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começaram a aumentar. Nos últimos cinquenta anos, o aumento sofreu uma forte aceleração,
como atesta o observatório de Mauna Loa que efetua, desde 1958, medições diárias do dióxido
de carbono. Estava eu a escrever a Laudato si’, quando se atingiu o máximo histórico – 400
partes por milhão – chegando, em junho de 2023, a 423 partes por milhão [7]. Considerando o
total líquido das emissões desde 1850, mais de 42% ocorreu depois de 1990. [8]
12. Ao mesmo tempo notamos que, nos últimos cinquenta anos, a temperatura aumentou a uma
velocidade inédita, sem precedentes nos últimos dois mil anos. No referido período, a tendência
foi um aquecimento de 0,15 graus centígrados por decénio, o dobro do registado nos últimos 150
anos. De 1850 até hoje, a temperatura global aumentou 1,1 graus centígrados, fenómeno que se
amplifica nas áreas polares. A este ritmo, é possível que, dentro de dez anos, tenhamos
alcançado o limite máximo global de 1,5 graus centígrados. [9] O aumento não se verificou
apenas na superfície terrestre, mas também a vários quilómetros de altura na atmosfera, na
superfície dos oceanos e mesmo a centenas de metros de profundidade. Isto aumentou também
a acidificação dos mares e reduziu os seus níveis de oxigénio. Os glaciares retraem-se, a
cobertura de neve diminui e o nível do mar aumenta constantemente [10].
13. É impossível esconder a coincidência destes fenómenos climáticos globais com o crescimento
acelerado das emissões de gases com efeito estufa, sobretudo a partir de meados do século XX.
A esmagadora maioria dos estudiosos do clima defende esta correlação, sendo mínima a
percentagem daqueles que tentam negar esta evidência. Infelizmente, a crise climática não é
propriamente uma questão que interesse às grandes potências económicas, preocupadas em
obter o maior lucro ao menor custo e no mais curto espaço de tempo possíveis.
14. Vejo-me obrigado a fazer estas especificações, que podem parecer óbvias, por causa de
certas opiniões ridicularizadoras e pouco racionais que encontro mesmo dentro da Igreja Católica.
Mas não podemos continuar a duvidar que a razão da insólita velocidade de mudanças tão
perigosas esteja neste facto inegável: os enormes progressos conexos com a desenfreada
intervenção humana sobre a natureza nos últimos dois séculos. Os elementos naturais típicos
que provocam o aquecimento, como as erupções vulcânicas e outros, não são suficientes para
explicar a percentagem e a velocidade das alterações registadas nos últimos decénios. [11] A
evolução das temperaturas médias da superfície não pode ser sustentada sem a influência do
aumento de gases com efeito estufa.
Danos e riscos
15. Já são irreversíveis, pelo menos durante centenas de anos, algumas manifestações desta
crise climática, como o aumento da temperatura global dos oceanos, a acidificação e a redução
do oxigénio. As águas dos oceanos possuem uma inércia térmica, sendo necessário séculos para
normalizar a temperatura e a salinidade, com consequências para a sobrevivência de muitas
espécies. Este é um sinal, entre muitos, do facto que as outras criaturas deste mundo deixaram