É de absoluta necessidade observar quais os jovens
aprendizes que demonstram sinal de vocação cultivá-los como aspi­
rantes, fazê-los participar dos exercícios espirituais durante as férias,
receber (..) os pedidos dos que desejam ser noviços quando chega­
rem à idade de 16 ou 17 anos”80.
No ano seguinte, na carta circular de 24 de junho de 1898, o Pe.
Rua ainda insiste: Não vos exorto a cultivar jovens que dão boas
esperanças para o clericato, mas ainda os que poderão tomar-se bons
coadjutores e chefes de oficina.
Sabeis que de todas as partes e especialmente dos lugares de missão
nos chegam insistências de fato extraordinárias para a implantação
de laboratórios, casas de artes e ofícios, visto que uma das maiores
necessidades da sociedade moderna é a educação cristã do operário81.
Muitos jovens dos nossos colégios pertenciam justamente a famílias
marcadas pela crise econômica. A figura do Salesiano coadjutor que
deles se ocupava e que, como técnico e mestre de oficina, unia à esta­
bilidade e certeza de uma sistematização social também o testemunho
pleno da resposta cristã aos problemas sociais do tempo, constituía
forte estímulo de orientação para os mais sensíveis ao tema vocacional,
por vezes aliás sem outras possibilidades profissionais.
De fato, admira a abertura de bem 6 novos noviciados, fundados
justamente nestes anos: Lorena do Brasil (1890), Bernal na Argentina
(1895), Santiago Macul no Chile (1895), Genzano de Roma (1896),
Arequipa no Peru (1897) e Burwash, perto de Londres (1897) 82
Na aurora do novo século dava aos salesianos uma grande esperan­
ça de trabalho na própria missão, pois o pessoal crescia em número
e qualidade. É dos primeiros dias do ano de 1900 uma carta do Pe. Rua,
79 In M. RUA, Lettere circolari, Turim 1910; as citações são tomadas da edição
de 1965, p. 187-189: carta datada de Turim, 31 de janeiro de 1910.
80 Ibidem.
81 M. RUA, Lettere circolari, o.c., 207; dat. de Turim, 24/06/1898.
82 Cf. Lettere circolari, n.° 18, 20/01/1898.
38

5 Pages 41-50

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5.1 Page 41

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que dá notícias e comunicações que nos permitem um conhecimento
mais atualizado da situação: Devo dirigir uma palavra de merecido
louvor aos Diretores e Prefeitos de nossas casas, que com o seu zelo
industrioso souberam encontrar e cultivar a semente da vocação Sale-
siana entre nossos familiares de modo que pudesse germinar, ótima
coisa esta, porque, além da grande vantagem que às suas almas,
fazendo-os religiosos, aumenta-se o número dos Irmãos Coadjutores,
dos quais a nossa Pia Sociedade sente tamanha necessidade. E a pro­
pósito tenho também o prazer de vos dizer que o desejo, expresso em
outras minhas (cartas), de ver multiplicar-se as casas de noviciado para
coadjutores e aprendizes não foi voz lançada ao vento, uma vez que,
alegre, vos posso anunciar, essas casas são em número de sete e
produzem frutos consoladores. É de se desejar que o número delas
aumente e que, quanto possível, todas as inspetorias tenham pelo
menos umaM.
O crescimento e expansão contínua da obra salesiana parece esti­
mular o desejo de suprir, com estes autorizados apelos, certa (apenas
perceptível) queda de interesse pela novidade do irmão coadjutor. Uma
vista dolhos, embora rápida, à rica e viva produção impressa e à pro­
paganda Salesiana da época, aos temas escolhidos e debatidos nos co­
nhecidos congressos de Cooperadores (de Bolonha em 1895 e de Buenos
Aires cinco anos depois), é suficiente para salientar como cai a atenção
pelo componente laical da Congreção.O próprio mecanismo de prepara­
ção e de ressonância das primeiras fases do processo de canonização
de Dom Bosco servia para difundir cada vez mais no mundo a imagem
do salesiano de batina como prolongamento natural e lógico do “padre
santo dos garotos de Turim. O Salesiano em hábitos civis passava
para segundo lugar.
Na realidade, o perigo era mais para a imagem externa das obras
salesianas. No interior das comunidades “o processo de convivência
entre padres, clérigos e coadjutores era bem mais importante do pro­
cesso de diferença e comparação entre si. Em cada casa serviam de
elementos amalgamadores a meditação em comum, a uniformidade à
mesa, a corresponsabilidade na assistência aos jovens, a preparação de
teatrinhos e pequenas festas. Em nível inspetorial desenvolviam função
análoga os exercícios espirituais anuais. A união de padres e leigos se
fortalecia facilmente com a presença de coadjutores que se distinguiam
por laboriosidade, jovialidade e observância religiosa. Cada casa podia
contar com algum coadjutor que refletia os salesianos modelos
da geração precedente. San Benigno e Turim tiveram o chefe de alfaia­
taria Pietro Cenci (1871-1939). Valdocco teve entre outros o arquiteto
Giulio Valotti (1881-1953), na Argentina distinguiram se o tipógrafo e
jornalista combativo Cario Conci (1877-1947) e o arquiteto Enrico Botta
(1859-1949). O Equador teve Giacinto Pancheri (1857-1947), corajoso
construtor de estradas e pontes. A Bélgica contou com o musicólogo
Antoine Auda (1879-1964). Os coadjutores adidos aos trabalhos domés-
83 M. BUA, Lettere circolari, o.c., 245s, dat. Turim 20/01/1900.
39

5.2 Page 42

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ticos e agrícolas continuaram a existir e estavam, às vezes, entre os
mais espiritualmente exemplares. Valdocco teve o senhor Giuseppe
Balestra (1868-1942); a Palestina, o servo de Deus Simone Srugi
(1872-1943)M.
O que não impede que o próprio Pe. Rua sentisse necessidade de
intervir em l.° de novembro de 1906, para afastar com a mesma
energia e sentimento de Dom Bosco, o risco de desvalorização!:
"Convém que demonstremos escrevia ele com fatos e não
com palavras, que considerêmo-los como a nossos irmãos.
B. Na Congregação em expansão: do reitorado do Pe. Paulo Albera
(1910-1921) ao do Pe. Renato Ziggiotti (1952-1965) e ao Concílio
Vaticano II
a) Após a primeira guerra mundial
Após a crise da primeira guerra mundial, inicia-se o período de
história do Salesiano Coadjutor que vai do reitorado do Pe. Albera
(1910-1921) ao do Pe. R. Ziggiotti (1952-65), indicando um novo cami­
nho por percorrer para incrementar as vocações e de uma nova linha
üe formação religiosa para torná-las firmes.
A fim de atender de maneira adequada os pedidos de pessoal, os
documentos da Congregação insistem incessantemente sobre a exigência
do cuidado e do aperfeiçoamento das vocações dos irmãos coadjutores.
“De muitas partes lê-se numa circular de 1920 recebem-se insis
tentes pedidos de pessoal, especialmente de irmãos coadjutores. (...)
Permito-me insistir neste ponto, porque jamais será repetido suficien­
temente que o progresso de nossas Escolas Agrícolas e Profissionais
depende em máxima parte de pessoal bem preparado seja do ponto de
vista religioso como técnico85.
Do mesmo teor é também a carta seguinte, de 24 de dezembro do
mesmo ano: É sobretudo entre os humildes escrevia o mesmo
Conselheiro Geral, Pe. P. Ricaldone educados em ambiente de sim­
plicidade, delicado espírito de família, sólida piedade, estudo e traba­
lho marcados pela seriedade e revalorizados pelo sacrificado interesse
do pessoal, que germinam e amadurecem as vocações verdadeiras86
O Pe. Albera em 1921 intervirá com uma circular Sobre as voca­
ções*1 onde, escreve o Pe. Braido, “oferece duas páginas das mais
significativas e ricas, entendendo com perspicácia e precisão, o motivo
da missão apostólica e educativa que o Coadjutor possui em comum
com o Sacerdote, negando de maneira peremptória qualquer dualismo
e afirmando decididamente suas atribuições como membro de uma Con-
84 P. STELLA, Cattolicesimo..., ox:., p. 426.
85 P. RICALDONE, in ACS 24/06/1920, 16s.
86 ID, in ACS 24/12/1920, p. 103.
87 P. ALBERA, Carta Circular Sulle vocazioni, Turim 15/05/1921, in ACS (1921),
205-207.
40

5.3 Page 43

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gregação efetivamente educadora88. Nesta carta, pela primeira vez,
acena-se também à capacidade de descobrir e acompanhar as vocações
por parte dos próprios irmãos coadjutores; Mas estas vocações de
coadjutores, sobretudo, devem ser procuradas e cultivadas pelos pró­
prios coadjutores, não nas escolas e oficinas, onde se lhes oferece,
menos facilmente a oportunidade, mas nos recreios, durante os quais
devem também eles estar com os jovens, tomando parte amigavelmen­
te em jogos e conversas. Nisso os bons coadjutores podem exercer uma
influência mais eficaz que os clérigos e sacerdotes. De fato, um clérigo,
um sacerdote, pode no máximo descrever a vida do coadjutor salesiano,
mas esta vida, o coadjutor a vive diante deles, oferece-lhes um modelo
e se sabe que verba movent, exempla trahunt: se as palavras podem
mover, os exemplos arrastam... w.
b) Reitorado do Pe. P. Rinaldi (1922-1931)
Os elementos, sobretudo os de princípio, propostos de novo na
circular do Pe. Rlbera, concomitantemente com outros fatos de natureza
religiosa e sócio-econômica, foram as raízes do trabalho complexo e
orgânico que se realizou no decênio 1922-31. O reitorado do Pe. Rinaldi
foi definido como o período mais fecundo e fundamental por uma
visão mais elaborada e amadurecida da idéia de coadjutor”90
Este decênio é o da obra organizada pelo Conselheiro Profissional
Geral Pe. Giuseppe Vespignani e pelo Prefeito Geral Pe. Pedro Ricaldone,
sob a inspiração do Pe. Rinaldi, Reitor Mór.
O CG21 tratou como tema V: Em base às nossas Constituições
(atualizadas pelo recente Código de Direito Canônico): buscar uma
cultura religiosa mais sólida e maior habilidade profissional para os
irmãos coadjutores buscar quais formas de escola profissional se
pudessem adotar além da em uso nas escolas internas para alunos
internos.
E o Conselheiro Profissional Geral (Pe. Vespignani) notava nos
ACS n.° 16: O Capítulo Geral apenas concluído (...) revelou uma vez
mais a falta entre nós de pessoal capaz de realizar a nossa missão no
campo profissional e agrícola, em outros termos, não se sabe hoje
como prover às Inspetorias em vista do novo pessoal profissional
salesiano. Enquanto cada ano se faz que é o melhor para colher de todos
os nossos colégios e oratórios, um número de Aspirantes para o hábito
clerical, bem pouco se faz ou se consegue para o de Aspirantes nas
88 P. BRAIDO, Religiosi nuovi..., p. 31. É nesta circular que se insiste clara­
mente em que os Coadjutores não constituem uma segunda Ordem, uma vez
que na Congregação padres e leigos gozam todos dos mesmos direitos e
privilégios; o caráter da ordem sacra impõe, sim, maiores deveres, mas os
direitos são iguais tanto para os sacerdotes e clérigos como para os
Coadjutores.”
89 Ibidem, p. 84.
90 Ibidem, p. 31.
41

5.4 Page 44

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Escolas Profissionais, número que se deveria obter paralelamente ao
primeiro. É necessário, pois, empenhar-se neste ponto, por quanto
depende de nós, para preencher a falta que o nosso importantíssimo
apostolado exige, e, portanto, buscar desde o início das Escolas Pro­
fissionais e agrícolas instituídas, desde o primeiro período de aceitação
dos alunos, dos primeiros cursos de educação profissional, os aprendi­
zes e agricultores que, de alguma forma, demonstrem germes de uma
vocação por cultivar, e depois, encaminhá-los com amoroso cuidado para
a nossa finalidade. Mais ainda, que a fim de obter os meios adequados
para que esta categoria de alunos se forme numa verdadeira vida sale-
siana de acordo com a sua cultura profissional e agrícola, dever-se-á
pensar convenientemente em Centros de Formação, onde esta cultura
não se mantenha, mas se aperfeiçoe. É necessário que cada um, no
seu grupo, procure, e se esforce por aproximar, apresentar, favorecer,
cultivar os elementos que dêem alguma esperança desde o início. Dada
a atual escassez de Mestres profissionais salesianos disponíveis, que
levaria a tirar das Casas Centrais de formação, para favorecer às Inspe-
torias, creio ser meu dever insistir com os Superiores em que não se
espalhe este escasso elemento formado, mas procure-se diversamen­
te concentrá-los de modo que se possam estabelecer Escolas de aperfei­
çoamento, a começar das Inspetorias mais importantes ou escolhendo
uma mesma casa para Inspetorias de uma mesma língua e aumentan­
do-as em seguida até que haja possibilidade de urna ou mais em cada
Nação. Estas casas serão como que viveiros salesianos de mestres de
oficinas e mestres agrícolas91.
O Pe. Vespignani também adotou medidas para motivar historica­
mente o decisivo incremento didático e edilício do setor escolástico
profissional e agrícola decidido em 1920 para toda a Congregação92.
O arquivo central da Congregação conserva vários escritos do Pe.
Vespignani93 sobre o assunto. Embora estando todos em estado de
“apontamento, apresentam uma sua História do Coadjutor Salesiano.
Os textos deixados, além do mérito indiscutível de primeira tentativa
de reflexão histórica sobre a situação vivida, limitam-se a simples con-
catenação descrita de fatos acontecidos, ainda durante a vida de Dom
Bosco, e normalmente transmitidos pela tradição salesiana.
Na realidade, O Coadjutor Salesiano no pensamento de D. Bosco,
carta fundamental que o Reitor Mór Pe. Filippo Rinaldi publicou nos
Atos do Capítulo Superior de 1927 94, manifesta claramente uma perma­
nente ligação com a tradição salesiana, especialmente com as origens,
que nos irmãos coadjutores continuadores da missão de Dom Bosco
e, ao mesmo tempo, atualiza a sua figura aplicando-lhe valores que os
91 ACS 16 (24 outubro de 1922), p. 29-30.
92 Veja-se a circular publicada nos ACS de 24 de dezembro de 1920, onde se
mostra justamente a necessidade de recuperar uma prerrogativa específica
da obra salesiana: quando da morte de Dom Bosco as escolas profissionais
cobriam 34% da obra salesiana, após 32 anos o setor, perdendo 20%, estava
reduzida a apenas 14%.
42

5.5 Page 45

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progressos da teologia haviam evidenciado. Parecem ressoar as acalo­
radas expressões utilizadas por Dom Bosco e pelo Pe. Rua: Para
o Fundador está escrito os sacerdotes assumem sim, com a Ordem
Sacra, maiores deveres e responsabilidades, mas os direitos são iguais,
tanto para eles e os clérigos, quanto para os coadjutores, que não cons­
tituem uma segunda categoria, mas são verdadeiros Salesianos, obriga­
dos à mesma perfeição e a exercer cada um na própria profissão, arte
ou ofício, idêntico apostolado educativo que forma e essência da Socie­
dade Salesiana... Ele os quis iguais a si e aos seus filhos elevados à
dignidade sacerdotal: meios, provisões, instrumentos do trabalho, sus­
tento, meta e méritos são iguais para todos, como o alimento
quotidiano9S.
Não falta uma certa ênfase, uma certa tonalidade nova ou melhor,
um modo novo de ver a realidade anterior: O Coadjutor Salesiano não
é o segundo, não é a ajuda, nem o braço direito dos sacerdotes seus
irmãos de religião, mas um seu igual que na perfeição os pode preceder
e superar como o confirma amplamente a experiência quotidiana (...)
o chamado do Senhor: “Si vis perfectus esse, não é para o sacer­
dote, nem é para o pequeno número daqueles destinados a realizar
os serviços humildes da comunidade religiosa; mas também, e mais
ainda, para os que desejam levar vida religiosa, consagrando-se com
voto ao ensino nas escolas primárias e secundárias, à assistência dia e
noite de multidões de jovens, a serem mestres e chefes nas escolas das
mais variadas artes, exigidas pela situação humana, e nas escolas agrí­
colas que preparam os mestres destinados a ensinar a profissão tão
enobrecida por Jesus em suas parábolas, que não se intimidou de chamá-
la como a própria profissão de seu Pai celeste: Pater meus agrícola
est96.
Como que para complemento da carta do Pe. Rinaldi, o fascículo
de 24 de outubro de 1930 dos ACS traz um simples comentário do Pe.
Giuseppe Vespignani ao histórico discurso de Dom Bosco em S. Benigno
Canavese em 1883, voltado sobretudo a pôr em evidência os aspectos
formativos, ascéticos, religiosos.
Um importante elemento para a formação do Salesiano coadjutor
e para uma maior sensibilização, no caso, foi a instituição e organiza­
ção dos Aspirantados para Coadjutores e das Casas para o seu aperfei­
çoamento após o noviciado. Às casas de Ivrea, Foglizzo e Penango
93 Referimo-nos aqui, particularmente, aos apontamentos que dizem respeito
às Conferenze presentate ao teologato di Torino (Crocetta), urna Conferenza
ai Coadiutori di Sampierdarena, urna Storia del Coadiutore Salesianode
que se falou no curso do presente escrito, e alguns Appunti per la dis­
cussione del II tema al Capitolo Generale XIII.
94 In ACS 40 (1927) 572-580. Ocasião para a importante carta escrita pelo Pe.
Rinaldi foi a fundação, acontecida em 17/07/1927, da Escola Agricola Missio­
naria, em Cumiana, graças à doação de um vasto latifúndio por parte das
irmãs Flandinet para a formação do pessoal missionário.
95 Ibidem.
96 Ibidem.
43

5.6 Page 46

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soma-se com todo o peso de uma obra de importância primária, como
a definiu o Pe. Rinaldi97, a casa de Cumiana para os aspirantes coadju­
tores encaminhados ao trabalho no setor agrícola. Três anos depois, em
1930, uma outra munífica doação, o Instituto Conde Rebaudengo
(Turim), toma-se centro de formação profissional missionária. No
Instituto Bernardo Semeria, erigido no Colle Dom Bosco desde 1918,
desenvolvia-se contemporaneamente o aspirantado que orientava os
rapazes para cursos agrícolas e profissionais e os jovens Salesianos
coadjutores, de posse da qualificação profissional, aos cursos de
aperfeiçoamento.
c) Reitorado do Pe. P. Ricaldone (1932-1951)
A circular do Pe. Ricaldone sobre o Noviciado(abril de 1939),
sublinha a validade do noviciado único para noviços clérigos e coadju­
tores. Esta carta contém também dados úteis para definir a concepção
do Salesiano coadjutor naquele tempo e as relações que existiam no
interior da Congregação. “Antes de tudo digamos que, embora o
cân. 564, par. 2, estabeleça que no noviciado seja destinado aos con­
versos um lugar separado, em nossa Sociedade não existe de fato esta
diferença, que é real em outras ordens religiosas, entre clérigos e coad­
jutores. Além disso, precisamente para tornar sempre mais forte a
união entre todos os sócios, é bom irmanar, desde o noviciado, clérigos
e coadjutores, uma vez que deverão, depois, encontrar-se constantemen­
te em contato em nossos institutos para realizarem o programa salesia­
no em suas múltiplas intercomplementações. A separação no noviciado
poderia ter como que o sabor, se não o significado, de uma diversidade
de ideias, enquanto os filhos de S. João Bosco têm necessidade de estar
uns ao lado dos outros, de proceder fraternalmente unidos na atuação
das idênticas finalidades de sua missão. O Coadjutor salesiano, mesmo
não sendo sacerdote, é e deve ser antes de tudo um educador, e este
seu apostolado deverá ser, por ele realizado com identidade de inten­
ções e geralmente no mesmo campo do Oratório Festivo, das Escolas
Profissionais e Agrícolas, das Missões, na assistência, na escola, na
oficina, ao lado e em união com seus irmãos sacerdotes e clérigos para
vantagem das mesmas almas. (...) A prática, pois, que está em uso sm
nosso meio, exclui que se deva aplicar aos religiosos da Sociedade o
cân. 558, onde se diz que ‘nas religiões onde existam duas classes de
membros, o noviciado feito para uma categoria não é válido para a
outra: em nossa Congregação existe uma única categoria de sócios.
A diversidade acidental de atribuições nada mais faz do que integrar,
aperfeiçoar e reforçar a homogeneidade das finalidades e do próprio
corpo da Congregação. Doutra parte, o artigo 12 das Constituições,
falando da forma da Sociedade, diz expressamente que a nossa Sociedade
consta de eclesiásticos e leigos, que levam a mesma vida comum (...)
97 Ibidem 572.
44

5.7 Page 47

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Naturalmente a união no mesmo noviciado de clérigos e coadjutores
exige que, na preparação da casa que os deve acolher, tenha-se em
conta tudo o que seja exigido para a conveniente formação das diver­
sas categorias de nossos coadjutores, vindos das Escolas Profissionais,
agrícolas e das demais casas e ocupações. Não é o caso de organizar
verdadeiras e grandes oficinas (...) Na prática tem-se visto que é rela­
tivamente fácil prover às necessidades dos sapateiros, alfaiates, marce­
neiros, escultores; também para os mecânicos e eletricistas pode-se ter,
pouco a pouco, os elementos mais indispensáveis. Para todos, pois,
e particularmente para os alunos de artes do livro, dê-se maior como­
didade de se exercitarem no desenho. Os agricultores terão possibili­
dade de trabalhar na horta, no jardim e nas ocupações agrícolas; os
demais coadjutores poderão dar uma ajuda eficaz nas variadas ativi­
dades domésticas98.
Confirmado o noviciado único, tem-se como válida a fórmula de
prosseguir com o aspirantado separado e, para todos os dotados de
título profissional de base, um biênio ou triénio de aperfeiçoamento
apenas para irmãos coadjutores.
O CG 15 (1938) aprovou para tanto, juntamente com o regulamen­
to para todas as casas de formação, um regulamento para o curso de
aperfeiçoamento de irmãos coadjutores, proposto ‘ad experimentum
por um sexênio ". A disposição foi depois renovada, pelo CG 16 em 1947.
A segunda guerra mundial que se desencadeava, precedida da
guerra civil espanhola (1936), acompanhada da perseguição nazista na
Polônia (1939) e seguida pelas expulsões comunistas em Pequim (1948',
do confinamento de mais de 300 Salesianos eslovacos (1950) e do fecha­
mento de numerosas casas na Europa em virtude da Conferência de
Potsdam, não enfraquecem o forte temperamento do Pe. Ricaldone que,
justamente nesses anos de martírio e violência, manteve inadiável a
aplicação de um programa formativo gradual também para os irmãos
coadjutores. Deve-se colocar sempre junto a este planejamento ideal a
permanência de uma praxe que, logo após o noviciado, destinava uma
parte dos Salesianos coadjutores, não especializados em algum ramo
profissional, para as comunidades como adidos aos serviços da casa:
roupeiros, cozinheiros, despenseiros ou factótum. A figura, porém, do
Salesiano coadjutor que, naqueles anos tende a se formar e pôr se em
evidência, graças ao influxo da preparação cultural dada nos centros
de aperfeiçoamento, é a do Salesiano coadjutor chefe-de-oficina, profes­
sor técnico, educador de jovens aprendizes.
Em 1948 nasce a revista O Salesiano Coadjutorque oferece não
poucas linhas de análise. Entre as várias seções da revista trimes­
tral 100 tinha peso particular a intitulada Vocação e vocações. Abrigava
98 In ACS 93 (1939) 179-181.
99 Cf. ACS 91 (jan.-fev. de 1939) p. 30-32.
100 Nos dez anos tomados por nós em consideração, de 1948 a 1957, são estas
as rubricas que sistematicamente aparecem: Artigos de fundo e várias
Per la Madonna, La parola del Papa, Su argomenti vari, Vocazione e voca­
45

5.8 Page 48

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intervenções, contribuições e reflexões sobre a identidade e o papel
do salesiano leigo. Não é difícil notar o quanto variam a impostação e
conteúdo repassando, na leitura dos artigos dos primeiros anos, onde
uma contínua referência às origens e ao pensamento de Dom Bosco
e do Pe. Rinaldi, aos dos anos 1954-1957, onde se insiste de maneira
acentuada sobre a novidade, sobre o apostoladoe sobre a “prepa­
ração técnica” 101.
Em 1950, o então Conselheiro Geral Profissional, Pe. Antonio Can­
dela, apresentou, no Congresso geral sobre os estados de perfeição
realizado em Roma naquele ano, uma relação sobre o Salesiano Coadju­
tor. Nela aparecem as fontes jurídicas, históricas, religiosas e pedagó­
gicas das quais, segundo seu parecer, brota a figura do religioso sale­
siano leigo, ou melhor, do salesiano em trajes civis” 102. O Pe. Braido
insere esta contribuição em sua coletânea de textos oficiaissobre
o salesiano coadjutor, aduzindo várias razões. Entre elas, sublinhamos
uma de modo especial. A contribuição resumo de forma linear
escreve ele os melhores resultados da tradição doutrinal e prática
salesiana sobre o assunto, comparável a uma espécie de magistério
ordinárioda Congregação neste setor vital.1(B.
Vale, pois, apenas, reproduzir as passagens mais significativas.
O Salesiano coadjutor se coloca como uma nova figuraque se vai
delineando nas Congregações clericais de hoje, um religioso que se
coloca ao lado do religioso Sacerdote para partilhar com ele, na medida
de sua condição, trabalhos, responsabilidades e alegrias do apostolado
moderno”.
A novidade desses religiosos leigos em relação aos antigos
conversosestá, segundo o Pe. Candeia, em duas considerações:
a) Pelas ocupações que lhe são confiadas: são variadas e com­
partilhadas com seus irmãos sacerdotes, excetuadas naturalmente as
que derivam do caráter sacerdotal. A Estrutura ágil destas Sociedades
e a multiplicidade de suas atividades oferecem aos leigos um vasto
campo de apostolado. Enquanto os menos instruídos santificam-se nos
serviços humildes de cada casa, os professores santificam-se nas cáte­
dras, desde a primeira elementar até às universidades; os mestres de
arte em suas oficinas-escolas, em cada ofício e especialização; os agri­
cultores nos campos, outros nos Oratórios festivos, como assistentes,
zioni, Giornata del Coadiutore, Educazione ed educatori, Oratorio e Cate­
chismo, La pagina professionale, La pagina sociale, Profili, Mostre e con­
vegni, Notiziario e corrispondenza, Asterischi.
101 Veja-se, por exemplo, o artigo La vocazione del coadiutore salesiano nov.,
dez. de 1954); L’apostolo dei tempi nuovi (jan. fev. de 1955); Coadiutori
sacerdoti e coadiutori operai (jan. fev. de 1956) 7; L’apostolato del Coadiutore
nelle missioni (nov. dez. de 1956); Preparazione tecnica del coadiutore
(nov. dez. de 1956) 112; Il Coadiutore lavoratore ed apostolo (março, abril
de 1957) 29-49, (jul. agosto de 1957) 67; (set. outu. de 1957) 90; Maestri di
lavoro: un problema attuale (set. out. de 1957) 97.
102 P. BRAIDO, Religiosi nuovi..., p. 187, nota 6.
103 Ibidem.
46

5.9 Page 49

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dirigentes de grupos de A.C., de círculos esportivos, artísticos e outros.
E tudo isso não nos países civilizados, mas também em terras de
missão.
b) Pelo seu número. Esta multiplicidade de objetivos aos quais
se dirigem estas Sociedades exige naturalmente um número grande de
operários evangélicos também não sacerdotes. Num convento podem
ser suficientes poucos 'conversos, o suficiente para assegurar os tra­
balhos domésticos da comunidade. Aqui, ao contrário, é necessário
abrir o caminho da perfeição a todos os leigos que se sentem chamados
a santificar-se na vida de comunidade, exercendo as formas de apos
tolado e de propaganda cristã.”
d) Reitorado de Pe. Renato Ziggiotti (1952-1965)
O CG 17, convocado em janeiro de 1952, como se fosse um elo de
ligação entre as últimas disposições do Pe. Ricaldone 104 e os primeiros
compromissos do Pe. Ziggiotti, teve como primeiro tema de estudo a
formação cultural, profissional e religiosa do Salesiano coadjutor. O
próprio Pe. Ziggiotti nos ACS (outubro de 1952) apresenta as delibera­
ções tomadas, as orientações para o curso de aperfeiçoamento dos
irmãos coadjutorese as “recomendações” sobre o pessoal105.
Todo o trabalho de uma época de transformação, de apreensão
concreta e de operosidade organizativa termina com a codificação da
matéria que, em 1954, passará a fazer parte dos Regulamentos da
Sociedade Salesiana106
A Congregação entrará na segunda metade do século XX afirmando
a desenvolvida consciência da novidade e da função essencial do
Salesiano coadjutor. Chegar-se á às portas do vicênio sucessivo com um
104 Como se sabe, morreu em 25 de novembro de 1951.
105 Algumas destas ‘recomendações’ são significativas e até mesmo singulares:
D Celebrar anualmente o dia do Coadjutor (...). 2) Continuidade, no
limite do possível, do pessoal dirigente, da obra em que florescem as voca­
ções. 3) Favorecer o surgimento de Circuios Profissionais entre os Clérigos
dos Estudantes para interessá-los pelas vocações artesanais e pelos pro­
blemas das Escolas Profissionais. 4) A revista “II Salesiano Coadjutore”
seja favorecida e possivelmente editada nas várias línguas. 5) Fazer ler a
vida de Dom Bosco pelos nossos meninos e fazer conhecer as figuras mais
beneméritas dos nossos Coadjutores. 6) Facilitar nas Escolas Profissionais
e Agrícolas a aceitação dos jovens de condição modesta. 7) Selecionar a
acceitação dos jovens, favorecendo os filhos de famílias numerosas (...)
8) Cuidar das vocações artesãs também entre os oratorianos (garções de
bar, aprendizes). 9) Insistir para que os Irmãos Coadjutores sejam os pri­
meiros interessados na busca de vocações com a oração e o bom exemplo.
10) Podem-se encontrar boas vocações para Coadjutores entre os jovens,
mesmo seminaristas, que, não inclinados aos estudos eclesiásticos, têm no
coração um ideal religioso e aptidões para o aprendizado de um ofício.”
106 Veja-se a edição de 1954, 1.* parte I, se. II capítulo III: art. 58-60; ses.
IV, art. 331-333.
47

5.10 Page 50

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progressivo aumento global dos Salesianos, chegando ao máximo de
21.614 professos em 1967.
Mas, justamente nestes anos, delineiam-se sobretudo na sociedade
ocidental, os primeiros fermentos de vastas e profundas mudanças.
Suas repercussões não tardarão a influenciar sobre as estruturas e
na vida dos Institutos religiosos.
No que diz respeito ao setor dos Salesianos coadjutores, sobretudo
dos destinados às escolas profissionais e agrícolas, começa-se assistir
à lenta mas inexorável diminuição de alunos e de pedidos de trabalho
para os setores de puro aprendizado, como marcenaria, a arte do ferro
batido, sapataria, alfaiataria e encadernação. As diversas possibilidades
de lugares concretos de trabalho na indústria e a incipiente mas cres­
cente automação orientavam para outros caminhos os jovens apren­
dizes. As alteradas relações de mercado que se criaram após o segundo
conflito mundial obrigavam os vários Estados a fazer frente rapida­
mente às novas exigências modificando os quadros profissionais dis­
poníveis. Tudo isso requeria a revisão das estruturas escolares e das
oficinas, a revisão das matérias de docência e a requalificação do pessoal
docente.
Os Salesianos coadjutores foram os primeiros a se ressentirem das
compreensíveis repercussões destas modificações, muitas vezes radicais.
Não poucos dentre eles, inseridos desde sempre num específico setor
de atividades encontraram-se desqualificadose obrigados a assumir
atividades e setores de presença apostólica e educativa nova e em
todo caso diversa daquela para a qual o longo iterformativo anterior
os havia destinado. Se se levar em conta que a idade média deles será
em 1970 de 42,6 anos, não será difícil compreender o desconforto e
a falta de compensação criada por esta situação. A mesma curva das
vocações tem uma flexão registrando uma queda no percentual dos
Coadjutores sobre o total dos Salesianos. passa-se dos 21 por cento
(ainda registrados nos anos 50) aos 18,35% em 1974.
12.3 No empenho de renovação do pós-concílio
A 150 anos do nascimento de Dom Bosco, a declaração feita pelo
Pe. Luigi Ricceri, eleito Reitor Mór (1965-1977), que se tornaria depois
programa de trabalho e governo, exprime bem as conotações do mo
mento histórico ao qual se refere: Avante com Dom Bosco vivo, hoje,
para responder às exigências do nosso tempo e às expectativas da
Igreja.” 107
A Congregação de cerca de uma década entrara em seu segundo
século de vida e devia ser capaz de enfrentar situações inéditas e em
parte originais. As rápidas transformações do mundo, os apelos que
lançava, as condições novas também no seio da Igreja estimularam
a busca de orientações adequadas. Estas indicações de direção tiraram
107 Cf. Bolletino Salesiano, junho de 1965, 164.
48

6 Pages 51-60

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6.1 Page 51

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força e inspiração antes de tudo nos documentos do Concílio
Vaticano II. Na fidelidade essencial e dinâmica ao projeto apostólico e
educativo de Dom Bosco não bastava adaptar velhas fórmulas, embora
ótimas e adequadas nos anos anteriores, mas, dada a aceleração que
não se podia deter do movimento de idéias, ocorria criar novas fór­
mulas. O clima irrepetível da preparação imediata e do início dos
trabalhos conciliares agiu como poderoso fermento na vida da Con­
gregação. alguns anos antes do conhecido "Sessenta e oito”, carre­
gado de vivas inquietações e expectativas juvenis, os Salesianos encon-
traram-se questionados e empenhados, como jamais na história dos
precedentes Capítulos gerais, a preparar e dar andamento em 1965,
com o Capítulo Geral XIX, à sua renovação e redimensionamento. Entre
os 22 Documentos capitulares, o 5.° traz como título “O Salesiano
Coadjutor.
No espírito da reviravolta conciliar, durante as duas décadas se­
guintes, são elaborados, sobretudo no ambiente dos Capítulos Gerais,
importantes documentos sobre o Salesiano coadjutor. Visto que eles
constituem objeto de reflexão nas páginas que seguem, limitamo-nos a
indicá-los cronologicamente.
O CG20 (1971-72) foi convocado para realizar as exigências do
Motu Proprio“Eclesiae Sanctae. Preparado por dois Capítulos
Inspetoriais e seguido de um terceiro, promoveu uma intensa obra de
mentalização entre os irmãos.
De 31 de agosto a 7 de setembro de 1975 desenvolveu-se em Roma
o Congresso Mundial sobre o Salesiano Coadjutor.
O CG21 (1977-78) recolheu os resultados do primeiro período de
“experiênciadas Constituições renovadas. Entre os cinco Documentos
capitulares, o 2.° tem como tema “O Salesiano Coadjutor”.
Os ACS n.° 298 (out -dez. de 1980) trazem a importante carta do
Reitor Mór, Pe. Egídio Viganó, sobre O componente laical da comuni­
dade salesiana.
O CG22 (1984), além da reelaboração conclusiva do texto das Cons­
tituições e Regulamentos, emanou algumas Orientações operacionais e
deliberações, das quais a 3.a se refere a O componente laical”. Cons­
titui uma das quatro prioridades indicadas pelo Reitor Mór, Pe. Egídio
Viganó, nos ACS n.° 312 (jan.-março de 1985) a toda a Congregação.
Todos estes acontecimentos tiveram o mesmo intento que exprimiu
o Pe. Ricceri introduzindo os trabalhos do Congresso Mundial: Pela
primeira vez, dizia ele, a Congregação oficiamente se coloca em forma
tão aprofundada, extensa, sistemática, em plena e amorosa vontade de
busca, a grande questão: o Salesiano Coadjutor, o que é e o que deve
ser? Como vive e sente, à luz da realidade de hoje, o ideal de sua
vocação religiosa laical a serviço da missão salesiana? Quais os
obstáculos que se opõem à sua realização e ao pleno e fecundo desen­
volvimento da vocação do apóstolo novo para o mundo novo?10,.
108 Atos do Convegno Mondiale Salesiano Coadiutore, Roma 1976, p. 15.
49

6.2 Page 52

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Nos capítulos seguintes insiste-se no estado atual da reflexão sobre
o Salesiano Coadjutor e da vivência em que se vai concretizando nas
circunstâncias atuais.
Os breves delineamentos históricos oferecidos até aqui visam jus­
tamente ajudar a colher nas experiências atuais as linhas de força que
estão presentes diretamente, mesmo se em germe, no carisma de Dom
Bosco Fundador.
50

6.3 Page 53

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2 A IDENTIDADE VOCACIONAL DO SALESIANO
COADJUTOR: APROFUNDAMENTOS TEOLÓGICOS
2.0 PREMISSA
Foi apresentada, em largos traços, a história do Salesiano coadju­
tor. Não é a história de uma idéia, mas de um dom que o Espírito Santo,
através de Dom Bosco, doou à sua Igreja. Foi percebido e amado por
Dom Bosco e por ele cada vez mais conhecido e apreciado como riqueza
de uma comunidade original e ativa a serviço dos jovens.
Os Salesianos coadjutores deram muito aos jovens, especialmente
aos mais pobres, mas também, a partir desse contato, receberam deles
o dom de serem algo a mais do que aquilo que eram. Em sua histó­
ria, o vimos, isso está bem claro: eles aprenderam dos jovens e do
seu mundo, a serem algo a mais com relação a si mesmos.
Esta é uma mensagem da história: toda vocação é um mistério
que se manifesta, e se doa, que recebe e cresce ao mesmo tempo
que em contato com as situações juvenis e populares, se oferece para o
serviço em prol dos mesmos.
A história, pelos diversos instrumentos que se aproxima e aborda,
leva a vocação riqueza, sempre em movimento de serviço aos outros
e de crescimento de si mesmos.
A identidade vocacional do Salesiano leigo foi progressivamente
redefinida nos Capítulos Gerais Pós Conciliares, que levaram a uma
visão mais clara da figura e do papel do Salesiano coadjutor: deve-se
relembrar principalmente o CG21 que dedicou a esse tema um documen­
to bem específico. Toda a reflexão capitular desembocou, afinal, no
texto das Constituições, aprovado pela Santa Sé.
A Congregação toda inteira se empenhou muito nessa tarefa nada
fácil. Ela o fez seguindo as orientações do Vaticano II, as autorizadas
indicações do Reitor Mor, os estudos dos peritos e, de modo especial,
a experiência viva dos próprios sócios leigos.
Hoje em dia temos à nossa disposição um amplo ensinamento.
Trata-se agora de penetrar em sua profundidade e tornarmo-nos mais
conscientes de tudo isso, tendo presente, igualmente, a reflexão em
ato, na Igreja, que está esclarecendo de modo especial dois argumentos:
51

6.4 Page 54

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os muitos sentidos e aspectos da identidade; e, 2.° os componentes da
laicidade e da secularidade. Vamos portanto, priveligiar esses dois argu­
mentos e sobre eles teceremos nossa reflexão a seguir.
2.1 IDENTIDADE: OS MUITOS SENTIDOS
Uma explicação inicial dos termos ajuda, com toda a certeza, a
pesquisa e também ajuda a compreender melhor o delicado e com­
plexo trabalho em que a Congregação se empenhou nestes últimos anos,
para definir a nossa identidade. Nesse período, com efeito, falou-se
muito de identidade, referindo-se à Igreja, à Família Salesiana e, dentro
dela, à nossa Sociedade, aos Salesianos sacerdotes e aos Salesianos
coadjutores. Falou-se disso em muitos sentidos. Aqui vão ser indicados
alguns, que são os principais *.
21.1 Identidade salesiana quantitativa e qualitativa
Fala-se em identidade salesiana em termos quantitativos ou núme­
ros quando, por exemplo, se propõem perguntas como estas: quantos
são os salesianos? seu número aumenta ou diminui?, e o número de
Salesianos coadjutores?, o que é que as estatísticas dizem a respeito
de sua relação percentual com os Salesianos padres?
Fala-se de identidade salesiana em termos qualitativos quando, ao
invés se fazem indagações como as seguintes: quem somos nós, hoje,
na sociedade e na Igreja?, quem é que são os Salesianos coadjutores
para os Salesianos padres?, e para os outros que pertencem à Família
Salesiana?, como são vistos pelos outros, na Sociedade e na Igreja?
Se, como se verá, os problemas mais relevantes se referem prefe­
rencialmente à identidade qualitativa, os que se referem ao aspecto
numérico, nem por isso, devem ser tidos com pouca consideração. No
caso dos Salesianos Coadjutores, muito mais ainda, esses aspectos
numéricos integram um programa que pode preocupar2.
21.2 Identidade salesiana pessoal e comunitária
Fala-se de identidade salesiana também em sentido pessoal e
comunitário. Em sentido pessoal quando nos referimos à pessoa do
salesiano em particular, considerado em sua pertença à Congregação
e à Família Salesiana.
1. Cf. Desmaraut F. Problemas de identidade salesiana, in F. Desmaraut M.
Midali (a cura), La vocazione salesiana. (Torino, Elle Di Ci 1982) 19-59.
2. Cf. VIGANÓ E., La componente laicale della comunità salesiana, in ACS 298
(ott. die. 1980) 34-38; ID. La Società di san Francesco di Sales nel sessenio
1978-1983. Relazione del Rettor Maggiore (Roma, 1983) 237 s.
52

6.5 Page 55

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Fala-se também de identidade em sentido comunitário ou coletivo,
quando nos referimos a um nós", aos Salesianos considerados em seu
conjunto. Na Congregação, as relações de amizade, de comunhão fra­
terna, de colaboração e solidariedade permitem o ser e o agir como
o de um nós, que tem uma própria existência e originalidade, pois
que está consolidado e concretizado pela comum missão salesiana e
pelo espírito comum de Dom Bosco.
O texto renovado das Constituições usa corretamente o “nós”.
Quer ressaltar a identidade salesiana comunitária: o individual faz parte
de um nós, cada um é salesiano não para si, isoladamente, mas
junto comos outros salesianos.
Os relacionamentos entre salesianos padres e Salesianos coadju­
tores são elementos constitutivos da identidade, assim entendida. A
identidade de uns incide sobre a identidade dos outros e nenhuma delas
poderá vir a ser plenamente descrita e vivida sem se referir, a dos
primeiros à dos segundos, de maneira recíproca e mútua. Portanto, a
presença de Salesianos leigos na comunidade salesiana não é faio
acessório e operativo de Dom Bosco e esse fato se relaciona mui de
perto com a identidade considerada em si mesma3.
21.3 Identidade relacional
A pessoa e o grupo existem tão somente em um mais vasto corpo
social, o mundo.
Os delineamentos que configuram a identidade somente poderão
ser legíveis se partimos do tecido de relações que a pessoa individual
e o nóscoletivo mantém com as outras pessoas e com o universo
dentro do qual se movem.
Para re-definir a identidade da nossa Sociedade o texto das nossas
Constituições indica, não somente os seus delineamentos internos (a
consagração apostólica e a forma; arts. 2.3.4), mas também o tipo de
relação que ela tem com a Família Salesiana (art. 5) com a Igreja
(art. 6.23), com o mundo contemporâneo (art. 7), e com o universo
religioso salesiano (a presença de Maria e dos Protetores: art. 8.9) e
com o não cristão (art. 7).
Com maior exatidão, figuram entre os componentes a serem toma­
das em consideração: o nome e sobrenome, a idade, o número dos
componentes, o escopo que a Congregação procura atingir, sua estru­
tura jurídica, os valores por elas vividos ou visados, as normas positivas
ou morais que a regem, as culturas em meio às quais vivem os seus
membros ou das quais são artífices.
Vamos agora levar tudo isso em consideração.
3. Cf. VIGANó E., La componente laicale...
53

6.6 Page 56

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21.4 Identidade real e ideal
No tecido de relações que constituem a identidade qualitativa
podemos distinguir uma identidade real e uma identidade ideal.
A identidade real é a vivida e produzida, de maneira quer espon­
tânea quer consciente, pelo indivíduo particular ou por um grupo, na
maneira de viver e de agir quotidianamente.
Cada Salesiano tem uma identidade que lhe é própria. Ele a vive
e revela no seu modo de trabalhar, rezar e falar; no seu modo de com­
portar-se com os co-irmãos, os jovens e as pessoas com as quais entra
em contato. Pode estar mais ou menos consciente de seu agir. Toma
conhecimento disso principalmente quando atravessa momentos de
dificuldades ou quando faz uma avaliação particular de sua vida.
Cada comunidade salesiana, local ou inspetorial, tem uma identi­
dade que lhe é própria. Elas a manifestam em sua vivência quotidiana.
Podemos percebê-la na convivência de cada dia e especialmente nas
várias formas de encontros comunitários e nas relações com o territó­
rio no qual elas estão agindo.
A identidade ideal é a projetada como meta em direção à qual se
pretende orientar, justamente porque considerada mais perfeita em
relação à que se está efetivamente vivendo, e que é sempre de uma
forma ou de outra defeituosa.
Ao re-defenir a nossa identidade as Constituições tiveram presente
a experiência dos Salesianos e de suas comunidades e, portanto, a
identidade real deles, qualitativa e comunitária. Usaram o critério
experimentado. Mas, ao mesmo tempo, procuraram definir também a
nossa identidade ideal, de modo que ela externasse o mais possível,
conforme ao Evangelho, aos exemplos e ensinamentos de Dom Bosco,
às indicações autorizadas no magistério atual da Igreja.
Ao apresentar a identidade vocacional do Salesiano leigo, haveremos
de nos referir à sua identidade real acima de tudo, à identidade ideal
delineada pelas Constituições.
21.5 Identidade instituída (institucionalizada)
O salesiano não é uma ilha, pertence a sua Congregação, a uma
comunidade de pessoas regulada por normas. É membro de uma
instituição religiosa e apostólica.
Esse aspecto institucional reencontra na identidade pessoal de
cada um e da identidade coletiva dos Salesianos. É justamente a identi­
dade salesiana assim chamada instituida (institucionalizada)
Quando as Constituições e os Regulamentos indicam os vários tipos
de atividades e de obras nas quais atuamos como missionários dos
54

6.7 Page 57

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jovens, quando descrevem a comunidade salesiana em seus vários níveis
e fornecem indicações e normas para a prática dos conselhos evangé­
licos, para a formação inicial e permanente, para os serviços de autori­
dade, estão definindo exatamente os aspectos institucionais de nossa
identidade.
21.6 Identidade expressa: necessidades e limites
A identidade salesiana expressa é a condição de nossa identidade
real ou ideal e instituída (institucionalizada), feita através de uma expo­
sição, metódica, de um discurso, de um pronunciamento, de normas.
Quando um salesiano ou uma comunidade escreve ou fala de si
mesma, de sua própria vida e atividade, de suas relações com os outros,
de suas atitudes e comportamentos, de seus valores e de seus
projetos, manifesta sua identidade e o faz, quase sempre, de maneira
espontânea.
Mas existe uma forma autorizada para manifestá-la: é o pronun­
ciamento oficial proclamado por autoridades reconhecidas, como o
Papa, o Reitor Mor, os Capítulos Gerais, os Superiores nos diversos
níveis.
Para fazê-lo, hoje em dia, recorrem às intenções e aos exemplos de
Dom Bosco fundador, à tradição, especialmente às Constituições e aos
Regulamentos, que são o texto aprovado e autorizado no qual se encon­
tram descritos os delineamentos fundamentais de nossa identidade.
Esse pronunciamento, assim chamado autorizado, é um pronun­
ciamento indispensável, e a ele se refere, quase que exclusivamente, tudo
quanto havemos de dizer a respeito da identidade do Salesiano leigo.
Entretanto, é um pronunciamento que não se pode tomar absoluto com
prejuízo da descrição espontânea da identidade salesiana. Mesmo den­
tro de suas limitações, esta última, muitas vezes antecipa e prepara os
pronunciamentos oficiais. Se o co-irmãos não tivessem podido se ma­
nifestar-se e não tivessem apresentado suas experiências e suas convic­
ções, não poderíamos ter levado a termo, com a riqueza que hoje em
dia em si encerra, o complexo trabalho de revisão das Constituições.
Devemos então precaver-nos contra a possibilidade de reduzir a
nossa identidade pessoal ou comunitária à reflexões que se fazem a
respeito e, acima de tudo, contra a possibilidade de considerarmos
resolvidos problemas de identidade que ela propõe aos Salesianos,
sacerdotes e leigos, pelo simples fato de que eles, a partir de então,
poderão contar com idéias claras e distintas. Elas são úteis e, até mes­
mo, necessárias para viver de modo autêntico a vocação salesiana. Mas
não exprimem toda a variegada experiência espiritual e apostólica da
Congregação, nem pretendem resolver os problemas .muitas vezes
dramáticos, que apresenta.
55

6.8 Page 58

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21.7 O Caminho histórico da identidade salesiana
Qualquer exposição tende a fixar a identidade em uma espécie de
fotografia. Os que são reacionários à mudança a petrificam e parecem
ignorar que a tensão entre permanência e dinamismo é vital e regular
o desenvolvimento dos seres espirituais.
A identidade das pessoas e das instituições vai mudando com o
passar do tempo. Aos cinqüenta anos uma pessoa é diferente do que
era quando tinha apenas vinte: a vida o transforma mesmo que per­
maneça a consciência de si mesmo. A nossa Congregação tem uma
data de nascimento. Daí por diante ela foi cada vez mais se desenvolven­
do e de espalhando por todo o mundo e se articulando em inspetorias
e regiões, mudou em parte sua configuração jurídica, adaptou-se a
culturas diferentes e às mais diversas gerações de Salesianos. E então,
tudo quando veio acontecendo nos últimos trinta anos, após o impulso
renovador do Vaticano II e das circunstâncias mudadas em que vivemos
e estamos trabalhando, demonstra-o com toda a evidência.
Isso não nos deve maravilhar! Pelo contrário, a Congregação,
envolvida em meio a eventos históricos em constante evolução; para
viver e progredir em seu serviço, teve que assumir as expressões cul­
turais que são próprias desse evento, ou então assumir um novo posi­
cionamento diante dessas expressões, ou então, compartilhar ou não
os aspectos que as caracterizam.
A nossa identidade, portanto, tem uma dimensão temporal, fica
submetida à evolução da história e ao seu dinamismo. No que se refere
aos Salesianos coadjutores, o temos visto, indica muito bem os ca­
minhos e as mudanças que houve. A nossa tradição resumiu esse pro­
cesso na expressão: com Dom Bosco e com os tempos, ao passo que
o magistério salesiano, faz uns bons tempos prefere falar de fideli­
dade dinâmica4.
21.8 O sentido de identidade coletiva
Nos períodos de crises vocacionais muitas vezes nós nos interroga­
mos a nós mesmos sobre o sentidoda própria vida. Nos anos do
pós concílio a nossa Congregação perguntou-se a si mesma se, por
acaso, a figura do Salesiano Coadjutor poderia ainda ter sentido em
um mundo que havia mudado tanto. Alguns até mesmo, se haviam
resignado ao desaparecimento dele, tão fracamente acreditavam nele.
Tratou-se de atitudes certamente dignas de críticas e, com toda a jus­
tiça, denunciadas, bem reais, infelizmente.
4. Cf. AGGE specialmente il documento 2 intitolato Don Bosco nell’Oratorio
criterio permanente di rinnovamento dell’azione salesiana (nn. 192-273).
5. Cf. VIGANÓ E., La componente laicale... 16; ID. La Società di san Francesco
di Sales..., 273 s.
56

6.9 Page 59

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Uma identidade pessoal e coletiva tem o seu sentido, desde que
seus componentes continuem coerentes e significativos, para as pessoas
e dignos de credibilidade da parte dos outros. Caso venha a faltar essa
tolerância, se ela se torna, sob vários pontos de vista, insignificante,
pouco legível e digna de crédito, a identidade fica, então, sem nenhum
valor e entra em crise.
O enorme trabalho que a nossa congregação, levou a termo nesses
vinte últimos anos colimou a reconquista e a confirmação, para os
Salesianos sacerdotes e para os Salesianos leigos, de que sua própria
vocação tem um sentido atual, na Igreja, a serviço de imenso mundo
dos jovens, especialmente os mais pobres.
2.2 ALGUNS ASPECTOS GERAIS DA IDENTIDADE DO SALESIANO
COADJUTOR: CRITÉRIOS
Esclarecendo diversos sentidossegundo os quais se fala, hoje
em dia, de identidade salesiana, vamos agora apresentar dela vários
aspectos.
Alguns deles são essenciais e determinados, ao passo que outros
não o são, mesmo sendo importantes.
Os fins e os valores profissionais constituem, sem dúvida, os com­
ponentes que determinam a nossa identidade vocacional. As Constitui­
ções falam da nossa consagração apostólica que compreende o espírito
salesiano, a missão, a comunidade fraterna, a prática dos conselhos
evangélicos, o diálogo com o Senhor na oração, pretendem referir-se
aos valores morais e religiosos nos quais acreditamos e que alimen­
tam a nossa vida.
São eles delineamentos vocacionais tão importantes e centrais que
merecem uma reflexão à parte. É o que vamos fazer.
Assinalamos aqui outros aspectos de nossa identidade que, influem
de várias maneiras, sobre os aspectos essenciais e, ao menos, em parte
os condicionam. Por isso precisam ser tidos na devida consideração.
22.1 A consistência numérica e a colocação geográfica
A consistência númerica dos Salesianos, padres e coadjutores, e
a sua colocação geográfica são fatores de identidade. Na Congregação
sempre se demonstrou particular atenção a esses detalhes. A respeito
disso se interessam tanto os superiores como os Capítulos gerais,
colhendo dos motivos de esperança ou de preocupação, de acordo com
os dados oferecidos. A última declaração a respeito foi feita pelo
Reitor Mor ao Capítulo Geral 22: Tenho que lançar um grito de
alarme. Na primeira parte (da relação sobre o estado da Sociedade)
nós nos detivemos, com intencionada diligência, em apresentar, para
cada continente, os dados estatísticos referentes aos co irmãos coadju-
57

6.10 Page 60

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tores. Daí adveio um panorama preocupante. Ao passo que na Igreja
se está falando de uma hora de laicato, poderia parecer que os Insti­
tutos masculinos de vida ativa (nós incluídos entre eles) não soube­
mos envolver esse aspecto no processo de renovação da respectiva
comunidade religiosa. No que se refere a nós, Salesianos, quanto mais
nos voltarmos aos nossos destinatários preferenciais, principalmente
no terceiro mundo, tanto mais sentimos angustiosamente o impacto
negativo da queda numérica dos coadjutores.
“A comunidade salesiana não pode prescindir dessa figura tão ca­
racterística de sócio, que testemunha prioritariamente um de seus
componentes constitutivos. Vamos enumerar alguns dos graves pro­
blemas que continuam em aberto:
antes de tudo, a queda numérica de irmãos coadjutores;
o fato de que haja diversas inspetoriais sem noviços coadjutores;
o fato de, em muitos irmãos, permanecer uma mentalidade
alienada, em relação e esses graves problemas, por ignorância
ou por preconceito;
certa mágoa, em alguns, alimentadas por preconceitos que levam
em consideração os valores do sacerdócio e do laicato, não par­
tindo da síntese da mútua complementaridade, própria do
espírito salesiano, mas sim a partir de considerações genéri­
cas, que servem para enfraquecer a índole própria de nossa
comunidade; (...)
o enfraquecimento e a diminuição das contribuições específicas
do ministério sacerdotal na ação da comunidade, em confor­
midade com os critérios pastorais do sistema preventivo;
um secularismo que cresceu muito na mentalidade e nas atitu­
des de não poucos irmãos sacerdotes.
(...) Não é tão somente uma categoria de sócios que se encontra
em crise, mas sim e sobretudo, o componente laical da própria comu­
nidade que está sendo questionada e deve ser re-pensado, em termo de
fidelidade a Dom Bosco e aos tempos”6.
A queda numérica assinalada constitui um problema, mas não deve
gerar atitudes negativas, de qualquer espécie que seja, mágoa, pessimis­
mo, desconfiança... deve, antes de mais nada, provocar um renovado
empenho para tomar conhecida, quer dentro da Congregação, quer no
mais vasto território no qual trabalhamos, a nova identidade de Sale­
sianos presbíteros e leigos, como também para promover a iluminada,
corajosa e cheia de esperança pastoral vocacional.
22.2 Os apelativos de Coadjutore Salesiano leigo”
Escolher, aceitar ou mudar o nome não é coisa indiferente ou tão
apenas formal. Quer queiramos quer não, o nome classifica uma pessoa
6. VIGANó E., La Società di san Francesco di Sales..., 273s.
58

7 Pages 61-70

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7.1 Page 61

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ou um grupo, revela a sua pertença a um determinado mundo cultural
e a uma anexa gama de valores e de não valores, que atingem a
identidade.
Nas Ordens e Congregações religiosas não exclusivamente laicais,
vimos, os membros leigos são nomeados com diversos apelativos:
ou são chamados conversos, oblatos, servidores, ou então de irmão,
co-irmão, coadjutores, auxiliares, discípulos. Todos esses apelativos
nasceram dentro de um conteúdo cristão e evocam ou então evocavam,
junto aos fiéis, valores evangélicos, como por exemplo, os conversos;
a conversão; os oblatos: a doação de si mesmos; os servos: o serviço
cristão; os irmãos ou co-irmãos: a fraternidade religiosa; os coadjuto­
res: a ajuda e a colaboração; os discípulos: o discipulato evangélico.
Por outro lado, foram apelativos utilizados em determinados con­
textos. Justamente por isso, além dos valores evangélicos indicavam
também outros aspectos da vida e da ação dos religiosos leigos, quer
dentro do respectivo Instituto, quer no mais vasto ambiente da Igreia
e da sociedade. Concretamente designavam:
os afazeres, sejam simples sejam, de várias maneiras, relevan­
tes, e os papéis, às mais das vezes, subordinados, dos religiosos leigos;
o seu tipo de presença na vida comunitária, como categoria à
parte, ou então como irmãos em de igualdade com os religiosos
presbíteros;
o relacionamento que mantinham com esses últimos e que eram
constituídos ou por serviços, ou por ajuda ou por colaboração, em
de igualdade;
seu grau de formação e o seu nível cultural.
Numa palavra, os apelativos indicavam o seu statussocial e
cultural, canônico e religioso, de grupo, categoria, de classe”.
Dom Bosco, bem o sabemos, para indicar os sócios leigos da sua
Congregação, se ateve à legislação canônica vigente em seu tempo e
escolheu o apelativo de coadjutores. Esse apelativo se constituía em
problema no meio dos Salesianos de então, mas ele não quis que fosse
trocado por outro.
Ao longo dos últimos vinte anos o problema foi vindo novamente
à tona. Nos últimos capítulos gerais do pós Concílio surgiu a discussão
a respeito do problema: manter ou trocar o apelativo de “Coadjutores.
Para alguns era esse o nome que havia sido dado por Dom Bosco
Fundador. Está carregado de valores ligados à nossa tradição e a tantas
admiráveis figuras de Salesianos leigos. Modificando-o estar-nos-íamos
expondo ao risco de nos separarmos de nossas raízes e do patrimônio
salesiano e cultural de nossa Sociedade.
Para outros o apelativo de coadjutortraduz, de maneira inade­
quada os significados da tradição e é, hoje em dia, incompreensível
fora dos nossos ambientes. Além disso, evoca uma espécie de imagem
59

7.2 Page 62

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caracterizada por certa dependência, marginalidade e “discriminação”.
É uma imagem que não mais se pode apresentar como proposta a
possíveis aspirantes à vida salesiana. Por isso a mudança desse apelativo
era considerada não útil, mas até mesmo necessária.
Levando em consideração esses vários motivos, e, de modo parti­
cular, o fato de que "a nossa Sociedade é composta de clérigos e de
leigos que vivem a mesma vocação em fraterna complementaridade,
(nota 7) as constituições renovadas escolheram, para uns e outros o
substantivo Salesiano, que conota a única vocação, a que se deve
acrescentar, depois, o adjetivo coadjutor” ou leigoe presbítero
ou padres, capaz de especificar a forma vocacional própria8
Foi por isso que quisemos, por um lado, ser fiéis ao querer
de Dom Bosco, e por outro lado, ir de encontro ao atual conteúdo da
linguagem e das espectativas dos Co-irmãos. Mas, acima de tudo, teve-se
em mente sublinhar as relações de plena igualdade entre Salesianos
padres e Salesianos leigos, tema esse de suma importância e ligado à
sua expressa vontade e sobre o qual insistiram muitas vezes os seus
sucessores, como aspecto original da nossa identidade.
22.3 Influxo das estruturas
A estrutura faz parte da identidade e os vários tipos de estrutura
da Congregação influem sobre a nossa identidade:
Nós salesianos somos reconhecidos na Igreja como instituto reli­
gioso clerical, de direito pontifício, entregue às obras de apostolado’.
São esses os delineamentos jurídicos essenciais de nossa identidade na
Igreja10.
É bom que se note e perceba que o caráter “clericalde nossa
Congregação deve ser entendido tecnicamente em seu específico
sentido canônicoExprime, na forma jurídica um aspecto de sua
realidade carismática. Com efeito, implica que o serviço de animação
e de governo das comunidades chamados para ser, enquanto tal,
núcleo propulsor da pastoral juvenil seja confiado, em seus vários
níveis, a um irmão presbítero, para isso qualificado pela graça do
ministério sacerdotal e pela competência pessoal, como também pela
sensibilidade pastoral. Porém a característica desse serviço que Dom
Bosco quis e a tradição confirmou, motivando-a, está estritamente vin­
culada a uma especifica valorização do componente laical. Na comuni­
dade, com efeito, clérigos e leigos vivem a mesma vocação em fraterna
complementaridade, reza o art. 4 das Constituições. Nela acrescenta o
7. C. 4.
8. C. 45, 116, 45, 106.
9. C. 4.
10. Para um comentário autorizado a respeito dessa afirmação pode se fazer
referência ao volume O projeto de vida dos Salesianos de Dom Bosco
60

7.3 Page 63

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art. 45 cada um é responsável pela missão comum e dela participa
com a riqueza dos seus dons e das características laical e sacerdotal
da única vocação salesiana.
Essa confluência e contribuição de riqueza diversificadas alimenta
o nosso espírito de família que é contrário a atitudes, seja ela como
for, de discriminação entre os irmãos.
Outras estruturas, com relação a isso, se revestem de uma impor­
tância toda sua própria, que não deve ser substimada. São:
as estruturas operativas: escolas, oratórios, paróquias, centros
de estudos superiores, editoras, livrarias, missões, centros de acolhida,
centros de espiritualidade;
as estruturas formativas: campi escolares", aspirantados,
noviciado, estudantados, universidades;
as estruturas de comunicação: Atos do Conselho Geral, Boletim
Salesiano, noticiários inspetoriais, visitas dos superiores, encontros
comunitários de âmbito local, inspetorial, regional, internacional, con­
gressos e simpósios;
as estruturas de governo, como o exercício da autoridade em
seus vários níveis;
as estruturas financeiras: os economatos e os escritórios
administrativos em seus vários níveis;
Prescindindo, por ora, das estruturas de governo, parecem opor­
tunas algumas considerações sobre o influxo que as outras, acima
elencadas, tem em relação com a identidade salesiana, individual e
coletiva.
As rápidas e profundas mudanças sociais e culturais que se verifi­
caram nos últimos trinta anos, exigiram, por sua vez, alterações de
relevo nas estruturas operativas e formativas. As novas atribuições
profissionais provocaram a superqualificação de alguns Salesianos
coadjutores. Para fazer frente às aumentadas exigências das escolas
profissionais, dos centros editoriais, dos institutos superiores, tornou-se
necessário a qualificação em nível universitário e consecução de títulos
acadêmicos. Por outro lado, esses mesmos fenômenos acima citados
levaram à desqualificação de outros. O progressivo fechamento de
algumas oficinas (de alfaiatarias, de sapateiros, de carpinteiros), de
escolas profissionais e agrícolas levou certo número de Salesianos
coadjutores a abandonar tarefas profissionais de prestígio, cumpridas,
em não poucos casos, por muitos anos, e em seguida, adatar-se a outras,
muitas vezes menos qualificadas e gratificantes. Essas mesmas tare­
fas, em seguida, os subtraíram ao contato pessoal e prolongado com
os jovens, os quais, dessa forma, não puderam mais encontrar e con-
preender ao vivo, em todo o seu significado, o modelo de vida do
Salesiano leigo.
61

7.4 Page 64

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Esses fenômenos levaram, além disso, à permeabilidade dos papéis:
tarefas como as do mestre de artes e ofícios, do diretor editorial, do
chefe de oficina, reservados, em um passado próximo, aos Salesianos
coadjutores, foram assumidos também por Salesianos padres.
Numa palavra, as mudanças das estruturas operativas incidem ora
mais ora menos, mas com certeza, na evolução da identidade, causam
crises de papéis e condicionam o fluxo das vocações.
Na formação inicial e permanente será, portanto necessário levar,
na devida consideração esse fenômeno, sob certos pontos de vista, posi­
tivo, ao passo que, debaixo de outros, negativo e preocupante. As mu­
danças sociais e culturais, devidas ao contínuo progresso da ciência e
da técnica fazem com que desapareçam alguns papéis e comecem a
aparecer outros, exigem pessoas formadas, de modo que possam perio­
dicamente voltar a qualificar-se e assumir novas tarefas, como também
acolher novos valores, indo, assim, de encontro aos desvalores que
se seguem às mudanças profundas e aceleradas.
Hoje em dia as nossas estruturas estão codificadas. As Constitui­
ções, os Regulamentos, a Ratio, os diversos diretórios juntamente com
as indicações contidas em nossa vida e ação.
Além da condição normativa escrita, também temos usos, costumes
e praxes, geralmente não codificados, mas que, da mesma forma,
influem em nosso modo de viver, de trabalhar e de rezar.
As nossas estruturas codificadas atingem o escopo de levar com segu­
rança na direção de uma autêntica vida Salesiana, tão somente quando
são escolhidas e praticadas fielmente. A nossa identidade é impulsio­
nada mais pela interiorização de uma estrutura do que pela sua
codificação, mesmo que ela seja identificada em seu valor, e, em segui­
da, codificada.
Que a nossa identidade de Salesiano, padres e leigos, seja vitalmen­
te assinalada, positiva ou negativamente, mais por efeito das normas
de fato praticadas do que por aquelas outras que foram simplesmente
codificadas, isso é algo que experimentamos e, muitas vezes, até
mesmo sofremos, no período do pós Concílio, quando foi o caso de
se por em prática o texto renovado das Constituições e as delibera­
ções dos vários Capítulos gerais.
Seja como for, a experiência recente nos convence sempre mais
de que a renovação de nossas estruturas, especialmente as operativas
e formativas, supõe e exige a renovação da mentalidade, pessoal e co­
munitária, tanto dos Salesianos padres como dos Salesianos coadjuto­
res. Trata-se, em última análise de um problema de renovação de
identidade 11.
11. Cf. ACGE 184; ACG 21 206; VIGANÓ E., La componente laicale..., 39s.; ID.
La Società di san Francesco di Sales.... 236-238.
62

7.5 Page 65

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22.4 Os valores econômicos e estéticos
Na nossa congregação, juntamente e em dependência dos valores
morais e religiosos, que são com certeza essenciais e centrais, e que
serão apresentados mais adiante, existem outros valores, a saber: os
econômicos e os estéticos, o útil e o belo, o espírito de família e a
alegria, que tocam a nossa identidade de maneira mais consciente,
talvez, do que o poderiam supor pessoas idealistas demais.
Os bens econômicos desempenham um papel todo especial na vida
e na atividade dos membros de nossa Sociedade. Seria suficiente
relembrar o quanto empenharam na atividade de Dom Bosco: quantas
preocupações, quanto trabalho, quantas iniciativas, quantas cartas e
quanta confiança na Providência, tudo isso com a finalidade de encon­
trar o dinheiro necessário para sustentar os seus jovenzinhos, para
criar um clima de alegria e para levar adiante as suas obras. Deixar
na sombra este setor da vida de Dom Bosco, nosso Fundador, equivale­
ria a tomá-lo, sob vários aspectos, incompreensível e, seja como for,
seria obscurecida sua figura de organizador, de educador dos jovens
e de padre da Providência 12.
Os meios econômicos são indispensáveis para atingir os objetivos
culturais, educativos, pastorais, assistenciais e missionários que a nossa
Congregação tem pela frente, com suas múltiplas obras e atividades.
Na história passada e recente os Salesianos coadjutores oferece­
ram e continuam oferecendo ainda hoje em dia uma contribuição mui­
tas vezes relevante no que se refere ao acúmulo de trabalho e no que
se refere à competência para o encontro e a administração desses bens,
para o financiamento e a sustentação de obras frequentemente cus-
tosíssimas.
Na atual cultura, de molde materialista, os observadores externos,
mais ou menos benévolos ou críticos para com as instituições religio­
sas, estão, particularmente atentos a esses valores. Os bens móveis ou
imóveis de um Instituto podem apresentar um testemunho de pobreza,
de serviço, de partilha. Pelo contrário, podem também constituir se em
contra-testemunho. Afinal não são indiferentes: servem para conferir
ao religioso, padre ou leigo, uma imagem digna de credibilidade, mas
podem também pôr em crise a identidade, a sua compreensão e a sua
força de estímulo. O artigo 77 das Constituições nos empenha com
relação a issc: “a exemplo e no espírito do Fundador, aceitamos a
posse dos meios exigidos pelo nosso trabalho e administrá-los de
maneira que a todos se torne patente sua finalidade de serviço. A
escolha das atividades e a localização das obras correspondam às carên­
cias dos necessitados, as estruturas materiais inspirem-se em critérios
de simplicidade e funcionalidade.
12. Cf. STELLA P., Don Bosco nella storia economica e sociale, 1815-1870. (Roma
Las 1980).
63

7.6 Page 66

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As Ordens e Congregações religiosas também dispõem, algumas
mais, outras menos, de valores estéticos de um patrimônio arquitetô­
nico e pitórico próprio, constituído por mosteiros, conventos, igrejas,
hospitais, escolas, casas e caracterizado por um estilo todo próprio,
severo e austero em alguns casos, opulento e sensível em outros, sóbrio
e alegre ainda em outros.
As pretenções dos Salesianos em questão de estética são, na
maioria das vezes, simples. Todavia, exportaram para o mundo inteiro
projetos de igrejas e de escolas, de quadros e de imagens, de tipos de
teatro que deixaram e ainda estão deixando sua marca a respeito da
identidade coletiva da Congregação.
Esse patrimônio é motivo de ufânia pelo fato de que muitas vezes,
reflete e se harmoniza com os gostos populares, ou então, as vezes,
de crítica, pelo fato de que não nos mostrarmos bastante sensíveis
em questão de formas arquitetônicas e iconográficas dos países nos
quais trabalhamos.
De qualquer maneira aqui é que emerge um dos tantos aspectos
da relação vida e cultura salesiana.
22.5 Incidências da cultura sobre a identidade salesiana
Com efeito a cultura é um dos componentes que mais determinam
a nossa identidade, individual e coletiva. Juntamente com as outras
assinaladas, entre os quais, de resto, insere suas raízes, contribui em
larga escala, para imprimir delineamentos fisionômicos, ao menos em
parte, no rosto da Congregação e dos seus sócios.
A. Cultura e culturas
Com a palavra cultura costuma-se indicar um conjunto de noções,
crenças artes, costumes e todos os outros tipos de capacidades e de
constantes atividades que são próprias do homem como membro da
sociedade. É a vida de um povo. Ela abrange os valores que o animam,
os desvalores que os debilitam e que, sendo partilhados pela multidão
dos membros, o reunem em base de uma mesma consciência coletiva.
São cultura também as formas pelas quais esses valores ou desvalores
se exprimem e configuram, a saber os costumes, a língua, as instituições
e as estruturas da convivência social, quando não são impedidas e
reprimidas por outras culturas dominantes.
Existem, não uma só, mas muitas culturas, de conformidade com
os povos e ambientes: caracterizam-se pelos diferentes modos de con­
ceber a vida, usar as coisas, exprimir-se e por-se em relação com os
outros, e, acima de tudo, de postar-se perante o Absoluto, perante
Deus. Encontra-se nelas elementos que revelam o fundo humano
comum e a ação divina sobre a humanidade, antes mesmo do anúncio
do evangelho 13.
13. Cf. AG 4.
64

7.7 Page 67

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B. A Igreja, a Congregação e as Culturas
A Igreja não pode prescindir dessas culturas, mesmo não se iden­
tificando com nenhumas delas. Precisa delas para exprimir a própria
14 para aprofundar a própria mensagem de salvação 15 e para chegar
a tomar decisões concretas em sua ação evangelizadora.
Então é que se compreende por que ela procura compreender
seus elementos de unidade e suas diferenciações, para nelas se encarnar,
assumi-las e promover sua purificação, seu enriquecimento e sua
transformação até o ponto de abrí-las, em continuidade e, ao mesmo
tempo, em descontinuidade com a situação presente16 à adesão a Deus
e ao serviço do homem.
As Ordens e Congregações religiosas têm, também elas, uma cul­
tura que lhe é própria. Na medida em que essa cultura depende da
cultura cristã de determinado período histórico, ser-lhe-á fácil escolher e
revelar alguns aspectos de acordo com seu carisma e mais úteis à sua
atividade apostólica, tornando-se, às mais das vezes, uma sub-cultura
católica.
Dom Bosco e a nossa Congregação fizeram suas escolhas e
puseram em circulação uma cultura salesiana devedora, sob tantos
aspectos, à cultura cristã do século passado e do nosso século também.
Sua genialidade espiritual e pedagógica se revelou e exprimiu prefe­
rencialmente na práxis apostólica e no momento de reflexão que sem­
pre a acompanha.
Hoje, o artigo 7 das Constituições declara: abertos às culturas
dos países que trabalhamos, procuramos compreendê-las e acolhemos
seus valores, para encarnar nelas a mensagem evangélica”.
A cultura (ou sub-cultura) salesiana tem os próprios lugares de
produção, uma rede de difusão e um sistema cultural suficientemente
completo: lugar, rede, e sistema são identificáveis.
C. Os lugares de produção e a rede de difusão
Os lugares de produção da cultura salesiana são todos os centros
encarregados de elaborar orientações doutrinais e operativas para os
que pertencem aos vários grupos da Família Salesiana. Portanto, antes
de tudo, as casas generalícias dos SBD e das FMA. Em seguida, os
nossos centros de estudos e de formação, as casas editoras, os vários
tipos de escola. A exigência de inculturar o Evangelho; de acordo com
o nosso carisma poderá ser satisfeito na medida em que existirem e
funcionarem bem esses centros de elaboração cultural distribuídos nos
vários contextos e qualificados, em sentido salesiano e científico.
14. Cf. EN 63.
15. Cf. LG 13.
16. EN 28.
65

7.8 Page 68

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Juntamente com esses centros produtores de cultura assim chamada
douta, devem ser, como eles, devidamente valorizados outros: as
escolas profissionais de diversos tipos, os oratórios e os centros juve­
nis, que produziram no passado e continuam presentemente pro­
duzindo, especialmente por via do trabalho dos Salesianos leigos, uma
cultura do trabalhocaracterizada pela solidariedade, partilha e
profissionalidade e uma cultura popular, hoje em dia fortemente
revalorizada.
A rede de difusão da cultura salesiana é constituída pelos meios de
comunicação que utiliza: desde os tempos de Dom Bosco a imprensa
e, mais recentemente, os outros mass-media. As nossas obras tam­
bém são igualmente, outros tantos transmissores culturais e, por di­
versas razões, se tornam também instrumentos de transmissão, mais
ou menos filtrada, de outras culturas rivais ou simplesmente estra­
nhas. Basta acenar ao fato de que, em não poucas nações, as nossas
escolas estão, de diversas maneiras, vinculadas à programas de estudo
fixadas por governos laicistas e com pessoal não salesiano e, muitas
vezes, nem sequer escolhidos por salesianos. Poderemos estar expos­
tos ao risco de deixarmos que se perca a nossa identidade e originali­
dade salesiana.
Cada salesiano, padre ou coadjutor, é por sua vez, de um jeito ou
de outro, um receptor e um transmissor. Na medida em que assimilar
a cultura salesiana, ele a difunde ao seu derredor, misturando-a com
a do ambiente no qual trabalha. A potência desses transmissores é
variada. Um Salesiano leigo ou padre, que haja perdido ou tenha
deixado empobrecer gravemente a sua identidade, se toma um canal
que não comunica, com todas as consequências; que conhecemos, no
campo pastoral e da formação vocacional.
D. Um Sistema Cultural
Essa rede transporta em meio à Igreja e à sociedade um sistema
cultural salesiano, cujos aspectos vão variando de um tempo para outro
e que merece ser delineado, nem que seja em largos traços. Globalmen­
te a esse sistema cultural se refere o primeiro artigo das constituições.
a) Uma história e um calendário salesiano
As datas principais dessa história sagrada salesiana são conhe­
cidas e, em geral, são relembradas. Referem-se a alguns momentos
importantes da vida de Dom Bosco, assinalados pela presença divina.
As Memórias do Oratório, escritas por Dom Bosco e as Memórias
Biográficas, o testemunham de maneira assaz e evidente.
Apesar de, hoje em dia, se estar mais atentos na avaliação de seu
conteúdo, todavia é inegável que essa história sagrada salesiana trans­
mitiu e continua ainda a transmitir acontecimentos que fazem parte
das raízes de nossa vida e de nosso espírito.
66

7.9 Page 69

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Como os outros Institutos religiosos, também a Familia Salesiana
tem um seu calendário que se insere no dia da Igreja e que se adapta
à própria vida. A partir da festa de Todos os Santos, ele retoma o
ciclo da salvação, marcando-o, de tanto em tanto, com anotações
piedosas e jucundas: são as festas e os aniversários de nosso calendário;
os encontros de oração que escandem os principais momentos do
dia, do mês, do ano.
b) Uma geografia e uma onomástica salesiana
A Geografia se concentra ao derredor dos lugares onde viveram
nosso Fundador e os outros santos de sua Família. Seus nomes, junta­
mente com os do Sagrado Coração e de Maria Auxiliadora são titulares,
em diversos países, de obras, Instituições locais eclesiásticas e civis,
e compõem, por assim dizer, junto aos nomes com os quais são desig­
nados na Congregação os titulares de diversos cargos (Reitor Mor,
Conselheiros, Inspetores, Diretores, Ecónomos) a onomástica salesiana.
c) Um ritualismo e uma sensibilidade ética salesiana
Na tradição salesiana existe um ritualismo religioso derivado de
costumes populares locais e que se propagou em seguida por todo o
mundo: o sinal da Cruz ao levantar-se pela manhã, as orações para
antes e depois das refeições, a visita quotidiana ao SS. Sacramento,
a reza do Angelus três vezes por dia, as três Ave-Marias ao da cama
antes de se deitar, à noite. Nos vários países outros usos locais reli­
giosos se acrescentaram ou vieram a substituir esses que acabamos
de elencar.
É própria dos Salesianos também a característica sensibilidade
ética, que se liga à doutrina de Santo Afonso e que professa uma parti­
cular delicadeza em se tratando de castidade, que cultiva uma obediên­
cia e um amor, até mesmo pessoal, ao Papa e aos Bispos, que valoriza
de modo todo particular os sacramentos da Eucaristia e da Penitência.
d) Um pensamento filosófico-teológico na base do Sistema
Preventivo
Em se tratando de filosofia e de teologia os Salesianos mesmo
enfrentando em sua primeira formação estudos sérios e especializações
empenhativas, preferiram sempre a simplicidade. Às graves e insisten­
tes questões eles deram como respostas as mais simples, isto é, as
que se inspiravam no bom senso cristão da época. No período do pós-
Concílio, estimulados pela renovação, promovida pelo Vaticano II,
fizeram progressos relevantes. Seja como for, o sistema educativo
que Dom Bosco lhes deixou como herança preciosa, os obrigou,
67

7.10 Page 70

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desde os inícios, a tomar posição a respeito do destino dos jovens mais
necessitados. Hoje em dia, mais do que nunca, uma vez que a atuação
do Sistema Preventivo, que faz parte do patrimônio pedagógico da
Igreja, os leva a pesquisar e assumir os resultados das ciências do
homem e da educação, e, portanto, a responder às indagações e
desafios do tempo e da condição juvenil.
e) Uma “política” salesiana
Por tradição, a política salesiana respeita todas as autoridades,
civis e religiosas, e tem por mira, onde quer que seja, a conquista de
amigos, sem que isso queira dizer necessariamente tolerância, em
cada caso, da ordemestabelecida. Tem como objetivo o bem
comume, nem tanto assim, o podere se empenha na educação
para a responsabilidade social.
Nos Capítulos gerais do pós-Concílio manifestou-se uma atualizada
sensibilidade que, em sintonia com as orientações do magistério ecle­
siástico ou com a alma mais verdadeira de nossa tradição, define o
comportamento do Salesiano nesse assunto sempre difícil e problemá­
tico. Nós trabalhamos em ambientes populares e para jovens
pobres. Educamo-los às responsabilidades morais, profissionais e
sociais, colaborando com eles e contribuimos para a promoção do
grupo e do ambiente. Participamos, na qualidade de religiosos, do tes­
temunho e do empenho da Igreja pela justiça e pela paz. Permanecendo
independentes de qualquer ideologia e política de partido, rejeitamos
tudo aquilo que favorece a miséria, a injustiça e a violência e coopera­
mos, com todos os que constroem uma sociedade mais digna do
homem. A promoção a qual nos dedicamos com espírito evangélico,
realiza o amor libertador de Cristo e constitui um sinal da presença
do Reino de Deus” 17.
f) Uma hagiografía salesiana
Na Família Salesiana temos, hoje em dia, à disposição uma rica
literatura dedicada à figura e à obra de nosso Fundador, de seus suces­
sores, de santos de sua família espiritual, de figuras eminentes ou, até
mesmo, simples, mas todas significativas.
A referência a tais modelos de santidade é importante para a nossa
vida e ação. Eles são testemunhas de uma identidade salesiana
atingida e, em alguns casos, canonizada pela Igreja.
O conhecimento, progressivo aprofundado, de sua vida e especial­
mente de suas virtudes deveria tornar-se um conteúdo insubstituível
da pastoral vocacional e da formação inicial e permanente.
17. C. 33.
68

8 Pages 71-80

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8.1 Page 71

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E. Incidência da cultura sobre a identidade do Salesiano Coadjutor
O fator culturaincide também e não pouco, na vida dos Salesia-
nos coadjutores e nas suas relações com os Salesianos padres. Pode
condicionar vários tipos de contribuição com relação a esse assunto.
Em nossa história sempre se percebeu a exigência, hoje em dia plena­
mente reconhecida nas Constituições, de garantir para os Co-irmãos
leigos, no que se refere às suas capacidade e aptidões, uma adequada
formação humanística, teológica e profissional. É condição indispensá­
vel para que possam ser agentes produtores e difusores qualificados de
cultura salesiana, de tipo acadêmico ou popular, como se queira, espe­
cialmente se posta a serviço do mundo do trabalho.
A crise que, faz mais de vinte anos, atravessa, de formas e em
medidas diferentes, todos os Institutos religiosos, não excluídos os que
são apenas laicais, tem, entre outras, raízes culturais. Deve ser atribuí­
da às mais ou menos profundas repercussões que sobre a identidade
religiosa-cultural dos diversos Institutos, exercitam as súbitas mudan­
ças culturais que se verificaram recentemente.
Por isso, a busca de soluções não poderá prescindir de um lúcido
diagnóstico da realidade dos países onde trabalhamos e de uma correta
interpretação sua à luz da fé. assim será possível colher as exigên­
cias, os apelos e, em última análise, os imperativos morais destinados
a dirigir as escolhas e intervenções operativas.
23. DELINEAMENTOS FUNDAMENTAIS DA IDENTIDADE
DO SALESIANO COADJUTOR
As finalidades e os valores morais e religiosos, nós o dissemos,
constituem os aspectos mais profundamente qualificantes da nossa
identidade de Salesianos, leigos e padres. Vamos agora oferecer aqui
uma ampla descrição.
23.1 Na Família Salesiana, a Comunidade SDB,
uma comunidade original
Para descrever finalidades e valores, as Constituições se utiliza­
ram da linguagem atual inspirada pelo Vaticano II. Falam de carisma
de Dom Bosco, de vocação salesiana, de consagração apostólica, de
missão juvenil, de comunhão fraterna, de prática dos conselhos evan­
gélicos, de espírito de Dom Bosco.
“Identidade Vocacional Salesianaé a fórmula breve com a qual
os nossos textos oficiais exprimem essa riqueza de dons (nota 18).
Estamos tocando aqui a razão profunda do nosso ser e do nosso
agir, isto é a que nos qualifica e caracteriza. Se a identidade vocacio-
18. ACG 21 171; ACG 22 p. 148.
69

8.2 Page 72

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nal chegar a perder sua têmpera e a perder sua força, os componentes
até agora elencados, mesmo se dignos de todo o apreço, reduzem-se a
bem pouca coisa. Portanto com muita razão os recentes Capítulos gerais
e as novas Constituições se preocuparam em redefinir acima de tudo
a nossa identidade vocacional.
Ao executar esse delicado trabalho de discernimento eles se refe­
riram a Dom Bosco; à sua vida e à sua obra, ao seu espírito e, em
geral, ao seu projeto apostólico. Nós, Salesianos de Dom Bosco,
reza o artigo 2 das Constituições formamos uma comunidade de
batizados que, dóceis à voz do Espírito, intentam realizar numa forma
específica o projeto apostólico do Fundador.
Esse projeto envolve um vasto movimento de pessoas que, de diver­
sas maneiras, trabalham pela salvação da juventude. Fazem parte dele
os vários grupos da Família Salesiana. Nela, por vontade do Fundador,
temos particulares responsabilidades: manter a unidade do espírito
estimular o diálogo e a colaboração fraterna, em vista de um recí­
proco enriquecimento e de uma maior fecundidade apostólica ”.
Nesse quadro se delineia a nossa identidade. Os Salesianos
declara o CGS iniciando a reflexão sobre a Família Salesiana não
podem repensar integralmente a sua vocação na Igreja sem se referir
aos que, juntamente com eles, são os portadores da vontade do
Fundador20.
Por sua vez, a identidade vocacional do Salesiano leigo e padre;
foi definida a partir de sua condição de membros da Comunidade
salesiana: O mandato apostólico que a Igreja nos confia é assumido e
realizado em primeiro lugar pelas comunidades inspetoriais e locais,
cujos membros tem funções complementares com incumbências todas
elas importantes. Disso elas tomam consciência21.
O Salesiano leigo nela vive, trabalha, reza, testemunha a sua voca­
ção, fraternalmente acompanhada pelos co irmãos e empenhado corres-
ponsavelmente junto com eles. Nela ele revela a si mesmo e aos outros
a sua identidade22.
A. Uma comunidade fraterna
O texto das Constituições apresenta, antes de tudo, a nossa identi­
dade coletiva de salesianos. Dentro dessa moldura, em seguida identi­
fica os delineamentos próprios dos salesiano leigo e do Salesiano padre;
uma vez que de Deus recebem a vocação em vista de sua entrada na
comunidade, (nota 23) Cada um de nós diz o art. 22 é chamado
por Deus para fazer parte da Sociedade Salesiana. E vive a sua vocação
19. c. 5.
20. ACGE 151.
21. C. 44.
22. Cf. ACG 21 171.
23. Cf. C. 22, 23, 45, 52.
70

8.3 Page 73

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dentro dela, com a consciência da sua comum dignidade de irmão que
Dom Bosco quis e a tradição salesiana repetidas vezes refrisou: Entre
os sócios da Congregação afirmou Dom Bosco não distinção
alguma: todos são tratados da mesma maneira, quer sejam artesãos,
quer sejam clérigos, quer sejam padres; nós nos consideramos a todos
como irmãos24:
O Pe. Rinaldi assim escreveu em 1927: Quando (Dom Bosco)
começou a pensar na fundação de uma nova sociedade religiosa, quis
que todos os membros sacerdotes, clérigos e leigos, gozassem dos
mesmos direitos e deveres. Para ele os sacerdotes assumem, sim, com
a ordem sagrada, maiores deveres e responsabilidades, mas os direitos
são iguais, tanto para eles e os clérigos, como para os coadjutores, os
quais não constituem de modo algum, uma segunda ordem, mas são
verdadeiros salesianos, obrigados à mesma perfeição e a exercitar, cada
um e na própria profissão, arte ou ofício, o idêntico apostolado educa­
tivo que forma a essência da sociedade salesianaa:
Em 1930, assim acentuou essa característica vocacional do Sale-
siano leigo:Os coadjutores não são simples auxiliares da comunidade,
mas são religiosos verdadeiros e perfeitos, tanto quanto os nossos
sacerdotes; educadores e mestres, eles também, de uma parte impor­
tante do nosso programa social“.
Os textos das Constituições re-propõem essa fraternidade salesiana,
expressão de viva e de caridade evangélica: Viver e trabalhar juntos
reza o art. 49 é para nós Salesianos, exigência fundamental e
caminho seguro para realizarmos a nossa vocação. Por isso nos reuni­
mos em comunidade, nas quais nos amamos a ponto de tudo comparti­
lhar em espírito de família e construirmos a comunhão das pessoas.
Deus nos chama a viver em comunidade afirma o artigo seguin­
te confiando-nos irmãos para amar. A caridade fraterna, a missão
apostólica e a prática dos conselhos evangélicos são os vínculos que
plasmam a nossa unidade e consolidam continuamente nossa comu­
nhão. Formamos assim um coração e uma alma para amar e
servir a Deus e para nos ajudarmos uns aos outros.
A comunidade salesiana é o art. 51 se caracteriza pelo espírito
de família que anima os momentos de sua vida. (...) Em clima de
fraterna amizade comunicamo-nos, uns aos outros, alegria e dores e
partilhamos corresponsavelmente experiências e projetos apostólicos”.
Segundo o que reza o art. 52, a comunidade salesiana acolhe o
irmão de coração aberto, aceita-o como ele é e favorece-lhe o amadure­
cimento. Oferece lhe a possibilidade de desenvolver seus dons de
natureza e de graça. Provê o que lhe é necessário e o ampara, nos
momentos de dificuldades, duvida, fadiga e doença. (...) O irmão se
24. MB 12, 152.
25. ACS 40, p. 574.
26. ACS 55, p. 915.
71

8.4 Page 74

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empenha em construir a comunidade em que vive, quer-lhe bem,
mesmo se imperfeita; participa generosamente da vida e do traba­
lho comum. Agradece a Deus por estar rodeado de irmãos que o enco­
rajam e ajudam.
Em sua comunidade, o Salesiano leigo, em de igualdade com o
Salesiano padre, toma parte, de maneira corresponsável, na programa­
ção, na atuação e na revisão do projeto educativo e pastoral comunitá­
rio (nota 27). Participa ativamente da comunhão de oração, da escuta
da palavra de Deus, da celebração dos sacramentos da Eucaristia e da
Reconciliação28. É constantemente animado na fidelidade à sua vocação
específica, tornando-se, juntamente com os outros irmãos, sinal ine­
quívoco da fraternidade instaurada na terra pelo Senhor Jesus29.
B. Uma comunidade apostólica aberta à secularidade
De acordo com o pensamento e a praxe de Dom Bosco, a nova
Sociedade que fundou haveria de se mover não em direção do ideal
monástico, de separação do mundo, mas, preferencialmente, em direção
do ideal religioso apostólico, vivido em estreito contato com a realidade
juvenil e popular.
Partindo de sua experiência de padre secular, Dom Bosco teve em
mente um vasto movimento apostólico, juvenil e popular, inserido na
realidade social e cultural que estava então emergindo e adaptado a ela.
O oratório no qual viviam e trabalhavam ele e os seus primeiros
colaboradores era para os jovens casa que acolhe, paróquia que
evangeliza, escola que encaminha para a vida e patio para se encontra­
rem como amigos e assim viverem com alegria30.
Quando tomou a resolução de condensar em uma regra os seus
ideais, escreveu também um capítulo sobre Os externos, cujo primei­
ro artigo exprimia claramente a novidade do seu projeto: Qualquer
pessoa escrevia ele mesmo continuando a viver no mundo, na
própria casa, junto à sua própria família, pode pertencer à nossa
Sociedade, etc.31.
Percebe-se um vivo interesse para abrir o seu projeto operativo,
a pessoas que vivem em uma condição secular e desenvolvem nele a
missão salesiana, praticando os conselhos evangélicos. O Pe. Rinaldi,
adiantando-se aos tempos, procurou realizar esse ideal Formou e
organizou aquele grupo de zeladoras de Maria Auxiliadora, que se
tomou atualmente o Instituto das voluntárias de Dom Bosco.
O nosso Fundador, constatou, ademais, também por inspiração
interior e de acordo com os conselhos de Pio IX, que, para alcançar
27. Cf. C. 65-66, 76-77, 79.
28. Cf. C. 85-95.
29. C. 24, 52, 49, 63.
30. C. 40.
31. MB 10, 889.1308.
72

8.5 Page 75

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tal escopo, era indispensável assegurar um núcleo central animador
que tivesse a estabilidade e a consistência de uma Congregação Religio­
sa. E configurou assim a sua Sociedade, que é, justamente, uma Con­
gregação religiosa nascida de uma experiência, experiência apostólico-
secular e aberta à secularidade32.
Portanto tinha de assumir características novas com relação a
outros Institutos religiosos, tinha de procurar o modo de adatar a sua
forma às exigências da sociedade civil que estava nascendo. Da mesma
forma também o modo familiar de se viver juntos, a agilidade das
estruturas, o comportamento a respeito de propriedade dos bens, a
maleabilidade de adaptação, o traje, a linguagem a ser usada (casa,
inspetor, diretor, assistente), as áreas a serem preferenciadas no apos­
tolado, a vizinhança com o mundo do trabalho deviam ser expressões
o mais possível afinadas em relação a certas exigências da sociedade
que progredia e se desenvovia, a partir de então, cada vez mais assina­
ladas por um progressivo processo de secularização.
Também os vários tipos de ação educativa e pastoral eram, por
sua natureza, orientadas para oferecer um testemunho e serviço aberto
à realidade do mundo que os rodeava. Uma característica espirituali­
dade, que, modelada de acordo com o humanismo de São Francisco de
Sales, fazia que os Salesianos se interessassem pela ação e valores
temporais, mas ajudava-os também a fazer com que a sua vida de união
com Deus e a prática dos conselhos evangélicos infundissem nova
energia no educar a juventude em vista da construção de uma socieda­
de baseada no amor.
Para levar à prática o projeto apostólico de Dom Bosco, os Sale­
sianos tinham de evangelizar com empenhos profissionais, o mais das
vezes seculares: ensino, social e cultural, comunicação social, ativida­
des leigas, empenhos domésticos, esporte.
O Pe. Rinaldi acentuou bastante, em um texto notável de fato, essa
abertura da Congregação à secularidade. “O espírito novo, escreve
no qual Dom Bosco havia procurado conformar as Constituições,
espírito precursor dos tempos novos, levantou muitos obstáculos à
provação, mas trabalhou, insistiu, rezou e fez os seus meninos rezarem
esperou nada mais nada menos que 15 anos, aceitando em suas cons­
tituições tão somente as mudanças que poderiam estar de acordo com
a sua índole moderna, agil, facilmente adatável a todos os tempos e
lugares: Havia imaginado uma pia sociedade que, mesmo sendo uma
verdadeira congregação religiosa, não apresentasse dela o aspecto
exterior tradicional: a ele lhe bastava que houvesse o espírito religioso,
único fator da perfeição dos conselhos evangélicos; quanto ao resto
acreditava que podia muito bem aceitar as exigências dos tempos.
Essa elasticidade de adaptação a todas as formas de bem que vão,
continuamente surgindo no seio da humanidade é o espirito próprio das
32. Cf. VIGANÓ E., La componente laicale..., 30-32.
73

8.6 Page 76

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nossas constituições, e se algum dia se introduzisse uma variação con­
trária a esse espírito, então seria o fim de nossa pia Sociedade”33.
Nessa Congregação e nas suas comunidades, abertas deste modo, à
secularidade, o Salesiano coadjutor é uma presença caracterizante,
em virtude de sua qualificação de Salesiano leigo.
A sua é uma forma vocacional em parte diferente da do Salesiano
padre, mas igualmente carismática, declara, a propósito, o CG2134 por­
que a vocação à vida salesiana como “Coadjutor” é um dom gratuito,
um carisma do Espírito. Na raiz das diferenças entre Salesiano Leigo
e Salesiano padre não é uma negação, o não ser padre, nem uma
carente qualificação eclesial, mas é sim uma escolha, em resposta a
uma vocação: o Coadjutor optou por um ideal cristão positivo que não
se acha definido pelo sacramento da Ordem, mas que é constituído
por um conjunto de valores que formam em si mesmos um verdadeiro
objetivo vocacional de alta qualidade35.
23.2 A Vocação do Salesiano Coadjutor ¿ caracterizada pela laicidade
Os Salesianos coadjutores são os sócios leigos da nossa Sociedade.
A qualificação laical imprime um delineamento concreto e complemen­
tar à sua vocação. É esse o motivo pelo qual, junto com o apelativo
tradicional de Salesianos Coadjutores, os nossos textos oficiais recorrem
atualmente, sem preferência ao apelativo recente de Salesianos leigos.
Os últimos capítulos gerais e as intervenções dos Reitores Maiores
serviram eficaz e progressivamente para orientar e esclarecer o tipo de
laicidade que caracteriza o Salesiano coadjutor, levando em considera­
ção que ele é um religioso, membro de uma determinada comunidade
apostólica.
É um argumento complexo, nevrálgico para o presente e o futuro
de todos. A isso dedicamos um amplo espaço, levados por esse inte­
resse e por essa urgência carismática e histórica. Fazemo-lo em dois
momentos: aqui, oferecendo observações gerais a respeito da laicidade
e suas modalidades; mais adiante, definido o tipo de laicidade próprio
dos Salesianos coadjutores.
Na linguagem corrente, civil e eclesiástica, os termos leigo, laici­
dade indicam realidade muitas vezes assaz diferente e apresentam uma
compreensão vasta de significados, alguns deles exatos, outros, ao
contrário vagos; outros ainda distorcidos; alguns se podem aplicar,
em seu sentido, aos Salesianos coadjutores; outros somente em parte;
outros, de modo algum.
Querer elencá-los e determinar a todos é uma tarefa quase impos­
sível. Aqui nos limitamos a apresentar alguns, mais familiares, com­
partilhados e úteis ao nosso caso.
33. ACS (1923) 41.
34. ACG 21, 179.
35. VIGANó E., La componente laicale..., 10.
74

8.7 Page 77

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A. Laicidade com referência à criação
Falando de laicidade, de valores leigos, de mentalidade leiga, muitas
vezes se tem em vista uma razão e uma vontade de respeito pela
autonomia das coisas; elas têm uma persistência própria, verdade,
bondade, leis próprias e a sua própria ordem, porque foram criadas
por Deus e são as criaturas
É tarefa do homem descobri-las mediante a ciência, respeitá-las,
usá-las e ordená-las com trabalho e técnica; reconhecendo as exigên­
cias de método próprios de cada uma das ciências e das artes37.
O Vaticano II chama a tudo isso de autonomia das realidades
temporaise declara que, quando é entendida no sentido logo acima
explicado, é uma exigência legítima, postulada não da parte dos
homens de nosso tempo, mas também conforme à vontade do
CriadorM.
Uma correta mentalidade leiga exige, portanto, um alto senso de
profissionalidade, nada fácil muitas vezes, mas exatamente ela se in­
teressa pela realidade objetiva das coisas; dedica-se com constância a
conhecê-las, mesmo quando forem complexas e exigirem estudo rigo­
roso, atualizados conhecimentos científicos e técnicos; experiências
cheias de atenção; é lúcida no descrever as situações, crítica no avaliá-
las, realista no programar sua melhoria, serena no verificar seus resul­
tados, positivos ou negativos, corajosas no modificá-la; é generosa na
colaboração e aprecia a organização.
Essas exigências são além do mais, uma contribuição positiva da
secularização que, com variada intensidade, marcou com seus présti­
mos a época moderna e contemporânea.
Aplicando ao nosso caso, o fato de serem cristãos e Salesianos
estimula não exatamente a renúnciar a uma reconhecida profissionali­
dade e competência, mas antes, a valorizá-las mais ainda. Erram os
que, sabendo que as realidades temporais são passageiras, declara a
Gaudium et spes pensam que podem por isso descuidar-se dos pró­
prios deveres terrenos e não refletem que, ao invés, exatamente a
os obriga ainda mais a cumpri-los, de acordo com a vocação de cada
um
As coisas criadas, mesmo tendo um valor em si mesmas, têm,
além disso, uma necessária e imprescindível referência a Deus: A
criatura, com efeito, sem o Criador, nem existe. Todos os que crêem,
seja qual for a religião à qual pertençam, sempre ouviram a Voz e a
manifestação Dele na linguagem das criaturas
36. GS 36b.
37. Ibidem.
38. Cf. GS 36 b.
39. GS 43 a.
40. GS 36 a.
75

8.8 Page 78

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O atual processo de secularização purifica a cristã de visões
mistícas e irracionais; ajuda a não contrapor Deus ao homem, como
se fossem dois antagonistas que dividem entre si o sagradoe o
profano. Com efeito, entre Deus e as criaturas existe uma relação
de criação contínua: Deus mantendo em sua existência todas as coisas,
faz com que sejam aquilo que são41.
Uma justa mentalidade leiga, iluminada pela visão cristã, descobre
na verdade, bondade e beleza de todas as coisas a relação que a vin­
cula a Deus e um reflexo Dele; sabe que o contemplá-las e o usá-las de
modo correto estimulam o diálogo cheio de gratidão com o seu
Criador.
Mas não se pode deixar de dizer que o processo de secularização
se acha muitas vezes acompanhado por afirmações que defendem a
radical independência das coisas como que a dizer que elas não de­
pendem de Deus e o homem pode dispor delas sem as referir ao
criador42. O próprio homem então nasceria para a própria liberdade
pois que finalmente estaria livre de Deus. Em muitos ambientes
“laicidadenão é legítima autonomia, mas sim total independência das
pessoas, das sociedades e das ciências, independência de qualquer ulte­
rior referência religiosa: uma forma de laicismo ateu e de secularismo,
nascida da degeneração da laicidade em si mesma, entendida em sen­
tido evangélico.
Perante essa situação, ter uma correta mentalidade leiga quer dizer,
para o Salesiano, leigo e padre, saber premunir-se validamente e opor-se
as várias formas de materialismo e laicismo ateu, de indeferentismo
religioso, infelizmente presentes em muitos setores nos quais desenvolve
o seu apostolado.
B. Laicidade com referência à missão da Igreja
Com referência à missão da Igreja, na história da Humanidade,
fala-se de fiéis leigos para distingui-los do clero e dos religiosos e
para indicar que eles, de sua parte desempenham, na Igreja e no
Mundo, a missão própria de todo o povo cristão43: Fala-se de laicidade
para sublinhar o fato de que tais fiéis desenvolvem a Missão da Igreja
no mundo. É a índole secular que lhes é própria. Disso vamos falar
dentro em breve.
Efetivamente, deve-se relevar que o povo de Deus, no seu conjunto,
é enviado por Cristo a todo o mundo, para nele ser “sinal e instru­
mento de íntima união com Deus e de unidade de todo gênero
humano”44. Pode-se portanto, enquadrar nesta missão, única e universal.
41. GS 21 c, 36 b.
42. GS 36 c.
43. LG 31 a. Cf. CíL 9-14.
44. LG 9 b 1.
76

8.9 Page 79

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da Igreja permear e aperfeiçoar a ordem das realidades temporais
com o espírito evangélico45.
Mas são variadas as modalidades segundo as quais isso acontece,
“certamente todos os membros da Igreja declara a exortação
Christi fidelis laici de João Paulo II45 são participantes da sua
dimensão secular mas eles o são de maneiras diversas”: uma é a ma­
neira própria dos fiéis leigos, a outra dos padres seculares, outra a
dos que pertencem a Institutos seculares, outra enfim, a dos membros
de Congregações Religiosas.
Neste contexto o mundo deve ser entendido não tanto como
criação, mas sim como mundo dos homens, teatro da história do
gênero humano, marcado pelo seu trabalho, por seus fracassos e suas
vitórias, o mundo certamente colocado debaixo da escravidão do
pecado, mas também libertado pelo Cristo morto e ressuscitado, e
destinado, segundo o plano divino, a se transformar e chegar ao seu
destino e acabamento”46.
Vamos, portanto, tomar consciência dessas diversas modalidades
de vida e de empenho cristão no mundo.
a) A “laicidadeprópria dos fiéis leigos acha-se ligada à sua
índole secular.
Os fiéis leigos declara o decreto conciliar dedicados a eles ,
tem uma parte própria deles e absolutamente insubstituível na missão
da Igreja47. Isso se deve à índole secular que deles é própria e par­
ticular, mesmo se não esclusiva. Com efeito, ela está presente, con­
forme modalidades e intensidades diversas, também no clero e nos
próprios Institutos religiosos, como haveremos de explicar48.
Essa índole secular, chamada corretamente de secularidade (que
não deve ser confundida com secularização e secularismo), apresenta
duplo aspecto: um deles, antropológico e sociológico outro eclesioló-
gico e vocacional.
A índole secular em sentido antropológico e sociológico indica o
fato de ser-no-mundo, de viver nas condições ordinárias de vida fami­
liar e social, e o fato de ter que desempenhar tarefas temporais refe­
rentes à família, saúde, educação, ciência e cultura, mundo do traba­
lho, das profissões, da indústria, da economia, da justiça, da política
e das relações entre os povos, da paz. Abrange todasas realidades
humanas temporais com as estruturas que lhes são próprias e com a
evolução histórica com as quais se entretecem as exigências das
pessoas49.
AR AA A
46: GSf 2’ Cf. CFL 15.
47. AA 1 a, que remete à LG e 33
48. Cf. LG 31 b; GS 43 bed; Cf. CFL 15.
49. Cf. LG 31 b; AA 2 b, 6-8, 11-14; AG Cf. CFL 15.
77

8.10 Page 80

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A índole secular em sentido eclesiológico e vocacional sublinha o
empenho cristão em fazer com que essas mesmas realidades sejam
ordenadas segundo Deus, desenvolvidas segundo Cristo e constituídas
segundo as aspirações de seu evangelho50. Empenha-se a fim de que as
relações entre as pessoas, na família, no grupo de trabalho, aos rela­
cionamentos civis e sociais, sejam libertadas do mal e do pecado do
homem e correspondam às exigências evangélicas de justiça, fraterni­
dade, solidariedade, de liberdade e paz, é tudo quanto caracteriza a
índole secular cristã e a distingue da simples condição secular comum
a todos os homens.
Os fiéis leigos desenvolvem essa missão agindo de dentro para fora
no âmago, dessas próprias estruturas, com responsabilidades diretas.
Nesse sentido é que se animam evangélicamente à guiza de fermento51
e devem exprimir espiritualidade mui aderente às formas concretas
de vida e de atividades, às suas capacidades e aptidões, aos dons rece­
bidos do Espírito. Entre essas formas de vida espiritual laical o Con­
cílio inclui expressamente as formas das associações que se inspiram
nas Famílias religiosas, como é o caso dos Cooperadores Salesianos n.
O Salesiano coadjutor, ao invés, é religioso e com a profissão reli­
giosa modifica a sua condição secular, que deixa a sua família e
a inserção nas comuns estruturas civis e sociais a fim de se encaminhar
para fazer parte da Comunidade salesiana. Modifica também a sua
missão secular, porque a partir de então a desenvolve, não dentro de
estruturas seculares, como fazem os fiéis leigos, mas, preferentemente,
no âmbito das obras salesianas e, acima de tudo, de conformidade
com a sua consagração apostólica, membro que é de uma comunidade
salesiana.
b) A laicidade ou secularidaãe consagrada é a própria de todos
os que professam os conselhos evangélicos no mundo, como são os que
pertencem aos Institutos seculares53. Permanecem e trabalham dentro
do mundo, não se furtam à sua condição secular, justamente porque
escolhem ficar no seio da própria família e trabalhar numa e noutras
das múltiplas instituições civis e sociais. E desenvolvem seu apostolado
dentro de tais estruturas seculares. Por esses motivos permanecem lei­
gos e seculares, conservando a índole secular" no sentido antropológico
e eclesiológico, sentido que acabamos de explicar.
Mas em força de uma vocação específica, praticam os conselhos
evangélicos permanecendo no mundo, tomando-se, assim, leigos ou
seculares consagrados. Tem um estatuto teológico e jurídico próprio,
diverso do dos religiosos. Não vivem em comunidade, mesmo favore­
cendo relações de comunhão entre os membros do Instituto: Não exer­
50. ibidem.
51. Cf. LG 31; Cf. Cfl 15.
52. Cf. AA 4.
53. PC 11a.
78

9 Pages 81-90

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9.1 Page 81

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cem um apostolado confessional”, isto é, em nome da Igreja e do
próprio Instituto, uma vez que a eficácia do seu testemunho e agir
cristãos, de tipo secular, está estritamente vinculada a uma presença
oculta e que não aparece na sociedade. Sua pratica da obediência,
pobreza e castidade assume características seculares, adatadas à sua
condição e missão no mundo. Nesse tipo de exemplo é que se enquadra o
Instituto das Voluntárias de Dom Bosco54.
Diferente é o caso do Salesiano coadjutor, tomando-se religioso ele
modifica a sua condição e missão secular. Vive e trabalha em uma
comunidade religiosa, participa de sua missão que exerce em nome da
Igreja e pratica abertamente os conselhos evangélicos segundo o pro­
jeto indicado nas Constituições. Tudo isso especifica a sua laicidade
e se, por um lado, preestabelece sem dúvida, alguns limites, por outro
lado evidencia e caracteriza seu testemunho e sua eficácia, que estão
unidas a determinados aspectos da missão salesiana.
C) Laicidade com referência à vida religiosa
Há, na Igreja, tipos de laicidade e de secularidade compatíveis e
realizáveis também na vocação religiosa.
Os fiéis leigos que se tomam religiosos não renunciam à laicidade,
entendida como respeito pelas realidades temporais e como visão cristã
da criação, mas reforçam-na, na medida em que são guiadas e am­
paradas pela sua total doação a Deus. Com a sua vida e atividade
testemunham que Deus somente é o criador de todas as coisas e o
Senhor da humanidade.
Tomando-se religiosos renovam o empenho, assumido no Batis­
mo e na Crisma, de participar da comum missão cristã de enviados
para junto dos irmãos como sinais e instrumentos de salvação e de
desempenhar as funções sacerdotal, profética e real comuns a todos os
membros do povo de Deus. As várias formas de vida religiosa não
marginalizam (os religiosos) com relação ao mundo e aos seus proble­
mas: Ninguém pense declara o Vaticano II que os religiosos,
com a sua consagração, se tornem ou estranhos aos homens ou inúteis
na cidade terrena. (...) Eles colaboram espiritualmente com os con­
temporâneos, a fim de que a construção da cidade terrena esteja sempre
alicerçada no Senhor e a Ele dirigida, e, assim, não aconteça que tra­
balhem em vão os que a estão construindo55.
Os religiosos leigos vivem a sua qualificação de religiosos e de
leigos não de modo uniforme mas de acordo com a índole própria dos
Institutos religiosos a que pertencem.
Muitos Institutos são laicais: Em força de sua natureza, índole e
fim (eles tem), uma tarefa específica, que não pressupõe o exercício
54. Confiram-se as Constituições das VDB.
55. LG 46b.
79

9.2 Page 82

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da Ordem Sagrada. (Isso) é determinado pelo Fundador, ou então em
base de urna legítima tradição
Outros Institutos, como o nosso são compostos de eclesiásticos e
de leigos e são os leigos, principalmente, os que realizam esse compo­
nente laical, que é próprio da sua original natureza carismática.
Muitas vezes com o apostolado educativo, pastoral, hospitalar,
missionário alguns Institutos, quer laicais quer clericais, se inserem
vital e profundamente na realidade secular. Tem contatos quotidianos
com a juventude e o povo do lugar, com a família e as Instituições civis
do Território. Mas, principalmente, e diretamente, tencionam confessar
a Deus como sendo um valor absoluto e levam para dentro desses con­
ceitos o seu testemunho de religiosos e o espírito de seu Fundador.
Do ponto de vista sociológico, porém, e pessoalmente, por causa de uma
particular sensibilidade que adquirem agindo, eles assumem, de certa
maneira, em sua vida religiosa, os sinais de uma fisionomia secular,
é esse o caso dos Irmãos coadjutores em nossa Sociedade, que nasceu
nos albores da civilização industrial e toda voltada para a realização
de um grande empenho educativo e pastoral a favor do mundo juvenil
e popular.
23.3 Características da vocação do Salesiano Coadjutor
Para compreender mais completamente essa característica pecu­
liar do Salesiano coadjutor, é necessário ter presentes diversas outras
que ele tem e que, conjuntamente, definem a sua vocação de Salesiano
leigo.
A. Uma vocação que se insere na vocação cristã
Em sintonia com o magistério do Vaticano II, o CG21 afirma: A
vocação do Salesiano coadjutor é um desenvolvimento da Consagração
conferida pelos sacramentos do Batismo e da Crisma; mediante a qual
ele vive integralmente os valores cristãos do povo de Deus: Santificado
e enviado por Deus Pai para a salvação do mundo, participa da missão
e ação de Cristo profeta, sacerdote e pastor, e, desse modo, se insere
na missão própria da Igreja, de testemunhar e anunciar o evangelho”.
Para esse fim manifesta e valoriza “as atitudes cristãs fundamentais:
a consciência da comum dignidade filhos de Deus e de irmãos em
Cristo, da comum co-responsabilidade, na edificação de seu corpo e da
comum vocação à santidade; a liberdade evangélica, dom do Espírito,
o vivo sentido da pertença à Igreja local presidida pelo Bispo, a pre­
sença renovada na sociedade e, por fim, a solidariedade cristã, especial­
mente para com os pobres, a sensibilidade e a abertura aos sinais
dos tempos, a atenção efetiva às necessidades concretas”57.
56. CIC e, 588 par. 3.
57. ACGE 174.
80

9.3 Page 83

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Essas indicações gerais são retomadas e expressas no texto da
nossa Regras de Vida. A Vocação Salesiana diz o art. 6 situa-nos
no coração da Igreja e nos põe inteiramente a serviço de sua missão.
Do nosso amor a Cristo é o art. 13 nasce inseparavelmente o
amor à sua Igreja, povo de Deus, centro da unidade e comunhão de
todas as forças que trabalham, pelo Reino. Sentindo-nos parte viva da
Igreja e .cultivamos em nós e em nossas comunidades uma renovada
consciência eclesial. Expressâmo-la na fidelidade filial ao sucessor de
Pedro e ao seu magistério, e na vontade de viver em comunhão e cola­
boração com os bispos, o clero, os religiosos e os leigos". “A Igreja
particular é o lugar em que a comunidade vive e exprime seu com­
promisso apostólico, declara o art. 48. E o art. 7: nossa vocação exige
que sejamos intimamente solidários com o mundo e com a sua histó­
ria. Completa-o o art. 19: O Salesiano é chamado a ter o sentido
da realidade e está atento aos sinais dos tempos, convencido de que o
Senhor se manifesta também nas urgências do momento e dos lugares.
B) Uma vocação que pratica com radicalidade um estilo
evangélico de vida e de ação.
O Salesiano coadjutor está consciente de que na origem de sua
vocação está a iniciativa de Deus. Chamando-o à vida salesiana, o Pai
o consagra com o dom de seu espírito, suscita nele a resposta à voca­
ção recebida e o ampara continuamente do cumprimento dessa tarefa.
Ele responde à iniciativa amorosa de Deus com a profissão. Nossa
vida de discípulos do Senhor é uma graça do Pai que nos consagra
com o dom do seu Espírito e nos envia para sermos apóstolos dos
jovens. Com a profissão religiosa oferecemo-nos a nós mesmos a Deus
para caminhar no seguimento de Cristo e trabalhar com Ele na cons­
trução do Reino58.
A ação consagrante de Deus abraça não um ou outro aspecto
da vida do Salesiano leigo, mas toda inteira a sua pessoa e ação. Com
sua presença ativa o Espírito do Senhor o insere na vida caritativa
divina, anima-o e ampara-o no desenvolvimento da missão, na vivência
da caridade fraterna e na prática dos conselhos evangélicos.
Também a resposta que não se refere somente a um ou outro
dos aspectos de sua vida, mas à sua inteireza e totalidade. Com a
profissão religiosa ele se oferece a Deus todo inteiro: o seu ser e o
seu agir, para a salvação dos jovens. Empenha-se na missão e na vida
de comunhão. Encontra na prática dos conselhos uma garantia de
eficácia sobrenatural para a sua missão, uma fonte de fraternidade e
de caridade pastoral, de impulso e dinamismo apostólico. Os votos o
tomam também totalmente disponível aos outros e o empenham em que
viva e trabalhe junto com os Co-irmãos para testemunhar e anunciar
o Evangelho aos jovens.
58. C. 3.
81

9.4 Page 84

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A fórmula da profissão exprime bem esta novidade de ser e de
empenho. Deus Pai, no dia do batismo me consagrastes a Vós. Respon­
dendo ao amor do Senhor Jesus, vosso Filho, que me chama a segui-lo
mais de perto, e guiado pelo Espírito Santo que é luz e força, e, com
plena liberdade ofereço-me totalmente a Vós, comprometendo-me a
dar todas as minhas forças àqueles a quem me enviardes, especialmente
aos jovens mais pobres, a viver na Sociedade Salesiana em fraterna
comunhão de espírito e de ação, e a participar desse modo na vida
e na missão da Vossa Igreja. Por isso (...) faço voto para sempre
de viver obediente, pobre e casto, segundo a via evangélica traçada
nas Constituições Salesianas”59.
C) Uma Vocação religiosa laical
Os Salesianos Coadjutores são os sócios leigos de nossa Congrega­
ção. Vamos tomar agora uma reflexão, começada no tema da
laicidade, para poder aprofunda-la e integrá-la.
a) O Salesiano coadjutor vive como religioso salesiano a sua voca­
ção de leigo
Para descrever a dimensão laical do Salesiano coadjutor, o CGE
se inspira no ensinamento do Vaticano II a respeito das Três conheci­
das funções das quais todos os fiéis leigos se tornam participantes nos
sacramentos da iniciação cristã, mas as retoca, partindo do fato de
que o Irmão coadjutor é um religioso salesiano e esse particular é a
alma de seu ser de leigo. O Salesiano coadjutor, declara o CGE:
vive, com as características da própria vida religiosa: a vocação
de leigo que procura o Reino de DEUS tratando das coisas temporais
e ordenando-as segundo Deus;
Exercita o sacerdócio batismal, a sua junção cultural, profética
e de testemunho e o seu serviço régio de maneira que participe ver­
dadeiramente da vida e da missão de Cristo e da Igreja.
Realiza com a intensidade de sua específica consagração e por
“mandato da Igreja, não como pessoa individual, como simples leigo,
a missão de evangelização e de santificação não sacramental.
desenvolve a sua ação de caridade com maior dedicação, dentro
de uma congregação que se dedica à educação integral dos jovens que
têm particular necessidade;
como religioso, anima cristâmente a ordem temporal, tendo ele
renunciado à secularidade (própria dos fiéis que vivem no mundo e
dos seculares consagrados), com um apostolado eficacíssimo, educando
59. c 24.
82

9.5 Page 85

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os jovens à animação cristã do trabalho e dos outros valores
humanos60.
O atual texto constitucional considera tudo isso como algo adqui­
rido. Delineando, antes de tudo, a índole salesiana, comum a todos os
membros da Congregação, e então, dentro dela, a identidade própria
do Salesiano leigo e do Salesiano padre, entende claramente afirmar que
o Salesiano coadjutor é, antes de tudo, um Salesiano religioso: a
consciência de ter abraçado uma específica forma de vida consagrada,
isto é, a salesiana, dedicada a realizar o projeto apostólico de Dom
Bosco, modifica a sua consciência de leigo cristão, a permeia e anima61.
Ele é responsável pela missão comum e dela participa com a riqueza
de seus dons e da sua característica laical62.
b) O Salesiano coadjutor vive como leigo salesiano a sua vocação
comunitária de religioso
O CG 21 acolhe tudo quanto havia afirmado do CGE63, completan­
do-o, porém. Com efeito, define a laicidade do Salesiano coadjutor a
partir certamente, de sua vocação religiosa, mas também a indica,
acima de tudo, como a característica laical específica e que informa
toda a sua vida religiosa. É uma condeterminaçãoessencial. Ele
vive, como leigo, o conjunto de valores comunitários que constituem
a vocação salesiana64. O fato de ser leigo, efetivamente, influi sobre a
maneira com a qual o Irmão vive e trabalha, como religioso salesiano,
em comunhão com os outros co-irmãos. Eis aqui os passos que mais
nos interessam.
Declara-se, antes de tudo que a dimensão laical é a forma con­
creta com a qual o Salesiano coadjutor vive e trabalha como religioso
salesiano. Essa é a sua característica específica, um valor relevante e
essencial de sua identidade.
Concebe-se tal laicidade não de uma maneira negativa, como se
fosse suficiente não ser padre para ser leigo, mas positivamente, como
sendo o conjunto dos valores que caracterizam o cristão leigo qualifi­
cado pela consagração religiosa salesiana.
Essa laicidade não se estreita dentro de limites de determinados
serviços ou funções que o Salesiano leigo desempenha na sua comuni­
dade: a laicidade declara o texto capitular “Não se reduz a um
serviço ou a uma simples função.
Ela (a laicidade) se estende, muito mais ainda, à sua vida toda
inteira: A dimensão laical compenetra toda a vida do Salesiano
coadjutor: a missão salesiana, a vida de comunidade, a ação apostólica.
60. ACGE 149.
61. Cf. C 2.
62. C. 45.
63. Cf, ACG 21 178 onde é reproduzido o texto dos ACGE 149.
64. C 3.
83

9.6 Page 86

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a profissão religiosa, a oração e a vida espiritual são vividas por ele
como religioso leigo".
Assinala-se o fato de que, em virtude dessa característica laical,
sua inteira existência se transforma em um testemunho salesiano
concreto, quer em relação aos Salesianos padres, quer em relação
aos destinatarios, quer, em geral, em relação a todos os grupos da
Família Salesiana. Isso obriga a comunidade Salesiana a assumir, tam­
bém ela, o aspecto, que lhe é próprio, querido por Dom Bosco: enri­
quecida pela dimensão laical, pode aproximar-se do mundo de maneira
mais apostólicamente válida
Em particular, não a isola da correlativa dimensão presbiterial66.
A congregação é formada por eclesiásticos e leigos unidos entre si
pelos sólidos vínculos de pessoas distintas. Se se tomam em considera­
ção os Salesianos, um por um, fora desses recíprocos vínculos fraternos,
cai-se no risco de uma visão individualística da vida salesiana67.
O texto constitucional atual resume breve, mas eficazmente, o pro­
gresso dessa caminhada: O Salesiano coadjutor leva para todos os
campos educativos e pastorais o valor próprio de sua laicidade, que
o torna de modo específico testemunha do Reino de Deus no Mundo,
mais próximo dos jovens e das realidades do trabalho 68.
D) Uma vocação a serviço da missão salesiana.
Para realizar o seu projeto de vida e de ação apostólica, Dom
Bosco considera necessária a contribuição do religioso leigo.
Ele quis que a Sociedade de S. Francisco de Sales fosse uma
reunião de padres, clérigos e leigos, especialmente artesãos, os quais
desejam unir-se procurando assim fazer o bem entre si e fazer o bem
igualmente aos outrosw.
Ao configurar essa Sociedade Dom Bosco estabeleceu que fosse
constituída não somente por eclesiásticos, nem somente por leigos, mas
de eclesiásticos e de leigos, unidos em uma única comunhão de vida
e de trabalho. Fiel a essa intenção, o art. 4 das Constituições assim se
exprime: Nossa Sociedade é composta de clérigos e leigos que vivem
a mesma vocação em fraterna complementaridade”.
Cada Salesiano, leigo ou padre, participa da missão que é confiada
à comunidade e é co-responsável pela sua concreta atuação: “O man­
dato apostólico que a Igreja nos confia é assumido e cumprido, em
primeiro lugar pelas comunidades inspetoriais e locais, cujos membros
têm funções complementares, com incumbências, todas elas, impor-
65. ACG 21 178.
66. ibidem.
67. ibidem
68. C 45.
69. MB, 12, 151.
84

9.7 Page 87

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tantes70. A comunidade local sublinha o art. 175 é composta
de irmãos, (...) em unidade de espírito, sob a autoridade do Superior,
trabalhando co-responsavelmente para a missão apostólica. E o art. 45
especifica: Cada um de nós é responsável pela missão comum e dela
participa com a riqueza de seus dons e das características, laical e
sacerdotal, da única vocação salesiana.
E) Uma vocação salesiana concreta e completa
Deus chama a cada um pelo seu nome e em vista de uma missão
concreta a exerce em meio ao seu povo, em um determinado momento
da história.
A do Salesiano coadjutor como a do Salesiano padre é uma cha­
mada que Deus dirige à pessoa, individualmente considerada, e a faz
ser a si mesma: Cada um de nós escreve o art. 22 das Constitui­
ções é chamado por Deus a fazer parte da Sociedade Salesiana. Por
isso recebe DELE dons pessoais.
A chamada não é genérica, mas específica: cada um é chamado a
ser concretamente Salesiano padre ou Salesiano leigo. Para realizar o
seu projeto apostólico, efetivamente, Dom Bosco, fundou uma Con­
gregação “formada por eclesiásticos e leigos. Essa é a forma de nossa
Sociedade: ela diz o art. 4 das Constituições é composta por clé­
rigos e leigos que vivem a mesma vocação em fraterna complemen­
taridade.
Sem dúvida cada um sempre descobre a sua vocação concreta,
através de um caminho de progressivo discernimento. Para acompa­
nhar esse caminho é que se destinam a pastoral vocacional e a formação
inicial.
No povo de Deus, o Espírito do Senhor distribui dons diversos,
todos radicados na comum vocação cristã71. São modos diversos de
realizá-la adaptadas à pessoa de cada batizado. Cada dom ou forma
vocacional é por isso, em si mesmo, completa. O decreto conciliar decla­
ra, a respeito, falando da vida religiosa: "A vida Religiosa laical (...)
masculina (...) constitui um estado, em si mesmo completo, de pro­
fissão dos conselhos evangélicos. Por isso o Sagrado Concílio (...)
confirma os membros de tal forma de vida religiosa em sua vocação”72.
Dentro de nossa Congregação uma comum Vocação Salesiana,
que é vivida segundo modalidades distintas, a laical e a presbiterial.
Não existem, portanto, duas vocações diversas, quanto ao grau e ao
valor: Completa, a do Salesiano padre; incompleta a do Salesiano
leigo; ou vice-versa. A vocação do Salesiano coadjutor, assegura-nos o
art. 3 das Constituições, abrange todos os elementos inseparáveis de
70. C 44.
71. Cf. LG 7c, 12b.
72. PC 10a.
85

9.8 Page 88

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nossa consagração apostólica salesiana: a especial aliança com Deus, a
missão, a comunhão fraterna, a prática dos conselhos evangélicos, o
espirito salesiano com o qual é vivida essa consagração.
Consequentemente o Salesiano coadjutor participa na atuação do
projeto de vida e de ação da comunidade por titulo próprio e não
derivado, a saber, em base da própria vocação e ao mandato eclesial
que lhe é próprio. “O mandato eclesial que a Igreja nos confia73 se
baseia no livre dom da vocação salesiana. A Igreja o reconhece e quer
conseguir, com sua intervenção, que ele seja levado a frutificar
efetivamente.
F) Uma vocação original
O Pe. Rinaldi escreveu que o Coadjutor salesiano é uma genial
criação do grande coração de Dom Bosco, inspirado, pela Auxilia­
dora74. Ele instituiu essa genial modernidadee apresentou os moti­
vos correspondentes: O Coadjutor Salesiano não é o segundo, nem a
ajuda, nem o braço direito dos sacerdotes, seus irmãos de religião,
mas pessoa igual a eles, que, na perfeição, os pode preceder e superar,
como o confirma amplamente a experiência quotidiana75.
O CG 21, aprofundando o tema, declarou ulteriormente que essa
vocação é característica em relação a outras vocações: dentro da
Igreja, porque está a serviço da missão salesiana; dentro da Família
Salesiana, porque é vivida por um religioso leigo no seio de uma comu­
nidade com características próprias herdadas do Fundador”7é.
G) Uma vocação significativa
Foi dito que para gozar de boa saúde, a identidade de uma pessoa
ou de um grupo deve possuir e exprimir um sentido compreensível e
operante.
Com certeza, para os Salesianos coadjutores que seguram com
generosidade a própria vocação, o viver e trabalhar com Dom Bosco
deu sentido à sua vida. Seu testemunho quotidiano fez com que outros
fossem atraídos e se tornassem também eles, Salesianos leigos.
Mesmo se pouco conhecida e, às vezes, não bem compreendida,
sua identidade, muitas vezes, foi tida em grande consideração, quer
no seio da Família Salesiana, quer em ambientes civis e eclesiásticos.
Não como escrevia o Pe. Rinaldi, porque, é um tipo de vida de per­
feição e de apostolado (...) acessível a qualquer classe de pessoas77
73. Cf. PC 8ab.
74. ACS 40, p. 574.
75. ibidem.
76. ACG 21 173:
77. Cf. ACS40, p. 575-577.
86

9.9 Page 89

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mas também porque envolve toda as dimensões da vida e oferece a
possibilidade de um pleno desenvolvimento da própria personalidade78
e na perspectiva da missão, responde plenamente, em lugares e cultu­
ras diferentes, às suas exigências, especialmente às que são próprias do
mundo do Trabalho79.
2.4 ESSENCIAL RECIPROCIDADE ENTRE SALESIANOS LEIGOS
E SALESIANOS PADRES
A rede ãe relações que, no interior da Congregação, une os Sale-
sianos coadjutores e os Salesianos padres faz parte integrante de sua
identidade vocacional.
Sobre esse argumento intervieram repetidamente nossas assem­
bléias capitulares, especialmente o CG 21 e o CG 22.
2.4.1 Reciprocidade vocacional
Falando da nossa sociedade, de sua forma, de sua índole própria,
o art. 4 das Constituições afirma: A nossa Sociedade é composta de
clérigos e leigos. Tem um rosto original na Igreja, um rosto religioso
e secular, como disse Pio IX80; tem uma (sua própria) modalidade de
vida e de ação, adaptada à novidade dos tempos ao tipo de serviço
educativo pastoral que desenvolve. Essa forma própria depende exata­
mente do fato de que ela é composta de clérigos e de leigos”. Trata-se
de sua constituição carismática. Assim é que foi querida por seu Fun­
dador. Ela declara Dom Bosco no texto constitucional de 1875
Consta de clérigos e leigos, os quais formando um coração, uma
alma, levam vida comum... 81.
E o modo concreto com o qual no primeiro Oratório se vivia a
mesma vocação, estando com Dom Bosco. Essa experiência de Espí­
rito Santoque o nosso Fundador iniciou e que a Igreja reconheceu
como dom do Senhor, como carisma82 é um dos elementos base que
fazem a Congregação ser aquilo que deve ser, segundo a vontade de
Deus.
É o nosso carisma comunitário: “cada um de nós é chamado por
Deus a fazer parte da Sociedade Salesianaa viver, em força de sua
própria vocação, em estreita comunhão com os outros.
em força do Batismo e da Crisma Salesianos coadjutores e Sale­
sianos padres estão unidos entre si na comunhão eclesial. A vocação
78. ACG 21 173.
79. Cf. VIGANÓ E., La Società di san Francesco di Sales..., 322.
80. MB 13, 82s.
81. Const. 1875, II, 1.
82. ET 11; MR 11.
83. C 22.
87

9.10 Page 90

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salesiana, a seguir, faz com que a forma vocacional de cada um seja
correlacionada por um novo título com a dos outros de modo que,
entre os primeiros e os outros, se estabelece uma reciprocidade voca­
cional real.
Correlação e reciprocidade não significa subordinação ou contra­
posição, nem perda de fusão das próprias características, respectiva­
mente laicais e presbiteriais. Significa, mais do que tudo, recíproca co­
munhão e comunicação entre Salesianos que têm características pró­
prias; significam intercâmbio dos respectivos valores e participação
paritária na atuação do projeto apostólico de Dom Bosco M.
A respeito declara o VII sucessor de Dom Bosco: “As diferenças na
figura e nos papeis dos sócios não devem ser consideradas como
limitações” ou graus, mas fontes de riqueza comum: não falta de
alguma coisa, mas potencial integrativo dos valores dos outros; con­
tribuição harmônica para com um tipo de comunidade religioso-apostó­
lico original85.
24.2 Fraterna complementaridade:
O art. 4 das Constituições precisa ainda: clérigos e leigos vivern
a mesma vocação em fraterna complementaridade. Não se trata de
uma complementaridade qualquer, mas de um peculiar tipo de com­
plementaridade orgânica. Ela exige uma equilibrada dosagem entre
o componente laical e o sacerdote, não fixado de uma vez para sempre,
mas aberto a uma contínua verificação, que consinta sua retificação
e oportuna adaptação aos tempos e lugares.
“Mesma vocaçãoe “fraterna complementaridadeexigem, em
geral, a plena igualdade dos sócios na profissão religiosa, a constitu­
tiva reciprocidade entre clérigos e leigos, a adequada formação para
essa mútua correlação de vida.
A) Complementaridade em nível de consciência pessoal
Para que essa fraternidade e essa complementariedade se trans­
formem de valores ideais em valores reais, que se vivem no quotidiano
de cada dia, é necessário que os Salesianos, todos eles, disso estejam
plenamente conscientes e convencidos. É necessário que elas se en­
raizem cada vez mais em suas consciências e se manifestem em suas
atitudes internas e externas.
O Reitor-Mor declarou a esse respeito: Cada sócio, clérigo ou leigo,
se tiver verdadeira consciência de ser membro, sente-se co-responsável
pelo todo, trazendo o dom de si e de sua típica vocação. O componente
84. Cf. ACG 21 194.
85. VIGANó E., La componente laicale..., 7.
86. ACG 21 186.
88

10 Pages 91-100

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10.1 Page 91

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sacerdotale laicalnão incorporam uma adição extrínseca de duas
dimensões confiadas, cada uma delas, a categorias de Co-Irmãos dife­
rentes em si mesmas, que caminham paralelamente e somam forças
separadas; mas sim a uma comunidade que é o verdadeiro sujeito da
única missão salesiana"
Isso exige uma formação original da personalidade de cada sócio;
pelo que o coração do Salesiano Clérigo se sente intimamente atraído
e envolvido pela dimensão laical da comunidade; e o coração do Sale­
siano leigo se sente, por sua vez, intimamente atraído e envolvido pela
dimensão sacerdotal. É a comunidade salesiana, em cada um de seus
sócios, que testemunha sensibilidade e realiza empenhos que são simul­
taneamente sacerdotaise laicais87.
As comunidades devem amadurecer essas atitudes, porque é essa
consciência vivida em suas consequências que consegue bloquear, na
Congregação, qualquer tipo de mentalidade, quer clerical que tende a
desprezar valores da laicidade, quer laicista que se contrapõe, muitas
vezes até emotivamente, ou ao menos se distancia dos valores do
sacerdócio. Essas mentalidades empobrecidas são fontes de tensões e
de mágoas, de incomunicabilidades e discriminações e desnaturam a
nossa específica.comunhão apostólica88.
B) Complementaridade em nível apostólico
O que é que implica, em nível de atividade apostólica, a fraterna
complementaridade entre os salesianos coadjutores e padres?. O art. 45
das Constituições afirma: A presença significativa e complementar de
Salesianos clérigos e leigos na comunidade constitui um elemento
essencial de sua fisionomia e completeza apostólica.Consequentemen­
te a comunidade não seria mais, plenamente, ela mesma, se viesse a
faltar ou, seja como for, a ser carente a presença de uns ou de outros.
Nas intenções de Dom Bosco os jovens devem ser abordados com
atividades feitas junto com eles, mas acompanhadas pela estreita cola­
boração entre salesianos padres e leigos, irmãos na mesma comunidade
religiosa89.
O art. 44 das Constituições retoma essa convicção: nas comunidades
inspetoriais e locais os membros tem funções complementares, com
incumbências todas elas importantes. Disso eles tomam consciência:
a coesão e a co-responsabilidade fraterna permitem alcançar os obje­
tivos pastorais. E o artigo que se segue indica com precisão: Cada um
de nós é responsável pela missão comum e dela participa com a
riqueza de seus dons e das características de única vocação salesiana.
E, mais específicamente, no que se refere ao componente laical, a
presença do Salesiano leigo, enriquece a ação apostólica da comunidade:
87. ibidem.
88. ibidem.
89. Cf. Il progetto di vita dei Salesiani..., p. 384.
89

10.2 Page 92

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torna presentes perante os Salesianos presbíteros os valores da vida
religiosa laical e os alerta permanentemente para a viva colaboração
com os leigos; recorda ao Salesiano padre uma visão e um empenho
apostólico mui concreto e complexo, que vai para além das atividades
presbiterial e catequística em sentido estrito .89b.
A presença cheia de significado e de credibilidade do Salesiano
Coadjutor testemunha perante os jovens os valores da vida religiosa
laical, como alternativa da vida religiosa sacerdotal; oferece a todos
quantos não se sentem chamados a uma vida consagrada um modelo
mais próximo da vida cristã, de santificação do trabalho, de apostolado
laical. Permite à comunidade salesiana uma particular encarnação
apostólica e uma particular presença na missão da Igreja. 89c.
24.3 Influxo da reciprocidade e complementaridade sobre a identidade
A reciprocidade e a complementaridade entre os Salesianos leigos
e Salesianos padres influem sobre a identidade de ambos, sobre a das
comunidades e a da Congregação toda inteira.
A) A reciprocidade e a complementaridade caracterizam a iden­
tidade das pessoas.
Justamente porque correlacionados entre si, dentro das comuni­
dade salesiana. Salesianos coadjutores e Salesianos padres se carac­
terizam e se influenciam reciprocamente. Não é possível definir adequa­
damente a identidade do Salesiano coadjutor sem ter que se referir à
identidade do Salesiano padre e vice-versa. A crise de identidade ou
troca de fisionomia de um compromete mais ou menos profundamente
também o outro. Suas riquezas espirituais alimentam-se mutuamente e
a pobreza de sua vida espiritual, respectivamente laical ou presbiterial,
repercute negativamente sobre ambos90.
Para que a comunidade salesiana permaneça fiel ao projeto original
e os seus membros desenvolvam fielmente a própria fisionomia
características é necessário que os Salesianos padres e Salesianos
coadjutores se compreendam e se abram, uns aos outros, para a com­
preensão do dom de Deus: Assim se realiza a troca admirável, onde
cada um continua sempre sendo o que é, mas para os outros e para
todos os quais é mandado. No fundo, o sacerdote que não considera
assim o próprio irmão coadjutor e diminui sua real presença e alcance
profético, acaba lutando contra o seu próprio significado91. E vice­
versa.
89b. Cf. ACG 21 195.
89c. ibidem.
90. ACG 21 196.
91. ibidem
90

10.3 Page 93

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Uma inquietação, como essa deveria perturbar a consciência de
todos92.
B) A reciprocidade e a complementaridade caracterizam a congre­
gação e suas comunidades.
A presença significativa e complementar de Salesiano clérigos e
leigos na comunidade constitui um elemento de sua fisionomia, assim
se no artigo 45 das Constituições. Com isso se reafirma a vontade
explícita de Dom Bosco, aliás repetidamente recordada no curso de
nossa história, a respeito da forma da nossa sociedade93.
O Salesiano coadjutor é um “fator necessário da obra salesiana”,
deixou escrito o Pe. Rinaldi94. O CG 19 o declarou um elemento cons­
titutivoda Congregação, de tal modo que ela, concluía, não seria mais
aquela que Dom Bosco quis se os Irmãos coadjutores viessem a desa­
parecer 95.
O CG 21 disso explicava os motivos: “A específica vocação de reli­
gioso salesiano leigo influe sobre o tom global da Congregação e a
define, juntamente com a dimensão sacerdotal. O tema do salesiano
coadjutor prossegue citando uma declaração do 6.° sucessor de Dom
Bosco toca a imagem da Congregação... Perguntar-se a si mesmo
que é o Salesiano coadjutor significa imediatamente fazer esta pergunta:
qual é a natureza da Congregação, sua missão, seu espírito? Porque
a Congregação querida e fundada por Dom Bosco não se pode imaginar
senão como uma comunidade apostólica de leigos consagrados e de
clérigos. Olhando bem as coisas, os problemas dos Salesianos coadju­
tores se identificam com os problemas da Congregação, são os nossos
problemas mais verdadeiros, mais essenciais.
Ela, portanto conclui a texto capitular deve conservar-se fiel
à sua natureza carismática, querida por Dom Bosco. E não somente
com uma fidelidade teórica doutrinal, mas concreta e histórica. Quer
dizer, não se deve limitar com o afirmar que é clerical e laical, mas
o deve ser verdadeira e visivelmente, na consciência, nas atitudes, na
vida e nas manifestações externas. (...) Talvez se possa acrescentar
que quando numa inspetoria a proporção entre Salesianos coadjutores
e Salesianos padres se acha notavelmente comprometida, não esta­
mos dando mais um testemunho completo e exato daquilo que somos
carismaticamente”96.
Sobre esses mesmos temas voltou o sucessor de Dom Bosco,
quer na carta citada sobre o componente laical da comunidade
92. ibidem.
93. C 4.
94. ACS (1927) p. 621
95. ACG 19, p. 65.
96. ACG 21 197-198.
91

10.4 Page 94

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Salesianaquer em várias outras intervenções no CG 2297. "Não se
trata declarava ele simplesmente deste ou daquele sócio que,
por sua conta e de modo isolado e quase artibrário, tenha um gosto
pessoal mais ou menos ministerial ou profano, trata-se da comunidade
salesiana em sua vitalidade orgânica, ou seja, da Congregação enquanto
tal, que tem como componente essencial de sua fisionomia um peculiar
e simultâneo sentido de consagração da Ordem (sagrada) e da sua
situação laical, que permeia em uma síntese original de vida comum98.
As razões que acabamos, agora mesmo, de apresentar motivam o
grito de alarmeque o Reitor Mor fez ecoar no CG 22
24.4 Participação na vida e no governo da Congregação
As estruturas de animação e de governo influem sobre a identidade
da pessoa e do grupo. Esclarecidas as relações de reciprocidade e com­
plementaridade entre Salesianos leigos e Salesianos padres nas comu­
nidades e na Congregação, toma-se agora possível delimitar e com­
preender melhor, de uma parte a responsabilidade dos Salesianos leigos
nas estruturas de animação e de governo e, de outra, o serviço do Su­
perior salesiano presbítero.
A) A responsabilidade do Salesiano coadjutor nas estruturas de
animação e de governo.
A nossa história demonstra a rica e variada contribuição dos Sale­
sianos coadjutores na vida da comunidade com sua presença nos espa­
ços de responsabilidade direta e em organismos de animação e de
governo, em todos os níveis 10°.
Em nível local, ele exercita todas as incumbências e responsabili­
dades quer na comunidade religiosa, quer na comunidade educativa: é
coordenador, é chefe de oficina, é diretor técnico, diretor editorial,
ecónomo... membro do conselho da comunidade 101.
Em nível inspetorial participa de todas as outras estruturas de
animação da inspetoria: órgãos de consulta e orientação, secretariados;
faz parte do Conselho Inspetorial102 e pode ser delegado ao Capítulo
Inspetorial1M.
97. Cf. VIGANó E., La componente laicale...; ID. La Società di san Francesco
di Sales..., 320-322; ACG 22 79-82.
98. VIGANó E., La componente laicale..., 14.
99. VIGANó E., La Società di san Francesco di Sales..., 322, ACG 22 81.
100. Cf. ACG 21 192.
101. Cf. C 44, 45, 51, 66, 176, 178/179.
102. Cf. C 161, 163-66, 69.
103. Cf. C 170-174
104. Cf. C 145-151.
92

10.5 Page 95

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Em nível mundial pode ser membro do Capítulo Geral104 e conse­
lheiro do Conselho Geral da Congregação 105.
Ele oferece, assim, uma contribuição responsável e afetiva, corre­
lata e orgânica106 para a animação da comunidade fraterna e apostólica,
com uma verdadeira autoridade em base dos princípios de participação,
de subsidiariedade e descentralização107.
Essa autoridade é exercida por ele em nome e à imitação de Cristo,
como um serviço aos irmãos, no espírito de Dom Bosco, para procurar
e cumprir a vontade do Pai108.
B) O serviço do Superior salesiano como presbítero:
O serviço do Superior salesiano é concebido e exercido na
perspectiva da fundamental reciprocidade e complementaridade entre
Salesianos leigos e Salesianos padres. Ele se dirige à finalidade de
solidificar essas relações em sintonia com o tipo específico de missão,
formalmente pastoral, própria da comunidade.
Trata-se de um serviço que a nossa tradição confia, como esclarece
com precisão o art. 121 das Constituições, a um irmão padre que,
pela graça do ministério presbiterial e pela experiência pastoral, sus­
tenta e orienta o espírito e a ação dos irmãos109. Dele e de seu minis­
tério têm a necessidade uns e outros, todos.
Isso deveria garantir a ótica pastoral de nossa atividade e de nossas
obras: não somente a quem é comum a todos os fiéis em quanto sujeitos
ativos da missão da Igreja, mas também a que é específica, vinculada
ao exercício do ministério presbiterial. “Cada comunidade, com efeito é
chamada a ser uma espécie de “estação missionáriapara a juventude.
Aquele que dirige a comunidade deve possuir os critérios de pastor,
que dão à missão comum uma particular conotação eclesial”uo.
2.5 A AÇAO APOSTÓLICA DO SALESIANO COADJUTOR
se acenou várias vezes à ação apostólica do Salesiano coadjutor.
Para integrar tudo quanto se expôs até agora e na linha do conteúdo
próprio deste capítulo, acrescentam-se aqui alguns elementos que se
referem:
aos fundamentos do apostolado salesiano do coadjutor
ao fato de que toda a sua vida deve ser apostólica
ao mundo do trabalho, campo priveligiado da sua ação.
105. Cf. C 141.
106. Cf. C 44, 45, 51, 66.
107. Cf. C 120, 122-124.
108. Cf. C. 121.
109. ibidem.
110. II progetto di vita dei Salesiani di Don Bosco, 104, s. e tb. 808-811.
93

10.6 Page 96

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25.1 Os fundamentos do apostolado do Salesiano Coadjutor
O fundamento de seu apostolado é a consagração recebida no Ba­
tismo e na Confirmação. Ela encontra a sua realização prática e pleni­
tude na consagração apostólica da profissão salesiana.
A) A Comum vocação cristã para o apostolado.
O Salesiano coadjutor é chamado, como o são todos os cristãos,
a participar da missão da Igreja, em força dos sacramentos do Batis­
mo e da Crisma. É uma verdade várias vezes sublinhada pelo Con­
cílio. Eis aqui algumas de suas declarações.
A Igreja que vive no tempo, por sua natureza é missionária111.
“A Vocação cristã é, por sua natureza, também vocação ao apos­
tolado112. Não membro da Igreja que não tenha parte na missão
de todo o corpo místico113. Os pastores sagrados sabem que não fo­
ram instituídos por Cristo para assumir sozinhos toda a missão da
salvação que a Igreja recebeu em relação ao mundo114.
Nos sacramentos do Batismo e da Crisma os fiéis ficam conforma­
dos a Cristo sacerdote, profeta, rei e Senhor. Consequentemente tem o
direito e o dever de exercitar uma ação apostólica ou cultural, profética
ou de testemunho e real ou renovadora da ordem temporal, de modo que
se torne conforme com o plano de Deus 11S.
B) O modo salesiano de participar da missão da Igreja.
São diversas as vocações específicas e portanto os modos de viver
a consagração batismal, de participar da missão da Igreja e de desen­
volver a ação apostólica, comum a todos os cristãos.
Nossa consagração apostólica é o modo salesiano de viver a con­
sagração recebida no Batismo e na Crisma. A nossa missão, juvenil e
popular, é o modo salesiano de participar na missão da Igreja. O
nosso serviço educativo pastoral em relação aos jovens e às classes
populares é o modo salesiano de participar da ação evangelizadora da
Igreja116.
O cristão que se torna Salesiano coadjutor se empenha em cumprir
a missão da Igreja e as três funções próprias de Cristo, participando
da realização do projeto apostólico de Dom Bosco, como membro edu­
cador e evangelizador de uma comunidade.
111. AG 2a; vide tb. AG 35; LG 9b, 17.
113. PO 2a; vide tb LG 13ab, 17, 30, 32a; AG 5, 6g, 10, 35-37.
114. LG 30,32c.
115. Cf. LG 10-12; 34-36; AA 2b, 3a.
116. Cf. C 6, 31.
94

10.7 Page 97

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Sua consagração apostólica recebida na profissão religiosa é o modo
salesiano de viver a consagração batismal e de realizar sua vocação ao
apostolado 117
25.2 Toda a vida do Salesiano coadjutor é apostólica
A vida inteira e a atividade do fiel cristão, e não apenas alguns de
seus momentos, deve ser apostólica. Assim também toda a vida do
Salesiano coadjutor e todo o seu agir deve se transformar em apos­
tolado.
O apostolado não se reduz a algumas ações apenas, como a cate­
quese, a pregação, a administração dos sacramentos. O Vaticano II que
se prende ao pensamento bíblico, inclui no apostolado todas as ações
dirigidas a fazer com que as pessoas vivam e trabalhem em comunhão
de fé, esperança e amor com Deus e entre si, segundo o exemplo que
nos deu o Senhor Jesus n8.
Acenemos a duas consequências práticas.
A primeira está no fato de que os empenhos que os Salesianos
coadjutores desenvolvem, os serviços domésticos, as atividades laicais,
os desempenhos culturais e educativos, não podem ser considerados
misteres ou profissões ou ações profanas tão somente. Uma correta
mentalidade cristã não aceita essa redução porque equivaleria a tornar
próprios, talvez inconscientemente, atitudes e comportamentos de tipo
laicista, para transformar em apostolado tudo isso, não basta a reta
intenção. Oferecer as ações do dia ao Senhor é um elemento que con­
tribui para fazer com que uma ação seja boa, mas pode-se agir com
reta intenção e, ao mesmo tempo, executar mal um trabalho, por exem­
plo, por incompetência. É necessário considerar o trabalho como uma
tareja, confiada a cada um pelo Criador, para ser cumprida de maneira
honesta e competente e para ser dirigida ao serviço das pessoas.
A profissionalidade continua sendo um aspecto importante de qualquer
apostolado autêntico 119
A segunda consequência está no fato de que as atividades que os
Salesianos coadjutores desenvolvem não são uma espécie de apostola­
do indireto, mas uma participação viva e consciente no apostolado
direto da própria comunidade. O Evangelho é anunciado para que seja
vivido; e viver o evangelho quer dizer inserir nas relações interpessoais
os valores que ele propõe.
O Salesiano coadjutor que, ao cumprir o seu ofício, o faz de tal
modo que suas relações com todos quantos trabalham com ele ou são
objeto de seu serviço, sejam imbuídos de respeito, compreensão, vivo
sentido de justiça e sincera caridade e fraterna; transforma sua ativi-
117. ibidem.
118. Cf. AA 2a.
119. Cf. GS 67, 72.
95

10.8 Page 98

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dade em apostolado, porque ele vive o evangelho, testemunha-o com
os fatos e o irradia com o seu comportamento.
Com razão o CG 21 sublinha a necessidade de confirmar e explici­
tar a dimensão apostólica do trabalho e da ação educativa do Salesiano
coadjutor, evitando uma visão unicamente profissional da sua ati­
vidade 12°.
25.3 O mundo do trabalho, campo de ação privilegiado para o
Salesiano leigo
Algumas atividade, por sua própria natureza e pelo ambiente sócio-
cultural em que se desenvolvem, podem vir a ser mais adequados e
significativos com relação a identidade laical do Salesiano coadjutor.
Contando que ele as desempenhe como religioso leigo, e portanto, como
expressão do fato de ele ser sempre e por toda a parte, um membro e
ativo de uma comunidade educativa e evangelizadora. Sobre esses
argumentos interveio de modo particular o CG 21.
Se se notar a importância e a incidência que o mundo do traba­
lho” ocupa em muitas nações, aparece claramente que as atividades
concernentes à área de trabalho vem a ser não as únicas, mas certa­
mente as mais significativas para a ação apostólica do Salesiano coadju­
tor, nesses espaços121.
Dom Bosco, com a simplicidade própria de seu tempo, tinha
sublinhado que uma das tarefas características dos Salesianos coadju­
tores devia ser a de animar cristamente o mundo do trabalho do qual
tinha colhido alguns valores sempre atuais: o caráter de ascese e de
severa autodisciplina; o testemunho e a eficácia apologética de reli­
giosos trabalhadores, em face da opinião pública particularmente sen­
sível ao significado do trabalho” 122.
Hoje em dia o mundo do trabalho, pela natureza que o carac­
teriza e pela reflexão que provocou a partir da Rerum novarumde
Leão XIII; e da “Qradragesimo anno” de Pio XI, até à Mater et ma-
gistrade João XXIII, à Gaudium et spesdo Vaticano II, à Popu-
lorum progressiode Paulo VI, à Laborem exercense à Sollicitudo
rei socialisde João Paulo II, percorreu um longo caminho.
Apresenta-se como um vasto e complexo fenômeno que faz emer­
gir numerosas categoriais sociais, com características próprias, inter­
dependentes entre si, muitas vezes obstaculadas por tensões e conflitos.
É fonte de direitos e de respectivos deveres. Cria novos modelos cul­
turais e forja novos tipos de humanidade. É um potente fator de desen­
volvimento para a pessoa. Situações de desfrutamento, de marginaliza-
ção e desocupação ou ocupação parcial apresentam graves problemas
educativos e pastorais especialmente juvenil.
120. ACG 21 182.
121. ACG 21 183.
122.1bidem.
96

10.9 Page 99

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Para os cristãos é um lugar onde se pode viver e exprimir urna
espiritualidade específica. Com o trabalho, efetivamente, os fiéis parti­
cipam da atividade do Criador, seguem a Cristo, o homem do traba­
lho”, partilham seu caminho doloroso marcado pela cruz, mas ampa­
rado por uma esperança certa de ressurreição123.
O Salesiano coadjutor relembra constantemente a toda a comuni­
dade as urgentes e comuns responsabilidades para com o mundo do
trabalho.
25.4 Uma específica contribuição para a abertura secular da
Congregação.
A Contribuição pela qual os Salesianos leigos fazem com que nossa
Congregação assuma característicos traços seculares compatíveis com
o espírito religioso, é deveras relevante.
Pode-se constatar como suas atividades e funções, de que se tratará
mais amplamente no tema de formação, são às mais das vezes seculares,
isto é, comuns, como as que comumente desenvolvem as pessoas do
mundo. As obras em que trabalham, salesianas e não salesianas, como
quer que seja, tem caráter prevalentemente profano. São escolas téc­
nicas e profissionais, centros juvenis, obras educativas e culturais
são hoje em dia largamente abertas ao ambiente sócio-cultural no qual
se acham inseridas.
Ademais exigências de trabalho e presença entre os jovens com­
portam a inserção em algumas condições de vida que são próprias
dos seculares, com amplas possibilidades e conveniência de colaboração
com eles, com os colaboradores leigos, com os pais de alunos, com a
mais ou menos vasta clientela de nossas muitas obras.
Mais ainda, tendo de atiçgir, às vezes, jovens e classes populares
em seu próprio ambiente, com a finalidade de se encontrar perto deles,
de amá-los em Cristo, de aliviar sua indigência, fazendo próprias as
legítimas aspirações que têm por uma sociedade mais humana, os
Salesianos leigos são levados com esse exato serviço a viver em uma
condição secular e animá-la cristãmente.
Em síntese, a secularidade dos salesianos coadjutores, mesmo que,
em vista de sua qualificação de religiosos, seja necessariamente limi­
tada, permanece, todavia, sob outros diversos pontos de vista, assaz
larga, e, muitas vezes, muito mais ampla do que a que cabe aos
Salesianos padres. "Há certas coisas afirmava Dom Bosco falando
aos Irmãos coadjutores que os padres e os clérigos não podem fazer
e vós as fareis124 e são justamente as que a condição de Salesiano
leigo permite e habilita para que sejam feitas12S.
123. Cf. p. ex. LE 25-27.
124. MB. 16, 313.
125. Cf. VIGANÕ E., La componente laicale..., 17, 26, 31-34.
97

10.10 Page 100

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2.6 ALGUNS TRAÇOS DA VIDA ESPIRITUAL
DO SALESIANO COADJUTOR
Com a expressão vida espiritualentendemos referir-se ao modo
concreto com que o crente acolhe, experimenta, amadurece e vive em
si a presença do Espírito Santo. Assim entendida a vida espiritual é o
conjunto das atitudes interiores e dos comportamentos exteriores, com
os quais o cristão vive sua específica vocação apostólica na Igreja e
no mundo, dócil à ação do Espírito do Senhor.
26.1 Vida espiritual é viver o espírito salesiano
Na Igreja muitas maneiras de viver uma autêntica vida espiri­
tual conforme o Evangelho. Para nós, filhos de Dom Bosco, vida espi­
ritual tem uma imediata relação com o espírito salesiano, isto é, com
o estilo original de vida e ação vivido pelo nosso fundador e que nos
foi transmitido como herança preciosa.
Não é tão somente uma doutrina isso também, obviamente), po­
rém, mais do que isso, é o conjunto de atividades e comportamentos
que os discípulos de Dom Bosco assumem e exprimem vivendo e tra­
balhando para a realização de seu projeto apostólico
O Salesiano coadjutor é chamado a viver e a testemunhar na
comunidade uma experiência evangélica que corresponde à sua especí­
fica forma vocacional. É chamado a viver o espírito salesiano como
Irmão leigo.
Em sintonia com as linhas que trazem em si o espírito salesiano,
o centro e a síntese da vida espiritual do Salesiano coadjutor é a
caridade pastoral caracterizada pelo dinamismo juvenil...; é um im­
pulso apostólico que faz com que se busquem as almas e se sirvam
somente a Deus 127
Inspirando-se nos exemplos e ensinamentos do seu fundador e pai,
ele encontra no próprio coração de Cristo, apostolo do Pai, o modelo
e a fontede toda a sua vida espiritual e apostólica. É grato para com
o Pai, pois que chama todos à salvação; têm consciência de estar par­
ticipando da predileção de Cristo pelos jovens pobres; de um colabora­
dor de Deus, um instrumento humilde, mas também necessário e eficaz,
em seu agir toma exatamente as atitudes do Bom pastor, que conquista
com a mansidão e o dom de si mesmo"; tem um profundo sentido de
fraternidade humana e vive em comunhão fraterna com todos, segundo
o exemplo do Senhor Jesus.128.
Agindo, como salesiano leigo, para a salvação da juventude, faz
experiências da paternidade de Deus e reaviva continuamente a dimen­
são divina de sua atividade (...). Cultiva a união com Deus, sentindo
a exigência de rezar sem cessar, em diálogo simples e cordial com o
126. Cf. a 12.
127. ibidem.
128. Cf. C 11.
98

11 Pages 101-110

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11.1 Page 101

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Cristo vivo e com o Pai, que sente perto de si. Está atento à presença
do Espírito”1S.
Desenvolve a missão apostólica, vive a comunhão fraterna e pratica
os conselhos evangélicos com um único movimento de caridade para
com Deus e para com os irmãos: é o mihi animas” que caracterizou
a vida e a atividade de seu Fundador e sua maneira de contemplar a
Deus: é o modo concreto com o qual, segundo o exemplo de Dom Bosco,
o Irmão coadjutor encontra Deus, que age nas pessoas e se manifesta
nos acontecimentos para a salvação da humanidade 13°.
26.2 O Salesiano coadjutor vive, como Salesiano leigo, as atitudes e
os comportamentos próprios do espírito salesiano
A) Vive com alegria e reconhecimento sua vocação salesiana
Consciente do precioso dom da vocação, sente-se reconhecido para
com o Pai. Vive a com a alegria, como Salesiano leigo, considera-a um
valor positivo e completo, significativo e essencial para a Congregação
Consciente de sua responsabilidade, entrega-se à fidelidade de Deus
que o amou por primeiro e renova quotidianamente sua resposta à
especial Aliança que o Senhor fez com ele na profissão religiosa. Dela
faz a única razão de ser de sua vida, seu único caminho de santificação132.
B) Vive em comunhão de espírito e de ação com os Salesianos
padres
Chamado a participar com os irmãos padres na realização do
comum projeto apostólico e a viver com eles uma vida de fraternidade,
trabalho e oração, tem “o sentido do nóse identifica-se a si mesmo
com a vida da comunidade.
Motivado por essa convicção, empenha-se em fazer com que a sua
vida espiritual e sua ação apostólica sejam caracterizadas por relações
de íntima comunhão e de efetiva colaboração com os Salesianos
padres133.
Está atento para eliminar do seu modo de pensar, falar, agir,
qualquer mentalidade, gesto ou expressão que revele, de qualquer ma­
neira que seja, ou um sentido de desconforto e recriminação ou, pior
ainda, ressentimento ou aversão. É generoso quando se trata de perdoar
e esquecer desatenções ou injustiças de que foi vítima134.
Exprime de maneira prática o seu sentido da Igreja como família
na qual todos são filhos do mesmo Pai, irmãos do único Senhor e
129. c. 12.
130. C 3, 12, 19, 21, 95.
131. V. acima, n? 3.2.1.
132. Cf. C 196, 14, 2, 12.
133. Cf. C 16, 44, 45, 49-52.
134. Cf. C 52, 90, 91.
99

11.2 Page 102

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igualmente responsáveis, se bem que com ministérios e empenhos
diversos, em edificar o corpo de Cristo e difundir o seu Reino 135.
Têm consciência da originalidade de sua contribuição e, por isso
mesmo, da necessidade de ser ajudado 13é.
C) Vive no “mundo do trabalho” alguns valores do espírito
salesiano
O “mundo do trabalhoé de ordinário o campo privilegiado de
sua ação apostólica. Inserido nele, entra em contato com fenomenos
que caracterizam esse mundo: solidariedade, concretude, adatação,
várias formas de tensão e conflituosidade ,37.
Tudo isso lhe permite fazer uma experiência pessoal e particular
de alguns valores do espírito salesiano e de testemunhá-los nesses
ambientes: o sentido do concreto e das urgências, o espírito de inicia­
tiva e de criatividade, a capacidade crítica, a efetiva solidariedade, o
espírito de família318.
D) Vive junto aos jovens e fiéis leigos com otimismo, operosidade
e temperança
A sua condição laical e o trabalho, que habitualmente desempe­
nha, lhe permitem estar junto dos jovens e dos fiéis leigos com uma
proximidade característica,M. Pratica, de maneira original o estilo
salesiano de relações: simplicidade, abertura, cordialidade, delicadeza
ao tratar com os outros. Cultiva as virtudes sociais, recomendadas pelo
Vaticano II aos fiéis leigos: probidade, espírito de justiça, sinceridade,
cortezia, fortaleza de ânimo, a arte de conviver e de cooperar frater­
nalmente e saber dialogarI4°.
O tipo de trabalho, a que se dedica, aproxima-o da criação, da
técnica, da arte e o estimula a praticar o otimismo salesiano. Sabe
colher e acolher com reconhecimento os valores terrestres; admira a
criação e o poder que Deus nela confia ao homem; alegra-se pelos
sucessos do progresso científico e tecnológico. Por outro lado está bem
consciente de que infelizmente esse progresso nem sempre é acompa­
nhado por um correspondente desenvolvimento humano moral e reli­
gioso. Ele assume, então, atitudes iluminadas e práticas de crítica, sem
concessões para com o pessimismo, o desencorajamento, a desconfiança
e o descaso. Frente às dificuldades e aos problemas que encontra o
seu caminho consegue ser sereno e sempre alegre 141.
135. Cf. C 4, 13, 57.
136. Cf. C 44, 45, 49-51.
137. Veja acima n.” 25.4.
138. Cf. C. 19, 18, 79.
139. Veja acima n." 25.4.
140. Cf. C 15-17.
100

11.3 Page 103

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Seguindo o exemplo de Dom Bosco, entrega-se à sua missão com
operosidade incansável, procurando fazer bem todas as coisas com
simplicidade e medida. Sabe que com seu trabalho participa na ação
criadora de Deus e coopera com Cristo na construção do Reino. A
temperança reforça-lhe a guarda do coração e o domínio de si, e o ajuda
a manter-se sereno. Não busca penitências extraordinárias, mas aceita
as exigências diárias e as renúncias da vida apostólica: está pronto a
suportar o calor e o frio, a sede e a fome, as fadigas e o desprezo,
sempre que se trate da glória de Deus e da Salvação das almas*42.
Na operosidade de cada dia se associa aos pobres que vivem da
própria fadiga e testemunha o valor humano e cristão do trabalho143.
E) Vivendo e trabalhando segundo o espírito salesiano celebra
a liturgia da vida.
Consagrado pelo Espírito, o Salesiano coadjutor se torna templo
espiritual, participante do sacerdócio de Cristo e habilitado para ofe­
recer a DEUS, como sacrificio espiritual, a si mesmo todo inteiro,
suas obras, suas iniciativas apostólicas, o trabalho de cada dia. o des­
canso espiritual e corporal, até mesmo os incómodos da vida144.
Nesse seu viver e agir empenha se em atingir a operosidade incan­
sável, santificada pela oração e pela união com Deus, que deve ser a
característica dos filhos de São João Bosco” e em celebrar, portanto,
a sua vida como liturgia145.
F) Vive de maneira característica sua devoção a Maria
A profissão religiosa tem a força de conformar sobremaneira o
cristão ao gênero da vida virginal e pobre que o Cristo Senhor escolheu
para si e que sua Virgem Mãe abraçou 14é. Assim declara a Lumem
gentium. E a Apostolicam actuositatemacrescenta que os leigos
encontram em Maria o modelo perfeito de sua vida espiritual e apos­
tólica” 147.
Nela estão presentes em nível de perfeição, a dimensão religiosa
e a laical. A imitação e a sintonia se tornam duas exigências da forma
vocacional do Salesiano coadjutor. Venera filialmente a Maria como
Auxiliadora e mãe da Igreja, imitando a intimidade apostólica de
Dom Bosco.
141. Cf. C 17 e tudo quanto foi escrito nos n.°s 4.1 e 5.4.2.
142. C 18.
143. C. 78.
144. Cf. LG 10a, 34b.
145. C 95.
146. LG 46; PC 25
147. AA 4 no fim.
101

11.4 Page 104

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26.3 O espírito do Fundador, lugar de unidade
As duas formas vocacionais, a do Salesiano padre e a do Salesiano
leigo e a sua consequente espiritualidade, são constitucionalmente pró­
prias de discípulos que o Espirito Santo quis que nascessem para Dom
Bosco e para sua missão.
A realidade que permite aos Salesianos coadjutores e padres unifi­
carem, em nível de reflexão e de vida, suas distintas espiritualidades,
laical, uma delas; e presbiterial, a outra, é o espirito salesiano. O CGE
o descrevia como o nosso próprio estilo de pensamento e de senti­
mento, de vida e de ação em se tratando de por em ação a vocação
específica e a missão que o Espírito não cessa de nos dar148.
O espirito salesiano não abrange e informa a espiritualidade
religiosa laical e presbiterial, mas as constrói em um projeto unitario
com características salesianas. Esse papel que unifica e especifica foi
com perspicácia intuido pelo Pe. Rinaldi: A nossa santidade, escrevia,
não se encontra apenas na prática do sistema de vida abraçado com a
profissão e, nem mesmo, unicamente na imitação das virtudes de nosso
Pai, mas principalmente em fazer com que a vida salesiana que abraça­
mos e a imitação das virtudes paternas sejam animadas pelo espírito
do qual vivia e com o qual exercitava as virtudes o próprio Dom
Bosco149.
26.4 As testemunhas heróicas de santidade salesiana laical
Os delineamentos de vida espiritual traçadas até aqui não são um
ideal abstrato. São valores vividos concretamente pelos Salesianos
coadjutores que foram e são fiéis a Dom Bosco.
Merece aqui ser transcrita uma autorizada declaração do CG 21:
A profundidade da vida espiritual assim lemos toca o seu vértice
e se faz riqueza para toda a Congregação quando, à imitação de Dom
Bosco, se atinge a perfeição da caridade em grau heróico. Temos moti­
vos suficientes para crer que esse dom foi concedido a não poucos
salesianos coadjutores. Cada irmão tem presente uma ou outra figura
que realizou essa plenitude em diversos lugares e em variadas situações,
mesmo as mais escondidas e sacrificadas. Muitos entraram para a
história da Congregação; alguns deles, mártires por causa da ou
heróis na caridade, são candidatos à glorificação dos santos.
Esses testemunhos nos oferecem uma prova ulterior da riqueza
carismática contida na vocação salesiana laical” 15°.
148. ACGE 86.
149. ACS 10(1929), pg. 73.
150. ACG 21 191.
102

11.5 Page 105

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3. A VOCAÇÃO DO SALESIANO COADJUTOR NA PASTORAL
VOCACIONAL SALESIANA
O CG 22, ao mesmo tempo que pedia esclarecedor enfoque da
identidade de Salesiano Coadjutor, fustigava também para um traba­
lho mais eficiente, quer no âmbito da pastoral vocacional quer no da
formação. Não se é “alguém” pela graça de Deus para quedar-se
em simples considerações.
Os dons de Deus existem para que, usados no serviço dos irmãos,
neles cresça o Reino dele.
Mostrou-nos, então, a história o nascimento e o desenvolvimento
de uma forma vocacional em vista de uma missão. O aprofundamento
que se fez, revelou-lhe a originalidade, a beleza e a eficácia no seu uso.
Que se procure, pois, o dom onde ele está. Quem o possuir deve
também descobrí-lo, deve fazê-lo amadurecer em nível de certeza e de
conhecimento responsável. Tentará esforçar-se para que os valores que
o compõem sejam por ele identificados e interiorizados. Teologia, pasto­
ral vocacional e formação compartilham uma tarefa que é distinta e,
não obstante, necessária, progressiva e contínua.
3.1. PASTORAL VOCACIONAL
3.1.1. Posicionamento pastoral do trabalho vocacional
Na raiz de qualquer convite dirigido aos jovens para assumirem
determinado projeto cristão de vida, uma visão básica, embora nem
sempre convenientemente explicada, da vocação em geral e da pastoral
vocacional. Para o nosso propósito não é necessário voltar a essa visão
de forma completa como se deduz da reflexão atual de Igreja e de
Congregação '.
1 Cf. Sviluppi della cura pastorale delle vocazioni nelle chiese particolari: espe­
rienze del passato e programmi per l’avvenire. Tema geral do segundo Con­
gresso Internacional das Vocações, aos cuidados das Congregações das Igrejas
Orientais, dos Religiosos e dos Institutos Seculares, da Evangelização dos
103

11.6 Page 106

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Aqui, nosso argumento é específico e restrito: diz respeito à voca­
ção salesiana laical. Supõe, então, conhecido e compartilhado o que
é mais geral e básico.
A renovação, mesmo que por acenos, de algumas perspectivas
fundamentais da pastoral vocacional ajudará a situar corretamente a
reflexão e a orientar as iniciativas de promoção dessa vocação especial.
Falamos de pastoral. A palavra nos leva a pensar na Igreja. Com efeito,
a pastoral é a ação da Igreja e, em comunhão com ela, ação de comu­
nidades e pessoas, tende a suscitar a em Cristo, a formar e consolidar
as comunidades de crentes e a levedar a história humana com o Evan­
gelho. Vão assim os homens tomando consciência da presença de Deus
na própria vida; e respondendo a essa graça com a conversão,' entram
em comunhão com o Senhor e entre si.
É a isso que visa a tarefa de habilitar as pessoas a perceberem o
diálogo singular que Deus entabula com cada um de nós desde o
primeiro momento de nossa existência e ao longo da vida toda para
nos incorporar ativamente em seu desígnio de salvação.
É, pois, a Igreja o âmbito no qual se experimenta o chamado de
Deus; onde se descobre a originalidade das diversas vocações; lugar do
surgimento das vocações, lugar em que elas se reconhecem como tais,
amadurecem e se empenham no serviço da comunidade.
Nesse sentido, a pastoral vocacional é um serviço de evangelização,
com acento especial na ajuda e assistência a todo fiel para entrar, com
todo o seu ser pessoal e sua escolha livre, no plano de Deus2.
Dirige-se, portanto, a toda pessoa, a vida inteira, segundo seu estado
e situação. A resposta ao chamamento do Senhor, com efeito, não
de imaginar se feito de uma vez, para sempre: ela deve renovar-se
continuamente.
Entretanto a pastoral vocacional tem em mira de modo especial
a idade juvenil. É a quadra em que, em geral, no processo de matura­
ção da própria identidade, são tomadas as decisões que marcam o
curso da existência.
Orientação vocacional e crescimento pessoal de tal modo se enla­
çam que não se distingue bem um do outro. Efetivamente, o escopo
do amadurecimento humano e cristão é capacitar a pessoa para es­
colhas livres e válidas.
Povos, da Educação Católica. Documento conclusivo, Roma, Ed. Rogate
Ergo, 1982.
Documentos das Igrejas Locais, p. ex., Conferência Episcopal Italiana,
Vocazioni nella Chiesa italiana. Piano pastorale per le vocazioni, Bologna,
EDB, 1985.
CG 21, La fecondità vocazionale della nostra azione pastorale, Documenti
capitolari, n.106-119, Roma, 1978.
* Dicastero Pastorale Giovanile, Lineamenti essenziali per un Piano Ispettoriale
di Pastorale Vocazionale, Roma, 1981.
2. CG 21 106.
104

11.7 Page 107

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Por isso a pastoral vocacional aparece estreitamente ligada à
pastoral juvenil, isto é, ao conjunto de iniciativas referentes à educação
dos jovens à fé, vivida na comunhão eclesial. Esta é uma das conclu­
sões definitivas da prática atual: é na pastoral juvenil que a pastoral
vocacional encontra seu espaço vital. A pastoral juvenil se torna com­
pleta e eficaz quando se abre para a dimensão vocacional3.
Tal afirmação diz respeito mais ã organização que ao próprio
conceito de pastoral vocacional, e de entender-se em duplo sentido.
Primeiro de que qualquer desenvolvimento vocacional se alicerça num
progressivo amadurecimento espiritual da pessoa, que vai colocando
Deus e sua vontade como centro de sua vida: A pastoral vocacional
é, de fato, o ato de ajuda oferecido ao adolescentes e jovens na cons­
trução de sua identidade cristã... respeitando o chamado de Deus
e ação do Espírito que se revela durante todo o ciclo da vida, dentro
das situações individuais da história pessoal e social4. E, depois no
sentido de que em qualquer atividade pastoral que tenha os jovens
como destinatários, deve estar “presente de modo explícito e sistemá­
tico a orientação vocacional como dimensão essencial”5.
3.1.2. As referências fundamentais de uma pastoral vocacional
Algumas convicções animam, de dentro, essa ação da comunidade
cristã.
Refere-se a primeira à própria natureza da vocação, Ela é como
tal de ser julgada também para os efeitos mais práticos e opera­
cionais uma iniciativa gratuita de Deus, a qual se revela na consciência
como um chamado pessoal de amor.
É assim que aparece na Sagrada Escritura, principalmente nos
Evangelhos: “vem e segue-me”; Não foram vocês que me escolheram,
fui eu que escolhi vocês.O Senhor chama para estar com ele”;6
chama para um conhecimento vital do seu mistério e para uma adesão
total à sua pessoa até a escolha radical no seu amor. Convida, ao
mesmo tempo, a colaborar na salvação dos homens mediante uma
missão: Chamou os doze... mandou-os anunciar o Reino de Deus
e curar os doentes7.
Essa consideração sobre a vocação leva-nos à motivações que lhe
embasam a autenticidade, devendo elas estar presentes, ainda que
em germe, na proposta mesma, com ulterior purificação durante o
acompanhamento para discernir os caminhos de uma verdadeira pas­
toral vocacional e para especificar as atitudes que devem caracterizar
3. Sviluppi delia cura pastorale..., o.c., 42.
4. CG 22 112.
5. CG 22 113.
6. Cf. Jo 1,39.
7. Cf. Lc 9,1-6.
105

11.8 Page 108

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os promotores vocacionais. Tudo tem de ser visto como graça,
encontro misterioso entre Deus e o jovem no âmbito da liberdade.
Dessa primeira convicção brota uma segunda: a pessoa chamada
é responsável principal e, em dados momentos, exclusiva, do processo
e da decisão vocacional. Aquilo que, em seu coração, não amadurecer
em liberdade e generosidade, vai tornar-se insanável inconsistência no
relacionamento com Deus e com a própria vida.
Com efeito, a descoberta e o acolhimento da iniciativa de Deus se
realiza mediante profundo intercâmbio em que o sujeito precisa escutar
e responder pessoalmente. A vocação voz e iniciativa divina vai
emergindo e desenvolvendo-se no entrelaçar, das experiências da vida,
dos dinamismos e das opções livres da pessoa. Está profundamente
enraizada na sua história. A manifestação dela na consciência e seu
posterior aclaramento são favorecidos ou são impedidos por tudo o
que vai definindo a pessoa diante de Deus e de sua graça.
Disso derivam duas indicações pedagógicas fundamentais. Ao redor
da pessoa têm de ser criadas condições favoráveis à escuta e à docili­
dade. Ao mesmo tempo é preciso garantir decisões pessoais internas e
motivadas de acordo com as diversas idades.
A essas duas indicações responde a orientação vocacional, que pre­
tende ter cunho de proposta e, ao mesmo tempo, de conscientização
do papel principal por parte do sujeito.
A orientação de ser entendida como um itinerário ou processo
interior do indivíduo que pondera a própria disponibilidade, avalia-se
diante dos sinais do chamamento de Deus, assume os compromissos
que possibilitam a resposta. É ele quem se orienta.
O animador ou promotor a esse processo assistência, apoio e
guia. Não toma o lugar do sujeito e cuida que este não lhe fique de­
pendente nas próprias decisões. Tem uma tarefa que facilita a liberdade
que deve superar condicionamentos pessoais ou ambientais, facilita a
generosidade que precisa sobrepor-se a interesses imediatos, mesmo
legítimos, ilumina a inteligência que deve descobrir os horizontes de
Deus e aprender a discernir os sinais.
E é que surge um terceiro elemento indispensável para qualquer
pastoral vocacional, ampla e específica: a necessidade e as tarefas das
mediações, isto é, das comunidades ou pessoas que tencionam ajudar
a perceber o chamado de Deus e dar-lhes resposta. Desde o nascimento,
a todos é dado, em germe, um conjunto de aptidões e qualidades para
fazer frutificar. Ambientes, pessoas, ensinamentos, atividades desenvol­
verão tais germes, revelando novas possibilidades de expressar o pró­
prio amor e abrindo horizontes de engajamento.
Consiste a pastoral vocacional em por em ato mediações eficazes
nos momentos justos. Alguns estímulos podem vir das comunidades,
outros dos encarregadosou de pessoas com dotes especiais. Trata-
se de dois tipos de mediação complementar, ambos necessários.
106

11.9 Page 109

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Preocupar-se apenas com a “procura” de vocações por parte dos
promotores, descuidando o testemunho e o ambiente comunitário, ou
o relacionamento do candidato com a comunidade, provoca crise de
credibilidade.
Excluir o convite pessoal, esperando que tudo se origine do am­
biente ou da interioridade, é desconhecer as leis da encarnação e põe
em risco a floração de muitas disposições.
Cristo nos o exemplo da mediação vocacional. Ao fascínio criado
pela sua pessoa ajuntava o apelo dirigido a cada uma das pessoas.
3.1.3. As tarefas da pastoral vocacional
Esclarecidas as referências fundamentais em que se inspira a pas­
toral vocacional, é necessário que se explicitem suas tarefas São formu­
ladas sinteticamente em quatro palavras: rezar, anunciar, chamar,
acolher.
A oração não é um meio para receber o dom dos chamados divi­
nos; ela é o meio essencial que o Senhor mandou. O exemplo de Jesus
e a prática da Igreja, expressa hoje em autorizados convites de nível
mundial (cf. Dia mundial das vocações) e em multíplices iniciativas de
grupos, colocam-na em primeiro plano como intercessão para conse­
guir vocações, como experiência provocadora do seu surgimento, como
itinerário para fazê-las madurar.
O anúncio da vocação é feito mediante o testemunho e a palavra .
Consiste em apresentar em forma de experiência, mais do que de mera
informação, o grande e universal chamamento do Senhor para a vida
e para a fé; e, ligado a ele, o ulterior chamado a um amor maior e à
santidade. Uma progressiva catequese vai mostrando os dons do Reino
que se tomam riqueza da comunidade: o sacerdócio ministerial. Faz
também ver a dependência recíproca desses dons na construção da
Comunidade a fim de não serem entendidos como privilégios indivi­
duais. Traz conscientização das necessidades do mundo, mediante as
quais Deus chama para partilharmos do seu amor ao homem e dos
lugares de serviço existentes na Igreja.
O documento do Segundo Congresso Mundial das vocações fala de
“evangelizar a vocaçãoe explica o significado da expressão com estas
palavras: Urge uma catequese que, em primeiro lugar, saiba guiar os
fiéis, especialmente os jovens, na consideração da vida cristã como
resposta ao chamado de Deus. A catequese toda toma assim uma dimen­
são vocacional. A Catequese específica, por sua vez, destaca o caráter
próprio da vocação presbiterial, diaconal, religiosa, missionária, con-
8. Sviluppi delia cura pastorale..., o.c. n.° 23.
9. Ib. n.“ 25-28.
107

11.10 Page 110

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sagrada na vida secular, a fim de que a comunidade crente compreen­
da sua importância para o Reino de Deus10.
Não basta, porém, o anúncio. Por vezes, quem ajuda deve fazer o
convite pessoal, ao descobrir que no candidato as condições ade­
quadas. Não abrir um horizonte de amor e de engajamento, por excessi­
va cautela ou por medo de implicação num futuro pessoal que tem mar­
gem de incerteza, é privar o jovem de possibilidades a que ele tem
direito.
Por isso, hoje, depois de um período de demasiada cautela, fala-se
em reaver a coragem de chamar. O CG 21 assim se expressa: O
respeito ao plano de Deus para cada pessoa requer que, além de levar
cada um a uma compreensão de si mesmo e da realidade comunitária
humana e eclesial, à luz da fé, se tenha a coragem de uma total hones­
tidade e uma completude em ajudá-lo a colocar-se com disponibilidade
defronte a todas as vocações na Igreja (...). Um jovem cristão não
pode deixar de considerar também a hipótese da vida consagrada e do
sacerdócio. Não propor a ele o exame de tais possibilidades, ao invés
de respeitar, limita sua liberdade11.
Por fim, tem-se a acolhida e o acompanhamento. É um serviço
de escuta, de misericórdia, de esperança . . . 12. O cumprimento dessa
tarefa exige dos animadores e dos promotores o respeito à liberdade
do jovem; o conhecimento doutrinal e a experiência prática do discer­
nimento e da direção espiritual; a atenção aos sinais das diversas
vocações.
A acolhida é assumida solidariamente por todos os que entram em
contato com uma vocação, mesmo que depois venha a ser especial­
mente exercida por determinadas pessoas e determinadas comunidades.
3.1.4. A caminhada vocacional
Por meio dessas tarefas, a pastoral ajuda os jovens a percorrer
uma estrada típica do amadurecimento vocacional. Em primeiro lugar,
cria no jovem o desejo e o gosto por uma forma de vida cristã empe­
nhada e capacita-o para se por a escuta da voz de Deus. É a aceitação
alegre da realidade de Deus na própria vida como relação preferencial
e presença determinante.
Depois assiste-o com informações e experiências quando o rapaz
se sente atraído por uma ampla área de valores, de modelos e de
atividades.
Quando a atenção do jovem se vai concentrando num tipo especial
de vida ou de pessoa, cuja originalidade é apanhada como correspon-
10. Ib. n? 15.
11. CG 21 113.
12. Sviluppi della cura pastorale..., o.c. n.° 131.
108

12 Pages 111-120

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12.1 Page 111

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dente a suas próprias expectativas existenciais, a pastoral vocacional o
acompanha nos primeiros passos rumo a uma decisão inicial.
Nessa caminhada, tem singular importância o discernimento dos
“sinaisque tornam perceptível o chamamento em quem o recebe e
nos que, de parte da Igreja, devem ajuizar-lhe a existência e a vitalidade.
São estes principalmente tais sinais: o interesse; a ausência de
contra indicações absolutas ou prudenciais; as disposições gerais que
garantem o desenvolvimento de uma personalidade religiosa e as espe­
cíficas para o tipo de vida que o atrai; as motivações, em cuja avalia­
ção é preciso cuidar de sua validade e autenticidade.
Além de ajuizar da existência objetiva dos sinais, a pastoral
vocacional acompanha a resposta livre ao chamamento, feita pelo indi­
víduo. Que é dinâmica e progressiva. Pode ter idas e vindas. Nesse
dinamismo, mais de que as aptidões naturais, por mais apreciáveis
que sejam, têm influência a formação espiritual e a abertura à graça.
3.2. A PASTORAL VOCACIONAL DO SALESIANO COADJUTOR
Tendo presente os critérios apontados, orientadores de toda a pas­
toral vocacional, pode-se dar ulterior explicitação de alguns aspectos
peculiares, próprios da promoção vocacional salesiana laical. Dizem
respeito sobretudo a dois momentos ou tarefas: o anúncio proposta, a
acolhida-acompanhamento.
Existe certa dificuldade em apresentar aos jovens a fisionomia reli­
giosa, espiritual e apostólica, do salesiano coadjutor em toda a riqueza,
de maneira compreensível e próxima das aspirações deles.
Os diversos encontros sobre a vocação do religioso leigo procuram
individuar as causas dessa dificuldade: o papel pouco evidente do
fiel leigona comunidade cristã; a falta de modelos de identificação;
a mentalidade “clericalde algumas comunidades religiosas: a ausência
de sinais distintivos no religioso leigo; um passado que lhe dava a apa­
rência de subalterno em famílias religiosas preponderantemente
sacerdotais; o posicionamento da pastoral vocacional; a natural
tendência dos jovens de juntar vocação com serviço religioso para o
povo.
Na Congregação, vão-se descobrindo meios apropriados para ajudar
os jovens a entender a originalidade e a beleza dessa vocação.
3.2.1 Contar a história de Dom Bosco
Primeiro desses meios: contar a história de Dom Bosco. Falar de
suas Instituições, da fundação da Congregação Salesiana, vinda de expe­
riência original de caridade pastoral. O amor aos jovens que se achavam
em condições de pobreza levam Dom Bosco a se preocupar com os pro­
blemas todos da vida deles com um projeto de promoção completa.
Pensou na salvação eterna deles, mas em ligação também com proble­
mas imediatos de existência: trabalho, instrução, moradia.
109

12.2 Page 112

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Quando sua ação apostólica se estende à classe popular, ele lhe
manteve as mesmas características: junto com o serviço presbiterial
da pregação e da assistência religiosa, tomou a peito problemas
como emigração, difusão da cultura pela imprensa, a organização da
colaboração para fins sociais.
Iniciou, assim, e desenvolveu uma obra que na sua estrutura mate­
rial incluía a igreja, mas oficinas também e aulas, e tempo para lazer.
Ensinava-se a oração, o catecismo e a frequência aos sacramentos;
mas também aprendiam-se ofícios, dava-se instrução; eram os jovens
preparados para a vida social; cultivava-se a música, o teatro e outras
formas de expressão.
Com isso, Dom Bosco se propunha formar “bons cristãos” para
a comunidade eclesial, valendo-se dos meios de que ela dispõe: mas
também (e por se tratar justamente de cristãos) queria formar
“honestos cidadãospara a sociedade civil, capazes de um trabalho
responsável e de participação inovadora.
Daí que a iniciativa era vista pelos fiéis como “obra pia e religiosa,
ligada à Igreja; viam-na os demais como obra educativa de solidarie­
dade humana de interesse social, de promoção.
O próprio Dom Bosco gostava de apresentá-la como benemérita
da sociedade Civil”, propondo colaboração aos fiéis ou aos que pelo
menos tivessem sentimentos humanitários. Ele interessava às forças
seculares, fazia-se presente nos campos culturais, punha-se em contato
com pessoas e organizações do Estado visando sempre ao bem de seus
rapazes.
A fim de realizar esse complexo projeto em prol dos meninos e do
povo, desde o começo juntou em redor de si padres e clérigos. Mas
também pediu, e obteve, a colaboração de numerosas outras pessoas
que, além da amizade, lhe proporcionavam sua competência, o entusias­
mo apostólico, seu prestígio social.
Assim, quando por inspiração divina, deu origem à Congregação
Salesiana, imaginou a e fundou-se como "grupo de sacerdotes, clérigos e
leigos, especialmente artesãos, que desejavam reunir-se procurando o
bem recíproco e, ademais, o bem dos outros” .
Nasceu a Congregação Salesiana como vimos de dois
componentes que se completam intimamente, ajudam-se mutuamente e
aparecem como reciprocamente necessários ao cumprimento de sua
original missão juvenil e popular: sacerdotes e leigos.
Desde o início foram todos chamados ao seguimento radical de
Cristo e à sua santidade; viveram em igualdade e fraternidade sob a
paterna orientação de Dom Bosco; deram a sua contribuição de com­
petência específica para obter uma única finalidade, inspirados pela
mesma caridade pastoral: para alguns, o ministério sacerdotal; para
13. MB 12, 151
110

12.3 Page 113

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outros, a capacidade administrativa ou a de relações públicas; a direção
de oficinas; os encargos de confiança na gestão doméstica; as atividades
artísticas.
A figura do religioso leigo”, chamado coadjutor, ocupou a
atenção de Dom Bosco durante a vida inteira. Nascida que foi de ins­
piração divina, como exigência da missão juvenil, ele a aperfeiçoou à
medida que se iam abrindo novos horizontes de empenhos, e candida­
tos novos iam enriquecendo a imagem do coadjutor com realizações
originais.
Não foi um complemento marginal; foi elemento constitutivo da
identidade. Dom Bosco considerou seus religiosos leigos tão indispen­
sáveis quanto os sacerdotes no cumprimento da missão que Deus lhe
confiara. Podem-se, a propósito, lembrar seus gestos para com os coad­
jutores, a atitude de confiança total neles, suas palavras a respeito da
importância do serviço e da responsabilidade deles, de sua participação
na vida da Congregação.
Foi assim que se desenvolveu a vocação salesiana, e é assim que
hoje se pode vivê-la em duas formas vocacionais distintas: a presbite-
rial, que se expressa de modo especial no ministério da palavra, da
santificação mediante os sacramentos e da animação da comunidade
cristã; a laical, que põe habilidade, sensibilidade e aptidão profissional
seculares a serviço da caridade, do testemunho e do anúncio de Cristo.
Cada um desses tiposconcentra e expressa uma característica
difundida na Congregação toda, presente em toda comunidade, ativa
em qualquer pessoa.
Qualquer sacerdote salesiano tem, efetivamente, como Dom Bosco,
o dom e a capacidade de assumir não apenas a inserção dos jovens na
Igreja, mas também os problemas de vida deles. Ele é educador. Todo
coadjutor é arauto do Evangelho, capaz de levar os jovens a Cristo,
não lhe bastando ensinar uma arte ou ofício. Ele é apóstolo.
Juntos, na organização da mesma comunidade, se desincubem do
serviço da promoção integral dos jovens, com características, sensibili­
dades, posicionamentos complementares necessários para o escopo
único.
Mas o coadjutor assume e expressa, mantém viva, concentra a
capacidade de Dom Bosco e da Congregação de agir em realidades
seculares; sua disposição de contemplar as realidades profanas com
um olhar ao mesmo tempo pastoral e técnico; a aproximação aos
homens e a suas atividades temporais, necessárias ao desenvolvimento
da vida.
Desse modo o coadjutor confere à comunidade uma fisionomia
original, permitindo-lhe múltiplas formas de inserção e de intervenções
na Igreja e no mundo. A comunidade Salesiana não é comunidade de
presbíteros; é uma comunidade de pessoas que seguem Cristo no ser-
111

12.4 Page 114

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viço dos jovens e querem ser para eles sinais portadores do amor
de Deus.
3.2.2. Apresentar a experiência atual
Projetada uma imagem conveniente da identidade apostólica da
comunidade salesiana por meio da narrativa das peripécias de Dom
Bosco, pode-se tomar outro caminho: o que se detém na existência con­
creta do salesiano coadjutor hoje: o que ele é, como vive, o que faz,
como amadurece espiritualmente.
Ele sente um chamado de Deus. É uma vocação verdadeira e origi­
nal a sua: entregar-se ao Senhor de maneira total, pondo à disposição
do Reino suas aptidões e qualidades de homem e sua competência
profissional. Essas capacidades e qualidades assumidas no seguimento
radical de Cristo, têm como finalidade o amor da salvação dos jovens.
Deus chamando-o, consagra-o, une-o de um modo especial a si e à
sua obra, e lhe comunica seu Espírito a fim de que ele viva em plenitude
a graça e a recebidas no Batismo.
Dessa maneira ele se coloca, como o Salesiano sacerdote, no cora­
ção da Igreja, de cuja missão participa publicamente mediante o
trabalho da Consagração Salesiana a favor dos jovens e do povo. A
mando da Igreja e em seu nome educa e evangeliza nos setores e no
estilo do apostolado salesiano.
E por meio desse apostolado, publicamente reconhecido, anima
cristâmente a ordem temporal, à qual liga, mesmo depois da profissão
religiosa, sua vocação laical.
São multíplices as formas que sua ação apostólica assume, segundo
as hodiernas exigências da missão salesiana em prol dos jovens Daí
o fato de o vermos, sempre com atribuições específicas e com espírito
apostólico, empenhado na preparação dos jovens para o trabalho; envol­
vido no ensino e na animação das atividades de tempo livre; ocupado
no planejamento, na administração e manutenção das obras; empenhado
na comunicação social para a educação e evangelização dos mais humi-
des; dedicado à promoção social dos bairros carentes; interessado na
pesquisa científica e na criação artística; prestando insubstituível con­
tribuição no campo missionário.
Mas trabalhando em favor dos jovens, unido a outros irmãos, leigos
e sacerdotes, ele faz experiência profunda de Jesus Cristo e desenvolve
uma vida espiritual em que consagração religiosa e caráter laical fun­
dem-se numa unidade de vida tipificada pelo espírito salesiano.
Ele reproduz e atualiza o coração e o estilo de Dom Bosco e é
chamado a ser semelhante a Ele, tanto quanto os padres. Sente-se iden­
tificado com Cristo e participa de seu amor paciente no ensino, na cura,
na acolhida dos meninos e gente pobre; na construção de um mundo
novo.
112

12.5 Page 115

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Tem consciência e se alegra com isso de ser humilde colabo­
rador de Deus na salvação dos homens, particularmente dos jovens
mais necessitados; vive a pertença profunda à Igreja e sente-se em comu­
nhão com todas as forças que agem na linha da salvação; sente a
fraternidade apostólica na comunidade salesiana, cônscio da própria
contribuição e grato, também, pelo que recebe dos irmãos sacerdotes;
desenvolve a experiência dos valores ligados à sua laicidade, de que
falamos.
Tudo isso o toma, e à missão salesiana, singularmente simpático
aos jovens e ao povo. Faz-se estimado, disposto sempre para intervir
quando sua competência e humanitarismo podem ser úteis.
Para essa maneira de ser, de viver e de agir, ele tem preparação
que abrange simultaneamente a formação religiosa Salesiana; qualifi­
cação apostólica que o habilita para o trabalho pastoral; capacitação
cultural e educativa que o ajuda a fazer os jovens crescerem na riqueza
humana e na fé; qualificação profissional condizente com seu caráter
de religioso-leigo.
3.2.3. Por em contato com modelos
O caminho mais eficaz de tomar compreensível e crível esse con­
teúdo é o da experiência, isto é, o contato com a comunidade Salesiana e
com modelosde coadjutores.
Na Comunidade, percebe-se a complementaridade e a fusão das
vocações que enriquecem a missão salesiana. E vê-se a fraternidade que
une todos os membros na igualdade no amor de irmãos, na alegria e
no serviço de Deus. Sua consciência e testemunho da própria originali­
dade presbiterial-laical, a expressão adequada da própria missão e o
relacionamento que se entre seus membros são mais eficientes
que qualquer convite oral.
Cabe aqui relembrar uma das orientações do CG 21a propósito da
pastoral vocacional: “Enfrentar o problema a partir da pessoa do Sale-
siano da vida da comunidade (...). A autenticidade de sermos cristãos
e salesianos é fundamental como também o é uma imagem da Congre­
gação que apresenta uma identidade "clara(...), que esteja verda­
deiramente em sintonia com os jovens e se manifeste numa doação
alegre. O testemunho e a ação de cada irmão serão sempre o estímulo
mais forte e a mediação mais eficiente para ajudar os jovens a uma
resposta generosa a Cristo 14.
Os modelos mostram, muito embora com os limites de qualquer
vida, os traços característicos da vocação salesiana leiga. Eles podem
contar sua própria experiência, expor as razões de sua opção, descrever
14. CG 21 1126.
113

12.6 Page 116

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sua caminhada. Por isso, nos vários planos de pastoral vocacional, é
desejável que em toda equipe ou ao menos em toda iniciativa de propos­
ta vocacional haja a intervenção de um irmão coadjutor, cuja presença
venha a ser apelo e resposta para os jovens: convite a ponderar o
valor da vocação salesiana laical, resposta às suas indagações concretas
sobre a natureza e a realização dela.
O testemunho dos modelos completa-se mediante o contato com os
ambientes em que é desenvolvida sua atividade mais característica: as
escolas profissionais e técnicas; os centros juvenis, os centros de comu­
nicação social, etc. Eles dão idéia imediata do alcance de uma compe­
tência laical assumida na consagração religiosa e na missão apostólica.
É por isso que, desde os primeiros tempos da Congregação, o espaço
preferencial para a proposta vocacional de salesiano coadjutor era
o dos ambientes onde se encaminham os jovens para o trabalho ou
onde os adultos estavam empenhados religiosamente no mundo.
Ao lado de tais modelos vivos, podem-se apresentar figuras de
salesianos exemplares do passado, realçando os traços e os fatos que
mais vivamente mostram a originalidade e a beleza da vida consagrada
a Deus a serviço dos jovens. A Congregação dispõe de coleções de
opúsculos donde surgem figuras incomparáveis de coadjutores de
épocas diversas, de toda a parte, que trabalharam nas mais insuspeita-
das circunstâncias e nos mais variados campos de apostolado 15.
Entre esses, então, alguns que se destacam, tidos que foram
como santospelo povo e pelos irmãos. Revelam o heroísmo da cari­
dade e a intensidade daquela experiência de Deus à qual essa vocação
leva quando a resposta é generosa16.
Essas biografias, apresentadas e estudadas de forma pedagógica,
constituem o catecismo vocacional” mais real, eficiente e completo
sobre o coadjutor salesiano.
3.2.4. Aprofundar o caráter laical
Por detrás da narrativa da vida de Dom Bosco e de sua obra, por
detrás da descrição da vida atual nas comunidades salesianas e da
apresentação dos modelos de hoje e de ontem, está sempre pairando
certa idéia da laicidade e do que lhe concerne: a natureza do compromis­
so laical; as relações que se dão entre realidades temporais, salvação e
santidade; a possibilidade de combinar uma autêntica laicidade com a
consagração religiosa radical e pública.
O apresentador das várias vocações deve dar uma visão exata e
rica da experiência laical. As imagens e alusões mesmo que apenas
15. Cf. CERIA E., Profili di 33 coadiutori salesiani LDC, Colle Don Bosco, 1952.
BIANCO E., RICO J. E., Salesiano Coadjutor, Ed. CCS, Madrid, 1984.
BIANCO, E., La mano laica de Don Bosco. Il coadiutore salesiano.
16. LDC Torino 1982 FORTI E., Fedeli a Dom Bosco in Terra Santa. Profili di
otto coadiutori salesiani, LDC, Torino 1988.
114

12.7 Page 117

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veladas, devem então ser comprovadas para que não se venha a refor­
çar essa idéia de separação e incompatibilidade entre mundo e experiên­
cia religiosa, tão difundida na mentalidade corrente.
As realidades que no mundo entretecem a vida do homem
(ambiente, trabalho, família, cultura, ciência, arte, técnica, política)
podem ser lugar e objeto de uma doação total de pessoa ao Senhor.
Não são elas circunstâncias “externasao relacionamento com Deus;
elas fazem parte da história de sua salvação.
Trazem, efetivamente, o sinal da obra criadora de Deus; foram
por Cristo assumidas quando ele se fez homem total; são situações em
que a presença salvadora de Deus age por mediação humana; essas
realidades são consagráveisatravés do cumprimento do plano de
Deus sobre elas.
De forma radical, a caridade cristã nelas se empenha a fim de
transformá-las, ordenando-as para Deus e dirigindo-as para o bem tem­
poral e eterno do homem.
Pode a experiência laical ser vivida de várias maneiras. Entretanto
para as outras, interessa-nos agora especialmente a maneira consa­
grada”. Ê própria dos que sem deixar uma relação substancial às
realidades seculares, concentram sua visão de finalidade na salvação
última, testemunhando que elas podem ser dirigidas para o bem
do homem com o espírito das Bem-aventuranças e com referência a
Cristo. Por isso fazem profissão pública de seguir Jesus Cristo mediante
conselhos evangélicos; entram numa comunidade religiosa e assumem
uma tarefa apostólica que inclui sua escolha laical.
O seguimento radical de Cristo não está, pois, ligado ao caráter
particular presbiterial. A condição pode ser assumida na imitação de
Cristo e na identificação com Ele. E não é menos radical nem menos
significativa pelo fato de não estar associada ao ministério sacerdotal.
Para confirmação, podem-se trazer as múltiplas formas de vida
religiosa, de “discipulado de Cristo” desde os primeiros tempos do
cristianismo (cfr. Cap. l.°). Podem-se também comentar algumas passa­
gens do Concílio Vaticano II. "A vida religiosa leiga constitui em si
mesma um estado completo de profissão dos conselhos evangélicos17.
Deus chama sacerdote e leigos para, "desfrutar desse peculiar dom
na vida na Igreja, procurando cada qual a seu modo ser útil à sua
missão salvífica18.
Pareceu-nos sobremodo necessário e urgente insistir no conteúdo
dessa proposta vocacional: espírito salesiano, consagração religiosa,
caráter laical.
A linguagem varia, necessariamente, conforme o auditório: adoles­
centes, jovens, adultos; segundo o nível de catequese que tenham. Na
17. PC 10.
18. LG 43.
115

12.8 Page 118

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ocasião, que se aproveitem imagens, narrativas, experiências, modelos,
material audiovisual. É importante, porém, que todo esse material
expresse o anúncio verdadeiro que brota de uma correta compreensão
da Igreja e da especial vocação salesiana religiosa.
3.3. ACOLHIDA E ACOMPANHAMENTO DA VOCAÇAO
DO SALESIANO COADJUTOR
3.3.1 Objetivos do acompanhamento
Como qualquer outra vocação, também a do salesiano coadjutor
precisa ser acolhida e acompanhada, a fim de que as disposições
venham a amadurecer para uma escolha consciente e definitiva.
"Quando um jovem ou uma pessoa adulta percebe o chamado divino
e pediu e recebeu conselho, sente a necessidade e a utilidade de auxílio
e guia para achar, com crescente clareza, o seu caminho e segui-lo. É
o problema do acompanhamento” w.
Tal acompanhamento visa objetivos em dois níveis.
O primeiro é o mais geral: atitudes e condições que predispõem à
escuta da voz de Deus e à generosidade na resposta. É o principal.
Trata-se da formação espiritual mediante participação na vida da
comunidade cristã, da interiorização das atitudes evangélicas fundamen­
tais e da prática da vida cristã, o sentido da presença de Deus, a relação
existencial com Cristo, a assiduidade na oração, a escuta da palavra
de Deus, a vida da graça, o esforço ascético, a frequência dos sacramen­
tos, o empenho apostólico.
Isso deveria constituir a base de uma personalidade tendencial-
mente equilibrada, cujo desenvolvimento é dirigido por uma imagem
objetiva e por serena aceitação de si mesmo; por uma composição
positiva das tensões internas (impulsos, ideais, planos); pela abertura
na doação aos outros, manifestada na capacidade de relacionamento
sincero e constante; pelo contato rico com a realidade e consequente
alargamento dos horizontes culturais; pela capacidade de encarar o
próprio futuro e sua realização em termos evangélicos.
Os objetivos do segundo nível são mais específicos. Têm em mira
o cultivo de aptidões, o fornecimento de conhecimentos orgânicos, o
desenvolvimento de habilidade típicas de uma vocação particular.
Ambos os níveis se completam mutuamente. São interdependentes.
Não esclarecimento vocacional sem processos de e de crescimen­
to interior em Cristo. E vice-versa: qualquer esforço sincero de discer­
nir a vontade de Deus na nossa vida traz consigo abertura à graça.
19. Cfr. Sviluppi della pastorale..., o.c.
116

12.9 Page 119

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Ocorrem, entretanto, períodos em que se faz necessária uma aten­
ção especial a um desses níveis, conforme a fase de amadurecimento
que o sujeito está vivendo.
No acompanhamento inicial, é particularmente determinante o
primeiro nível. É mistér dar base sólida de formação humana e cristã,
garante resposta autêntica a qualquer vocação de especial consagração.
Nesse esforço principal, que sobretudo abre para a generosidade
e predispõe para o discernimento, é que se vai enxertando, mediante a
informação e a experiência, o que é característico da vocação do
salesiano leigo.
A acolhida e o acompanhamento se realizam de várias maneiras e
com várias atividades simultâneas: assistência espiritual pessoal; a
co-participação em experiência maturativas na linha de sua vocação
particular; a participação em ambiente apto ao desenvolvimento dos
germes vocacionais e seu discernimento, que levará a uma primeira
decisão suficientemente motivada.
3.3.2 Assistência individual
A assistência individual é sempre necessária, mesmo quando o
candidato é recebido numa ambiência. Muitas vezes é a única forma
possível de acompanhamento. Acaba se tornando direção espiritual,
mesmo quando começa como colóquio pedagógico e consulta de orien­
tação. Foi descrita como serviço de escuta, de ajuda ao esclarecimen­
to interior, de experiência da vida espiritual e de esperança. Daí que
a pessoa que exercita esse ministério tem respeito à liberdade do
caminho do jovem, que é sempre um caminho pessoal20.
Aparecem claras suas finalidades específicas: criar uma situação
interpessoal de confiança, mediante a qual possa o moço tomar-se mais
livre para perceber a realidade que o interpela e os sinais de Deus que
o chamam; proporcionar-lhe elementos para uma visão límpida de sua
própria interioridade e das motivações de seu comportamento e aspi­
rações; pô-lo consciente da graça de Deus e auxiliá-lo a avaliar a própria
resposta, lançando o alicerce de uma sólida espiritualidade cristã;
acompanhar e orientar o esforço de conversão da mentalidade e dos
procedimentos critérios de vida, ascese, virtude); consolidar e comple­
tar a prática cristã (oração, sacramentos ...); equilibrar as tendên­
cias que destoam do crescimento cristão (inconstância, permissivismo,
escrúpulos, devocionismo, intimismo...).
Esse serviço pode ser prestado por qualquer salesiano empenhado
na formação cristã de jovens: diretores, confessores, catequistas, anima­
dores pastorais, professores. Todo pastor de almas, ou outra pessoa
responsável, sente necessidade de dedicar atenção àqueles jovens e
20. Ib. 50.
21. Ib. 50.
117

12.10 Page 120

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adultos (...) que podem interessar, dadas suas qualidades especiais...
A aprendizagem do que se refere ao reconhecimento dos sinais de uma
vocação e o adestramento na arte do discernimento e da direção espi­
ritual pertencem ao programa de formação e à esfera ordinária de
atividade do pastor de almas e de outras pessoas responsáveis pelo
acompanhamento das vocações.
Exceto o que diz respeito ao momento sacramental, não se requer
que seja sacerdote ou leigo aquele que acompanha uma vocação pres­
biteral ou laical na sua primeira acolhida.
Mas o serviço exige de quem o presta, seja quem for: a aceitação
da responsabilidade de assistir uma caminhada vocacional, pondo-se
ele próprio à escuta na oração; testemunho de uma personalidade
madura e de experiência alegre da sua opção; atualização da formação
teológica e aquisição de conhecimentos da psicologia juvenil em geral
e da que diz respeito à vocação em particular; cuidado para pôr-se
à altura de dialogante autorizado; exercício do papel de verdadeiro
sustentáculo na procura, assegurando as condições que a tornam
autêntica.
Na praxe salesiana, por detrás dos que acompanham está a comu­
nidade, que, sob a guia do diretor, estabelece critérios comuns, sugere
modalidades oportunas e auxilia no discernimento.
3.3.3 O grupo juvenil
Existem nas igrejas particulares diversas experiências: grupos
para troca de experiências de e de apostolado; grupos de reflexão
sobre a orientação da vida; grupos de aprofundamento da vocação rumo
a escolhas consagradas”.
O grupo exerce papel singularmente eficaz no amadurecimento
humano e cristão, na conquista do equilíbrio afetivo; na consolidação
da fé; especialmente em situações ambientais marcadas pela dissemi­
nada indiferença e incredulidade21.
Na praxe salesiana, encontram-se os dois tipos de grupos: os
educativos e apostólicos; os específicamente vocacionais.
Em ambos, são numerosos os fatores vocacionais. Uma primeira
experiência elementar de comunidade, que leva a ver, julgar e agir
juntos, cria hábito de vigilância que capacita a reagir cristãmente diante
dos variados fenômenos. A ação apostólica estimada pelos grupos
constitui uma primeira prova de doação, um encontro com as neces­
sidades dos irmãos, e uma experiência da energia transformadora da
presença de Deus. Nos grupos ocorre o encontro pessoal, necessário
para o processo de identificação, com as variadas vocações que expres­
sam a missão da Igreja: sacerdotes, leigos, religiosos, pais, dirigentes.
22. Ib. 51.
118

13 Pages 121-130

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13.1 Page 121

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O clima de reflexão treina para fazer alegremente escolhas em
função do bem dos homens, da Igreja, de sua missão salvadora.
Com facilidade, é estabelecido no grupo o relacionamento das
pessoas; por meio dele os educadores descobrem as disposições e incli­
nações dos jovens e ajudam a dar concretude aos ideais M.
Os grupos vocacionais acrescentam alguns elementos mais especí­
ficos. São formados por meninos e jovens que desejam refletir mais
profundamente sobre a sua vocação. São, pois, organizados como expe­
riência destinada a favorecer a procura da vontade de Deus a respeito
do futuro dos membros.'
Seu programa inclui uma temática enquadrada nos dois níveis dos
objetivos vocacionais de que falamos. Os encontros regulares de
aprofundamento dão a esses grupos as características de um ambiente
de cunho vocacional. Um animador vocacional orienta os grupos.
Dando particúlar atenção à escolha de vida, acompanha cada um dos
jovens; e quando for o caso, encaminha-se para um diretor espiritual.
Os encargos do grupo e de cada membro são selecionados de acordo
com as finalidades vocacionais. Embora com a máxima abertura, esco-
lhem-se aqueles contatos que são mais significativos e esclarecedores,
do ponto de vista vocacional.
No tocante ao amadurecimento do germe da vocação salesiana leiga,
esses grupos possibilitam encontros com modelos e ambientes, e pro­
porcionam espaço para apresentação dos elementos doutrinais, histó­
ricos e experiências de que se tratou.
Sublinhando a complementaridade das diferentes vocações, provam-
nas em campos de trabalho que desenvolvem atitudes típicas da vocação
laical: animação de ambientes educativos, voluntariado, cooperação para
o desenvolvimento, presença na cidade ou bairro. Isso tudo ajuda a
descobrir a incidência da sobre as realidades do mundo.
Nenhuma atividade, porém, inspira ou forma com a materialidade
de seus elementos. Cabe ao animador motivar e iluminar para que
emerjam os valores nela contidos, a energia motora, as motivações e
finalidades que dão especial significado evangélico aos serviços e aos
empenhos.
3.3.4 Comunidade de acolhida e acompanhamento
São variados tais ambientes. Pois devem adequar-se às diferentes
condições das pessoas; número, idade, conveniência ou inconveniência
de se afastar do contexto e da família; o programa do estudo. Inspiram-
se, entretanto, numa visão objetiva da vocação salesiana, que sugere
23. Cf. Dicastério Pastorale Giovanile, Lineamenti Essenziali per un Piano
Ispettoriale di Pastorale Vocazionale, Roma 1981. Sviluppi della cura pas­
torale... o.c. 51.
119

13.2 Page 122

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uma linha pedagógica por concretizar na forma e no estilo da comuni­
dade, no conteúdo, nas experiências educativas.
Dos Regulamentos Gerais24 e da pr? xe da Congregação se deduzem
três tipos de ambientes de acolhida: o aspirantado25, a comunidade para
jovens candidatos (comunidades proposta) 26, uma comunidade sale­
siana em que o jovem é incorporado27.
A O aspirantado
Sua natureza e finalidade estão descritas nos Regulamentos, art.
17: É um centro de orientação vocacional salesiana. Mantendo-se aberto
ao ambiente e em contato com as famílias, ajuda os adolescentes e os
jovens que manifestam aptidões para a vida religiosa e para o sacerdó­
cio a conhecerem e corresponderem à própria vocação apostólica.
Os elementos específicos de seu projeto educativo podem resumir­
se assim:28
uma comunidade de educadores preparados e disponíveis para
a orientação vocacional; um ambiente no qual as características do
espírito e do estilo educativo salesiano são cuidadas e vividas por
educadores e jovens;
objetivos específicos e periodicamente avaliados, que abrangem
a formação humana e cristã de base, o desenvolvimento dos germes
de vocação salesiana e sua primeira escolha pessoal através do discer­
nimento dos sinais, tendo em vista o noviciado;
um programa de conteúdo humano, cristão e salesiano (infor­
mações, conhecimentos, experiências, habilidades) aptos para a realiza­
ção dos objetivos;
um programa de estudos, semelhante ao dos rapazes dessa
idade; de valor oficial, com oportunos complementos culturais e
religiosos;
uma abertura normal às famílias, ao ambiente humano e eclesial,
às manifestações legítimas da vida juvenil.
As modalidades com que se põem em prática esses pontos funda­
mentais dependem de muitos fatores. Destacam-se entre eles a idade
dos destinatários e o grau de decisão vocacional atingido (disposições,
intenções, propósitos manifestados).
Se, por circunstâncias especiais, tenciona-se organizar um ambiente
desses para todo o arco de idade que vai da pré adolescência ao ime­
diato pré-noviciado, faz-se necessária uma divisão em duas fases: uma
24. Cf. art. 16,17
25. R 17.
26. CG 21 118.
27. R 16.
28. Dicastero Pastorale Giovanile, Lineamenti essenziali... o.c. 49-50.
120

13.3 Page 123

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de orientação e procura ainda genérica; outra mais claramente cen­
trada na perspectiva da vocação salesiana”
A diferença entre as duas fases diz respeito ao estilo da comunidade
(co-responsabilidade dos jovens, personalização, espaços de autodeter­
minação, compromissos apostólicos); à seleção dos candidatos, dos
quais se exige progressivamente uma intenção explícita, conquanto não
de todo ainda testada, de abraçar a vida salesiana e uma presença de
maior compromisso com o conteúdo vocacional peculiar.
As diferenças entre as duas fases nas modalidades de organização
sugerem a criação de ambientes distintos e diversos. No que se refere
ò acolhida dos candidatos a coadjutores salesianos, apresentam-se duas
possibilidades: aspirantado especifico, aspirantado integrado.
O aspirantado específico visa à consolidação e ao amadurecimento
dos germes da vocação leiga salesiana. Entra na linha indicada pelo
artigo 17 dos Regulamentos e pelas ulteriores determinações práticas
sugeridas pelos documentos do Dicastério para a Pastoral Juvenil. Mas
com alguma diversificação de elementos típicos do aspirantado.
presença preponderante e significativa de irmãos coadjutores na comu­
nidade. O programa de estudos e as qualificações se enquadram na
preparação técnico-profissional. Faz-se reflexão mais cuidadosa da his­
tória e das características da vocação laical. Na vida comunitária, dá-se
destaque a atitudes e capacidades características de tal vocação.
Entretanto, como acontece no aspirantado dos candidatos ao
sacerdócio, também no dos coadjutores a vocação salesiana é apresen­
tada nas duas formas possíveis, de maneira clara e com propostas:
abertura para uma orientação vocacional ampla. Com essa fórmula,
espera-se contato mais frequente e direto com modelos de coadjutor;
uma experiência mais imediata das peculariedades da vocação salesiana
leiga; a possibilidade de acompanhamento mais específico. E se deseja
também obstar ao perigo de que, em alguns candidatos as inclinações
para essa vocação venham a ser sufocadas por um ambiente em que,
por deficiência de posição pedagógica, prevalecem prematuramente os
estímulos para o ministério sacerdotal.
A fórmula funciona, quando os candidatos são relativamente nume­
rosos (índice de natalidade, formas de promoção, disponibilidade das
famílias), de modo que seja possível estabelecer um ambiente com es­
trutura própria; quando idade e desenvolvimento permitem uma pri­
meira intenção motivada; quando os programas de estudo comportam
diferenciação dos seguidos no aspirantado para candidatos ao sacer
dócio.
De qualquer forma, dadas as circunstâncias, o fato é que não
poucas inspetorias usam a forma integrada: aquela na qual todos os
aspirantes à vida salesiana, sacerdotal ou laical, são recebidos num
ambiente único.
29. CG 21 118 Dicastero Pastorale Giovanile, Lineamenti Essenziali... o.c. 48.
121

13.4 Page 124

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As razões fundamentais se prendem aos critérios que norteiam o
projeto educativo pastoral; prover à formação cristã e acompanhar os
primeiros passos das vocações na base comum da salesianidade, do
tempo para opção mais amadurecida quanto à forma de vivê-la.
Vantagens esperadas: tornar compreensível, de forma vital, o
caráter do chamado único à consagração apostólica segundo o projeto
de Dom Bosco, que é para todos; ir acostumando todos a viver juntos,
desde o início, em mútua estima e complemento, no estilo das comuni­
dades salesianas.
As razões circunstanciais levam em conta o número de candidatos
e a possibilidade de atender, num ambiente único, às exigências de estu­
do, que dependem muito do contexto sócio-cultural.
Quando se assume essa modalidade, é preciso garantir consistente
e qualificada presença de salesianos coadjutores no pessoal dirigente,
também em funções de destaque; e um ambiente que não antecipe
demais motivações e insistências presbiterais, que, aliás, não são pró­
prias dessa etapa. Pelo contrário, deve ser enfocada a vocação salesiana
à vida consagrada e à missão juvenil, enquanto cada um vai sendo
acompanhado no discernimento e na escolha.
B Comunidades vocacionais
O cuidado, em tempo oportuno, desses jovens pode ser feito
também de outras maneiras: comunidades de índole vocacional... M.
No plano de trabalho preparado para o segundo Congresso Inter­
nacional das Vocações (1982) lê-se: O seminário menor não se de
considerar como a única estrutura na qual cresce e madura uma voca­
ção. Pelo contrário, é preciso intensificar o trabalho vocacional com os
jovens e adolescentes mediante novas formas e experiências de comple-
mentação do próprio seminário”30.
Essas formas alternativas condizem com a tradição da vida religiosa
e hoje se vão tomando frequentes. A vida religiosa encontrou nas comu­
nidades mesmas, especialmente em tempos de forte entusiasmo caris­
mático, o melhor ambiente para o crescimento das vocações. Haja
vista o eloquente exemplo de Oratório de Dom Bosco em Valdocco.
As circunstâncias locais e as exigências pastorais podem aconselhar
a criação de pequenas comunidades de acolhimento, com finalidades
idênticas às do aspirantado mas com modalidades diferentes que aten­
dem melhor à situação de certos jovens de determinados contextos cul­
turais e eclesiais.
Tais comunidades, caracterizadas pelas relações pessoais e pela
co-responsabilidade, levam em consideração a diversidade dos candi­
datos; mantêm-nos relacionados com o próprio ambiente familiar e
30. CG 21 118.
31. Revista Seminarium, outubro-dezembro 1981, p. 991.
122

13.5 Page 125

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juvenil; valem-se das múltiplas estruturas escolares frequentadas pelos
candidatos consoantes os vários tipos de estudo iniciados; avaliam-lhes
a capacidade de reação diante dos estímulos em voga, positivos ou
negativos.
É indispensável, porém, que elas garantam e guiem o processo
vocacional e que o programa e as modalidades não fiquem à mercê das
decisões de cada um, mas que seja tudo assumido pela responsabili­
dade da comunidade inspetorial32.
Também nessas comunidades, como nos aspirantados, podem estar
juntos, ou separados, os candidatos à vida salesiana sacerdotal e os
de congregação laical. A favor de uma ou de outra solução valem as
razões acima expostas.
C Inserção numa comunidade salesiana
por fim, a inserção do candidato numa comunidade normalmen­
te empenhada no trabalho salesiano, que foi julgada apta para o
acompanhamento uma vocação33.
Em princípio, qualquer comunidade da inspetoria poderia e deve­
ria servir de ambiente, de exemplo e de apoio a novas vocações. Pois
cada uma delas vive as características da missão salesiana, amalgama
num tipo religioso a vocação sacerdotal e a laical, e é chamada a
assumir aquele peculiar serviço da pastoral salesiana o cuidado das
vocações34.
Pode-se, portanto, pedir-lhe que proporcione aos candidatos espaços
de experiência autêntica, informações sobre a vida salesiana e assistên­
cia espiritual.
Ponha-se, pois, de banda quaisquer que sejam as escolhas tidas
como mais oportunas a divisão entre comunidades capazes de rece­
ber e comunidades incapazes. O CG 21 aconselhava a enfrentar o pro­
blema das vocações partindo da pessoa do salesiano e da vida da
comunidade: A autenticidade de sermos cristãos e salesianos é fun­
damental, como também o é uma imagem da Congregação que apre­
senta uma identidade salesiana clara, mas suas manifestações evangé­
licas, nos seus destinatários e no seu projeto educativo (...). O teste­
munho e a ação de cada irmão será sempre o estímulo mais forte e
da mediação mais eficiente para ajudar os jovens a uma resposta
generosa a Cristo35.
Os que se orientam para a vida salesiana laical, sejam de preferên­
cia recebidos nas comunidades nas quais essa vocação tem expressões
mais relevantes e atraentes.
32. Cf. CG 21 118
33. Cf. CG 21 118.
34. Cf. C28, 37.
35. CG 21 112.
123

13.6 Page 126

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CONCLUSÃO: ANIMAR, REZAR
Tudo o que se está dizendo é confiado a responsabilidades defini­
das que agem comunitariamente. Visto como a pastoral vocacional se
compõe de múltiplas intervenções convergentes, necessitam-se convic­
ções disseminadas e compartilhadas, interesse da comunidade toda,
programas cumpridos conjuntamente, papéis em coordenação. Tudo
isso sustentado por confiança total da graça, impelido por vontade de
serviço a Nosso Senhor, à Igreja e aos jovens. A pastoral vocacional
implica e supõe esforço espiritual, conhecimento atualizado das ques­
tões específicas, atualização pedagógica, apoio organizacional e prático.
A animação faz-se, então, necessária. Com ela, pode-se passar da
ação meramente individual para o interessado envolvimento comuni­
tário; das intervenções vocacionais e setoriais aos planos orgânicos e
estáveis; do setor vocacional isolado para sua integração num pro­
grama completo de pastoral juvenil; do caráter funcional das nossas
intervenções (para ter...) ao critério educativo (para que a pessoa
cresça segundo o plano de Deus)36.
Tanto em nível inspetorial quanto ao local, a animação exige
responsabilidade de governo e ações de apoio.
No governo, se define a orientação da pastoral vocacional, e se
garante espaço amplo na pastoral juvenil global. É a tarefa do Inspetor
e do Diretor, com seus respectivos Conselhos. Ao grupo de apoio
caberá ativar a pastoral, estimulá-la, sustentá-la, coordenála. Essas
atribuições podem ser desempenhadas individualmente ou por equipes.
Entretanto, mais do que pessoas ‘delegadas paradevem ser estimula­
dores e informadores das diversas comunidades37.
No que concerne à vocação do salesiano coadjutor, a animação
visará, em primeiro lugar, a garantir a mentalidade e testemunho de
cada uma das comunidades.
A mentalidade diz respeito a uma visão justa da originalidade do
carisma, da missão e da comunidade salesiana, manifestada em expres­
sões verbais, na organização e nas avaliações.
O testemunho se refere à vida da comunidade, ao relacionamento
interno, à valorização dos aspectos laicais para a obtenção das finali­
dades educativas e pastorais próprias da ação salesiana.
Mas, além da mentalidade e do testemunho, será necessário cuidar
que a orientação vocacional venha a ser explícitamente incluída no pro­
jeto educativo pastoral, nos três níveis, com atividades e momentos
diferenciados: para todos os rapazes; para os que manifestam sinais
de vocações especiais; para os que se orientam para a vida salesiana38
36. Dicastero Pastorale Giovanile, Lineamenti Essenziali..., ojc. 53.
37. CG 21 114.
38. Cf. C6, 28-37.
124

13.7 Page 127

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E para todos seja apresentada a vocação salesiana leiga em sua riqueza
de variadas possibilidades.
Será preciso, pois, que, sempre com a coordenação de dirigentes
e animadores, as orientações se traduzam em objetivos atingíveis, ao
alcance dos rapazes concretos a que se esse atendimento; em expe­
riências exequíveis, nas quais devem ser interessados todos os compo­
nentes da comunidade, muito embora com contribuições diferentes
(ambientes, relações, diálogo pessoal, momentos específicos).
Impõe-se, então, periódica avaliação e replanejamento. Isso propor­
cionará o aproveitamento do que foi experimentado, com sucesso, e
a tentativa de caminhos novos para a apresentação da vocação do sale-
siano coadjutor.
O ponto principal, porém, da animação é conservar a comunidade
em estado permanente de oração pelas vocações. falamos dessa
incumbência fundamental da pastoral vocacional.
A oração é invocação pedido, mas é também esforço de cons­
cientização diante de Deus; é meditação, é abertura aos desígnios dele;
é comunhão com aqueles que nos precederam na estrada que tentamos
palmilhar. Intenções, fórmulas de orações, textos de leitura, intercesso­
res (os salesianos coadjutores servos de Deus!) 39 ajudarão a incluir a
preocupação da vocação salesiana leiga em nosso desejo expresso
cotidianamente a Nossa Senhor: que mande operários à sua messe.
De modo particular importa não nos esquecermos da afirmação
das Constituições referente ao clima de alegria e de família da comuni­
dade salesiana: Esse testemunho desperta nos jovens o desejo de
conhecer e seguir a vocação salesiana"
39. Os coadjutores salesianos Artemide Zatti e Simone Srugi.
Cf. as biografias citadas na nota de número 16.
40. C. 16.
125

13.8 Page 128

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4. LINHAS DE FORMAÇÃO
4. INTRODUÇÃO
Na fala conclusiva do CG 22, o Reitor-Mor, comentando a originali­
dade do Salesiano coadjutor, convidava a converter-se a uma mais
autêntica sensibilidade salesiana e a uma -formação verdadeiramente
renovada. Fazia notar que na Congregação permaneciam abertos alguns
problemas: O númerico-vocacional, mas também e, mais profundamen­
te, continuavam certa insensibilidade e um conceito errôneo na com­
preensão deste aspecto próprio da identidade vocacional (o aspecto da
dimensão laical), vinculado à constituição, peculiar de nossas comuni­
dades e à realização da missão das mesmas1. Não se tratava tanto de
algumas coisas a fazer, porém, mais em profundidade, de uma conver­
são a uma sensibilidade salesiana mais autêntica que traz, em si mesma,
a urgência de intervenções apropriadas.
40.1 Um empenho extraordinário na formação
A formação, toda a formação (a inicial e a permanente) e a forma­
ção de todos ajuda nesta conversão: quero ainda insistir, dizia ele,
no empenho da formação. Depois de tudo quanto dissemos, ela também
não pode referir-se unicamente aos Coadjutores jovens, mas a todos
os irmãos, também aos padres e aos seminaristas, durante todo o
período, tanto inicial quanto permanente. Sem um empenho extraordi­
nário na formação, não creio que se possam obter mudanças radicais
em pouco tempo. Mas se se coloca a formação em forma realmente
renovada, principalmente para as gerações jovens, o futuro será certa­
mente prometedor2.
O empenho comum, na Congregação, marcha para esses objetivos,
com seriedade. A análise dos Diretórios Inspetoriais e os resultados
dos mesmos são um argumento a favor disso. As inspetorias procuram
harmonizar, entre si, organicidade e flexibilidade nos currículos forma­
tivos; demonstram que querem fazer logo tudo o que está a seu alcance.
1. Cf. CG2279-86.
2. ACS 298, pág. 42.
126

13.9 Page 129

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como se já tivessem entrado num tempo maior concretude e
operatividade;3 aceitam os desafios dos primeiros passos, nem sem­
pre seguros de êxito e boicotados, além disso, pela indiferença de
alguns poucos; convenceram-se, em fim da necessidade da colaboração
interinspetorial, que garante, mais facilmente, o conjunto das condições
necessárias para que as fases do processo sejam formativas4.
As inspetorias estão, portanto, encaminhadas a reagir criativa­
mente5 e a realizar o extraordinário empenho de formação, do qual
fala o Reitor-Mor, ajudando-se mutuamente para melhorar, em con­
junto, o conteúdo e as estruturas6.
40.2 As Razões Profundas
Todo esse empenho tem suas razões profundas e apresenta um
caráter de urgência. Isso se deduz da natureza da vocação salesiana, do
ambiente e da condição do mundo juvenil.. A formação do Salesiano
coadjutor é dirigida não a realizar a sua forma vocacional específica,
mas a enriquecer também a do Salesiano padre e da comunidade.
Quando faltassem ou enfraquecessem os dons próprios de uma ou de
outra, o Salesiano padre ou o Salesiano leigo sofreriam pessoalmente
por causa disto, quase como não fossem bastante eles mesmos. E por
causa disso sofreria também a própria comunidade operante. Não se
pode ser Salesiano padre ou Salesiano leigo, isolando-se. Cada uma
das duas formas vocacionais é concreta e completa em si mesma, mas
o estarem em relação uma e outra, faz parte de sua concretudee
integridade.
Esta é a nossa característica carismática7.
Esta é a primeira razão para formar-se. Podemos dizer que é uma
razão intrínseca do nosso carisma, mas outras razões também.
Poderíamos chama-las razões do ambiente.
O pluralismo cultural, os ritmos sempre mais acelerados e as trans­
formações rápidas do mundo nos impelem, a todos, a uma readaptação
contínua. A nossa forma de vida, então, acentua a busca de uma cari­
dade pastoral típica. Ela leva em conta as novidades emergentes no
mundo juvenil e na consciência da Igreja8. De fato, como educadores,
estamos voltados para a parte da humanidade (dos Jovens), tão nova
e sensível às mudanças, que não podemos dedicar-nos a seu serviço
sem um esforço permanente de formação atualizada e criativa.
3. Cf. CG22 9; FSDB 407, 474.
4. Cf. FSDB 412.
6. Cf. ib.
7. CG21 237s.
8. Cf. FSDB 74-83.
127

13.10 Page 130

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Recordase, a respeito disso, o art. das Constituições que tem
como título: Criatividade de Flexibilidade. É urna nota de nosso
espirito.
4.1 O CONTEÚDO GLOBAL DO PROCESSO FORMATIVO
Levando em conta o que o Reitor-Mor escreveu em sua Carta:
O componente laical da comunidade salesianade outubro-dezembro
de 1980, quereríamos acenar ao quadro global, dentro do qual se
movem estas linhas de formaçãodo Salesiano coadjutor.
41.1 O Conteúdo Específico
O Reitor-Mor nada mais fazia do que repetir uma preocupação do
CG 21, a de certa ausência de conteúdo específico para a formação do
Salesiano coadjutor”9 e salientava alguns desses conteúdos” que devem
estar presentes em todas as fases da formação, integrando-os constan­
temente no duplo pedido de estudo-reflexãoe de prática-experiência”.
Esses conteúdos específicos são:
uma formação religioso-salesiana que ajuste o Irmão coadjutor
a comprender a originalidade de nossa Sociedade;
uma adequada preparação pedagógica, humanística e salesiana;
uma suficiente competência apostólica com aprofundamentos
teológicos e catequéticos;
uma preparação técnico-profissional, de acordo com as capaci­
dades e as possibilidades de cada um, em vista do caráter
educativo-pastoral de nossa vocação;
uma educação sócio-política que prepare para uma ação edu­
cativa/' específica, especialmente em vista do mundo do
trabalho10.
Sem dúvida, em tudo isso, (concluía o Reitor-Mor), será preciso
prestar atenção à variedade característica que a dimensão laical apre­
senta, e as possibilidades concretas de cada um 11.
Algumas dessas indicações exigem valores humanos e valores de
graça; outras (indicações) exigem atitudes especiais para atender à
ação; outras ainda são competências a serem adquiridas.
É preciso, portanto, entrar em um processo formativo que ajude
a identificar os valores da consagração apostólica laical, os quais, aliás,
foram, em grande parte, indicados nas páginas precedentes; um
processo formativo que ajude a conquistar esses valores, isto é, torná-
9. CG21 247.
10. Cf. CG21 302.
11. Cf. La componente laicale..., (CL) ACS 298 pág. 45.
128

14 Pages 131-140

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14.1 Page 131

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los motivos primários das atitudes e dos comportamentos, com meios
e métodos adequados.
O discurso será global (deve estar presente em todas as fases,
escrevia o Reitor-Mor) u, ainda que, para algumas fases (pós-noviciado
e pós-tirocínio), se torne mais particular e direto, por causa da com­
plexidade e importância de que essas fases se revestem.
41.2 O Ordenamento do Conteúdo
Trataremos, portanto:
dos valores e atitudes próprias da congregação apostólica do
Salesiano coadjutor. Depois de têlos identificado globalmente (na
Aliança especial que Deus sancionou conosco, na missão, na comu­
nidade fraterna, num estilo de vida evangélica vivido com radicalidade),
colocaremos em evidência alguns mais decisivos para a formação dele;
da dimensão constitutiva e da sensibilidade característica com
que os Salesianos coadjutores os vive: a sua" laicidaãe;
da sua condição humana, sobre a qual os valores e as atitudes da
consagração apostólica se enxertam como um dom; essa condição
humana pela qual esses valores e essas atitudes se exprimem no teste­
munho, no anúncio e na caridade pastoral.
do método para conquistar esses valores. Nenhum valor voca­
cional tem valor por si, se não entrou na própria vida e não se
torna a motivação primária de suas escolhas;
de sua formação intelectual e dos currículos de estudo, sobre­
tudo com relação ao pós-noviciado e ao pós-tirocínio.
41.3 Um processo unitário e complexo
Como se pode facilmente compreender, o processo é unitário:
“toda a formação tende ao desenvolvimento da identidade vocacional
e encontra nela as raízes da sua unidade14. Nasce, portanto, a neces­
sidade de termos (da identidade salesiana) a idéia mais certa e mais
verdadeira possível15.
É também um processo complexo, na verdade esse processo tem
uma finalidade única, mas vivida em formas vocacionais específicas e
compleméntales. Tornando-nos educadores-evangelizadores dos jovens
tanto na forma laical, quanto na clerical. É uma vocação comum, igual­
mente salesiana, mas distinta e complementar nos serviços e nos
ministérios 16.
12. Ib. pág. 44.
13. Const. 195.
14. CG21 242; Const. 97-107.
15. Cf. CG21 242.
16. Const. 106.
129

14.2 Page 132

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Por isso, um e outro, o Salesiano padre e o Salesiano coadjutor,
recebem igual formação inicial com um currículo de nível paritário,
com as mesmas fases e com objetivos e conteúdo semelhante. As 'distin­
ções são determinadas pela vocação específica de cada um, pelos dotes
e aptidões pessoais e pelas tarefas de nosso apostolado” 17.
É complexo este processo formativo, também porque quer desen­
volver, na pessoa, a totalidade das dimensões que compõem a sua voca­
ção, harmonizando-as em unidade vital, com equilíbrio e sem fragmen­
tação 18. Esse proceso quer também garantir que seja assimilado, re­
movendo os possíveis impedimentos e adotando meios e métodos ade­
quados. E um ponto de interesse e de empenho decisivos, se buscamos
uma “formação renovada.
4.2 IDENTIFICAR OS VALORES
O art. 3 das Constituições constitui um bom quadro de referência.
Os valores estão colocados com clareza, de acordo com certa ordem,
distintos entre si, embora inseparáveis e, portanto, se influenciando
mutuamente e sendo insubstituíveis: A nossa vida de discípulos do
Senhor, diz o artigo, é uma graça do Pai que nos consagra com o dom
do seu espírito e nos envia para sermos apóstolos. Com a profissão
nós mesmos para caminharmos no seguimento de Cristo e trabalhar
para com Ele para a construção do Reino. A missão apostólica, a comu­
nidade fraterna e prática dos conselhos evangélicos são os elementos
inseparáveis de nossa consagração, vividos num único movimento de
caridade para com Deus e para com os nossos irmãos. A missão a
toda a nossa existência o seu tom concreto, especifica a tarefa que
temos na Igreja e determina o lugar que ocupamos entre as famílias
religiosas.
42.1 Em uma Aliança especial”.
Em uma aliança especial, a missão apostólica, a comunidade
fraterna, um estilo de vida vivida com radicalidade evangélica, são os
valores próprios da consagração do Salesiano.
São estes valores que o tornam autêntico e o motivam no seu ser
e no seu agir, quando os vive em um único movimento de caridade
para com Deus e para com os irmãos.
Não é inútil recordá los. Não se devem considerar ultrapassados
ou desnecessários, por que sem eles, tudo se torna falseado . É o que
o Papa João Paulo II salientava, falando na reunião plenária da Con­
gregação para religiosos e Institutos Seculares: É necessário... por
17. Const. 106.
18. Cf. Const. 102; CGC21 262.
19. Const. 3; cf. Const. 23, 125, 26, 3, 26, 50, 64, 73, 82, 85, 40, 49, 85, 88 63.
130

14.3 Page 133

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em relevo que a formação do religioso deve visar, de maneira especial,
ò sabedoria do coração: isto é, àquela sabedoria, dom do Espírito, que
torna o religioso verdadeiramente íntimo do Senhor e profundo conhe­
cedor da vontade dEle. Essa sabedoria contribui para a salvação do
mundo, muito mais do que multiplicar as atividades externas não ani­
madas por tal espírito sobrenatural20.
A graça que foi dada a Dom Bosco e que é partilhada por seus
filhos, está dentro de um mistério de Aliança. É, na verdade, fundamen­
talmente uma particular experiência teologal. O seguimento de Cristo
em vista da edificação do Reino de Deus nos jovens e nos próprios
religiosos21, a união com o Pai que nos consagra e nos envia22 a atenção
e a docilidade ao Espírito, fonte de santificação e de renovação são
as presenças que compõem essa experiência teologal23.
Para que esse mistério da Aliança permaneça viva e mova, com
a sua força, todas as atividades, devem ser cultivadas as atitudes que
lhe correspondem24. São essas: A centralidade e o absoluto de Cristo
Senhor que comunica, no Pai e no Espírito, a sua força e o seu amor;
o dom da paternidade de Deus que reaviva continuamente a dimensão
divina das nossas atividades; o sentimento da própria pertença filial,
que se manifesta, participando como Salesiano leigo , na Igreja, da
Sua caridade paterna e encontra nela a origem última e a fonte que
alimenta perenemente a missão;26 a presença, por fim, do Espírito
Santo, cujas iniciativas e ação devemos sempre estar prontos a acolher
a fim de crescer no amor de Deus e dos jovens27.
Não se pense que esteja feito tudo, quando se conhecem os valo­
res, se apreciam, se cultivam com o desejo, ou quando a gente se
entusiasma por eles. São todas coisas boas, mas sozinhas não bastam.
Depois de conhecer o que significa ser salesiano (valores e atitudes),
é preciso tornar-se salesiano vivendo e trabalhando para a missão
comum", com algumas condições28. É preciso caminhar (processo)
20. Osservatore Romano (edição italiana) de 2.XLL.1988.
21. Cf. Const. 23, 3, 11.
22. Cf. Const. 3.
24. Cf. ACS 296, pág. 5 (edição italiana), Const. 23.
23. Cf. ET 11, 12; CGE 3; Const. 1.
25. Cf. Const. 12.
26. CG21 579.
27. Cf. para o n.° 1. Participazione alla vita litugica: Const. 88, 89, 87; CGE 283-288.
340, 540, 664.
2 Escuta da palavra de Deus: CGE 494, 540, 557; DSM 240-242.
3 Oração Pessoal: Const. 83, SC 7, 10, 11, 19, 48; Const. DSM 186; CGE 574-579;
Const. 88.
4 Eucaristia e Ofício: Const. 86.95.21; CGE 544; SC 10,47-48; LG 11; PO 5bc 6e;
CGE 542-543.
5 Vida e ação como oração. Const. 86.95.21; CGE 532-537; 550.555Í.677.
6 Sentido e uso do sacramento da Reconciliação: Const. 84.90; RFIS 55;
PO 18b.
7 Os movimentos da renovação: Const. 9.
8 Devoções salesianas: Maria Auxiliadora: RG 74; SC 13; CGE 531-545, E. VI-
ganó: Maria renova a Família Salesiana, 1978; Const. S9.
131

14.4 Page 134

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para formarse, utilizando os meios e métodos que as ciências da
educação e a nossa tradição julgam mais convenientes ao nosso espí­
rito e mais eficazes ao escopo.
Nem se pense num genericismo abstrato, como se os valores
fossem um departamento separado, os valores são vividos em formas
vocacionais distintas. O salesiano leigo os vive como religioso leigo,
compondo, ambos, uma comunidade que tem características tão origi­
nais que, para ser salesiano exige a presença de padres e leigos.
E esses valores são vividos num contexto histórico preciso Esta
especial Aliança selada pela profissão perpétua, é feita no tempo, tem
uma data, isto é, coloca-se em um contexto histórico, que provoca
continuamente e sensibiliza a experiência do homem em contínua busca
da interpretação de si mesmo, Evangelizar-se e evangelizar quer dizer
traduzir, em proposta cultural acreditável (porque se vive essa pro­
posta), a interpretação que Deus a existência humana.
É preciso repensar a cultura à luz da revelação e repensar a revela­
ção à luz da promoção humana.
O homem moderno, os jovens, hoje, são mais realistas e pragmá­
ticos. Todos os que vão ao encontro deles para lhes oferecer uma pro­
posta de salvação, não podem ignorar os aspectos concretos da vida
deles, a sua sensibilidade, as situações de fato, as relações que vivem
com o mundo econômico, social e político. Devem procurar a resposta
que a mensagem cristã pode oferecer a essas solicitações, as quais são
pessoais, mas também e sempre mais práticas e concretas. Essas refle­
xões tem deslocado, aos poucos, o interesse, destas realidades objetivas
(consideradas em si mesmas), para o homem e para a promoção do
mesmo homem.
Nisto as reflexões se deixaram levar pelo modo de conceber a
relação homem-mundo, (relação) que está presente na premissa que
introduz a Gaudium et Spes. Nessa premissa o mundo e as realidades
terrenas não se situam mais diante do homem para exigir, o sentido
que lhes cabe, mas essas realidades são preferivelmente consideradas
em função do homem, como meio de seu desenvolvimnto. O olhar se
dirige ao homem, ao seu poder de realizar e, concomitantemente, à
sua importância social. Na verdade, alguns problemas, por exemplo,
os do desenvolvimento, são enfrentados na perspectiva ampla da socie­
dade e das grandes massas, e, debaixo, deste aspecto, se transformam
de problema de ética individual em problemas de ética social.
Quem tem, por vocação, o dom da predileção para com os jovens
deverá viver uma experiência concreta de e de humanidade que
testemunhe e anuncie o absoluto” de um Deus que salva neste contexto
valorizando os elementos típicos de uma vocação religiosa que, por ser
laical, o coloca em contacto mais fácil de compreensão, sintonia pessoal
e possibilidade operativa.
132

14.5 Page 135

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42.2 A Missão Apostólica
Esta aliança, como nascente que não termina, faz nascer de si,
com riqueza de graça atual e de adaptabilidade, a missão.
A dedicação aos jovens, especialmente aos mais pobres, foi para
Dom Bosco, o itinerário, onde se tomou real a sua consagração: con­
sagrado por Deus paraos Jovens, oferecido a Deus nosjovens. Era
totalmente dedicado a eles, completamente “reservadopara eles e,
ao mesmo tempo, realizado neles. Amar os jovens, para ele, não signi­
ficava somente suscitar o afeto deles, mas também sentir a atração
deles, ser subjugado por eles, perceber neles o papel insubstituível na
vida deles29. Na unidade da caridade pastoral, fruto por excelência, da
formação religiosa e humana, encontram sentido e unidade os dois
polos que movimentam a vida do salesiano: Deus e os Jovens. O salesia-
no descobre em si a necessidade de uma intensa presença diante
dAquele que o envia e, juntamente, diante daqueles a quem é enviado M.
Tornando concretas essas aspirações no “ondee como”, cumpre-se a
missão, o que significa também encontrar espaço e significado na origi­
nalidade da vocação do Salesiano coadjutor.
A. Os valores e as atitudes do significado pastoral
O desejo de uma intensa presença diante dAquele que o manda,
incitará o Salesiano coadjutor a compartilhar o anseio de Jesus para
o advento do Reino31; vai incitá-lo também a perceber, na história,
o desígnio de Deus e o mistério de iniqüidade que se lhe opõe, para isso
se educará para um forte sentido de Igreja, porque evangelizar não
é para ninguém, nunca um ato individual e isolado, mas um ato pro­
fundamente eclesial... e nenhum evangelizador é dono absoluto de
sua ação evangelizadora32. O Salesiano coadjutor saberá crescer na
espiritualidade eucarística e mariana que o toma cooperador de Deus:
Das coisas divinas a mais divina, dizia Dom Bosco, é cooperar com
Deus na salvação das Almas"33. No espírito de oração descobrirá e
apreciará as leis que se dizem apostólicas"34 e que exigem também
o fervor das nossas capacidades e de nossa competência. Assim o
Salesiano coadjutor alimentará também a sua própria vida de con­
fiança, de empreendimentos e de alegria, também nas fadigas35.
O desejo de intensa presença entre os jovens aos quais é enviado
o Salesiano coadjutor, empenha o seu senso do concreto” em promo-
29. Cf. Stella P., Dom Bosco nella storia della religiosità cattolica, voi. II pàg.
473.
30. Cf. FSDB 74; CGE 26.
31. Mt 6,10.
32. EN 60.
33. MB 9,220; 13,629.
133

14.6 Page 136

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ver, na comunidade e em si, algumas sensibilidades quanto à medida
das exigências deles.
Que sensibilidades?
o sentido do homem como liberdade, por exemplo, que projeta
a própria vida e utiliza o mundo como material posto em movimento
pela sua própria criatividade;
o sentido moral que percebe a história como tarefa e respon­
sabilidade;
o sentido da participação que faz tomar consciência, hoje da
cultura humana como cultura socializada, onde os esforços, para a
construção e defesa da cidade terrestre, ou são comunitários ou não são
eficazes;
O sentido da perspectiva que entende a história como libertação
progressiva e integral, onde a salvação e processo histórico são dimen­
sões da mesma liberdade.
A comunidade aparecerá então como uma fraternidade que desce
do céu, mas que se eleva também da terra, visto que o Filho de Deus
para salvar-nos “se despojou a si mesmo, assumindo a condição de
servo e tornando-se semelhante aos homens"; uma comunidade feita
de pessoas que são sinal de outras Pessoas: o Pai, o Filho e o Espírito
Santo. Os salesianos são pessoas que se vêem e se comprendem como
sinal, e querem isto: tornar-se uma proposta e uma resposta para
quem vive.
B. Capacidade para a ação
O sentido do concretoe o desejo de oferecer a salvação (onde
ela está presente em germe) leva o salesiano coadjutor a apetrechar-se
concretamente, isto é, a ser capaz de fazer análise e avaliações
críticas de uma determinada situação pastoral; a saber definir, de ma­
neira realística e criativa, uma estratégia de intervenção com objetivos,
tempos, operadores e papéis bem definidos; a tomar-se sensível ao
mundo do trabalho", entendido como processo produtivo, não neces­
sariamente industrial, (trabalho) que marca, por si mesmo, a vida de
tantos jovens necessitados.
Isso de apetrechar-se concretamente” deve servir também para
evitar um risco”! As especializações são insubstituíveis nos seus ser­
viços. Não se pode evangelizar somente com a boa vontade. Mas as
pesquisas dessas especializações, sempre carregadas de atrativos, devem
sempre levar ao Espírito, sem nunca desviar a atenção para com Ele.
34. Cf. FSDB 77.
35. Cf. FSDB 75.77.
134

14.7 Page 137

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Se as inspirações do Espírito não se harmonizassem com a organiza­
ção do nosso agir, nos afastaríamos da perspectiva da santidade, per-
der-se-ia “a sabedoria do coração, provocar-se-iam fissuras na unidade
vísivel da missão e haveria motivos sérios para as crises mais diversas.
C. Funções, ministérios e campos ãe ação
A forma vocacional laical e a sua especialidade se realizam nos
diversos campos de ação e nas diversas incumbências que o Salesiano
coadjutor desempenha e para as quais se prepara. Em mais de cem
anos de história, os Salesianos coadjutores desempenharam uma
vastíssima gama de atividades, que se podem distribuir, mais ou menos
exatamente, em três categorias:
As funções educativas, sociais, formativas e pastorais: respon­
sabilidade de direção em vários setores, atividades escolares e culturais,
sobretudo nas escolas técnicas e profissionais; atividades evangeliza­
doras nas missões; animações de associações e círculos apostólicos, de
grupos esportivos, musicais; animação do tempo livre, produção e uso
dos vários instrumentos de comunicação social; encaminhamento do
trabalho, formação social;
as atividades chamadas terciárias: ecónomos, contadores, com­
pradores, secretário, representante de setores, enfermeiros, sacristães,
organizadores do pessoal de serviço;
os serviços domésticos: colaboradores em casa, dispostos a qual­
quer ocupação na qual se sintam competentes, ainda que um pouco;
encarregados da ordem e da limpeza, adidos a trabalhos campestres,
cozinheiros, padeiros, eletricistas, porteiros ou preciosos factótum.
Trata-se de atividades e serviços que exigem aptidões diversas e
preparações distintas36. Essas preparações (convém repetir), não devem
ser unicamente reduzidas a ofícios ou profissões. É preciso que sejam
consideradas e vividas como apostólicas: pois elas tem um sentido
educativo-pastoral dentro da comunidade apostólica, constituem um
verdadeiro testemunho comunitário, estão profundamente ligadas entre
si e todas elas são endereçadas, juntamente, à atuação dos bens do
Reino de Deus37.
Na exortação apostólica dedicada à evangelização, Paulo VI avaliou
positivamente o fato existente em muitas igrejas: grupos de religiosos
e leigos abertos aos ministérios não ordenados, que garantiam assim
serviços especiais capazes de fazer rejuvenescer e reforçar o dinamismo
evangelizador delas.
36. Cf. FSDB 58-66, 78.
37. Cf. Const. 21.
135

14.8 Page 138

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Assinalou, à maneira de exemplo, os ministérios dos catequistas,
dos animadores da oração e do canto, dos servidores da Palavra de
Deus, de pessoas que ajudam os irmãos mais necessitados, de chefes
de pequenas comunidades, de responsáveis dos movimentos apostó­
licos 38.
Reconheceu, depois, que os leigos podem também sentir-se chama­
dos a colaborar com os seus pastores no serviço da comunidade
eclesial, para o crescimento dessa mesma comunidade eclesial, exer­
cendo ministérios diversíssimos, de acordo com a graça e os carismas
que Deus lhe conceder"39.
A história da nossa Congregação conheceu, de fato, não poucos
Salesianos coadjutores que exerceram uma ou outra função, colocada
hoje entre os ministérios não ordenados. No período pós-concílio, alguns
exerceram os ministérios de acólito, de leitor, de ministro extraordi­
nário da Eucaristia, pelo novo Código e pela recente exortação apostó­
lica Christideles laici*.
O CG 21 acolheu o convite de Paulo VI e prometeu que também
os Salesianos coadjutores, convenientemente preparados, terão a possi­
bilidade de exercer, como religiosos, os ministérios não ordenados e
isso a serviço da comunidade evangelizadora salesiana41.
Este fato não pareça a ninguém, como uma forma renovada de
clericalização. Trata se, ao invés, de uma legítima atribuição de minis­
térios não ordenados a fiéis leigos, que, na história da Igreja, sobre­
tudo no primeiro milênio, foram geralmente exercidos por eles. É
obvio que quem assume esses ministérios, deverá ter as aptidões neces­
sárias e o auxílio de formadores competentes, os quais podem ofere­
cer-lhes, para o discernimento, uma formação teórico-prática durante
um tempo suficiente42.
O elenco das múltiplas funções tradicionais do Salesiano coadju­
tor e o dos ministérios não ordenados, é um elenco indicativo. Está,
portanto, aberto e pode ser integrado com outras funções e ministérios.
A necessidade de responder, com uma evangelização nova e com criati­
vidade pedagógica, às perguntas e às urgências das culturas emergen­
tes, pode sugerir funções e ministérios novos ou renovados.
De acordo com o pensamento de Dom Bosco, repetido pelo CG 21,
“o Salesiano coadjutor pode participar de todas as tarefas educativas
e pastorais salesianas não ligadas ao serviço específicamente
sacerdotal"43.
38. Regulamentos antigos 260.
39. Ib. 292.
40. Cf. CIC Cânon. 230.
41. CG21 182.
42. CIC 231.
43. OG21 182.
136

14.9 Page 139

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O texto das Constituições retoma o conceito, dizendo que o
(Salesiano Coadjutor) opera em todos os campos educativos e pas­
torais” com tarefas de ordem cultural, profissional, social e econômica,
como também de ordem catequética, litúrgica e missionária, onde ele
leva o valor próprio de sua laicidade, que o torna, de maneira especí­
fica, testemunha do reino de Deus no Mundo, entre os jovens e realida­
des do trabalho44.
D. Educador para a no mundo do trabalho
O “mundo do Trabalho”, entendido como processo produtivo, não
necessariamente industrial, é um dos campos preferenciais oferecido à
responsabilidade e à competência do Salesiano coadjutor, por tradição
e pela urgência dos nossos tempos.
Das características que a proposta educativa apresenta, ele pode
deduzir o conteúdo e as atitudes que, como educador, é chamado a
ter para estar à altura da sua tarefa.
Na verdade, a proposta educativa deve nascer de um projeto-
homem que integra todos os aspectos da experiência humana, indivi­
dual e coletiva, e se confronta com outros projetos, referindo-se conti­
nuamente aos valores da experiência cristã.
Não basta. Em contato com as condições dos ambientes de trabalho
e dos jovens que se preparam para serem, nestes ambientes, emprega­
dos e protagonistas, essa proposta deve estar em condições de transfor-
mar-se em uma cultura, na cultura do trabalho”. Ela deve tornar-se,
por meio dele, uma proposta educativa da cultura do trabalho.
E, pois, importante buscar quais sejam o conteúdo e as exigências,
negativas e positivas, desta cultura do Trabalho.
Falando da parte negativa, poderíamos encontra la na ausência e
na decadência de uma ética do trabalho digna do homem; na fuga do
trabalho, como efeito de uma concepção consumística da vida; no con­
siderar o trabalho com atitudes fortemente egoísticas que produzem,
em medida maior ou menor, o “reinvendicacionismo, o absenteísmo, o
desinteresse.
Passando para a parte positiva notamos, ao invés: a recuperação
da dignidade humana do trabalho; a necessidade de participação e de
controle; o esforço de recompor, de maneira significativa, os processos
produtivos; a busca de formação.
Todo este conteúdo deve ser promovido com uma metodologia
muito sagaz. Dom Bosco e a nossa tradição supõem sempre que seja­
mos conscientes das necessidades reais de quem trabalha e que inter-
44. Const. 45.
137

14.10 Page 140

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venhamos, com uma ação igualmente atenta ao momento educativo e
ao da evangelização. Por isso deverão combinar-se harmoniosamente
os dois aspectos: o da escuta da demanda formativa que emerge da
condição juvenil e das classes populares; e o da solução totalizante de
seus problemas: oferta do pão e da palavra, do trabalho e da cultura,
da garantia dos direitos e das motivações do dever.
Assim se determinam também a finalidade, o estilo e os objetivos
da proposta.
Trata-se-á de promover, ao mesmo tempo, todo o homem trabalha­
dor e todo o cristão, reconduzindo o trabalho à esfera da ética:45 é a
finalidade.
Aplicar-se-á o critério preventivo, antecipando tempos e ritmos
de crescimento contra os riscos de quem se expõe, sem defesa, à
lógica e ao clima ambivalente das relações de produção. Utilizar-se-á,
além disto, um ambiente educativo, no qual avultam os estímulos
(espírito de família, alegria, otimismo, criatividade e espontaneidade,
naturalidade do empenho e do sacrifício) para interiorizar, com sere­
nidade, a severa ética do trabalho: é o estilo educativo.
Dar-se-á à pessoa do jovem, futuro trabalhador, o primado com
relação às preocupações da produção, as quais visam à eficiência;
convencer-se-á o jovem, com propostas positivas, a não reduzir
a formação profissional à doutrinação ou a um perigoso pragmatismo,
mas, preferivelmente, a mover-se para o empenho de líder, capaz de
entender e escolher a própria dedicação aos problemas do trabalho,
como vocação e serviço. São os objetivos.
O empenho de formação profissional torna-se então um lugar de
educação à fé, isto é, a experiência na qual ela se exprime e se verifica.
Os Salesianos coadjutores, empenhados neste mundo, tornam se os
homens do trabalho” das comunidades eclesiais e também da nossa
Família (animadores dos Cooperadores e dos Ex-Alunos trabalha­
dores):40 um carisma que a tradição salesiana e Dom Bosco não que­
rem perder17.
As diversas formas de presença do Salesiano coadjutor, para serem
significativas de sua identidade laical e contribuir eficazmente para
a realização pessoal desta proposta, devem respeitar algumas condições
que o CG 21 descreve nestes termos: ele
não se esqueça nunca que é, e em toda parte, um educador
salesiano, cujo objetivo deve ser o de levar os diversos elementos
desta realidade social a serviço dos valores individuais e coletivos da
pessoa para conduzi-la, depois desta promoção humana, a achar na
a sua plenitude e total realização;
45. João Paulo II, Laborem exercens, 1981.
46. CG21 185.
47. Cf. Const. 42.
138

15 Pages 141-150

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15.1 Page 141

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seja fiel à sua condição de religioso salesiano leigo;
saiba escolher o bem, presente no mundo do trabalho (um
projeto de sociedade e de homem personalizado, comunitário e solidá­
rio), mas contemporaneamente, saiba também assimilar os males que
o ameaçam (visão materialista da vida, fechamento às realidades espi­
rituais, individualismo, sentimento de hostilidade, tentações da violên­
cia)”. O critério da encarnação o induzirá a estar atento a tudo o que
de negativo, crítico com relação àquilo que se pode purificar ou
reorientar, anunciando o cristianismo como realidade absoluta que leva
todas as culturas e todas as pessoas à salvação.
defenda e promova estes valores como religioso, totalmente
orientado para Cristo, fundamento e vértice dos mesmos valo­
res humanos; poderá (assim) mais facilmente individualizar os
perigos que ameaçam esses valores e ajudar outros a supera­
rem esses perigos.
Testemunhe, por meio do desprendimento e do amor, com o
qual se doa incessantemente, uma solidariedade profunda e
universal que deveria pôr em crise toda forma de egoísmo, da
exploração e de busca exclusiva do próprio interesse;
Revele o Reino de Deus presente neste mundo e na história
e, desta maneira específica, anuncie profeticamente o Reino
futuro48.
42.3 A Comunhão na Comunidade
A especial aliança que o Senhor selou conosco, não é missão,
mas, como nascente que nunca se esgota, faz nascer de si, com riqueza
de graça atual, a comunhão na comunidade, um estilo de vida vivido
com radicalidade evangélica, a oração.
Dom Bosco, um santo tão ativo, põe em relevo o caráter realizador
do mandamento da caridade. A caridade constrói a unidade e a comu­
nhão, nos níveis profundos dentro da comunidade M. nela uma par­
ticular densidade teologal que apresenta aspectos também operativos,
mas que, afinal; sobre a dimensão organizativa do agir, privilegia
uma organização em vista do bem estar e do “viverjuntos.
Dom Bosco chamava a Congregação Sociedade de São Francisco
de Sales, pondo em evidência a dupla intensidade do nosso ser comu­
nhão: a de Igrejae a de realidade humana, constituída pela frater­
nidade vivida e por ideais compartilhados. Um viver juntos autêntico"
para um anúncio autêntico”M.
48. CG21 184.
49. Const. 195.
50. Cf. Const. 49.50.
51. CG21 37, Cf. Const. 51; Cf. Const. 88; Cf. Const. 90; Cf. Const. 58.59; Cf.
FSDB 80, MR 30a, CP 106.177.
139

15.2 Page 142

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42.4 Um estilo de vida vivido com radicalidade evangélica
Com a profissão religiosa, queremos viver a graça batismal com
maior plenitude e radicalidade”
Os conselhos evangélicos, vividos no espírito das bem-aventuranças,
tomam-se o sinal de uma existência orientada para a esperança: A
oferta da própria liberdade na obediência, o espírito de pobreza evan­
gélica, e o amor, feito doação, na castidade, fazem do Salesiano um sinal
da força da ressurreição. Os conselhos evangélicos, configurando o seu
coração todo voltado para o Reino, o ajudam a discernir e a acolher
a ação de Deus na história; e, na laboriosidade e simplicidade da vida
quotidiana, o transforma em um educador que anuncia, aos jovens,
novos céus e nova terra, estimulando neles os empenhos e a alegria
da esperança53. Pois hoje a verdadeira questão não é sabei’ como se
poderia crer, se o radicalismo evangélico é verdadeiramente possível ser
vivido por homens como nós somos, num mundo como é o nosso;
mas a questão é, principalmente, saber se um projeto assim não é,
apesar e por causa da ruptura aparente com a situação ordinária dos
homens, dos jovens especialmente, a condição mesma que salva este
mundo54.
Sermos obedientes, na fé, através do Superior, ao projeto de Deus
como criaturas livres que invocam e buscam a vontade dEle, erguendo
os olhos para o alto, mas abaixando-os também em direção aos jovens
que pedem a salvação, coloca a obediência dentro do mistério de Deus
e também dentro do mistério do mundo, onde se toma operante. Ela
liberta seguramente o religioso dos reflexos de absoluto de que se
reveste ilusoriamente o ídolo do poder55 e comunica sua força aos
jovens para que realizem essa liberdade.
Sermos evangélicamente pobres não é mais, somente, uma virtude
pessoal. É também uma contestação contra um mundo que se organiza
de acordo com o ideal de produção e do consumo e que, para isso,
cria e difunde continuamente o domínio do homem sobre o homem e
coisas sobre todo os homens, dominadores e dominados. A pobreza é
virtude evangélica porque, além do breve alcance de nossas técnicas,
quer demonstrar que, seguindo a Cristo, é possível viver em um modo
diferente daquilo que o mundo impõe, isto é, em um mundo livre de
segurança excessivamente mundanas, exatamente um mundo de pobre­
za. Ela liberta seguramente os salesianos e os jovens dos reflexos de
absoluto de que se reveste ilusoriamente o “idolo da posse”56, sempre
que nos disponhamos a fazer nascer em nós mesmos, uma mentalidade
e uma alma evangélicamente pobres.
52. Const. 60.
53. Const. 63.
54. Cf. J. Thomas, Travail, Amour, politique. Pariz 1972.
55. Const. 62.
56. Ib.
140

15.3 Page 143

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Sermos evangélicamente castos choca com certo tipo de fatalismo
psíquico que zomba da força da liberdade, como se fosse uma tentativa
sem esperança de êxito dentro do mundo que fala das necessidades
insuperáveis e nega ser possível crescer e doar através das rupturas
com as tais necessidades.
O Salesiano oferece ao Senhor Jesus e ao Pai as suas forças
físicas e afetivas, como testemunho de pleno amor de comunhão com
eles e de disponibilidade para o Reino57. A consagração na castidade
abre o coração à paternidade espiritual58, liberta e potencia a capaci­
dade de ser tudo para todos, favorece verdadeiras amizades e contribui
para fazer da comunidade, uma verdadeira família5. É um amor que
não pára sobre si mesmo, mas se torna sinal transparente do amor de
Deus aos Jovens, que percebem que são amados, e que por sua vez,
correspondem com o mesmo amor®.
Sermos homens de ação: O CG 22, colocando a oração no fim dos
capítulos IV, V e VI, como se fosse uma conclusão deles, quis fazer
perceber que a vida consagrada apostólica do Salesiano, com a varieda­
de dos seus empenhos entre os jovens, com a fraternidade vivida na
comunidade e com as exigências da obediência, castidade e pobreza,
tem um caráter de tal forma sobrenatural que é impossível e impra­
ticável sem a graça do Espírito que é continuamente comunicada pela
oração e pelos sacramentos61.
O nosso encontro de Aliançase exprime, se celebra, e encontra
a sua força no diálogo orante com o Senhor. Esse diálogo empenha
toda a experiência vocacional e recebe dela, por um processo criativo
de afinidade, o seu estilo específico e os critérios segundo os quais se
possam criar e escolher as formas de oração mais condizentes.
É o diálogo de um apóstolo que, quando reza, responde ao convite
do Senhor, reaviva a consciência de sua íntima e vital união com Ele e
da sua missão de salvação a.
As modalidades laicais e presbiteriais, com que os SDB vivem esses
valores são específicos e complementares. Se parássemos nas moda­
lidades e se abandonasse o conteúdo comum, teríamos uma forma vazia,
uma beleza sem substância; se parássemos no conteúdo sem lhe
valorizarmos as modalidades, cairíamos em um genericismo abstrato
e numa comunidade sem originalidade.
Quisemos, porém, relembrá-los, embora tenhamos desenvolvido,
com maior amplidão e intencionalmente, a missão, porque ela os requer
como condição insubstituível de sua eficácia e porque empenhando-se
57. Cf. Const. 80.
58. Cf. Const. 81.
59. Cf. Const. 83, ACS 285. p. 23-24.
60. Cf. Const. 81.
61. Cf. Il progetto di vita dei Salesiani di Don Bosco, pág. 609.
62. Cf. FSDB 64; Const. 85.
63. Comunidade: Cf. FSDB 79-80; obediência: Cf. FSDB 82-84; Pobreza: Cf. FSDB
85-90; Castidade: Cf. FSDB 91-93; Oração: Cf. FSDB 95.111.
141

15.4 Page 144

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na interiorização das atitudes correspondentes e no uso dos meios63,
os SDB conformam a própria vida a eles, para a educação à santidade
que os jovens esperam.
42.5 A laicidadedo Salesiano coadjutor: um modo de ser e de operar
Os Institutos de vida ativa, tão diversos entre si, assumem, de
acordo com modalidades originais, uma verdadeira dimensão secular
e fazem incindir nela parte do realismo histórico que é próprio de
toda a Igreja na sua missão de sacramento universal de salvação. Em
nossa sociedade são os Irmãos coadjutores que têm que garantir uma
presença laical e desenvolver tarefas que manifestem e traduzam, na
prática, esta dimensão. Ela faz parte da forma vocacional deles, não é
simplesmente um ofício ou um serviço.
A nossa Congregação “cultiva em si um impulso profano de fer­
mento apostólico na história, e por isso, vive religiosamente mergulhada
e interessada nas vicissitudes concretas da sociedade humana”M.
Aquilo que João Paulo II, no discurso citado, julgava oportunoe
necessário em algumas situações particularmente graves”, isto é o
empenho no imenso campo da solidariedade humana, para nós é costu­
meiro e ordinário, quando se diz respeito a tudo quanto se refere
ao campo educativo e ao social.
A própria espiritualidade da ação, explícitamente interessada nos
valores temporais, traduz as riquezas da dimensão contemplativa e dos
votos religiosos em energia de educação.Mais particularmente, a
missão juvenil e popular move o Salesiano coadjutor a ser educador
social abrindo os horizontes do crescimento humano ao indispensável
mistério de Cristo65.
A dinâmica da consagração do Salesiano coadjutor se dirige, de
modo especial e forma indissoluvelmente unida, a determinados proble­
mas de promoção humana. Por isso deve conhecer, apreciar e interiori­
zar os valores e as atitudes da laicidade consagrada.
Globalmente como religioso, ele anuncia diretamente os valores
definitivos do Reino de Deus, as bem-aventuranças. Renuncia, pela expe­
riência que faz dessas Bem-Aventuranças e para um testemunho radical
das mesmas, (renuncia) a alguns instrumentos e algumas estruturas
do mundo (ao matrimônio, por exemplo), e cria outros instrumentos
e estruturas que exprimem visivelmente o sentido de sua vocação e
se justificam pela força da fé, como é a comunidade fraterna.
Mas como salesiano leigo, aproveita todas as ocasiões que a sua
laicidade lhe apresenta66, a fim de encontrar, para o seu carisma (que
tem essencial projeção educativa que lhe é própria), espaços de secula-
ridade próprios, porém os mais amplos e abrangentes que possa, porque
64. Cf. Viganó E., La componente laicale..., pág. 30.
65. Ib. pág. 32.
66. Cf. GS 36.
142

15.5 Page 145

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é dentro destes espaços que se movem as possibilidades educativas em
vista da evangelização do jovem.
Mais detalhadamente, ele levapara todos os campos educativos
e pastorais, o valor de sua laicidade que o torna, de maneira específica,
testemunha do Reino de Deus no mundo, perto dos jovens e das reali­
dades do trabalho”67.
Esses valores, se assimilados, suscitarão nele certo número de
atitudes fundamentais. Algumas dessas atitudes exprimem mais a sua
relação com o mundo, outras, a qualidade de suas relações pessoais.
Eis algumas das primeiras atitudes.
Cultiva o desejo e as aptidões para ser uma presença útil na histó­
ria, optando corajosamente pelo homem, especialmente pelos jovens
pobres e por seu difícil futuro. Considera o mundo como espaço da
própria vida de e de sua caridade pastoral. Não aceita um empenho
cristão superficial e abstrato, longe das exigências da situação Inte­
ressa-se pela realidade objetiva das coisas, quer conhecê-las mesmo se
complexas, ainda que exijam dele estudo, exprimentação atenta e pro-
fissionalidade. Está firme nas finalidades, flexível na escolha dos meios
e das estratégias. Cultiva o conhecimento do mundo e de sua cultura.
Eis algumas das atitudes que poderíamos chamar segundas:
O Salesiano coadjutor desenvolve o sentido do possível e do prová­
vel nas conjunturas sócio-culturais. Por conseguinte não assume tons
dogmáticos a respeito do que é discutível. Respeita o pluralismo e abre
o diálogo com todos, cresce nas iniciativas, na fantasia pedagógica e na
criatividade pastoral. É generoso na colaboração e aprecia a organiza­
ção. Finalmente sente-se participante, num projeto de vida (o projeto
salesiano), capaz de educar à fé, no profano, aos jovens mais
necessitados w.
A laicidade do Salesiano coadjutor, enriquecido por esses traços
(já falamos), é uma laicidade complementar. Traduz se em experiências
que integram as do salesiano padre em vista da vida comum e da
missão comum.
Deve-se, porém, notar que na comunidade salesiana, excetuando
as tarefas e os ministérios estritamente laicais ou sacerdotais, não
áreas ou ações absolutamente próprias dos Salesianos coadjutores e
dos Salesianos padres70. Não só, mas é para desejar e promover que
certos serviços domésticos cotidianos e de empenho passageiro sejam
sempre mais assumidos em conjunto, na simplicidade da colaboração,
por todos os membros da comunidade71.
Em todos esses casos, a contribuição específica dos Irmãos coadju­
tores (lembra o CG 21) consiste mais no realizar as diversas tarefas
67. Const. 45.
68. Cf. Vigano E., La componete laicale..., o.c. pàg. 23.
69. CNOS, Per una pastorale giovenille nei CFP, Torino, pàg. 25.
70. CG21 182.
71. Vigano E. La componente laicale..., C.C. pàg. 9-10.
143

15.6 Page 146

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e funções do serviço salesiano com estilo, espírito e dimensão laical
ou sacerdotal72.
42.6 Um crescimento constante em humanidade”
Os valores e as tendências à ação, próprios de nossa consagração
apostólica, são um dom de Deus, mas não vivem no vazio: exertam-se
como dinamismos na humanidade do Salesiano coadjutor e se expri­
mem, através da humanidade, no testemunho e no exercício da caridade
pastoral.
A santidade da vida consagrada não depende certamente das indi­
cações das ciências do homem e da educação. É fruto da ação gratuita
de Deus. Mas as virtudes e aptidões humanas, presentes ou ausentes,
podem dispor a receber, mais ou menos favoravelmente, a ação de Deus
e, mais ainda, podem dispor a operar, de maneira mais ou menos
eficaz, na atividade educativa.
Esses motivos, especialmente se referidos a uma vocação como a
nossa (educadora e evangelizadora ao mesmo tempo) explicam a
importância que as constituições atribuem aos valores humanos e à
sua relação com os valores transcendentes: procuramos crescer
na maturidade humana73 e, ao mesmo tempo, conformando-nos mais
profundamente com Cristo, renovarmos a fidelidade a Dom Bosco para
responder às exigências sempre novas da condição juvenil e popular74.
A boa saúde e a resistência física, a maturidade intelectual e uma
progressiva capacidade de reflexão e de discernimento, o equilíbrio e
a adaptação psíquica, estão entre os valores e atitudes que mais se
exigem no nosso processo formativo75.
De alguns desses valores e atitudes, não de todos, faremos
menção76, levando em conta também a situação social que, em alguns
lugares, mais do que em outros, põe em atividade mecanismos de
atrasos no processo evolutivo normal.
A. Uma boa saúde psíquica: integração
Unificar, sempre mais e sempre melhor, a pessoa ao redor do
próprio projeto de vida é causa e efeito de uma boa saúde psíquica.
Construir uma personalidade claramente integrada para viver, na fide­
lidade e liberdade, a própria consagração apostólica para poder inter­
vir eficazmente no trabalho educativo, para viver serenamente a vida
comun.tária, é uma exigência sentida pelo próprio Dom Bosco, o qual
de uma esplêndida harmonia de natureza e graça, fundidas num pro­
jeto de vida fortemente unitário77 é o primeiro modelo.
72. CG21 182.
73. Cf. FSDB 58-66.
74. Ib.
75. Cf. FSDB 58-66.
76. Cr. FSDB 58.66.78.
77. Const. 21.
144

15.7 Page 147

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O Salesiano coadjutor deve portanto procurar ter:
a capacidade de conhecer e aceitar a realidade, de julgar obje­
tivamente pessoas, coisas, situações;
a estabilidade interior nas convicções, não mais dependentes de
conformismos, de entusiasmos ou de desilusões;
um comportamento social bem adaptado e a capacidade de ser
quem é, embora integrando-se no grupo ao qual pertence;
um comportamento emotivo e afetivo que manifeste certa igual­
dade de caráter, o dominio sobre o medo e a melancolia, sobre
a atração e repulsa instintiva; um comportamento que modifi­
que todo movimento desordenado, a cólera especialmente e
os afetos sensíveis78 a propensão à preguiça e à gula79;
uma suficiente capacidade de auto controle, de responsabilidade
quanto à própria vida, de iniciativas e de decisões ponderadas
e livres, de coragem em afrontar os obstáculos e em integrar
limites e insucessos, perseverar nas decisões tomadas.
A sociedade atual não favorece esses comportamentos. Não só,
mas freqüentemente cria obstáculos difíceis, à primeira vista insupe­
ráveis. Esses obstáculos insensibilizam a pessoa num estado de inde­
finição e de dúvida que não permite ordinariamente enfrentar as pró­
prias responsabilidades, procuram-se pontos de apoio e referência, mas
também esses pontos são geralmente lugares comuns, carregados de
superficialidades.
Não dúvida que os nossos jovens Salesianos coadjutores, para
salvar a própria perseverança e se tornarem modelos que ajudem os
jovens a libertar se e a construir-se, devem conseguir uma personali­
dade ainda mais equilibrada e madura.
B. As virtudes sociais
Formar-se para a comunicação e para as virtudes sociais é o outro
aspecto de uma humanidade que deve crescer e ser eficaz no seu servi­
ço. O Salesiano coadjutor é chamado a adquirir uma grande capacidade
de contato e estilo de relações assinalado pela simplicidade, delicadeza
e serenidade.
Vale para o Salesiano coadjutor o que se encontra também, em
outros contextos: aprenda a estimular as virtudes que são muito
apreciadas entre os homens e nos tornam bem aceitos80. Trate de
cultivar profundamente a capacidade de manter contatos com pessoas
de diversas situações. Aprenda sobretudo, a arte de falar aos outros de
maneira conveniente, de escutar com paciência e de comunicar-se com
78. Antigos Regulamentos 260.
79. Ib. 292.
80. OT 11.
145

15.8 Page 148

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todos, com o maior respeito, com as pessoas de qualquer classe social,
animado por -um amor cheio de humildade
Com relação às opiniões “livres, que chamam autenticidade e
liberdade aos modos descuidados e grosseiros de comportar-se, o Sale-
siano coadjutor, especialmente nos ambientes de trabalho, sabe unir
a espontaneidade com a delicadeza" K.
Em todo caso, a sua comunidade é o lugar onde, mais do que
alhures ele se forma ao estilo salesiano das relações. O Salesiano coadju­
tor sabe avaliar a qualidade das suas relações quotidianas e sabe quanto
é importante contribuir à custa de corajosas renúncias, para criar um
clima de verdadeira fraternidade onde se harmonizem obediência e
liberdade, se superem simpatias e antipatias, se reconheçam e se promo­
vam a riqueza e o valor de cada um e se torne possível a amizade w.
Visto que a sociedade dificulta a consecução destes objetivos, lem­
bramos brevemente as atividades e os meios que a nossa FSDB prevê
para melhorar a unificação da própria vida e a formação para as
virtudes sociais 84.
C. A maturidade intelectual: Inteligência, capacidade de reflexão
e de discernimento
O CGE esperava, para a Congregação, um novo tipo de homem,
capaz de superar a ansiedade provocada pelas mudanças e de continuar
a buscar, sem se acomodar em soluções feitas; um Salesiano disposto,
a aprender e a enfrentar o novo, a dialogar sem se fechar, a aceitar a
interdependência e a exercitar a solidariedade; capaz de distinguir o per­
manente do mutável, sem extremismos85.
É o tipo de quem foi ajudado a adquirir essas atitudes também
pelo amadurecimento de sua inteligência, e pela reflexão e pelo
discernimento, dois dotes mais importantes que uma simples aquisição
de noções.
A inteligência deve ser cultivada adaptando o “comoestudar e
queestudar, às inclinações pessoais, às capacidades, possuídas, à
forma vocacional escolhida, ao tipo de empenho que se vive na missão,
às necessidades da comunidade inspetorial.
A intencionalidade vocacional, esclarecida e aprofundada por meio
do estudo das disciplinas salesianas, motivará os estudos que se fazem
e as atitudes que se sugerem. A vocação, com as suas exigências, orienta
81. Ratio FIS 51; Cf. FSDB 113, 502, 535A, 544.
82. CGE 669; cf. FSDB 65.
83. CGE 669.
84. Cf. CGE 673; FSDB 306; Cf. OT 11; FSDB 162; CGE 679a, FSDB 160-162;
Const. 70; Cf. FSDB 118, 147, 154, 173; CGE 674; Cf. 115, ASG 285, 40-41.
85. CGE 665.
146

15.9 Page 149

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as escolhas, motiva as pessoas e o trabalho delas, unifica a multipli­
cidade dos estudos e sabedoria à reflexão e ao discernimento.
4.3 UM MÉTODO: MOTIVAR AS ATITUDES E FAZER
EXPERIÊNCIAS COM ELAS
Até aqui, enquanto passavam diante de nossos olhos, os dons de
natureza e graça da consagração apostólica do Salesiano coadjutor, os
valores e as atitudes correspondentes, podiam-se notar duas
impressões: a de verificar, de um lado, quanto o processo formativo
seja rico e complexo e por isso, não fácil; e por outro lado, a impressão
de buscar o “como fazer” para que esses mesmos valores motivassem
as atitudes e os comportamentos, e não ficassem na mente, aumen­
tando a bagagem das noções, e nada mais.
O desconforto e a dúvida devem ser superados na hora certa.
Possuindo uma visão global do processo, dever-se-á iniciar o trabalho
sobre uma dimensão importante da pessoa, talvez carente no momento.
O confronto com o resto será gradativamente uma exigência.
43.1 Um aspecto prévio e decisivo: as motivações primárias
Mais importante, ao invés, é o empenho de tomar os Salesianos
coadjutores capazes de viverem motivados pessoalmente por esses
valores. É o objetivo do processo formativo, e é fundamental para que
se possa fazer o bem realizar-se com esta condição. Não é um
objetivo fácil ou espontâneo. Não basta conhecer intelectualmente ou
aceitar emotivamente esses valores. Esses valores devem constituir a
motivação primária de toda atitude e comportamento, na verdade,
porém nem sempre é assim:
podemos ser obedientes uma atitude) para renovar a Igreja,
para o bem dos jovens, a plena disponibilidade de Cristo, apóstolo do
Pai e servidor do Reino o valor que motiva), mas podemos ser
obedientes também servilmente por medo das responsabilidades
pessoais, ou das conseqüências negativas, ou para injetarmos em nós
mesmos uma necessidade de segurança, que se torna o motivo prin­
cipal da própria obediência, torna-a inconsistente:
podemos ser fiéis e perseverantes para responder de maneira
sempre renovada, à especial Aliança que o Senhor estabeleceu
conoscomas também por medo de enfrentar a vida;
podemos celebrar a liturgia como mistério que nos insere na
Páscoa de Cristo87, mas também como expediente para satisfa­
zer uma necessidade de dependência do próprio grupo de
referência;
86. Const. 195.
87. Cf. DSM 194.
147

15.10 Page 150

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podemos viver o sacramento da Reconciliação88 para passar
do egoísmo ao amor ”, mas também como meio de tranquilizar-
se e para descarregar os próprios sentimentos de culpa;
podemos entrar em uma comunidade para uma experiência de
recíproca e autêntica abertura às pessoas e ao grupo90 ou para
achar um lugar onde tudo é igual, aceitável e seguro;
podemos trabalhar para os jovens, impelidos pela caridade e
colocando à disposição dos outros as nossas capacidades pas­
torais 91 ou para sentirmo-nos admirados e bem aceitos;
podemos empenhar-nos para reformar a vida da comunidade
por amor de Cristo e da Igreja92, mas também para descarregar,
de maneira socialmente aceitável, a própria agressividade ou
para fazer as próprias necessidades, mas ou menos conscientes,
de exibicionismo e de dominação.
A dificuldade para viver as atitudes, motivadas primariamente
pelos valores, está presente mais ou menos em todos, também nas
pessoas normais”. É, portanto, importante entender bem este
primeiramente. Quer dizer que os valores devem ser a motivação
primária do viver, do pensar, do agir, do amar. Pode-se chegar a viver
esses valores por si, sem auxílios, mas pode-se chegar a isso, também
utilizando a energia psíquica de alguma necessidade que, estando de
acordo com os valores vocacionais, pode auxiliar a experiência. Mas
essa energia e a sua referência à necessidade não deverão ser nunca
o primeiro porquedo que se faz.
A medida em que se cresce e se amadurece, diminui a influência
das motivações afetivo-sensíveis e progridem as motivações vocacionais
profundas, até que a pessoa, sem abandonar a própria riqueza afetiva,
constrói a própria vida sobre a base constante da reta intenção"93.
Quando, porém, isso não acontece e as motivações primárias, por
descuido ou por ignorância, nascem das necessidades e prevalecem
sobre as motivações fundadas nos valores, normalmente as neces­
sidades:
impedem uma motivação vocacional suficiente: de um lado os
valores, do outro lado as necessidades, mais ou menos coeren­
tes com os valores vocacionais, sem que consiga nunca integrá-
los na unidade da pessoa94;
88. Cf. FSDB 106.
89. Cf. Const. 90.
90. Cf. FSDB 79-80.
91. Cf. FSDB 74-78.
92. Cf. FSDB 72, Const. 13.
93. Cf. Champoux R., Nuove prospecttive nella formazione religiosa: un'integra­
zione della spiritualità e della nsicologia del profondo, em “Civiltà Cattolica”
N. 3026, 1976
94. Cf. L. Rulla F. Imoda J. Ridick, Elementos de predicción y criterios de
perseverança vocacional, CONFER 74 (1981), pág. 316-318.
148

16 Pages 151-160

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16.1 Page 151

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favorece uma interpretação arbitrária dos valores objetivos a
ponto de levá-los a justificar os próprios comportamentos;
contribuem para a formação de expectativas irreais, de um
mundo de esperanças e de ideais utópicos que pensa-se serão
depois atingidos através das várias tarefas e funções que se
hão de exercer, com contínua desilusões graves;
enfim, privam as pessoas da capacidade de ler os sinais dos
tempos”: não se vêem mais os problemas verdadeiros e a pessoa
se refugia nas estruturas, como se essas bastassem por si para
mudar o homem e realizar os projetos dele.
A reta intenção das motivações primárias verdadeiras e autênticas
é uma das condições prévias decididas para que toda e qualquer forma­
ção também para o Salesiano coadjutor. Ele se sentirá realizado como
pessoa consagrada, se viver fielmente os valores evangélicos que moti­
vam primariamente a sua vida; e se sentirá realizado como homem,
se tiver dado uma direção consistente e harmônica às energias das
suas necessidades em vista da educação e da evangelização dos jovens.
43.2 Fazer experiências
Uma vez que tenham sido descobertas e eliminadas as inconsis­
tênciasvocacionais ou fazendo-as emergir na consciência e libertan-
do-se delas, ou se isso não é totalmente possível, aceitando-se, mas
sempre prestando atenção para que tais inconsistênciasnão tenham
peso decisivo na vida e nas escolhas que a pessoa deve fazer, cria-se
a possibilidade de jazer experiências dos valores vocacionais. É um fato
importante porque é na experiência, em determinadas condições95, que
se Interiorizam esses mesmos valores.
Que é experiência?
Experiência é viver os valores vocacionais com todo o ser, pensa­
mento, vontade, sentimento. É o resultado da construção ativa das con­
dições, operadas pelo indivíduo, e do dom que ele recebe: os valores
vocacionais. É a unidade viva, o encontro das condições e dons voca­
cionais, uma força, uma energia, o valor que vem antes da interpre­
tação96.
A. Um princípio metodológico
A experiência é portanto, um fato de vida, mas é também o critério
guiando todo o processo formativo e unifica a multiplicidade de seus
componentes. as Constituições de 1972 falavam em experiências de
95. Ressaltaremos somente algumas, remetendo, para uma informação mais
completa, à FSDB c. 4.
96. Giussani, L. Decisione per 1’esistenza, Ed. Jaca Book, Milano, pág. 20 a 23.
149

16.2 Page 152

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vida e trabalho”97. A FSDB, na sua primeira edição, precisou e ampliou,
dizendo: Esta transformação (a formação do salesiano) não pode
realizar-se a não ser através de uma experiência interior que leve a
compreender e a assumir vitalmente os ideais próprios da escolha reli­
giosa salesiana”98. O art. 97, enfim, concluindo e dando autoridade a
essas indicações, diz que formar-se é “fazer experiência dos valores da
vocação salesiana; o art. 98 acrescenta: vivendo e trabalhando para
a missão comum.
B. A Finalidade
É este, portanto, o caminho para tornar-se “educador pastor dos
jovensou como se diz alhures, apóstolo dos jovens”99 na formação
laical, própria do Salesiano coadjutor 10°.
Apóstolo é uma testemunha da ressurreição de Cristo 101 (“sinal da
força da ressurreição”, dizem as nossas constituições”)102.
E testemunha” é quem vive a experiência da presença e da reve­
lação do Senhor, é capaz de anunciá-la narrando-a103 e anuncia aos
jovens novos céus e nova terra, estimulando neles os empenhos e a
alegria da esperança1(M.
C. Algumas Condições
Acabamos de descrever o fim geral e a característica fundamental
do método: a nossa vocação convida a uma ação formativa que favo­
reça uma verdadeira experiência de vida105. Mas com que condições é
realizável tudo isso?
As nossas Constituições oferecem algumas indicações práticas:
a) Nas atividades
Formamo-nos nas atividades: vivendo e trabalhando pela missão
comum106.
O termo atividadeapresenta significações muito variadas. Para
nós ela é um evento, são fatos ou relações com fatos e pessoas, que
geram um processo ativo; isto é, libertam as energias da pessoa e a
97. Const, de 1972 art. 102.
98. FSDB (1981) 155.
99. Cf. Const. 97.
100. Const. 95,6.
101. At. 3, 1-10.
102. Const. 62, Cf. 61.34.
103. Cf. Const. 61.62.
104. Const. 102.
105. FSDB 3.
99. Cf. Const. 97.
106. Const. 98.
150

16.3 Page 153

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estimulam a uma resposta, penso nas relações com Deus, com Dom
Bosco, naqueles a quem nos conduz o nosso trabalho apostólico (na
Congregação, na Igreja Local, na comunidade, com os irmãos, com os
jovens) até àquilo que acontece num ambiente ou, mais largamente,
numa cultura.
São fatos e relações que provocam uma reação e exigem uma
decisão.
b) Atividades motivadas” por motivos verdadeiros e autênticos
Nem toda atividade é formativa. o são as que se apoiam em
motivos verdadeiros e autênticos 107
Os motivos verdadeirospertencem ao patrimônio carismático
salesiano108, ou são tirados da História, porque estamos atentos à
presença do Espírito109; o Salesiano é chamado a ter o senso do
concreto e está atento aos sinais dos tempos, convencido de que o
Senhor se manifesta também através das urgências do momento e dos
lugares.
A resposta tempestiva, a estas necessidades, o induz a seguir o
movimento da história e assumi-los com a criatividade e o equilíbrio
do Fundador, verificando periodicamente a própria ação110.
uma persepção funcional das coisas que considera as coisas
como coisas; mas também uma visão de profundidade, uma percep­
ção sacramental que descobre, na história, a ação de Deus e capta, por
isso, uma contínua e progressiva expansão do sentido da entre as
malhas do sentido da história 1U.
Os motivos verdadeiros tomam-se autênticos”, quando a pessoa
se apropria deles e quer que constituam os impulsos primários
de suas escolhas, reduzindo a influência das necessidades. Reta inten­
ção é fazer aquilo que mais agrada a Deus, diria Dom Bosco 112.
c) Experiência, Consciência, comunicação
A pessoa se forma na medida em que tem consciência da própria
experiência e a comunica: a formação permanente requer que cada
irmão desenvolva a capacidade de comunicação e de diálogo, uma men­
talidade aberta e crítica1B.
107. Cf. Const. 101, 103, 104, 112; RG 85, 88, 89, 100-103.
108. Cf. Const. 96; FSDB 134-136.
109. Const. 12.
110. Cont. 19, Cf. Const. 62.63.85.94.117.
111. Const. 19; Cf. EN 21.
112. MB 9,986.
113. RG 102.
151

16.4 Page 154

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Exprimir, com palavras, a própria experiência é fruto do esforço
de percorrer novamente (essa experiência), com atenção, para simboli­
zar aquilo que se viveu, torná-lo claro, perceptível e inseri-lo em um
quadro coerente de valores, os homens se forjam no silêncio, mas tam­
bém se forjam na palavra. A experiência requer que tenhamos cons­
ciência dela, mas requer também que seja comunicada. Quando a
pessoa tem uma justa consciência de sua experiência e a comunicação
exprime essa experiência, então a autenticidade é real e os valores são
assimilados.
Quem fala experimenta facilmente a sensação de que aquilo que
ele comunica e que os outros recebem, não seja, na realidade, aquilo
que ele quer dizer. Então sente a tentação de calar. No entanto, quando
uma pessoa não manifestar, no devido tempo e lugar, as dimensões
importantes de sua vida, o seu mundo se restringe, a vitalidade se
torna árida, apagam-se as possibilidades de amadurecimento e a lingua­
gem se torna impessoal e técnica, às vezes banal. Quando, ao invés,
uma pessoa narra o que lhe aconteceu, então liberta, para si e para os
outros, uma particular energia formativa. O anúncio se faz narração e
realiza, ao redor de si, os sinais do amor de Deus e de sua Salvação.
A experiência de vida, se faz mensagem. Quem narra sabe que é compe­
tente na narração porque foi salvo pela história que narra. O seu é
um sinal que evoca, não injorma somente, e convida para uma decisão
de vida. É como se, de sua narração, se desprendesse a força e a ver­
dade que nela estão contidas.
Isso acontecia frequentemente também com Dom Bosco: também
no recreio, nota o biógrafo, falando por vezes da Santíssima Eucaris­
tia, seu rosto se acendia de um santo ardor... e, pelas suas palavras,
os corações sentiam-se todos compenetrados pela verdade da presença
real de Jesus Cristo114.
A dificuldade mais comum, em nível formativo, reside na incapa­
cidade de achar palavras e gestos que coincidam com a experiência
que se faz e com a consciência que se tem (dessa experiência), de
maneira a podê-la comunicar.
A carência dessa capacidade narrativa gera, por vezes, certa crise
pessoal e uma insuficiência na ação apostólica: a crise nos jovens
nasce do fato de lhes serem impostos mundos simbólicos à experiência
vivida, tão carentes de significação que não podem ser utilizados para
narrar a vida11S.
É preciso lembrar isso quando se devem educar os jovens traba­
lhadores. Sabe-se como é a linguagem nas fábricas: pobre de palavras,
sem termos abstratos, visando o imediato e isso se torna difícil a refe­
rência a valores longínquos. O que conta é o valor imediato dos fatos
114. MB 4.457.
115. Molari C. Per una comunicazione che faccia spazio alla narrazione, em
“Note di Pastorale giovanille” 10 (1981), pàg. 35.
152

16.5 Page 155

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dos quais os jovens são protagonistas. Todo pensamento é voltado à
ação feita ou por se fazer, em vista de um interesse. O nexo pensamento-
ação-interesse não se desmancha, a não ser que termine a obra do
educador, a qual é somente serviço e gratuidade, e encontra palavras
e gestos para se fazer entender.
Por esses motivos deve-se julgar importante tudo o que faz crescer
a comunicação:
o hábito sistemático da leitura e do estudo das ciências próprias
da missão, a disponibilidade à oração e à meditação 116; as reci­
clagens que aparecem frequentemente117; os tempos de duração
conveniente para a renovação da vida religiosa salesiana, pasto­
ral e profissional118;
o colóquiofrequente com o Superior, colóquio fraterno, so­
mente privilegiado onde o salesiano trata, com confiança, de
sua vida para o seu próprio bem e para o bom andamento da
comunidade119;
a direção espiritual, pessoal e comunitária, especialmente nas
fases iniciais da formação 12°.
É mais uma das condições fundamentais. Quando a assembléia, a
revisão de vida, o colóquio, a direção espiritual (todos de acordo com
o lugar que a cada um se atribui ou pelas Constituições ou por livre
escolha) são encontros nos quais se dizem e se acolhem experiências,
então se tem uma família de irmãos ao redor de seu pai121 e a vida
mesma da comunidade é formadora. A comunidade se torna um
ambiente que favorece o amadurecimento1B, socializa os valores e
difunde modelos e comportamentos.
Assim a comunidade toma-se um ambiente de família onde cada
um, podendo ser sempre quem é por si mesmo, aceita de bom grado
o risco de abrir-se; torna-se um ambiente que tem vontade de escuta,
é risco de empatia”, isto é, tenta formar próprios os sentimentos dos
outros. Toma se um ambiente que permite comunicar a própria com­
preensão de retorno. Quando quem narrou, escuta novamente a sua pró­
pria narração porque alguém que realmente escutou, se refere a ela de
alguma maneira, então ele se sente verdadeiramente acolhido e com­
preendido. Aceita-se então a si mesmo e gradativamente percebe uma
comunhão segura e vital com aquela pessoa e com tudo aquilo que ela
representa124.
116. RG 99.
117. RG 100.
118. Id.
119. Const. 70; RG 49.
120. Cf. Const. 105, 109, 112, 113; RG 175, 78, 79.
121. MB 8,829.
122. Const. 98.
123. Cont. 52.
124. Vam Kaam A., Existential Foundations of psichology, N. Y. 1969, pdg. 336, 337.
153

16.6 Page 156

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A comunidade torna-se um ambiente que ajuda o discernimento
vocacional da experiência mesma. A experiência narrada deve ser reco­
nhecida e verificada na sua relação com o ideal vocacional: a vida
no Espírito Santo e a graça de Cristo são um dinamismo vital, sempre
orientado por pessoas contemporâneas e qualificadas que desenvolvem
uma função sacramental de mediação12S. A comunidade de vida torna-
se comunidade de que se confronta, através destas mediações, com
aquela Aliança” da qual deriva o sentido primeiro e último dela mesma,
e a verdade da experiência vivida. A comunidade de vida favorece a
comunidade de e a mesma comunidade de consolida a comuni­
dade de vida, Contanto que ela seja sempre uma comunidade rica de
modelos.
e) Uma comunidade rica em modelos.
Os primeiros salesianos acharam, em Dom Bosco, o seu modelo:
"nós também encontramos nele o nosso modelo126. E assim que as
nossas constituições iniciam o capítulo sobre a Formação. E continuam
valorizando esse aspecto: os formadores, nas comunidades formadoras,
são chamados "capazes de comunicar vitalmente o ideal salesiano127,
Mediadores da ação do Senhor, têm a posse serena da própria identi­
dade salesiana e o entusiasmo profundo pela vocação, da qual vivem
os valores de tal maneira que podem testemunhar e comunicar vital­
mente. Cada Salesiano, enfim, com a oração e com o testemunho, con­
tribui para sustentar e renovar a vocação dos irmãos 129.
O ideal vocacional e a experiência do mesmo se percebem normal­
mente interagindo com modelos que os encarnam e que, considerados
como proposta, tornam mais fácil a própria identificação original.
De fato move-se continuamente, da sensação de estarmos bem
ao desafioque eles são para as nossas capacidades, e à escolha
livre e original dos valores que os irmãos nos propõem com sua vida1M.
4.4 ALGUMAS DAS FASES DA FORMAÇAO INICIAL
São fases que, no pano de fundo da vocação do Salesiano coadjutor
(vocação que deve sempre ser considerada na sua globalidade), põem
em relevo, cada uma, um objetivo próprio e específico a ser alcançado,
portanto as fases de formação põem em evidência aspectos diversos
quer sob o ponto de vista do conteúdo quer sob o ponto de vista da
preparação intelectual correspondente.
125. RM, Commento alla strenna 1983, pig. 33-34.
126. Const. 96,21.
127. Const. 104.
128. FSDB 169, Cf. GCG 21,245.
129. Const. 100
130. Cf. DSM 97.
154

16.7 Page 157

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As programações são progressivas e respeitam um critério duplos
o de uma igualdade de base para Salesianos coadjutores e Salesianos
padres, e o da especificidade de cada um.
44.1 O Pós-noviciado
Trata-se, tanto para os Salesianos coadjutores, quanto para os
outros, de fazer amadurecer a própria por meio de uma integração
progressiva entre a vida, e cultura; (fazer amadurecer) a voca­
ção salesiana por meio de uma adequada preparação catequético-peda-
gógica; (fazer amadurecer) a própria formação intelectual de maneira
a desenvolver Uma mentalidade pedagógicaem continuidade com a
própria cultura131.
Mas trata-se também do específico” que diz respeito aos Salesianos
coadjutores e que encontra uma atenção particular no empenho forma­
tivo desta fase.
Os objetivos visados são:
assegurar melhor o sentido e o valor da laicidade consagrada;
formar, com mais cuidados, o educador da por meio de uma
conveniente preparação pedagógica, humanística e salesiana;
formar o educador da por meio de uma iniciação teológico-
catequética que faça compreender melhor a vocação do Sale-
siano leigo na sua relação com a presença de Deus no mundo;
promover gradualmente, desde essa fase de formação, a com­
petência da sua profissionalidade e a sua educação sócio-polí­
tico, de tal modo que, dando o devido valor ao magistério social
da Igreja, cresçam bem preparados para se tornarem educado­
res-evangelizadores do “mundo do Trabalho.
Tendo admitido esses objetivos gerais comuns e específicos, e refe­
rindo-se mais especialmenite ao currículo de estudos perguntamos:
como acompanhá-los no amadurecimento progressivo da consa­
gração apostólica, educando-os também a uma sensibilidade
sócio-política e preparando-os à ação educativa no mundo do
Trabalho? 132
como superar o risco, mais real para os Salesianos coadjuto­
res, da desvalorização do aspecto reflexivo no confronto de um
empenho mais imediato na ação? Que equilíbrio criar entre ati­
vidade intelectual e trabalho manual?
Que critérios” adotar na escolha das matérias de estudo para
alcançar esses objetivos?
131. Cf. FSDB 288,332.
132. Cf. FSDB 338,408-410.
155

16.8 Page 158

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são preferíveis comunidades e planos de estudo distintos, expe­
riências de vida comum com um plano de estudos unitário,
embora com as devidas diversidades e integrações?
A. Os objetivos
A FSDB chama a atenção sobre o empenho assumido por meio da
profissão temporária que deve manifestar-se em "viver autenticamente
os valores da vocação, em aderir quotidianamente a esses valores, apro­
fundando-lhes a comprensão e descobrindo a unidade, a organicidade
e harmonia dos mesmos”13J.
a) Integração fé-vida-cultura
Nesta perpectiva (além de uma ação correspondente que forme
para atitudes motivadas), na questão dos estudos, devem ser colocados,
em justa medida, alguns conteúdos próprios das disciplinas teológicas.
Exemplificando:
Introdução à história da salvação e ao mistério de Cristo;
Introdução ao Antigo e ao Novo Testamento;
Questões de história da Igreja;
Questões de moral;
Doutrina social da Igreja;
Hagiografía;
Teologia da vida religiosa;
Liturgia;
Catequese;
b) Amadurecimento da vocação salesiana
Ao lado das disciplinas especificamentes salesianas (que, nesta
fase, põe fortemente em relevo o Sistema Preventivo e a sua prática),
deve ser evidenciada a exigência de compor, em unidade entre as diver­
sas disciplinas, na perspectiva pedagógica e em vista da preparação ao
tirocínio, as seguintes matérias:
Filosofia da Educação;
Pedagogia Geral;
Psicologia da Idade Evolutiva;
Sociologia da Juventude;
Sistema Preventivo;
Pastoral Juvenil.
156

16.9 Page 159

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c) Formação intelectual mais direta e específica
O plano de estudo prevê atenção particular para com as disciplinas
filosóficas, humanas e linguísticas, numa perspectiva antropológica
unitária. A intenção é superar qualquer fratura entre a vida real e
reflexão. O estudo deve ser motivado e estimulado pela vida real, e
a prática deve ser iluminada e guiada pela reflexão 134.
Qualquer desvalorização da reflexão e do estudo, com relação à
experiência e à vida compromete um adequado reconhecimento dos
valores da pessoa, da dimensão laical da vida e não favorece a forma­
ção de uma verdadeira espiritualidade do trabalho.
Propõe-se para quem tem um curso de estudo regular e tem capa­
cidade suficiente, um ordenamento comum dos estudos numa estrutura
comunitária comum. A experiência de vida comum entre os candidatos
ao presbiterado e Salesianos coadjutores valorizados dois modos de
viver a única vocação salesiana: é desejável”, diz a FSDB135.
Mas frequentemente, em vista da pluralidade de possibilidades sob
a única denominação de Salesiano leigo136 a preparação filosófica, peda­
gógica e catequética deverá ser proporcionada às diversas situações.
B. Linhas de Orientação quanto ao Estudo
a) O saber deve ser unificado antropologicamente. A perspectiva
unificadora do mistério de Cristo é absoluta. Apesar disso é essencial,
mesmo dentro desse quadro, por em relevo também a perspectiva uni-
ficadadora do homem, com a intenção de redescobrir e fundamentar
culturamente a primazia e a centralidade da pessoa e o próprio empe­
nho de amadurecimento humano: de levar a isso a proposta de um
ordenamento de estudos que vincule as disciplinas humanas e filosó­
ficas com as ciências do homem e contribua para amadurecer uma
habilidade pedagógica137.
b) As ciências do homem são julgadas indispensáveis para uma
referência imediata e fenomenológica à realidade138.
Uma escolha possível, que leva em conta o rico elenco indicativo
proposto pela Ratio, poderia ser:
Pedagogia Geral
Psicologia Geral e dinâmica
Psicologia da idade evolutiva
Sociologia Geral
134. CF. FSDB 230.
135. Cf. FSDB 397; CG 21 303.
136. Cf. FSDB 410 CG 21 301.
137. Cf. FSDB 340.
138. Cf. FSDB 224.
157

16.10 Page 160

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Sociologia da juventude
Introdução à economia
Elementos de economia e administração
História das religiões
Introdução à comunicação social.
Sociologia e Psicologia servem para iluminar faixas etárias parti­
cularmente interessantes para a nossa missão: a pré-adolescência, a
adolescência e a juventude, e nos impelem a estarmos atentos à expe­
riência e às exigências que nascem dessas fases da vida.
c) As disciplinas filosóficas, por sua vez, com o seu caráter de
globalidade e de radicalidadecom relação aos valores, encaminham
os Salesianos coadjutores à aquisição de uma visão pessoal do mundo,
do homem e de Deus para uma maturidade de juízo mais certa. Os
que, não tendo bases culturais adequadas, acham difícil seguir integral­
mente os cursos, poderão frequentar alguns fundamentais, como:
Introdução à Filosofia
Filosofia do homem
Filosofia social e política
Filosofia da educação
Seminário sobre o ateísmo
Metodologia do trabalho científico.
d) A sintonia com a conjuntura históricaé uma exigência que
acompanha o homem durante toda sua vida e, portanto, também, no
desenrolar de sua formação intelectual1M.
Responde a essa necessidade a educação sócio-política do salesiano
coadjutor. A doutrina social da Igreja será utilizada ampla e profun­
damente em vista, de modo particular, de um serviço educativo no
mundo do trabalhou®.
Será preciso prestar atenção para obter um sadio equilíbrio entre
o trabalho manual e a atividade intelectual no desenvolvimento e no
bom êxito da formação da personalidade.
A insistência quanto ao trabalho manual, com relação à profissiona­
lização e à atividade intelectual, encontra justificação também na exi­
gência de não tornar pesada a fadiga do estudo para os Salesianos
coadjutores que, não tendo feito um curso completo de estudos pré
universitários, acham-se desprovidos de título e não têm uma qualifi­
cação profissional específica.
Concluindo, o ordenamento dos estudos no Pós-noviciado considera
essencial, original e prioritário, o núcleo das disciplinas humanistico-
139. Cf. FSDB 229.
140. Cf. FSDB 338; CG 21,302.
158

17 Pages 161-170

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17.1 Page 161

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filosóficas vinculadas com as ciências da educação, mas organizadas
e orientadas nos modos indicados. Portanto, se poderá iniciar ou con­
tinuar um curso regular de estudos técnicos científicos ou profissionais,
em vista de uma qualificação, somente quando esteja substancialmente
garantido o desenvolvimento deste núcleo principal141.
44.2 O Pós Tirocínio
Os atos do Conselho Geral, analisando o que os Capítulos Inspeto-
riais e seus diretórios tinham elaborado a respeito da formação do
Salesiano coadjutor, chegavam a estas conclusões: o Pós-Tirocínio é
ainda uma fase a ser experimentada totalmente ou quase; a duração,
a comunidade formadora e o conteúdo variam muito de um lugar
para outro, não mas de pessoa para pessoa. Em todo caso se ten­
ciona garantir, em primeiro lugar, o desenvolvimento da capacidade
pastoral do jovem irmão142.
A. Princípios e critérios
Levando em conta a situação tão pluriforme e movimentada, para
ajudar as experiências em curso e dar-lhes certa segurança, observa-se
que os princípios e os critérios que orientam o andamento dessa fase
formativa e as características dos estudos (dessa fase formativa) são
principalmente dois: a forma vocacional peculiar do Salesiano leigo e a
Flexibilidade ampla do currículo, de acordo com as reais possibilidades
dos candidatos, com diversidade de situações do início e de acordo com
o itinerário espiritual percorrido até então.
Embora levando em conta o art. 106 das Constituições, de fato
uma pluralidade de possibilidades debaixo da única denominação de
Salesiano leigo. Essa diversidade exige uma consideração particular,
deve-se-á, portanto, pensar, em nível inspetorial e interinspetorial, em
um currículo formativo sério, mas flexível e adaptável, tanto à natu­
reza própria das diversas tarefas, quanto às possibilidades concretas
dos candidatos" 143.
B. Os objetivos
Os objetivos chamam a atenção dos responsáveis:
a) a tornar realidade, no âmbito da formação também intelectual,
a presença de uma Teologia que permeie de por si a vida e a cultura
do Salesiano coadjutor, mesmo dando espaços à área da formação
técnico-profissional;
141. Cf. FSDB 403.
142 ACG n.° 323, Dom Paolo Natali, La formazione del Salesiano Coadiutore.
143. FSDB 410, CG 21,301.
159

17.2 Page 162

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b) a enriquecer de motivos e valores a complementaridade das
duas formas vocacionais, tanto na vida fraterna quanto na ação apostó­
lica; a tomar mais certa e mais verdadeira a sensibilidade do Salesiano
leigo para com “os mundos do Trabalho”, da técnica, da arte, da
economia, da comunicação social e das relações humanas; a ajudá-lo
a viver a atitude da liturgia da vidaa fim de valorizar as experiências
pedagógico-pastorais com a riqueza da sua laicidade;
c) a orientá-la a fim de que aproveite melhor os ministérios
não ordenados instituídos pela Igreja para os leigos a serviço da comu­
nidade, os quais revelam a sua utilidade no âmbito das celebrações
litúrgicas, na organização das atividades de evangelização e catequese
e na área muito mais vasta do exercício caridade 145.
C. Aspectos do currículo formativo
A formação específica dos Salesianos leigos, da qual tratam o art.
116 das Constituições e o 98 dos Regulamentos, deverá ser programada
concretamente pelo Inspetor e seu conselho. Conforme os casos, poder-
-se-á aproveitar estruturas inter-inspetoriais ou mundiais146 ou criar
outras.
Dever-se-ão exprimir com clareza as modalidades, segundo as quais
as inspetorias interessadas se fazem presentes. Essas modalidades serão
um índice da compreensão e participação das inspetorias interessadas,
nas responsabilidades formativas.
Os aspectos do currículo formativo são fundamentalmente dois:
o aspecto comunitário e o da formação pastoral e técnico-profissional.
A estrutura da comunidade se inspira na estrutura que a FSDB chama
“formadora147. Mas poderão aceitar-se as modificações de pessoal e
iniciativas que lhe permitam dar certa prioridade à formação teológico-
catequética “na linha da laicidade consagrada”148.
A seguir, a especialização e os ambientes qualificados deverão fazer
pensar, com antecedência, na “preparação de Salesianos leigos
capazes de desenvolver convenientemente a tarefa de “formadores”,
"Na verdade o Salesiano leigo deve estar, o mais possível nas
estruturas formativas como testemunha e formador peculiar, e, onde
necessário, também como docente em um serviço cultural técnico 14.
Os conteúdos da formação intelectual e profissional se mostrarão
abertos às exigências do papel pastoral e profissional de cada um,
levando em conta as possibilidades de escolha oferecidas pela instalação
do tirocínio entre pessoas, cursos e situações locais.
144. Cf. FSDB 454.
145. Cf. FSDB 455, Código de Dir. Con< 230, par. 1.
146. FSDB 475.
147. FSDB 160-163.
148. Const. 116.
149. FSDB 338.
160

17.3 Page 163

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Esse conteúdo poderá ser distribuído, ordinariamente, em quatro
semestres, na duração complexiva de um biênio, calculado em número
de horas ou créditos suficientes, mas um tanto prolongáveis no tempo,
de acordo com as condições pessoais, que podem permitir ou não,
cursos de nível universitário ou de segundo grau. No caso de ser possí­
vel a frequência a cursos universitários, a dosagem das disciplinas,
escolhidas de acordo com o inspetor ou do curatorium(se a estrutura
é interinspetorial) seja tal que possam alcançar os objetivos indicados.
Respeitando os critérios que acabamos de enunciar, consultando
previamente as comunidades nas quais até agora viveram os candidatos
e ligando os programas desenvolvidos no Pós-noviciado com os progra­
mas propostos para o tirocínio, a fim de evitar repetições ou super­
posições, seguindo as cinco áreas propostas pela FSDB 15°, parece-nos
poder propor o seguinte conteúdo:
1. Formação Salesiana
Conhecimento aprofundado da vida de Dom Bosco e dos primei­
ros Salesianos;
Estudo crítico de alguns de seus aspectos; (Dom Bosco, etc.);
História do Salesiano coadjutor;
Espiritualidade salesiana na laicidade consagrada;
Vida comunitária e relações humanas;
Elementos de pedagogia e didática;
Elementos de catequese, pastoral juvenil e vocacional.
2. Formação teológica e catequética
Atualização e aprofundamento da teologia de vida religiosa;
Aprofundamentos bíblicos por secções de temas específicos;
Introdução à liturgia e à leitura da palavra de Deus;
Curso de catequese.
3. Formação sócio política
Doutrina social da Igreja;
Economia, sociologia e política do trabalho;
Conhecimento de outros aspectos do “mundo do trabalho:
antropologia e teologia do trabalho;
História das doutrinas políticas.
4. Aperfeiçoamento da formação profissional
Informática
Outras matérias de acordo com as competências pessoais.
5. Novas exigências
Comunicação social;
Música;
Técnicas de animação.
150. FSDB 338.
161

17.4 Page 164

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5. CONCLUSÃO
Caminhamos juntos rumo a descoberta da figura do Salesiano
coadjutor, repetindo, em grande parte, a caminhada que Dom Bosco
fez ho seu tempo, mas prolongando-a até nossos dias.
Os historiadores pensam que as primeiras intuições de Dom Bosco,
sob a pressão das circunstâncias e na luz de Deus, se tenham concreti­
zado gradativamente. Não se tratou somente de entreter e fixar, nos
seus elementos característicos, a figura do Salesiano coadjutor; não se
tratou também de atualizá-la (e nada mais) a fim de que respondesse,
realizando com competência as tarefas adaptadas às necessidades reais
e quase sempre urgentes que a condição juvenil e configuração original
das comunidades salesianas e da Congregação exigiam, tratou-se sobre­
tudo de compreender e acolher, na autenticidade, o dom de uma vocação
que gradativamente se manifestava e conquistava simpatias e adesões
por causa de sua novidade e utilidade.
A caminhada dessa idéia não foi fácil e linear. Vimos isso.
É certo, porém, que em todo esse movimento de interesses, de pers­
pectivas, de significados, a figura do Salesiano coadjutor foi sempre, na
história, nos tempos de crescimento como nos tempos de crise, uma
figura amada. Por Dom Bosco, em primeiro lugar e mais do que
qualquer outro.
Este mesmo amor, cremos, nos conduziu à composição desse
volumezinho. Nele quisemos reencontrar historicamente a figura do
Salesiano leigo para colocála, com toda a sua riqueza, na vida da
congregação e da Igreja, alimentando a esperança de que outros, tam­
bém pelo testemunho e o cuidado vocacional que se exige, se sintam
chamados a vivê-la, a fazê-la crescer, a perseverar.
Também nos tempos mais tristes o problema não é falar demais,
mas existir por muito tempo, durar, tendo a convicção daquilo que se
crê e vivendo isso com coerência, sem desânimos e sem lentidão, com
uma que vence o mundo.
O poeta Giulio Superville, fitando o burro que leva rápido a Vir­
gem Maria, comenta: Maria pesava pouco, pois estava ocupada com
o futuro que trazia em si.
Estamos saindo de um passado que teve seus crescimentos e suas
crises. Libertemo-nos delas e reconquistemos os crescimentos e, recon­
quistando os crescimentos, reconquistemos sobretudo a confiança.
Maria, que as nossas Constituições invocam como “aquela que
infunde coragem”, ajude o nosso presente e os empenhos que o pre­
sente nos pede, e nutra de esperanças o nosso futuro.
Sobretudo faça com que, com a sua intercessão, se tome realidade
o desejo de Dom Bosco: Eu tenho grande necessidade de ter muitos
que me venham ajudar nesta maneira.
162

17.5 Page 165

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ÍNDICE
Apresentação....................................................................................... 3
INTRODUÇÃO ................................................................................... 7
1. Acenos históricos sobre o Salesiano Coadjutor .................. 9
1.1 Breve nota histórica................................................................. 9
11.1 No monaquismo.............................................................. 9
11.2 Nas Ordens Mendicantes ................................................. 10
11.3 Nas Ordens e Congregações religiosas modernas .... 10
1.2 O religioso leigo na Congregação Salesiana............................... 11
12.1 As origens. O tempo de D. Bosco................................... 11
A As raízes de uma exigência................................. 12
a) O nascimento das oficinas............................
13
b) A experiência operária de D. Bosco.................... 14
c) Oficinas e colaboradores........................................ 16
B Coadjutor: do colaborador leigo ao religioso leigo 16
C Os primeiros salesianos coadjutores.................. 19
a) Algumas datas ....................................................... 19
b) Proveniência e ocupações .................................... 21
D O pensamento de D. Bosco no último decênio
de vida......................................................... 23
a) O pensamento de D. Bosco................................... 23
b) Acontecimentos salesianos (1880-1886) .............. 33
c) O documento de 1886 ............................................ 36
12.2 O desenvolvimento da idéia nas pegadas das origens 36
A Reitorado do P. Miguel Rua ............................. 36
a> Das oficinas às escolas profissionais.................... 36
b) Alguns dados estatísticos ...................................... 37
c) Os documentos........................................................ 37
B Expansão: do reitorado do P. Albera ao do P.
Ziggiotti e ao Cone. Vaticano II............................. 40
163

17.6 Page 166

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a) Após a primeira guerra mundial.......................... 40
b) Reitorado do P. F. Rinaldi....... ............................ 41
c) Reitorado do P. P. Ricaldone................................ 44
d) Reitorado do P. R. Ziggiotti.................................. 47
12.3 No empenho da renovação do pós-concilio.................. 48
2. A identidade vocacional do Salesiano Coadjutor:
áprojundamentos teológicos .................................................... 51
2.0 Premissa ................................................................................... 51
2.1 Identidade: os muitos sentidos............................................... 52
21.1 Identidade salesiana quantitativa e qualificativa ... 52
21.2 Identidade salesiana pessoal e comunitária ........... 52
21.3 Identidade relacional ................................................... 53
21.4 Identidade real e ideal................................................. 54
21.5 Identidade instituída ................................................... 54
21.6 Identidade expressa: necessidades e limites............... 55
21.7 O caminho histórico da identidade salesiana........... 56
21.8 O sentido da identidade coletiva” ........................... 56
2.2 Alguns aspectos gerais da identidade do Salesiano Coadjutor:
Critérios............................................................................ 57
22.1 A consistência numérica e a colocação geográfica .... 57
22.2 Os apelativos de Coadjutore de Salesiano leigo58
22.3 Influxo das estruturas.................................................. 60
22.4 Os valores econômicos e estéticos .............. ........... 63
22.5 Incidência da cultura sobre a identidade salesiana ... 64
A Cultura e culturas ............................................... 64
B A Igreja, a Congregação eas culturas ............. 65
C Os lugares de produção e arede dedifusão........ 65
D Um sistema cultural............................................. 66
E Incidência da cultura sobre a identidade do
salesiano coadjutor ............................................. 69
2.3 Delineamentos fundamentais da identidade do salesiano
coadjutor .......................................................................... 69
23.1 Na Família salesiana, a comunidade dos SDB uma
comunidade original...................................................... 69
A Uma comunidade fraterna ................................ 70
B Uma comunidade apostólica aberta à seculari-
dade ............................................................ 72
23.2 A vocação do Salesiano coadjutor é caracterizada pela
laicidade ............................................................... 74
164

17.7 Page 167

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A Laicidade com referência à criação .................. 75
B Laicidade com referência à missão da Igreja .. 76
C Laicidade com referência à vida religiosa............ 79
23.3 Características da vocação do Salesiano coadjutor ... 80
A Uma vocação que se insere na vocação cristã ... 80
B Uma vocação que pratica com radicalidade um
estilo evangélico de vida e de ação ........ 81
C Uma vocação religiosa laical .............................. 82
D Uma vocação a serviço da missão salesiana.... 84
E Uma vocação salesiana concretae completa ... 85
F Uma vocação original ......................................... 86
G Uma vocação significativa ................................... 86
2.4 Reciprocidade essencial entre salesianos leigos e salesianos
padres................................................................................ 87
24.1 Reciprocidade vocacional ............................................. 87
24.2 Fraterna complementaridade................................ 88
A Complementaridade em nível de consciência
pessoal ........................................................ 88
B Complementaridade em nível apostólico........... 89
24.3 Influxo da reciprocidade e complementaridade sobre
a identidade ......................................................... 90
A A reciprocidade e a complementaridade caracte­
rizam a Congregação e suas comunidades....91
24.4 Participação na vida e no governo da Congregação ... 92
A A responsabilidade do salesiano coadjutor nas
estruturas de animação e de governo...... 92
B O serviço do superior salesiano como presbítero 93
2.5 A ação apostólica do Salesiano coadjutor............................. 93
25.1 Os fundamentos do apostolado do Salesiano coadjutor 94
25.2 Toda vida do Salesiano coadjutor é apostólica......... 95
25.3 O "mundo do trabalho, campo de ação privilegiado
para o Salesiano leigo ........................................ 96
25.4 Uma específica contribuição para a abertura secular
da Congregação ................................................... 97
2.6 Alguns traços da vida espiritual do Salesiano coadjutor .... 98
26.1 Vida espiritual é viver o espírito salesiano................ 98
26.2 O Salesiano coadjutor vive, como salesiano leigo, as
atitudes e os comportamentos próprios do espírito
salesiano................................................................ 99
165

17.8 Page 168

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A Vive com alegria e reconhecimento sua vocação
salesiana ..................................................... 99
B Vive em comunhão de espírito e de ação com os
Salesianos padres....................................... 99
C Vive no “mundo do trabalhoalguns valores do
espírito salesiano ....................................... 100
D Vive junto aos jovens e fiéis leigos com otimismo,
operosidade e temperança........................ 100
E Vivendo e trabalhando segundo o espírito sale­
siano celebra a liturgia da vida............... 101
F Vive de maneira característica sua devoção a
Maria ........................................................... 101
26.3 O espírito do Fundador, lugar de unidade................ 102
26.4 As testemunhas heróicas de santidade salesiana laical 102
3. A vocação do Salesiano coadjutor pqstoiaL. vocacional
sglçsiana .............................................................................. 103
3.1 Pastoral vocacional ................................................................. 103
31.1 Posicionamento pastoral do trabalho vocacional .... 103
31.2 As referências fundamentais de uma pastoral voca­
cional ................................................................... 105
31.3 As tarefas da pastoral vocacional ............................... 107
31.4 A caminhada vocacional ............................................... 108
3.2 A pastoral vocacional do Salesiano coadjutor........................ 109
32.1 Contar a história de D. Bosco...................................... 109
32.2 Apresentar a experiência atual...................................... 112
32.3 Por em contato com modelos........................................ 113
32.4 Aprofundar o caráter laical......................................... 114
3.3 Acolhida e acompanhamento da vocação do Salesiano
coadjutor .......................................................................... 116
33.1 Objetivos do acompanhamento .................................... 117
33.2 A assistência individual................................................ 117
33.3 O grupo juvenil ........................................................... 118
33.4 Comunidade de acolhida eacompanhamento.............. 119
A O aspirantado........................................................ 120
B Comunidades vocacionais .................................. 122
C Inserção numa comunidade salesiana ............. 123
3.4 Conclusão: animar erezar...................................................... 124
4. Linhas de formação................................................................... 126
4. 0 Introdução............................................................................ 126
40.1 Um empenho extraordinário na formação.................. 126
40.2 As razões profundas...................................................... 127
166

17.9 Page 169

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4.1 Os conteúdos globais do processo formativo........................ 128
41.1 O conteúdo específico ................................................... 128
41.2 O ordenamento do conteúdo.......................................... 129
41.3 Um processo unitário e complexo................................. 129
4.2 Identificar os valores............................................................... 130
42.1 Em uma Aliança especial” .......................................... 130
42.2 A missão apostólica...................................................... 133
A Os valores e as atitudes do significado pastoral” 133
B Capacidade para a ação...................................... 134
C Funções, ministérios e campos de ação............. 135
D Educador para a no "mundo do trabalho... 137
42.3 A comunhão na comunidade.......................................... 139
42.4 Um estilo de vida vivido com radicalidade evangélica 140
42.5 A “laicidadedo Salesiano coadjutor: um modo de ser
e de operar.......................................................... 142
42.6 Um crescimento constante em humanidade............. 144
A Uma boa saúde psíquica: integração................. 144
B As virtudes sociais.......................
145
C A maturidade intelectual: inteligência, capaci­
dade de reflexão e de discernimento......... 146
4.3 Um método: motivar as atitudes e fazer experiências com elas 147
43.1 Um aspecto prévio e decisivo: as motivações primárias 147
43.2 Fazer experiências...................................................... 149
A Um princípio metodológico ............................... 149
B A finalidade .......................................................... 150
C Algumas condições............................................... 150
4.4 Algumas das fases da formação inicial................................. 154
44.1 Opós-noviciado .............................................................. 155
A Os objetivos ........................................................... 156
B Linhas de orientação quanto ao estudo............. 157
44.2 O pós-tirocínio ............................................................. 159
A Princípios e critérios .......................................... 159
B Os objetivos........................................................... 159
C Aspectos do currículo formativo ........................ 160
5. Conclusão ................................................................................... 162
167

17.10 Page 170

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salesianas
Composto e Impresso pelos Alunos das
ESCOLAS PROFISSIONAIS SALESIANAS
Rua Dom Bosco, 441 - Fone: 279-1211
Mooca - São Paulo SP

18 Pages 171-180

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18.1 Page 171

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