25-primeira parte |
PRIMEIRA PARTE
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1.1 A COMUNIDADE SALESIANA HOJE |
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INTRODUÇÃO
1. Olhos fitos em Cristo Jesus, reunidos em prece com Maria, a Mãe do Senhor, nós, membros do Capítulo Geral 25, abertos ao Espírito de Deus e ao dom da comunhão, almejamos construir a nossa vida segundo o modelo da primeira comunidade apostólica.
Reconhecemos estar reunidos pela escuta da Palavra de Deus, pela oração em comum, pela Eucaristia e pela partilha dos bens.1 Aspiramos a formar uma comunidade com “um só coração e uma só alma”, significante no meio do povo: com a vida e a palavra testemunhamos o Senhor ressuscitado,2 repletos da alegria e do dinamismo do Espírito.3
Como fruto do Jubileu que celebrou os dois mil anos da Encarnação do Filho de Deus, o Papa, em sua Carta apostólica Novo Millennio Ineunte, convidou-nos a volver o nosso olhar para a pessoa de Cristo, a tomar consciência da nossa vocação à santidade, a ser “casa e escola de comunhão” e a dedicar-nos à nova evangelização.4
2. Urgidos pela Exortação apostólica Vita consecrata, somos, como religiosos, convocados a pôr-nos na vanguarda deste caminho de renovação e re-fundação, retornando com fidelidade criativa às raízes evangélicas e carismáticas que exprimem o verdadeiro significado da nossa vocação na Igreja.
Imersa num mundo pluralista, em busca de novos modelos de vida e sentido, mas também marcado por situações dramáticas de pobreza e opressão, a vida consagrada pode ser significativa se, qual “casa construída sobre a rocha”,5 se fundar na adesão cabal a Jesus Cristo, se ancorar na escolha evangélica da santidade, se postar nas fronteiras da missão eclesial.
3. Na sociedade e cultura de hoje surgiram fenômenos de grande importância que, enquanto parecem abrir possibilidades novas de desenvolvimento humano e social, colocam em discussão o atual modelo de realização humana e cristã.
Em muitos contextos vai-se mais e mais consolidando o secularismo, tornando, por um lado, pouco significativa a proposta de fé e abrindo, por outro, espaços ao sagrado sob as mais diversas formas de religiosidade. A globalização, do âmbito econômico se difunde para outros campos do social, criando interdependência, e também profundas e injustas desigualdades, que engendram novas formas de pobreza. O nascimento de sociedades pluriétnicas, pluriculturais e pluri-religiosas, e contemporaneamente o aparecimento de nacionalismos excludentes e de integralismos religiosos, interpelam a capacidade de convivência, de tolerância e de diálogo. Junto com o pluralismo, hoje tão apreciado em todos os campos, difunde-se o relativismo, o individualismo, a diversidade de pontos de referência, que desnorteiam especialmente os jovens. Enquanto ciência e técnica espantam por suas novas conquistas, suscitam também sérios questionamentos sobre o respeito à vida, sobre a dignidade da pessoa, sobre a salvaguarda da criação. Novas formas de pobreza se acrescentam às antigas. A comunicação de massa e o desenvolvimento da informática são veículos de modelos inovadores e de novas mentalidades, que exigem uma acurada atenção no campo educativo. Num mundo assim tão complexo, inconsciente sob alguns aspectos e sob outros apreensivo, sentimo-nos chamados a acolher o convite do Papa de anunciar Jesus Cristo, especialmente aos jovens, qual modelo perene de nova humanidade.6
4. A Congregação Salesiana, impulsionada pelos últimos Capítulos Gerais, vive e experimenta um forte chamado à renovação, para manifestar com mais vivacidade e clareza a sua vocação: ser escola de fé e centro de comunhão para a educação dos jovens7, assumir uma peculiar tarefa de animação dos leigos que partilham o espírito e a missão de Dom Bosco, engendrando um novo modelo pastoral.8
A qualidade da vida consagrada em comunidade, a profundidade da espiritualidade, a significatividade do testemunho, a capacidade de proposta são fatores determinantes para dar força evangélica à realização do Projeto educativo pastoral salesiano (PEPS), à presença dos SDB na Comunidade educativa pastoral (CEP) e ao crescimento Família Salesiana.
5. Em sua reflexão sobre a comunidade, o CG25 fixa a sua atenção em três aspectos fundamentais: a vida fraterna, o testemunho evangélico, a presença animadora entre os jovens. Considera além disso algumas condições para a sua realização: a animação da comunidade salesiana, a formação permanente, a organização da vida e do trabalho. Estes elementos são inseparáveis e qualificam a vida comunitária salesiana.9
Ao estudar cada um destes núcleos, partiu-se do “chamado de Deus”, que nos permitiu ler as situações em que nos encontramos a trabalhar, juntando e assumindo os principais desafios nelas presentes, a fim de propor algumas orientações e sugerir oportunas estratégias às nossas comunidades inspetoriais e locais.
6. A necessidade de renovação impeliu-nos a haurir das fontes do Evangelho e do nosso carisma.
Estamos além disso convencidos de que o Sistema Preventivo de Dom Bosco continua válido, também hoje, não só como método educativo pastoral mas também como fonte de espiritualidade e, portanto, qual critério do nosso “viver e trabalhar juntos”.10 Dom Bosco no-lo entrega como experiência de vida que “impregna o nosso relacionamento com Deus, as relações pessoais e a vida de comunidade no exercício de uma caridade que sabe fazer-se amar”.11 Ele é e se torna para nós escola de santidade e de fraternidade.
O tema deste Capítulo insere-se assim no caminho iniciado pelos Capítulos precedentes: tornar mais clara e interpelante a força da comunidade religiosa salesiana na ação educativa e pastoral entre os jovens e os pobres, converter-se em centro de animação e de comunhão na Família Salesiana e no vasto Movimento que se inspira em Dom Bosco, aprofundando as raízes da nossa vocação e renovando o dinamismo da vida fraterna.
1 Cf. At 2, 42.46-47
2 Cf. At 4, 32-33
3 Cf At 13, 52
4 NMI 16 e 43
6 GS 10
7 Cf. CG 23
9 Cf. Const. 3
10 Const. 49
11 Const. 20