irmão tirocinante (Nelito Manuel) e eu,
uma voluntária portuguesa e única mulher
do grupo.
Partindo da Escola Profissional de Moam-
ba, rumámos às localidades de Chinhan-
guanine e Bandóia, tendo aí permanecido
durante a semana de 13 a 19 de Julho. Esta
“expedição” foi a primeira das nove, que
se encontram programadas para dar conti-
nuidade ao trabalho evangelizador que
agora se iniciou.
Chinhanguanine dista cerca de duas horas
de Moamba, num percurso que se faz to-
talmente em terra batida, arenosa e bastan-
te sinuosa. É o mato verdadeiro: canas
altas, capim, cactos gigantes e variadas
espécies arbóreas, como acácias... Há tam-
bém algumas machambas bonitas de toma-
te e repolho, irrigadas por tubagem que
transporta água do rio Incómati. Poderoso,
o rio, pois que essencial à vida e que, tam-
bém por isso, rouba à vida alguns incautos
que a ele recorrem... Mãe África! Obvia-
mente não tem água, nem luz, nem rede de
telemóvel. Tem o rio, lenha e cozinha-se
na rua. Há muitas crianças, alguns velhi-
nhos, mulheres a cozinhar... Ali se faz o
pão, o “pão nosso de cada dia”, num forno
artesanal... Outro mundo, outra realidade,
outra vida, outras esperanças e anseios...
Como (sobre)vive o ser humano!
Ali, onde tudo é relativizado e relativo, só
o Amor permanece, tal como o tempo que
passa, devagar, como que arrastado pela
correnteza do rio que vai serpenteando a
exótica paisagem... Também as pessoas
parecem permanecer... Com o seu rápido
linguajar changane, o seu olhar parado e
ausente, a sua, tantas vezes faminta,
pobreza! Almas vazias de Deus... mas,
esperando a Sua Palavra para confortar-
lhes o coração. Os sorrisos das crianças
são felizes, mas os das pessoas... esses, são
talvez sorrisos conformados por um hori-
zonte que nunca lhes foi dado conhecer...
Mas sabem que não querem ter fome.
Sabem que há água no rio, que há sol e
uma machamba. Tudo o resto... que lhes
importa...?! A vida é aquilo e aquilo mes-
mo! Sempre foi assim... com ritmo e regras
próprias... ser forte e ir “sobrevivendo”. Ser
idoso ali... isso sim é uma prova de resistência.
Ser idoso, doente e sozinho...
E foi aí, nesse mundo de “ausências”, que a
mão estendida dos jovens missionários ofere-
ceu a Esperança, a Palavra e Acção de Deus,
redimindo-os da sua trágica condição humana,
do seu isolamento, pois Deus é o caminho para
os livrar do esquecimento, do alheamento a que
a sociedade, injusta e desigual, os votou.
A missão de evangelizar, de ensinar os prínci-
pios do cristianismo católico, de levar a alegria
e a diversão aos mais jovens, de mostrar a luz
aos mais velhos pela eucaristia que ali se cele-
brou diariamente, pelas visitas que se fizeram
às casas de famíla, revelou-se frutífera, trazen-
do novas expectativas aos “instrumentos de
Deus” e pondo sorrisos felizes nos rostos de
quem escutava... foi aí, nesses sorrisos, nas
orações proferidas, nos cânticos entoados que
se mostrou a face de Deus a quem apenas Lhe
ouvira o nome, mas não O conhecia!
Organizados em dois grupos de trabalho (um
para Chinhanguanine, outro para Bandóia) e
com a fluência changane de alguns jovens,
puderam começar-se as actividades de cateque-
se com os mais novos, estabelecer-se dinâmi-
cas, praticar desportos, bater de porta em porta,
incansáveis, para que a nossa voz fosse coloca-
da ao serviço da Causa Maior: Deus – O
VERDADEIRO AMOR!
E, apesar de todas as contingências inerentes à
vida numa tenda militar, cozinhando na rua,
resistindo ao frio nocturno e iluminados por
nauseantes candeeiros de petróleo, aprendemos
a viver como os demais... pudemos saber-lhes a
dor e o sofrimento, experienciando tempora-
riamente as tormentas que para eles são perma-
nentes... Vida dura, árdua! E, todavia, estava-
mos felizes, pois que em todas as horas Ele, o
Senhor Deus Pai, nos acompanhou e restaurou
as nossas forças... ensinando-nos a cada
momento a ser gratos e humildes, remuneran-
do-nos com os dons da partilha, da entrega ao
próximo e mostrando-nos que “tudo vale a
pena, se a alma não é pequena!”.
Kanimambo, Senhor nosso Deus e Salvador... a
Tua voz jamais será silênciada!
Sandra Rodrigues
SDB-Moçambique 111 – Junho 2009
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