CG25|pt|Apresentaçao

APRESENTAÇÃO




Caros Irmãos,

estamos iniciando um novo sexênio, que coincide com os primeiros anos do terceiro milênio. Fazemo-lo convencidos de que o CG25 foi uma graça de Deus e motivados por seu convite de fazer-nos ao mar alto da realidade deste mundo. O convite a “fazer-nos ao largo” não é um simples ‘slogan’, vazio de conteúdo; é um programa de ação. Assim o entendeu o mesmo P. Vecchi, deixando-no-lo como testamento espiritual em sua última Estréia. Não é tempo de saudades ou recordações. É, ao contrário, tempo de esperança e de futuro, tempo que convoca a afrontar com audácia os desafios da educação e da evangelização dos jovens.

Não se ignoram os perigos que encerra o mar aberto, mas anima-nos nesta aventura a Palavra do Senhor que nos chama a “lançar as redes” onde quiçá a pesca é mais abundante. Tendo, a seguir, a Palavra por viático de caminho, dispomo-nos a olhar para a frente e a fazer-nos ao largo, com renovado entusiasmo espiritual e apostólico.



1. Os Atos do CG25


Apresento-vos os “Atos” do Capítulo Geral 25º, que nos oferecem um material precioso para a renovação da nossa vida e da nossa ação educativo-pastoral. Compreendem, na primeira parte: a introdução, os cinco módulos operativos e a conclusão daquilo que foi o tema principal do Capítulo; e, na segunda parte: a avaliação das estruturas de animação e do governo central. Vêm depois as deliberações e as orientações que se referem às Constituições e Regulamentos, e ao Governo da Congregação, com a interpretação prática dos textos da nossa Regra de vida.

Achareis, além disso, as Mensagens enviadas pelos capitulares aos Irmãos sobre a vocação do salesiano coadjutor, à Família Salesiana, aos Jovens, juntamente com um apelo para salvar os adolescentes e jovens do mundo.

À maneira de Anexos, acrescentam-se os discursos e mensagens de saudação, alguns dos quais especialmente ricos de significado, como os do Santo Padre no início do Capítulo e durante a audiência, o de sua Eminência o Cardeal Prefeito da Congregação para os Institutos de vida consagrada, o discurso inicial do Vigário do Reitor-Mor, a primeira “Boa-noite” do Reitor-Mor e o discurso final.

Trata-se de um conjunto de documentos que recolhem o fruto da reflexão dos Capítulos inspetoriais e do CG25.



2. O texto capitular


A Assembléia capitular assumiu com decisão a tarefa traçada pelo Reitor-Mor na carta de convocação do CG25, na qual convidava não tanto a repetir a já conhecida doutrina sobre a comunidade, mas antes a encontrar «caminhos eficazes para novamente motivar as comunidades e manifestar, com simplicidade e clareza, a identidade religiosa nas novas situações; a determinar as condições ou critérios essenciais que permitam, ou melhor, estimulem a viver de modo feliz e humanamente significativo, a nossa professada fraternidade no seguimento de Cristo”.1

Seguindo as indicações da Presidência e do Regulador, o trabalho das comissões e da assembléia foi-se orientando, com sempre maior clareza, para a elaboração não tanto de um documento orgânico, articulado, mas de fichas de trabalho independentes, à maneira de módulos operativos. Deste modo, o mesmo gênero literário do texto capitular é uma chave de leitura para entender a maneira como deve ser incorporado: como um texto claramente operativo. Isto não significa que o texto tenha sido destituído de todo fundamento teológico. Este aparece de fato fortemente concentrado no início de cada uma das fichas, enquanto estas, em sua maior parte, se concentram nos desafios e nas orientações operativas.

Parece-me oportuno sublinhar aqui alguns aspectos que podem ajudar a leitura, a assimilação e a aplicação do texto capitular.


2.1 Diferentemente dos CG23 e CG24, que haviam tratado da comunidade local como centro de animação e como lugar estratégico de educação na fé dos jovens e de envolvimento e formação dos leigos, o CG25 quis pôr, no centro das reflexões, a mesma comunidade com todas as suas características e dinâmicas. De fato, o modelo de comunidade que emerge do CG25 é o que faz referência à nossa consagração apostólica, tal como se expressa no artigo 3 das Constituições. Trata-se de uma comunidade chamada a realizar, mediante a graça de unidade, a síntese vital entre vida fraterna, o seguimento radical de Cristo, a doação à missão juvenil.

A comunidade é portanto – de pleno direito – o sujeito deste Capítulo. Não só por ser ela o seu tema mas também por ser-lhe o agente e protagonista primeiro. Convida-se, por isso, cada comunidade a acolher este texto do Capítulo como um tesouro precioso de se fazer frutificar.


2.2 O esquema de cada módulo operativo é idêntico: abre-se com um texto dos Atos dos Apóstolos, que deseja ser uma verdadeira fonte de inspiração para que cada comunidade reproduza a experiência da comunidade de Jerusalém no acolhimento do Espírito Santo como guia da própria existência. Dever-se-ia evitar conseqüentemente considerar estas citações da Escritura como uma simples cereja que enfeita o bolo. Dever-se-ia, ao contrário, começar a fazer exatamente daqui a «lectio divina», de modo que se aprenda a partir sempre da Palavra. Isto implica o esforço de fazer realmente nossas, as atitudes de Nossa Senhora perante a Palavra: ouvi-la, obedecer-lhe, fazer-nos seus discípulos, tornar-nos fiéis, ou crentes.

É a mesma Palavra que, com tal dinâmica, convida a comunidade a ler a história social e eclesial, e a acolher nela o chamado de Deus e da nossa Regra de vida, as expectativas dos jovens, as necessidades dos leigos e da Família Salesiana.

A comunidade, portanto, é levada a fazer uma avaliação da própria situação, descobrindo as suas forças e as suas fraquezas, as suas disponibilidades e as suas resistências, as suas possibilidades e os seus limites. Trata-se aqui, de fato, de uma avaliação de vida comunitária.

Desta maneira, a comunidade aprende a descobrir os desafios fundamentais e a enfrentá-los com coragem e esperança. Aprende também a fazer-se as necessárias perguntas e a buscar as respostas adequadas. É este o objetivo das orientações operativas.


2.3 Por quanto se refere aos conteúdos fundamentais, estes se referem à vida fraterna, ao testemunho evangélico e à presença animadora entre os jovens.

A vida fraterna da comunidade propõe-se favorecer os processos de crescimento humano e vocacional dos irmãos, promover relações interpessoais profundas, reforçar o sentido de pertença e o espírito de família, e ajudar na construção de uma visão comunitária mais partilhada. Para isso, podem ser úteis o projeto pessoal de vida, a prática do discernimento comunitário, a valorização dos momentos de encontro, o projeto da comunidade salesiana.

O testemunho evangélico pede-nos que se manifeste visivelmente o primado de Deus na vida da comunidade, que se viva na “graça de unidade” nas manifestações comunitárias, que se torne radical, profética e atraente a seqüela de Cristo, que se partilhem as motivações vocacionais e a experiência de Deus. A centralidade da Palavra de Deus, favorecida pela prática da “lectio divina”, a qualidade da oração comunitária, a Eucaristia cotidiana, ajudarão a aprofundar a experiência espiritual e a manifestação da centralidade de Deus em nossa vida. Do mesmo modo, a seqüela de Cristo, vivida por meio da disponibilidade total a uma obediência alegre, mediante a concretitude de uma pobreza austera e o esplendor de uma castidade vigilante e serena, tornará mais transparente o testemunho da comunidade.

Onde existe uma comunidade salesiana está presente uma experiência de fé, constrói-se uma rede de relacionamentos, oferecem-se multíplices formas de serviço aos jovens. A comunidade salesiana torna visível a presença salesiana entre os jovens, anima-a e promove-lhe o crescimento. É preciso antes de tudo retornar aos jovens e ser não somente uma comunidade para os jovens mas também uma comunidade com os jovens. Por isso, a comunidade salesiana constrói uma presença de comunhão e de participação, envolve os leigos e a Família Salesiana, insere-se no território e na Igreja local. Transforma-se assim numa presença que “educa e evangeliza”, criando ambientes de intensa carga espiritual, tomando consciência das situações de pobreza dos jovens e reagindo perante elas com mente e coração pastorais, pondo em ação projetos e processos de amadurecimento dos jovens. Enfim, a comunidade promove uma verdadeira cultura vocacional, pelo que cada jovem é ajudado a descobrir um projeto de vida, propõe explicitamente a vocação salesiana aos que são mais idôneos, convidando-os a fazer uma experiência vocacional e acompanhando os que aceitam o convite.

Para ser uma comunidade que vive a fraternidade, que dá um forte e claro testemunho evangélico, que se torna presença animadora entre os jovens, ela mesma tem necessidade de ser vivificada, motivada, orientada e acompanhada. A animação da comunidade passa principalmente pela formação permanente. A comunidade pode oferecer momentos específicos de renovação espiritual e oportunidades para a atualização educativa e pastoral dos irmãos; mas não há duvidas de que a primeira e mais importante fonte de formação é a qualidade da vida cotidiana. O diretor tem um papel fundamental na animação da comunidade, envolvendo e co-responsabilizando todos os irmãos. A sua atenção deve primeiramente dirigir-se à identidade carismática, à missão comunitária e à fraternidade.

Por último, o CG25 propõe algumas condições que possibilitam, a uma comunidade salesiana, ser significativa hoje. Trata-se de ajudar cada comunidade a trabalhar segundo um projeto comunitário, a garantir a consistência qualitativa e quantitativa da comunidade, a aprofundar o relacionamento entre comunidade e obra, a atuar o projeto orgânico inspetorial. Algumas dessas condições se referem ao nível local, mas, em sua maioria, exigem a responsabilidade e as opções da comunidade inspetorial.

O primeiro destinatário do texto capitular é, evidentemente, a mesma comunidade, à qual se oferecem esses cinco itinerários, para que os estude, aprofunde e torne operativos.



3. O acontecimento do CG25


Evidentemente, o CG25 não se reduz a um documento. É antes de tudo uma experiência intensa de Congregação e um espírito, de que são portadores os Capitulares que participaram do grande evento. Eles são os melhores porta-vozes de quanto viram e ouviram!

Dentre os elementos que caracterizaram o Capítulo evidencia-se, em primeiro lugar, a atmosfera de fraternidade que se criou desde o início e que foi muito apreciada por todos. Foi admirável constatar «a unidade da Congregação na diversidade», como diz o artigo 146 dos Regulamentos, fruto da vontade expressa dos capitulares que se propuseram fazer da assembléia capitular uma experiência de comunidade.

Um segundo elemento foi a crescente tomada de consciência da mundialidade da Congregação, que se manifesta na sua diversidade cultural. As boas-noites dos Inspetores, as celebrações animadas pelas diversas Regiões, as intervenções em plenário, são uma prova de que o carisma de Dom Bosco, nosso Fundador e Pai, se foi inculturando nos contextos mais diferentes e que os mesmos Capítulos Gerais ajudaram a realizar uma síntese fecunda entre unidade e diversidade.

O terceiro elemento extraordinário foi a Beatificação – na Praça de São Pedro – de três membros da Família Salesiana: do salesiano coadjutor Artêmides Zatti, a Irmã Maria Romero e o P. Luís Variara. O fato ressaltou mais uma vez que a vocação salesiana é realmente «uma via que conduz ao Amor» (C 196), à santidade, e que esta deve ser a nossa maneira natural de viver, o melhor presente que possamos oferecer aos jovens (cf. C 25), a nossa mais significativa proposta educativa.

De modo especial, a Beatificação do primeiro Salesiano Coadjutor não-mártir despertou no Capítulo o desejo de relançar tal vocação, vocação tão fundamental para Dom Bosco.

O quarto elemento significativo foi a presença do Santo Padre, por meio da sua Mensagem inicial e a Audiência que nos concedeu e na qual convidou-nos a assumir a santidade como nossa tarefa essencial.

Um quinto elemento interessante foi a cobertura informativa dada, por meio de ANS, com a colaboração da equipe de vídeo das Missioni Don Bosco, de Turim, a todo o evento capitular, o que permitiu a comunicação imediata, à Família Salesiana e a todos os Amigos de Dom Bosco, de quanto acontecia na sede do Capítulo.

Sublinhe-se, enfim, a presença do nosso irmão Dom Alois Kothgasser, que animou os Exercícios Espirituais, assumindo como tema a Estréia do Reitor-Mor para o ano de 2002 – «Duc in altum!» –, como também dos nossos irmãos Cardeais e Bispos que nos visitaram durante o Capítulo, evidenciando o caráter eclesial da nossa vocação e missão.

Faço votos para que o espírito do CG25 se difunda em todas as comunidades da Congregação e nos ajude a responder com generosidade à vontade de Deus, que se expressou por meio deste evento pentecostal.



4. O empenho do sexênio


Como dizia no discurso de encerramento, depois dos momentos da preparação e da realização do CG25 chegou o tempo de passar da reflexão à vida. Esta apresentação tem precisamente a finalidade de entregar à Congregação o texto capitular, com o convite a cada irmão e a cada comunidade de estudá-lo e pô-lo em prática.

Façamos da comunidade um projeto pessoal de vida. Creiamos nela e construamo-la! É uma tarefa de todos, jovens e idosos, com saúde e doentes. Esqueçamos canseiras e desilusões, como fizeram os apóstolos, que haviam-se esfalfado por toda a noite sem nada pescar. O futuro da nossa vitalidade se joga em nossa capacidade de criar comunidades carismaticamente significativas hoje. A condição essencial é o renovado empenho pela santidade. À palavra do Senhor, lancemos as redes, confiantes de que Deus dará fecundidade aos nossos esforços.


Peçamos a Maria Auxiliadora, a Stella Maris, à Qual confiei a Congregação desde o início do meu Reitorado, que nos ajude a vencer os nossos temores, que nos estimule a «fazer-nos ao largo» e que nos acompanhe a aventurar-nos no oceano imenso deste mundo, com o entusiasmo e o zelo de Dom Bosco, contemplando o Cristo e buscando a salvação dos Jovens.


Roma, 24 de maio de 2002

Festa de Nossa Senhora Auxiliadora


P. Pascual Chávez Villanueva

Reitor-Mor

1 VECCHI JUAN E., A caminho do Capítulo Geral 25º, ACG 372, pp. 15-16